Buscar

Código Penal - Art. 1 ao 12

Prévia do material em texto

DIREITO 
PENAL
Ramo da ciência jurídica que objetiva controlar o comportamento dos homens, proibindo a prática de condutas sociais e/ou moralmente intoleráveis ou, em alguns casos, ordenando determinadas formas de ação (omissão é crime).
ART. 1º do C.P – “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. (Princípio da Legalidade, Anterioridade e Reserva Legal).
 Princípio da Taxatividade ou da Determinação: exige-se clareza na redação dos tipos penais.
ART. 2º do C.P – “A lei penal não retroagirá, salvo em benefício do réu.” (Princípio de Irretroatividade da Lei Penal Mais Severa e Princípio da Retroatividade da Lei Penal Mais Benigna).
 Irretroatividade da lei melhor e retroatividade da lei pior.
- Regra Geral: lei posterior que enrijece o sistema ao autor do crime, piora a pena, cria agravantes, causas de aumento de pena etc. não retroage.
- Regra Geral: lei posterior melhor ao autor do crime, revoga agravantes, causas de diminuição de pena etc. retroage em benefício do condenado.
Abolitio Criminis – Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixe de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
- Cessam todos os efeitos penais principais (execução da pena) e secundários (reincidência, maus antecedentes, nome no rol dos culpados etc.).
- Perduram os efeitos extrapenais (reparação de dano civil, confisco, perda do cargo público/mandato etc.)
ART. 3º do C.P – Lei excepcional ou Temporária
 Excepcional: vigora enquanto o período excepcional (calamidade pública, pandemia, guerra) permanece. Findo o período, a lei punirá os fatos ocorridos nesse período ainda que extinta.
 Temporária: entra em vigor com um prazo determinado, a exemplo da Lei da Copa do Mundo no Brasil. Difere da lei excepcional cujo prazo dura enquanto permanecer o estágio excepcional. 
*Por serem de curta duração, se não fossem ultrativas (o efeito permanece ainda que revogadas), perderiam sua força intimidativa.
*Não se sujeitam ao Abolitio Criminis, salvo se lei posterior for expressa nesse sentido.
ART 4º do C.P - Tempo do Crime: considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
*Se Jorge, de 17 anos, atira em seu pai que vem a morrer somente duas semanas depois, quando Jorge já completou 18 anos, este vai responder ao ECA tendo em vista que no momento em que o crime foi cometido o autor do mesmo era menor de idade (Princípio da Coincidência).
- Há 3 teorias:
a) Teoria da Atividade (adotada): momento da conduta criminosa – ação ou omissão
b) Teoria do Resultado: momento do resultado
c) Teoria da Ubiquidade: momento da conduta ou do resultado
1. Súmula 711 STF (Tempo do Crime): “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou crime permanente, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
1.1 – Crime continuado é aquele em que são praticados vários crimes de uma mesma espécie, sendo um em continuação do outro, dentro de uma mesma intenção. Exemplo: Ao invés do indivíduo roubar o caixa em um dia, ele vai, durante a semana, roubando o dinheiro aos poucos. Nesse caso, se a lei for alterada enquanto o crime é praticado, a lei mais grave/rígida vale.
1.2- Crime permanente é aquele que acontece durante um determinado período. Exemplo: Um sequestrador que mantém a vítima em cativeiro. Nesse caso, se a lei for alterada enquanto o crime ocorre (permanência em cativeiro), a lei mais grave que será utilizada para julgar o réu.
APLICAÇÃO DA LEI PENAL
BRASILEIRA NO ESPAÇO
PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE TEMPERADA
- Art. 5º do Código Penal: “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.”
* Existem exceções, não é um princípio absoluto
* As convenções e tratados que o Brasil faz parte devem ser seguidos e respeitados. Ex.: Casos de Imunidade Penal
a) Chefes de Governo ou de Estado, sua família e membros de sua comitiva;
b) Embaixador e sua família;
c) Funcionários do corpo diplomático;
d) Funcionários das Organizações Internacionais em serviço (ONU, OEA etc.).
*Não podem ser julgados pelas leis brasileiras, independente da gravidade do crime.
* A embaixada não é extensão do território estrangeiro que representa. Uma embaixada francesa dentro do Brasil é território brasileiro. As embaixadas são invioláveis. Se um crime for cometido dentro dessa embaixada, é um crime cometido em território nacional que, portanto, será julgado pelas leis penais brasileiras. 
TERRITÓRIO BRASILEIRO POR EXTENSÃO
- Art. 5º § 1º: “Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.”
* Embarcações e aeronaves públicas/à serviço do governo brasileiro: respondem sempre às leis brasileiras.
* Embarcações e aeronaves privadas: respondem às leis brasileiras quando estiverem em território brasileiro e às leis estrangeiras quando em território estrangeiro. 
- Art. 5º § 2º: “É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.”
* Crimes praticados a bordo de aeronaves e embarcações estrangeiras são julgados pelas leis brasileiras se estiverem em território brasileiro. Se forem estrangeiras públicas, estão imunes às nossas leis penais.
* Território Nacional é o espaço geográfico que compreende:
a) o solo;
b) regiões separadas do solo principal;
c) rios, lagos e mares interiores;
d) golfos, baías e portos;
e) mar territorial;
f) espaço aéreo correspondente
- Mar territorial brasileiro
· Mar Territorial: 12 milhas náuticas; dentro delas, aplicam-se as leis penais brasileiras.
· Zona Contígua: 12 a 24 milhas náuticas; zona econômica exclusiva; não se aplicam as leis brasileiras – se a embarcação for pública vale a lei do país que a detém e, se for privada, o seu país de origem ou o Brasil julgarão o crime (Lei da Primeira Bandeira).
· Zona Econômica Exclusiva: 24 a 200 milhas marítimas; de exploração econômica e científica exclusivamente brasileira.
· Alto Mar/Mar Livre: + de 200 milhas marítimas.
*Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido a bordo de embarcação privada estrangeira de passagem pelo mar territorial brasileiro?
 R: Em regra, sim. Mas pode não ser aplicada. Ex.: navio sai dos EUA com destino ao Uruguai, quando está passando pelo mar territorial brasileiro, há jogo em cassino. Há possibilidade de se abrir mão do direito de punir em caso de crimes leves.
LUGAR DO CRIME
- Art. 6º: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”.
* Onde ocorreu a ação/omissão ou onde ocorreu o resultado do crime é suficiente para determinar qual país vai julgá-lo (crimes transfronteiriços) – não confundir com art.4º
* Se uma pessoa atira, do lado brasileiro da fronteira, em uma pessoa que está no Uruguai, aplica-se a Teoria da Ubiquidade (momento da conduta ou do resultado): tanto faz qual país realiza o julgamento (primeiro a se propor), o importante é punir (ideia de justiça universal) O crime foi cometido no Brasil, mas quem o sofreu estava no Uruguai.
PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE 
1) Extraterritorialidade Incondicionada: não se subordina a qualquer condição para atingir um crime cometido fora do território brasileiro
2) Extraterritorialidade Condicionada: a lei brasileira só se aplica ao crime cometido no estrangeiro se satisfeitas condições indicadas no §2º e nas alíneas a e b do §3º do art. 7º. do CP.
- Art. 7º: Ficam sujeitos à lei brasileira,embora cometidos no estrangeiro:
I. Os crimes:
 a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;  
        b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público
        c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço
        d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil
      
  II - Os crimes:  
        a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir
        b) praticados por brasileiro;
        c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
        § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. 
        § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições
        a) entrar o agente no território nacional;  
        b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;  
        c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
        d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;  
        e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
        § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:  
        a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
        b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
1 – PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE ATIVA
Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes praticados por brasileiros. 
Aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente (em casos de fugitivos; a regra é: o brasileiro que cometeu crime na Holanda será julgado pelas leis holandesas. No entanto, se esse brasileiro fugir – voltando para o Brasil – serão aplicadas leis brasileiras pois brasileiros natos não podem ser extraditados).
2 – PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE PASSIVA
Aplica-se a lei penal da nacionalidade da vítima.
Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido por estrangeiro contra um brasileiro fora do Brasil em caso de o país onde o crime ocorreu não julgar o criminoso.
3 – PRINCÍPIO DA DEFESA, REAL OU DA PROTEÇÃO
Aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado.
Aplica-se a lei brasileira ao crime cometido fora do Brasil que afete interesses nacionais.
4 – PRINCÍPIO DA JUSTIÇA PENAL UNIVERSAL/UNIVERSALIDADE DO DIREITO DE PUNIR
O agente fica sujeito à lei do país em que foi encontrado.
Previsão legal: art.7º, I, d, e II, a: 
d) “de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil”;  
a) “que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir”.
Este princípio é previsto em Tratados Internacionais de cooperação de repressão de determinados delitos (via de regra, de alcance transnacional). O Brasil se obrigou a reprimir o tráfico de mulheres, pirataria, tráfico de drogas etc.
5 – PRINCÍPIO DA BANDEIRA OU DA REPRESENTAÇÃO
Ficam sujeitos às leis brasileiras, embora cometidos no estrangeiro, os crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
*Não se cita as embarcações e aeronaves públicas pois estas sempre responderão às leis brasileiras somente.
EXTRADIÇÃO
“A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso”.
* É difícil que um brasileiro que cometeu crime no estrangeiro seja extraditado para ser julgado pelas leis brasileiras, mas pode ocorrer.
- Mesmo não havendo um acordo de extradição formalizado, esta pode ocorrer através do princípio da reciprocidade. Há um acordo, por exemplo, entre BRA e EUA de extradição. No entanto, o Brasil não possui nenhum acordo de extradição com Mônaco: mesmo assim, o Brasil conseguiu, certa vez, a extradição de um brasileiro preso em Mônaco com a promessa de garantir a extradição de um criminoso deste país que estivesse no Brasil se/quando for necessário.
- A extradição ocorre por via diplomática ou pelas autoridades centrais designadas para esse fim (no Brasil, Itamarati: órgão designado às relações internacionais).
- Não se admite a extradição de brasileiros natos. O naturalizado, no entanto, pode ser extraditado por crime cometido antes da naturalização ou por comprovado envolvimento com tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins.
- Nem todo crime permite extradição. Quando ela será negada pelo Brasil?
a) O fato não for considerado crime em ambos os países – reciprocidade penal.
b) A lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 anos.
c) O extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado/absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido – ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo crime.
d) A punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente.
* Há um período para o crime ser julgado. Se esse período se esgota, acontece prescrição penal.
* Racismo e ação de grupos armados contra o Estado Democrático de Direito são crimes imprescritíveis, não caducam.
e) O fato constituir crime político ou de opinião.
f) O extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção
g) O extraditando for beneficiário de refúgio ou asilo territorial (perseguição política). 
PERDA DA NACIONALIDADE BRASILEIRA
Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que adquirir outra nacionalidade.
Caso Hoering: brasileira nata que adquiriu nacionalidade americana foi extraditada para os EUA. Ela matou, nos EUA, o próprio marido e fugiu para o Brasil. EUA pediu extradição e Brasil concedeu: foi julgada nos EUA mas o Brasil determinou que não poderia ser condenada à prisão perpétua (máx. 30 anos) nem pena de morte. < https://www.youtube.com/watch?v=dqvQZEBWZD8 >
PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO
- Art. 8º do C.P.: em casos de extraterritorialidade incondicionada, pode ocorrer duas penas. Nesse caso, a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil.
EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA
 NO BRASIL
- Art. 9º do C.P.: A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: 
I - Obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;
II - Sujeitá-lo a medida de segurança (hospital de custódia).
TRANSFERÊNCIA DE EXECUÇÃO DA PENA
- Princípio do non bis in diem: ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato.
- Uma pessoa pode ser condenada em um país e cumprir pena em outro Art. 100. “Nas hipóteses em que couber solicitação de extradição executória, a autoridade competente poderá solicitar ou autorizar a transferência de execução da pena, desde que observado o princípio do non bis in idem”.
PRAZO PENAL
- Art. 10 do C.P.: “O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo penal. Contam-se os dias, meses e anos pelo calendário comum”.
PENA: 10 dias
DIA INICIAL: 22h do dia 01.06.2016
DIA FINAL: 24h do dia 10.06.2016
- O dia em que o crime foi cometido, independente do horário, já é contado para a sua prescrição (para ela caducar).
- O dia em que o criminoso dá entrada no sistema prisional, independentemente do horário, é computado no cumprimento da pena.
- Mês e ano são contados entre datas idênticas de meses/anos consecutivos
PENA: 30 dias
DIA INICIAL: 22h do dia 20.02.2020
DIA FINAL: 24h do dia 19.03.2020
Prazos penais são improrrogáveis se o condenado tiver que ser posto em liberdade no domingo, não se pode postergar para segunda.
FRAÇÕES NÃOCOMPUTÁVEIS DA PENA
- Art. 11 do C.P.: “Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, os centavos”.
* Se o juiz der uma sentença de 10 dias e 22h, a pena aplicada será de 10 dias (as horas e os minutos não são computados).
* Na pena de multa, não são computados os centavos.
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
- Art. 12 do C.P.: “As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso”.
*EXEMPLO: A Lei 9.605/98 criou a responsabilidade penal da pessoa jurídica no Brasil e ela (pessoa jurídica) só pode responder pelos crimes previstos na lei penal especial – 9.605/98 e não pelos crimes no Código Penal, por ser regulamentada em lei especial.

Continue navegando