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52 Unidade II Unidade II Partindo, ainda, de uma abordagem microeconômica do processo de competição empresarial, mobilizaremos, agora, conceitos importantes da Organização Industrial – OI, como custos, demanda, rivalidade no estabelecimento de preços e produção, estrutura de mercado e entrada de mercado. A OI, como ramo da microeconomia, conduz as discussões sobre os principais processos de tomadas de decisões empresariais, em termos de produção, abrangendo desde escolhas relacionadas a quanto e o que produzir até a definição dos tipos de interação competitiva com os concorrentes. 5 POR QUE ECONOMIA? O livro de Michael Porter, Estratégia Competitiva, assentou como obra disseminada e praticamente pioneira na aplicação do raciocínio econômico à gestão empresarial estratégica. O Modelo das Cinco Forças de Porter fornece uma das melhores ilustrações da importância disciplinar que a economia assume nas discussões relacionadas a estratégia e gestão de negócios. Nesse sentido ainda, também o livro A Economia da Estratégia, de David Besanko, David Dranove, Scott Schaefer (da Universidade Northwestern) e Mark Shanley (Universidade de Purdue), consiste em uma obra abrangente e, ao mesmo tempo, profunda em relação aos principais tópicos de estratégia gerencial ou competitiva. Para Besanko et al. (2006), a principal vantagem da economia, na análise da gestão estratégica de negócios, reside na profundidade do exame sobre os principais elementos relacionados ao tema, sendo eles: • tomadores de decisão; • metas; • escolhas; • relação entre escolhas e resultados. Os autores defendem que a teoria econômica permite, como poucas disciplinas, resposta mais conclusivas em relação ao tema estudado. Dessa forma, a formulação e a implementação estratégica de uma empresa, independentemente de sua área de atuação ou de seu porte, passa pela aplicação de princípios econômicos consistentes. Tais princípios podem ser agrupados em quatro grandes classes analíticas, segundo Besanko et al. (2006): 53 ESTRATÉGIA COMPETITIVA • fronteiras da empresa; • análise de mercados e da concorrências; • posicionamento e dinâmica; • organização interna. O quadro a seguir detalha as principais questões desenvolvidas em cada classe analítica destacada: Quadro 27 – Classes de análise econômica aplicadas à estratégia competitiva Classes de análise Descrição da análise Fronteiras da empresa O que uma empresa deve fazer/produzir/fornecer, que porte ela deve ter e em que negócios ela deve se envolver? Análise de mercados e da concorrência Qual natureza dos mercados nos quais a empresa compete e a natureza das interações competitivas entre as empresas nesses mercados? Posicionamento e dinâmica Como a empresa deve se posicionar para competir, em que deve se basear a sua vantagem competitiva e como ela deve se ajustar ao longo do tempo? Organização interna Como a empresa deve organizar internamente a sua estrutura e seus sistemas? Fonte: Besanko et al. (2006, p. 31). Aqui, serão tratadas as duas primeiras classes destacadas, enfatizando as fronteiras da empresa, além de, em parte, a análise de mercados e da concorrência, sobre a qual, por sua vez, adiante prolongaremos a discussão. 5.1 Fronteiras horizontais da empresa As decisões sobre as fronteiras horizontais que delimitam a atuação de uma empresa podem ajudá‑la a obter vantagens competitivas, a partir das chamadas economias de escala e escopo. Em setembro de 2013, a Microsoft Corporation anunciou que havia comprado os negócios de telefonia móvel da Nokia Corporation por US$ 7,17 bilhões. A lógica dessa aquisição, por parte da Microsoft, será discutida com maior profundidade adiante (quando for apresentada a ideia de fronteiras verticais da empresa), porém agora analisaremos o resultado prático daquela aquisição que movimentou o mercado mundial de tecnologia. 54 Unidade II Observação Microsoft Corporation é empresa transnacional estadunidense, com sede em Redmond, Washington, que desenvolve, fabrica, licencia, apoia e vende softwares de computador, produtos eletrônicos, computadores e serviços pessoais. Nokia Corporation é empresa finlandesa de telecomunicações que tem sede em Keilaniemi, Espoo. Em agosto de 2014, a Nokia (agora pertencente à Microsoft) foi autorizada pela Zona Franca de Manaus a iniciar a produção dos consoles Xbox 360 e Xbox One, no Brasil. Com a permissão, a Microsoft conseguiu baratear o preço do console, conquistando a liderança nacional no mercado de videogames frente aos modelos concorrentes da Sony. A unidade fabril anteriormente produzia apenas os produtos sob a marca Nokia (principalmente smartphones) e os consoles eram produzidos por uma parceira terceirizada da Microsoft no Brasil. Saiba mais Para saber mais, leia o artigo: CAPELAS, B. Nokia recebe sinal verde para fazer Xbox no País. Estadão: versão online. São Paulo, 15 ago. 2014. Link. Disponível em: https://bit.ly/3M4IyXH. Acesso em: 15 ago. 2015. A decisão da Microsoft de ampliar a variedade de produtos fabricados em uma mesma planta industrial, com o objetivo de diminuir o custo e, consequentemente, o preço do console no mercado nacional de videogames, possibilitou a obtenção de uma considerável vantagem competitiva em relação à gigante estadunidense, e só possível após uma análise das possibilidades em termos de geração de economias de escopo a partir daquela decisão. Serão apresentados e discutidos os conceitos e as lógicas que fundamentam as economias de escala e escopo, assim como de onde elas vêm, quando se examinam as fronteiras horizontais de uma empresa. Para Besanko et al. (2006), essas fronteiras horizontais identificam os limites, em termos de quantidades e variedades de bens e serviços que uma empresa pode produzir. 5.2 Economias de escala Ainda nas palavras de Besanko et al. (2006, p. 93): “O processo de produção para um bem ou serviço específico mostra as economias de escala em uma faixa de produção quando o custo médio (isto é, custo por unidade de produção) sofre queda nessa faixa”. 55 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Custo médio de produção consiste no valor obtido pela divisão entre o custo total de produção e o total produzido (GONÇALVES; GUIMARÃES, 2010). A seguinte equação representa a identidade matemática desse conceito: CMed q C q q ( )= ( ) Na equação, CMed(q) representa o custo médio em uma quantidade q produzida, enquanto que C(q) significa o custo total de se produzir aquela quantidade. Suponha, por exemplo, que, em uma pequena fábrica de fitas adesivas, o custo total de produção, em uma faixa de produção equivalente a 600 milhões de unidades por ano, seja igual a R$ 200 milhões, já, em uma faixa de produção de 1,2 bilhões de unidades por ano, o custo total seja de R$ 350 milhões. Por esse simples exemplo, é possível concluir que a fábrica apresenta economias de escala quando decide aumentar sua produção de 600 milhões de unidades para 1,2 bilhões de unidades por ano. CMed reais por unidade600 200 600 0 33( )= = , CMed reais por unidade600 350 1 200 0 29( )= = . , O custo médio de produção daquela fábrica de fitas adesivas diminui a partir do aumento da produção, isto é, a fábrica pode obter economias de escala em sua produção se decidir dobrar a sua produção. Nesse caso, também é comum dizer que a fábrica se beneficia de ganhos de escala à medida que amplia sua faixa de produção de 600 milhões para 1,2 bilhões de unidades por ano. A próxima figura ilustra o conceito de economias de escala. Nela, distingue‑se que, conforme o aumento de produção, até certo ponto, baixa o custo médio, porém vale ressaltar que existe uma fronteira para as economias de escala da empresa, ou seja, a curva de custo médio apresenta um ponto de virada, no qual o custo médio começa a elevar‑se junto com o aumento de produção da empresa. Curva de custo médio CMed q Figura 17 – Representação gráfica dos ganhos de escala 56 Unidade II A forma em U, na representação gráfica das economiasde escala, deve‑se à estrutura de custos das empresas, os quais, geralmente, são constituídos por dois tipos: • fixos; • variáveis. Os fixos são aqueles que independem do montante total em produção, já os variáveis, pelo contrário, variam de acordo com ele (GONÇALVES; GUIMARÃES, 2010). Ainda tendo em mente aquela fábrica de fitas adesivas, suponha que o imóvel em que se produzem as fitas seja alugado. Nesse caso, a empresa dispende um custo fixo e, independentemente de qual seja a sua faixa de produção (zero ou 1,2 bilhões unidades por ano), terá de pagar pelo aluguel, no entanto, as matérias‑primas utilizadas na produção das fitas adesivas, por exemplo, a cola e fita de plástico, são custos que aumentam e diminuem conforme a produção. Dessa forma, os custos médios de produção em uma empresa, geralmente, diminuirão inicialmente, pois ela dilui seus custos fixos a partir da produção em maior volume (BESANKO et al., 2006). 5.3 Economias de escopo Para Besanko et al. (2006, p. 94): As economias de escopo existem se a empresa conseguir fazer economias à medida que aumenta a variedade de bens produzidos ou serviços prestados [...] são normalmente definidas em termos do custo total relativo de produção de uma variedade de bens e serviços considerados em conjuntos versus separadamente em duas ou mais empresas. Suponha que a mesma fábrica de fitas adesivas do exemplo anterior esteja examinando a possibilidade de ampliar sua produção, em termos de variedade, a partir da fabricação de notas adesivas (tipo Post‑it). Algumas matérias‑primas podem ser empregadas nos dois tipos de produtos e a mão de obra da fábrica pode, com certa facilidade, adaptar‑se à nova linha de produção sem custos adicionais consideráveis. Cuide que, após a análise do engenheiro de produção daquela fábrica, as estimativas em termos de custos totais de produção sejam as seguintes: • Caso sejam produzidas, na mesma unidade fabril, 600 milhões de fitas adesivas e 100 milhões de notas adesivas, o custo total de produção será equivalente a R$ 245 milhões por ano. • Caso sejam produzidas em duas fábricas diferentes, uma que produza 600 milhões de fitas adesivas e outra, 100 milhões de notas adesivas, os custos totais de produção, em cada fábrica, seriam de, respectivamente, R$ 200 milhões e R$ 55 milhões por ano. 57 ESTRATÉGIA COMPETITIVA A representação matemática que expressa as economias de escopo pode ser observada na seguinte equação: C(qx, qy) < C(qx) + C(qy) Assim, é possível verificar se há economias de escopo, caso a fábrica decida ampliar a variedade de bens produzidos, introduzindo a produção de notas adesivas à produção de fitas adesivas. C(600fitas, 100notas) < C(600fitas) + C(100notas) 245 < 200 + 55 A partir dos dados fornecidos anteriormente pelo engenheiro de produção da fábrica de fitas adesivas, é possível notar que existem economias de escopo, caso a empresa decida produzir, também, em sua unidade fabril, as notas adesivas, pois o custo total de produção dos dois tipos de bens (R$ 245 milhões por ano) é inferior ao custo total da produção das mesmas quantidades de fitas e notas adesivas (R$ 255 milhões) em fábricas separadas. Nesse sentido, para Besanko et al. (2006, p. 94): [...] as economias de escala existem se a empresa conseguir fazer economias em termos de custo unitário à medida em que aumenta a produção de um determinado bem ou serviço. As economias de escopo existem se a empresa conseguir fazer economias à medida que aumenta a variedade de bens produzidos ou serviços prestados. 5.3.1 Fontes de economias de escala a escopo As fronteiras horizontais da empresa são determinadas pela quantidade máxima de produção para um determinado bem ou serviço (economias de escopo), assim como pela variedade de bens produzidos e serviços prestados (economias de escala). Sendo assim, uma vez compreendidos os conceitos de economias de escala e de escopo, além de suas possíveis vantagens em termos de custos para as empresas, torna‑se importante e necessário compreender com maior profundidade de onde elas vêm, ou seja, quais são as fontes dessas economias para as empresas de modo geral. São duas as principais fontes de economias de escala e escopo: • custos fixos; • estoques. Primeiro, os custos fixos podem ser diluídos em relação ao volume crescente de produção. Alguns insumos simplesmente não podem ser utilizados em uma escala abaixo de um determinado tamanho mínimo (BESANKO et al., 2006). 58 Unidade II Figure um pequeno empresário que queira abrir uma pizzaria, do tipo delivery, em um bairro residencial da cidade de São Paulo. O forno para pizzas é um dos principais insumos para quem pretende abrir esse tipo de negócios e, mesmo que o movimento da pizzaria no começo ainda seja muito baixo, o empresário necessitará de, ao menos, um forno para começar sua produção. Considere que os custos fixos para operar o forno (por exemplo, energia, aluguel e mão de obra) sejam de R$ 8 mil por mês. Caso o empresário decida produzir uma ou mil pizzas por mês, não importa, continuará tendo de arcar com os mesmos custos fixos. No entanto, em termos de custos por unidade, se tiver capacidade de produzir mil pizzas por mês, seus custos fixos (R$ 8 mil) serão diluídos pelas mil unidades produzidas. Os estoques também podem gerar economias de escala ou escopo. Usualmente, as empresas precisam manter certos níveis de estoque para evitar seu esgotamento, o qual, por sua vez, poderá resultar em vendas perdidas, afastando clientes potenciais, os quais procurarão fontes de suprimentos mais confiáveis (BESANKO et al., 2006). Considere a seguinte comparação: duas sorveterias concorrentes em uma movimentada praia do litoral paulista. A primeira possui apenas um ponto de venda, já a segunda, dez pontos espalhados pela praia. A primeira sorveteria precisa manter um certo nível excedente de estoque de segurança, para não correr o risco de ficar sem os produtos de maior giro, enquanto a segunda, não obstante também tenha de mantê‑lo, seus custos serão diluídos em dez pontos de vendas, e isso significa uma poderosa fonte de economias de escala ou escopo, exclusiva naquele mercado. 5.3.2 Fontes especiais de economias de escala e escopo Além do custos fixos e dos estoques configurarem possíveis fontes de economias de escala e escopo, segundo Besanko et al. (2006), também podem ser consideradas fontes especiais de economias para as empresas as atividades de: • compras; • propaganda; • pesquisa e desenvolvimento. Empresas que compram em grande volume, geralmente, são beneficiadas por descontos à medida que aumentam a quantidade comprada, porém pequenos compradores não contam com as mesmas economias, demandando pedidos relativamente inferiores. Besanko et al. (2006) argumenta que, ao menos, três relações lógicas de mercado indicam as vantagens de eleger as economias de escala e escopo em compras: • para o comerciante, custa menos negociar apenas com um comprador do que com diversos; • compradores em volume são mais sensíveis ao preço; 59 ESTRATÉGIA COMPETITIVA • comerciantes que negociam com apenas um comprador temem a ruptura de suas relações, o que poderia resultar muito dispendioso. Já em relação à propaganda, as grandes empresas costumam aproveitar‑se de custos inferiores de propaganda por consumidor potencial, sendo o custo de envio da mensagem relativamente inferior ao de seus concorrentes menores, geralmente porque gozam de maior alcance geográfico ou demográfico de propaganda (BESANKO et al., 2006). Considere, por exemplo, a diferença estratégica entre o retorno de um investimento de 30 segundos de uma propaganda circulada na maior emissora de televisão do Brasil, durante seu horário nobre, em rede nacional, para duas redes de supermercado: a primeira com atuação regional no Estado de São Paulo e a segunda com presença marcante em praticamente todos os estados brasileiros. Intuitivamente, é fácil notar que a segunda rede de supermercados poderádiluir muito melhor o custo de realização da propaganda por toda a sua rede, se comparada à primeira. Uma fonte particularmente especial em propaganda na geração de economias de escopo é denominada “umbrella branding”. Os resultados de uma propaganda podem ser mais eficientes ainda, caso a empresa possua uma extensa linha produtos com um único nome de marca (BESANKO et al., 2006). Por exemplo: uma propaganda em rede nacional da Unilever, com seus – aproximados – 700 produtos, dispensará um custo total extremamente inferior por produto, se comparado ao mesmo tipo de investimento realizado pela rede de restaurantes fast‑food, McDonald’s, pois esta tem uma quantidade inferior de produtos. Por último, os gastos com Pesquisas e Desenvolvimento (P&D) como fontes especiais de economias de escala e de escopo. Usualmente, gastos dessa natureza nas empresas são expressivos e somente grandes corporações dispõem de capacidade financeira para arcar com eles, justamente por desfrutarem de consolidada estrutura física, capaz de diluir esses custos, minimizando seu peso relativo (BESANKO et al., 2006). Compare as possibilidades de desenvolvimento de novos produtos e medicamentos a partir de intensivos investimentos em P&D de uma grande indústria farmacêutica, como a Bayer AG, sediada na Alemanha, cuja atuação é mundial, com as do tradicional, mas relativamente muito menor, Laboratório Buenos Ayres, localizado em bairro nobre da capital São Paulo. A diluição dos custos com P&D na megaempresa alemã chega mesmo a ser incomparável com as possibilidades do pequeno laboratório brasileiro. Em suma, as economias de escala e escopo representam excelentes oportunidades de incrementar a lucratividade das empresas, a partir de significativas reduções nos custos unitários de produção ou, ainda, nos totais, porém a capacidade de aproveitar tais oportunidades está diretamente relacionada às fontes mais tradicionais (custos fixos e estoques) de economias de escala e escopo, assim como às fontes consideradas especiais (compras, propaganda e P&D). 5.4 Fronteiras verticais da empresa Fronteiras verticais de uma empresa são as que determinam quais atividades a própria empresa executará e quais serão encomendadas a empresas independentes do mercado, isto é, quais serão 60 Unidade II as atividades‑chave em que a empresa se concentrará e quais serão terceirizadas em seu processo produtivo. As decisões relacionadas às fronteiras verticais de uma empresa afetam, consequentemente, de forma direta, a eficiência de sua produção (BESANKO et al., 2006). Abordaremos as possíveis razões que, eventualmente, levam a empresa a reduzir suas fronteiras verticais na cadeia produtiva em que está inserida, para focalizar seus esforços em apenas algumas poucas atividades, em vez de cuidar, ela mesma, de uma série de atividades relacionadas à produção de um determinado bem ou à prestação de um certo serviço. Já discutimos o caso da Microsoft que adquiriu a divisão de negócios da Nokia, relativa à produção de smartphones. Uma parte daquela discussão tem maior aderência quando se dá a partir das fronteiras verticais de uma empresa. Por isso, consideremos novamente o caso da famosa empresa norte‑americana de tecnologia. Em reportagem do jornal Estadão, referida a seguir, o CEO da Microsoft, Steve Ballmer, afirmou que a decisão de adquirir a unidade de aparelhos e serviços, além das patentes registradas pela Nokia, por mais de US$ 7 bilhões, teria sido “um passo ousado em direção ao futuro”. A Microsoft tem investido com frequência e intensidade no mercado de telefones celulares. Seu sistema operacional para smartphones, o Windows Phone, precisa de aparelhos celulares que permitam seu desenvolvimento tecnológico. Ela não pode acomodar‑se em um mercado concorrido, principalmente, por empresas como Apple e Google. Saiba mais Para saber mais, leia a reportagem a seguir: CEO da Microsoft explica a lógica para a compra da Nokia. Estadão: versão online. São Paulo, 3 set. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3SDmQfS. Acesso em: 19 ago. 2015. Comprando a Nokia, a Microsoft ampliou suas fronteiras verticais e, com isso, optou por realizar as atividades de criação, desenvolvimento e produção de aparelhos celulares (smartphones), além das atividades que já realizava, relacionadas ao software que servia como sistema operacional para aqueles aparelhos. Tal decisão estratégica ilustra o debate frequente em gestão de negócios em torno do dilema “produzir versus comprar”, o qual praticamente toda empresa precisa considerar de tempos em tempos. Passaremos, agora, primeiro, à discussão dos benefícios da decisão de comprar e, em seguida, serão elucidadas as razões que uma empresa pode apresentar para, em contrapartida, produzir. Porém, antes de aprofundar a discussão nos argumentos para comprar e para produzir, faz‑se necessário uma distinção conceitual sobre essas duas ideias. 61 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Para Besanko et al. (2006, p.125): “Produzir significa que a própria empresa executa a atividade. Comprar significa que ela depende de uma empresa independente para executar a atividade, talvez sob contrato”. Quadro 28 – Cadeia vertical da produção de mobiliário Insumos brutos (árvores, ferro, vacas...) Transporte e armazenagem (Empresa A) Processadoras de bens intermediários (laminadoras de madeiras, metalúrgica e curtição de couro) Transporte e armazenagem (Empresa B) Montadoras Fabricantes de mobília Transporte e armazenagem (Empresa C) Varejista Lojas de mobília Presuma uma fábrica de mobília e as atividades produtivas ao longo de determinada cadeia vertical da produção de mobiliário. A atividade de montagem dos móveis é executada pela fábrica, mas, desde as atividades de transporte e armazenagem até o varejista que, por sua vez, comercializa os móveis fabricados com o consumidor final, o são por outras empresas; por isso, devem ser consideradas atividades compradas. O quadro anterior ao parágrafo ilustrou essa cadeia vertical da produção de mobiliário. Em termos mais comuns, próprios ao jargão de mercado, quando uma empresa compra uma atividade de outra, diz‑se simplesmente que a primeira “terceirizou‑a”. Agora, conceba a cadeia produtiva da indústria automobilística, a partir de um exemplo bastante simplificado de seu sistema produtivo. As montadoras de automóveis, tipicamente, necessitam de grande variedade de insumos (por exemplo, aço, pneus, sistemas de freios, estofados, equipamentos computadorizados etc.). 62 Unidade II O próximo quadro representa, a partir das principais atividades, a complexa cadeia produtiva relacionada à indústria automobilística. Nesse caso, a cadeia é totalmente integrada verticalmente à empresa montadora de automóveis, ou seja, todas as atividades dela são produzidas internamente. Quadro 29 – Cadeia produtiva automotiva totalmente integrada (montadora) Insumos brutos Fornecedor - 2° nível (produção de autopeças) Fornecedor - 3° nível (autopeças, pneumáticos e carrocerias) Engenharia e compras Montagem de componentes Soldagem Pintura Montagem final Teste de qualidade Venda (varejo) Produz Compra O quadro seguinte, por sua vez, representa uma cadeia produtiva menos integrada. Nesse caso, apenas algumas atividades são produzidas pela montadora, e outras (fornecimento e venda) são compradas, em termos de fronteiras verticais. 63 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Quadro 30 – Cadeia produtiva automotiva parcialmente integrada (montadora) Insumos brutos Fornecedor ‑ 2° nível (produção de autopeças) Fornecedor ‑ 3° nível (autopeças, pneumáticos e carrocerias) Engenharia e compras Montagem de componentes Soldagem Pintura Montagem final Teste de qualidade Venda (varejo) Produz Compra A questão interessante, neste ponto da discussão, consiste em compreender o motivo pelo qual a montadora decidiu diminuir suas fronteiras verticais, reduzindo a quantidade de atividades a que se predispõe realizar. Para tanto, na sequência, serãoelencadas as principais razões para comprar e para produzir, a partir da análise de uma montadora que decidiu comprar o fornecimento do sistema de freios em seu processo produtivo. 5.4.1 Razões para comprar Conforme Besanko et al. (2006), a ideia dominante no mundo dos negócios propõe que as empresas devam preocupar‑se apenas com as atividades que executam melhor, distribuindo as demais para parceiros independentes, pois elas costumam ser mais eficientes que as mais integradas, ou seja, as que efetivam muitas atividades em sua cadeia vertical. Desse modo, as empresas compram no mercado ou formam parceriais por várias razões como, por exemplo, para otimizar seus modelos de negócios, reduzir riscos e incertezas ou adquirir recursos com custos reduzidos (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2011). 64 Unidade II Lembrete Uma empresa independente de mercado pode obter economias de escala relativamente maiores de que departamentos internos de uma grande empresa integrada verticalmente que produz apenas para suas próprias necessidades (BESANKO et al., 2006), porque uma empresa “terceirizada” está sujeita às regras do mercado, sendo‑lhe exigidas, para sua sobrevivência, mais eficiência e inovação. Dessa forma, a empresa de mercado agrega as necessidades de várias outras empresas para as quais fornece seus produtos e serviços, usufruindo de economias de escala maiores. Observação Para Osterwalder e Pigneur (2011), seria ilógico uma empresa dispor de todos os recursos, bem como responsabilar‑se por todas as atividades sozinha, pois parcerias reduzem custos, otimizando tempo e infraestrutura. 5.4.1.1 Informação proprietária Empresas independentes de mercado podem, ainda, possuir as “informações proprietárias”, como é caso das patentes, que impedem outras empresas de produzir a mesma atividade a custos inferiores aos seus (BESANKO et al., 2006). Uma das principais motivações para uma parceria, segundo Osterwalder e Pigneur (2011), consiste na necessidade de aquisição de conhecimento, licenças ou acesso a clientes (informação proprietária), constituindo exemplo disso novamente a Microsoft, que adquiriu a divisão de produção de celulares da Nokia para ter acesso não apenas ao conhecimento da empresa finlandesa naquela área, mas também aos clientes fidelizados pela marca. 5.4.1.2 Economias de aprendizagem Por último, empresas independentes de mercado “podem tirar vantagem de sua experiência de produzir para várias empresas para obter economias de aprendizagem” (BESANKO et al., 2006, p. 131). A diferença entre economias de aprendizagem e de escala reside em a primeira depender da história da empresa que desenvolveu, com o tempo, certo know‑how para produzir com baixo custo e a segunda oferecer apenas vantagens de custos obtidas com o aumento de quantidade produzida (BESANKO et al., 2006). 65 ESTRATÉGIA COMPETITIVA 5.4.2 Razões para produzir Apesar das razões apontadas para comprar, vale ressaltar que existe, da mesma forma, uma série de razões para produzir, pois, em alguns casos, os custos relacionados para comprar são superiores aos benefícios. 5.4.2.1 Custos de transação A primeira razão a ser considerada para produzir consiste nos chamados custos de transação, os quais, por sua vez, são todos inerentes ao tempo e às despesas de negociação, além dos custos de escrituração e os necessários para valer‑se dos contratos estabelecidos nas relações entre comprador‑fornecedor (BESANKO et al., 2006). Neste ponto, ressalve‑se, que, por mais específico que seja o contrato celebrado entre as partes, dificilmente ele será considerado perfeito. Considere, por exemplo, a montadora que contrata um fornecedor para produzir o sistema de freios ao seu novo modelo de automóvel: são alguns dos riscos dos custos de transação: • A especificidade do sistema de freios (por exemplo, relacionados ao tamanho e resistência adequados) encomendado – caso a fornecedora de autopeças desista do negócio contratado, não será fácil, nem rápido encontrar outra fornecedora. • A empresa fornecedora pode alegar “problemas financeiros”, forçando renegociação dos preços previamente contratados, reduzindo, até mesmo, os lucros da montadora, porém, como o sistema de freios possui uma série de especificidades e não existem outros fornecedores facilmente disponíveis, a montadora não terá alternativa senão assumir os novos custos impostos. Sendo assim, se os custos de transações representarem riscos elevados, a empresa deve reconsiderar a relação comprador‑fornecedor e, em última análise, decidir pela produção do sistema de freios internamente. Outros problemas relacionados aos custos de transação dizem respeito à dificuldade de firmar um parceiro confiável, além de elaborar um contrato específico suficiente que garantam as condições de negociação, custo de monitoramento (coordenação) da celebração desse contrato e renegociações necessárias quando de novas rodadas de fornecimento ou suprimento (BESANKO et al., 2006). 5.4.2.2 Coordenação de atividades interdependentes Ainda sobre as dificuldades de coordenação, às vezes, decisões estratégicas em diferentes níveis da cadeia produtiva são intensamente interdependentes, o que aumenta, consideravelmente, a necessidade de coordenação, a fim de não implicar altos custos à empresa que contrata a atividade de outra. Nesses casos, mais conveniente para a empresa será executar essas atividades, coordenando‑as internamente (BESANKO et al., 2006). 66 Unidade II Voltando à montadora: se a fornecedora de autopeças não entregar os sistemas de freios com a especificidade adequada ou no prazo combinado, a linha de produção precisará ser interrompida e altos custos serão impostos à montadora. 5.4.2.3 Informações privativas Por último, é necessário ponderar os riscos relacionados aos problemas gerados pelo “vazamento” de informações privativas, pois empresas independentes podem valer‑se de certas informações que recebem sobre o processo produtivo da compradora quando esta especifica suas necessidades de fornecimento, para entregá‑las a empresas concorrentes no mercado (BESANKO et al., 2006). Por exemplo, quando uma empresa fabricante de celulares contrata uma empresa de software para suprir sua necessidade, corre o risco de perder o controle de informações privativas valiosas, como o design de seu produto ou seu know‑how de produção. O próximo quadro sintetiza os benefícios e os custos do uso do mercado. Dessa forma, quando uma empresa decide quais são suas fronteiras verticais, é preciso um exame cuidadoso ligado aos custos e benefícios de produzir ou comprar uma determinada atividade em sua cadeia produtiva. Quadro 31 – Benefícios e custos do uso do mercado Benefícios (razões para comprar) Custos (razões para produzir) Economias de escala superiores que empresas de mercado podem obter, por serem mais inovadores e eficientes. Custos de transação, pois pode haver custos de negociar com empresas independentes de mercado que podem ser evitados executando‑se a atividade em casa. Informações proprietárias, como recursos ou atividades licenciados ou patenteados por empresas independentes de mercado. Coordenar o fluxo de produção pela cadeia vertical pode ser difícil quando uma atividade é encomendada a uma empresa de mercado independente, em vez de executada em casa. Economias de aprendizado ocasionadas pelo acúmulo de experiência na atividade que realizam. Informação privativa pode vazar quando uma atividade é executada por uma empresa de mercado independente. Dilema produzir versus comprar à luz da Teoria dos Jogos O exemplo a seguir foi extraído do livro Teoria dos Jogos, de Ronaldo Fiani, e ilustra com clareza o dilema produzir versus comprar em situações de interação estratégica nas quais empresas decidem subcontratar fornecedores, porém sem possuir total conhecimento do comportamento ético daquelas empresas independentes de mercado. Imagine dois jogadores: uma empresa multinacional de artigos esportivos e seu potencialfornecedor em um país emergente, localizado na Ásia. A empresa multinacional vê‑se diante de duas alternativas: • contratar o fornecedor do país emergente (comprar); • realizar ela mesma a atividade aquela etapa da produção de seu produto (produzir). 67 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Se a multinacional contrata (isto é, compra a atividade) o fornecedor do país emergente, economizam‑se significativamente os custos, pois este oferta a atividade não somente para aquela, mas também para muitas outras empresas, e isso proporciona ao fornecedor uma economia de escala que a multinacional não seria capaz de alcançar, caso realizasse a atividade internamente, além, é claro, de ser menos custosa a mão de obra em países emergentes. Algo, entretanto, pode aumentar consideravelmente os custos para essa economia: um fornecedor que não respeita seus trabalhadores, contratando crianças, castigando funcionários, desrespeitando o meio ambiente etc., provavelmente, custará menos, porém desencadeará prejuízos a quem a contratar em termos de reputação. Assim, as ações possíveis ao fornecedor correspondem a: • agir responsavelmente; • agir irresponsavelmente. A multinacional decidirá entre: • comprar; • produzir. Os payoffs ou recompensas desse jogo, em termos de preferências para cada combinação possível, dadas as ações dos jogadores, representam‑se nas matrizes dispostas nos dois quadros seguintes – a primeira desenvolve o jogo quando o fornecedor é socialmente responsável e o segundo, quando ele não o é. Quadro 32 – Dilema produzir versus comprar (fornecedor responsável) Empresa multinacional Compra Produz Fornecedor responsável socialmente Age responsavelmente 2; 2 0; ‑1 Age irresponsavelmente ‑1; ‑2 ‑1; 0 Quadro 33 – Dilema produzir versus comprar (fornecedor irresponsável) Empresa multinacional Compra Produz Fornecedor irresponsável socialmente Age responsavelmente ‑1; 2 0; ‑1 Age irresponsavelmente 2; ‑2 1; 0 68 Unidade II Os dois jogos do “dilema produzir versus comprar” resultam em EN diferentes: no primeiro, a empresa multinacional decide comprar a atividade do fornecedor, já, no segundo, a decisão é a de produzir a atividade internamente. Recordando conceitos discutidos antes, poderíamos concluir que essa interação estratégica deve ser classificada como um “jogo de coordenação”. Como tal, a empresa multinacional precisa desenvolver mecanismos capazes de coordenar o jogo, a fim de induzir o fornecedor a tomar a decisão mais interessante para ela, ou seja, comprar a atividade sem correr o risco de uma atitude irresponsável do fornecedor. Nesse sentido, a empresa multinacional pode estabelecer um ponto focal como mecanismo de coordenação, impondo uma pré‑condição como essa: negociar exclusivamente com fornecedores reconhecidos como responsáveis por instituições internacionais (por exemplo, a Organização Internacional do Trabalho – OIT). 6 CONCORRENTES Uma questão norteia as próximas discussões: quais forças dirigem o resultado das guerras concorrenciais em diferentes estruturas de mercado? Para respondê‑la, trataremos de concorrentes e concorrência, pensando a facilidade com que empresas podem entrar ou sair do mercado, abordando: • os fundamentos que permitem a identificação dos concorrentes de uma empresa; • a compreensão das diferentes estruturas de mercado; • a diferenciação de produtos (conceito que será tratado devidamente quando for discutida a concorrência monopolística). 6.1 Identificação de concorrentes Um grupo de empresas estará no mesmo mercado quando as decisões de produção, preço e marketing de uma empresa afetam materialmente os preços que as outras podem cobrar (BESANKO et al., 2006, p. 362). No Brasil, a principal agência reguladora especialista na identificação de concorrentes é denominada Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade, uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça, com sede e foro no Distrito Federal, que exerce, em todo o território nacional, as atribuições determinadas pela Lei nº 12.529/2011 (CADE, 2015). O Cade demonstra, em seus estudos sobre concorrência no Brasil, que a definição de mercado relevante visa identificar o conjunto de agentes econômicos, consumidores e produtores que poderiam limitar, efetivamente, as decisões referentes a preços e quantidades de outra empresa atuantes em um determinado segmento de mercado. O mercado relevante é determinado, portanto, em termos de produtos e/ou serviços que o compõem (dimensão do produto) e da área geográfica para a qual sua venda é economicamente viável (dimensão geográfica). 69 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Agências reguladoras ao redor do mundo, como o Cade, por exemplo, buscam prevenir, corrigir e instruir o mercado (oferta e demanda) contra eventuais cenários configurados pelo abuso do poder de mercado, exercido por empresas em determinadas ocasiões. A existência de agências assim denota as diferenças na dinâmica das interações estratégicas entre os concorrentes, de acordo com as diferentes estruturas de mercado, no entanto, muitas vezes as técnicas de identificação de concorrentes são demasiadamente baseadas em cálculos matemáticos e estatísticos, os quais, por sua vez, nem sempre são de fácil compreensão ou aplicação prática. Dessa forma, Besanko et al. (2006) sugerem abordagem mais intuitiva para identificar empresas que interagem como concorrentes em um mercado de acordo com as seguintes características que devem ser compartilhadas entre seus produtos ou serviços: • características do produto/serviços iguais ou semelhantes; • ocasiões para o uso iguais ou semelhantes; • o mesmo mercado geográfico onde se dão as vendas. Essas características, apesar de serem consideradas mais intuitivas e qualitativas, muitas vezes são tão utéis quanto as abordagens mais quantitativas utilizadas por agências governamentais de regulação da concorrência. Por exemplo, em estudo do Cade (2014) sobre o mercado de combustíveis automotivos, os analistas daquela agência abordaram o varejo de gasolina do tipo C, por ser a mais consumida, isto é, com desempenho similar entre os diversos concorrentes (existem normas técnicas que definem sua composição) e sendo comprada em ocasiões muito similares (abastecimento de veículos a passeio). O mercado geográfico definido para o estudo foi o de áreas municipais, quando a população do município fosse inferior a 200 mil habitantes, ou bairros e grupos de bairros, quando fosse superior a 200 mil. Uma vez definidas quais empresas fazem parte de um mesmo mercado, ou seja, quais são concorrentes, é preciso examinar e descrever sua concentração. 6.2 Estrutura de mercado Mercados são comumente descritos como: • concentrados: quando são poucos os concorrentes; • não concentrados: quando há muitos concorrentes. Essa caracterização rápida e suficientemente precisa avalia a natureza das interações estratégicas entre os concorrentes (BESANKO et al., 2006), em termos econômicos, descrevendo a estrutura de mercado que, por sua vez, “refere‑se ao número e à distribuição de empresas num mercado” (BESANKO 70 Unidade II et al., 2006, p. 214). Para Gremaud et al. (2011, p. 204), “as estruturas de mercado são modelos que captam aspectos inerentes de como os mercados estão organizados.” O próximo quadro resume as diferentes estruturas de mercado, a partir de duas grandes distinções entre as estruturas, o número de empresas concorrentes e o nível de diferenciação dos produtos. Quadro 34 – Estruturas de mercado Número de empresas Diferenciação de produtos Muitas Poucas Uma Produtos idênticos Concorrência perfeita Oligopólio de produtos homogêneos Monopólio Produtos diferenciados Concorrência monopolística Oligopólio de produtos diferenciados 6.2.1 Monopólio Urdan e Urdan (2013) argumentam que há dois tipos de monopólios, os considerados: • de fato; • de direito. Os de fato são raros; neles, a empresa conquista o status de monopolista, dominando o mercado sem dar margem para concorrentesoferecerem os mesmos produtos – por exemplo, a Intel, no mercado de processadores para microcomputadores e a Microsoft, no de sistemas operacionais para computadores. Já o monopólio de direito toma forma por força de regulamentações do governo – são os casos, no Brasil, de alguns serviços públicos, como correios, abastecimento de água e energia. Uma noção complementar aos monopólios de direito, também denominados naturais, é apresentada por Gonçalves e Guimarães (2010): o suprimento de energia elétrica, para a população, custaria muito caro, por isso, manter duas ou mais redes elétricas elevaria ainda mais o preço do fornecedor de energia por região, de tal maneira que a concorrência, nesses casos, tornar‑se‑ia ineficiente. No caso do monopólio de fato, como é o da Microsoft, no mercado de sistemas operacionais para computadores, o poder de fixar preços pode constituir‑se em vantagem competitiva considerável. Porém, quando se trata de um monopólio natural, a inexistência de concorrência feroz acarreta custos para a sociedade, e a regulação governamental procura corrigir essa provável falha de mercado, impondo uma estratégia de preços denominada “discriminação de preços”, ou seja, as tarifas de energia são cobradas em diferentes faixas de preço, de acordo com a capacidade de pagamento de cada agente 71 ESTRATÉGIA COMPETITIVA econômico na sociedade (GONÇALVES; GUIMARÃES, 2010) – por exemplo, as empresas pagam uma tarifa de fornecimento de energia maior do que as famílias. 6.2.2 Concorrência perfeita Besanko e Braeutigam (2004) argumentam que o mercado em concorrência perfeita apresenta, basicamente, as seguintes características: • mercado fragmentado; • produção de bens homogêneos; • informação perfeita sobre preços à disposição dos consumidores; • acesso aos mesmos recursos para a produção. Segue uma breve descrição dessas características, para Urdan e Urdan (2013): • A participação de mercado de cada uma das empresas em concorrência perfeita é, usualmente, muito pequena. • “As ofertas concorrentes são pouco diferenciadas entre si e vistas pelo compradores como semelhantes” (2013, p. 328). • De ambos os lados (de quem compra e de quem vende), os preços praticados são bem conhecidos. Segundo Gremaud et al. (2011), essa hipótese, na economia, é conhecida como “transparência de mercado”. • A tendência é a de que não existam muitas barreiras que impeçam novos entrantes (concorrentes) no mercado e as competências para trabalhar no setor sejam de relativamente fácil adquisição. Gremaud et al. (2011) ainda acrescentam outra hipótese ao mercado em livre concorrência, a “livre mobilidade”, que, por sua vez, significa não haver barreiras para entrada e saída de concorrentes. Assim, não existem fortes impedimentos para empresas menos eficientes abandonarem o mercado ou para mais eficientes ingressarem na concorrência. Uma importante questão estratégica relacionada ao mercado em livre concorrência diz respeito às decisões de preço. No regime de concorrência perfeita, a empresa somente é capaz de decidir qual será a quantidade produzida, porque o preço é fixado pelo mercado (GREMAUD et al., 2011). Exemplos clássicos de mercados em concorrência perfeita são os agrícolas (por exemplo, trigo e milho), pois a participação de um produtor agrícola é muito pequena em relação ao mercado como um todo, e os produtos são, tipicamente, homogêneos. 72 Unidade II Besanko et al. (2006) alertam para o fato de muitos mercados, simplesmente, não se enquadrarem em todas as condições do modelo da concorrência perfeita, mas, ainda assim, poderem experimentar as mesmas condições de feroz concorrência por preços. Isso ocorre, principalmente, se ao menos duas, das três, condições a seguir citadas caracterizarem o mercado: • existência de muitos concorrentes; • percepção, por parte dos consumidores, de que os produtos são homogêneos; • excesso de capacidade produtiva. Observação Besanko et al. (2006) alertam que empresas com capacidade excedente, quando pressionadas a expandir rapidamente sua produção e, então, suas vendas, podem roubar negócios de suas rivais. 6.2.3 Concorrência monopolística Para Besanko e Braeutigam (2004), a concorrência monopolística possui três grandes características distintas das demais estruturas: • há muitos fornecedores; • também livre mobilidade; • as empresas produzem bens diferenciados horizontalmente. Conforme Besanko et al. (2006, p. 223): Os economistas distinguem entre diferenciação vertical e diferenciação horizontal. Um produto é verticalmente diferenciado quando ele é claramente melhor ou pior do que produtos concorrentes [...]. Um produto é horizontalmente diferenciado quando apenas alguns consumidores o preferem a produtos concorrentes (desde que o preço permaneça igual). A diferenciação horizontal dos produtos somente é possível ou viável se as preferências dos consumidores forem heterogêneas, pois, caso eles prefiram o mesmo produto (sem qualquer diferenciação horizontal), então não haverá qualquer sentido em as empresas ofertarem produtos diferenciados horizontalmente. Gonçalves e Guimarães (2010, p. 52) argumentam que, “ao desenvolver um produto diferenciado, a empresa pode cobrar mais sem perder muitos consumidores: a diferenciação é a chave do negócio porque afeta a elasticidade da demanda”. 73 ESTRATÉGIA COMPETITIVA É essencial, quando uma empresa atua em mercado de concorrência monopolística, compreender que a produção de bens diferenciados horizontalmente pode dar‑se em inúmeras dimensões. Sendo assim, o próximo quadro destaca três importantes dimensões de diferenciação: Quadro 35 – Dimensões de diferenciação horizontal de produtos Dimensão de diferenciação horizontal Exemplo prático Características técnicas Celulares podem diferenciar‑se com relação aos tipos de sistemas operacionais, de câmeras, diferentes pesos, formatos, e memórias etc. Durabilidade Alguns sapatos são “feitos para durar”; outros, nem tanto. Valor de revenda Alguns automóveis contam, entre seus atributos, com a baixa depreciação de mercado que possuem e, por isso, o alto valor de revenda proporcionado aos seus proprietários Além das três dimensões ilustradas, há outras formas de diferenciar horizontalmente um produto. Conforme novas tecnologias vão surgindo a cada dia, outras tantas formas de diferenciação de um produto para um mercado em concorrência monopolítica vão sendo descobertas. Nesse sentido, apresentaremos mais algumas delas: • Design, gosto ou imagem – automóveis abarcam vários tipos de design que os diferenciam fortemente de seus concorrentes. • Localização – postos de gasolina em vias expressas, em grandes centros urbanos, arrebatam maior preferência de seus consumidores, pela conveniência de suas localizações. • Tempo – certos horários de voos comerciais são preferíveis quando comparados a outros, pela comodidade apresentada aos seus consumidores. Às vezes um palestrante precisa embarcar no voo das 7h, mesmo que o preço de outro horário seja menor. Em suma, quando se discute a ideia de diferenciação horizontal e vertical a regra de decisão dos consumidores com relação a esses produtos ocorre da seguinte forma: Diferenciação horizontal • Entre dois produtos concorrentes, A e B, sendo os preços idênticos, alguns consumidores preferirão o produto A, enquanto outros, o B. Diferenciação vertical • Entre dois produtos concorrentes, A e B, sendo os preços idênticos, todos os consumidores escolherão o produto A, em vez do B (pois aquele possui qualidade reconhecidamente superior a deste). 74 Unidade II Na concorrência perfeita, como foi discutido anteriormente, a definição dos preços não cabe às empresas, mas ao mercado. Já na concorrência monopolística a diferenciação horizontal de produtos permite que empresas aumentem seus preços sem perder muitos clientes (BESANKO et al., 2006, p. 334). Para ilustrar isso, considere o caso a seguir. A rua Itapura é localizada em área nobre do Tatuapé,bairro da Zona Leste de São Paulo, capital do estado de São Paulo. Apesar de a estrutura de mercado do tipo concorrência monopolística pressupor muitos concorrentes, considere que duas empresas estão avaliando a possibilidade de montar seus pontos de vendas naquela rua. As duas empresas atuam no ramo de pet shop e a área de abrangência de uma pequena loja, como a que as duas pretendem instalar, é muito baixa, restringindo‑se apenas aos moradores dos imóveis residenciais daquele endereço que, por sua vez, espalham‑se uniformemente pela rua. Assim, mesmo duas empresas já pode ser considerado um número de concorrentes elevado para o restrito mercado do exemplo. A próxima figura retrata o mercado em concorrência monopolística de pet shops em que os produtos são diferenciados horizontalmente apenas com base na localização. As duas lojas de pet shops são representadas pelo ícone (loja laranja com cão e gato), e os consumidores, pela letra C, em sua dispersão uniforme, ao longo da rua. C C C C C C C C Figura 18 – Pet shops na Itapura (1ª análise) Alguns pressupostos importantes sobre esse exemplo são os seguintes: • os consumidores sentem desconforto em se deslocar para ir ao pet shop; • os produtos comercializados nas duas lojas são idênticos, consistindo a localização a única diferenciação entre elas; • as duas lojas situam‑se no meio da rua; • todas as residências, ao longo da rua, são consideradas consumidores, pois todas aquelas famílias possuem animais de estimação. A partir da configuração elaborada na primeira análise, é relativamente fácil notar que haverá guerra de preços entre as duas lojas, uma vez que, para qualquer consumidor, o “custo de deslocamento” será o mesmo, pois ambos estão localizados praticamente no mesmo ponto. Dessa forma, o único fator determinante para a escolha do consumidor será o preço mais baixo que uma ou outra loja cobrar por seus produtos. 75 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Sendo assim, as duas empresas reduzirão seus preços até os custos (isto é, lucro igual a zero), porque estão vendendo o mesmo produto (sem diferenciação) na mesma localização. No entanto, considere que as duas empresas tenham a possibilidade de selecionar outras localizações ao longo da rua Itapura, ou seja, possam diferenciar seus produtos horizontalmente por meio da localização. Essa segunda análise é representada na figura seguinte: C C C C C C C C Figura 19 – Pet shops na Itapura (2ª análise) Agora é possível prever que as duas empresas poderão, literalmente, dividir o mercado de pet shop da rua Itapura. O conjunto de consumidores do lado direito da figura preferirão comprar no pet shop localizado na extremidade à direita da rua, enquanto a outra metade, mais à esquerda, optará pelo concorrente, pela mesma razão, ou seja, localização. Dessa forma, é possível compreender como a diferenciação horizontal de produtos permite que as empresas em concorrência monopolística aumentem seus preços, acima dos custos, sem perder muitos clientes. O ponto interessante a ser indagado, neste momento da análise, é o seguinte: seria possível expandir a ideia de diferenciação horizontal como fonte de vantagem competitiva, para além da dimensão geográfica? Em outras palavras, há alguma possibilidade de interpretar a diferenciação senão pela dimensão geográfica de localização? A resposta é positiva. A diferenciação horizontal, como foi discutido anteriormente, pode dar‑se em inúmeras dimensões, sendo a localização apenas uma de suas diversas possibilidades. Considere, por exemplo, o bairro da Vila Madalena, também em São Paulo, reconhecido reduto boêmio da cidade, com incomparável concentração de bares e casas noturnas. Essas casas comerciais localizam‑se muito próximas umas das outras, mas a dimensão de diferenciação horizontal não incide na localização, e sim em outras, como o ambiente e a temática musical (samba, rock, jazz etc.), gastronomia (mexicana, árabe, japonesa etc.), dentre ainda outras dimensões. 6.2.4 Oligopólio O oligopólio é uma estrutura de mercado caracterizada pelo número reduzido de concorrentes com bens ofertados tidos por substitutos próximos entre si (GREMAUD et al., 2011). 76 Unidade II Em mercado com apenas alguns concorrentes, como no caso de oligopólios, as estratégias de formação de preços e produção de qualquer empresa influencia ou gera algum tipo de impacto nos níveis de preço e produção do setor considerado como um todo (BESANKO et al., 2006). Urdan e Urdan (2013, p. 329) ressaltam, que em um oligopólio “não mais do que seis empresas realizam pelo menos metade das vendas totais do ramo [...] a gestão de preço de uma empresa num oligopólio é bastante influenciada pelas ações dos concorrentes”. Para Gremaud et al. (2011), trata‑se da estrutura de mercado prevalente, ou seja, que predomina no mundo ocidental (indústria e transporte aéreo e rodoviário, setor químico, siderúrgico etc.). Urdan e Urdan (2013) argumentam que, no Brasil, os setores oligopolistas vão desde os bancários e automotivos até os siderúrgicos nacionais. Para Besanko e Braeutigam (2004), porém, ainda essa estrutura de mercado é ramificada em: • oligopólio perfeito – produtos homogêneos; • oligopólio diferenciado – produtos diferenciados. 6.2.5 Oligopólio com produtos homogêneos A diferença mais significativa dos oligopólios (perfeitos ou diferenciados) em relação aos mercados de concorrência perfeita e aos monopólios consiste no fato de que as decisões das oligopolistas são interdependentes; já, na concorrência perfeita, os impactos relacionados à tomada de decisão relativa à produção (já que o preço é dado pelo mercado) são imperceptíveis, pois são muitos os vendedores e os compradores; por fim, no monopólio, não há qualquer rival considerável (BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004). No entanto, a natureza da interação estratégica dos oligopólios depende da característica dos produtos vendidos ou dos serviços prestados, isto é, caso os produtos sejam considerados homogêneos (percebidos pelos consumidores como similiares), a decisão das empresas limita‑se às quantidades que cada empresa naquele oligopólio irá produzir (FIANI, 2006). A lógica, neste caso, é a de que os produtos não possuem diferenciação. Dessa forma, a empresa que faz parte desse oligopólio não consegue ofertar seu produto a um preço maior que o de seus concorrentes. Assim, a maximização de seu lucro depende, exclusivamente, da quantidade produzida. Assim, as empresas em um oligopólio com produtos homogêneos interagem estrategicamente e acabam restringindo a quantidade ofertada para alterar, coletivamente, o preço de seus produtos ou serviços (a redução da oferta ocasiona um excesso de demanda no mercado e, com efeito, um aumento no preço de mercado). Um exemplo típico dessa estrutura de mercado é o setor de cimento. O produto é homogêneo (a produção de cimento precisa obedecer às normas técnicas regulamentadas pelo governo), há 77 ESTRATÉGIA COMPETITIVA pouco mais de cinco grandes produtores nacionais, dentre os quais, nem todos atuam em todas as regiões brasileiras, o que torna a participação, por mercado, mais restrita ainda – há significativas barreiras de entrada e saída, pois os recursos necessários para investir nesse setor correspondem a valores muito expressivos. 6.2.6 Oligopólio com produtos heterogêneos Os mercados de cerveja, cereais de café da manhã, automóveis e refrigerantes têm em comum o fato de que suas empresas vendem produtos que, conforme a percepção dos consumidores, são distintos entre si. Nesses mercados, diferentemente daqueles em concorrência monopolística, ainda há poucas empresas concorrentes, e tais características, basicamente, descrevem os oligopólios diferenciados (BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004). Porém, a lógica intuitiva dessa estrutura de mercado ainda é muito semelhante a dos mercados em concorrência monopolística, porque a capacidade de diferenciação horizontal dos produtos ou serviços será determinante para a maximização dos lucrosdas empresas nesse tipo de oligopólio (BESANKO et al., 2006). Dessa forma, em oposição ao oligópolio perfeito, no diferenciado, as empresas tomam suas decisões de interdependência em cenário de interação estratégica relacionada ao preço, e não à quantidade. Pois, a partir da diferenciação horizontal ou vertical, é‑lhes possível determinar preços mais elevados sem perder muitos consumidores. 6.3 Rivalidade e estratégias de preços Agora abordaremos tecnicamente a concorrência, a partir de uma série de modelos analíticos que contribuem para a compreensão da competição em preços e os aspectos relacionados à sua dinâmica. Além de um conjunto de alternativas estratégicas inerentes a esse tipo de decisão competitiva, associadas diretamente à gestão do composto de marketing, mais especificamente a administração e a decisão de preço. 6.3.1 Dinâmica da rivalidade de preços Para Besanko et al. (2006), a rivalidade de preços consiste em um processo dinâmico, isto é, trata‑se de um fenômeno de mercado competitivo no decorrer do tempo. A implicação mais importante dessa característica dinâmica ligada à rivalidade de preços consiste no fato de que as decisões de preço tomadas no presente influenciarão o comportamento dos rivais e da própria empresa no futuro (BESANKO et al., 2006). Sendo assim, em termos de Teoria dos Jogos, é possível afirmar que essa dinâmica deve ser modelada como um jogo simultâneo, repetido infinitamente, ou como um jogo de movimento sequencial. Besanko et al. (2006) destacam que as principais questões, quando se consideram a análise da dinâmica da rivalidade de preços, são: 78 Unidade II • Que condições ambientais podem influenciar, mais fortemente, a intensidade da concorrência de preços? • Quais fatores para a promoção de um comportamento coordenado em relação a preços são capazes de evitar a guerra de preços? • Quais fatores favorecem a concorrência mais intensa como norma de mercado? • Que aspectos favorecem o surgimento de guerras de preço, mesmo em mercados, tipicamente, tranquilos? • Existe valor, e quando, nas políticas de preços que os equiparam entre uma determinada empresa os cobrados por suas rivais? • Quando a decisão de equiparar preços aos da concorrente deve ser tomada, e quando não? Considere o exemplo a seguir adaptado e extraído do livro Teoria do Jogos: Aplicada à Estratégia Empresarial, do economista Jean Max Tavares, denominado “disputa em terras férteis para negócios”. Duas empresas, do ramo de laboratórios, Primer e Trend, estão iniciando suas atividades comerciais em uma grande cidade, localizada na região centro‑oeste do país. Ainda não existia qualquer laboratório de análises clínicas naquela cidade, ou seja, o mercado será dividido pelas participações, apenas, da Primer e da Trend. Em termos mais simples, as políticas de preço consideradas por ambos laboratórios são: estabelecer preço alto ou preço baixo pelos serviços prestados (TAVARES, 2008). Tavares (2008) destaca que, no jogo “Disputa em terras férteis para negócios”, os payoffs, isto é, os resultados obtidos para cada combinação de estratégia são expressos em termos de faturamento anual, conforme o potencial de mercado apresentado naquela região. O quadro a seguir representa o jogo simultâneo contextualizado, como pode ser observado, e os payoffs estão em milhões de reais faturados. Quadro 36 – Disputa em terras férteis para negócios Laboratório Primer Preço alto Preço baixo Laboratório Trend Preço alto 4; 4 1; 6 Preço baixo 6; 1 3; 3 Fonte: Tavares (2008, p. 31). 79 ESTRATÉGIA COMPETITIVA A disputa entre os laboratórios Primer e Trend ilustra um aspecto importante relacionado à dinâmica da rivalidade de preços em mercados concentrados (oligopólios), pois evidencia que essa natureza competitiva consiste, basicamente, em um dilema do prisioneiro, isto é, os laboratórios estariam em uma situação muito melhor, caso fossem capazes de coordenar suas ações. O EN, no jogo entre os laboratórios, resulta das estratégias: • preço baixo; • preço baixo. Mas também resulta de payoffs equivalentes a R$ 3 milhões em faturamentos mensais, para cada laboratório. Dessa forma, é fácil notar que, caso Primer e Trend pudessem coordenar suas ações, ambos faturariam R$ 4 milhões mensais. Em vários países, inclusive no Brasil, o conluio ou a discussão e decisão gerencial conjunta entre empresas de um determinado mercado configura‑se em prática criminal. No caso brasileiro, o Cade – Conselho Administrativo de Defesa Econômica – é o órgão regulador oficial do governo que fiscaliza possíveis práticas de conluio ou cartel. No entanto, a determinação de preços cooperativos ou precificação cooperativa adotada neste livro‑texto segue a mesma linha adotada em Besanko et al. (2006) que, por sua vez, é similar a noção que diferencia jogos cooperativos de jogos não cooperativos discutida na primeira unidade do presente material. Lembrete No dilema dos prisioneiros repetido, à medida que os jogadores tornam a encontrar‑se em situações semelhantes, tendem a coordenar as ações, garantindo os melhores resultados para ambos. Fiani (2006) destaca que a diferença entre jogos cooperativos e não cooperativos reside na possibilidade de se estabelecer, entre os jogadores, compromissos com garantias. Porém, o estabelecimento desses compromissos garantidos não depende, necessariamente, de práticas ilícitas. Por exemplo, ao observar os resultados financeiros das empresas em mercado caracterizado pela guerra de preços, uma empresa pode compreender que praticar preços mais cooperativos com suas rivais implicará, em termos racionais e individuais, em ganhos superiores para si mesma, sem haver qualquer delito nessa tomada de decisão. O termo “determinação cooperativa de preços” ou “precificação cooperativa” designa situações em que empresas mantêm preços superiores aos esperados em competição estrita (BESANKO et al., 2006). 80 Unidade II Sendo assim, a determinação cooperativa de preço torna‑se sustentável mesmo sem haver qualquer prática de conluio, pois se trata de um dilema do prisioneiro infinitamente repetido (BESANKO et al., 2006). Relembre, agora, a “disputa em terras férteis para negócios”, supondo que, por alguma razão, o laboratório Primer decida estabelecer política de preços altos. O laboratório Trend, por sua vez e de modo intuitivo, decide pela estratégia de preço alto, pois, como o jogo entre eles continuará a ser jogado repetidamente e por tempo indeterminado, os ganhos serão maiores, em longo prazo, se houver a determinação de preço cooperativa. Dito de outra forma, caso o laboratório Trend decida por preços baixos, aproveitando a oportunidade para obter ganhos superiores em curto prazo, as retalições do Primer virão na próxima jogada. Porém, Besanko et al. (2006) ressaltam que, na prática, a cooperação de preços enfrenta dificuldades, em certas estruturas de mercado, impedindo a coordenação entre as empresas para um equilíbrio mais favorável ao setor. Entre as condições da estrutura de mercado que mais influenciam a obtenção de preços cooperativos, Besanko et al. (2006) destacam: • concentração do mercado; • condições estruturais que afetam as velocidades de reação e as demoras na detecção; • assimetrias entre as empresas; • sensibilidade ao preço por parte dos compradores. 6.3.1.1 Concentração de mercados Para Besanko et al. (2006), os custos para a determinação de preços cooperativos diminuem e os benefícios aumentam em mercados mais concentrados (poucas empresas); já, em mercados fragmentados (muitas empresas), os custos aumentam e os benefícios diminuem. 6.3.1.2 Velocidade de reação e atrasos de detecção A velocidade de reação em relação às decisões de preço dos concorrentes pode afetar a sustentabilidade do processo de precificação cooperativa (BESANKO et al., 2006). Em outras palavras, se a reação for praticamente instantânea, as retaliações ao comportamento oportunista de certas empresas serão mais rápidas e eficientes.Por outro lado, em mercados cuja reação é lenta, aumentam os benefícios gerados por comportamentos oportunistas de corte nos preços, para a obtenção de maiores participações de mercado. 81 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Imagine duas empresas prestadoras de serviços automotivos – do tipo “lava‑rápido” –, localizadas na mesma rua, determinando e alterando seus preços com muita agilidade. Caso um dos concorrentes naquele mercado decida realizar uma promoção de vendas com 50% de descontos em seus serviços, essa estratégia poderá ser rapidamente retaliada pela outra empresa rival que pode responder com uma determinação de preço por réplica de comportamento (olho por olho). Besanko et al. (2006) ressaltam fatores como: • atrasos na detecção dos preços dos concorrentes; • interações infrequentes com seus concorrentes; • ambiguidades na identificação de que empresa dentre um grupo de empresas de um mercado está cortando seus preços; • dificuldades em distinguir entre quedas no volume de vendas devido a cortes de preços das rivais e quedas no volume devido diminuições não previstas na demanda. Por exemplo, considere duas empresas prestadoras de serviços de consultoria empresarial – do tipo contábil –, localizadas na mesma rua. Há uma grande dificuldade na detecção dos preços praticados por elas, pois são preços determinados a partir do tipo de cliente (pessoa física ou jurídica), do porte do cliente (pequenas empresas até grandes empresas), dentre outros fatores. Além disso, boa parte dos serviços é infrequente (por exemplo, declaração de imposto de renda) e, como não há clareza da determinação dos preços das rivais, uma queda no volume de vendas pode ser confundida, em sua origem, com uma queda na demanda daquele mercado. 6.3.1.3 Assimetria entre as empresas A determinação cooperativa de preços supõe que as empresas concorrentes, em um determinado setor, sejam idênticas e, quando isso não ocorre (por exemplo, empresas que possuem diferentes custos), a coordenação torna‑se mais difícil (BESANKO et al., 2006). Mantenha em mente essas duas empresas de contabilidade, supondo que o imóvel utilizado como sede de uma delas seja de propriedade da própria empresa, e o da segunda seja alugado. Os diferentes custos entre as duas empresas dificulta a determinação de preços cooperativos, pois uma delas dispõe de vantagem considerável, podendo cortar preços com maior facilidade. Besanko et al. (2006) argumentam que, além das diferenças nos custos, eventuais diferenças na capacidade produtiva e na qualidade dos produtos ou serviços entre empresas de um mesmo setor criam incentivos assimétricos (desiguais) para determinar uma precificação cooperativa. 6.3.1.4 Sensibilidade ao preço por parte dos compradores Alguns mercados consumidores são caracterizados como sensíveis ao preço. Neles, a empresa que determinar seu preço abaixo do de sua concorrência será capaz de impulsionar significativamente seu volume de vendas (BESANKO et al. 2006). 82 Unidade II A sensibilidade ao preço, por parte dos compradores, é mais intensa em setores nos quais os produtos ou serviços são pouco diferenciados. Dessa forma, o preço acaba tornando‑se o único atributo avaliado pelo comprador na decisão de consumo. 6.3.2 Objetivos e estratégia de preço Após tratarmos as noções inerentes à dinâmica da rivalidade em preços, abordaremos as possibilidades estratégicas de administração e decisões de preço, detalhando e concentrando na especificidade do preço em relação à gestão do composto de marketing. Kotler e Keller (2006) afirmam que o preço continua sendo um dos elementos mais essenciais do mix de marketing, pois se trata do único que gera receita, enquanto os outros somente produzem custos. Osterwalder e Pigneur (2011) complementam que os diferentes mecanismos de precificação ainda auxiliam o processo de geração receita. Para Urdan e Urdan (2013, p. 350): O objetivo de apreçamento consiste na situação futura que a empresa pretende alcançar com o preço que cobra. A estratégia de apreçamento reúne os meios para atingir os objetivos e é concebida em função dos objetivos. Ainda os mesmos autores defendem que os objetivos de apreçamento são: • Objetivo de lucratividade corrente – privilegia o curto prazo, com vistas à obtenção de um certo montante de lucro. • Objetivo de volume de vendas – consiste na quantidade de produtos ou no nível de faturamento desejado pela empresa. • Objetivo de participação de mercado – a partir do total de faturamento realizado ou da quantidade vendida pelo setor no qual a empresa compete, é definido um percentual de vendas de unidades de produto ou de faturamento em relação ao total do setor. • Objetivo de concorrência – com o objetivo de equiparar ou superar os preços determinados pelos concorrentes, definem‑se os preços da empresa, isto é, os preços obedecem uma função em relação à concorrência. • Objetivo de posicionamento – o preço refere‑se ao compromisso e à convicção da empresa com seu posicionamento no mercado. Dessa forma, o preço serve como reforço do posicionamento que a empresa deseja transmitir aos seus produtos ou serviços ao mercado. A partir dos objetivos distintos de apreçamento expostos, é possível definir a estratégia mais adequada à empresa, como será discutido na sequência. 83 ESTRATÉGIA COMPETITIVA 6.3.2.1 Estratégias de apreçamento As estratégias de apreçamento devem ser determinadas ou consideradas a partir da análise de diversos fatores, internos ou externos à empresa, como os consumidores, a concorrência e seus custos. Caso o ambiente ou os objetivos da empresa se alterem, é necessário reavaliar as estratégias de preço (URDAN; URDAN, 2013). 6.3.2.1.1 Apreçamento competitivo Aqui, a empresa busca definir o preço de seus produtos ou serviços para reforçar sua posição relativa aos concorrentes. As estratégias de apreçamento competitivas são: • de liderança de preços; • de paridade de preços; • de preço de prestígio; • de preço mais baixo; • geográfica de preço. Na estratégia de liderança de preço, a empresa inicia as mudanças de preços, tanto para cima como para baixo, sabendo que os concorrentes acompanharão esse movimento (como um ponto focal), tornando o líder de preço uma referência para o mercado (URDAN; URDAN, 2013). A estratégia de paridade de preço limita‑se à pràtica de preços equivalentes aos das rivais, sendo a mais adequada a empresas sem vantagem competitiva ou nível de diferenciação considerável para posicionar seus produtos e serviços de forma distinta em relação aos da concorrência. A estratégia de preço de prestígio (ou preço premium) é coerente para empresas que possuem atributos ou benefícios superiores aos de suas rivais, explicitando, desde o preço superior, a imagem de excelência e exclusividade da empresa em relação aos concorrentes (URDAN; URDAN, 2013). Na estratégia de preço mais baixo, “a empresa atua com os preços mais baixos entre os concorrentes [...] a lucratividade com preços reduzidos advém da vantagem competitiva em custos” (URDAN; URDAN, 2013, p. 356). A estratégia geográfica de preço consiste na cobrança dos custos inerentes ao deslocamento do produto até o ponto de entrega ao cliente. Usualmente, esses custos de deslocamento assumem elevadas proporções no valor final do preço do produto. As estratégias geográficas de preço, ainda, podem diferenciar‑se em preço na origem (quando a empresa não insere no valor do preço os custos de sua entrega, e as mercadorias são retiradas pelo cliente em um ponto de origem ou despacho) e preço no destino (quandos incluídos os custos de entrega do produto, a partir do local definido pelo consumidor). 84 Unidade II 6.3.2.1.2 Apreçamento de novos produtos Ainda segundo Urdan e Urdan (2013), esta categoria apresentas duas alternativas: • estratégia de desnatação; • estratégia de penetração de mercado, para situações nas quais a empresa não definiu precisamente a extensão daquele mercado, desconhecendo a demanda para seu novoproduto. Novamente para Urdan e Urdan (2013, p. 358), na estratégia de desnatação: [...] o novo produto recebe o maior preço que um segmento, em geral pequeno, de consumidores aceita pagar. A estratégia quer extrair do mercado o que ele tem de melhor, a nata, em matéria de disposição a pagar pelo produto. Gradativamente, na estratégia de desnatação, o preço é reduzido com o objetivo de incorporar o restante dos consumidores mais sensíveis ao preço, diferentemente da estratégia de penetração de mercado que, por sua vez, determina desde o início um preço mais baixo, muito próximo ao custo unitário, com o objetivo de consolidar o produto no mercado (URDAN; URDAN, 2013). 6.3.2.1.3 Apreçamento de conjunto de produtos A categoria de apreçamento conjunto de produtos é indicada para empresas que comercializam diversos produtos interdependentes. As principais estratégias de apreçamento, neste caso, são: • estratégia de linha de produtos; • estratégia de pacotes de produtos; • estratégia de produtos complementares; • estratégia de produtos substitutos. A estratégia de linha de produtos consiste na organização de produtos comercializados em uma ou mais linhas, a partir das definições de: • limite superior de preço da linha – referente ao melhor produto; • limite inferior de preço da linha – produto básico; • das diferenças de preços para os produtos intermediários. Na estratégia de pacote de produtos, a empresa procura vender um pacote, formado por dois ou mais produtos, a um preço inferior relativo à soma desses mesmos produtos vendidos individualmente. 85 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Normalmente, a ideia é estimular o consumo ou a experimentação de um dos produtos que fazem parte daquele conjunto. Ainda para Urdan e Urdan (2013), a estratégia de produtos complementares tem o objetivo de estimular a venda e o consumo de um produto a partir de outro, isto é, o item principal estimula a compra do item acessório. Por exemplo, uma impressora para computadores e seus cartuchos de tinta ou um console de videogame e seus jogos. 6.3.2.1.4 Apreçamento discriminador Por último, a categoria de apreçamento discriminador explora a sensibilidade do consumidor ao preço, o poder de barganha e suas preferências, com o objetivo de vender um mesmo bem por preços diferentes. As principais estratégias de apreçamento discriminador são: • estratégia de desconto para o segundo mercado; • estratégia de descontos periódicos; • estratégia de desconto negociado; • estratégia de desconto por volume. Urdan e Urdan (2013) argumentam que a estratégia de desconto para o segundo mercado da empresa refere‑se à definição de um preço para o principal, porém procurando um segundo mercado com a oferta do mesmo produto (às vezes, com pequena diferenciação) por um preço inferior. O objetivo é diluir custos e aumentar vendas. Exemplo disso é uma empresa fabricantes de molhos de tomate, que vende os produtos com sua marca (mercado prioritário), mas também produz e vende o mesmo tipo de item para o varejista comercializá‑lo com sua marca própria (mercado secundário). A estratégia de descontos periódicos aplica‑se a partir de reduções de preços em determinados momentos ou ciclos de conhecimento prévio dos consumidores. Trata‑se de uma prática comum no varejo, objetivando dar saída para mercadorias que devem ser substituídas por novos produtos e, dessa forma, gerar caixa em um último esforço de vendas. Na estratégia de desconto negociado, o preço é reduzido a cada transação, desde que o cliente solicite o desconto, visando a um acordo mais ajustado às condições do comprador e do vendedor. Já a estratégia de desconto por volume refere‑se à redução concedida como contrapartida de garantia de maiores quantidades a serem compradas pelo cliente (URDAN; URDAN, 2013). Finalizaremos a discussão sobre conceitos econômicos típicos da Organização Industrial – OI, examinando mais cuidadosamente os aspectos inerentes às entrada e saída de mercado. Porém, a parte mais expressiva de agora em diante será de abordagem instrumental para a estratégia competitiva, pois apresenta três modelos importantes: 86 Unidade II • o das Cinco Forças, de Porter, para análises setoriais; • as Estratégias Genéricas, também de Porter, para definição de posicionamento estratégico com o fito de obter vantagem competitiva no mercado; • a Teoria Baseada em Recursos da Empresa (Resource Based‑View) como modelo para sustentação da vantagem competitiva. 7 ENTRADA E SAÍDA DE MERCADO E ANÁLISE SETORIAL 7.1 Entrada e saída de mercado A análise de atratividade de certo mercado pode passar pela avaliação do potencial de novos entrantes surgirem naquele mercado (ou setor). Trata‑se de um aspecto importante de análise competitiva a ser considerado, tanto por empresas que observam a distância um determinado setor, quanto para as que já atuam nele e, obviamente, não desejam ter de lidar com a entrada de novos concorrentes, pois isso, provavelmente, acirraria ainda mais a característica competitiva do setor, diminuindo, por consequência, os lucros. Besanko et al. (2006) argumentam que a entrada é frequente em muitos mercados, assumindo diversas formas, como uma nova empresa que, simplesmente, não existia até sua entrada no mercado; uma empresa já existente que decidiu diversificar sua atuação, entrando em novo mercado; ou, ainda, essa diversificação pode ser meramente geográfica, isto é, quando uma empresa já atua em determinado setor, mas ainda não atuava em certa região (considere os casos de internacionalização de empresas). No entanto, a saída de mercado trata do oposto que ocorre com a entrada, ou seja, consiste na tomada de decisão de uma organização para retirar seus produtos de um mercado (BESANKO et al., 2006). De modo geral, dentre outros fatores igualmente relevantes, a análise estratégica dos gestores deve considerar, rigorosamente, seus concorrentes ainda desconhecidos (isto é, os entrantes potenciais), assim como as condições de entrada e saída de seus mercados (BESANKO et al., 2006). 7.1.1 Decisões de entrada e saída Para Besanko et al. (2006), a decisão de entrada em determinado setor deve ponderar os custos e benefícios da decisão, avaliando custos de entrada, como o capital gasto em construção e implantação de uma nova fábrica ou as devidas licenças governamentais de operação – alguns custos são mais críticos, pois se tratam de despesas irrecuperáveis, quando não puderem ser direcionadas para outra atividade senão aquela previamente designada. Com relação aos benefícios relativos à entrada em determinado setor, ainda é necessário examinar seu potencial de lucratividade, considerando diferentes aspectos, como a natureza da concorrência após a entrada (BESANKO et al., 2006). 87 ESTRATÉGIA COMPETITIVA 7.1.2 Barreiras à entrada Segundo Besanko et al. (2006), os fatores que permitem às empresas concorrentes já estabelecidas em determinado mercado conquistarem lucros econômicos, tornando inviável, em termos econômicos, a entrada de novos concorrentes, são denominados “barreiras à entrada”. Dessa forma, é possível dividir esses fatores em barreiras estruturais e em estratégicas à entrada: a primeira refere‑se à natureza competitiva do setor e ao simples fato de estar dentro ou fora dele; já a segunda, por sua vez, aplica‑se a comportamentos intencionais das empresas já atuantes adotando ações agressivas para manter distantes possíveis entrantes. Besanko et al. (2006) apontam três tipos principais de barreiras estruturais à entrada: • controle de recursos essenciais; • economias de escala e de escopo; • vantagens de marketing das empresas atuantes. 7.1.2.1 Controle de recursos essenciais O controle de um recurso essencial para determinado setor é uma barreira estrutural à entrada, na medida em que uma nova entrante ficaria impedida de produzir, não possuindo acesso àquele recurso (BESANKO et al., 2006). Por exemplo, a De Beers foi alçada, atualmente, à empresa dominante no mercadode diamantes devido ao acesso quase exclusivo à produção de diamantes dos principais países produtores daquela pedra preciosa. Outro exemplo, desta vez inusitado, de controle de recursos essenciais é subtraído da história do lançamento de um produto muito conhecido: o sabonete líquido. Na década de 1970, uma empresa de médio porte nos Estados Unidos, Minnetonka, criou a primeira versão para a distribuição em massa do sabonete líquido. No entanto, a grande questão estratégica daquela situação consistia em como evitar que gigantes daquele setor (Procter & Gamble e Colgate‑Palmolive) se apropriassem da inovação, lançando suas próprias versões do produto, uma vez que nada naquele produto poderia ser patenteado? A resposta foi o controle ao fornecimento dos dispensadores da bomba de plástico. Naquela época, havia poucos fornecedores de dispensadores e a estratégia da Minnetonka foi comprar dois anos de toda a sua capacidade produtiva. A decisão consolidou isoladamente a Minnetonka no setor à época. As patentes, além de outros fatores, como contratos de distribuição exclusiva, localização restrita e licenças governamentais funcionam como controle de recursos essenciais. 88 Unidade II A maior companhia de alimentos do mundo, Nestlé, protagoniza um interessante caso de sucesso, ocasionado pela mobilização estratégica das patentes criadas para suas cápsulas de café do sistema Nespresso, nos anos 1980 e 1990, e posteriormente, em 2004, com a Nescafé Dolce Gusto. O único problema das patentes está em seu prazo de validade. Uma prática comum em controle de recursos essenciais, principalmente no setor gastronômico, são os contratos de distribuição exclusivos. É comum encontrar bares e restaurantes que oferecem somente bebidas da Coca‑Cola ou da Ambev, por exemplo. Essa prática formaliza o controle das empresas que já atuam no mercado sobre certos canais de distribuição, impossibilitando a entrada de novos concorrentes. Muitos supermercados localizados em certos shopping centers controlam o acesso geográfico a seus respectivos setores. Por último, setores de táxis, em grandes capitais, já se saturaram e novos entrantes somente conseguem acesso às licenças governamentais expedidas pelas prefeituras daquelas cidades de profissionais que já atuam naquele mercado. 7.1.2.2 Economias de escala de escopo Quando as economias de escala são significantes, empresas estabelecidas operando na ou além da escala eficiente mínima [...] terão uma considerável vantagem de custo sobre entrantes menores (BESANKO et al., 2006, p. 308). Em outras palavras, ocasionalmente, para entrar em um mercado, é preciso produzir em uma escala minimamente eficiente e se essa escala é considerada muito larga (ou grande), isso tornará a entrada de um novo concorrente muito mais difícil. Considere o setor de cimento no Brasil (SNIC, 2015): não mais que seis grupos empresariais atuam nele, em termos nacionais, com quase noventa fábricas operando. O investimento para o lançamento de uma única fábrica supera os US$ 200 milhões, sendo necessária quase uma década de trabalho para obter retorno sobre o investimento. Segundo Besanko et al. (2006) mesma lógica aplica‑se às economias de escopo, pois, por exemplo, uma empresa já estabelecida que pretende lançar uma nova variedade de seu produto principal, como um cereal, não teria de arcar com os mesmos custos iniciais que uma nova entrante teria. 7.1.2.3 Vantagens de marketing das empresas atuantes A terceira barreira estrutural à entrada consiste nas vantagens de marketing obtidas por empresas atuantes, isto é, a reputação de uma marca estabelecida, por si, já representa uma redução significativa de custos que um novo entrante não teria, pois necessitaria construir sua própria história e reputação, com altos investimentos em marketing (BESANKO et al., 2006). Em outras palavras, seria necessário 89 ESTRATÉGIA COMPETITIVA para um novo entrante a oferta de um produto ou serviço com muito mais atributos e benefícios ou com muito menos custos para convencer os consumidores a trocarem as empresas já estabelecidas e confiáveis por um novo e desconhecido concorrente. 7.1.3 Barreiras à saída Segundo Besanko et al. (2006), para sair de um setor, uma empresa precisa decidir parar sua produção, remanejar ou, até mesmo, vender seus ativos para outros fins. Essa decisão deve ser tomada quando a empresa percebe que a utilização alternativa de seus ativos geraria uma remuneração superior em relação à continuidade de suas atividades naquele mercado. No entanto, mesmo em situações assim, uma empresa pode decidir por não sair do setor, pois existem barreiras à saída que a impedem de fazê‑lo, por exemplo, acordos trabalhistas e compromissos de comprar matérias‑primas podem representar valores, às vezes, elevados a ponto de impedirem a empresa de abandonar suas operações naquele mercado. Outro exemplo de impedimento à saída são os ativos específicos de relacionamento (BESANKO et al., 2006). 7.1.3.1 Estratégias para inibir a entrada Quando uma empresa estabelecida toma decisões estratégicas deliberadas para impedir a entrada de novos concorrentes, isso é denominado “estratégias para inibir a entrada”. Vale ressaltar que uma empresa dominante decidirá levantar barreiras à entrada em seu setor sob duas condições: essa ação estratégica precisa ser, ao mesmo tempo, • lucrativa; • bem‑sucedida para a empresa dominante daquele mercado. Isto é, a empresa dominante precisa compreender que obterá maiores lucros caso levante suas barreiras à entrada e que, ao mesmo tempo, a estratégia alterará as expectativas das possíveis entrantes a respeito de como se dará a concorrência após sua entrada (BESANKO et al., 2006). Existem, basicamente, duas formas fundamentais de levantar barreiras para inibir a entrada, as quais, por sua vez, serão exemplificadas com dois jogos de movimentos sequenciais. Cada jogo ilustra uma forma diferente: • precificação limitante; • expansão da capacidade. 90 Unidade II 7.1.3.2 Precificação limitante Conforme Besanko et al. (2006, p. 315): Precificação limitante refere‑se à prática segundo a qual uma empresa dominante desencoraja a entrada cobrando preços baixos antes que a entrada ocorra. A empresa entrante, vendo os preços baixos estabelecidos pela dominante, infere que os preços pós‑entrada serão tão baixos ou ainda menores e que, portanto, a entrada no mercado não será lucrativa. Considere o “jogo do preço restritivo”, representado na figura a seguir: Dominante Entrante Preço de mercado Preço restritivo Entrante Não entrar Entrar Não entrar Entrar Dominante Preço de mercado Preço restritivo Dominante 2.450;0 1.825;0 1.325;100 1.125; –100 700;100 500; –100 Preço de mercado Preço restritivo Figura 20 – Jogo do preço restritivo No jogo do preço restritivo, a empresa dominante percebe uma possível nova entrante em seu horizonte competitivo e precisa decidir entre praticar o preço de mercado (praticado nas condições atuais) ou praticar o preço restritivo (baixando‑o). Após avaliar as estratégias da empresa dominante, a entrante decide se entra no mercado (e segue a política de preços da dominante) ou se desiste do setor. Caso a empresa decida não entrar, o jogo acaba na segunda rodada. Porém, se ela entrar, a terceira rodada consistirá na decisão da empresa dominante em manter ou não sua política de preços, alternando entre o preço de mercado e o preço restritivo, conforme sua decisão inicial, na primeira rodada do jogo. Os resultados estão expressos em milhares de reais em lucros anuais e as duas empresas terão capacidade produtiva suficiente para dividir o mercado, mas os resultados da empresa entrante são relativamente inferiores aos da empresa dominante, por causa dos investimentos necessários no início das atividades naquele mercado. Como pode ser observado, o EN no jogo do preço restritivo indica que a empresa dominante não adotará uma estratégia de precificação limitante,pois não há incentivos suficientes para continuar reduzindo seus preços, caso a entrante decida entrar no mercado. Besanko et al. (2006) ressaltam que a realidade costuma contrariar toda a lógica do argumento de que não seria válida a estratégia de precificação limitante, pois ela é usualmente praticada como uma forma de levantar barreiras à entrada. 91 ESTRATÉGIA COMPETITIVA 7.1.3.3 Capacidade excedente A capacidade excedente demonstra que, em muitos casos, empresas podem expandir sua produção rapidamente para roubar negócios de concorrentes e eventuais novos concorrentes (BESANKO et al., 2006). Fiani (2006) demonstra uma situação típica na qual uma empresa mobiliza sua capacidade excedente para levantar uma barreira à entrada de um novo entrante em seu setor. Dessa forma, considere o “jogo da prevenção da entrada”, representado pela figura seguinte: Dominante Entrante Não utiliza capacete excedente Utiliza capacete excedente Entrante Entra Não entra Entra Não entra Dominante Dominante 10; 0 8; 0 7; 3 2; –1 –2; 3 –1; –1 Acomoda Acomoda Luta Luta Figura 21 – Jogo da prevenção da entrada Considere que a empresa dominante possui capacidade excedente de produção e está avaliando sua utilização como barreira à entrada de uma rival potencial (entrante). Sendo assim, na primeira rodada do jogo, a decisão de utilizar ou não sua capacidade excedente como barreira à entrada da empresa entrante é da dominante; na segunda rodada, aquela precisa decidir se entra ou não na competição; caso entre, a terceira rodada será decidida pela empresa dominante, que optará por acomodar‑se à nova concorrente ou lutar (guerra de preços) contra ela. As recompensas do “jogo da prevenção da entrada” estão descritas em milhões de reais de lucro ou prejuízo por ano para cada combinação possível de estratégias. Como pode ser observado pelas próximas três figuras, o EN, naquela situação, demonstra que a capacidade excedente pode resultar eficiente barreira à entrada: 92 Unidade II Dominante Entrante Não utiliza capacete excedente Utiliza capacete excedente Entrante Entra Não entra Entra Não entra Dominante Dominante 10; 0 8; 0 7; 3 2; –1 –2; 3 –1; –1 Acomoda Acomoda Luta Luta Figura 22 – Jogo da prevenção da entrada (resolução na 3ª rodada) Dominante Entrante Não utiliza capacete excedente Utiliza capacete excedente Entrante Entra Não entra Entra Não entra Dominante Dominante 10; 0 8; 0 7; 3 –1; –1 Acomoda Luta Figura 23 – Jogo da prevenção de entrada (resolução na 2ª rodada) Dominante Entrante Não utiliza capacete excedente Utiliza capacete excedente Entrante Entra Não entra Dominante 8; 0 7; 3Acomoda Figura 24 – Jogo da prevenção da entrada (resolução na 1ª rodada) Trata‑se de um movimento estratégico. Para Fiani (2006), a utilização da capacidade excedente torna irreversível sua decisão de lutar (em uma eventual guerra de preços), caso a entrante decida entrar naquele mercado. Pois, nesse caso, para ela, ao observar e compreender o movimento da dominante, em termos racionais, melhor será não entrar no setor. 93 ESTRATÉGIA COMPETITIVA 7.1.3.4 Estratégias para promover a saída Algumas empresas, ocasionalmente, reclamam de suas rivais reduzirem de forma drástica os preços para promover, assim, sua saída daquele setor. Para Besanko et al. (2006, p. 325): “Uma empresa agressiva supostamente inicia uma guerra de preços para eliminar a concorrência e, em última instância, abocanhar os lucros do monopólio. Assume‑se que o rival sairá antes de o agressor abandonar sua estratégia”. A estratégia de preço predatório é similar à ideia da precificação limitante, com o aspecto diferenciador relativo ao momento em que se executa a ação, isto é, no primeiro caso, os preços predatórios são dirigidos a rivais que já efetuaram suas entradas no setor (BESANKO et al., 2006). Porém, o mesmo paradoxo, por assim dizer, da prática da precificação limitante persiste na determinação de preço predatório, pois, em termos racionais, uma guerra de preços não beneficiaria qualquer dos jogadores (dominante ou entrante). No entanto, Besanko et al. (2006) argumentam que é a reputação, e não o fato de a empresa ser a dominante naquele mercado, o ponto decisivo para a saída ou a inibição de entrada, ou seja, se a reputação da empresa for realmente forte, a rival desistirá do setor, em vez de tentar ganhar a guerra de preços. 7.2 Análise setorial Besanko et al. (2006) argumentam que a análise setorial, realizada a partir das Cinco Forças, de Michael Porter, é capaz de fornecer uma estrutura analítica habilitada para a compreensão sistemática, por meio de argumentos econômicos, dos seguintes aspectos da estratégia competitiva: • Exame e análise do desempenho e atratividade de setor e das empresas nele inseridas. • Levantamento e identificação dos fatores essenciais que afetam as relações verticais, entre fornecedores e compradores, e horizontais, entre rivais, substitutos e complementos. • Identificação de oportunidades e ameaças setoriais (aspecto inerente à Análise SWOT). Esse modelo analítico foi desenvolvido como parte de estrutura criada para examinar e explorar fatores econômicos essenciais ao desempenho das empresas, em termos de lucros (BESANKO, et al., 2006). Segundo o próprio Porter (1998, p. 11): [...] a competição não se manifesta apenas através dos demais concorrentes. Pelo contrário, a competição em um setor industrial tem suas raízes em sua respectiva economia subjacente e existem forças competitivas que vão bem além do que esteja representado unicamente pelos concorrentes 94 Unidade II estabelecidos nesse setor em particular. Os clientes, os fornecedores, os novos entrantes em potencial e os produtos substitutos são todos competidores que podem ser mais ou menos proeminentes ou ativos, dependendo do setor industrial. Dessa forma, a significativa inovação de Porter, com seu modelo analítico e sistemático, consiste na proposta de classificar esses fatores, essenciais para a competição de um setor, em cinco grandes forças, abrangendo a cadeia vertical e a concorrência de mercado (fronteiras horizontais). A próxima figura representa, graficamente, o modelo: Poder de barganha dos fornecedores Ameaça de novos entrantes Ameaça de produtos substitutos Poder de barganha dos clientes Rivalidade entre concorrentes Figura 25 – Forças que governam a competição em um setor industrial Ao mesmo tempo em que é rigoroso, por conta dos fundamentos pautados na economia de empresas e na organização industrial, o modelo ainda lança mão de simplicidade em suas ideias e argumentos. Sendo assim, as cinco grandes forças competitivas capazes de moldar a estratégia de uma empresa, quando considerada sua paisagem de negócios, são: • a entrada de novos concorrentes; • a ameaça de produtos ou serviços substitutos; • o poder de barganha (negociação) dos fornecedores (vendedores); • o poder de barganha dos clientes (compradores); e • a rivalidade interna entre os concorrentes (incumbentes). 95 ESTRATÉGIA COMPETITIVA 7.2.1 Análise das Cinco Grandes Forças Neste ponto, discutiremos os conceitos inerentes a cada uma das Cinco Forças do modelo de Porter, visando às análises setoriais. No entanto, vale ressaltar que acresceremos uma proposta enriquecedora ao modelo, com uma força que ameaça produtos ou serviços complementares. Segundo Gonçalves e Guimarães (2010), produtos e serviços são complementares caso exista uma tendência de eles serem consumidos em conjunto: então, alterações que estimulem o consumo de um dos bens, usualmente, implicarão o consumo do outro; já serão considerados substitutos os produtos e serviços cujo consumo de um reduza o do outro: por exemplo, queda nos preços de viagens de táxi podem reduzir o consumo de passagens de ônibus. Outra contribuição para o aprimoramento do modelo consiste na consideração dos fatores que afetam a demanda (por exemplo,mudanças nas preferências e na renda dos consumidores). Após a apresentação das Cinco Forças, será discutido um modelo de análise das forças de mercado proposto em Osterwalder e Pigneur (2011). Sendo assim, as grandes forças a serem discutidas mais detalhadamente, respectivamente, são: • rivalidade interna; • entrada; • substitutos e complementos; • poder do vendedor; • poder do comprador. Saiba mais Para saber mais, leia o capítulo a seguir; PORTER, M. E. Como as forças competitivas moldam a estratégia. In: MONTGOMERY, C.; PORTER, M. E. (Org.) Estratégia: a busca pela vantagem competitiva. Rio de Janeiro: Elsevier, 1998. p. 11‑27. 7.2.1.1 Rivalidade interna Para Porter (1998, p. 21): “A rivalidade entre concorrentes existentes toma a forma familiar de uma corrida pela posição – usando táticas como as de competição de preços, lançamento de produtos e golpes de publicidade”. 96 Unidade II Segundo Besanko et al. (2006), as principais condições que, frequentemente, aquecem a concorrência e a rivalidade de preços são: • Existência de muitos concorrentes no mercado, pois os preços tendem a ser mais baixos conforme se eleva a quantidade de concorrentes em um mercado. • Estagnação ou o declínio do setor, pois as empresas não conseguem expandir suas atividades sem ter de roubar a participação de mercado de outras concorrentes. • Estruturas de custos diferentes entre os concorrentes, pois as empresas de custos baixos podem empreender estratégias de preços predatórios para expulsar os concorrentes com desvantagens. • Capacidade excedente, pois a tendência com a expansão da produção consiste na redução dos preços. • Produtos com pouco ou nenhuma diferenciação, pois, nesse caso, o critério mais forte de diferenciação entre as diferentes rivais refere‑se ao menor preço praticado no mercado. • Compradores com baixos custos de troca de fornecedores, pois o potencial de fidelização diminui drasticamente nessa circunstância. • Preços inobserváveis, pois, dessa forma, as rivais com preços mais baixos capturam boa parte da participação do mercado (a mesma situação ocorre quando os preços não podem ser ajustados rapidamente). • Pedidos de compras grandes ou infrequentes, pois esse aspecto aumenta a disposição das empresas a reduzirem seus preços baseadas no receio de demorar muito tempo para aproveitar outra oportunidade de venda. • Ausência de práticas de preços cooperativos, pois a prevalência, nessa situação, é a de uma cultura individualista e predatória entre os concorrentes. • Fortes barreiras à saída, pois, com custos elevados para abandonar o mercado, as empresas preferirão concorrer a sair do setor. Ryngelblum (2012) ressalta, em relação à rivalidade entre concorrentes no setor, que a empresa com habilidade estratégica deve idealizar ações capazes de despertar mais interesse nos consumidores do que seus rivais e, nesse sentido, melhor é a iniciativa que a reação. 7.2.1.2 Entrada Para Porter (1998, p. 13): “Os novos entrantes em um setor industrial trazem novas capacidades, desejo de ganhar participação de mercado e, frequentemente, concorrem com recursos substanciais”. 97 ESTRATÉGIA COMPETITIVA E, segundo Besanko et al. (2006), são os seguintes os principais fatores que propiciam a entrada de novos entrantes: • Produção no setor não implica significantes economias de escala, pois um entrante pode competir no setor sem, necessariamente, alcançar uma escala eficiente mínima para atingir uma participação substancial no mercado. Caso contrário, as ameaças de entrada são menos relevantes para o setor. • Ausência de proteção governamental para as dominantes, pois as leis podem favorecer a entrada de novos concorrentes ou, ao menos, não restringir sua entrada. Caso contrário, as ameaças de entrada perdem sua relevância. • Consumidores que não valorizam a reputação ou não são leais à marca, pois, desse modo, novos entrantes não precisam investir em reputação ou em suas marcas antes competir em determinados setores. • Acesso de novos entrantes a recursos principais (insumos, know‑how, tecnologias, canais de distribuição e localização), pois, se o acesso é facilitado, novos entrantes recebem fortes incentivos para intensificar a concorrência daquele setor. • Baixa curva de aprendizagem, pois, se houver essa curva estiver mais acentuada, as entrantes restarão em desvantagem de custo. • Externalidades de rede, quando vantagens não transbordam para as empresas que integram a base de concorrentes instaladas no setor, caso contrário, essas vantagens podem inibir a entrada de novos concorrentes. • Expectativa de acomodação sobre a concorrência pós‑entrada, pois, quando novos entrantes avaliam que não serão retaliadas, o incentivo de entrada está configurado. Em suma, não havendo fortes barreiras estruturais à entrada de novos concorrentes, o estrategista deve tratar de criar suas próprias barreiras para inibir a entrada, como campanhas publicitárias fortes que ampliem a marca e reforcem a reputação da empresa e o aprimoramento de suas tecnologias em termos de processos produtivos e organizacionais (RYNGELBLUM, 2012). 7.2.1.3 Substitutos e complementos Conforme Porter (1998, p. 20): “Quanto mais atrativo for o trade‑off preço/desempenho oferecido pelo produto substituto, mais firmemente colocada está a tampa sobre o potencial de lucros do setor”. O Modelo das Cinco Forças não considera a demanda, de modo direto, em sua análise, no entanto, ao examinar o impacto dos substitutos e dos complementos no setor, é possível ampliar a compreensão da dinâmica de sua demanda, uma vez que os substitutos intensificam a concorrência interna do mercado quando são disponíveis e relativamente mais baratos, e os complementos impulsionam 98 Unidade II suas vendas quando possuem as mesmas características citadas, isto é, disponibilidade e baixo custo (BESANKO et al., 2006). Sendo assim, para Besanko et al. (2006), os principais fatores que ameaçam os lucros de um determinado setor quando é avaliado o impacto dos substitutos e complementos são: • Disponibilidade próxima de substitutos e/ou distante de complementos, pois o acesso fácil e conveniente de substitutos pode incentivar a troca (trade‑off) na demanda dos consumidores, o mesmo efeito ocorre no setor quando o acesso é mais complicado e menos conveniente para os seus bens e serviços complementares. • Características de preço‑valor mais atraentes dos substitutos e/ou menos atraentes dos complementos, pois o preço consiste em um dos principais fatores que influenciam a demanda no setor. • Elasticidade da demanda para o setor, pois se trata de um excelente “termômetro” para o mercado quando se quer compreender o impacto dos substitutos e complementos em determinado setor, isto é, quando a elasticidade é baixa, o impacto dos substitutos tende a ser baixo, e o inverso é também verdadeiro. 7.2.1.4 Poder do vendedor Para Porter (1998, p. 16): Os fornecedores podem exercer poder de barganha sobre os participantes de um setor, aumentando os preços ou reduzindo a qualidade das mercadorias e serviços adquiridos. Os fornecedores poderosos podem, em consequência, extrair lucros de um setor incapaz de se recuperar dos aumentos nos custos incluídos em seus próprios preços. Os principais fatores que interferem no poder de barganha ou negociação dos vendedores, segundo afirmam Besanko et al. (2006), são: • Baixa competitividade no mercado de insumo, pois, dessa forma, os fornecedores não possuem muitos concorrentes, tendo, consequentemente, capacidade de impor seus preços ao mercado consumidor, isto é, o setor em análise. • Baixo volume de compras das empresas do setor, pois, quando os volumes são baixos, diminuem as possibilidades de negociações em termos de preços para compras em maior volume. Assim, os preços dos vendedores, para o setor, tendem a ser mais elevados. • Pouca disponibilidade de insumos substitutos, pois, sem a possibilidade de troca por outras alternativas de matérias‑primase insumos básicos, as empresas de um setor ficam à disposição dos fornecedores, expostas a seus preços altos. 99 ESTRATÉGIA COMPETITIVA • Investimentos em ativos específicos de relacionamento com seus fornecedores, pois, dessa forma, a empresa pode ficar restrita a negociar exclusivamente com apenas um fornecedor. • Ameaça de integração por fornecedores em relação às empresas do setor, pois fornecedores expressivos e, com capital, podem intensificar a concorrência do setor integrando verticalmente (comprando concorrentes no setor). • Capacidade de discriminação de preços, pois fornecedores que podem discriminar seus preços de acordo com o consumidor, podem aumentar os preços para as empresas com maior rentabilidade (maior capacidade de pagamento). Nesses casos, Ryngelblum (2012) argumenta que, ao estrategista, cabe evitar o poder do fornecedor, com planejamento e diversificação da gama de vendedores e, até mesmo, alterar as características de seus produtos e serviços (quando possível), para diminuir a dependência em relação a determinado fornecedor de suprimentos. 7.2.1.5 Poder do comprador O “comprador”, no modelo de Michael Porter, pode ser considerado em termos de consumidor final ou de mercado organizacional. Sobre esse aspecto, o próprio Porter (1998, p. 19) destaca: Consumidores tendem a ser mais sensíveis a preços se estiverem comprando produtos que não são diferenciados, que sejam caros relativamente às suas rendas e de um tipo onde a qualidade não seja particularmente importante [...] varejistas podem ganhar poder de barganha significativo sobre os fabricantes quando conseguem influenciar as decisões de compra dos consumidores. Analogamente ao poder dos vendedores, Besanko et al. (2006) evidenciam aspectos que tornam o poder dos compradores uma ameça para o setor: • Concentração relativa ao setor em questão, pois, se os compradores forem mais concentrados (ou menos pulverizados) em relação ao setor, serão poucos compradores para o setor e a tendência, consequentemente, é de um acirramento na competitividade do setor. • Alto volume de compras, pois, quanto maior o volume das compras, maiores serão as possibilidades de negociação em termos de preço, devido à escala. • Baixos custos de troca, pois, se os compradores possuírem baixos custos para alternar seus negócios para concorrentes, o preço tende a tornar‑se um aspecto de diferenciação que, consequentemente, corrói os lucros do setor. Ryngelblum (2012) destaca que o estrategista deve, em relação à ameaça dos compradores, procurar por novos mercados para substituir ou complementar suas vendas. 100 Unidade II 7.2.1.6 Modelo para uma análise das Cinco Forças Neste ponto, é apresentada uma ferramenta técnica e sistemática para a realização mais rigorosa de uma análise das Cinco Forças, a partir do modelo proposto em Besanko et al. (2006). Dessa forma, a análise proposta é capaz de apontar fontes de ameaças e de oportunidades relacionadas aos seguintes fatores externos de um determinado setor: • rivalidade interna; • entradas; • produtos/serviços substitutos e complementares; • fornecedores; e • compradores. Para cada uma dessas dimensões de análise, deve ser atribuída uma nota que, por sua vez, varia entre 1 e 3 pontos. Caso o valor final da dimensão acabe com mais de 1 ponto (em média), aquela dimensão deverá ser considerada como uma fonte de oportunidade, pois se trata de ameaça baixa. Por outro lado, caso o valor da dimensão tenha mais de 3 pontos (em média), aquela dimensão deverá ser considerada como uma ameaça aos negócios da empresa. A próxima figura ilustra os valores que podem ser obtidos e sua interpretação em termos de oportunidades ou ameaças. 3 Ameaça 1 Oportunidade Figura 26 – Pontuação para oportunidades e ameaças Fatores que afetam a rivalidade entre concorrentes existentes Até que ponto a rivalidade de preços ou a concorrência sem ser de preços (exemplo, propaganda) corrói a rentabilidade de uma empresa deste setor? 101 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Quadro 37 Responda às perguntas abaixo indicando se os fatores representam uma ameaça alta (3 pontos), neutra (2 pontos) ou oportunidade alta (1 ponto) Ponto(s) 1. Taxa de crescimento do setor? 2. Grau de concentração do fornecedor? 3. Diferenças significativas de custos entre as empresas? 4. Capacidade excedente? 5. Estrutura de custos das empresas: sensibilidade dos custos à utilização da capacidade? 6. Grau de diferenciação de produtos entre fornecedores? Fidelidade de marca a fornecedores existentes? Elasticidade‑preço da demanda dos concorrentes no setor? 7. Custos dos compradores para trocar de um concorrente para outro? 8. Os preços e os termos de transações de vendas são observáveis? 9. As empresas podem ajustar preços rapidamente? 10. Pedidos grandes e/ou infrequentes? 11. Uso de “práticas facilitadoras” (liderança de preços, divulgação antecipada de mudanças de preços)? 12. Histórico de preços “cooperativos”? 13. As barreiras à saída são fortes? 14. Os concorrentes se esforçam para estabelecer padrões tecnológicos diferenciados? 15. Os concorrentes não se esforçam para promover regulamentações favoráveis? Somatória dos pontos indicados: Média dos valores observados = Somatória dos pontos ÷ 15 Fatores que afetam a ameaça de entradas Até que ponto a ameaça ou a incidência de entradas trabalham para corroer a rentabilidade de uma empresa deste setor? Quadro 38 Responda às perguntas abaixo indicando se os fatores representam uma ameaça alta (3 pontos), neutra (2 pontos) ou oportunidade alta (1 ponto) Ponto(s) 1. Economias de escala significativas? 2. Importância da reputação ou fidelidades de marca estabelecidas em decisões de compras? 3. Acesso de entrantes a canais de distribuição? 4. Acesso de entrantes a matérias‑primas? 5. Acesso de entrantes a tecnologia/know‑how? 6. Acesso de entrantes a localizações favoráveis? 7. Vantagens das dominantes baseadas na experiência? 8. Externalidades de rede: vantagens do lado da demanda, para as dominantes, no que se refere a grandes bases instaladas? 9. Proteção do governo às dominantes? 10. Percepções das entrantes sobre a retaliação esperada das dominantes/reputação de “dureza” das dominantes? Somatória dos pontos indicados: Média dos valores observados = Somatória dos pontos÷10: 102 Unidade II Fatores que afetam ou refletem a pressão de produtos substitutos e apoio dos complementos Até que ponto a concorrência pelos produtos substitutos fora do setor corrói a rentabilidade de uma empresa do setor? Quadro 39 Responda às perguntas abaixo indicando se os fatores representam uma ameaça alta (3 pontos), neutra (2 pontos) ou oportunidade alta (1 ponto) Ponto(s) 1. Disponibilidade de substitutos próximos? 2. Características preço‑valor de substitutos? 3. Elasticidade preço do setor? 4. Disponibilidade de complementos próximos? 5. Características preço‑valor de complementos? Somatória dos pontos indicados: Média dos valores observados = Somatória dos pontos ÷ 5 Fatores que afetam ou refletem o poder de fornecedores de insumos Até que ponto os fornecedores individuais têm capacidade de negociar altos preços de insumos com as empresas deste setor? Até que ponto os preços dos insumos desviam‑se daqueles que prevaleceriam num mercado de insumos perfeitamente competitivo, no qual os fornecedores de insumos agem como tomadores de preços? Quadro 40 Responda às perguntas abaixo indicando se os fatores representam uma ameaça alta (3 pontos), neutra (2 pontos) ou oportunidade alta (1 ponto) Ponto(s) 1. O setor do fornecedor é mais concentrado que o setor para o qual ele vende? 2. As empresas do setor compram volumes relativamente pequenos em relação a outros clientes do fornecedor? 3. O volume de compras da empresa é pequeno em relação às vendas do fornecedor? 4. Poucos substitutos para os insumos dos fornecedores? 5. As empresas do setor fazem investimentos específicos de relacionamento para apoiar transações comfornecedores específicos? 6. Os fornecedores representam ameaça crível de integração à jusante no mercado de produtos? 7. Os fornecedores são capazes de discriminar preços entre clientes prospectivos de acordo com a capacidade/vontade de pagar pelo insumo? 8. Não existe cooperação entre fornecedores e empresas do setor para melhorar a qualidade de produtos? 9. Não existe cooperação entre fornecedores e empresas do setor para melhorar a eficiência produtiva? Somatória dos pontos indicados: Média dos valores observados = Somatória dos pontos ÷ 9 103 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Fatores que afetam ou refletem o poder dos compradores Até que ponto os compradores individuais têm a capacidade de negociar baixos preços de compras com empresas do setor? Até que ponto os preços de compra diferem daqueles que prevaleceriam num mercado com um grande número de compradores fragmentados no qual os compradores agem como tomadores de preços? Quadro 41 Responda às perguntas abaixo indicando se os fatores representam uma ameaça alta (3 pontos), neutra (2 pontos) ou oportunidade alta (1 ponto) Ponto(s) 1. O setor dos compradores é mais concentrado que o setor do qual eles compram? 2. Os compradores compram em grande escala? O volume de compras de um comprador representa uma grande fração da receita das vendas de um fornecedor? 3. Os compradores podem encontrar substitutos para os produtos do setor? 4. As empresas de um setor fazem investimentos específicos de relacionamento para apoiar as transações com compradores específicos? 5. A elasticidade de preço da demanda por produtos do comprador é alta ou baixa? 6. Os compradores representam uma verdadeira ameaça de integração a montante? 7. O produto representa fração significante do custo nos negócios do comprador? 8. Os preços do mercado são negociados entre compradores e fornecedores em cada transação individual ou os fornecedores estabelecem um preço do tipo “pegar ou largar” que se aplica a todas as transações? Somatória dos pontos indicados: Média dos valores observados = Somatória dos pontos ÷ 8 Quadro Resumo Análise das Cinco Forças no Mercado:_____________________________________ Quadro 42 Força Índice Geral de Ameaça aos Lucros Rivalidade Interna Entrada Substitutos/complementos Poder do comprador Poder do fornecedor 104 Unidade II Lembrete • O Modelo das Cinco Forças propõe uma questão para cada força: • Como se dá a rivalidade entre os concorrentes? • Quais os produtos podem substituir o seu? • Qual a foça do poder de barganha dos fornecedores? • Como evitar ou dificultar a entrada de novos jogadores? • Qual o poder de barganha dos clientes? O modelo analítico proposto é bastante útil, em termos de exame e análise, para determinar o nível de atratividade de um determinado setor. Assim, a ferramenta é capaz de demonstrar qual é a intensidade da rivalidade interna, o papel dos fornecedores na cadeia produtiva daquele setor, assim como o impacto dos compradores na negociação com as empresas que constituem aquele mercado, enquanto que, ao mesmo tempo, se avalia a interferência dos produtos substitutos no acirramento da competição, e o auxílio dos bens complementares que podem impulsionar as vendas do setor analisado e, por último, a ameaça de novos entrantes no mercado com a capacidade conquistar expressivas participações de mercado. Porém, uma limitação do modelo de Porter consiste na ausência de indicadores sobre as forças da demanda naquele setor. Sendo assim, é recomendada uma análise criteriosa sobre o impacto das escolhas dos consumidores em um determinado setor, como complemento à análise setorial das cinco forças. Osterwalder e Pigneur (2011) sugerem que, em relação as forças de mercado sejam examinadas algumas questões para cada um dos cinco fatores essenciais sobre a demanda, como: • fatores de mercado; • segmentos de mercado; • necessidades e demandas; • custos de mudança; • atratividade da receita. O quadro adiante ilustra as principais questões a serem avaliadas sobre as forças do mercado: 105 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Quadro 43 – Forças de mercado Item de análise Principais questões Fatores de mercado Quais são as principais questões afetando o panorama do cliente? Que mudanças estão se aproximando? Para onde o mercado está indo? Segmentos de mercado Quais são os segmentos de clientes mais importantes? Onde está o maior potencial de crescimento? Quais segmentos estão declinando? Que segmentos periféricos merecem atenção? Necessidades e demandas Do que os clientes precisam? Onde estão as maiores necessidades não satisfeitas dos clientes? O que os clientes realmente querem que seja feito? Onde a demanda está aumentando? Declinando? Custos de mudança O que vincula os clientes a uma companhia e sua oferta? Quais custos impedem os clientes de trocarem para a concorrência? É fácil para os clientes encontrar ofertas similares? Qual é a importância da marca? Atratividade de receita Pelo que os clientes realmente estão dispostos a pagar? Onde as maiores margens podem ser obtidas? Podem os clientes encontrar e comprar produtos e serviços mais baratos com facilidade? 8 VANTAGEM COMPETITIVA E VANTAGEM COMPETITIVA SUSTENTÁVEL 8.1 Posicionamento estratégico e vantagem competitiva Aqui, nosso objetivo é desenvolver uma estrutura conceitual para caracterizar e analisar a posição estratégica dentro de um setor, além de identificar quais são as condições necessárias à obtenção de vantagem competitiva em um mercado e, por último, descrever as estratégias genéricas de Porter. 8.1.1 Vantagem competitiva Os autores do livro Administração Estratégica e Vantagem Competitiva, Jay B. Barney e William S. Hesterly (2007, p. 10), apresentam uma noção simples, mas bastante útil sobre o conceito de vantagem competitiva: Em geral uma empresa possui vantagem competitiva quando é capaz de gerar maior valor econômico do que empresas rivais. O valor econômico é simplesmente a diferença entre os benefícios percebidos ganhos por um cliente que compra produtos ou serviços de uma empresa e o custo econômico total desses produtos ou serviços. Nesse sentido, uma empresa capaz de obter taxas de lucros econômicos superiores à taxa média de lucro econômico das outras empresas que competem no mesmo setor ou mercado, possui a chamada vantagem competitiva (BESANKO et al., 2006), isto é, vantagem competitiva advém de taxas de lucratividade superiores à média observada no setor. Por exemplo, no Brasil, o setor de aviação comercial apresentou, segundo informações da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC, 2015), uma taxa média de margem líquida equivalente à –52% (prejuízos). A empresa que apresentou a maior taxa de lucratividade daquele setor foi a Azul com 4%. Foi um ano difícil para indústria de aviação civil, que acumulou prejuízos superiores a R$ 2,4 bilhões. 106 Unidade II Dessa forma, é possível afirmar que a Azul desfrutou, no ano de 2013, de uma vantagem competitiva no setor de aviação civil brasileiro. Vale ressaltar que a vantagem competitiva de uma empresa depende, então, do desempenho do setor em que a empresa atua. Considere o exemplo hipotético: uma padaria em um bairro da cidade de São Paulo cuja lucratividade é de 50% (margem líquida) ao ano que pode não gozar de qualquer vantagem competitiva, pois, em relação aos seus concorrentes, naquele bairro, sua lucratividade está abaixo da média. Na aviação civil, entretanto, uma taxa de lucro equivalente a 5% já é sinal de vantagem competitiva naquele setor. Observação Uma vez que a ideia de mercado é relevante para a análise da vantagem competitiva, compreende‑se que “um grupo de empresas estará no mesmo mercado quando as decisões de produção, preço e marketing de uma empresa afetam materialmente os preços que as outras podem cobrar” (BESANKO et al., 2006, p. 362). 8.1.2 Valor criado Como já foi discutido, a vantagem competitiva depende, basicamente, do valor criado por uma empresa em relação aos seus concorrentes,isto é, uma empresa é capaz de criar e oferecer mais valor econômico quando consegue obter maiores lucros, em consequência da oferta de maiores benefícios líquidos aos seus consumidores em relação às empresas rivais do mercado (BESANKO et al., 2006). Sendo assim, o valor é criado por meio da produção e da troca no mercado. Por exemplo, quando uma empresa combina fatores de produção, como mão de obra, capital, matérias‑primas e outros componentes para fabricar um produto cujo benefício (B) é superior ao custo incorrido em sua produção (C) e quando esse produto é adquirido pelo consumidor, então valor econômico é criado. A próxima figura representa essa situação: Valor criado Excedente do consumidor (B – P) Lucro do produtor (P – C) = B – C = – Figura 27 – Valor criado 107 ESTRATÉGIA COMPETITIVA O excedente do consumidor é criado quando o benefício de adquirir um produto ou serviço é superior ao preço de sua compra, o lucro do produtor ou da empresa ocorre quando o preço de venda é superior em relação aos custos de produção. Essa configuração, necessária para a criação de valor no mercado, é denominada como uma oportunidade de negócio “ganhadora‑ganhadora”, pois consumidores e empresas estão em uma situação melhor, com maiores benefícios mútuos, do que se não tivessem feito aquele negócio. Ainda para Besanko et al. (2006), o valor criado por uma empresa em relação aos seus concorrentes depende, por sua vez, de sua posição de custos e benefícios, conforme ilustra a figura a seguir: Valor criado em relação aos concorrentes Posição de benefício em relação aos concorrentes Posição de custos em relação aos concorrentes Figura 28 – Fontes para a vantagem competitiva A lucratividade de uma empresa ainda depende das condições econômicas globais do mercado, porém, como as empresas têm pouca ou nenhuma capacidade de interferir nesse aspecto, nossa análise, aqui, propõe‑se a concentrar sua discussão na criação de valor, por tratar‑se de algo que está no controle, em termos de decisão, das empresas. 8.1.3 Estratégias genéricas Um dos aspectos mais fascinantes do processo de criação de valor, por parte de uma empresa, em termos estratégicos, consiste em sua interação com a administração e decisões de preços, pois, a partir do posicionamento estratégico de uma empresa, é possível estabelecer estratégias mais abrangentes de preços, a fim de obter maiores vantagens competitivas no mercado. Uma vantagem competitiva não pode ser traduzida com facilidade em uma receita ou uma fórmula estratégica, mas é possível identificar alguns aspectos essenciais comuns a vários setores nos diferentes modos como as empresas se posicionam na busca pela vantagem competitiva, isto é, existem estratégias genéricas que descrevem, em termos amplos, como uma determinada empresa se posiciona para concorrer no mercado a que ela atende. Dessa forma, Michael Porter (novamente) propôs um modelo de estratégias genéricas para a obtenção de vantagem competitiva. Em seu modelo, Porter indica dois fatores como os principais para esse processo de tomada de decisão: uma estratégia de baixo custo ou de diferenciação (RYNGELBLUM, 2012). No entanto, vale ressaltar que as estratégias genéricas de Porter são três: • liderança em benefício; • liderança em custos; e • foco. 108 Unidade II Liderança em benefício, para Ryngelblum (2012, p. 127), é: Estratégia de conseguir uma singularidade em relação à competição que seja valorizada pelo consumidor. Essa característica diferenciada pode estar presente no produto/serviço ou em outros aspectos que compõem a oferta, como a distribuição em muitos pontos de vendas, a rapidez da entrega, o prazo de duração da garantia, a atenção do SAC. A liderança em custos trata‑se de uma estratégia que deve ser utilizada, prioritariamente, por empresas de baixo custo, para que seja possível comandar os preços no setor, pois empresas que não possuem essa condição não terão capacidade de disputar com as rivais de baixo custo em ações que impliquem, por exemplo, na diminuição de preços (RYNGELBLUM, 2012). Na estratégia genérica do foco, a empresa busca uma limitada seleção de segmentos‑alvo e, na sequência, decide se adota uma postura de liderança em benefício ou de liderança em custos (RYNGELBLUM, 2012). Besanko et al. (2006) afirmam que a estratégia de foco pode segmentar o mercado que uma empresa atende, de modo a subdividir essa estratégia genérica em termos de foco com especialização: • no cliente; • no produto; • em especialização geográfica. O quadro a seguir detalha essa estratégia: Quadro 44 – Estratégias de foco Estratégias de foco Descrição lógica da estratégia Foco com especialização no cliente A empresa oferece uma gama de produtos a uma classe limitada de clientes e atende a necessidades particulares dessa classe de consumidores. Foco com especialização no produto Oferece um conjunto limitado de produtos a uma gama de diferentes clientes e realiza um trabalho especialmente bom em satisfazer um subconjunto de necessidades dos grupos de clientes servidos pela empresa. Foco com especialização geográfica Oferece uma variedade de produtos ou serviços e vende a uma variedade de grupos de clientes em uma área geográfica estreita. A figura seguinte demonstra, em síntese, o conjunto de estratégias genéricas de Porter, assim com a lógica estratégica por trás de cada decisão. 109 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Segundo Besanko et al. (2006, p. 383): [...] esta figura descreve as estratégias genéricas de Michael Porter: liderança de benefícios, liderança de custos e foco. Essas estratégias se diferenciam pela amplitude de escopo da empresa em relação a produto ou cliente e pelo fato de se a empresa busca vantagem competitiva tendo os custos mais baixos do seu setor ou oferecendo produtos/serviços que proporcionam benefícios superiores aos clientes. Posição Tipo de vantagem Lógica estratégica? Os produtos da empresa podem ser produzidos a um custo unitário menor do que o dos concorrentes. Liderança em custos A empresa pode... • Estabelecer preços mais baixos que suas rivais e vender mais do que elas... Amplo Os produtos da empresa são capazes de comandar um preço premium (preço mais elevado) em relação aos seus concorrentes. • Ou igualar seus preços aos das rivais e alcançar maiores margens entre preço e custos. Liderança em benefícios A empresa pode... • Igualar seus preços aos das rivais e vender mais do que elas... Escopo? • Ou cobrar um preço premium e alcançar maiores margens entre preço e custo do que elas. Estreito Foco A empresa se configura de forma a criar valor econômico superior em um estreito grupo de segmentos do setor. Nesses segmentos a empresa pode ter custos unitários mais baixos do que suas rivais de maior escopo; ela pode ser capaz de praticar um preço premium em relação a esses concorrentes; ou ambas as coisas. Figura 29 – Estratégias genéricas de Porter As diferentes estratégias genéricas de Porter requerem diferentes arranjos organizacionais, assim como diferentes processos, sistemas de incentivos à produção e recursos. Por isso, por fim, discutiremos os fatores necessários para sustentar uma vantagem competitiva, a partir da Teoria Baseada em Recursos da Empresa. 8.2 Vantagem competitiva sustentável Segundo Barney e Hesterly (2007), é possível distinguir uma posição estratégica de lucros superiores em relação aos concorrentes como uma vantagem competitiva temporária ou sustentável. A figura a seguir resume a ideia de sustentabilidade para a vantagem competitiva apresentada pelos autores: 110 Unidade II Quando uma empresa cria mais valor que suas rivais Vantagem competitiva Vantagem competitiva que dura pouco tempo Vantagem competitiva que dura muito tempo Vantagem competitiva temporária Vantagem competitiva sustentável Figura 30 – Tipos de vantagem competitiva As principais ameaças à sustentabilidade aos lucros de uma empresa que apresentauma vantagem competitiva em determinado mercado e podem torná‑la temporária, em vez de sustentável, são: • a imitação das empresas rivais; • a ameaça de novos entrantes; • a guerra de preços na rivalidade interna (BESANKO et al., 2006). Para discutir os principais fundamentos econômicos e estratégicos relacionados às possibilidades de conquistar uma vantagem competitiva sustentável, serão considerados os conceitos de recursos e competências para, então, apresentar a ideia do desenvolvimento de um mecanismo capaz de isolar a empresa em sua posição de lucros superiores em relação às rivais. Observação Para Barney e Hesterly (2007, p. 64), “recursos são definidos como ativos tangíveis e intangíveis que a empresa controla e que podem ser usados para criar e implementar estratégias”. Por exemplo, fábricas, produtos, reputação e trabalho em equipe. E conforme Besanko et al. (2006, p. 376): “Recursos são ativos específicos da empresa, como patentes e marca registradas, reputação do nome da marca, base instalada, cultura organizacional e trabalhadores com know‑how específicos da empresa”. Competências Competências constituem‑se atividades que uma determinada empresa realiza especialmente bem ou de forma distinta em comparação com outras empresas (BESANKO et al., 2006). O subconjunto dos recursos de uma empresa que, por sua vez, capacitam uma empresa a criar e implementar suas 111 ESTRATÉGIA COMPETITIVA estratégias são definidos como “capacidades” ou “competências”, por Barney e Hesterly (2007), como as “competências de marketing de uma empresa” ou a “cooperação produtiva e criativa entre as funções técnica, comercial e de criação de uma organização”. Em seu Business Model Generation (metodologia para criação de modelos de negócios inovadores), Osterwalder e Pigneur (2011) incorporam as noções de “recursos” e “competências” com os componentes “recursos principais” e “atividades‑chave”, respectivamente. Para Osterwalder e Pigneur (2011, p. 34), os recursos principais são aqueles que “permitem que uma empresa crie e ofereça sua proposta de valor, alcance mercados, mantenha relacionamentos com os segmentos de clientes e obtenha receita”. O próximo quadro apresenta a tipologia de recursos principais de acordo com o autores: Quadro 45 – Tipos de recursos principais Tipos de recursos Exemplos Físico Fábricas, edifícios, veículos, máquinas, sistemas, pontos de vendas e redes de distribuição. Intelectual Marca, conhecimentos particulares, patentes e registros, parcerias e banco de dados. Humano Pessoas. Financeiro Dinheiro, linhas de crédito e opções de ações. As atividades‑chave “são as ações mais importantes que uma empresa deve executar para operar com sucesso”, afirmam Osterwalder e Pigneur (2011, p. 36). O quadro a seguir apresenta a tipologia proposta pelos autores para as atividades‑chave: Quadro 46 – Diferentes definições das atividades‑chave Tipos de atividades Definições específicas Produção Desenvolvimento, fabricação e entrega de produtos em quantidades substanciais e/ou qualidade superior. Resolução de problemas Relacionam‑se à soluções de problemas de clientes específicos. Por exemplo, empresas de prestação de serviço. Plataforma/rede Redes, plataformas de combinação, software e até mesmo marcas podem funcionar como plataforma. Por exemplo, o modelo da Microsoft exige o gerenciamento da interface entre outros comerciantes de software, e sua plataforma de sistema operacional Windows. Em suma, os recursos de uma empresa podem ser considerados substantivos, ou seja, coisas que as empresas possuem, já as competências são mais relacionadas à ideia dos verbos, isto é, são coisas que as empresas fazem (BESANKO et al., 2006). Kotler e Keller (2006) defendem que o ideal, para uma empresa, é reter a propriedade daqueles recursos e das compentências centrais (core compentencies) que fazem parte da essência de seu negócios e, ainda, deve ser capaz de cuidar deles. 112 Unidade II Besanko et al. (2006) destacam as características básicas das competências: • São valiosas em produtos ou mercados múltiplos. • São inerentes às rotinas organizacionais da empresa. • São tácitas, ou seja, não podem ser facilmente mensuradas ou reduzidas a uma série de procedimentos. Rimoli (2012) explica que, no início da década de 1990, Jay Barney apresentou o artigo Firm Resources and Sustained Competitive Advantage, no qual reforça o termo “resource‑based view” e a ideia de uma vertente teórica e acadêmica que resgatasse a importância da análise do ambiente interno e da estrutura organizacional da empresa como fontes para a vantagem competitiva sustentável. 8.2.1 Teoria baseada em recursos da empresa Seugundo Rimoli (2012, p. 139), a Teoria Baseada em Recursos da Empresa [...] é uma abordagem estratégica centrada nos recursos e nas capacitações internas de cada empresa. A lógica que a fundamenta é a de que o desempenho de uma companhia – considerado como obtenção e manutenção de vantagens competitivas – pode ser realizado pelo modo como cada uma administra seus recursos únicos e estratégicos. Recursos e competências, por si, não garantem que uma empresa sustente sua vantagem competitiva; a vantagem competitiva só pode ser considerada sustentável quando ela persiste, apesar de todos os esforços das empresas rivais e dos entrantes potenciais para imitar ou neutralizar sua lucratividade superior em relação ao setor (BESANKO et al., 2006). A próxima figura ilustra a ideia de que uma vantagem competitiva é baseada em recursos e competências: Vantagem competitiva (Lucros superiores à média setorial) Valor criado (Benefícios > custos) Competências distintas (Atividades que a empresa exerce melhor que os concorrentes) Recursos (Fatores de produção, patentes, reputação, capital humano...) Figura 31 – Vantagem competitiva 113 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Como pode ser observado na figura, na base de uma vantagem competitiva, residem as competências distintas e os recursos de uma empresa. Para ampliar a condição da vantagem competitiva de temporária para sustentável, é necessário que existam assimetrias persistentes entre as empresas do setor (BESANKO et al., 2006). Dito de outra forma, as assimetrias no setor significam que o acesso aos recursos e competências no mercado não é idêntico para todas as empresas que concorrem naquele mercado, ou seja, algumas empresas possuem maior acesso aos recursos e ao desenvolvimento de certas competências em suas atividades empresariais. A Teoria Baseada em Recursos da Empresa (em inglês, Resource‑Based View ou RBV) sustenta a tese de que, quando os mesmos recursos e competências, em qualidade e quantidade, estão à disposição de todas as empresas de um setor, nenhuma estratégia será possível para uma empresa sem que seja possível para todas as outras empresas do mercado (BESANKO et al., 2006). Dessa forma, a RBV defende a ideia de que “para ser sustentável, uma vantagem competitiva deve então ser baseada em recursos e competências que são escassos e imperfeitamente móveis” (BESANKO et al., 2006, p. 421). Em outras palavras, os autores argumentam que a fonte uma vantagem competitiva sustentável depende do nível de escassez (sua falta em comparação com sua necessidade), assim como do nível de mobilidade (capacidade de mover‑se de uma organização para outra) tanto dos recursos quanto das competências em um determinado setor. Barney e Hesterly (2007) argumentam que o modelo da teoria baseada em recursos da empresa – ou visão baseada em recursos da empresa, como denominam os autores – busca examinar o desempenho organizacional com o foco de sua análise nos recursos e capacidades que uma empresa controla como fontes de vantagem competitiva. Ainda segundo Barney e Hesterly (2007) teoria baseada em recursos da empresa fundamenta‑se em dois pressupostos importantes: • Heterogeneidade de recursos da empresa – em determinado mercado ou setor, algumas empresas se destacam em termos de competência para realizarcertas atividades em relação às suas rivais; • Imobilidade de recursos – muitos custos para algumas empresas mobilizarem (moverem, trazerem para dentro) alguns recursos e/ou competências. Rimoli (2012) argumenta que o modelo teórico da visão baseada em recursos pode ser esquematizado como demonstra a a seguir: 114 Unidade II Heterogeneidade Imobilidade Valiosos Raros Imperfeitamente imitáveis: — Condições históricas únicas — Ambiguidade casual — Complexidade social — Patentes Organização (contexto) Vantagem competitiva sustentável Pressupostos Recursos e competências Resultado Figura 32 – Esquema básico da RBV Barney e Hesterly (2007) desenvolveram um conjunto de ferramentas com o objetivo de analisar os diferentes recursos e competências (ou capacidades) de uma empresa, bem como seu potencial na geração de uma vantagem competitiva sustentável – trata‑se do modelo Valor, Raridade, Imitabilidade e Organização – VRIO. Nesse sentido, são necessárias algumas perguntas para examinar a potencialidade de um recurso ou uma competência para se compreender sua potencialidade como fontes de uma vantagem competitiva sustentável, são elas: • A questão do valor – o recurso permite que a empresa explore uma oportunidade no ambiente e/ou neutralize uma ameaça? • A questão da raridade – o recurso é controlado atualmente apenas por um pequeno número de empresas rivais? • A questão da imitabilidade – as empresas rivais sem o recurso enfrentam uma desvantagem de custo para obtê‑lo ou desenvolvê‑lo? • A questão da organização – as outras políticas e procedimentos da empresa estão organizados para dar suporte à exploração de seus recursos valiosos, raros e custosos para imitar? Porém Besanko et al. (2006, p. 423) ressaltam que “a escassez e a imobilidade de recursos e competências são necessários para que uma vantagem competitiva seja sustentável, mas não são suficientes”. Nesse sentido, serão apresentados e discutidos os diferentes mecanismos de isolamento e as vantagens de pioneirismo como possibilidades estratégicas adicionais à teoria baseada em recursos da empresa para promover uma vantagem competitiva sustentável. 8.2.2 Mecanismos de isolamento Os mecanismos de isolamento constituem‑se em forças que impõem certa limitação ao alcance de práticas que têm como principal objetivo copiar ou neutralizar uma vantagem competitiva (BESANKO 115 ESTRATÉGIA COMPETITIVA et al., 2006). Dessa forma, os mecanismos de isolamento impedem rivais em um mercado de capturar parte dos lucros obtidos por empresas que conquistaram vantagens competitivas em seu setor. Os principais mecanismos de isolamento são classificados por Besanko et al. (2006) em dois grandes grupos, os impedimentos à imitação e as vantagens de pioneirismo. 8.2.2.1 Impedimentos à imitação “Esses mecanismos de isolamento impedem as empresas existentes e entrantes em potencial de copiar os recursos e as competências que formam a base da vantagem da empresa” (BESANKO et al. 2006, p. 423). Os principais impedimentos à imitação consistem em: • restrições legais; • acesso superior a insumos ou clientes; • tamanho de mercado ou economia de escala; • barreiras intangíveis à imitação das competências distintas de uma empresa. O próximo quadro sumariza os aspectos mais relevantes destes fatores capazes de impedir a imitação: Quadro 47 – Impedimentos à imitação Impedimentos à imitação Aspectos relevantes Restrições legais Patentes, direitos autorais, marcas registradas controle governamental sobre entrada, licenças, certificados ou quotas sobre direitos de operação. Acesso superior a insumos ou clientes Acesso favorável a insumos por meio do controle das fontes de suprimento, assumindo a propriedade delas ou por contratos exclusivos de longo prazo. Acesso favorável a clientes assegurando os melhores canais de distribuição ou as mais produtivas localizações de varejo com cláusulas de negociação exclusiva. Tamanho de mercado e economia de escala Quando a escala eficiente mínima é grande em relação à demanda de um mercado e as empresas que já estão posicionadas asseguraram grandes participações de mercado. Barreiras intangíveis Ambiguidade causal, condições históricas únicas e complexidade social. No entanto, as barreiras intangíveis constituem‑se em impedimentos à imitação com desdobramento mais complexos. Dessa forma, o quadro seguinte sintetiza os principais aspectos relacionados à questão da: • ambiguidade causal; • condições históricas única; • complexidade social como fatores que permitem a sustentabilidade de uma vantagem competitiva. 116 Unidade II Quadro 48 – Barreiras intangíveis Barreiras intangíveis Detalhamento dos fatores Ambiguidade causal Ocorre quando os concorrentes não conseguem compreender satisfatoriamente quais são os recursos e competências nas quais se baseiam a vantagem competitiva de uma empresa, a análise estratégica aponta para causas ambíguas. Condições históricas únicas Ocorre quando uma empresa ganha seu acesso exclusivo e barato a um determinado recurso por causa da sua posição no tempo e local adequados. Complexidade social Ocorre quando uma empresa possui um recurso que é derivado de um processo socialmente complexo que envolve relacionamento interpessoais, confiança, cultura e outros recursos sociais. 8.2.2.2 Vantagens de pioneirismo Segundo Besanko et al. (2006), no entanto, ao menos quatro fatores demonstram que, uma vez que a empresa obtém pioneiramente uma vantagem competitiva, o fato de ter tomado a dianteira na tomada de decisão amplia o poder de sua vantagem competitiva: • curva de aprendizagem; • reputação e incerteza do comprador; • custos de troca do comprador; • efeitos de rede. O próximo quadro aborda cada um desses fatores que demonstram o valor do pioneirismo da estratégia competitiva: Quadro 49 – Vantagens de pioneirismo Vantagens de Pioneirismo Descrição do fator Curva de aprendizagem Economias de aprendizagem referem‑se a reduções nos custos unitários devido à experiência acumulada com o tempo. Reputação e incerteza do comprador Principalmente na venda de bens de experiência – “bens cuja qualidade não pode ser avaliada antes de serem comprados e usados” (BESANKO et al., 2006, p. 432) –, a reputação relacionada à qualidade de uma empresa representa uma importante vantagem competitiva. Custos de troca do comprador Em alguns casos, compradores podem ter de lidar com custos relevantes quando avaliam a possibilidade de troca de fornecedor. Os custos de troca estão associados ao know‑how específico de uma empresa que não pode ser transferido para outra empresa, por exemplo, usuários do Microsoft Word não conseguem transferir o que sabem na utilização daquele produto para a utilização do WordPerfect da Corel Corporation. Efeitos de rede Alguns clientes podem atribuir maior valor a determinados produtos pelo simples fato de que outros consumidores também o utilizam. A Microsoft, por exemplo, possui uma grande vantagem competitiva pelo fato de que muitas pessoas utilizam o sistema operacional Windows para computadores pessoais. 117 ESTRATÉGIA COMPETITIVA 8.3 Análise SWOT Por se tratar de uma ferramenta estratégica popular e amplamente utilizada, objetivamos definir objetivamente o conceito da análise SWOT, assim como apresentar sua aplicabilidade à luz dos tópicos e conceitos tratados neste livro‑texto. Kotler e Keller (2006) definem que a análise SWOT consiste em uma avaliação global das forças (strenghts), fraquezas (weaknesses), oportunidade (opportunities) e ameaças (threats), que, na prática, envolve o exame e o monitoramento das questões relevantes ligadas aos ambientes externo e interno. Como se vê terminologia SWOT deve‑se às palavras, em inglês, que compõem a análise, ou seja, é um acrônimo. Sua simplicidade lógica e seu apelo visual são os principais aspectos que contribuíram para a popularidade da ferramenta que, por sua vez, consiste em um quadro dividido em quatro quadrantes:• à esquerda, no canto superior, situam‑se as forças (S); • à direita, ainda no canto superior são posicionadas as fraquezas (W); • na parte inferior do quadro à esquerda, posicionam‑se as oportunidades (O); • por último, à direita, situam‑se as ameaças (T), como ilustra a figura seguinte: S Forças W Fraquezas O Oportunidades T Ameaças Figura 33 – Análise SWOT De acordo com o desenvolvimento da fundamentação teórica adotada para este livro‑texto de estratégia competitiva, a sugestão, em termos de ferramentas que auxiliam fortemente a realização uma análise SWOT com rigor e capacidade prática de apresentar direcionamentos estratégicos essenciais para a atividade de uma empresa e sua competição no mercado em que atua, propõe‑se que: • A análise do ambiente interno (forças e fraquezas) seja conduzida fundamentada na teoria baseada nos recursos da empresa e com a ferramenta VRIO. • A análise do ambiente externo (ameaças e oportunidades) seja conduzida com o apoio do modelo de Cinco Forças de Porter adicionando a Análise de Forças do Mercado. 118 Unidade II Lembrete A análise SWOT examina globalmente as forças, fraquezas, oportunidade e ameaças. Saiba mais Para saber mais, leia o trabalho acadêmico a seguir; RIBEIRO NETO, E. Análise SWOT – planejamento estratégico para análise de implantação e formação de equipe de manutenção em uma empresa de segmento industrial. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialista em MBA – Gestão Estratégica da Manutenção, Produção e Negócios) – Faculdade Pitágoras, São João del Rei, Minas Gerais, 2011. Disponível em: http://www.icap.com.br/biblioteca/172349010212_FORMATADA.pdf. Acesso em: 31 ago. 2015. Assim, a análise SWOT ganha robustez e contribui para além da praticidade na formulação de metas estratégicas para o futuro da empresa em seus processos formais ou informais de planejamento estratégico. 119 ESTRATÉGIA COMPETITIVA Resumo Fronteiras horizontais identificam os limites, em termos de quantidades e variedades de bens e serviços que uma empresa pode produzir. Economias de escala existem se a empresa conseguir fazer economias – em termos de custo unitário – à medida que aumenta a produção de um determinado bem ou serviço. Economias de escopo existem se a empresa conseguir fazer economias – em termos de custos totais de produção – à medida que aumenta a variedade de bens produzidos ou serviços prestados. Custos fixos e estoques são considerados como fontes tradicionais de economias de escala e escopo. Compras, propaganda e pesquisa e desenvolvimento (P&D) são consideradas fontes especiais de economias de escala e escopo. Fronteiras verticais de uma empresa determinam quais serão as atividades que a própria empresa irá executar e quais, em oposição, irá encomendar com empresas independentes do mercado. Produzir significa que a própria empresa executa a atividade. Comprar significa que ela depende de uma empresa independente para executar a atividade, talvez sob contrato. Dentre as razões para comprar, destacam‑se as possíveis economias de escala de aprendizagem que empresas independentes de mercado podem oferecer, assim como o acesso a recursos ou atividades baseadas em informações proprietais (por exemplo, patentes e licenças); Dentre as razões para produzir, destacam‑se as dificuldades de coordenação de atividades estrategicamente interdependentes, os riscos de vazamento de informações privativas e os custos de transação. Um grupo de empresas estará no mesmo mercado quando as decisões de produção, preço e marketing de uma empresa afetam materialmente os preços que as outras podem cobrar. Mercados são descritos como concentrados ou não concentrados e essa caracterização permite uma avaliação rápida e suficientemente precisa sobre 120 Unidade II a natureza das interações estratégicas entre os concorrentes, em termos econômicos, essas são as principais características da estrutura de mercado. No monopólio, o setor é a própria firma, porque um único produtor realiza toda a produção. Dessa forma, a oferta da firma é a oferta do setor, e a demanda da firma é a demanda do setor. Na concorrência perfeita o mercado é fragmentado, as empresas produzem bens homogêneos, os consumidores possuem informação perfeita a respeito dos preços, e a indústria é caracterizada por acesso aos mesmos recursos. Na concorrência monopolística existem muitos fornecedores, há livre mobilidade, e as empresas produzem bens diferenciados horizontalmente. Produtos diferenciados verticalmente apresentam atributos distintos em termos de qualidade (eventualmente a preços distintos de oferta). Produtos diferenciados horizontalmente apresentam atributos distintos em termos de preferências (ao mesmo preço de oferta). O oligopólio é uma estrutura de mercado que se caracteriza pela existência de reduzido número de concorrentes com bens ofertados considerados como substitutos próximos entre si e pode ser caracterizado como perfeito (oligopólio com produtos homogêneos) ou diferenciado (oligopólio com produtos heterogêneos). A rivalidade de preços consiste em um processo dinâmico, isto é, trata‑se de um fenômeno de mercado competitivo que ocorre no decorrer do tempo. Dessa forma, as decisões de preço tomadas no presente influenciam o comportamento dos rivais, e da própria empresa, no futuro. A determinação cooperativa de preços ou precificação cooperativa refere‑se a situações em que empresas mantêm preços em valores superiores aos preços esperados em situações de competição estrita. A sustentabilidade da determinação cooperativa de preço ocorre mesmo sem haver qualquer prática de conluio, pois trata‑se de uma situação de interação estratégica com característica de um dilema do prisioneiro infinitamente repetido. O objetivo de apreçamento consiste na situação futura que a empresa pretende alcançar com o preço que cobra. A estratégia de apreçamento reúne os meios para atingir os objetivos e é concebida em função dos objetivos. 121 ESTRATÉGIA COMPETITIVA As principais categorias de estratégias de apreçamento são: apreçamento competitivo; apreçamento de novos produtos; apreçamento de conjunto de produtos; e apreçamento discriminador. A análise de atratividade sobre certo mercado pode passar pela avaliação do potencial de novos entrantes surgirem naquele mercado (ou setor). A entrada consiste em algo frequente para muitos mercados e assume diversas formas como por exemplo, uma nova empresa que não existia, uma empresa já existente que diversificou sua atuação ou, ainda, uma diversificação meramente geográfica. A saída de mercado trata do oposto que ocorre com a entrada, ou seja, consiste na tomada de decisão de uma organização para retirar seus produtos de um mercado. A decisão de entrada em um setor considera os custos e benefícios relativos àquela decisão. Dessa forma, consideram‑se como custos, o capital gasto na construção e implantação de uma nova fábrica ou as devidas licenças governamentais de operação, outros custos mais críticos, como, despesas irrecuperáveis. Com relação aos benefícios relativos à entrada em determinado setor, é necessário examinar o potencial de lucratividade daquele mercado considerando diferentes aspectos, por exemplo, a natureza da concorrência após a entrada. Barreiras à entrada representam fatores que permitem que as empresas concorrentes, estabelecidas em determinado mercado, conquistem ganhos econômicos na forma de lucro, enquanto que tornam, ao mesmo tempo, inviável, em termos econômicos, a entrada de novos concorrentes. É possível dividir esses fatores em barreiras estruturais à entrada e barreiras estratégicas à entrada. Barreiras estruturais referem‑se à natureza competitiva daquele setor e ao simples fato de estar dentro ou fora dele. Barreiras estratégicas, por sua vez, se aplicam a comportamentos intencionais das empresas que já estão no setor e adotam ações agressivas para manter possíveis entrantes fora daquele mercado.122 Unidade II São três os tipos principais de barreiras estruturais à entrada, como, (i) o controle de recursos essenciais; (ii) economias de escala e de escopo; e (iii) vantagens de marketing das empresas atuantes. As estratégias para inibir a entrada e promover a saída de mercados são: (i) precificação limitante; (ii) capacidade excedente; e (iii) determinação de preço predatório. O modelo analítico das Cinco Forças foi desenvolvido por Michael Porter, como parte de uma estrutura criada para examinar e explorar fatores econômicos essenciais ao desempenho das empresas, em termos de lucros. As Cinco Grandes Forças são: (i) rivalidade interna; (ii) entrada; (iii) substitutos e complementos; (iv) poder do vendedor e (vi) poder do comprador. A rivalidade interna existente toma a forma familiar de uma corrida pela posição – usando táticas como as de competição de preços, lançamento de produtos e golpes de publicidade. Os novos entrantes em um setor industrial trazem novas capacidades, desejo de ganhar participação de mercado e, frequentemente, concorrem com recursos substanciais. Quanto mais atrativo for o trade‑off preço/desempenho oferecido pelo produto substituto, mais firmemente colocada está a tampa sobre o potencial de lucros do setor. Os fornecedores podem exercer poder de barganha sobre os participantes de um setor, aumentando os preços ou reduzindo a qualidade das mercadorias e serviços adquiridos. Os fornecedores poderosos podem, em consequência, extrair lucros de um setor incapaz de se recuperar dos aumentos nos custos incluídos em seus próprios preços. Consumidores tendem a ser mais sensíveis a preços se estiverem comprando produtos que não são diferenciados, que sejam caros relativamente às suas rendas e de um tipo onde a qualidade não seja particularmente importante, enquanto que varejistas podem ganhar poder de barganha significativo sobre os fabricantes quando conseguem influenciar as decisões de compra dos consumidores. Uma empresa possui vantagem competitiva quando é capaz de gerar maior valor econômico do que empresas rivais. 123 ESTRATÉGIA COMPETITIVA O valor econômico é simplesmente a diferença entre os benefícios percebidos ganhos por um cliente que compra produtos ou serviços de uma empresa e o custo econômico total desses produtos ou serviços. O valor criado por uma empresa em relação aos seus concorrentes depende, por sua vez, de sua posição de custos e benefícios. Michael Porter argumenta que são duas as principais possibilidades de posicionamento estratégico de uma empresa, a estratégia de baixo custo e a de diferenciação. Sendo assim, as estratégias genéricas de Porter são três: liderança em benefício, liderança em custos e foco. A estratégia de foco, por sua vez, se divide em: foco com especialização no cliente, foco com especialização no produto e foco com especialização geográfica. Recursos são ativos específicos da empresa, como patentes e marca registradas, reputação do nome da marca, base instalada, cultura organizacional e trabalhadores com know‑how específicos da empresa. Competências são atividades que a empresa realiza especialmente bem ou de forma distinta em comparação com outras empresas. A Teoria Baseada em Recursos da Empresa defende que para ser sustentável, uma vantagem competitiva deve ser baseada em recursos e competências que são escassos e imperfeitamente móveis. Mecanismos de isolamento são forças que impõem uma limitação na extensão pela qual empresas podem copiar ou neutralizar uma vantagem competitiva. Os principais mecanismos de isolamento são classificados em impedimentos à imitação e vantagens de pioneirismo. 124 Unidade II Exercícios Questão 1. (Enade 2006) Na última reunião de direção da Empresa MC – Moderna e Competente, foi analisado o seguinte quadro, elaborado pela Unidade de Inteligência Competitiva. Quadro 50 Empresa MC Concorrente principal Todo o setor Ano (*) 20 04 20 05 20 06 20 04 20 05 20 06 20 04 20 05 20 06 Participação de mercado (%) 20 25 30 25 20 10 Margem de contribuição média (%) 30 30 30 34 38 42 36 36 36 Idade média dos equipamentos (anos) 10 7 5 12 13 14 15 14 13 (*) Dados estimados para 2006. Levando em consideração estas informações, a direção da MC pode afirmar que: A) A modernização tecnológica ocorreu de forma mais intensa no concorrente principal, quando comparado com a Empresa MC. B) A estratégia competitiva do concorrente principal é ampliar a base de mercado. C) A Empresa MC apresenta desempenho mercadológico superior e possui equipamentos mais novos, quando comparada com o principal concorrente. D) O setor apresenta instabilidade em termos de rentabilidade, associada a uma lenta modernização tecnológica. E) Se os custos variáveis, como os de mão‑de‑obra direta e matérias‑primas, são equivalentes nas empresas, os preços da Empresa MC são mais elevados. Resposta correta: alternativa C. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a idade média dos equipamentos do concorrente principal varia para mais um ano a cada ano transcorrido, ou seja, a concorrência substituiu menos os equipamentos, em comparação à 125 ESTRATÉGIA COMPETITIVA empresa MC. Na empresa MC, a idade média dos equipamentos caiu entre 2004 e 2006, evidenciando substituição de equipamentos velhos por outros mais novos e, provavelmente, mais modernos. É provável que, ao contrário da MC, não tenha ocorrido modernização tecnológica no principal concorrente. A afirmativa, portanto, está errada. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a participação de mercado do concorrente principal caiu de 25%, em 2004, para 10% em 2006, enquanto a margem de contribuição média subiu, no mesmo período, de 34% para 42%. Os dados indicam que o concorrente principal optou por reduzir sua participação no mercado, o que torna a afirmativa incorreta. C) Alternativa correta. Justificativa: a empresa MC aumentou sua participação de mercado de 20% para 30%, entre 2004 e 2006. No mesmo período, o concorrente principal reduziu essa participação de 25% para 10%. Pode‑se concluir que a empresa MC apresentou melhor desempenho mercadológico. A idade média dos equipamentos da empresa MC é de cinco anos, enquanto a do concorrente principal é de 14 anos: os equipamentos da empresa MC são, dessa forma, muito mais novos. D) Alternativa incorreta. Justificativa: o setor apresenta estabilidade total em termos de rentabilidade, expressa pela margem de contribuição mantida constante nos anos de 2004 a 2006. Quanto à evolução tecnológica, ela possivelmente é a responsável pela redução da idade média de equipamentos de 15 pra 13 anos, em dois anos. Informações complementares poderiam qualificar a evolução, se lenta ou rápida. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a margem de contribuição resulta do preço de venda subtraídos os custos variáveis por unidade; se esses custos forem iguais para ambas as empresas, significa que terá maior preço aquela que contar com maior margem de contribuição, ou seja, o concorrente principal, conforme segue. A margem de contribuição é dada por: Mc = PV – Cv ∴ Cv = PV – Mc. Logo, no caso da empresa MC, Cv = PVMC – McMC = PVMC – 30; no que respeita ao principal concorrente, Cv = PVPC – McPC = PVPC – 42. Como os custos variáveis são iguais, podemos igualar as expressões: PVMC – 30 = PVPC – 42 → PVMC = PVPC – 42 + 30 PVMC = PVPC – 12 Portanto, o preço de venda da empresa MC é 12% mais baixo do que do concorrente principal. Consequentemente, a afirmativa está incorreta. 126 Unidade II Questão 2. (Enade 2005) Mesmo após a implantação de um sistema integrado de gestão do tipo ERP (enterprise resource planning), o diretor industrial de uma grande empresa de autopeças não conseguia ter informações úteis para a tomada de decisões estratégicas. Toda a compilação de dados era muito trabalhosa e requeria muito tempo de seu staff. O CIO (chief information officer) propôs, então, a compra de um novomódulo do fornecedor do sistema integrado de gestão, chamado business intelligence (BI). Segundo o vendedor, esse módulo atenderia às necessidades de informação para a tomada de decisão em nível estratégico. Frente à decisão de investir mais em tecnologia de informação, o diretor industrial refletiu acerca do ocorrido, não encontrando, porém, uma solução possível. Com base na situação descrita acima, assinale a opção que melhor descreve o que provavelmente ocorreu nessa empresa: A) Apesar de dada como finalizada pela equipe responsável, a implantação do ERP está incompleta. B) O sistema ERP ficou obsoleto antes mesmo de ser terminada sua implantação, sendo necessária a compra de novos módulos mais atualizados. C) O sistema ERP precisa ser integrado à intranet para atualizar os dados mais rapidamente de forma a fornecer informação estratégica. D) O sistema ERP é um sistema integrado de processamento de transações e não é adequado às necessidades de informação de nível estratégico. E) A escolha do fornecedor do software é crucial para a disponibilidade de informações no nível estratégico. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: não é pelo fato de a implantação estar incompleta que o diretor industrial dessa empresa de autopeças não consegue ter informações úteis para a tomada de decisões estratégicas, pois são poucas as contribuições diretas do sistema ERP sobre as variáveis estratégicas do negócio. B) Alternativa incorreta. Justificativa: mesmo que o ERP fosse obsoleto, após a aquisição de novos módulos mais atualizados, o diretor industrial dessa empresa de autopeças não conseguiria ter informações úteis para a tomada de decisões estratégicas, pois não são muitas as contribuições diretas do sistema ERP sobre as variáveis estratégicas do negócio. 127 ESTRATÉGIA COMPETITIVA C) Alternativa incorreta. Justificativa: não é a atualização mais rápida dos dados que proporciona a facilidade da extração do sistema das informações estruturadas necessárias para a tomada de decisão estratégica. O ERP é um sistema integrado de processamento de transações e, sozinho, não é totalmente adequado às necessidades de informação de nível estratégico. D) Alternativa correta. Justificativa: são poucas as contribuições do sistema ERP sobre as variáveis estratégicas (clientes e consumidores, rivalidade competitiva e mercado). O ERP demonstra agregar valor em relação à variável fornecedor (relação, monitoramento etc.) e à variável produção (ganhos de produtividade, escala no uso de software etc.). Ele oferece também importantes contribuições para a eficácia organizacional e, especialmente, para a eficiência interorganizacional, facilitando a gestão, a integração E) Alternativa incorreta. Justificativa: o ERP é um sistema integrado de processamento de transações e, sozinho, não é totalmente adequado às necessidades de informação de nível estratégico, independentemente do fornecedor do software ERP. 128 REFERÊNCIAS Audiovisuais O DILEMA dos prisioneiros. Realização: Instituto de Matemática e Estatística da Unicamp. Roteirista: Marta Nehring. Campinas: Unicamp, 2012. 11 minutos. Disponível em: http://m3.ime.unicamp.br/recursos/1089. Acesso em: 19 ago. 2015. Textuais AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL – ANAC. Anuários estatísticos de transporte aéreo. 2014. 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