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Meningite: Causas, Sintomas e Prevenção

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MENINGITE
A meningite é definida como uma inflamação das leptomeninges (aracnoide
e pia-máter) que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Dentre as causas
microbiológicas das meningites, destacam-se os vírus (responsáveis pela
maioria dos casos), as bactérias (MB), os fungos e os parasitas.
Apesar do avanço da terapia antimicrobiana, dos cuidados intensivos e da
introdução das vacinas, a MB continua associada a elevadas taxas de
letalidade, complicações e risco de sequelas. Acomete indivíduos de todas
as faixas etárias, mais frequente em crianças menores de 5 anos,
especialmente em lactentes de 3-12 meses de idade.
ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA
A etiologia das meningites, principalmente da MB, pode ser variável nos
diferentes países.
● No período neonatal até os 2 meses de vida: as bactérias que
causam meningites refletem a flora materna e o meio em que os
lactentes vivem, sendo as enterobactérias (E. coli, Klebsiella sp.,
Aerobacter, Salmonella sp., Proteus sp.), o estreptococo do grupo
B (Streptococcus agalactiae) e a Listeria monocytogenes (no
nosso meio não é tão comum) os principais agentes etiológicos.
● A partir dos 2 meses de vida: 3 agentes são responsáveis por mais
de 90% dos casos: Neisseria meningitidis (meningococo),
Haemophilus influenzae tipo b (Hib) e Streptococcus
pneumoniae (pneumococo).
No Brasil, entre os anos de 2007 e 2020, a meningite viral foi a mais
frequente, seguida pela etiologia bacteriana. Destas, as mais frequentes
foram: meningites por outras bactérias; doença meningocócica; meningite
pneumocócica; meningite tuberculosa e meningite por H. influenzae.
Em relação à doença meningocócica, houve redução da incidência total após a
introdução da vacina meningocócica C (conjugada) e redução também dos
casos de meningite pneumocócica após introdução da vacina penumocócica
conjugada 10-valente (PCV10). Nesse mesmo período observou-se uma
taxa de letalidade de cerca de 20%. Destaca-se que, antes da introdução
rotineira da vacina conjugada contra o Hib em nosso país, a partir de 1999,
esse agente ocupava o segundo lugar entre as MB especificadas. Observou-se
um impacto altamente positivo após a introdução da vacina no calendário
vacinal dos lactentes, com uma redução de 95% na incidência e o virtual
desaparecimento da meningite e de outras formas de doença invasiva causadas
pelo Hib em crianças entre os 2 meses e os 5 anos de idade.
No ano de 2020 foram notificados apenas 2.041 casos de meningite
bacteriana, o menor número reportado nas últimas décadas, em consequência
das medidas não farmacológicas impostas para o controle da Covid-19,
como o uso de máscaras, distanciamento físico, medidas de higienização,
fechamento de escolas, entre outras. O Streptococcus pneumoniae continua
sendo causa de morbimortalidade alta em todas as idades, notadamente nos <
2 anos, nos > 65 anos e nos portadores de doenças crônico-degenerativas.
FISIOPATOLOGIA
A patogênese da MB se estabelece em sucessivas etapas descritas:
1. Colonização nasofaríngea;
2. Invasão e sobrevivência intravascular;
3. Invasão meníngea e da barreira hematoliquórica;
4. Mecanismos de defesa gerando resposta inflamatória no espaço
subaracnóide;
5. Aumento da PIC;
6. Vasculite;
7. Alteração no fluxo sanguíneo cerebral;
8. Lesão neuronal.
A MB resulta, mais frequentemente, da disseminação hematogênica de
microrganismos de um local distante de infecção. Com menor frequência, a
meningite pode ocorrer após invasão bacteriana de um processo infeccioso
adjacente às meninges, como as sinusites, OMA, mastoidites, celulites
orbitárias e osteomielites craniana ou vertebral. Pode ainda ocorrer invasão
direta do SNC pela bactéria, por exemplo, após TCEs com fraturas
ósseas da calota e da base do crânio, estabelecendo uma comunicação entre
a pele ou as mucosas e o LCR, ou após traumas cranianos penetrantes por
objetos contusos. A bactéria pode também atingir diretamente o SNC,
através da pele, em crianças portadoras de malformações congênitas,
como meningomieloceles ou fístulas neuroectodérmicas.
QUADRO CLÍNICO
Os sinais e sintomas da MB dependem da idade do paciente e da duração
da doença. A doença inicia-se, em geral, de modo agudo, com a clássica
tríade sintomatológica: febre, cefaléia e vômitos. O quadro pode se instalar
em algumas horas, já de início abrupto, ou mais paulatinamente, em alguns
dias, acompanhando-se de manifestações como fotofobia, calafrios,
inapetência, sensação de mal-estar com dores pelo corpo, mialgia,
raquialgia, queda da acuidade visual e depressão do sensório.
Convulsões generalizadas, de início precoce (até o 2º dia de diagnóstico),
estão presentes em cerca de 20-30% das crianças com meningite e não são
relacionadas com pior prognóstico, ao passo que as focais, de início tardio,
podem correlacionar-se com outras complicações neurológicas.
Nas formas mais graves, o comprometimento sensorial aprofunda-se com o
passar do tempo, observando-se então irritabilidade, sonolência, delírio,
torpor, coma e até mesmo morte.
Choque e presença de exantema petequial ou purpúrico são classicamente
associados à doença meningocócica, mas podem também ser causados pelo
H. influenzae ou pelo S. pneumoniae. Uma erupção maculopapular, difícil
de distinguir de um exantema de origem viral, pode estar presente em até 15%
das crianças com meningococcemia. A meningite meningocócica
acompanha-se, em cerca de 60% dos casos, de lesões cutâneas, petequiais ou
purpúricas, bastante características, e que denunciam o quadro de
meningococcemia.
Há formas de evolução extremamente rápida, geralmente fulminantes, às
vezes devidas somente à septicemia meningocócica, sem meningite, e que se
manifestam por sinais clínicos de choque e coagulação intravascular
disseminada (CIVD), retratando a Síndrome de Waterhouse-Friderichsen.
Trata-se de um quadro de instalação repentina, com palidez, sudorese,
hipotonia muscular, taquicardia, pulso fino e rápido, queda da PA, oligúria e
má perfusão periférica. O coma pode sobrevir em algumas horas. Suspeita-se
da síndrome nos quadros de instalação precoce, em doente com sinais clínicos
de choque e extensas lesões purpúricas; a CIVD que se associa determina
aumento da palidez, prostração, hemorragias, taquicardia e taquipneia.
Os achados do exame físico do doente com meningite são: febre, uma
hiperestesia difusa, rigidez da nuca acompanhada de dor ao tentar a
manobra, e os clássicos sinais de Kernig, Brudzinski e Lasègue. Muitas
vezes a posição antálgica assumida pelo paciente é notória, e com o progredir
da doença pode assumir o decúbito em opistótono. Dermografismo pode
estar presente denunciando o distúrbio vasomotor; os reflexos profundos
geralmente se acham exacerbados.
No pré-escolar e no escolar o QC é semelhante ao observado no adulto.
Abaixo dos 3 meses, e, sobretudo no período neonatal, a suspeita de
meningite torna-se mais difícil, pois a sintomatologia e os dados de exame
físico são os mais diversos: no RN, a febre nem sempre está presente,
observando-se muitas vezes hipotermia, recusa alimentar, cianose,
convulsões, apatia e irritabilidade que se alternam e, respiração irregular e
icterícia.
A pesquisa dos sinais meníngeos é, não raro, extremamente difícil, e a
rigidez da nuca nem sempre está presente. Nessas circunstâncias, é de
grande valor o exame da fontanela bregmática: abaulamento e/ou aumento da
tensão da fontanela, aliados à febre, irritabilidade, gemência, inapetência e
vômitos, induzem fortemente à suspeita clínica de meningite.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico clínico de meningite deve ser seguido imediatamente por
comprovação laboratorial, que será feita mediante punção lombar para
colheita e exame do LCR. Esse procedimento deverá ser feito
imediatamente, exceto quando o paciente apresentar sinais neurológicos
focais e sinais evidentes de HIC ou edema cerebral agudo. Em crianças com
insuficiência respiratória aguda ou hipotensão o posicionamento para a
punção liquórica pode comprometer a ventilação e o débito cardíaco, portanto
o procedimento deve ser adiado até que o pacientetenha se estabilizado.
Em pacientes com trombocitopenia grave ou distúrbios da coagulação,
também se deve adiar a punção até que tenha havido correção desses
distúrbios. Pode também ocorrer, em determinadas situações, a presença de
infecção da pele (celulite ou abscessos) que recobre as vértebras lombares,
fazendo com que a punção seja postergada. É importante ressaltar que
qualquer motivo que adie a coleta do LCR jamais deve prorrogar a
introdução da antibioticoterapia, em todas as condições citadas.
Além da cultura e do exame bacterioscópico direto do LCR, deve-se sempre
proceder à coleta de hemocultura antes de iniciar a terapêutica. A taxa de
positividade em hemocultura pode chegar a valores acima de 90% para
meningites bacterianas causada por hemófilo, pneumococo e meningococo,
respectivamente, sendo, portanto, exame de grande auxílio para o diagnóstico,
mesmo em crianças que receberam antibiótico previamente (situação que
provoca menores índices de positividade).
EXAME DO LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO
Na MB, as principais e mais frequentes alterações liquóricas são:
1. Aspecto:
Levemente turvo a francamente purulento. Porém, um líquor límpido não
afasta a possibilidade de meningite purulenta. O LCR normal é incolor.
Xantocromia é uma coloração derivada, primariamente, dos pigmentos de
bilirrubina. Xantocromia verdadeira é aquela associada com hemorragia
subaracnóidea em que o LCR não se torna límpido e incolor após a
centrifugação, pois é devida à lise de hemácias por período superior a 4 horas.
No acidente de punção, o líquor inicialmente xantocrômico torna-se
límpido após a centrifugação. A turbidez liquórica pode ser decorrente da
própria pleocitose (acima de 200 leucócitos/mm3).
2. Exame citológico:
Tipicamente se encontra hipercelularidade, geralmente acima de
1.000/mm3, com predomínio (75-95%) de polimorfonucleares neutrófilos.
O número considerado normal de leucócitos no LCR varia de acordo com a
idade. Admite-se como normal até 30 células no LCR de RNs e até 5 células
em crianças maiores e adultos. Quando ocorre acidente por punção
traumática, deve-se descontar cerca de 2 leucócitos para cada mil
hemácias extravasadas.
3. Exames bioquímicos:
- Glicose: no LCR a glicose equivale a aproximadamente ⅔ da
glicemia do indivíduo; sua determinação liquórica constitui um
excelente dado auxiliar para a diferenciação entre meningites
bacterianas e virais: nas bacterianas observa-se sua queda,
sempre para níveis inferiores a 30 mg%.
- Cloretos: de modo geral sofrem diminuição nas MB;
- Proteínas: a proteinorraquia encontra-se elevada (média: 100-200
mg/dL). No acidente de punção deve-se descontar cerca de 1,1
mg/dL de proteína para cada mil hemácias extravasadas.
4. Exame bacterioscópico direto, pelo método Gram, consegue
fazer o diagnóstico etiológico presuntivo em cerca de ⅔ dos casos
de MB purulentas. A bacterioscopia em geral é positiva em
elevado percentual das crianças commeningite por pneumococo,
meningococo e por bacilos Gram-negativos.
5. Diagnóstico etiológico:
- Cultura:
Tradicionalmente, o diagnóstico etiológico de certeza da MB é feita pela
demonstração da bactéria no LCR, por meio da cultura; que é um exame
obrigatório e imprescindível, mesmo naqueles casos com líquor límpido e
cristalino, e também mesmo sabendo que em muitos pacientes com MB não
há crescimento de germes na cultura. A cultura pode ser negativa em
crianças que receberam antimicrobianos previamente antes da coleta do LCR.
Nessas crianças, no entanto, o aumento de celularidade e das proteínas é
geralmente suficiente para estabelecer o diagnóstico.
- Detecção de antígenos bacterianos no LCR:
A contraimunoeletroforese (CIE) e o teste do látex. A CIE é de elaboração
simples e rápida, permitindo o diagnóstico específico em menos de 1 hora,
mesmo naqueles pacientes que já tenham recebido antibiótico
previamente. A CIE já é um método consagrado, utilizado com sucesso no
diagnóstico de MB causadas por meningococo, pneumococo, H. influenzae e
E. coli, com percentuais de positividade de 70-90%. Resultados
falso-negativos e falso-positivos (raramente) podem ocorrer. O teste de
aglutinação do látex também tem sido empregado para a detecção de Hib,
penumococo e meningococo.
- Reação em cadeia de polimerase (PCR) para identificação do
DNA bacteriano no LCR está sendo estabelecida na prática, e
tem sido cada vez mais frequente seu uso na investigação
etiológica dos processos infecciosos do SNC. Existem métodos
diagnósticos moleculares que integram preparação de amostras,
amplificação, detecção e análise mediante teste de PCR,
permitindo a identificação de diversos patógenos causadores de
meningite e encefalite, incluindo bactérias (E. coli, H. influenzae,
Listeria monocytogenes, Neisseria meningitidis, Streptococcus
agalactie, S. pneumoniae), vírus (CMV, enterovírus, herpes
simples 1 e 2, herpes vírus humano 6, Human parechovirus e vírus
varicela zóster) e fungos (Cryptococcus neoformans), entre outros.
Estudos demonstram sensibilidade e especificidade de mais de
90% com esse método em meningites causadas por esses agentes.
TRATAMENTO
O início do tratamento do paciente com MB, especialmente nos lactentes,
deve ser feito em unidades de terapia intensiva ou semi-intensiva. Deve-se
sempre manter boa permeabilidade de vias aéreas e usar oxigênio quando
necessário. FC, PA e FR devem ser monitoradas. Avaliação neurológica
(reflexos pupilares, nível de consciência, força motora, pares cranianos,
convulsões) deve ser realizada com frequência, principalmente durante as
primeiras 72 horas, quando o risco de complicações é maior.
A hidratação parenteral deverá ser feita para corrigir os eventuais distúrbios
hidroeletrolíticos e do equilíbrio ácido-básico. A restrição hídrica não é
recomendada na presença de hipotensão, pois pode resultar em baixa
perfusão cerebral, com isquemia do SNC. Não existem evidências de que a
restrição hídrica diminui o edema cerebral em crianças com MB. O choque
deve ser tratado agressivamente a fim de prevenir complicações (necrose
tubular aguda, síndrome da angústia respiratória do adulto). Pacientes em
choque séptico devem receber reposição de volume e drogas vasoativas.
Nos pacientes sem sinais de desidratação que apresentarem manifestações
sugestivas da síndrome de secreção inapropriada do ADH (hiponatremia,
aumento da concentração de sódio urinário, diminuição da osmolaridade
sérica que se torna menor que a urinária), recomenda-se restrição de líquidos
para ⅔ a ¾ das necessidade diárias de água, controle de sódio plasmático,
controle do volume e densidade urinários e das osmolaridades sérica e
urinária.
A HIC é um componente importante das alterações fisiopatológicas da
meningite. Além da elevação da cabeça, alguns recomendam o uso de
manitol (diurético) (0,5-2 g/kg) quando ocorrem sinais de HIC grave (apneia,
bradicardia, miose ou midríase). Intubação imediata com hiperventilação
devem ser realizadas em caso de herniação cerebral.
Crises convulsivas devem ser controladas com anticonvulsivantes habituais,
como fenobarbital e fenitoína. Convulsões de início precoce, nas primeiras
48h da doença, geralmente não se relacionam de maneira significativa com o
prognóstico e são de fácil controle. Entretanto, convulsões que persistem
após 48h, convulsões focais e aquelas de difícil controle podem se associar
a um prognóstico mais reservado, significando um distúrbio vascular, como
trombose venosa ou isquemia.
- Corticosteróides:
Pesquisas mostraram que a resposta inflamatória no espaço subaracnóideo
observada durante a infecção era um importante fator determinante da
morbidade e da mortalidade. Portanto, a atenuação dessa resposta
inflamatória (por meio do uso dos corticosteróides) poderia ser efetiva em
diminuir várias das consequências fisiopatológicas da MB, como edema
cerebral, aumento da PIC, alteração do fluxo sanguíneo cerebral, vasculite
cerebral e lesão neuronal, uma vez que são mediadas por expressão de
citocinas inflamatórias. Estudos têm mostrado que o uso da dexametasona,
antesou junto com a primeira dose do antibiótico, diminui, de forma
significativa, a incidência de sequelas neurológicas e de deficiência
auditiva na meningite por Hib. Recomenda-se o uso de dexametasona na
dosagem de 0,15 mg/kg, por via IV, de 6/6 horas (0,6 mg/kg/dia) por 2 dias,
para o tratamento de MB em crianças com idade superior a 6 semanas.
- Antibioticoterapia:
De maneira geral, o tratamento antimicrobiano inicial é empírico, pois o
agente etiológico é desconhecido. Tratamento empírico das MB comunitárias:
● 0 - 60 dias: ampicilina (200-300 mg/kg/dia, 6/6h) + cefotaxima
(cefalosporina de 3º geração) (200 mg/kg, 6/6h) OU ampicilina +
aminoglicosídeo (gentamicina ou amicacina):
A ceftriaxona deve ser usada com muita cautela no período neonatal.
Pode deslocar a bilirrubina da albumina, causando maior risco de kernicterus
e o surgimento de “barro” biliar com risco de coledocolitíase e pseudolitíase.
Além disso, a ceftriaxona pode interagir com soluções com cálcio, causando
precipitação no espaço intravascular, pulmões ou tecido renal.
A associação de ampicilina + aminoglicosídeo é empregada não só pelo
espectro de cada antibiótico, mas também devido ao sinergismo que apresenta
contra algumas enterobactérias responsáveis por meningite nessa idade.
Quando o diagnóstico etiológico for estabelecido pela cultura do LCR,
deve-se ajustar o esquema ou a droga, sendo que sua escolha estará na
dependência do antibiograma.
● > 2 meses: Vancomicina (60 mg/kg, 6/6h) + Ceftriaxona (100
mg/kg, 12/12h) ou Cefotaxima:
Optamos por uma cefalosporina de 3º geração pois as cepas produtoras de
beta-lactamases permanecem sensíveis a essa classe de antibióticos, enquanto
são resistentes à ampicilina (Hib). Estudos demonstram que, entre nós, a
resistência do pneumococo às cefalosporinas de terceira geração
encontra-se nos valores mais altos já registrados. As elevadas taxas de não
susceptibilidade ao ceftriaxone nos isolados meníngeos, particularmente no
grupo de crianças menores de 5 anos, identificadas em 2019 motivam revisão
das recomendações de tratamento empírico das MB nos locais em que o
pneumococo é um patógeno prevalente.
Nos casos de meningite por pneumococos não suscetíveis à penicilina e
cefalosporinas, deve-se utilizar a associação de vancomicina, nunca de forma
isolada e idealmente associada com uma cefalosporina de terceira geração
(cefotaxima ou ceftriaxona). Deverá ser adicionada a rifampicina ao
esquema nas seguintes situações:
1. Piora clínica após 24-48h de terapia com vancomicina e
cefalosporina de 3ª geração;
2. Falha na esterilização liquórica;
3. Identificação de pneumococo com CIM >= 4 mcg/mL para
cefotaxima ou ceftriaxona. Estudos in vitro demonstraram que para
o tratamento de meningite por pneumococos resistentes à
penicilina e cefalosporinas a combinação da vancomicina com
ceftriaxona tem maior atividade antimicrobiana que qualquer
dos dois agentes usados isoladamente. A vancomicina, em
função de sua baixa penetração liquórica, não deve ser utilizada
como agente isolado no tratamento de meningite bacteriana.
Assim que se obtiver o resultado da cultura, o esquema antibiótico deve
ser reavaliado e direcionado para o agente.
Outros antibióticos podem, eventualmente, ser utilizados no tratamento
empírico inicial das meningites, como uma cefalosporina de 4ª geração
(cefepima) ou um carbapenêmico, como o meropenem. Nos casos de
pacientes com história de anafilaxia aos antibióticos beta-lactâmicos,
pode-se usar no tratamento empírico inicial o cloranfenicol ou a associação de
vancomicina com rifampicina.
Nas meningites em pacientes com imunodeficiência celular deve-se
empregar a associação de ceftazidima (cefalosporina de 3ª) com ampicilina. E,
naquelas meningites pós-TCE ou pós-procedimentos neurocirúrgicos, ou
em pacientes com derivação liquórica, emprega-se, para tratamento, a
associação de ceftazidima com vancomicina.
Em pacientes portadores de derivação ventrículo-peritoneal e que
desenvolvem MB diretamente da derivação, a remoção de todos os
componentes da derivação infectada, em associação com a terapia
antimicrobiana apropriada, é a mais efetiva estratégia terapêutica.
CONTROLE DO TRATAMENTO
Em pacientes com MB que apresentaram resposta adequada à
antibioticoterapia, a coleta de LCR controle para averiguar esterilização e
melhora dos parâmetros liquóricos não está indicada rotineiramente. O LCR
de controle só deve ser realizado nas seguintes situações:
● Quando o paciente não apresentar resposta adequada após 48h
de antibioticoterapia adequada;
● Em lactentes menores de 2 meses; em pacientes commeningite
por bacilos Gram-negativos;
● Em infecções causadas por pneumococos resistentes aos
antibióticos beta-lactâmicos.
DURAÇÃO DO TRATAMENTO
A duração da antibioticoterapia em pacientes com MB varia de acordo com o
agente isolado e a resposta clínica. As recomendações serão individualizadas
de acordo com a resposta clínica do paciente.
QUIMIOPROFILAXIA
Está indicada na doença meningocócica e na meningite por Hib.
Na doença meningocócica, a profilaxia está indicada para todos os contatos
íntimos de pessoas com doença meningocócica invasiva durante os 7 dias
que antecederam o início da doença no caso índice, independentemente
do estado vacinal: todos os contatos domiciliares; contatos de casos
ocorridos em creches, escolas maternais, jardins de infância; contato com as
secreções orais do paciente através do beijo, respiração boca a boca,
compartilhamento de escovas de dente e talheres, copos, etc. Para passageiros
de viagens aéreas ou não com duração igual ou superior a 8 horas que tenham
compartilhado o assento ao lado do caso índice. Deve ser iniciada até 24h
depois do contágio. A profilaxia administrada mais de 2 semanas após a
exposição tem muito pouco valor.
● A droga empregada é a rifampicina, na dose de 10 mg/kg
(máximo de 600 mg), de 12/12h, por 2 dias. Para RNs usa-se 5
mg/kg, de 12/12h.
● Alternativamente, pode-se empregar o ceftriaxone na dose de 125
mg IM, em dose única para menores de 15 anos e 250 mg, nos
com 15 anos ou mais.
● A ciprofloxacina para adolescentes >= 18 anos, em dose única
oral de 500 mg, e a azitromicina, na dose de 10 mg/kg, dose
máxima de 500 mg, dose única, podem alternativamente ser
empregadas em algumas situações.
Se o tratamento do caso índice não for feito com ceftriaxona ou
cefotaxima (ambas erradicam o estado de portador nasofaríngeo), o
paciente deverá receber a profilaxia antes da alta hospitalar.
A profilaxia da infecção invasiva por Hib é feita para todos os contatos
domiciliares íntimos, de qualquer idade, que coabitem ou convivam
intimamente com o doente, e que tenham pelo menos um contato menor que
4 anos não vacinado ou parcialmente vacinado. Nas creches e escolas
maternais, a profilaxia pode ser empregada quando dois ou mais casos de
doença invasiva ocorreram em um intervalo de até 60 dias. Também é
indicada para o doente em tratamento, caso não esteja recebendo
cefalosporina de terceira geração.
● Emprega-se a rifampicina na dose de 20 mg/kg (máximo de 600
mg), 1 vez ao dia, por 4 dias.
A quimioprofilaxia não está recomendada para contatos de pessoas com
meningite ou doença invasiva causada por H. influenzae do tipo não b porque
a doença secundária é rara.
Deve-se finalmente assinalar que os doentes com doença meningocócica e
meningite por Haemophilus influenzae devem ser internados sob
precauções respiratórias para gotículas, durante as 24 horas iniciais da
terapêutica antibiótica adequada.
MENINGITE VIRAL
A meningite viral é caracterizada como uma inflamação das meninges
(membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal) e é uma das formas
mais comuns de manifestação da doença. Ela é causada por diversos tipos de
vírus. Em 85% dos casos, os Enterovírus são os responsáveis. Os vírus mais
comuns na Meningite Viral são:
● Enterovírus – residem no sistema digestivo;
● HSV – vírus da Herpes simples, transmitido por meio de contato
íntimo;
● Arbovírus – transmitidos pelo mosquito Aedes Aegypti;
● Arenavírus– transmitidos por camundongos, que depositam os
vírus nas fezes;
● HIV – vírus da imunodeficiência humana, causador da AIDS;
● Entre outros, como o vírus da Caxumba e o vírus Influenza.
Os primeiros sintomas da meningite viral são:
● Febre; Dor de cabeça; Náuseas e vômitos; Falta de apetite;
Sonolência; Fotofobia (sensibilidade à luz); Dor nas articulações;
Rigidez no pescoço (também chamada rigidez de nuca).
Apesar dos sintomas da meningite viral e da meningite bacteriana serem
semelhantes, no primeiro caso, a evolução do quadro costuma ser mais leve
e menos grave. A diferenciação vai da análise do quadro clínico geral e
também, quando possível, da análise do líquor, que é feita pelo exame do
líquido da medula – punção lombar.
A maioria das meningites virais são benignas e de boa evolução e com
sintomas mais leves. Estas seriam as causadas pelo grupo dos enterovírus.
Pode acontecer também meningites virais mais graves com convulsão,
alteração de comportamento e até óbito, sendo a principal causa o vírus
herpes. Por isso, é recomendado sempre procurar um médico quando tiver os
sintomas da meningite viral, para que um especialista determine qual é o seu
tipo de meningite e qual tratamento é mais adequado. A MB é a mais
perigosa. Se a pessoa que está apresentando os sintomas da MB não for levada
rapidamente ao hospital, ela pode ir a óbito.
A transmissão da Meningite Viral pode acontecer por meio do contato com
mãos, alimentos, água, superfícies ou objetos contaminados. Por exemplo:
apertar a mão de uma pessoa infectada e, em seguida, encostar a mão nos
olhos, boca ou nariz; ou ingerir algum alimento contaminado pelo vírus. Outra
maneira de se infectar é por meio do contato com fezes contaminadas
(quando o indivíduo não higieniza as mãos corretamente após evacuar e toca
em alguma superfície/algum alimento ou quando ingere água contaminada
com fezes). Ainda que pessoas de qualquer faixa etária possam se contaminar
com os vírus causadores da meningite viral, o risco de contaminação é
maior em crianças menores de 5 anos.
Prevenção contra Meningite Viral: Ainda não existe uma vacina específica
que previne a Meningite Viral, especialmente as que são causadas pelos
Enterovírus e pelo HSV. Mas as vacinas que protegem contra outras doenças
virais podem prevenir a meningite causada pelos outros vírus. As principais
vacinas são:
● Vacina tríplice viral:
Protege contra as meningites causadas pelos vírus da Caxumba, Sarampo e
Rubéola.
● Também conhecida como “Triviral“, essa vacina é feita com vírus
vivos, porém enfraquecidos e que são capazes de formar
anticorpos vacinais gerando a proteção do Sarampo, Rubéola e da
Caxumba.
● No processo de fabricação da vacina, também são utilizados
componentes da proteína do ovo da galinha. Uma das vacinas
disponíveis nos postos de saúde apresenta a proteína do leite da
vaca em sua fabricação. A aplicação é realizada por via
subcutânea.
● A Vacina Tríplice Viral é recomendada para crianças, adolescentes
e adultos, sendo indicada como vacina de rotina em crianças a
partir dos 12 meses. Em surtos podem ser usadas a partir de 6
meses. Idosos devem receber a vacina somente em caso de risco
epidemiológico aumentado da doença, devendo ser prescrito por
um médico.
● As SBP e de Imunizações recomendam, como rotina, que a
primeira dose seja tomada aos 12 meses e a segunda dose entre
1 ano e 3 meses e 2 anos, junto à vacina contra Varicela.
● A vacina triviral é contraindicada para gestantes, pessoas que
tenham baixa imunidade devido a alguma doença ou algum
medicamento, histórico de anafilaxia após a primeira dose ou a
algum dos componentes.
MENINGITE FÚNGICA
Geralmente apresenta-se como uma meningite crônica ou subaguda,
progressiva e que oferece risco de vida. Ocorre mais comumente em
indivíduos imunossuprimidos e frequentemente é acompanhada por
comprometimento sistêmico. Tipicamente, o LCR apresenta pleocitose
linfocítica, proteína elevada e glicose baixa.
Principais fungos:
● Cryptococcus neoformans (mais comum);
● Cryptococcus gatti;
● Candida albicans;
● Candida tropicalis;
● Histoplasma capsulatum;
● Paracoccidioides brasiliensis;
● Aspergillus fumigatus.
● Já um outro fungo, chamado Candida, que também pode causar
meningite, geralmente é adquirido em ambiente hospitalar.
Os sinais e sintomas de meningite fúngica são parecidos com os causados
por outros tipos de agentes etiológicos, como segue: febre, dor de cabeça,
https://beepsaude.com.br/meningite-bacteriana/
https://beepsaude.com.br/meningite-vacinas-sintomas-tratamento-causas/
https://beepsaude.com.br/vacinas/vacina-triplice-viral/
https://beepsaude.com.br/vacinas/vacina-varicela/
rigidez no pescoço, náusea, vômitos, fotofobia (sensibilidade à luz), e status
mental alterado (confusão).
A meningite fúngica não é transmitida de pessoa para pessoa. Geralmente
os fungos são adquiridos por meio da inalação dos esporos (pequenos
pedaços de fungos) que entram nos pulmões e podem chegar até as
meninges (membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal). Alguns
fungos encontram-se em solos ou ambientes contaminados com excrementos
de pássaros ou morcegos. Já um outro fungo, chamado Cândida, que também
pode causar meningite, geralmente é adquirido em ambiente hospitalar.
Nas meningites fúngicas o tratamento é mais longo, com altas e
prolongadas dosagens de medicação antifúngica, escolhida de acordo com
o fungo identificado no organismo do paciente. A resposta ao tratamento
também é dependente da imunidade da pessoa, e pacientes com história de
HIV/AIDS, diabetes, câncer e outras doenças imunodepressoras são tratados
com maior rigor e cuidado pela equipe médica.
As complicações incluem convulsões, infarto cerebral, hidrocefalia e pressão
do líquido cefalorraquidiano (LCR) elevada sem hidrocefalia.
MENINGITE POR PROTOZOÁRIOS E HELMINTOS
Por Protozoários:
● Toxoplasma gondii;
● Trypanosoma cruzi;
● Plasmodium sp.
Por Helmintos:
● Infecção larvária da Taenia solium;
● Cysticercus cellulosae (Cisticercose);
● Angyostrongylus cantonensis.
Sintomas da meningite por parasitas: tal como acontece com a meningite
causada por outras infecções, as pessoas que desenvolvem este tipo de
meningite podem apresentar dores de cabeça, rigidez no pescoço, náuseas,
vômitos, fotofobia (sensibilidade à luz) e/ou estado mental alterado
(confusão).
Transmissão da meningite causada por Parasitas: os parasitas que causam
meningite não são transmitidos de uma pessoa para outra, e normalmente
infectam animais e não pessoas. As pessoas são infectadas pela ingestão
de produtos ou alimentos contaminados que tenham a forma ou a fase
infecciosa do parasita.
O tratamento nas meningites por parasitas, tanto o medicamento contra a
infecção como as medicações para alívio dos sintomas são administrados
por equipe médica em paciente internado. Nestes casos, os sintomas como
dor de cabeça e febre são bem fortes, e assim a medicação de alívio dos
sintomas se faz tão importante quanto o tratamento contra o parasita.
PREVENÇÃO DAMENINGITE
A meningite é uma síndrome que pode ser causada por diferentes agentes
infecciosos. Para alguns destes, existem medidas de prevenção primária, tais
como vacinas e quimioprofilaxia. As vacinas estão disponíveis para prevenção
das principais causas de meningite bacteriana. As vacinas disponíveis no
calendário de vacinação da criança do PNI são:
● Vacina meningocócica conjugada sorogrupo C: protege contra a
Doença Meningocócica causada pelo sorogrupo C;
● Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): protege contra as
doenças invasivas causadas pelo Streptococcus pneumoniae,
incluindo meningite.
● Pentavalente: protege contra as doenças invasivas causadas pelo
Haemophilus influenzae sorotipo b, como meningite, e também
contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B.
● BCG: protege contra as formas graves da tuberculose.

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