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Autores: Prof. Letícia Cunha de Andrade Oliveira
 Prof. Enzo Fiorelli Vasques
Colaboradora: Profa. Tânia Sandroni
História das Relações 
Internacionais do Brasil
Professores conteudistas: Letícia Cunha de Andrade Oliveira / 
Enzo Fiorelli Vasques
Letícia Cunha de Andrade Oliveira
Concluiu o bacharelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) em 2011, além de ter mestrado 
pela Universidade de Brasília (UnB), em 2013, e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), em 2019. Na 
graduação, analisou as propostas de reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). 
No mestrado, examinou o desempenho do Brasil no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 
(ODMs). No doutorado, trabalhou com a implementação do Programa Mais Alimentos na África, mais especificamente 
em Moçambique. A partir de 2015, começou a lecionar Comércio Internacional, Integração Regional e Formação 
Política e Econômica do Brasil no curso de Relações Internacionais do Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG), 
em São José dos Campos. Em 2017, começou a coordenar o curso de Relações Internacionais do campus de São 
José dos Campos da Universidade Paulista (UNIP) e continuou em sala de aula, lecionando Relações Internacionais 
Contemporâneas, História das Relações Internacionais do Brasil, História das Relações Internacionais, Formação 
Econômica do Brasil Contemporâneo e Teoria Contemporânea das Relações Internacionais, entre outras disciplinas. 
Enzo Fiorelli Vasques
É professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Paulista (UNIP). Autor do livro 
Técnicas de Negociação e Apresentação, pela Pearson Education do Brasil (2014) e coautor, entre outras obras, 
do Manual Prático de Comércio Exterior, 5ª edição, publicado em 2018 pela Editora Atlas. Graduado em Direito e 
especialista em logística empresarial e supply chain. Obteve seu mestrado em Educação Sociocomunitária com o 
trabalho O ensino das Relações Internacionais no Brasil. Além disso, desenvolve negócios internacionais relacionados 
à inserção de produtos manufaturados brasileiros no mercado mundial, principalmente no sudeste asiático, na África 
e na América Latina. É também membro do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (Cenegri).
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
O48h Oliveira, Leticia Cunha de Andrade.
História das Relações Internacionais do Brasil / Leticia Cunha de 
Andrade Oliveira, Enzo Fiorelli Vasques. – São Paulo: Editora Sol, 2020.
164 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Consolidação da independência. 2. Período democrático. 
3. Mundo globalizado. I. Vasques, Enzo Fiorelli. II. Título
CDU 327(091)(81)
U507.82 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Talita Lo Ré
 Elaine Pires
Sumário
História das Relações Internacionais do Brasil
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 O BRASIL NOS QUADROS DO COLONIALISMO EUROPEU (1494-1822) .......................................9
1.1 Relações internacionais da América portuguesa .................................................................... 10
1.2 Imperialismo joanino na América do Sul ................................................................................... 14
2 PRIMEIRO REINADO (1822-1831) ............................................................................................................ 22
2.1 A consolidação da independência ................................................................................................. 24
2.2 A Constituição de 1824 ..................................................................................................................... 27
2.3 A defensiva durante o período regencial ................................................................................... 29
3 INTERVENCIONISMO E PRAGMATISMO (1840-1889) ...................................................................... 32
3.1 A definição dos objetivos externos ............................................................................................... 34
3.2 A política intervencionista na América do Sul ......................................................................... 35
3.3 O fim do Império .................................................................................................................................. 40
4 AMERICANISMO E FRUSTRAÇÃO (1889-1930) ................................................................................... 42
4.1 A Constituição de 1891 ..................................................................................................................... 42
4.2 O alinhamento ingênuo ..................................................................................................................... 44
4.3 O alinhamento estratégico da década de Rio Branco ........................................................... 47
4.4 As frustrações da década de 1920 ................................................................................................ 52
Unidade II
5 DESENVOLVIMENTO, AUTODETERMINAÇÃO E LATINO-AMERICANISMO (1930-1961) ...... 60
5.1 O governo varguista ............................................................................................................................ 61
5.2 A Constituição de 1934 e a “Polaca” de 1937 .......................................................................... 70
5.3 O Brasil na Segunda Guerra Mundial ........................................................................................... 77
5.4 O período democrático ...................................................................................................................... 82
6 AUTONOMIA E UNIVERSALISMO (1961-1985) .................................................................................... 95
6.1 O fim do período democrático ........................................................................................................ 95
6.2 O regime militar ..................................................................................................................................103
Unidade III
7 INSERÇÃO NO MUNDO GLOBALIZADO (1985-2010) ......................................................................116
7.1 Sarney .....................................................................................................................................................116
7.2 Constituição de 1988 .......................................................................................................................1217.3 Collor e Franco .....................................................................................................................................123
7.4 FHC: autonomia pela continuidade da abertura ...................................................................128
7.5 Lula ...........................................................................................................................................................131
8 NOVO PADRÃO DE INSERÇÃO INTERNACIONAL PARA O BRASIL (2011-2019) ....................135
8.1 Dilma .......................................................................................................................................................136
8.2 Temer .......................................................................................................................................................144
8.3 Bolsonaro ...............................................................................................................................................146
7
APRESENTAÇÃO
Este livro-texto tem como objeto de estudo a trajetória histórica, as tendências, as linhas norteadoras 
e as orientações da inserção internacional brasileira. Discutiremos as concepções sobre a natureza e a 
estrutura do sistema internacional, o modo de inserção do país nesse sistema e como a identidade 
nacional se manifesta no cenário internacional.
É importante dizer que a história das relações internacionais de qualquer país se limitava, até a 
primeira metade do século XX, à história das chancelarias, ou seja, a documentos, tratados, cartas e 
trocas oficiais entre as representações no exterior. Foi Pierre Renouvin, fundador da Escola Francesa de 
Relações Internacionais, que revolucionou a área ao publicar sua obra História das Relações Internacionais, 
em 1953. Em sua obra, Renouvin atribuiu aos fenômenos internacionais o que ele chamou de forças 
profundas, explicações que não poderiam ser apreendidas com base na simples leitura de papéis das 
chancelarias, mas a partir de análises mais aprofundadas sobre os processos históricos.
É por isso que neste livro-texto, graças a Renouvin, você vai encontrar explicações mais holísticas 
e aprofundadas para as ações brasileiras no cenário internacional, e não apenas uma releitura de 
documentos trocados entre o governo brasileiro e os governos de outros países, forma como o assunto 
era costumeiramente abordado até a primeira metade do século XX.
Sobre isso, Garcia (2005) explica o seguinte:
O estudo da história das relações internacionais do Brasil vem experimentando 
significativa evolução nos últimos tempos, tanto em termos de conteúdo 
e qualidade quanto de volume da produção historiográfica. Houve um 
momento, porém, para o martírio dos estudantes, em que se acreditava 
suficiente o desfilar de nomes e datas para a compreensão da história 
internacional do país, com pouca ou nenhuma atenção aos condicionamentos 
estruturais e às contradições políticas, ideológicas, econômicas, sociais e 
culturais inerentes às relações internacionais (GARCIA, 2005, p. 7).
A propósito, no fim deste material constam todas as referências bibliográficas utilizadas para 
produzi-lo. Recomendo que você as leia posteriormente, pois é importante que o aluno diversifique 
suas fontes de conhecimento e não fique restrito ao pensamento de um único autor.
Bons estudos!
INTRODUÇÃO
Este livro-texto reúne em um único e conciso volume a evolução da história das relações internacionais 
do Brasil, desde antes do próprio “descobrimento”, já a partir do Tratado de Tordesilhas, que destinou 
essa terra a Portugal, até os dias atuais, marcados por uma reformulação do paradigma da inserção 
internacional brasileira com a posse de Jair Bolsonaro.
8
O material se apoia em obras escritas por autores nacionais e estrangeiros, incluindo desde os 
principais manuais da disciplina, tal como a História das Relações Internacionais, escrita por Francisco 
Doratioto e Carlos Eduardo Vidigal (2014), passando pelas pesquisas mais amplas, tal como a Cronologia 
das Relações Internacionais do Brasil, escrita por Eugênio Garcia (2005), até os documentos primários 
(tratados, leis, constituições etc.)
No entanto, a revisão da literatura feita neste material não tem a pretensão de ser completa: em 
primeiro lugar, em razão dos limitados tempo e espaço da disciplina, com 60 horas de carga horária; 
em segundo lugar, porque descrever e analisar com riqueza de detalhes todo o período de 1492 a 2019 
seria uma longa e exaustiva tarefa que não cabe a esta disciplina, optando-se, então, pela metodologia 
da relevância histórica.
Sobre a dificuldade de empreender uma análise histórica desse porte, Garcia (2005) argumenta que:
O problema é particularmente agravado no período recente, caracterizado 
pela profusão de fatos e iniciativas, nos âmbitos bilateral e multilateral, 
incluindo inúmeras visitas realizadas e recebidas, acordos e tratados, 
reuniões e conferências especializadas, entre outros eventos que apenas 
corroboram a complexidade e universalização crescentes da atividade 
diplomática na segunda metade do século XX. A própria análise histórica do 
período contemporâneo ainda não se encontra consolidada ou é inexistente 
(GARCIA, 2005, p. 7).
Por isso, este livro-texto vai registrar e analisar apenas os fatos mais relevantes e indispensáveis ao 
seu estudo, os quais, pode ter certeza, serão retomados oportunamente por outras disciplinas, visto que 
as Relações Internacionais respiram transdisciplinaridade.
9
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Unidade I
1 O BRASIL NOS QUADROS DO COLONIALISMO EUROPEU (1494‑1822)
No início do século XV, Portugal iniciou pioneiramente a expansão ultramarina, que consistia num 
grande projeto nacional para a descoberta de novas terras ainda não povoadas fora do continente 
europeu. Tal empreendimento envolveu quase todos os segmentos domésticos do país, exceto os 
empresários agrícolas, que viam na saída de braços do país uma contagem regressiva para o aumento 
do preço da mão de obra (FAUSTO, 2013).
Quase cem anos depois, em 1492, o navegador genovês Cristóvão Colombo, a serviço dos reis 
católicos da Espanha, chegou acidentalmente ao continente americano. Sua intenção era chegar às 
Índias, mas acabou aportando na Ilha de San Salvador, nas Bahamas (GARCIA, 2005).
Esse acontecimento abriu uma disputa entre Espanha e Portugal, que naquela altura lideravam as 
Grandes Navegações e se viram, então, diante de um impasse sobre como gerenciar a descoberta dos 
novos territórios na América. Para apaziguar os ânimos, em 1493, o Papa Alexandre VI, a pedido dos reis 
da Espanha, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, estabeleceu uma série de divisões que deixaram 
Portugal em desvantagem, pois não haveria novas terras a serem descobertas na parte que lhe caberia 
na “divisão do mundo” (COUTO, 1998).
Após rejeitar os documentos pontifícios, Dom João II decidiu negociar diretamente com Isabel e 
Fernando, do que resultou o Tratado de Tordesilhas, firmado em 1494 e arrancado da Espanha à custa 
de muita estratégia por parte do rei de Portugal, que fortaleceu seu poder de barganha acenando 
positivamente para os inimigos da Espanha – sobretudo para a França, com a qual os espanhóis lutavam 
pela posse de territórios no norte da África (RIBEIRO, 2005).
 Observação
As decisões do Papa Alexandre VI foram firmadas em documentos que 
ficaram conhecidos como Bula Inter Caetera I e Bula Inter Caetera II, às 
quais se seguiram mais três documentos semelhantes antes do Tratado 
de Tordesilhas.
O Tratado de Tordesilhas moveu o meridiano de divisão 270 léguas a oeste, concedendo a Portugal 
todas as terras a leste de um meridiano localizado a 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde, e 
não mais a 100 léguas a oeste do referido arquipélago, como propunham os documentos nada imparciais 
do Papa Alexandre VI (GARCIA, 2005). Assim, o tratado deu maior margem de manobra a Portugal, 
possibilitando que, de fato, o paísviesse a descobrir e a conquistar novos territórios na América. Porém, 
10
Unidade I
ele nunca foi reconhecido pelas demais potências europeias, o que se comprovou quando das incursões 
francesas para piratear o pau-brasil, ocorridas no início do século XVI e em outras ocasiões ao longo dos 
séculos seguintes (FAUSTO, 2013). É nesse contexto que, em 1500, o português Pedro Álvares Cabral, que 
liderava uma frota a caminho das Índias, chegou a Porto Seguro – também por acidente, assim como 
Colombo chegara às Bahamas.
 Observação
Há uma incerteza acerca do verdadeiro propósito de Cabral naquela 
viagem, se ele realmente se dirigia às Índias ou se estava incumbido de 
alguma missão secreta para o mapeamento da costa brasileira.
Com relação a esse tema, uma discussão pertinente ao campo das Relações Internacionais é se uma 
colônia, não sendo um Estado independente, possui relações internacionais com outros atores, sejam 
eles outras colônias ou mesmo Estados que não a metrópole. É seguro dizer que sim, tendo em vista o 
reconhecimento de atores não estatais na teoria das Relações Internacionais, embora essas interações 
ocorram por meio do Estado colonizador, e não de forma autônoma.
Assim, durante todo o período que vai de 1500 a 1822, a inserção internacional do Brasil, enquanto 
colônia de Portugal, se deu, num primeiro momento, por meio do mercantilismo português e, num 
segundo momento, através do liberalismo britânico e do tráfico negreiro, já que a colônia recebia 
escravos vindos do continente africano (VIZENTINI, 2015).
 Observação
É apenas por força de hábito que ainda se utiliza a expressão descobrir 
para o caso do Brasil, visto que, como se sabe, já existia uma população 
indígena no nosso território antes da chegada dos portugueses.
1.1 Relações internacionais da América portuguesa
A história do Brasil Colônia é dividida em três períodos, cronologicamente desproporcionais entre si:
• de 1500 a 1549, quando havia o governo-geral para promover o reconhecimento e a posse do 
novo território, além de um escasso comércio, fundado na extração de madeira nativa;
• de 1549 até as últimas décadas do século XVIII, quando houve a consolidação da colonização;
• das últimas décadas do século XVIII até 1822, quando um conjunto de transformações internas 
e externas deram origem à crise do sistema colonial e aos movimentos de independência 
(FAUSTO, 2013).
11
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
De 1500 a 1535, Portugal se limitou a explorar o pau-brasil da colônia recém-descoberta, recorrendo, 
para isso, ao trabalho indígena, que era prestado na medida em que os portugueses concordavam em 
dar pequenos agrados sem valor (tecidos, armas brancas de pequeno porte, quinquilharias etc.) como 
forma de pagamento pela mão de obra dos índios (FAUSTO, 2013).
Quando o pau-brasil acabou, a Coroa se viu diante de um problema, pois não sabia como zelar 
por um território de tamanha proporção sem possibilidades imediatas de geração de renda ou tinha 
condições financeiras para tanto. Por isso, Portugal iniciou o empreendimento açucareiro com o objetivo 
de gerar renda para a própria manutenção do processo colonizador (FURTADO, 2007).
Interessante pontuar que na América espanhola os metais preciosos foram descobertos precocemente, 
ao passo que na América portuguesa esses recursos só seriam descobertos a partir do século XVII, o que 
obrigou Portugal a inovar, investindo na indústria açucareira, e deixou a Espanha acomodada por um 
longo tempo (FURTADO, 2007).
Assim, em 1535, Portugal iniciou o cultivo de cana-de-açúcar no Nordeste do Brasil, empresa que, 
segundo Furtado (2007), prosperou no país em virtude de quatro fatores:
• Portugal possuía conhecimento técnico na produção de açúcar e detinha quase que exclusivamente 
os equipamentos voltados para esse tipo de atividade;
• a experiência comercial dos holandeses ajudou Portugal, já que nessa época eles eram o único povo 
que dispunha de suficiente organização comercial para criar um mercado de grandes proporções 
para um produto tão novo quanto o açúcar;
• a capacidade econômica dos holandeses também foi essencial, visto que seus capitalistas não se 
limitaram a financiar a refinação e a comercialização do produto, mas também participaram do 
financiamento das instalações produtivas na colônia e do financiamento da importação da mão 
de obra escrava;
• o uso de mão de obra escrava negra resolveu o problema da escassez de braços tanto em Portugal 
quanto no Brasil.
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre a formação 
econômica do Brasil, leia a obra indicada a seguir.
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2007.
12
Unidade I
Assim, é possível dizer que, durante o ciclo do açúcar, as relações internacionais da colônia se 
resumiram a Portugal, à Holanda e ao continente africano. Porém, de 1580 a 1640, diante da morte 
do jovem rei Sebastião, de Portugal, e de uma crise de sucessão – já que, devido à tenra idade, o rei 
não deixara filhos –, houve uma união dinástica entre Portugal e Espanha, a chamada União Ibérica, 
quando o rei da Espanha se tornou também o rei de Portugal. A partir daí, Portugal, em consequência 
da união com a Espanha, passou a manter relações conflituosas com a Holanda, que já possuía 
relações ruidosas com os espanhóis (FAUSTO, 2013).
 Observação
É equivocado falar em ciclos da economia do Brasil colonial já que, 
mesmo que uma atividade predominasse durante certo período, dela 
surgiam atividades secundárias que depois, dado o declínio daquela 
atividade principal, continuavam se desenvolvendo. Por exemplo, a 
indústria açucareira incentivou a produção alimentícia e a pecuária para 
suprir as necessidades dos trabalhadores envolvidos com a plantação de 
cana-de-açúcar, as quais ganharam mais atenção com o posterior declínio 
dessa monocultura.
A expulsão dos holandeses trouxe consequências sérias para o Brasil. Até aquele momento, a colônia 
detinha o monopólio da indústria açucareira, porém, expulsos do Brasil, os holandeses foram investir na 
monocultura do açúcar nas Antilhas, que logo prosperou e quebrou o monopólio brasileiro, fazendo com 
que os preços do produto despencassem no mercado internacional. Ali, o Brasil passou por sua primeira 
crise econômica (FURTADO, 2007).
A figura a seguir mostra uma charge referente ao episódio de expulsão dos holandeses do Brasil.
Figura 1 – Charge
13
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
O declínio da atividade açucareira na década de 1650 deixou a colônia órfã de uma atividade 
econômica principal. Isso durou até a década de 1690, quando foram descobertas as primeiras jazidas 
de ouro em Minas Gerais, o que atraiu grande fluxo populacional para aquela região e possibilitou 
que a política mercantilista de Portugal fosse colocada em prática (GARCIA, 2005). A partir daí, as 
relações internacionais da colônia passaram a se restringir única e exclusivamente a Portugal, embora o 
continente africano continuasse exportando mão de obra escrava para o Brasil (FAUSTO, 2013).
O mercantilismo não deve ser encarado como uma teoria econômica, mas como um 
receituário de normas de política econômica que parte do princípio de que não há ganho para 
um Estado sem prejuízo de outro – ou seja, essa prática deve necessariamente resultar num 
jogo de soma zero, cabendo o papel de vencedor à Coroa e o de perdedor à colônia (RIBEIRO, 
2005). No mercantilismo, as vantagens da Coroa (como a acumulação de metais preciosos) 
e as desvantagens da colônia (à colônia cabia exportar matéria-prima e importar produtos 
manufaturados, valendo o contrário para a Coroa) eram regras gerais.
No mercantilismo português, criou-se ainda o exclusivo colonial, segundo o qual o Brasil só poderia 
comercializar seus produtos no mercado português, obrigação que o Marquês de Pombal tentou 
assegurar firmemente num momento em que as práticas mercantilistas já eram colocadas em dúvida 
no resto da Europa. Assim, Pombalcriou a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão e 
a Companhia de Pernambuco e Paraíba, em 1755, com o objetivo de intermediar a venda dos produtos 
coloniais para a Coroa (FAUSTO, 2013).
Porém, quem de fato usufruía do exclusivo colonial era a Grã-Bretanha, pois Portugal se submetia 
cada vez mais ao poderio britânico, perpetuando uma relação assimétrica por meio da qual a Coroa lusa 
se tornava cada vez mais dependente e, assim, ia perdendo seu poder de barganha.
Sobre isso, Fausto afirmou o seguinte:
Ao longo do século XVII, a Coroa seria levada a estabelecer relações 
desiguais com uma das novas potências emergentes: a Inglaterra. 
Dessas condições resulta que o “exclusivo” colonial luso oscilou de 
acordo com as circunstâncias, ficando entre a relativa liberdade e um 
sistema centralizado e dirigido, combinado com concessões especiais. 
Essas concessões representavam, no fundo, a participação de outros 
países no usufruto da exploração do sistema colonial português 
(FAUSTO, 2013, p. 52).
Essa assimetria foi selada em 1703, quando Portugal e Grã-Bretanha firmaram o Tratado de Methuen, 
segundo o qual, em caráter perpétuo, caberia a Portugal a compra de tecidos ingleses em troca da venda 
de vinhos portugueses para a Grã-Bretanha com taxas de importação mais baixas. Mas foi apenas a 
partir do século XIX, com a vinda da família real para o Brasil, que a Grã-Bretanha passaria de fato a tirar 
mais proveito da colônia do que a própria Coroa lusa (GARCIA, 2005).
14
Unidade I
A aproximação entre Portugal e Grã-Bretanha não se deu por empatia, mas pelo fato de Portugal não 
conseguir se defender sozinho da França e da Espanha, nações com as quais vinha mantendo relações 
cada vez mais conflituosas. Assim, Portugal estabelecia essas relações especiais com a Grã-Bretanha em 
troca da ajuda na defesa contra os vizinhos europeus. Quando se efetivou essa aproximação, não só 
Portugal sofreu o peso da assimetria, mas também o Brasil (FAUSTO, 2013).
Ademais, a crise do Antigo Regime, por um lado, e a crise do antigo sistema colonial, por outro, 
enfraqueciam o mercantilismo português, fadado à insustentabilidade de uma forma ou de outra, 
tendo em vista o caráter não renovável de recursos como metais preciosos, subordinando cada vez mais 
Portugal ao capitalismo britânico (VIZENTINI, 2015).
Portanto, durante quase toda a vigência do período colonial, até pouco antes da vinda da família 
real portuguesa, as relações internacionais do Brasil se deram através de sua inserção no colonialismo 
europeu, tendo como porta de entrada Portugal, mas não se restringindo a ele, já que Portugal dependia 
de alguns vizinhos. E isso não poderia ser diferente, posto que, mesmo antes da existência da sociedade 
internacional europeia – nascida no século XIX por meio do Congresso de Viena e com o advento do 
Concerto Europeu –, os países europeus já difundiam, através da colonização, seus valores, suas normas, 
suas práticas, seus costumes e suas instituições pelo mundo, das quais o Brasil não logrou (e nem 
poderia lograr) se distanciar (SARAIVA, 2007).
1.2 Imperialismo joanino na América do Sul
É conhecida como período joanino do Brasil colônia a fase em que a família real portuguesa 
esteve no Brasil. A vinda da corte portuguesa foi precipitada por Napoleão Bonaparte, rei da França, 
que estava em guerra contra a Grã-Bretanha e a França. No afã de isolar a Grã-Bretanha, Bonaparte 
decretou um bloqueio comercial entre os britânicos e o resto do continente europeu, ao que Portugal 
resistiu – não por opção, mas por necessidade, uma vez que os britânicos eram os únicos aliados que 
lhe restavam. Em 1807, para fechar a brecha aberta por Dom João VI, Bonaparte enviou suas tropas 
para Portugal, com o objetivo de ocupar Lisboa (SARAIVA, 2007).
É interessante pontuar que essa marcha sobre Lisboa foi possível porque França e Espanha assinaram 
o Tratado de Fontainebleau, que previa a invasão e a partilha de Portugal, bem como a divisão de suas 
colônias entre os dois países (GARCIA, 2005).
Em meio às ameaças francesas e à impossibilidade de continuar declarando neutralidade em relação 
às Guerras Napoleônicas, Dom João VI não hesitou em refugiar-se na sua colônia preferida com toda 
a família e o aparelho burocrático que compunha o Estado português (ministros, juízes, militares e até 
membros do alto clero) (FAUSTO, 2013).
Não demorou para que concedesse mais aos britânicos, pois, assim que chegou ao Brasil, ainda 
no estado da Bahia, Dom João decretou a abertura dos portos do Brasil às “nações amigas”, ou seja, à 
Grã-Bretanha, decisão que pôs fim a 300 anos de sistema colonial e que extinguiu de vez o exclusivo 
colonial (GARCIA, 2005).
15
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
 Observação
Quando da vinda da corte portuguesa ao Brasil, houve muita confusão 
no embarque: uma tempestade dividiu a frota, faltou água e comida devido 
à superlotação dos navios, a troca de roupas foi improvisada com roupas de 
cama fornecidas pela Marinha inglesa e uma infestação de piolhos obrigou 
as mulheres a raspar a cabeça.
A seguir temos uma charge abordando a abertura dos portos brasileiros às nações amigas.
Figura 2 – Charge
Dom João VI ainda revogou os decretos que proibiam a instalação de manufaturas na colônia, 
isentou de tributos a importação de matérias-primas destinadas à indústria, ofereceu subsídios para 
as indústrias de lã, de seda e de ferro, além de encorajar a invenção e a introdução de novas máquinas. 
Tais decisões foram ruins para Portugal – boas para a Grã-Bretanha, que teria mais mercado para 
consumir seus produtos – e teriam sido boas para o Brasil caso o país realmente tivesse tido a chance de 
industrializar-se, mesmo que minimamente (essas medidas perderam valor após os tratados assinados 
entre Portugal e Grã-Bretanha, em 1810) (FAUSTO, 2013).
Strangford, general britânico responsável pela missão de escoltar a família real ao Brasil, registrou 
em comunicação oficial que a Grã-Bretanha ficaria em posição de estabelecer com a colônia uma 
relação de soberano e súdito, além de poder exigir obediência em troca de proteção (GARCIA, 2005). 
Assim, não restam dúvidas de que as nações amigas se resumiam à Grã-Bretanha.
16
Unidade I
 Saiba mais
Para saber mais sobre essa fase da nossa história, assista ao filme 
indicado a seguir.
CARLOTA Joaquina. Dir. Carla Camurati. Brasil: Copacabana Filmes e 
Produções, 1995. 100 min.
Mas conhecer os motivos que levaram a Coroa a vir para o Brasil não ajuda na compreensão do 
processo histórico como um todo. Afinal, por que havia tanta turbulência política na Europa nos últimos 
decênios do século XVIII e como isso causou impacto em uma colônia que estava a léguas e léguas de 
distância, em outro continente? Bom, tudo começou com a crise do Antigo Regime.
Desde o início do século XVI, existia um conjunto de monarquias absolutas vigentes na Europa, 
as quais compunham o chamado Antigo Regime, um sistema social e político caracterizado pelo 
centralismo, pelo absolutismo, pela rígida hierarquia entre classes sociais, pelos privilégios concedidos à 
aristocracia e pela concentração do poder nas mãos do rei (HOBSBAWM, 1982).
Desafiando a estrutura do Antigo Regime, surgiram as ideais do pensamento ilustrado e, como 
desdobramento, as ideias do liberalismo político e econômico. Nesse contexto, autores como Montesquieu, 
Voltaire, Rousseau e outros começaram a discutir o princípio da razão:
Os pensadores ilustrados, homens como Montesquieu, Voltaire, Diderot e 
Rousseau, apesar de divergirem muito entre si, tinham como ponto comum 
o princípio da razão. Segundo eles, pela razão atingem-se os conhecimentos 
úteis ao homem e por meio dela podemos chegar às leis naturais que regem 
a sociedade. A missão dos governantes consiste em procurar a realização do 
bem-estar dos povos, pelo respeito às leis naturais e aos direitos naturais de 
que os homens são portadores. O não cumprimento desses deveres básicos 
dá aos governos o direito de insurreição(FAUSTO, 2013, p. 93).
Dessas discussões, surgiu ainda o pensamento liberal. Politicamente, o liberalismo defendia o direito 
de representação dos indivíduos, conferindo menor importância ao poder dos reis, os quais deveriam 
governar conforme critérios acordados pelos indivíduos e reunidos no que se chamou de constituição. 
Economicamente, o liberalismo defendia o princípio de não intervenção do Estado na vida em sociedade 
e, sobretudo, na vida econômica da nação (FAUSTO, 2013).
Na Europa, o liberalismo acabou por abalar o Antigo Regime ao questionar os privilégios da 
aristocracia e a monarquia absoluta, representando a queda da aristocracia e a ascensão da burguesia 
enquanto polo de poder na configuração social. Isso significa que, embora a princípio o regime 
monárquico tenha resistido à crise do Antigo Regime em muitos países, os aristocratas caíram, 
cedendo lugar aos burgueses, que herdariam seus privilégios. Em outras palavras, a estrutura foi 
17
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
relativamente mantida, tendo sido alterados os atores envolvidos naquela estrutura marcadamente 
corporativista (HOBSBAWM, 1982).
 Observação
O fim da aristocracia e a ascensão da burguesia enquanto classe dirigente 
representaram um processo complexo, com particularidades próprias em 
cada caso, daí não podermos reduzir a queda do Antigo Regime a uma 
simples troca de bastões.
A França foi o berço dessa transformação: vivenciou a Revolução Francesa de 1789 a 1792, pondo 
fim à monarquia, proclamando a república e executando o rei Luís XVI. Já a Grã-Bretanha passou por 
outra transformação: viu a Revolução Industrial possibilitar o uso de novas fontes de energia, a invenção 
de máquinas, o desenvolvimento agrícola e o controle do comércio internacional (FAUSTO, 2013).
Assim, esses dois países acabaram exportando a revolução para o mundo: a França soprou os 
ventos do liberalismo político (preocupando o resto da Europa), e a Grã-Bretanha soprou os ventos do 
liberalismo econômico (forçando o mundo ao livre-comércio, abandonando os princípios mercantilistas, 
pressionando pela abolição da escravatura, provocando rachaduras cada vez maiores no sistema colonial 
e, ao mesmo tempo, protegendo o seu próprio mercado e o de suas colônias) (HOBSBAWM, 1982).
Na América, o liberalismo justificou as tentativas de reforma, o direito de reivindicação dos povos 
colonizados e a tendência a reduzir ou a eliminar a escravidão (processo iniciado pelos franceses e 
principalmente pelos britânicos com o objetivo de ampliar os mercados consumidores, o que só poderia 
se dar a partir da remuneração dos trabalhadores, de modo que eles pudessem gastar seus salários, 
fazendo com que a economia fosse alimentada e crescesse) (FAUSTO, 2013).
Em 1776, os Estados Unidos se tornaram independentes da Grã-Bretanha, e os movimentos rebeldes 
nas colônias espanholas e portuguesas tomaram forma. No entanto, os negócios do mercado negreiro 
não recrudesceram, pelo contrário, o tráfico negreiro aumentou nesse período, pois representava uma 
alternativa para burlar as tentativas britânicas de abolir a escravidão (FAUSTO, 2013).
E foi nesse contexto que Napoleão teve grande influência na Primeira República Francesa ao 
empreender as Guerras Napoleônicas, fechar o cerco contra os vizinhos europeus, sobretudo a 
Grã-Bretanha, e precipitar a vinda da família real portuguesa ao Brasil. 
A mudança da Coroa lusa trouxe mudanças para o Brasil. Em primeiro lugar, Portugal firmou dois 
tratados com a Grã-Bretanha em 1810, o de Aliança e Amizade, que envolvia predominantemente 
questões políticas, e o de Comércio e Navegação, que tratava basicamente de questões comerciais. 
Os termos de ambos os acordos selaram a subordinação de Portugal à Grã-Bretanha e reafirmaram 
tratados anteriores, inclusive o Tratado de Methuen (GARCIA, 2005).
18
Unidade I
O Tratado de Aliança e Amizade simbolizou o compromisso português de promover a abolição da 
escravatura de forma gradual e proibiu a implantação da Inquisição no Brasil (GARCIA, 2005).
Um ponto do Tratado de Aliança e Amizade que merece destaque é a reiteração da garantia de 
proteção para Portugal. Sobre isso, o Tratado estabelecia o seguinte:
Artigo II. As duas Altas Partes Contratantes obrarão sempre de comum 
acordo para a preservação da paz e tranquilidade, e caso que alguma 
delas seja ameaçada de um ataque hostil por qualquer potência, a outra 
empregará os mais eficazes e efetivos dos ofícios, tanto para procurar 
prevenir as hostilidades como para obter ajuda completa e satisfação em 
favor da parte ofendida (SOARES, 2015, p. 40).
Outro ponto do Tratado de Aliança e Amizade que também merece destaque é a questão do novo 
tratamento que deveria ser dado à escravidão negra. Sobre isso, o Tratado estabelecia o seguinte:
Artigo X. Sua Alteza Real o Príncipe Regente de Portugal, estando 
plenamente convencido da injustiça e má política do comércio de escravos 
e da grande desvantagem que nasce da necessidade de introduzir e 
continuamente renovar uma estranha e fictícia população para entreter o 
trabalho e indústria nos seus domínios no Sul da América, tem resolvido de 
cooperar com Sua Majestade Britânica na causa da humanidade e justiça, 
adotando os mais eficazes meios para conseguir em toda extensão dos 
seus domínios uma gradual abolição do comércio de escravos (SOARES, 
2015, p. 41).
Vale pontuar que uma cláusula adicional ao Tratado de Aliança e Amizade concedeu aos ingleses o 
direito de visita a navios suspeitos de transportar escravos. Porém, nada disso impediu o tráfico, que se 
intensificou no início de 1820 e passou a ser motivo de conflito entre o governo da Grã-Bretanha e os 
setores dominantes no Brasil (FAUSTO, 2013).
Algumas partes do documento demonstram que a Grã-Bretanha impôs tratamento especial a 
Portugal. Por exemplo, sobre a exclusividade britânica para explorar madeira, o Tratado estabelecia 
o seguinte:
Artigo VI. Há por bem conceder à Sua Majestade Britânica o privilégio de 
fazer comprar e cortar madeiras para a construção de navios de guerra, nos 
bosques, florestas e matas do Brasil excetuando florestas Reais que são para 
uso da Marinha Portuguesa [...]. E expressamente se declara e promete que 
estes privilégios não são concedidos a nenhuma outra Nação ou Estado, seja 
qual for [...] (SOARES, 2015, p. 15).
Já o Tratado de Navegação e Comércio concedeu privilégios alfandegários para os produtos 
britânicos, o que significou na prática uma taxa de 15% sobre o valor do produto para a Grã-Bretanha 
19
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
contra 16% para Portugal e 24% para os demais países. Permitiu ainda o acesso irrestrito de 
navios de guerra britânicos aos portos portugueses e concedeu extraterritorialidade judicial para 
os súditos britânicos no Brasil, sem reciprocidade (estabelecimento do juiz conservador da nação 
inglesa) (GARCIA, 2005).
Um ponto do tratado que merece destaque é a questão da extraterritorialidade. Sobre isso, o tratado 
estabelecia o seguinte:
Artigo X. Sua Alteza Real o Príncipe Regente de Portugal, desejando 
proteger e facilitar em seus domínios o comércio dos vassalos da 
Grã-Bretanha, há por bem conceder-lhes o privilégio de nomearem 
e terem magistrados especiais para obrarem em seu favor como juízes 
conservadores [...] (SOARES, 2015, p. 41).
Essa manobra permitiu aos britânicos a conquista do direito de extraterritorialidade, ou seja, 
garantiu aos súditos ingleses em domínios portugueses o direito de julgamento por juízes ingleses. 
Essa determinação em especial mostrou mais do que qualquer outra que Portugal perdera parte de sua 
soberania para entregá-la à Grã-Bretanha.
 Observação
Os tratados são considerados fontes primárias de pesquisa e sua análise 
consiste em técnica muito comum entre os historiadores, usada em menor 
escala entre os profissionais de Relações Internacionais.
É curioso notar que, embora a Coroa permitisse a instalação de manufaturas no Brasil desde 1808, o 
Tratadode Comércio e Navegação dificultou seu desenvolvimento, pois a tarifa mais baixa para produtos 
britânicos tornava mais vantajosa a importação, já que os produtos da Grã-Bretanha chegavam ao 
Brasil com preço mais acessível do que se fossem produzidos aqui.
 Observação
A vinda da família real mudou a vida no Rio de Janeiro: ampliou-se 
o acesso aos livros, um jornal passou a ser editado na colônia, e teatros, 
bibliotecas e academias literárias e científicas foram abertas. Ademais, 
vieram ao Brasil cientistas e artistas estrangeiros, como Saint-Hilaire, 
Montigny, Taunay e Debret.
A figura a seguir satiriza a entrada maciça de produtos ingleses no Brasil após a assinatura por Dom 
João VI do Tratado de Comércio e Navegação de 1810.
20
Unidade I
Figura 3 – Charge
Mas o círculo de convivência de Portugal nesse período não ficou restrito à Grã-Bretanha. Outra 
consequência da vinda da família real foi a transferência dos conflitos com os vizinhos europeus para as 
colônias europeias. Dom João VI concentrou seus esforços na Colônia de Caiena, pertencente à França, 
e no rio da Prata, especificamente na Banda Oriental (atual Uruguai), onde espanhóis e portugueses já 
estavam em conflito desde os últimos decênios do século XVII (VINHAS, 2013).
Na Colônia de Caiena, Dom João VI encontrou uma chance de vingança contra a França pela invasão 
de Portugal. Em 1809, ele ordenou a ocupação da Colônia de Caiena por forças expedicionárias brasileiras, 
no que contou com o apoio britânico. O território foi colocado sob a administração do desembargador 
João Severiano Maciel da Costa, que desenvolveu na região o comércio e a agricultura, importou gado 
de Marajó e organizou os serviços alfandegários (GARCIA, 2005).
Em 1815, com o cessar fogo na Europa, a posse da Colônia de Caienas foi reclamada pela França e, 
no mesmo ano, Luís XVIII levou a reivindicação ao Congresso de Viena. Ficou estabelecido que a Colônia 
de Caiena fosse devolvida à França, respeitando as antigas demarcações de fronteira vigentes antes da 
invasão portuguesa. Então, em 1817, foi assinada a Convenção entre Dom João VI e Luís XVIII restituindo 
Caiena à França (VINHAS, 2013).
Sobre isso, a Convenção disse o seguinte:
Artigo I. Sua Majestade Fidelíssima, achando-se animada do desejo de 
pôr em execução o Artigo CVII do Ato do Congresso de Viena, obriga-se a 
entregar a Sua Majestade Cristianíssima, no prazo de três meses, ou antes se 
for possível, a Guiana Francesa até o rio do Oiapoque [...] 
Artigo II. Ambas as partes procederão imediatamente à nomeação de expedição 
de Comissários para fixar definitivamente os limites das Guianas Portuguesa 
21
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
e Francesa [...] Artigo III. As fortalezas, arsenais e todo o material militar serão 
entregues a Sua Majestade Cristianíssima [...] (SOARES, 2015, p. 44).
Já no rio da Prata, Dom João VI viu uma oportunidade. Após invadir a Espanha, em 1808, no contexto 
das guerras, Napoleão impôs seu irmão José Bonaparte no trono espanhol. Como o governante legítimo 
da Espanha, o rei Fernando VII, estava em cativeiro, sua irmã, Carlota Joaquina, esposa de Dom João VI, 
iniciou negociações com o objetivo de assumir ela própria a regência da Espanha no rio da Prata. Porém, 
a Grã-Bretanha se opôs a esses planos (GARCIA, 2005).
Em 1811, o Paraguai declarou sua independência da Espanha, se desligou também de Buenos Aires 
e fez ruir o Vice-reino do Prata. Nesse contexto, Dom João VI promoveu duas intervenções na Banda 
Oriental do Prata, com o objetivo de anexá-la. A primeira intervenção, na Banda Oriental do Prata, 
ocorreu ainda em 1811, em consonância com os planos da esposa (embora não confiasse nela e achasse 
que ela tendia mais aos interesses espanhóis) e também em razão dos metais preciosos que haviam sido 
descobertos na região; a segunda intervenção aconteceu em 1817. Assim, em 1821, a Banda Oriental foi 
incorporada ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves com o nome de Província Cisplatina (GARCIA, 
2005). Mas essa questão não se resolveria tão cedo e ainda despertaria muitos conflitos na região, 
assunto de que trataremos mais adiante.
Conflitos à parte, o Brasil deixou de ser colônia, pelo menos oficialmente, em 1815, quando Dom 
João VI determinou a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. Mesmo após o 
fim do Pacto Colonial em 1808, o Brasil continuava sendo colônia, tão dependente juridicamente quanto 
as colônias africanas, mas, com essa nova classificação, passava a ter os mesmos direitos que Portugal. Mas 
essa decisão, de elevar o Brasil a reino unido, foi uma estratégia de Portugal (FAUSTO, 2013).
Dom João VI não possuía mais motivos concretos para continuar no Brasil, pois Portugal se encontrava 
livre da ameaça francesa desde 1815, que havia sido contida pelos países europeus. Enquanto a corte 
esteve na colônia, o Brasil ganhou importância de reino e mais expressividade econômica, o que poderia 
significar a sua independência caso a Coroa voltasse para Portugal. Para evitar esse desfecho, Portugal 
transformou o Brasil em parte do Reino, eliminando, assim, as possibilidades de revolução para a 
independência política (VINHAS, 2013).
Em 1818, Dom João VI foi formalmente aclamado rei no Rio de Janeiro, pois D. Maria I falecera dois 
anos antes, passando seu cargo oficialmente ao até então príncipe regente, seu filho. Esse episódio gerou 
descontentamento em Portugal, pois Dom João VI dava a entender que não voltaria a Lisboa, posto que ainda 
estava no Brasil mesmo após a prisão de Napoleão e o fim da ameaça francesa na Europa. Foi apenas com a 
Revolução do Porto, em 1820, que se deu a volta da Corte a Portugal. Tal revolução, de caráter liberal, exigiu 
o retorno do rei e a adoção de uma constituição que limitasse seus poderes absolutistas (FAUSTO, 2013).
Sobre a Revolução do Porto, Fausto (2013) afirmou o seguinte:
Em agosto de 1820, irrompeu em Portugal uma revolução liberal inspirada nas 
ideias ilustradas. Os revolucionários procuravam enfrentar um momento de 
profunda crise na vida portuguesa. Crise política, causada pela ausência do rei 
22
Unidade I
e dos órgãos de governo; crise econômica, resultante em parte da liberdade de 
comércio de que se beneficiava o Brasil; crise militar, consequência da presença 
de oficiais ingleses nos altos postos do Exército e da preterição de oficiais 
portugueses nas promoções. Basta lembrar que, na ausência de Dom João, 
Portugal foi governado por um conselho de regência presidido pelo marechal 
inglês Beresford. Depois da guerra, Beresford se tornou o comandante do 
Exército português (FAUSTO, 2013, p. 112).
A Revolução do Porto foi um movimento ambíguo, pois era liberal, no sentido de enxergar o 
anacronismo da monarquia, e conservador, no sentido de exigir que o Brasil voltasse a se subordinar 
integralmente a Portugal. No fim das contas, Dom João acabou voltando por receio de perder o trono, 
deixando Pedro I, seu filho, como substituto, na figura de príncipe regente do Brasil (GARCIA, 2005).
Nesse momento, ter sido elevado à condição de reino junto a Portugal e a Algarves não mudou a 
situação brasileira na prática. Quando Dom Pedro I deu indícios de que não conseguiria lidar de maneira 
autoritária com as reivindicações liberais aqui existentes, como era a vontade da coroa, foi convocado a 
voltar a Lisboa imediatamente, ordem a que não atendeu. O que o príncipe regente fez, em lugar disso, 
foi proclamar a República e assumir o cargo de imperador do Brasil, iniciando o período conhecido como 
Primeiro Reinado, que perdurou de 1822 a 1831 (FAUSTO, 2013).
Portanto, durante o período joanino as relações internacionais do Brasil mudaram de direção, visto 
que a subserviência em relação a Portugal foi substituída pela subserviência em relação à Grã-Bretanha. 
Todavia, o Brasil também viu a proatividade portuguesa quando das incursões no rio da Prata e na 
Caiena, que pouco tiveram a ver com os britânicos (a Grã-Bretanha, na verdade,chegou a desestimular 
Portugal no tocante a esses avanços expansionistas em territórios espanhol e francês).
2 PRIMEIRO REINADO (1822‑1831)
Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer formalmente a independência do Brasil, o 
que aconteceu em maio de 1824. Naquele ano, José Silvestre Rebelo foi aceito como encarregado de 
negócios em Washington e, no ano seguinte, Condy Raguet foi nomeado representante diplomático no 
Brasil (RICÚPERO, 2011).
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre a presença 
estadunidense no Brasil, leia a obra indicada a seguir.
BANDEIRA, L. A. M. Presença dos Estados Unidos no Brasil. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.
23
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
A Grã-Bretanha já reconhecia informalmente a independência do Brasil, mas demorou a fazê-lo 
formalmente e não por acaso, mas com vistas a pressionar o país pela imediata extinção do tráfico de 
escravos em seu território. Quando a Grã-Bretanha finalmente reconheceu a independência, em outubro 
de 1825, forçou a assinatura, pelo Brasil, de um tratado de comércio e abolição do tráfico de escravos. 
No entanto, esse tratado acabou não sendo ratificado porque o texto não renovava o mecanismo de 
extraterritorialidade britânica, negava o direito de visita a navios suspeitos e era brando quanto a vantagens 
comerciais. Mas, nos anos seguintes, o Brasil viria a assinar tratados que versavam sobre esses mesmos 
assuntos com a Grã-Bretanha, em um deles, inclusive, a recém-independente nação renovou o percentual 
de 15% de imposto de importação para produtos britânicos (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
De todo jeito, nesse meio-tempo, os britânicos serviram como mediadores no reconhecimento da 
nova nação por Portugal, que impôs certas condições antes dessa formalização (FAUSTO, 2013).
O reconhecimento de Portugal veio em agosto de 1825, por um tratado em que o Brasil 
concordou em compensar a Coroa com dois milhões de libras e em não permitir a união de qualquer 
outra colônia com o Brasil. A indenização deu origem a um dos primeiros empréstimos externos 
contraídos pelo Brasil no exterior, empréstimo que foi feito em um banco de Londres. A preocupação 
acerca da união do Brasil com qualquer outra colônia portuguesa advinha do temor, por parte de 
Portugal, de que esse relacionamento viesse a influenciar novos processos de independência na 
África (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Ainda em 1825, México, França e Áustria reconheceram a independência do Brasil, seguidas por 
Suécia, Santa Sé, Suíça, Países Baixos, Prússia e Rússia nos dois anos seguintes. É válido dizer que as 
nações europeias também exigiram do Brasil o imposto de importação de 15% como condição para o 
reconhecimento da independência, ao que Dom Pedro cedeu, comprometendo as finanças do império 
nos dez anos seguintes (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Já a Espanha só cedeu ao reconhecimento em 1835, dois anos após a morte do rei Fernando VII, 
obstinado opositor do reconhecimento da independência dos países da América Latina, o que também 
incluía o Brasil (GARCIA, 2005). Assim, durante todo o período que vai de 1822 a 1831, a inserção 
internacional do Brasil, já independente politicamente de Portugal, mas ainda muito dependente 
economicamente da Grã-Bretanha, se deu a partir das condições impostas pelas nações europeias em 
troca do reconhecimento da independência do jovem império. Tais condições acabaram por prejudicar 
seriamente o Tesouro Nacional (VIZENTINI, 2015).
 Observação
O primeiro a buscar o reconhecimento da independência brasileira 
pela comunidade internacional foi José Bonifácio, um dos raros homens 
públicos da época que negociavam com os britânicos sem insegurança ou 
sentimento de inferioridade. Quando Bonifácio foi afastado do governo, 
em 1823, essa tarefa passou a ser atribuição de Dom Pedro I.
24
Unidade I
2.1 A consolidação da independência
Antes mesmo de proclamar a independência, Dom Pedro I fez publicar o Manifesto aos Governos e 
Nações Amigas, documento no qual o imperador convidava essas nações a manterem com o Reino do 
Brasil as mesmas relações de mútuo interesse e amizade e se mostrava ansioso por estabelecer relações 
diplomáticas com outras nações e por manter os portos nacionais abertos a todas as nações pacíficas. 
Mas isso não bastou, o reconhecimento da independência pela comunidade internacional precisou ser 
negociado (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Duas questões merecem destaque nesse período. Uma delas é que existiam sentimentos de aceitação 
do republicanismo e de negação da monarquia (o Brasil se tornara independente de Portugal, mas sob 
a liderança de um rei português). A primeira ameaça à continuidade da monarquia veio de dentro, 
quando, em Pernambuco, em 1824, a família Andrade, liberal, proclamou a Confederação do Equador, 
um movimento separatista, republicano e simpático aos Estados Unidos, mas que representava uma 
ameaça à unidade nacional da jovem nação. Na época, a figura de Frei Caneca se popularizou enquanto 
representante da oposição ao governo imperial (Cipriano Barata objetiva liderar o movimento, mas já 
havia sido preso por subversão àquela altura) (GARCIA, 2005).
 Observação
Em 1822, o Brasil manteve a monarquia. Já a América espanhola, após a 
independência, se dividiu em muitas repúblicas independentes. Isso mostra 
que, aparentemente, o fato de a monarquia ter sobrevivido à declaração da 
independência evitou a fragmentação da América portuguesa.
A Confederação, que tinha forte caráter antilusitano, queria reunir, sob a forma federativa e 
republicana, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará (Piauí e Pará também faziam parte 
dos planos num segundo momento). No entanto, o movimento não teve condições de se consolidar 
e não resistiu ao avanço das tropas do governo. A resposta de Dom Pedro I foi exacerbadamente 
desproporcional: ele determinou o enforcamento dos líderes da Confederação, inclusive de Frei Caneca, 
o que contribuiu para o desgaste político do rei português (FAUSTO, 2013).
 Observação
A opinião pública condenou Dom Pedro I pela repressão à Confederação 
do Equador. Até mesmo o carrasco encarregado de enforcar Frei Caneca se 
recusou a cumprir seu papel, e o vendedor de canecas acabou tendo que 
ser fuzilado pelas tropas reais.
A figura a seguir mostra as províncias que faziam parte da Confederação do Equador (Piauí e Pará 
não aparecem no mapa porque as ambições em relação a essas duas províncias não foram evidentes 
logo de início).
25
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Figura 4 – Confederação do Equador
É importante mencionar que, na ocasião, os liberais solicitaram ao secretário de Estado 
norte-americano a remessa de uma pequena esquadra ao porto de Recife com vistas a equilibrar forças 
com a Europa, posto que, naquele momento, navios de guerra vindos da Grã-Bretanha e da França já 
estavam atracados na cidade (FAUSTO, 2013).
O pedido dos liberais se apoiou na Doutrina Monroe, a qual difundia a promessa de “América para 
os americanos” (e não para os europeus). Essa política foi declarada em 1823 pelo então presidente 
estadunidense James Monroe com o objetivo de levar a América Latina a acreditar que os Estados 
Unidos estavam dispostos a protegê-la das ambições europeias. A proposta não consistia numa oferta 
desinteressada, pois essa proteção tinha um custo, qual seja, a oportunidade de influenciar diretamente 
o continente. O Brasil foi, portanto, o primeiro país na América do Sul a reconhecer a Doutrina Monroe 
(GARCIA, 2005).
A outra questão consistiu na Guerra Cisplatina. Essa história começou em 1680, quando Portugal 
fundou a Colônia do Sacramento na margem oriental do rio da Prata, uma região estratégica dos pontos 
de vista comercial e militar. Ao longo do século XVIII, a Colônia do Sacramento foi objeto de disputa 
entre Portugal e Espanha (que era a dona do território localizado na margem oposta do rio da Prata), 
até ser oficialmente considerada posse espanhola pelo Tratadode Badajoz, em 1801 (GARCIA, 2005).
Conforme já mencionado, de 1811 a 1816, Portugal promoveu investidas na Banda Oriental, para 
incorporá-la definitivamente em 1821. Em 1823, após a retirada das tropas portuguesas, os argentinos 
pediram a Banda Oriental de volta, ao que Dom Pedro I não assentiu. Em 1825, os uruguaios iniciaram 
26
Unidade I
uma cruzada libertadora contra os brasileiros, que os derrotaram, e os argentinos voltaram a reivindicar a 
posse da região, obtendo como resposta a declaração de guerra pelo Império Brasileiro e o consequente 
início da Guerra Cisplatina, que duraria até 1828. Em 1826, Dom Pedro I decretou o bloqueio do rio da 
Prata por forças navais brasileiras, o que prejudicou o comércio na região e culminou em reclamações 
dos Estados Unidos e da França (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Assim, ainda em 1826, a Grã-Bretanha, a convite da Argentina, passou a mediar o conflito e 
sugeriu a renúncia da Banda Oriental tanto pelos argentinos quanto pelos brasileiros e sua posterior 
independência. O conflito teria como desfecho a independência uruguaia em 1828 e como herança a 
relativa rivalidade entre Brasil e Argentina ao longo dos séculos seguintes. A campanha na Cisplatina, 
considerada desnecessária, também contribuiu para o desgaste da figura de Dom Pedro I (DORATIOTO; 
VIDIGAL, 2014).
 Observação
O Vice-reino do Rio da Prata era composto pelo que hoje são os Estados 
independentes da Argentina, da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai, sendo 
esse último a Banda Oriental. A cidade de Buenos Aires era a sede do 
Vice-reino do Rio da Prata.
Muito se discute acerca da derrota brasileira na Banda Oriental, já que o Brasil possuía superioridade 
militar em relação à Argentina. Sobre isso, Doratioto e Vidigal (2014, p. 12) argumentam:
A esquadra imperial contava com superioridade naval – 13 belonaves 
pesadas contra 19 embarcações mercantes das Províncias Unidas [Argentina 
e outras regiões que viriam a ser países soberanos após a independência da 
Espanha] adaptadas para fins militares –, mas, mesmo assim, não dominou 
as águas platinas. A superioridade, nesse caso, revelou-se relativa, pois 
os navios brasileiros, por seu grande calado, tinham dificuldade em 
manobrar no Rio Uruguai ou muito próximos da costa, enquanto os navios 
argentinos, menores e mais leves, eram mais ágeis nas manobras e podiam 
atuar nessas áreas.
A crise na Cisplatina acabou contaminando as relações comerciais do Brasil. Isso porque a Argentina 
utilizou a tática dos corsários na costa brasileira, que consistia em emitir documentos (as cartas de 
corso) autorizando o destinatário a atacar navios de um Estado inimigo (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Essa tática também acabou por causar um sério desentendimento entre Brasil e Estados Unidos em 
1827, conforme explicam Doratioto e Vidigal:
Aliás, a atividade de corso provocou, inclusive, um incidente entre 
o Império e os Estados Unidos. As relações bilaterais sofriam com as 
tentativas feitas por navios mercantes norte-americanos para romper 
27
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
o bloqueio imposto pela Marinha Imperial ao porto de Buenos Aires. 
Em 1827, em razão de o navio Spark, de bandeira norte-americana e 
acusado de servir como corsário a serviço das Províncias Unidas, ter 
sido apresado por uma belonave brasileira, o representante dos Estados 
Unidos declarou rompidas as relações diplomáticas com o Império do 
Brasil. A situação, porém, foi superada, e, em 1828, o Império e os Estados 
Unidos assinaram um Tratado de Amizade, Navegação e Comércio com 
validade de 12 anos (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014, p. 12).
Como se vê, a Guerra da Cisplatina não teve frutos positivos para o Brasil, que, além de ter perdido 
a região, gastou recursos que já eram escassos e sofreu uma série de efeitos colaterais pela campanha, 
como o estremecimento das relações com os Estados Unidos e a obrigação de indenizar a França pelos 
prejuízos causados pelo bloqueio do rio da Prata.
Assim, mesmo após o amplo reconhecimento da comunidade internacional, mais comprado do que 
conquistado, a independência do Brasil estava em risco por conta das pressões domésticas que vinham 
dos movimentos liberais brasileiros, por causa da forma como Portugal respondia a essas pressões, 
sempre tentando centralizar ainda mais o poder, numa tentativa de abafar toda e qualquer manifestação 
antilusitana, e também em virtude de um avanço desnecessário no sul do país (FAUSTO, 2013).
2.2 A Constituição de 1824
A Assembleia Constituinte já estava programada antes mesmo da declaração de independência. 
Porém, na fala de abertura dos trabalhos, Dom Pedro citou com apreço Luís XVIII, rei francês que tentara 
retomar a monarquia na França logo após a derrota de Napoleão Bonaparte, indicando que ele também 
tentaria seguir pelo caminho centralizador (FAUSTO, 2013).
A Assembleia não era composta de radicais. Cipriano Barata, por exemplo, que poderia representar 
esse radicalismo, optara por não participar dela, deixando os serviços a cargo de seus colegas moderados. 
Outros liberais extremistas, como José Clemente Pereira, Gonçalves Ledo e Januário Barbosa, já estavam 
presos ou exilados, estando assim impedidos de participar dos trabalhos da Constituinte, cujos 
participantes, em sua maioria, defendiam uma monarquia constitucional que garantisse os direitos 
individuais e estabelecesse limites ao poder do monarca (FAUSTO, 2013).
As primeiras desavenças entre a Constituinte e Dom Pedro I não tardaram a surgir, girando em torno 
das atribuições dos Poderes Executivo e Legislativo. Por um lado, os constituintes pressionavam para 
que o imperador não tivesse o poder de dissolver a futura Câmara dos Deputados nem o poder de veto 
absoluto. Por outro lado, o imperador defendia um poder Executivo forte, capaz de enfrentar os “ventos 
democráticos e fragmentadores” de além-mar (FAUSTO, 2013, p. 157).
A disputa culminou na dissolução da Assembleia por Dom Pedro I. Em março de 1824, o imperador 
fez promulgar a Carta Constitutiva do Brasil Imperial, que vigoraria até o final do período imperial e 
que não diferia muito do projeto da Constituinte, exceto pela instituição do Conselho de Estados e da 
criação do Poder Moderador (FAUSTO, 2013).
28
Unidade I
O Conselho de Estados era composto de conselheiros vitalícios nomeados pelo imperador dentre 
cidadãos brasileiros com idade mínima de 40 anos, idade considerada avançada na época, renda não 
inferior a 800 mil-réis e que fossem “pessoas de saber, capacidade e virtude”, ou seja, pessoas capazes de 
assessorar o imperador, que deveria ouvi-los acerca de assuntos importantes, como negócios e guerras 
(FAUSTO, 2013, p. 158).
Já o Poder Moderador, conforme explica Fausto, dava amplas possibilidades de manobra ao imperador:
O Poder Moderador provinha de uma ideia do escritor francês Benjamin 
Constant, cujos livros eram lidos por Dom Pedro e por muitos políticos da 
época. Benjamin Constant defendia a separação entre o Poder Executivo, 
cujas atribuições caberiam aos ministros do rei, e o poder propriamente 
imperial, chamado de neutro ou moderador. O rei não interviria na 
política e na administração do dia a dia e teria o papel de moderar as 
disputas mais sérias e gerais, interpretando “a vontade e o interesse 
nacional”. No Brasil, o Poder Moderador não foi tão claramente separado 
do Executivo. Disso resultou uma concentração de atribuições nas mãos 
do imperador. Pelos princípios constitucionais, a pessoa do imperador foi 
considerada inviolável e sagrada, não estando sujeita a responsabilidade 
alguma (FAUSTO, 2013, p. 131).
A figura a seguir satiriza a Constituição de 1824, marcada pelo Poder Moderador concedido a 
Dom Pedro I.
Figura 5 – Charge
A dissolução da Assembleia Constituinte também contribuiu para o desgaste da imagem de Dom 
Pedro, somando-se aos episódios da repressão desmedida à Confederação do Equador e à campanha 
onerosa e infrutífera no rio da Prata, evidenciando o isolamento do imperador, que tinha perdidoaté 
mesmo a parceria de José Bonifácio.
29
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
2.3 A defensiva durante o período regencial
Em abril de 1831, a crise política obrigou Dom Pedro I a abdicar. Após a abdicação, ele seguiu para 
Portugal e iniciou uma disputa com o irmão absolutista Dom Miguel pelos direitos de sua filha, Maria 
da Glória, ao trono português (GARCIA, 2005).
No Brasil, como Dom Pedro II, o herdeiro ao trono, era menor de idade, regentes passaram a 
governar, situação que perdurou até 1840. Durante o período regencial, o Brasil voltou-se para si mesmo 
e retraiu-se diplomaticamente em virtude da instabilidade política interna, das rebeliões provinciais e 
dos movimentos separatistas que ameaçavam a unidade territorial do país. Tratava-se de num momento 
delicado pra pensar em projetar-se para fora, de modo que as relações internacionais se estagnaram, 
exceto pela influência de pensadores europeus nas rebeliões domésticas que marcaram todo o período 
(DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Ademais da fragilidade do Estado brasileiro, os tratados assinados por Dom Pedro I na década de 
1820 amarravam o país a relações comerciais assimétricas com as potências europeias, o que também 
restringia iniciativas em política externa. Assim, os regentes assumiram posição defensiva em relação a 
três situações (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014):
• à tentativa de expansão europeia em direção ao rio Amazonas;
• à guerra civil no Uruguai;
• à pressão inglesa pelo fim da escravidão.
 Observação
O período regencial foi tumultuado. Em 1831, o Brasil foi governado 
por três regentes: Lima e Silva, Senador Vergueiro e Marquês de Caravelas 
(Regência Trina Provisória). De 1831 a 1835, foi a vez de outros três 
regentes: José da Costa Carvalho, João Bráulio Moniz e Francisco de Lima e 
Silva (Regência Trina Permanente). De 1835 a 1837, o Padre Diogo Antônio 
Feijó assumiu o governo sozinho (Regência Una), tendo sido substituído 
por Pedro de Araújo Lima de 1837 a 1840.
Voltemos um pouco no tempo para falar sobre a Amazônia. Ao tornar-se independente, o 
Brasil se deparou com o problema geopolítico amazônico, uma herança deixada por Portugal. 
Em 1750, a coroa lusa, através do Marquês de Pombal, administrou a Amazônia de forma 
diferenciada, mudando a denominação do estado do Maranhão e Grão-Pará para estado do 
Grão-Pará e Maranhão e transferindo a sede de São Luís para Belém. Essa decisão mostrava um 
interesse especial pela Amazônia. Para demonstrar sua soberania sobre a região, Pombal criou 
ainda a Capitania de São José do Rio Negro, a partir da qual surgiria o estado do Amazonas 
(RIBEIRO, 2005).
30
Unidade I
Em 1772, Pombal dividiu o estado do Grão-Pará e Maranhão em dois, o estado do Maranhão e Piauí, 
com sede em São Luís, e o estado do Grão-Pará e Rio Negro, com sede em Belém. A divisão simbolizava 
uma administração exclusiva para a Amazônia, diretamente subordinada a Lisboa (RIBEIRO, 2005).
Quando da independência, o Estado do Grão-Pará e Rio Negro não fazia parte do novo país que 
assumia sua autonomia e soberania, uma vez que era subordinado diretamente a Portugal. A influência 
dos portugueses na região era considerável: eles controlavam o comércio interno e externo, eram 
proprietários das terras e praticavam o extrativismo. Mesmo diante da independência, os portugueses 
tentaram manter a colônia sob o domínio de Portugal e chegaram a projetar um vice-reinado com 
sede em Belém, compreendendo não apenas a Amazônia, mas também o Maranhão e o norte de Goiás. 
Todavia, os nativos não se conformavam com essa situação e viram na independência a chance de se 
rebelarem contra o domínio luso (RIBEIRO, 2005).
Foi nesse contexto que explodiu, em 1835, a Revolta da Cabanagem, composta em sua maioria de 
índios, escravos, mestiços e outras classes oprimidas. Os revoltosos não chegaram a oferecer um projeto 
alternativo ao Pará, tendo apenas se concentrado no ataque aos estrangeiros e aos maçons e na defesa 
do catolicismo, dos brasileiros, do Pará, da liberdade e de Dom Pedro II (FAUSTO, 2013).
Os cabanos foram descritos por Reis da seguinte forma:
Cabanos eram os caboclos que viviam ao longo dos rios, nos sítios, nos 
pontos de pesca, nas fazendas de cacau, viviam quase à lei da natureza, 
sem qualquer possibilidade de ascensão social, econômica e política, e agora 
vinham cobrar, cheios de ódio, aos bem instalados, aos brancos, que eram 
portugueses ou deles diretamente descendentes, a situação difícil em que 
se encontravam, responsabilizando-os pelo que sofriam (REIS, 1965, p. 55).
É curioso mencionar que a abolição da escravidão não foi proposta pelos cabanos, embora muitos 
dos cabanos fossem escravos. Eduardo Angelim, o jovem seringueiro que liderou a Cabanagem, apesar de 
todo o seu protagonismo ao afastar as intenções inglesas, chegou até mesmo a reprimir uma insurreição 
de escravos na ocasião (FAUSTO, 2013).
 Observação
Não confunda a Revolta da Cabanagem, ocorrida no Pará, com a Guerra 
dos Cabanos, ocorrida em Pernambuco na mesma época. Os cabanos de 
Pernambuco lutaram em nome da religião e do retorno de Dom Pedro I, 
sendo compostos dos mais variados grupos, desde índios e escravos até 
pequenos proprietários e senhores de engenho.
Em 1835, um incidente abriu espaço para investidas inglesas na região. O navio inglês Clio, carregado 
de armas, encomendadas pelo então governador do estado do Grão-Pará e Rio Negro, foi assaltado pelos 
cabanos, que assassinaram a tripulação e saquearam a carga. No ano seguinte, os ingleses exigiram de 
31
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Angelim, o novo governador, a reparação daquele assalto, cobrando uma indenização pela perda da 
embarcação e de sua carga, além de exigir o hasteamento da bandeira inglesa (acima da bandeira 
brasileira), que deveria ser saudada com uma salva de 21 tiros (RIBEIRO, 2005).
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre a presença inglesa 
no Brasil, leia a obra indicada a seguir.
MANCHESTER, A. Preeminência inglesa no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1993.
Angelim foi firme, se recusou a hastear a bandeira inglesa, argumentou que não podia entregar 
os saqueadores sem ordem do governo imperial, assegurou que eles seriam punidos conforme as leis 
nacionais e garantiu que as cargas roubadas seriam indenizadas (REIS, 1965).
Ademais, Angelim também recusou recursos militares do governo dos Estados Unidos da América para 
proclamar a independência da Amazônia, o que evidenciou que a Amazônia quis integrar-se ao Brasil por opção 
e fez questão de dispensar toda e qualquer ajuda externa, a qual sabiam ter algum propósito (CRUZ, 1942).
Apesar de toda a brasilidade da Revolta da Cabanagem, o governo central tratou-a como mais uma 
das revoltas do período que punham em risco a consolidação da independência, repreendendo-a com 
vigor e deixando cerca de quarenta mil mortos, o que correspondia, na época, a aproximadamente 20% 
da população estimada da província. Angelim foi exilado na ilha de Fernando de Noronha (FAUSTO, 2013).
Se Angelim teve uma postura altiva diante das forças externas, a mesma coisa não se pode dizer acerca 
de Feijó, o regente do Brasil de 1835 a 1837. A Amazônia foi muito cobiçada pelas nações estrangeiras na 
época da Revolução da Cabanagem, mas o ápice dessa ameaça ocorreu em janeiro de 1835, quando o Padre 
Feijó propôs a Portugal, França e Inglaterra o envio de cerca de mil soldados para colaborar com o Brasil na 
repressão aos cabanos. A proposta de Feijó evidenciou a irresponsabilidade com que o governo brasileiro 
tratava as questões amazônicas, chegando a colocar em risco a soberania brasileira na região (RIBEIRO, 2005).
 Observação
A proposta de Feijó aos europeus só veio a público recentemente, nos 
anos 2000, quando o pesquisador David Cleary casualmente encontrou, 
num arquivo em Londres, uma carta dirigida pelo embaixador da Inglaterra 
no Brasil, Henry Stephen Fox, em 17 de dezembro de 1835, ao ministro da 
Relações Exteriores da Inglaterra,Lorde Palmerston. Nela Fox narrava que, 
juntamente com o embaixador da França, Mousieur Pantois, havia tido uma 
reunião com o Regente Diogo Antônio Feijó, no dia 17 de janeiro de 1835, de 
caráter secreto, para ouvi-lo sobre uma proposta de contenção dos cabanos.
32
Unidade I
Em 1836, a França tentou uma nova investida. Naquele ano, tropas francesas alegaram que a 
fronteira entre a Guiana e o Brasil era o rio Amazonas e não o rio Oiapoque, conforme fora estabelecido 
nos tratados de Utrecht e reiterado no Congresso de Viena. O Rio de Janeiro se encheu de indignação 
e pediu a ajuda da Grã-Bretanha, que logo conseguiu afastar a presença francesa na região, para, em 
1838, também tentar sem êxito obter um pedaço da Amazônia (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Na questão uruguaia, o Brasil se manteve neutro até 1840. Desde a independência do Uruguai, em 
1828, os partidos liberal e conservador lutavam pelo poder, o que acabou propiciando o desenvolvimento 
de uma guerra civil no país. Não demorou para que a Argentina, a Grã-Bretanha e a França escolhessem 
lados para apoiar no Uruguai, transformando a guerra civil num embate entre federalistas e unitários 
(DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Aos poucos, a história da guerra civil uruguaia se misturou à história da Revolução Farroupilha que 
vinha acontecendo no Rio Grande do Sul, já que Rivera, o então presidente uruguaio, decidiu manter 
comércio e relações amistosas com os farrapos, o que era visto com maus olhos pelo governo brasileiro, 
ansioso por esmagar a ameaça separatista representada pela Revolução Farroupilha. A passividade com 
que o Brasil assistiu a esse entrelaçamento só cedeu lugar à proatividade a partir de 1840, como se verá 
mais adiante (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Na questão escravagista, o Brasil tentou, sem muita vontade, erradicar o tráfico negreiro. A Lei Feijó, 
assinada em 1831 por pressão da Grã-Bretanha, tratou de criminalizar a comercialização de escravos, 
mas logo passaram a se referir a ela como uma lei feita “para inglês ver”, ou seja, uma lei que não tinha 
efetividade. Esse episódio causou um mal-estar entre o Brasil e a Grã-Bretanha, afinal, deu a impressão 
de que o Brasil não se intimidava com as pressões britânicas, tendo inclusive ficado a favor da Argentina 
quando da anexação das Ilhas Malvinas pela Grã-Bretanha (GARCIA, 2005).
Portanto, durante o período regencial, as relações internacionais do Brasil ficaram dormentes, 
relegadas a segundo plano por conta dos muitos problemas domésticos, alguns dos quais envolvendo 
atores externos, ao que o Brasil respondeu com uma postura defensiva.
3 INTERVENCIONISMO E PRAGMATISMO (1840‑1889)
Dom Pedro II simbolizava a convergência de interesses entre o poder central e as oligarquias regionais 
que começavam a despontar. Essas oligarquias se localizavam em Minas Gerais, São Paulo e Rio de 
Janeiro e lograram atingir essa situação privilegiada na hierarquia em virtude de seu envolvimento 
exitoso na indústria cafeeira.
Esse contexto foi essencial para que a política externa brasileira abandonasse a passividade e se 
tornasse mais proativa, conforme explicam Doratioto e Vidigal (2014, p. 16):
A união das elites e a melhoria das finanças imperiais, como resultado 
principalmente das exportações de café, fortaleceram o Estado brasileiro, que, 
durante a década de 1840, construiu uma política externa que implementou 
uma relação qualitativamente distinta da que era mantida com a Grã-Bretanha 
33
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
e com as grandes potências, estabeleceu um critério para a definição de 
fronteiras e criou uma política para o rio da Prata, que persistiu até boa parte 
do século XX. Os objetivos e diretrizes dessa política externa resultaram de um 
processo decisório que, durante essa década, adquiriu racionalidade crescente 
à medida que a própria estrutura do Estado se definiu e se fortaleceu com o 
restabelecimento do Conselho de Estado, com a criação da figura do Presidente 
do Gabinete de Ministros, o que, na prática, estabeleceu o Parlamentarismo, 
e com Dom Pedro II adquirindo experiência política e administrativa para 
manejar esses mecanismos de poder.
Essa guinada permitiu que o Brasil tomasse duas medidas. A primeira foi afugentar o fantasma 
da fragmentação e reafirmar a unidade interna, o que conseguiu mediante concessões aos farrapos, 
que acabaram pondo fim a sua luta separatista e concordando em permanecer como província 
pertencente ao território brasileiro. A segunda foi tomar as rédeas do comércio exterior brasileiro e 
recuperar a autonomia fiscal do reino, perdida em virtude das desvantagens comerciais resultantes 
dos tratados assinados por Dom Pedro I na década de 1820 (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
 Observação
A Revolução Farroupilha animou pela primeira vez o espírito separatista 
do sul do Brasil, onde ainda hoje existem iniciativas independentistas, a 
exemplo do movimento “O Sul é o meu país”, fundado em 1992 na cidade 
de Pomerode, Santa Catarina.
Assim, em 1842, o Tratado de Comércio com a Grã-Bretanha, que havia sido assinado em 
1827, não foi renovado por Dom Pedro II. Essa decisão não foi tomada para eliminar a presença 
comercial inglesa no Brasil, mas apenas para suprimir o privilégio da nação mais favorecida, que 
comprometia a arrecadação do Tesouro Imperial. Em 1845, também não foram renovados os tratados 
de comércio com as outras nações europeias, assinados pelo Brasil em troca do reconhecimento 
da independência. Em lugar disso, Dom Pedro II decretou a Tarifa Alves Branco, que estabeleceu 
uma taxa de 30% de importação para produtos sem similar nacional e de 60% para aqueles que 
tivessem concorrente nacional (CARVALHO, 1988).
 Lembrete
Antes da Tarifa Alves Branco, vigia uma taxa de 15% para o imposto de 
importação sobre produtos ingleses, taxa que acabou sendo estendida aos 
produtos das demais nações europeias como troca pelo reconhecimento da 
independência do Brasil.
Nessa mesma linha, em 1845, o governo imperial também comunicou à Grã-Bretanha que não 
continuaria combatendo o tráfico negreiro, ao que os britânicos responderam com retaliações, como 
34
Unidade I
a Lei Bill Aberdeen, por meio da qual os ingleses tinham carta branca para capturar navios negreiros 
brasileiros e julgar sua tripulação em cortes compostas unicamente por juízes britânicos (FAUSTO, 2013).
Essa mudança de postura mostrou que a monarquia havia sido consolidada no Brasil Imperial após 
um longo período de incertezas políticas e que também a política externa havia tomado novos rumos, 
menos dependentes e mais assertivos.
3.1 A definição dos objetivos externos
O governo imperial definiu objetivos em relação ao tráfico negreiro, à navegação do Amazonas, 
às fronteiras do Brasil com os vizinhos ao norte e ao rio da Prata, assuntos dos quais havia mantido 
distância no período anterior.
Apesar da resistência à Lei Bill Aberdeen, o tráfico negreiro teria que chegar ao fim hora ou outra 
no Brasil. Assim, em 1850, o governo imperial promulgou a Lei Eusébio de Queirós, que finalmente 
pôs fim ao tráfico de escravos no país. A iniciativa amenizou as tensões entre Brasil e Grã-Bretanha, 
embora o governo brasileiro ainda não quisesse ceder em relação a um novo tratado de comércio com 
os britânicos (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Também houve nesse período um estremecimento nas relações com os Estados Unidos, que vinham 
tentando conseguir do governo imperial uma autorização para navegar no rio Amazonas, autorização 
que o Brasil não concedeu, estendendo também a recusa à Grã-Bretanha quando, poucos anos depois, o 
governo inglês solicitou licença para estabelecer a navegação a vapor no rio (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Para evitar conceder esses direitos de navegação, o governo imperial usou estratégias protelatórias, 
conforme explica Garcia (2005, p. 40):
1854 – William Trousdale, novo representante dos EUA, apresenta credenciais 
no Rio de Janeiro com instruções para obter um tratado de comércio e 
navegação que incluísseo acesso de embarcações norte-americanas ao rio 
Amazonas (8 out.). Aumentam as pressões pela abertura do rio Amazonas. 
O Império resiste adotando táticas protelatórias, como a de admitir a 
concessão de direitos de navegação, mediante convenção, somente aos 
ribeirinhos superiores, excluindo os países de fora da região.
Quanto aos países vizinhos, o Brasil tratou de definir as fronteiras. A partir de 1851, o governo imperial 
passou a argumentar que os Tratados de Madri e de Santo Ildefonso, assinados entre Portugal e Espanha no 
século XVIII, haviam se tornado obsoletos. Em seu lugar, o Brasil defendeu o critério de uti possidetis, pelo qual 
o território deveria pertencer ao país que realmente o tivesse ocupado no momento da independência. Assim, o 
Brasil logrou assinar um tratado de limites com o Peru em 1851, mas não teve a mesma resposta da Colômbia e 
da Venezuela, com as quais viria a travar disputas por fronteiras no futuro (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Quanto ao rio da Prata, o Brasil quis definir as fronteiras, garantir que os rios internacionais da região 
pudessem ser navegados por embarcações brasileiras e enfraquecer a Argentina através do apoio às 
independências do Paraguai e do Uruguai, conforme explicam Doratioto e Vidigal (2014, p. 24):
35
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
A livre navegação era vital para o contato regular entre o Rio de Janeiro e 
a província de Mato Grosso, que se encontrava praticamente isolada por 
terra da capital brasileira. O respaldo jurídico para pleitear essa navegação 
era o caráter internacional dos rios Paraná e Paraguai, pois cada uma de 
suas margens pertencia a um país diferente, o que explica a política do 
Império em defesa da independência do Uruguai e do Paraguai em relação 
à Argentina.
Outros três fatores contribuíram para a política de isolamento da Argentina: o econômico, o militar e 
o ideológico. Do ponto de vista econômico, o governo brasileiro objetivava defender o direito de acesso de 
pecuaristas gaúchos ao gado e à terra no Uruguai, o que seria dificultado pela Argentina caso o Uruguai 
se tornasse uma de suas províncias. Do ponto de vista estratégico, a anexação do Uruguai pela Argentina 
tornaria sua fronteira com o Brasil mais extensa, aumentando a vulnerabilidade do território brasileiro 
aos avanços argentinos. Do ponto de vista ideológico, o Brasil se preocupava com o fato de a Argentina se 
tornar uma república grande, forte e bem ao lado do Rio Grande do Sul, onde o republicanismo persistia 
vivo, apesar de controlado (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
 Lembrete
Ao contrário do Brasil, que permaneceu atrelado a uma monarquia 
constitucional após a declaração da independência, as colônias da América 
espanhola declararam a independência e proclamaram a república ao 
mesmo tempo.
As relações com a Grã-Bretanha continuaram sendo assunto delicado. Em 1861, um navio 
britânico naufragou no litoral do Rio Grande do Sul e teve sua carga pilhada. O então representante 
da Grã-Bretanha no Brasil, William Dougal Christie, exigiu do governo imperial uma indenização 
de 6 mil libras esterlinas, que deveria ser paga em até dois anos, e a punição dos envolvidos na 
pilhagem (GARCIA, 2005).
Em 1863, vencido o prazo do ultimato declarado por Christie, navios de guerra britânicos bloquearam 
a Baía de Guanabara e capturaram cinco navios mercantes brasileiros. O Brasil, humilhado, pagou uma 
indenização de 3.200 libras pelo ocorrido em 1861, mas exigiu que Christie deixasse o país e que o 
ministro brasileiro Francisco Inácio de Carvalho Moreira também deixasse Londres. A Questão Christie, 
como ficou conhecido o embate, consistiu no estopim para o rompimento das relações diplomáticas 
entre Brasil e Grã-Bretanha (GARCIA, 2005).
3.2 A política intervencionista na América do Sul
O rio da Prata foi um assunto que constou da agenda de política externa brasileira durante muito 
tempo. Conforme já mencionado, ao longo do período regencial, o Brasil optou por não se envolver nas 
questões da região do Prata e decidiu manter distância da guerra civil que tomou o Uruguai a partir de 
1939 (GARCIA, 2005).
36
Unidade I
A Argentina não guardou postura semelhante. Na década de 1830, Manuel de Rosas, governador 
da província de Buenos Aires, membro da elite rural e produtor de charque, tornou-se ditador do país, 
movido por um nacionalismo antiliberal e pelo combate aos unitários, iniciando assim a disputa pelo 
poder na Argentina entre unitários e federalistas (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Algo parecido acontecia no Uruguai. A guerra civil o embate era entre o Partido Colorado, liderado 
por Fructuoso Rivera e apoiado pelos unitários argentinos, e o Partido Nacionalista, liderado por Manuel 
Oribe e apoiado pelos federalistas argentinos. Quando Rivera tomou o poder, Oribe fugiu para Buenos 
Aires com o apoio de Rosas, contra o qual o Uruguai logo declarou guerra (DORATIOTO, 2014).
E tudo isso aconteceu muito perto da província do Rio Grande do Sul, que também estava em 
convulsão em virtude da Revolta Farroupilha. Essa situação regional preocupava o governo brasileiro, 
que se encontrava de mãos atadas naquele momento.
Sobre esse quadro complexo na região do Prata, Doratioto (2014, p. 24) afirma o seguinte:
Produziu-se, então, uma situação complexa, devido às vinculações da 
disputa interna no Uruguai às lutas políticas na Confederação, entre 
unitários e federalistas; no Brasil, entre farroupilhas e legalistas e, 
ainda, aos interesses da Grã-Bretanha e França, que apoiaram financeira 
e militarmente o governo de Rivera. Este era sustentado pelo setor 
mercantil, defensor do livre-comércio, enquanto Oribe contava com apoio 
dos proprietários rurais e, no plano militar, de Rosas. Este, por sua vez, 
proibira a navegação do rio Paraná pelos navios mercantes estrangeiros, 
que deveriam descarregar e carregar mercadorias no porto de Buenos 
Aires. A aduana deste não era nacional, portanto, os impostos gerados 
pelo comércio exterior argentino enriqueceriam as finanças da província 
de Buenos Aires.
O presidente Rivera mantinha boas relações com os farrapos, o que despertou a desconfiança 
do governo brasileiro em relação à neutralidade do Uruguai na disputa que se travava no Rio 
Grande do Sul. Porém, o Brasil tolerava essa situação porque desconfiava ainda mais das intenções 
de Rosas ao apoiar Oribe, já que, afinal, a Argentina era concorrente do Rio Grande do Sul na 
produção de charque (GARCIA, 2005).
E como, no início da década de 1840, o Brasil não tinha condições de enfrentar militarmente a 
Argentina, motivo pelo qual optou por não apoiar abertamente o Uruguai em sua luta pela consolidação 
da independência, usou uma filial do banco do Barão de Mauá em Montevidéu para conceder 
empréstimos ao governo uruguaio com o aval secreto do Tesouro Imperial. O objetivo disso era provocar 
o rompimento do Uruguai com os unitários argentinos, o que de fato acabou acontecendo (DORATIOTO; 
VIDIGAL, 2014).
37
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre a importância do 
Barão de Mauá para o Brasil, leia a obra indicada a seguir.
GANNS, C. Visconde Mauá: autobiografia. Rio de Janeiro: Zelio Valverde, 1943.
O isolamento argentino permitiu ao Brasil alcançar importantes objetivos no rio da Prata. O governo 
de Rivera, dependente financeira e politicamente do Brasil, assinou um tratado de definição de limites 
territoriais (um documento que foi ditado pelo Rio de Janeiro) e outros acordos que tornaram o Estado 
Oriental ainda mais dependente do Brasil (DORATIOTO, 2014).
E assim foi até 1851, quando o governador de Entre Ríos, uma província da Argentina, com o apoio 
do governo brasileiro, rompeu com Rosas por causa de decisões que a província considerou prejudiciais 
aos seus interesses. Assim, Entre Ríos e Brasil assinaram um tratado de aliança para derrotar Oribe e seus 
aliados, de modo a pacificar o Uruguai. Oribe se rendeu, mas Rosas declarou guerra ao Brasil,que se 
aliou ao governo uruguaio e às províncias de Entre Ríos e Corrientes contra o ditador. Rosas foi vencido, 
pediu asilo em um navio britânico e se exilou na Grã-Bretanha, onde permaneceu até a sua morte 
(DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
A derrota de Rosas afastou a proibição da navegação nos rios da região e também propiciou o 
reconhecimento da independência do Paraguai pelo novo governo da Argentina. Mas, para o Brasil, 
ainda era necessário que a Argentina e o Paraguai aceitassem definir as fronteiras a partir do critério 
do uti possidetis, critério com o qual o Uruguai já havia concordado. O Brasil havia mantido relações 
amistosas com o Paraguai durante a luta contra Rosas, mas isso mudou após a queda do ditador, já que 
o pacifismo foi substituído pela discordância quanto à definição das fronteiras (GARCIA, 2005).
Não obstante os problemas fronteiriços com o Paraguai e a Argentina, o Brasil teve de lidar com a 
existência de dois Estados argentinos, pois a província de Buenos Aires, que havia estado sob a liderança 
de Rosas, se tornou autônoma, recusando-se a obedecer ao novo governo da Argentina, cuja sede era 
agora na província de Entre Ríos. Isso se resolveu em 1862, quando um liberal, Bartolomé Mitre, unificou 
a República da Argentina sob sua liderança (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
 Observação
A luta política entre liberais e conservadores era uma constante na 
região. A diferença é que, nas antigas colônias espanholas, onde não existia 
um poder centralizado, esse embate se transformava em guerra civil e, no 
Brasil, onde os Partidos Liberal e Conservador estavam sob o guarda-chuva 
do Império, esse embate não criava fortes convulsões nas províncias.
38
Unidade I
Mas a década de 1860 não traria a paz para a região. Em 1864, ocorreu outro complexo jogo político 
envolvendo liberais e conservadores nos quatro Estados da região (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). 
Solano López, presidente conservador do Paraguai, influenciado por Bernardo Berro, presidente 
conservador do Uruguai, decidiu invadir o Brasil e, em seguida, a Argentina. Berro havia argumentado 
que, caso os liberais tomassem o poder novamente no Uruguai, que estava mais uma vez em guerra civil, 
este se aliaria ao Brasil e à Argentina, também Estados presididos por liberais, para sufocar o governo 
conservador do Paraguai (DORATIOTO, 2014).
Nas eleições de 1864, os liberais voltaram ao poder no Uruguai. Assim, Uruguai, Argentina e Brasil 
formaram a Tríplice Aliança para derrotar o Paraguai, numa guerra que se arrastou até 1870. No plano 
internacional, o Paraguai havia caído na graça da opinião pública, que lhe era favorável (GARCIA, 2005).
 Observação
A Guerra do Paraguai devastou economicamente o país e dizimou 
cerca de metade da população uruguaia. A maioria dos que sobraram era 
composta de idosos, mulheres e crianças.
Sobre os lados escolhidos pela comunidade internacional, Doratioto e Vidigal (2014, p. 29) explicam 
o seguinte:
Enfrentado três países e isolado no interior do continente, o Paraguai, perante 
a opinião pública europeia e norte-americana, parecia um David lutando 
contra Golias e granjeando simpatia em diferentes países. [...] A Grã-Bretanha 
manteve-se neutra, embora seus diplomatas no rio da Prata fossem avessos 
a Solano López. No caso da França, ocorreu o contrário: a posição desse país 
também era de neutralidade, mas seu Cônsul em Assunção a partir de outubro 
de 1867, Cuverville, era simpático à causa paraguaia.
Curioso mencionar que a Grã-Bretanha, que àquela altura acabara de restabelecer relações diplomáticas 
com o Brasil após a Questão Christie, apesar de ter permanecido oficialmente neutra na Guerra do Paraguai, 
vendeu material de uso militar ao Brasil e emprestou ao governo imperial quase 7 milhões de libras, capital 
usado para a compra de navios e armas para o esforço de guerra (GARCIA, 2005).
Durante a Guerra do Paraguai, o Brasil tentou proteger os Aliados das intervenções externas. Quando 
do conflito que a Espanha travou com o Peru e o Chile, em 1865, o Brasil se declarou neutro, apesar de ter 
protestado formalmente contra o bombardeio de Valparaíso, no Chile, pela esquadra espanhola. Quando 
o Peru pediu para mediar o conflito, em 1867, o Brasil recusou e rompeu relações com o governo ditador 
de Mariano Padro, simpático a Solano López. Quando as repúblicas amazônicas vizinhas se mostraram 
simpáticas à ditadura paraguaia, também em 1867, o Brasil abriu o rio Amazonas e seus afluentes, bem 
como o rio São Francisco, à navegação de navios mercantes de todas as nações (DORATIOTO, 2014).
39
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre a Guerra do 
Paraguai, leia a obra indicada a seguir.
DORATIOTO, F. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2002.
Solano López foi morto em março de 1870, num episódio que pôs um fim formal à Guerra do 
Paraguai. A partir daí, teve início uma nova fase na política externa brasileira. O Brasil passou a ter 
relações cordiais com as grandes potências e também ganhou o respeito da comunidade internacional, 
mas também voltou a ter relações tensas com a Argentina (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Sobre as relações com as grandes potências, Doratioto e Vidigal (2014, p. 31) argumentam o seguinte:
Quanto às grandes potências, não havia mais motivos para atritos com o 
Império, e as relações evoluíram para a cordialidade. Com a Grã-Bretanha, 
não só deixou de haver motivos para que essas relações se crispassem, como, 
ao contrário, havia variadas oportunidades comerciais e de investimentos 
para esse país no Brasil, como nas estradas de ferro, nos serviços urbanos 
e no comércio. As relações com os Estados Unidos também se tornaram 
cordiais, e respaldavam-nas o fato de ser o mercado norte-americano o 
maior consumidor do café exportado pelo Brasil [...].
Sobre as relações com a Argentina, é interessante notar que elas estremeceram antes mesmo do fim 
da Guerra do Paraguai, em 1868, quando os conservadores retornaram ao poder no Brasil e a Argentina 
continuou sob a liderança de um liberal. Isso alertou ambos os lados para o fato de que a aliança entre 
Brasil e Argentina era circunstancial e que, uma vez findo o conflito, cada qual voltaria a defender 
interesses próprios (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
No pós-guerra, os objetivos do Brasil eram garantir a independência do Paraguai e evitar 
que a região do Chaco se tornasse argentina, e, para isso, o Brasil contava com o apoio do 
Uruguai. Em 1871, as tentativas do Brasil e da Argentina de celebrar um tratado geral de paz 
com o Paraguai falharam, o que aumentou as tensões entre os dois países, fazendo com que as 
negociações do Brasil com o governo paraguaio passassem a ser conduzidas separadamente. 
Em 1872, as negociações foram concluídas e o Brasil conseguiu impor ao Paraguai os limites 
territoriais que almejava. Todavia, os acordos em separado contrariavam os termos do Tratado da 
Tríplice Aliança e não foram aceitos pela Argentina. Em 1874, os argentinos voltaram a negociar 
com o Brasil e o Paraguai, perdendo parte da região do Chaco para este. A fronteira entre Brasil 
e Argentina continuou indefinida (GARCIA, 2005).
40
Unidade I
Por fim, é importante mencionar que, após a Guerra do Paraguai, a situação nacional, regional e 
mundial se alterou significativamente. No plano nacional, com a transição do escravismo ao trabalho 
assalariado, entre outros fatores, a monarquia entrou em declínio, o que refletiu negativamente na 
política externa brasileira, que reduziu seu ativismo. Ainda assim, o Brasil priorizou a exportação de café, 
direcionando-a para os Estados Unidos, e trabalhou para atrair imigrantes europeus para as lavouras de 
café brasileiras. Esses imigrantes eram disputados com Estados Unidos e Argentina, tradicionais destinos 
dessa mão de obra (VIZENTINI, 2015).
No plano regional, a Argentina emergiu fortalecida, em plena expansão econômica, e se beneficioudo novo contexto econômico internacional, no qual a Europa demandava alimentos, e os argentinos 
podiam oferecê-los. Assim, a Argentina estreitou relações comerciais com a Grã-Bretanha, e até mesmo 
o Uruguai se beneficiou dessa demanda, enquanto o Paraguai ficou estagnado, incapaz de competir 
com as produções argentina e uruguaia (VIZENTINI, 2015).
No plano mundial, a divisão internacional do trabalho foi alterada. Assim, a arrancada argentina 
também se vinculou ao desencadeamento da Segunda Revolução Industrial na Europa, através da qual 
se deu uma reorientação nas relações entre os países ricos e os países pobres, e a Argentina recebeu dos 
países europeus capitais, imigrantes e novas tecnologias necessárias para o seu adequamento às novas 
necessidades industriais do velho continente (VIZENTINI, 2015).
3.3 O fim do Império
A partir da década de 1870, o republicanismo começou a aflorar no seio da burguesia cafeeira de 
São Paulo, organizada politicamente no Partido Republicano Paulista (PRP) e favorável ao federalismo. 
Essa burguesia estava ressentida pela política imperial iniciada para refrear a escravidão (FAUSTO, 2013).
Em 1871, o governo imperial fez promulgar a Lei do Ventre Livre, tornando livres todas as crianças 
nascidas de escravas africanas a partir daquele ano. Mas essa lei não chegou a produzir efeitos 
impactantes. O movimento abolicionista veio a ganhar força apenas na década seguinte, com o Ceará 
abolindo a escravidão em 1884 e o governo imperial promulgando a Lei dos Sexagenários em 1885 
para esfriar a intensa campanha abolicionista. Em 1888, a princesa regente, Isabel, assinou a Lei Áurea, 
abolindo a escravatura no Brasil, contra a qual grandes latifundiários, cafeicultores paulistas, lideranças 
civis e militares protestaram. Fortaleceu-se aí a conspiração contra a monarquia, que já padecia de 
muito descrédito (GARCIA, 2005).
 Observação
Durante a década de 1880, quando a monarquia começou a ruir, Dom 
Pedro II estava afastado, vitimado pela diabetes e aparentemente sem 
herdeiros viáveis para o torno, já que Isabel era casada com um francês, 
algo pouco indicado para o cargo.
41
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
O movimento republicano no Rio de Janeiro e em São Paulo, as principais províncias do Brasil àquela 
altura, diferia um pouco. Na província do Rio de Janeiro, os republicanos associavam a república à 
maior representação política dos cidadãos, aos direitos e garantias individuais, ao federalismo e ao fim 
da escravidão. Na província de São Paulo, os republicanos focavam mais no federalismo e menos nos 
indivíduos. A abolição da escravatura, por exemplo, era um assunto que se evitava discutir nos círculos 
de convivência do PRP (FAUSTO, 2013).
A defesa da federação fazia muito sentido para São Paulo. Os paulistas reclamavam que sua 
economia vinha crescendo muito, contribuindo cada vez mais com as receitas do Império, mas que 
não recebiam benefícios proporcionais como retorno, tampouco recebiam investimento do Império na 
indústria cafeeira em expansão. Assim, o federalismo tornaria as províncias mais autônomas e menos 
sujeitas ao governo central, dando justiça à província de São Paulo, que se julgava explorada naquele 
momento (FAUSTO, 2013).
Acontece que, no Rio de Janeiro, o movimento republicano não conseguiu formar um partido, a 
exemplo do que acontecera em São Paulo, com o PRP, e em Minas Gerais, com o Partido Republicano 
Mineiro (PRM). Essas duas províncias se revezariam na presidência da República do Brasil a partir de 1889, 
período que ficou conhecido na história brasileira como a república do café com leite (FAUSTO, 2013).
Mas o movimento republicano não ficou restrito aos civis. Nos quarteis, os militares também se 
inflamaram pelos ideais republicanos, movidos pela brusca mudança que marcou a realidade do Exército 
a partir de 1850, quando a baixa remuneração, as pobres condições de vida e a lentidão das promoções 
tendiam a desencorajar os mais ricos a seguir a carreira militar. O novo perfil desses militares do Exército 
era mais revolucionário e recebeu com entusiasmo o republicanismo (FAUSTO, 2013).
Foi nesse contexto de insatisfação que, em junho de 1889, Dom Pedro II convidou o visconde de 
Ouro Preto, um liberal, para formar o novo gabinete e iniciar reformas liberais para refrear o ímpeto 
republicano, mas o Clube Militar, presidido por Deodoro da Fonseca e influenciado pelo positivismo de 
Auguste Comte, já não se deixava mais iludir e começou a pregar a revolta contra o Império, no que teve 
o apoio dos líderes republicanos paulistas e gaúchos (GARCIA, 2005).
 Observação
Auguste Comte (1798-1857) era um pensador francês que considerava 
ser a ditadura republicana, em oposição à república liberal, a melhor forma 
de governo para as condições de sua época.
Assim, em 15 de novembro, Deodoro anunciou a queda do Império e proclamou a República, 
tornando-se chefe do Governo Provisório e reconhecendo todos os compromissos nacionais 
contraídos durante o regime anterior, todos os tratados subsistentes com as potências estrangeiras, a 
dívida pública interna e externa além dos contratos vigentes. Dom Pedro II e sua família se exilaram 
na Europa. A verdade é que a transição se deu de forma muito pacífica, quase natural, sem muita 
resistência do Império (FAUSTO, 2013).
42
Unidade I
Portanto, durante o Segundo Reinado, as relações internacionais do Brasil, agora fora do contexto 
de instabilidade política do período regencial, se tornaram mais proativas e estiveram inseridas na 
dinâmica de conflitos da América do Sul, mais especificamente, da Região do Prata, num contexto em 
que o imperador conseguiu definir objetivos externos em relação ao tráfico negreiro, à navegação do 
Rio Amazonas e às fronteiras do Brasil com os países vizinhos ao norte e ao sul.
4 AMERICANISMO E FRUSTRAÇÃO (1889‑1930)
Diante da queda da monarquia, Argentina, Uruguai e Estados Unidos levaram apenas quatro dias 
para reconhecer o regime republicano no Brasil, seguidos de imediato por outros países americanos. 
Naquele momento, a diplomacia brasileira assumiu uma postura de irmandade e de confraternização 
com os países americanos, contexto no qual o chanceler Quintino Bocaiúva decidiu assinar o Tratado 
de Montevidéu, pelo qual a Argentina e o Brasil concordaram em dividir o território de Palmas. Mas o 
documento enfrentou ferrenha oposição do Congresso Brasileiro e não foi aprovado (GARCIA, 2005).
Quanto aos países europeus, não demoraram para reconhecer o regime republicano brasileiro e não 
exigiram algo em troca, embora a França tenha pensado em condicionar seu reconhecimento à solução da 
questão de limites no Amapá, e a Grã-Bretanha tenha encarado a novidade com restrições (FAUSTO, 2013).
A partir de 1889, mas mais especificamente a partir de 1902, com a ascensão do Barão do Rio 
Branco à chancelaria, a diplomacia brasileira substituiu o relacionamento especial com a Grã-Bretanha 
pelo relacionamento especial com os Estados Unidos. Esse relacionamento evoluiu da seguinte forma 
ao longo da Primeira República: era caracterizado por um americanismo ingênuo antes de Rio Branco, 
um americanismo estratégico durante a gestão de Rio Branco e um pan-americanismo isolado diante 
da frustração com a Liga das Nações na década de 1920 (FAUSTO, 2013).
4.1 A Constituição de 1891
Era preciso construir uma imagem positiva no exterior. Para isso, os líderes do movimento republicano, 
temerosos de que Deodoro se mantivesse no poder e prolongasse uma semiditadura nos moldes pregados 
por Comte, se apressaram em convocar uma Assembleia Constituinte, que fez promulgar o novo texto 
constitucional em 24 de fevereiro de 1891 (FAUSTO, 2013).
A primeira constituição republicana se inspirou no modelo estadunidense e consagrou o federalismo, 
organização administrativa segundo a qual cada estado (antes chamado de província) tinha autonomia 
em relação ao poder central e podia exercer atribuições e ter direitos que antes eram monopolizados 
pelogoverno imperial (FAUSTO, 2013).
 Observação
Estado com “E” maiúsculo se refere a nações (Brasil, Argentina, Chile etc.). 
E estado com “e” minúsculo se refere a unidades da federação (Goiás, Minas 
Gerais, Pará etc.).
43
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Assim, a Constituição de 1891 autorizou os estados a exercer atribuições diversas, como contrair 
empréstimos no exterior, organizar forças militares próprias, decretar impostos sobre a exportação de seus 
produtos e organizar um sistema de justiça próprio. Esse tipo de autonomia foi cobrado principalmente 
pelo estado de São Paulo, cuja possibilidade de contrair empréstimos no exterior significaria colocar em 
andamento a política de valorização do café (FAUSTO, 2013).
Mas o governo federal, que passou a ser chamado de União, não ficou desprovido de poderes, 
podendo cobrar impostos de importação, criar bancos emissores de moeda, organizar as forças armadas 
nacionais e intervir nos estados para estabelecer a ordem. A forma republicana ultrafederalista chegou a 
ser proposta pelo estado do Rio Grande do Sul, mas não interessou nem aos paulistas nem aos militares, 
temerosos de que os excessos colocassem em risco a existência do poder central (FAUSTO, 2013).
A Constituição estabeleceu ainda os Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), o sistema 
presidencialista de governo, o voto direto e universal (exceto dos menores de 21 anos, dos analfabetos, 
dos mendigos e dos praças militares) e a separação entre Estado e Igreja (FAUSO, 2013).
 Observação
A Constituição de 1891 não fez referência às mulheres, mas considerou-se 
implicitamente que elas estavam impedidas de votar.
Separar o Estado e a Igreja significava, a princípio, que apenas casamentos civis teriam validade 
reconhecida. Porém, essa medida tinha ambições maiores, dentre elas facilitar a integração de imigrantes, 
cuja maioria era composta por alemães e protestantes, e não por católicos. Com esse mesmo objetivo, a 
Constituição de 1891 também reiterou a grande naturalização, pela qual os estrangeiros que estivessem 
no país quando da Proclamação da República tornar-se-iam cidadãos brasileiros automaticamente, caso 
não manifestassem o desejo de manter sua nacionalidade (FAUSTO, 2013).
Ainda nessa seara, em 1892, o Brasil sancionou a resolução legislativa que permitia a livre entrada 
no território brasileiro de imigrantes chineses e japoneses, e, em 1895, o Brasil assinou o Tratado de 
Amizade, Comércio e Navegação com o Japão com o propósito de estimular a vinda de imigrantes 
japoneses para o país, no contexto da política de “braços para a lavoura” (GARCIA, 2005).
Apesar de o voto direto ter sido garantido, a Constituição de 1891 também declarou que, 
excepcionalmente, os primeiros presidente e vice-presidente do Brasil seriam eleitos pelo voto indireto da 
Assembleia Constituinte, para depois começarem a ser eleitos pelo voto direto por um período de quatro 
anos. Na prática, a Assembleia elegeu os dois primeiros presidentes, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, 
sendo apenas o terceiro, Prudente de Moraes, do PRP, eleito diretamente pelo povo (FAUSTO, 2013).
Então, o país começou a ser regido por presidentes ora paulistas, ora mineiros, que haviam firmado 
um acordo nesse sentido. Daí a designação República do Café com Leite, utilizada para se referir ao fato 
de que o estado de São Paulo produzia café, e o estado de Minas Gerais, produtos da agropecuária de 
forma geral, inclusive leite (FAUSTO, 2013).
44
Unidade I
Não é difícil imaginar que, quando no poder, o PRP pressionava a União pela valorização do café no 
exterior, e isso causava um mal-estar nos dois outros estados de expressão na República – Minas Gerais e 
Rio Grande do Sul. Àquela altura, a União mantinha relações distintas com os três estados politicamente 
mais influentes da época – as relações com São Paulo eram caracterizadas pelas cobranças paulistas 
pela valorização do café; as relações com Minas Gerais não eram tão direcionadas, visto que o estado 
se dividia entre o café, o gado e a indústria; e as relações com o Rio Grande do Sul eram caracterizadas 
por um distanciamento, pois, nesse estado, os militares estavam mais presentes e acompanhavam com 
desconfiança a República do Café com Leite (FAUSTO, 2013).
Voltando à questão da Constituição, é curioso observar como as duas constituições brasileiras foram 
inspiradas em modelos estrangeiros: a do Império se inspirou na carta constitutiva da França, e a da Primeira 
República se espelhou no texto constitucional dos Estados Unidos da América. Por fim, é importante 
mencionar também que a antiga Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros passou a denominar-se 
Ministério das Relações Exteriores em 30 de outubro de 1891 (GARCIA, 2005).
4.2 O alinhamento ingênuo
No início da Primeira República, não existia um plano definido para a política externa brasileira, mas 
apenas a orientação de rechaçar a forma imperial de se relacionar com o exterior. Assim, na relação 
com os Estados Unidos, o Brasil abandonou a cautela, que havia prevenido a abertura do Amazonas 
para navegação no período anterior, por exemplo, e optou pelo alinhamento irrestrito com o Tio Sam 
(DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Prova disso foi a assinatura do Tratado de Reciprocidade entre os dois países, um acordo aduaneiro 
que os Estados Unidos já haviam proposto e que havia sido recusado pelo governo imperial brasileiro. 
Esse tratado previa a isenção do imposto de importação no Brasil para um conjunto de produtos 
oriundos dos Estados Unidos, enquanto outros países pagariam 35%. Em troca, o açúcar, o couro e o 
café brasileiros estavam isentos de impostos nos Estados Unidos (GARCIA, 2005).
O Tratado de 1891 mostra que as relações entre Brasil e Estados Unidos eram privilegiadas, pois o 
governo brasileiro havia recusado propostas idênticas feitas por países europeus. Ademais, antes disso, 
em 1980, durante a I Conferência Internacional Americana, de iniciativa estadunidense, o Brasil recebeu 
instruções para se alinhar, conforme explica Garcia a seguir:
O republicano Salvador de Mendonça, novo chefe da delegação brasileira 
à I Conferência Internacional Americana, recebe instruções para seguir 
o “espírito americano”, aceitar o arbitramento obrigatório e buscar o 
entendimento com os EUA. A Conferência tem poucos resultados no campo 
econômico, mas cria um Escritório Comercial, em Washington, e estabelece 
o Bureau Internacional das Repúblicas Americanas, organização antecessora 
da OEA (GARCIA, 2005, p. 56).
E esse americanismo não se restringia aos Estados Unidos. Com a Argentina, o Brasil também 
assumiu uma postura de ingenuidade, abandonando o critério do uti possidetis utilizado pelo 
45
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
governo imperial para definir fronteiras com os vizinhos sul-americanos e aceitando a proposta 
do governo argentino para partilhar o território de Palmas. Nesse sentido, é importante pontuar 
que a Argentina não haveria de reconhecer a república no Brasil tão rapidamente não fosse pelos 
interesses relacionados à definição de fronteiras (DORATIOTO, 2014).
 Observação
O critério do uti possidetis declarava como dono do território aquele 
que efetivamente o houvesse ocupado, e não aquele que reivindicasse a 
posse sem ao menos tê-lo explorado.
Mas o Congresso Brasileiro não aprovou o Tratado de Assunção, como já mencionado, e Brasil e 
Argentina concordaram em deixar o litígio territorial sob a arbitragem estadunidense. Os líderes do 
movimento republicano no Brasil não poderiam prever que a política externa brasileira mudaria de 
rumos a partir dessa situação. Acontece que a delegação brasileira encarregada de defender o pleito 
do Brasil em Washington era chefiada pelo barão Aguiar de Andrada, que veio a óbito logo no início 
dos trabalhos. Diante do ocorrido, o então presidente Floriano Peixoto enviou à capital dos Estados 
Unidos, para dar prosseguimento às negociações, José Maria Paranhos Júnior, o Barãodo Rio Branco, 
um sujeito sem experiência diplomática, cheio de convicções monárquicas e não praticante do adesismo 
aos Estados Unidos, mas um verdadeiro estrategista no sentido de não ter hostilizado a arbitragem 
estadunidense (DORATIOTO, 2014).
 Observação
O Barão do Rio Branco era filho do Visconde do Rio Branco, um dos 
estadistas do Brasil Império, de caráter marcadamente monarquista.
Rio Branco representou muito bem o Brasil na questão de Palmas, conforme descreve Doratioto (2014, p. 70):
Dispondo de uma equipe de colaboradores, Rio Branco trabalhou em 
ritmo exaustivo e escreveu a exposição da posição brasileira. A questão era 
basicamente cartográfica, a de identificar os rios de cabeceiras opostas, 
denominados Peperi-Guaçu e Santo Antonio, que desaguavam no Iguaçu e 
no Uruguai. A polêmica resultava do equívoco de demarcadores espanhóis, 
da segunda missão demarcadora da década de 1750, que induzia a crer que 
aqueles dois rios de cabeceiras opostas eram, na realidade, o Chapecó e o 
Chopim. Pesquisas orientadas por Rio Branco levaram à descoberta, na Espanha, 
do original Mapa das Cortes, de 1749, que orientou as negociações do Tratado 
de Madri, e da Instrução aos Demarcadores espanhóis de 1758. Os originais 
demonstraram que não eram fiéis cópias desses documentos aquelas usadas 
pelo lado argentino para embasar sua posição. Esta não resultava de má-fé, 
mas, sim, dos erros do trabalho de cópia realizado anteriormente.
46
Unidade I
Dois anos depois, a arbitragem estadunidense foi favorável ao Brasil, e, mais tarde, até mesmo a 
Argentina reconheceu que Rio Branco tinha razão. Esse episódio fez com que Floriano Peixoto retomasse 
o objetivo de conter a influência argentina no Rio da Prata, apoiando e financiando um golpe de Estado 
no Paraguai em 1894 para evitar a eleição de José Segundo Decoud, simpático ao governo argentino e, 
diz-se, favorável à incorporação do Paraguai pela vizinha (DORATIOTO, 2014).
De toda forma, em 1894, quando Prudente de Moraes assumiu a presidência, a presença brasileira no 
Rio da Prata era discreta, pois, no plano interno, o governo estava preocupado em enfrentar a Revolução 
Federalista e a Revolta de Canudos e, no plano externo, enfrentava problemas financeiros e comerciais, 
além de sofrer ameaças à soberania territorial, vinda do norte do país (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Em 1899, quando Campos Sales assumiu a presidência, recebeu no Rio de Janeiro a visita do Chefe de 
Estado da Argentina e retribuiu a visita em 1900, indo a Buenos Aires. As visitas oficiais demonstravam 
que Brasil e Argentina intencionavam manter a cordialidade em suas relações (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Também foi na gestão Sales que a Questão do Acre se agravou. O Acre havia sido declarado boliviano 
pelo Tratado de Limites, assinado em 1867 entre a Bolívia e o Brasil. Naquela época, o governo imperial 
aceitou que a linha de fronteira da região era determinada pelos Tratados de Madri (1750) e de Santo 
Ildefonso (1777). Porém, o Tratado de Santo Ildefonso foi anulado pela guerra entre Espanha e Portugal, 
e o Tratado de Badajoz (1801) não o revalidou, o que levou o Brasil a não aceitar aqueles dois Tratados 
do século XVIII para a definição de limites e a recorrer ao critério do uti possidetis (GARCIA, 2005).
Mas por que esse critério foi aplicado pela diplomacia imperial para definir fronteiras com os 
vizinhos, mas não foi aplicado quanto ao Acre em 1867? Porque a Guerra do Paraguai se encontrava 
em seu segundo ano sem perspectiva de vitória para os Aliados, e, para obter a neutralidade da Bolívia 
no conflito, o Brasil aceitou os Tratados de 1750 e de 1777, evitando assim que o governo boliviano 
fornecesse armas ou soldados para o lado paraguaio (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
O critério de efetiva ocupação realmente fazia sentido no caso do Acre. Ali, não havia autoridades 
bolivianas nem ocupação econômica por pessoas dessa nacionalidade, mas, sim, milhares de brasileiros 
que lá se instalaram para explorar o látex. Em 1899, os brasileiros ali instalados declararam a 
independência do Acre e solicitaram sua incorporação ao Brasil, a qual foi recusada. Em 1901, a Bolívia, 
impossibilitada de impor sua soberania sobre a região, arrendou-a ao Bolivian Syndicate, um consórcio 
anglo-americano com sede em Nova York. Essa entidade acabou tendo na região vantagens típicas das 
companhias privilegiadas que existiam na África (GARCIA, 2005).
O governo brasileiro temia essa presença tão próxima da Amazônia, capaz de atrair para a região 
interesses de governos e empresários aventureiros da Europa e dos Estados Unidos, especialmente quando 
já havia ficado evidente a capacidade de influência do imperialismo na África e na Ásia (DORATIOTO; 
VIDIGAL, 2014).
O ápice da Questão do Acre coincidiu com o ingresso do Barão do Rio Branco na chancelaria brasileira, 
em 1902, após o que esse problema se resolveria definitivamente, conforme veremos a seguir.
47
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Por fim, vale enfatizar que, fora do âmbito americano, pretensões francesas e inglesas também 
colocaram em risco a soberania nacional. Em 1894, a França tentou estender o território da Guiana 
das margens do rio Oiapoque até as margens do rio Amazonas. Dois anos mais tarde, Brasil e França 
concordaram em levar o problema à arbitragem da Suíça, sendo o chefe da delegação brasileira, mais 
uma vez, o Barão do Rio Branco. Nossa delegação obteve nova vitória para o Brasil, e o rio Oiapoque foi 
definido como fronteira entre o Amapá e a Guiana, conforme expresso no Tratado de Utrecht, de 1713 
(GARCIA, 2005).
 Observação
Após a vitória na Questão do Amapá, Rio Branco foi recompensado pelo 
governo brasileiro com uma pensão anual vitalícia no valor de 24 contos de 
réis, extensiva a filhos e filhas, e um prêmio de 300 contos de réis.
Em 1897, o governo brasileiro propôs a divisão do território da Guiana Inglesa (também conhecido 
como Pirara) com a Grã-Bretanha, que não aceitou a proposta. Em 1899, os governos brasileiro e 
britânico decidiram levar o litígio territorial à arbitragem da Itália, um processo que levaria quatro anos 
para se definir e só teria seu desfecho já na gestão de Rio Branco (GARCIA, 2005).
4.3 O alinhamento estratégico da década de Rio Branco
Em 1902, o Barão do Rio Branco foi nomeado chanceler. Seu primeiro desafio foi reivindicar o 
território do Acre com base na reinterpretação do Tratado de 1867. Nesse sentido, o governo brasileiro 
tratou de tomar duas medidas:
• proibiu a navegação nos rios amazônicos por embarcações estrangeiras, o que atrapalhou o 
Bolivian Syndicate a escoar o látex explorado pelo Rio Amazonas até o Oceano Atlântico;
• compensou os especuladores do Bolivian Syndicate com 100 mil libras, o que afastou o risco de 
intervenção dos Estados Unidos e da Inglaterra na questão (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
A partir daí, o Barão foi negociar diretamente com a Bolívia, conforme descrevem a seguir Doratioto 
e Vidigal (2014, p. 45):
Rio Branco iniciou negociações com a Bolívia em uma posição de força, 
valendo-se de argumentos históricos, geográficos e políticos para levá-la 
a reconhecer a soberania brasileira sobre o Acre. Para se chegar a um 
acordo, o Brasil pagou à Bolívia 2 milhões de libras esterlinas e cedeu-lhe 
pouco mais de 2 mil quilômetros quadrados, entre os rios Abunã e 
Madeira, o que permitiria aos bolivianos acessar o rio Amazonas e, assim, 
alcançar o Atlântico, e, para viabilizar esse acesso, o governo brasileiro 
comprometeu-se a construir uma ferrovia entre os rios Madeira e Mamoré. 
Outra pequena concessão territorial brasileira à altura da Bahia Negra 
48
Unidade I
permitiria o acesso boliviano ao Atlântico também pelo rio da Prata, por 
meio da navegação dos rios Paraguai e Paraná. Pelo Tratado de Petrópolis, 
de 17 de novembro de 1903, o governo boliviano reconheceu a soberania 
brasileira sobre o Acre.
Cumpre lembrar que a mesma sorte que o Brasil teve nas Questões do Amapá e do Acre não se 
repetiuno litígio da Guiana Inglesa. Em 1904, o rei da Itália, Vitor Emanuel III, árbitro da disputa da 
Pirara (Guiana Inglesa) entre Brasil e Grã-Bretanha, decidiu dar mais território aos britânicos do que 
eles haviam reclamado originalmente, o que pegou a delegação do Brasil de surpresa, já que Joaquim 
Nabuco, seu líder, gastara quatro anos para preparar uma defesa muito bem construída do ponto de 
vista técnico-jurídico (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
A figura a seguir mostra o território reivindicado pelo Brasil e o território que o rei Vitor Emanuel 
acabou concedendo ao governo brasileiro após a arbitragem.
Questão do Pirara
Área contestada
Área arbitrada ao Brasil
Área arbitrada á Guina Britânica
Figura 6 – Arbitragem da Itália na Questão Pirara
Mas a maior ameaça ao Brasil, naquela época, vinha das potências europeias, desejosas de se 
aproximarem da Amazônia brasileira, como havia ficado claro nas Questões do Amapá e do Acre. 
Pensando nisso, Rio Branco aprofundou o movimento de aproximação existente entre Brasil e Estados 
Unidos como forma de defender os interesses brasileiros e afastar as ambições europeias, fosse as que 
49
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
vinham diretamente da Europa ou fosse as que vinham da Europa por meio da Argentina, satélite 
britânico naquele momento (BUENO, 2003).
Para Rio Branco, o Brasil guardava uma posição de destaque na América do Sul, mas, para assumir 
esse lugar, precisava superar os problemas que limitavam sua ação internacional – quais sejam, a 
definição de fronteiras e a reconquista de sua credibilidade perante a comunidade internacional. Isso 
teria de ser alcançado mediante o redirecionamento da política externa brasileira da área de influência 
europeia para a área de influência estadunidense (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Na América do Sul, a política externa de Rio Branco tinha como princípios básicos a abstenção nos 
assuntos internos das nações vizinhas e o prestígio aos governos constitucionais, quaisquer que fossem 
eles. Já no início de sua gestão, Rio Branco teve a oportunidade de levar a cabo essa nova orientação da 
política externa (DORATIOTO, 2014).
Em 1903, no Uruguai, os conservadores se revoltaram contra o governo dos liberais, no poder há 
mais de três décadas. Os liberais uruguaios eram mais simpáticos ao Brasil, e os conservadores uruguaios 
eram mais simpáticos à Argentina. A situação acabou sendo controlada, mas essa trégua não duraria 
muito (DORATIOTO, 2014).
Em 1904, os conservadores se rebelaram novamente contra os liberais, dando início a uma nova 
guerra civil no Uruguai. Diante da situação, Rio Branco guardou postura cautelosa, decidindo não intervir 
em favor do governo uruguaio, apesar de suas boas relações com o Brasil, enquanto as autoridades 
argentinas mostravam certa inclinação aos rebeldes, ainda que discretamente. A revolta conservadora 
acabou sendo contida, e a postura do Barão também garantiu a neutralidade do Rio Grande do Sul, 
estado que historicamente se posicionava favoravelmente aos liberais uruguaios, fato que confirmou 
que Rio Branco agira com assertividade (RECKZIEGEL, 1999).
Mas um episódio complicaria essa situação. Em 1904, no Paraguai, os liberais iniciaram um 
movimento armado para depor o então presidente Juan Escurra, de tendência conservadora. Nesse caso, 
ao contrário do que acontecera no Uruguai, a Argentina se envolveu diretamente em favor dos liberais, e 
Rio Branco, reconhecendo a inferioridade militar e econômica do Brasil em relação à Argentina naquele 
momento e pensando num equilíbrio de poder com a vizinha, decidiu não oferecer apoio militar ao 
governo paraguaio (DORATIOTO, 2014).
Isso evitou a vitória da revolução liberal no Paraguai. Na verdade, a metáfora de Batalla (2005), 
explicada por Doratioto, ilustra bem a estratégia de Rio Branco:
[...] o Paraguai era o “gambito do rei” no xadrez geopolítico armado por 
Rio Branco, sendo sacrificado à influência de Buenos Aires, em favor do 
entendimento argentino-brasileiro. Ademais, no tabuleiro havia também 
o Uruguai, que se inclinava a favor do Brasil no Prata e ao qual Rio 
Branco concedeu o condomínio da Lagoa Mirim, em 1909, permitindo 
contrapor os ganhos de influência argentina no Paraguai e garantindo 
um equilíbrio de forças no Rio da Prata. Na América do Sul, porém, 
50
Unidade I
caso se concretizasse o plano de Rio Branco, o Brasil teria posição de 
liderança, graças às históricas relações de amizade do Brasil com o Chile, 
em contraste com as também históricas desconfianças entre chilenos e 
argentinos. Ademais, as relações privilegiadas entre o Brasil e os Estados 
Unidos constituíam outro instrumento em favor da liderança brasileira 
(DORATIOTO, 2014, p. 82).
A postura de Rio Branco, buscando um equilíbrio com a Argentina, se devia a dois fatores: por um 
lado, o chanceler temia que o Brasil sofresse a invasão das potências expansionistas, perdendo sua 
autonomia ou parte de seu território (esse temor se fundamentava nos episódios do Acre, do Amapá 
e da Guiana Inglesa); por outro lado, o Barão reconhecia a debilidade econômica e militar do Brasil no 
início do século XX, quando a Argentina era só prosperidade (BUENO, 2003).
Apesar dessa distensão, em 1906, Brasil e Argentina vivenciaram uma das piores experiência em 
seu relacionamento bilateral ao longo de todo o século XX. Acontece que Brasil e Argentina, antes 
de representarem ameaças mútuas reais, projetavam-se como ameaças mútuas reais e, portanto, 
armavam-se um contra o outro diante da iminente agressão. A partir de 1905, o Brasil passou a 
rearmar-se, assim como a Argentina, iniciando uma corrida armamentista (VIANA FILHO, 1959).
Em 1908, Rio Branco, ainda que temeroso da reação argentina, que poderia interpretar aquilo como 
uma ameaça, solicitou a fornecedores britânicos munições para a esquadra brasileira e, para se precaver 
de uma possível má interpretação argentina, solicitou também navios de guerras, submarinos e dois 
encouraçados. A Argentina realmente interpretou as solicitações de Rio Branco como uma ameaça e 
se convenceu de que o Brasil buscava isolá-la e de que nossa modernização naval tinha como alvo os 
argentinos (VIANA FILHO, 1959).
Nesse contexto, Estanislao Zeballos, então chanceler argentino, se aproximou do Chile como uma 
tentativa de nos isolar e exigiu que o Brasil cedesse à Argentina um dos encouraçados que encomendara 
aos britânicos, ameaçando declarar guerra caso o Brasil se recusasse a cooperar. Mas o plano não 
ganhou a concordância dos demais colegas de Zeballos e acabou chegando às mãos da imprensa 
(ETCHEPAREBORDA, 1978).
Outro acontecimento veio a piorar a situação de Zeballos, conforme explica Doratioto (2014, p. 92):
Agravando a situação de Zeballos, houve o caso do telegrama cifrado 
número 9. Datado de 17 de junho de 1908, o telegrama enviado pela 
chancelaria brasileira à Legação brasileira em Santiago, transitou 
pelo telégrafo argentino, onde foi interceptado e, supostamente, 
decodificado, revelando um texto com intenções hostis do Brasil com 
relação a Argentina. Rio Branco escreveu a seu representante em Buenos 
Aires, que desejava pôr fim ao “embuste” e ordenou que se conseguisse 
uma cópia do texto em poder de Zeballos. Domício da Gama a obteve 
e, simultaneamente, o chanceler brasileiro ordenou às Legações na 
Argentina e no Chile que pedissem aos governos desses países as cópias 
51
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
do texto cifrado do telegrama número 9, fornecidas pelas respectivas 
repartições telegráficas. De posse desses documentos, Rio Branco tornou 
público o código utilizado pela Chancelaria brasileira e o verdadeiro 
conteúdo do citado telegrama. Nele Rio Branco afirmava: “sempre vi 
vantagens numa certa inteligência política entre o Brasil, o Chile e a 
Argentina, e lembrei por vezes sua conveniência”, completando que 
Zeballos obstaculizava esse entendimento.
O fato é que Zeballos já sofria forte oposição no Congresso Argentino em virtude das herançasdeixadas por Mitre e Roca, ex-presidentes da Argentina, favoráveis ao entendimento com o Brasil. 
Quando o plano bélico e a tentativa de falsear o conteúdo do telegrama de Rio Branco vieram à tona, o 
então presidente argentino, José Alcorta, foi obrigado a exonerar Zeballos (DORATIOTO, 2014).
Na gestão seguinte a de Alcorta, a de Roque Sáenz Peña, a Argentina adotou postura receptiva 
ao Brasil, pois também considerava que o caminho para a paz no continente deveria passar pelo 
entendimento entre os governos argentino e brasileiro. Sáenz Peña queria constituir uma hegemonia 
dual, argentino-brasileira, para equilibrar o peso dos Estados Unidos no continente. Sob seu governo, as 
relações Brasil-Argentina atingiram um de seus melhores momentos até então, mesmo que o governo 
brasileiro não compartilhasse da rivalidade em relação aos Estados Unidos (SCENNA, 1975).
Essa rivalidade em relação ao gigante do norte vinha do fato de que ambos os países tinham 
economias concorrentes no mercado internacional, produtoras de alimentos e de matérias-primas 
similares. Portanto, a resistência dos governos argentinos ao pan-americanismo dos Estados Unidos 
correspondia à defesa do comércio da Argentina com a Europa (BANDEIRA, 1987).
Em 1911, nesse contexto de distensão, Sáenz Peña enviou um missionário ao Brasil para negociar o 
fim da corrida armamentista entre os dois países, ocasião da qual surgiu um plano de ação comum entre 
os dois países e o Chile para assegurar a paz na América do Sul. Esse entendimento permitiu às duas 
nações não reacender a rivalidade durante a crise política do Uruguai (1910) e a guerra civil no Paraguai 
(1911-1912), episódios que pareciam se repetir periodicamente (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Por fim, se faz necessário descrever a atuação de Rio Branco nos planos continental e internacional. 
No plano continental, o Barão ampliou a participação brasileira no continente a partir da aproximação 
com os países hispânicos, possibilitada pelas conferências pan-americanas. O chanceler esteve presente 
na Conferência do México (1902), organizou a III Conferência do Rio de Janeiro (1906) e marcou 
presença na Conferência de Buenos Aires (1910), eventos que tiveram poucos resultados práticos, mas 
que serviram para promover o diálogo e a aproximação num momento em que persistiam os conflitos 
no continente. No plano internacional, o Barão enviou Rui Barbosa como representante à II Conferência 
de Haia (1907) (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Rio Branco faleceu em 1912, ainda exercendo o cargo de chanceler. Como legado, deixou ao Brasil o 
resgate da autoestima da política externa e a certeza de que era possível, para um país da grandeza do 
Brasil, se alinhar sem se humilhar, assim como afirmara José Bonifácio no século anterior.
52
Unidade I
4.4 As frustrações da década de 1920
Lauro Muller substituiu Rio Branco. O novo chanceler resolveu a questão da dívida pública do Uruguai 
com o Brasil, regulamentou a situação da Lagoa Mirim e regeu, com a Argentina e o Chile, a intervenção 
no conflito entre os Estados Unidos e o México (DORATIOTO, 2014).
Em 1914, os Estados Unidos promoveram uma intervenção armada no porto de Vera Cruz, no México, 
o que ocasionou o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países. Logo os Estados Unidos 
pediram ao Brasil que sua Legação no México ficasse encarregada dos interesses estadunidenses com os 
mexicanos e obtiveram de Miller a resposta de que o Brasil articularia, em coordenação com a Argentina 
e o Chile, uma solução para a situação com o México (DORATIOTO, 2014).
 Observação
Legação é a representação diplomática de um Estado em outro, menos 
importante do que a Embaixada, que só passou a substituir a Legação a 
partir do começo do século XX. A primeira Legação Brasileira a ser elevada 
à categoria de Embaixada foi a de Lisboa, em 1914.
Tal solução foi negociada na Conferência de Niagara Falls no mesmo ano, o que pôs fim à crise e criou 
a confiança necessária para que Argentina, Brasil e Chile assinassem, no ano seguinte, o Tratado de Cordial 
Inteligência Política e Arbitragem, por meio do qual os três países se submeteriam a uma comissão permanente 
para resolver as controvérsias surgidas entre si sem a necessidade de pegar em armas. O Tratado acabou 
evidenciando que os três países, mesmo tendo tido divergências no passado, estavam prontos para estreitar 
relações. No fim das contas, o Congresso Argentino não ratificou o documento, mas o episódio mostrou que 
poderia existir cooperação mais efetiva entre Argentina, Brasil e Chile (GARCIA, 2005).
O maior desafio de Muller seria posicionar o Brasil na Primeira Guerra Mundial. O Brasil, embora 
tenha se declarado neutro incialmente, foi o único país latino-americano a participar da Primeira 
Guerra. A Argentina se manteve neutra, o Uruguai rompeu relações com a Alemanha em 1917, e o 
Paraguai também se manteve neutro, mas declarou solidariedade aos Estados Unidos. O que precipitou 
a entrada do Brasil no conflito, em 1917, foi o ataque alemão ao paquete Paraná, ao que se seguiu a 
revogação do decreto de neutralidade brasileira, o arresto de 46 navios mercantes alemães nos portos 
nacionais, o ataque ao quarto navio brasileiro, o Macau, e o reconhecimento do estado de guerra pelo 
Brasil (GARCIA, 2005).
Muller renunciou ao cargo de chanceler logo após o ataque ao paquete Paraná, pois foi acusado de 
germanófilo pelos simpáticos aos Aliados no Brasil, e foi substituído pelo ex-presidente Nilo Peçanha, o 
qual adotou uma postura mais beligerante em relação à Alemanha, tendo partido dele a revogação da 
neutralidade brasileira (GARCIA, 2005).
Sobre a participação brasileira na Primeira Guerra Mundial, Garcia explica que se tratou de uma 
campanha mais simbólica do que efetiva:
53
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
A contribuição do Brasil à guerra, além do fornecimento de suprimentos aos 
aliados, consistirá basicamente no envio de dez aviadores à Grã-Bretanha, 
de uma missão médica à França (hospital em Paris) e de uma frota de seis 
navios, a Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG), que atrasou-se em 
Dacar e não chegou a tomar parte nas hostilidades (GARCIA, 2005, p. 68).
Simbólica ou não, a participação no conflito rendeu ao Brasil o direito de participar da Conferência 
de Paz de Versalhes, em que foi eleito membro provisório do Conselho Deliberativo da Sociedade das 
Nações, também conhecido por Liga das Nações, organismo antecessor à Organização das Nações 
Unidas (ONU) criado para gerenciar a segurança coletiva e manter a paz mundial (DORATIOTO, 2014).
A participação no Conselho da Sociedade das Nações entusiasmou o Brasil, que passou a se julgar 
demasiado importante no cenário internacional e a se interessar mais pelas potências do que pela 
América do Sul. Essa postura causou o isolamento do Brasil na V Conferência Pan-Americana, realizada 
em Santiago, em 1923, na qual a delegação brasileira discordou da proposta de desarmamento coletivo 
e defendeu que os recursos militares de um país deveriam ser proporcionais ao tamanho de seu território 
(DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
O intuito da posição brasileira era conter a corrida armamentista no Chile e na Argentina, bem 
equipados belicamente, e justificar a modernização bélica do Brasil, em inferioridade estratégica e com 
armamento obsoleto. Mas os argumentos brasileiros geraram desconfianças quanto às intenções do 
Brasil e a proposta que acabou vencendo foi a do delegado paraguaio Manoel Gondra, a qual consistia 
em se reforçar o arbitramento como instrumento para evitar a guerra (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
O isolamento brasileiro e a falta de sintonia entre o Brasil e a América do Sul ficariam evidentes 
também na VI Conferência Pan-Americana, realizada em Havana, em 1928, na qual o Brasil se mostrou 
contrário aos países latinos quando eles se ergueram para criticar os frequentes episódios de intervenção 
dos Estados Unidos na América Central e no Caribe (DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
Mas foi dentroda Liga que o Brasil sofreu o golpe mais impactante. Os governantes brasileiros se 
mostravam iludidos pelo “complexo de importância” logo após a Primeira Guerra Mundial e acreditavam 
que a Liga das Nações seria o elemento propulsor de uma nova ordem internacional, na qual os Estados 
teriam todos os mesmos direitos e os mesmos deveres, independentemente de seu poder nacional 
(DORATIOTO; VIDIGAL, 2014).
A Liga já nasceu fraca, pois não contou com a presença de três importantes países – Estados Unidos, 
Alemanha e Rússia –, conforme explicam Doratioto e Vidigal (2014, p. 52):
Embora o promotor da criação da Liga das Nações tenha sido o presidente 
norte-americano Woodrow Wilson (1912-1921), os Estados Unidos não 
participaram dela em razão da postura isolacionista adotada pelo Congresso 
daquele país no pós-guerra. A Rússia, por sua vez, estava ausente porque as 
potências ocidentais impuseram o isolamento ao regime comunista instalado 
em Moscou. Já a ausência da Alemanha era consequência do tratamento de 
54
Unidade I
país derrotado dado por seus inimigos na Primeira Guerra, particularmente 
pela França, de modo que o país foi alijado da Ligas das Nações por ser esta 
usada pela França e pela Grã-Bretanha como instrumento de defesa de seus 
interesses e não para a construção de uma nova ordem internacional.
Como se vê, do tripé que deveria compor a Liga, apenas a Alemanha não havia sido convidada. Essa 
decisão foi um erro, como também fora um erro o próprio Tratado de Versalhes, responsável por impor 
pesadas retaliações à Alemanha. Quando da Conferência de Paz em 1918, a delegação da Grã-Bretanha, 
na figura do economista John Maynard Keynes, tentou em vão alertar Georges Clemenceau, o então 
primeiro ministro francês, tomado de forte sentimento revanchista, sobre as consequências de impor 
tamanha carga aos alemães, que, querendo ou não, compunham o eixo dinâmico da economia europeia 
do século XX. A visão de Clemenceau acabou vencendo, e a Alemanha também foi impedida de ingressar 
na Liga (SARAIVA, 2007).
 Observação
O Tratado de Versalhes declarou a Alemanha como a única culpada 
pela Primeira Guerra Mundial e lhe impôs pesados castigos (pagamento 
de indenização pelos danos causados aos países envolvidos, divisão de 
colônias entre franceses e ingleses e proibição de se armar).
A figura a seguir satiriza a ausência dos Estados Unidos na Liga das Nações e a consequente fragilidade 
da nova organização diante da falta da “pedra-chave” na “ponte” que levaria ao novo mundo.
Figura 7 – Charge
55
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
Mas as potências logo perceberam que aquilo tudo era erro, ou seja, isolar a Alemanha era um erro, pois 
abria espaço para a instabilidade política na Europa. Foi assim que, em 1925, num contexto de distensão 
entre a França, então presidida por Aristide Briand, e a Alemanha, então presidida por Gustav Stresemann, 
os Tratados de Locarno puseram fim ao isolamento alemão e abriram caminho para que a Alemanha 
ingressasse na ONU. Esse contexto de distensão os franceses chamam de détente (SARAIVA, 2007).
 Observação
Détente é uma palavra utilizada pelos franceses para se referir a 
distensão ou relaxamento, uma situação caracterizada pela aproximação 
entre dois ou mais atores.
Mas o que o Brasil tem a ver com tudo isso? O fato é que o Brasil não era contrário ao ingresso da 
Alemanha na Liga, mas esse acontecimento fez surgir no governo brasileiro, àquela altura chefiado por 
Arthur Bernardes, um otimismo em relação a sua candidatura para membro permanente do Conselho 
Deliberativo do organismo. O Brasil já era desde 1922 membro provisório do Conselho e, em 1926, 
pleiteou um assento permanente, alegando que cumpriria o papel de representante do continente 
americano ao lado dos outros quatro membros permanentes (França, Grã-Bretanha, Itália e Japão) 
(GARCIA, 2005).
O pleito do Brasil não foi atendido e, assim, o delegado brasileiro, Afrânio de Melo Franco, comunicou 
o veto do Brasil ao ingresso da Alemanha na Liga em nome da “dignidade nacional”, por não ter tido 
êxito em sua reivindicação por um assento permanente. Logo em seguida, o governo brasileiro preparou 
uma exposição de motivos em que criticava duramente a Liga e notificou sua saída (GARCIA, 2005).
Essa decisão representou uma opção pelo pan-americanismo isolacionista em detrimento do engajamento 
político nos assuntos europeus, tal como fizeram os Estados Unidos e conforme explica Garcia (2005, p. 74):
Descontente com a posição brasileira na Liga das Nações, o Foreign Office 
britânico veta a concessão de um empréstimo dos Rothschilds ao Brasil, que 
não obstante obtém, em Nova York, novo empréstimo de US$ 60 milhões 
junto à casa bancária Dillon, Read & Co. (22 maio de 1927). O episódio 
se situa no contexto da ascensão de Wall Street como centro financeiro 
mundial em substituição à City de Londres.
Esse episódio, somado ao isolamento do Brasil na América do Sul, deixou claro que a frustração 
em relação à Liga evoluiu para um alinhamento ao pan-americanismo, porém, um pan-americanismo 
muito mais voltado para os Estados Unidos do que para os vizinhos.
O sucessor de Arthur Bernardes, Washington Luís, implementou uma discreta política externa que 
objetivava privilegiar as relações cordiais com os Estados Unidos e com a Argentina e promover a aproximação 
entre Brasil e Paraguai com a intenção de reduzir a dependência desse país em relação à Argentina. Mas o 
Golpe de 1930 impediu que esse plano saísse do papel, como veremos adiante.
56
Unidade I
Portanto, durante a Primeira República, as relações internacionais do Brasil evoluíram do 
americanismo ingênuo pré-Rio Branco, com alguns momentos de assertividade quando das disputas 
territoriais, para o americanismo estratégico impulsionado pelo Barão, que guardou uma postura de 
cautela, não intervenção e coexistência pacífica em relação aos vizinhos. Depois, a década de 1920 levou 
o Brasil ao pan-americanismo isolado em virtude das decepções na Liga das Nações.
 Saiba mais
Para conhecer uma análise mais aprofundada sobre a política externa 
brasileira relacionada aos Estados Unidos e à Europa durante os anos 1920, 
leia a obra indicada a seguir.
GARCIA, E. Entre a América e a Europa: a política externa brasileira na 
década de 1920. Brasília: Funag, 2006.
 Resumo
Vimos a evolução da história das relações internacionais do Brasil desde 
1494, ano em que o Tratado de Tordesilhas destinou o Brasil a Portugal, 
e não à Espanha, até 1930, ano em que a Primeira República chegou ao 
fim pelas mãos de Getúlio Vargas e no contexto das insatisfações com a 
política do café com leite.
Foram descritas as relações internacionais do Brasil durante o 
período colonial, evidenciando-se que a inserção internacional brasileira, 
enquanto colônia de Portugal, se deu através das potências europeias, 
inicialmente por meio do mercantilismo português e posteriormente por 
meio do liberalismo britânico, e também no contexto do tráfico negreiro, 
já que a colônia recebia escravos vindos do continente africano.
Tratou-se também das relações internacionais do Brasil durante o 
Primeiro Reinado e o período regencial, evidenciando-se que a inserção 
internacional brasileira foi muito tímida, relegada a segundo plano por 
conta dos muitos problemas domésticos, alguns dos quais acabaram 
por envolver atores externos, levando o Brasil a uma postura defensiva.
Foram abordadas as relações internacionais do Brasil durante o 
Segundo Reinado. Vimos que, passada a crise política interna do período 
regencial, a inserção internacional brasileira se tornou mais proativa e 
esteve inserida na dinâmica de conflitos da Região do Prata, num contexto 
em que o imperador conseguiu definir objetivos externos em relação ao 
57
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
tráfico negreiro, à navegação do rio Amazonas e às fronteiras do Brasil com 
os países vizinhos ao norte e ao sul.
Quanto às relações internacionais do Brasil durante a PrimeiraRepública, observou-se que a inserção internacional brasileira evoluiu 
do americanismo ingênuo do final do século XIX, com alguns momentos 
de assertividade quando das disputas territoriais, para o americanismo 
estratégico impulsionado por Rio Branco, que guardou uma postura 
amistosa em relação aos vizinhos. Por fim, logo após um período de ativismo 
brasileiro no cenário internacional, ilustrado pela participação simbólica na 
Primeira Guerra Mundial e pelo ingresso na Liga das Nações, a década de 
1920 levou o Brasil ao pan-americanismo isolado, sem o apoio dos vizinhos, 
em virtude das decepções sofridas na Liga.
 Exercícios
Questão 1. Analise a charge e as afirmativas.
Figura 8
Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=34558. Acesso em: 22 ago. 2019.
I – A charge critica a exploração mercantilista do Brasil pela metrópole.
II – A charge tem por objetivo criticar a independência do Brasil, proclamada por um membro da 
realeza portuguesa.
III – A charge retrata o Brasil como fonte de riquezas no sistema colonial.
58
Unidade I
É correto o que se afirma em:
A) I, II e III.
B) I e II, apenas.
C) I e III, apenas.
D) II e III, apenas.
E) III, apenas.
Resposta correta: alternativa C.
Análise das afirmativas
Justificativa: a charge mostra o rei de Portugal (identificado pela coroa e pelo fato de manter 
o Brasil engaiolado) tendo aos seus pés a “galinha dos ovos de ouro”, ou seja, a colônia como 
fornecedora de riquezas.
Questão 2. Analise a charge e as afirmativas.
Figura 9
I – A charge mostra o interesse e o envolvimento popular no movimento de independência do Brasil, 
além de enaltecer o apoio britânico à emancipação da colônia.
II – A charge expõe e critica o domínio inglês na economia e na política colonial.
III – Na charge, evidencia-se o apoio de países europeus ao processo de descolonização do Brasil, 
atitude contrária à dos Estados Unidos, que demoraram a reconhecer a nossa independência.
59
HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL
É correto o que se afirma somente em:
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e III.
E) II e III.
Resposta correta: alternativa B.
Análise das afirmativas
Justificativa: a charge mostra que a independência do Brasil não teve envolvimento popular. Foi 
proclamada pela própria família real portuguesa. A Inglaterra tinha grande participação no mercado 
brasileiro devido à dependência econômica de Portugal em relação a ela. Os interesses de mercado 
faziam o país europeu apoiar a independência do Brasil. Os Estados Unidos foram o primeiro país a 
reconhecer o Brasil como nação independente.

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