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1 PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO ESCOLAR SIDELMAR ALVES DA SILVA KUNZ EDUCAÇÃO A DISTÂNCIAFACULDADE ÚNICA 1 PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO ESCOLAR SILDELMAR ALVES DA SILVA KUNZ 1 Sidelmar Alves da Silva Kunz Doutor em Educação pela Universidade de Brasília - UnB. Professor da UAB/ UnB, na modalidade a distância. Mestre em Geografia pela UnB, Especialista em Ontologia e Epistemologia pela Faculdade Unyleya, Especialista em Supervisão Escolar pela Faculdade do Noroeste de Minas Gerais - FINOM, Licenciado em Geografia e Pedagogia pela Universidade Estadual de Goiás – UEG e Licencian- do em Letras pela Universidade Católica de Brasília - UCB. Possui mais de uma centena de publicações científicas (artigos em revistas, Anais, livros, capítulos, dentre outros) e de materiais didáticos. Pesquisador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP. 2 PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO ESCOLAR 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2021 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Salles Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Aline de Paiva Alves Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Luiza Filgueiras Taisser Gustavo Soares Duarte © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br 4 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 5 SUMÁRIO UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 1.1 Planjamento Educacional .....................................................................................................................................................8 1.2 O Plano Educacional ...............................................................................................................................................................12 FIXANDO O CONTEÚDO ..............................................................................................................................................................18 2.1 Fases do Planejamento Educacional,Curricular, de Ensino e de Aula .................................................22 2.2 Planejamento de Ensino e de Aula e seus componentes básicos ........................................................29 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................33 3.1 Tragetória histórica da Avaliação......................................................................................................................................38 3.2 A Avaliação enquanto instrumento fundamental para o planejamento e acompanhamento das ações educativas .......................................................................................................................42 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................46 O PLANEJAMENTO COMO ATO PÚBLICO E PEDAGÓGICO A INTERRELAÇÃO ENTRE PLANO EDUCACIONAL, INTITUCIONAL, CURRICULAR DE ENSINO E DE AULA PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO UNIDADE 4 4.1 Pressupostos teóricos para pensar a Avaliação Mediadora ........................................................................50 4.2 Avaliação Mediadora como alternativa ....................................................................................................................55 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................60 AVALIAÇÃO COMO MEDIAÇÃO DO CONHECIMENTO UNIDADE 5 AVALIAÇÃO E POLÍTICA PÚBLICA UNIDADE 6 AVALIAÇÃO E QUALIDADE EDUCACIONAL 5.1 O lugar da Avaliação nas Políticas Públicas ...........................................................................................................64 5.2 Etapas da Avaliação e suas práticas pedagógicas ...........................................................................................69 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................75 6.1 A qualidade da educação e avaliação da aprendizagem .............................................................................79 6.2 A qualidade na Avaliação ..................................................................................................................................................82 FIXANDO O CONTEÚDO ............................................................................................................................................................88 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ....................................................................................................................91 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................................................92 6 UNIDADE 1 Apresenta o planejamento educacional como ato político e pedagógico, abordando o planejamento educacional e o plano educacional no cenário das relações com a sociedade e suas faces políticas. UNIDADE 2 Expõe as inter-relações entre plano educacional, plano institucional, plano curricular, plano de ensino e plano de aula, levando em consideração as fases do planejamento e os componentes básicos do planejamento de ensino e de aula. UNIDADE 3 Explicita as relações entre planejamento e avaliação apontando aspectos relevantes da trajetória histórica da avaliação vista como um instrumento fundamental para o planejamentodas ações educativas. UNIDADE 4 Discute a avaliação da aprendizagem como mediadora do conhecimento, configurando-se em uma alternativa pedagógica, a partir de pressupostos teóricos. UNIDADE 5 Trabalha a avaliação e o seu lugar nas políticas públicas, bem como suas etapas e a prática pedagógica, destacando alguns instrumentos de notória relevância. UNIDADE 6 Mostra a articulação do planejamento educacional e da avaliação da aprendizagem como elementos cruciais para a promoção das condições com vistas a efetivação da qualidade educacional. C O N FI R A N O L IV R O 7 PLANEJAMENTO COMO ATO POLÍTICO E PEDAGÓGICO UNIDADE 01 8 1.1 PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Planejar, no sentido de organizar, e dispor em estágios menores para alcançar resultados maiores são de nossa natureza: fazemos planos; projetamos o futuro; pensamos o dia, a se- mana, o ano; traçamos objetivos a curto, médio e longo prazo. FIQUE ATENTO Para de dissertarmos sobre a ideia de um plano educacional, ou de quaisquer outras políticas públicas, é importante dar um passo no sentido de colocar em relevo a trilha que precede o plano, tratando assim do planejamento, da sua importância e do seu caráter fundamental. Isso é imprescindível para chegarmos à estruturação epistemológica dos planos educacionais, vistos sob a ótica dos atos político e pedagógico. Em sentido extenso, realizamos planejamentos de menor ou maior escala a todo momento de nossas vidas. Trazer o debate sobre o planejamento educacional é seccionar parte desta diversidade de projeções que vivenciamos, realizamos e executamos a todo instante, direta ou indiretamente. Cabe explanar que, na visão de Luck (2008, p. 23), o “[…] planejamento expressa uma preocupação única: a de que ações significativas sobre uma dada realidade sejam praticadas de forma sistemática, a partir de uma visão clara da sua necessidade.” Essas ações colaboram para a efetivação da ideia em curso, dado que a preparação amplia as possibilidades de sucesso em função da sua colaboração para o enfoque nas questões relevantes e, por conseguinte, contribui para seu êxito, como representa a Figura 1. Figura 1: Planejamento educacional Disponível em: https://bit.ly/3ad5nHy. Acesso em: 28 nov. 2020. Ainda sobre o planejamento educacional, seus elementos e pensamento estratégico têm sido incorporados ao campo das construções dos planos de educação. A partir dos estudos de Mintzberg (1994), Helacleuous (1998) e Baggio (2010), podemos observar a inserção e a infiltração de tais ideias no campo do planejamento em geral, e na estruturação dos https://bit.ly/3ad5nHy 9 Planejamento educacional é um tema caro a toda sociedade, ao Estado, aos representantes do povo nos órgãos de poder, à comunidade escolar, aos estudantes e, principalmente, para alcançar uma educação de qualidade. Planejar a educação, portanto, é pensá-la de forma estruturada, racional, coordenada, de forma relacional, estratégica, participativa e factível com a realidade em que se propõe atuar, modificar e transformar. FIQUE ATENTO planos educacionais, mais especificamente. Ao perceber o planejamento como foco, temos de ter claro que se trata de um processo, um continnum, formado por diferentes etapas de execução, as quais envolvem definição das prioridades básicas, recursos e meios, objetivos, finalidade e metas. Além disso, exige pensar acerca de “para quê?” (objetivo), “o quê?” (conteúdo), “como?” (metodologia), “com quê?” (recursos didáticos) e “resultado” (avaliação). Fomentar a qualificação e o aperfeiçoamento na elaboração de planos educacionais é desenhar como horizonte a qualidade da educação em sua complexidade, diversidade e singularidade (LUCKESI, 1991; BRZEZINSKI, 2008; SHIROMA, 2001). Neste sentido, os maiores aliados de um planejamento educacional, em sua fase inicial de elaboração, são os dados, a partir dos quais será possível estabelecer as bases de um diagnóstico confiável e revisitável em todos os momentos e etapas de elaboração dos futuros planos educacionais. Quanto mais os dados forem detalhados, precisos, atuais, factíveis e de fácil acesso, mais se alargam as potencialidades do seu uso na composição de toda fundamentação e alicerce de objetivos do planejamento educacional. Ressalta-se que, com base nas orientações do Ministério da Educação para o Plano Municipal de Educação (PME), o planejamento educacional sinaliza a necessidade de atender aos seguintes aspectos (BRASIL, 2014, p. 13): • oferta educacional no município por níveis, etapas e mo- dalidades; • número de escolas públicas (federais, municipais ou es- taduais) e privadas no município; • número de matrículas por nível, etapa e modalidade (se possível, com detalhamento por turnos e rede); • estrutura física das escolas (especificando necessidades de reforma ou ampliação); • quadro de profissionais comparado às necessidades téc- nicas, pedagógicas e de apoio; • série histórica do IDEB (com detalhamentos de seus in- dicadores); • distorção idade-série em cada etapa de ensino; • capacidades técnica e financeira disponíveis para a edu- cação no município; • projetos educacionais em execução pela Prefeitura, go- verno do estado, Ministério da Educação e terceiro setor no município; • população residente por faixa etária e escolaridade; • planos de expansão das faculdades, universidades e es- colas técnicas no município ou na região. 10 É essencial, para o planejamento da educação, que os órgãos públicos consultem os dados ou as informações que expressam a situação ou a realidade da educação nas instâncias federal, estadual, distrital ou municipal, como censo, pesquisas demográficas, agregações de indicadores sociais atrelados aos atendimentos educacionais isolados e/ou correlacionados a outros tipos de ações do poder público. Assinala-se que a fonte principal de dados da educação brasileira é sediada no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Inep, autarquia federal vinculada ao MEC. Esse Instituto é responsável pela promoção de avaliações, exames, censos, estudos estatísticos e produção de indicadores educacionais que instrumentalizam o Estado na gestão do conhecimento e dos estudos, assim como na condução das políticas educacionais. Essa estruturação de informações educacionais por parte do Estado é imprescindível e inerente aos planejamentos educacionais que tenham como objetivo fomentar a estruturação de planos que poderão auxiliar os resultados esperados em relação às políticas públicas que farão parte de diferentes órgãos e instituições ligados direta e/ou indiretamente à oferta de uma educação de qualidade. Confira, na perspectiva de Rodrigues (2010, p. 47-48), as etapas dos planos e dos seus planejamentos educacionais: a. Preparação da decisão política – O governo decide enfrentar um determinado problema e buscar algum tipo de solução para uma situação que produz privação, necessidade ou não satisfação. O problema existe? O Governo deve se envolver nes- se problema? De que maneira? b. Agenda setting – A formação da agenda. Nesse momento, o problema tornar-se [sic] uma questão política, isto é adquire status de problema público e as decisões sobre esse problema resultarão, efetivamente no desenho de políticas ou progra- mas que deverão ser implementados. c. Formulação – na formulação das políticas públicas, a discus- são passa a girar em torno do desenvolvimento de cursos de ações aceitáveis e pertinentes para lidar com um determinado problema público. A construção da solução para um determi- nado problema implica, em primeiro lugar, a realização de um diagnóstico. Para que o programa/político saia do papel, é pre- ciso interpretar o ambiente para planejar/organizar as ações, decidir sobre quais os benefícios/serviços que se pretende im- plementar, e de onde serão extraídos os recursos para sua im- plementação. d. Implementação - Em resumo significa a aplicação da política pela máquina burocrática do Governo.Trata-se do momento de preparação para colocar as ações de Governo em prática. e. Monitoramento – Como as agências administrativas afetam e conferem conteúdo às políticas adotadas, há necessidade de se realizar uma avaliação pontual das ações de Governo refe- rentes ao impacto da implementação. f. Avaliação – Por fim, a atividade de avaliação de resultados da política/programa concentra-se nos efeitos gerados. 11 De acordo com a citação de Rodrigues (2010), das primeiras etapas, chegamos à avaliação – concomitante às revisitações –, ponto derradeiro da elaboração dos planos e fases do planejamento. Debates e aperfeiçoamentos devem fazer parte do fechamento do processo, materializado no produto e nos planos educacionais, os quais devem, portanto, conectar-se à realidade educacional que objetivam modificar, aperfeiçoar e transformar em novos patamares de qualidade: Por fim, uma premissa indispensável de trabalho é o fato de que o plano de educação tem de ter legitimidade para ter sucesso. Pla- nos construídos em gabinetes ou por consultores alheios à reali- dade municipal ou do estado tendem ao fracasso, mas um plano submetido ao amplo debate incorpora a riqueza das diferentes visões e vivências que a sociedade tem sobre a realidade que de- seja alterar (FERREIRA; NOGUEIRA, 2015, p. 7). Em todas estas etapas e fases do planejamento educacional, deve estar presente a preocupação e a primazia pela qualidade da educação em todas os seus níveis: a educação infantil; os ensinos fundamental e médio; as modalidades da educação básica que precisam estar atentas para assegurar o atendimento a jovens, adultos, idosos e trabalhadores; a educação especial e inclusiva, às minorias étnicas, religiosas e culturais; a educação quilombola, ciganos, indígena, e do campo; a educação voltada à qualificação profissional do estudante, entre outras. A abrangência do planejamento educacional é ampla, indo do trabalho rotineiro dos professores e gestores nas escolas da grande escala até os marcos legais da União e Estados da Federação. Se uma estratégia, por exemplo, diz respeito à questão da inovação na instrumentação de ensino e na elaboração de estratégias didático-pedagógicas na sala de aula, então tal instrumento de planejamento educacional impactará vertical e diretamente o trabalho na ponta do sistema educacional. O planejamento educacional em sua elaboração também deve levar em consideração a formação integral e integrada dos estudantes, com vistas à contemplação de uma educação que fomente a formação contínua do estudante (BRASIL, 2018). Se levarmos em consideração as novas orientações curriculares da BNCC, veremos que a inserção do estudante no mundo do trabalho – por meio do desenvolvimento de habilidades e competências – não é apenas primordial, mas inseparável de sua formação escolar. Muitos planejamentos educacionais deixam de considerar a realidade da escola e das redes de ensino. Colocar as aprendizagens como início, meio e fim dos planos a serem elaborados deve ser prioridade em todas as etapas do planejamento. Estrutura e superestrutura, práti- cas pedagógicas e orientações curriculares, formação inicial e continuada dos professores, protagonismo e significação do papel estudantil no processo de ensino e aprendizagem são algumas das dimensões pedagógicas inerentes à qualidade do planejamento educacional. VAMOS PENSAR? A necessidade de diálogo e facticidade com a formação escolar cotidiana justifica a escolha da equipe técnica ser tão fundamental para qualquer planejamento. O levantamento dos marcos conceituais e legais da elaboração do planejamento educacional, a consulta constante aos setores públicos responsáveis pelo acompanhamento dos recursos orçamentários vitais e disponíveis para o alcance dos objetivos estabelecidos, a participação e a consulta a diferentes atores da comunidade escolar e da sociedade civil, 12 todos esses passos devem ser levados em consideração para que possamos pensar em um planejamento educacional que consiga estruturar-se de forma sólida e confiável, legítima e factível, sendo validado e referenciado para todas as ações voltadas às políticas educacionais em sua esfera escalar de execução. Para aprofundar seus conhecimentos acerca do planejamento educacional, indi- camos assistir ao vídeo Planejamento de Ensino - Conhecimentos Pedagógicos, do Canal “LacConcursos - Canal”, disponível em: https://bit.ly/3tWjt7R . Acesso em: 28 nov. 2020. BUSQUE POR MAIS É possível observar os elementos a respeito do planejamento educacional, suas fases, etapas e elementos condicionantes para elaboração das metas, diretrizes e objetivos a serem alcançados. Propõe-se, desta maneira, pensar de modo a congregar quais seriam os principais elementos que devem estar presentes nas fases e etapas do planejamento educacional. As diretrizes de fundamentação e de elaboração constituem uma relação sólida e direta com a construção de um Plano de Educação, bem como partem delas a sustentação das organizações, das etapas e dos procedimentos. Nesse sentido, toda a estrutura se edifica em um substrato que encerra ideias ou pensamentos pedagógicos delineados por grupos políticos, econômicos e culturais específicos que vão constituir um horizonte histórico com valores e visões de mundo, os quais refletem e materializam Planos de Educação com o propósito de executar, na prática, um dado projeto político de sociedade. Deixaremos a etapa do monitoramento para a próxima seção deste estudo, no qual trataremos, especificamente, dos planos educacionais, da importância dos seus indicadores de qualidade da educação e sua avaliação. Partamos então, neste momento, para o segundo passo da reflexão proposta aqui, ou seja, o produto e a resultante do planejamento educacional, os planos elaborados a partir das etapas e fases. Para complementar seus estudos é crucial a leitura do livro eletrônico As dimen- sões do planejamento educacional: o que os educadores precisam saber, cuja re- ferência é a seguinte: SANTOS, Pablo Silva Machado Bispo dos. As dimensões do planejamento educacional: o que os educadores precisam saber. São Paulo, SP: BUSQUE POR MAIS Cengage Learning, 2016. Esse trabalho pode ser acessado na Minha Biblioteca Única por in- termédio do seguinte link: https://bit.ly/37r2QI7 . Acesso em: 28 nov. 2020. 1.2 O PLANO EDUCACIONAL Como apresentado anteriormente, o planejamento educacional foi compreendido como processo contínuo, e o plano é entendido como um produto, resultante, ou seja, a materialização de ideias, a colocação em estrutura alcançável o que antes fora pensado, planejado, parametrizado e estabelecido como ponto de chegada, em suas diferentes etapas de execução. https://bit.ly/3tWjt7R https://bit.ly/37r2QI7 13 Nenhum plano educacional está isento de ser afetado pela senescência inescapável dos fa- tos da realidade social que tenha estabelecido como roteiro de ação em suas diretrizes, me- tas e estratégias. FIQUE ATENTO Por esta razão, a revisitação, após as fases de avaliação e monitoramento, é tão importante para qualquer plano educacional. Já que é por meio deste retorno ao fundamento do plano que poderemos apurar em quais etapas de seu planejamento precisamos concentrar esforços para atualizar, reformular, recortar ou expandir o que antes foram estabelecidos como pontos elementares de sua constituição. Os planos educacionais fazem parte, atualmente, de uma agenda global de proposições de objetivos voltados para a melhoria na oferta da educação. Há tanto declarações e acordos voltados para os objetivos de uma educação de qualidade e para todos, quanto estudos específicos que buscam propor formas de se avaliar a qualidade educacional, especialmente por meio de exames parametrizáveis de comparação do rendimento e do desempenho das aprendizagens em diferentes países e comunidades ao redor do globo. Podemos citar, como exemplo, o Programme for International Student Assessment – PISA, o Trends inInternational Mathematics and Science Study – TIMSS, o Scholastic Assessment Test – SAT (Estados Unidos), o College Scholastic Ability Test – CSAT (Coréia do Sul), o Gao Kao (China), o Sistema de Medición de la Calidad de la Educación – SIMCE (Chile) e correlatos. Os testes padronizados apresentam-nos uma fotografia parcelar do que de fato temos em termos de desempenho educacional. São apenas informações que precisam ser vistas com muito cuidado e honestidade intelectual, dado que seu uso em políticas de recompensas ou de punições tem promovido um desserviço para a sociedade, com danos irreversíveis em função dos vícios que têm causado para os sistemas educacionais. Exemplos desses prejuízos são o treinamento de estudantes para os testes e o desvirtuamento de uma verdadeira proposta de educação que deveria ter seu foco na formação para a cidadania e no fortalecimento da democracia. Todo planejamento deve ter um ponto de chegada, onde culminam os esforços empreendidos nas etapas do ato de planejar. Para que este ponto de chegada seja alcançado, é imprescindível que os fundamentos e as bases do planejamento educacional estejam esmiuçados e estruturados na organização das etapas a serem seguidas, como, por exemplo, as diretrizes, as metas e as estratégias dos planos educacionais, conforme explicita Bordignon (2014, p. 31-32): DIRETRIZES: indica a direção a seguir na caminhada, balizada pelas políticas e por princípios indicando o rumo a seguir e o futuro desejado. Estabelecem as de- finições normativas das políticas. METAS: Constituem objetivos quantificados e datados. Representam o compromisso dos governos e da socie- dade, orientando a ação dos agentes públicos e con- trole social. ESTRATÉGIAS: devem constituir programas definido- res das ações do governo para alcançar as metas. 14 Para a ampliação do seu conhecimento acerca do Plano Nacional de Educa- ção (2014-2024), recomendamos que faça a leitura desse importante documento para a educação brasileira, assim como de outros materiais referentes à elabo- ração ou à adequação dos planos subnacionais de educação, ao monitoramen- to e à avaliação dos planos subnacionais de educação e à situação das metas BUSQUE POR MAIS A bibliografia sobre planejamento educacional atualmente já é bem profícua, trazendo diferentes elementos a respeito das etapas do ato de planejar, os quais podem ser explorados e aprofundados. No Brasil, temos a experiência emblemática do referencial de qualidade educacional por meio do Plano Nacional de Educação (2014-2024), estabelecido por meio da Lei nº 13.005/2014. Este Plano Educacional possui impacto direto, de forma escalar, nas unidades federativas do Estado nacional brasileiro, em planos educacionais de alcance estadual, distrital e municipal. O PNE tem como pressuposto que os avanços no cam- po educacional devem redundar do fortalecimento das instituições (escolas, universidades, institutos de ensino profissionalizante, secretarias de educação, en- tre outras) e de instâncias de participação e controle social. Isso se materializa em suas estratégias, que de- mandam ações provenientes de estados, municípios e da União, atuando de forma conjunta para a consolida- ção do Sistema Nacional de Educação. De outro lado, a execução do Plano requer a integração de suas ações com políticas públicas externas ao campo educacional, sobretudo as da área social e econômica, no que reafir- ma a intersetorialidade como um dos requisitos de seu sucesso (BRASIL, 2015, p. 14). dos planos de educação, que se encontram no site do Ministério de Educação e podem ser acessados por meio do seguinte link: http://pne.mec.gov.br/. Acesso em: 28 nov. 2020. Estas orientações do Plano Nacional de Educação foram previstas tanto na Constituição Federal de 1988 como, posteriormente, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira. Ressalta-se, contudo, que o PNE não é estático, já que possui a periodicidade, prevista pela lei magna de 1988, de dez anos, sendo obrigatórias sua atualização e sua revisitação neste prazo: Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementa- ção para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das dife- rentes esferas federativas que conduzam a: I. erradicação do analfabetismo; II. universalização do atendimento escolar; http://pne.mec.gov.br/ 15 III. melhoria da qualidade do ensino; IV. formação para o trabalho; V. promoção humanística, científica e tecnológica do País. VI. estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto (BRASIL, 1988). A LDB 9394/1996 apresenta orientações específicas para cada uma das escalas de elaboração de planos educacionais, trazendo de volta o alcance nacional, pelo PNE: “Artigo 9, I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios”, e faz a transposição destas diretrizes para o âmbito de ação dos Estados e Distrito Federal: “Artigo 10, III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios” e também aos Municípios: “Artigo 11, I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados” (BRASIL, 1996). Ressalta-se, de igual modo, que a LDB 9.394/1996 já previa que a União estabelece os indicadores e metas a serem monitoradas e acompanhadas para a melhoria da educação: “Artigo 87, § 1º, A União, no prazo de um ano a partir da publicação desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos.” (BRASIL, 1996). E sobre a influência e a presença da Declaração Mundial de Educação para Todos, é importante que resgatemos suas prerrogativas para a garantia da qualidade e a melhoria da oferta educacional. Em linhas gerais, a principal proposta dessa declaração de 1990 é a proposição de metas, objetivos e estratégias a serem monitoradas ao longo da execução dos planos educacionais: 5. Objetivos intermediários podem ser formulados como metas específicas dentro dos planos nacionais e estaduais de desenvolvimento da educação. De modo geral, essas metas: i. indicam, em relação aos critérios de avaliação, ga- nhos e resultados esperados em um determinado lapso de tempo; ii. definem as categorias prioritárias (por exemplo, os pobres, os portadores de deficiências); e iii. são formuladas de modo a permitir comprovação e medida dos avanços registrados. Essas metas re- presentam um “piso” – não um “teto” – para o de- senvolvimento contínuo dos serviços e dos progra- mas de educação (UNESCO, 1990). A leitura na íntegra da Declaração Mundial de Educação Para Todos pode ser fei- ta no documento disponível no endereço: https://bit.ly/2Zf1UC1 . Acesso em: 28 nov. 2020. BUSQUE POR MAIS https://bit.ly/2Zf1UC1 16 Na mesma Declaração, encontramos ainda outras orientações para a importância de se acompanhar os planos e os objetivos e, mais do que isso, como ressaltado anteriormente, a questão da atualização e a revisitação dos planos educacionais e das etapas do planejamento que dá origem a essas propostas de organização e estruturação de sistemas de ensino em sua busca pela melhoria da oferta educacional: 6. Objetivos de curto prazo suscitam um sentimento de urgência e servem como parâmetro de referência para a comparação de índices de execução e realização. À me- dida que as condições da sociedade mudam, os planos e objetivos podem ser revistose atualizados. Onde os es- forços pela educação básica tenham que focalizar a sa- tisfação das necessidades específicas de determinados grupos sociais ou camadas da população, o estabeleci- mento de metas direcionadas a esses grupos prioritários de educandos pode ajudar planejadores, profissionais e avaliadores a não se desviarem do seu objetivo. Metas observáveis e mensuráveis contribuem para a avaliação objetiva dos progressos (UNESCO, 1990). Seguindo essas orientações da Declaração Mundial de Educação para Todos, também denominada Declaração de Jomtien, um dos pontos de maior destaque e, normalmente, com singular quantidade de fragilidades de apresentação em planos educacionais são seus indicadores. Esses indicadores estratégicos de acompanhamento da qualidade da educação servem para o monitoramento e a avaliação das diretrizes, objetivos, metas e estratégias estabelecidas como pontos de sustentação, justificativa e alinhamento da execução dos planos educacionais. Na construção dos indicadores estratégicos – de acompanhamento e/ou avaliação – é re- levante considerar alguns elementos, como os tipos de indicadores, assegurando o alinha- mento com o que se pretende monitorar, avaliar e acompanhar: taxa, relação, produtividade, percentual, desempenho (planejado, observado e alcançado), índices comparativos nacionais e internacionais. Existem ainda os indicadores por síntese ou análise de metadados, entre outros. VAMOS PENSAR? Para cada indicador, pensado no planejamento educacional e colocado como pilar de acompanhamento das metas e estratégias do plano educacional, é preciso considerar os elementos de sua constituição, como referência qualitativa, quantitativa, formativa, demonstrativa e aplicativa. Essa visão colabora para a definição dos parâmetros com vistas à oferta de uma educação de qualidade. O Planejamento Educacional é um mecanismo capaz de dar as direções das ações do Estado, no seu plano macro, em sintonia com os grandes desafios que uma determinada sociedade precisa enfrentar. Por sua vez, os Planos Educacionais se estabelecem na tentativa de canalizar as políticas educacionais definidas pela sociedade, de modo a alcançar os distintos níveis e nuances dos entes federativos brasileiros. Em razão disso, os objetivos, as metas, as estratégias e os indicadores devem assegurar qualidade técnica e compromisso com os anseios e a realidade educacional vivida pela população. 17 BUSQUE POR MAIS Para complementar seus estudos é fundamental a leitura do livro eletrônico intitulado Pla- nejamento e Avaliação Educacional, cuja referência é a seguinte: CERVI, Rejane de Medeiros. Planejamento e Avaliação Educacional. Curitiba: InterSaberes, 2013 (Série Avaliação Educacio- nal). Esse trabalho pode ser acessado na Biblioteca Pearson por intermédio do seguinte link: https://bit.ly/39LrfsN . Acesso em: 28 nov. 2020. https://bit.ly/39LrfsN 18 1. Estudos revelam que o planejamento, no contexto escolar, é um meio para programar as ações docentes, mas também é um momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado a) à avaliação. b) ao plano diretor da cidade. c) ao estatuto da Associação de Pais e Professores. d) às demandas administrativas da direção escolar. e) às imposições da Secretaria de Educação. 2. Todo planejamento tem por finalidade ser eficiente e eficaz, independentemente da natureza da instância a que se destina. No processo de planejamento educacional, deve estar implícita a filosofia da educação que a Nação pretende seguir. Para Menegolla e Sant’anna (2002), esse tipo de planejamento é elaborado e se desenvolve em vários e bem estipulados níveis de ensino, a nível nacional, estadual ou de um sistema determinado por meio do qual se definem e estabelecem a) as grandes finalidades, metas e objetivos da educação. b) os objetivos escolares e recursos humanos e financeiros. c) os conteúdos e as práticas de ensino utilizadas pelos docentes. d) os trabalhos e os desempenhos da equipe de apoio aos discentes. e) as finalidades e os instrumentos de avaliação usados nas aulas. 3. Analise as afirmações abaixo sobre o processo de planejamento. I. Deve ser compreendido como um mecanismo de mobilização e de articulação dos diferentes sujeitos, segmentos e setores que constituem a instituição educativa e dela participam. II. Deve ser tomado como um procedimento administrativo, de natureza burocrática, decorrente de alguma exigência superior ou mesmo de alguma instância externa à instituição. III. Deve ser compreendido como um instrumento por meio do qual se obtém o controle total dos fatores e das variáveis que interferem no alcance dos objetivos e dos resultados almejados; por isso, não pode ser flexível. IV. Deve assumir um caráter determinista em que o objeto do plano, ou seja, a realidade, é tomada de forma estática, passiva, pois, em tese, tende a se submeter às mudanças planejadas. V. Aponta os passos que a equipe pedagógica pode dar para construir e realizar os objetivos que pretende alcançar na escola, com apoio de todos os servidores, professores, famílias, estudantes e comunidade em geral. Está correto apenas o que se afirma nas alternativas a) I e IV. b) I e II. FIXANDO O CONTEÚDO 19 c) II e V. d) III e IV. e) I e V. 4. A organização didática da aula, nos anos iniciais, como ação colaborativa, pressupõe um processo de previsão e de organização de ações intencionais. Nessa perspectiva, o planejamento deve a) ser seguido rigorosamente, para que os objetivos sejam cumpridos. b) prever alguma flexibilidade, já que as aprendizagens são um processo de construção coletiva. c) promover alguns minutos de conversa ou de brincadeira com os alunos, para garantir o cumprimento das tarefas previstas. d) partir do pressuposto de que sempre haverá outros momentos para cumprir o que está previsto, oferecendo liberdade de escolha para os alunos. e) antecipar ações e atividades que vão ocorrer durante a aula, a fim de evitar a rotina e a improvisação, sem falhas ou desvios do que estava previsto. 5. O planejamento escolar é um processo de organização e coordenação de toda a ação docente, no qual o professor organiza seu fazer pedagógico com a previsão de atividades didáticas em face dos objetivos propostos. Analise as alternativas abaixo que apresentam modalidades de planejamento: I. O plano de ensino refere-se a um roteiro das unidades didáticas para um ano ou para um semestre letivo. II. O plano de aula é um detalhamento do plano de ensino, devendo levar em consideração o tempo de execução de um ano ou de um semestre letivo. III. O plano da escola refere-se ao plano pedagógico e administrativo da unidade escolar. IV. O planejamento político- pedagógico descreve a concepção pedagógica do corpo docente; as bases teórico-metodológicas; a contextualização social, econômica, política e cultural do município. V. Plano da escola, plano de ensino e plano de aula possuem os mesmos objetivos, portanto, não podem ser flexíveis. Assinale a alternativa que apresenta somente assertivas CORRETAS. a) I, III e IV. b) I, II e III. c) I, IV e V. d) I, II e V. e) I, III e V. 6. No que se refere ao planejamento dos professores, analise as assertivas a seguir e assinale a alternativa correta. I. Obriga à busca prévia de materiais, ocupando o tempo que poderia ser destinado à elaboração de assuntos mais relevantes. 20 II. Facilita o enriquecimento profissional, por ser uma atividade que é motivo de reflexão sobre a prática e um esquema flexível para uma ação consciente. III. Desvincula sua elaboração da avaliação dos processos educativos e pedagógicos instaurados pelo currículo. a) Somente a alternativa I é verdadeira. b) Somente as alternativas II e III são verdadeiras. c) Somente a alternativa II é verdadeira. d) Somente a alternativa III é verdadeira. e) Somente a alternativa I e III são verdadeiras. 7. Sobre a prática do planejamento, analise as afirmativas a seguir, assinalando (V) para as VERDADEIRAS e(F) para as FALSAS. Planejar assume várias dimensões e necessita ( ) ser uma ação reflexiva, viva e contínua. ( ) ser uma atividade constante de avaliação e revisão sobre o desempenho docente. ( ) ser um ato decisório de estratégias, opções metodológicas e teóricas sem considerar o contexto educacional. ( ) prever ações que garantam a coerência, a continuidade e o sentido do trabalho pedagógico. ( ) assegurar a inflexibilidade do processo por meio da rejeição do replanejamento, considerando os resultados alcançados. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA. a) V – V – V – F – F. b) F – V – F – F – V. c) F – F – V – V – F. d) V – F – F – V – F. e) V – F – V – F – V. 8. O ato de planejar é inerente à ação do professor. A primeira condição para se realizar um planejamento de aula é saber, com segurança: a) que não é necessária a apropriação da real situação dos estudantes. b) a metodologia de trabalho a ser adotada em sala de aula. c) a direção que queremos dar ao processo educativo em nosso país. d) o perfil dos educadores e dos alunos, a organização disciplinar de cada ano e os recursos didáticos. e) a noção do que é plano, planejamento, programa e projeto e suas etapas. 21 INTER-RELAÇÃO ENTRE PLANO EDUCACIONAL, INSTITUCIONAL, CURRICULAR, DE ENSINO E DE AULA UNIDADE 02 22 2.1 FASES DO PLANEJAMENTO EDUCACIONAL, CURRICULAR, DE ENSINO E DE AULA Neste capítulo, convidamos você a realizar uma viagem a uma cidade do litoral brasileiro que seja distante de onde mora e você queira conhecer. Sugerimos, inicialmente, uma cidade litorânea, porque a maior parte dos(as) brasileiros(as) gosta de praias. Entretanto, se preferir um lugar de montanhas e rios, pode fazer a sua opção. Não se esqueça de que o lugar escolhido tem de ser distante e novo para você. Sabemos que toda viagem, curta ou longa, exige diversas providências antes de iniciá-la. Você precisa refletir sobre alguns aspectos, como identificar o melhor percurso para chegar ao destino escolhido; escolher o meio de transporte; arrumar a bagagem necessária; combinar a programação da viagem; discutir a divisão das despesas com os companheiros; decidir o horário de partida, a alimentação e as paradas que farão durante o percurso, entre outras medidas. No momento em que você aceita o convite para realizar a viagem e escolheu o lugar escolhido, você precisa realizar algumas ações com diversas possibilidades. Na prática, estabelece prioridades ou faz uma sequência de ações e registra/demarca suas escolhas. As tomadas de decisões se configuram em um plano que aponta as ações que precisa empreender para alcançar o seu plano. Esse plano, portanto, é o produto final de seu planejamento. Um registro escrito, sistematizado e com justificativa sobre: o que, para quem, por que, como e quando será feito? Quem participa dessas ações? Quando estamos tratando da educação, destacamos que o planejamento é um modo de elaborar, ou melhor, de decidir que tipo de educação e de sujeito queremos e que tipo de ação educacional é essencial para viabilizar esse planejamento. E, para isso, faz-se necessário propor uma série de ações, como vimos no planejamento da viagem descrito no início deste capítulo, atentando-se para o fato de que o planejamento exige revisão constante em função das possibilidades de alteração sempre presentes (GANDIN, 1985, p. 34). Neste sentido, “pensar a ação é uma tarefa permanente que não existe sem a ação, mas não se mistura com ela [...]” (FERREIRA, 1979, p. 58). Por outro lado, é interessante observar que o planejamento tem fases e características diferenciadas para as diferentes situações. Essas características apontam a complexidade dos planejamentos e ao mesmo tempo a importância que eles têm no campo educacional, tornam-nos singulares e devem ser conhecidas, considerando que todos os profissionais da educação refletem e desenvolvem ações dessa natureza. O planejamento não exige uma sequência de atividades rígidas e absolutas. Ao considerarmos as características do planejar, notamos que esse ato está relacionado a uma condição inerente ao ser humano e demanda organização, previsão, antecipação e, Nesse caso, observamos que o ato de refletir é uma atividade de pensamento sobre as possibi- lidades de escolhas e, consequentemente, de ações a serem realizadas para que sua viagem seja de fato tranquila e alcance seus objetivos. A reflexão, aqui, sobre alguns aspectos é um chamado para agir. Quantas ações você precisa realizar antes de dar início à sua viagem? As reflexões/ações pensadas podem ser caracterizadas como um planejamento. É por meio da reflexão que as pessoas estabelecem, mentalmente, inúmeras relações e se predispõem a re- alizar ações que resultam de suas escolhas e de suas tomadas de decisões. VAMOS PENSAR? 23 em certa medida, intuição. Esses movimentos têm como foco a realização dos objetivos definidos. Portanto, planejar trata-se de um processo flexível, e não de um produto acabado, pronto e rígido. Esse processo precisa ser visto como algo adaptativo e flexível. E essa visão colabora para evitar improvisações e repetições em função da orientação realizada com base na tomada de decisões. Nesse sentido, a tomada de decisões comporta uma sequência de ações marcadas por intencionalidades. Dessa forma, não há que se falar em neutralidade, pois se define o que se quer planejar. A materialização do planejamento se dá por meio de planos, programas, projetos e correlatos. Na perspectiva empresarial, o planejamento se divide em operacional, tático e estratégico. O plano estratégico se refere ao que fazer, ou seja, ao objetivo e é estabelecido a longo prazo, com importante capacidade de previsão e baixa condição de executoriedade, dado que se trata de uma atuação mais ampla. O plano tático define as ações, institui o como fazer e está mais no plano gerencial; portanto, a previsibilidade e a executoriedade são médias ou intermediárias. Já o plano operacional diz respeito ao fazer, e como executam suas ações no dia a dia, no desenvolvimento concreto das atividades; desse modo, tem uma baixa previsibilidade, mas uma alta executoriedade. Essa ideia típica do mundo empresarial nos ajuda a pensar alguns pontos do universo escolar. A título de exemplo, podemos fazer essa análise com enfoque na educação: o Plano Nacional de Educação (PNE), por se tratar de um documento que define objetivos, metas e estratégias, pode ser compreendido como um planejamento estratégico em articulação do MEC com os entes federados. Já o Projeto Politico-Pedagógico (PPP), por analogia, refere- se ao planejamento tático. Por sua vez, o planejamento operacional pode ser interpretado como sendo o que se realiza na sala de aula. O planejamento é sempre uma opção político-pedagógica daqueles que o realizam, constitui-se como uma base para a organização do trabalho pedagógico e orienta o processo de ensino aprendizagem. Desse modo, precisa-se partir de uma avaliação diagnóstica e visar ao conhecimento da realidade em foco. A avaliação diagnóstica colabora para a construção de um planejamento adequado e coerente com o compromisso de transformação da realidade, porque a educação busca a formação e a construção do sujeito. BUSQUE POR MAIS Com o propósito de ampliar a sua compreensão acerca dos assuntos tratados nesse capítulo, recomendamos incluir no rol de suas leituras complementares o livro ele- trônico Organização e Legislação da Educação, cuja referência é a seguinte: HEIN, Ana Catarina Angeloni (Org.). Organização e Legislação da Educação. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2019. Esse trabalho pode ser acessado na Biblioteca Pearson por intermédio do seguinte link: https://bit.ly/3qp2gSn. Acesso em: 28 nov. 2020 Além disso, é relevante considerar que a realidade das nossas escolas implica pensar o planejamento distante de posições que manifestam uma visão individualizante, centralizadora, homogênea, hierárquica e excludente. A perspectivacompatível com os debates educacionais e com o foco no estudante sugere a participação de todos, de modo a expressar a conciliação das visões do coletivo; a pluralidade de ideias como valor fundamental; a descentralização das decisões, de modo a promover a inclusão das pessoas; e a compreensão de que todos podem colaborar para o processo de aprendizagem em um ambiente escolar. Nesta perspectiva, vale a pena conhecer os princípios e características do planejamento educacional. Tendo em vista os princípios e as características do planejamento educacional, https://bit.ly/3qp2gSn 24 podemos afirmar que o planejamento, como mencionamos anteriormente, precisa ser viável e executável e estar adequado ao contexto em que está inserido. Para tanto, em sua elaboração, devem ser considerados alguns princípios e características importantes, como continuidade, organicidade, previsão, clareza, flexibilidade, objetividade, realismo etc. Entre tais princípios, destacamos três: a hierarquização dos objetivos; a precedência do planejamento educacional; e a abrangência ou a participação. Além disso, do ponto de vista do princípio da hierarquização dos objetivos, é notório o fato de que o planejamento educacional precisa ter sempre uma finalidade, um propósito relacionado aos objetivos máximos da instituição. Sendo assim, os planejamentos, relacionados às necessidades do sistema educacional, expressam seus objetivos em forma de políticas, normas e leis. Esse princípio assegura que qualquer ação a ser realizada, quer seja pelo Ministério da Educação, quer seja pela escola, esteja relacionada aos objetivos mencionados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/1996) e, concomitantemente, às políticas públicas que regem a educação no país. Não há como construir um planejamento com objetivos que contrariam os princípios demandados pela LDB 9394/1996 ou pela nossa Constituição Federal de 1988, as quais são nossas maiores leis. Já o princípio da precedência do planejamento educacional implica pensarmos que quando comparamos a outras funções desenvolvidas pelas instituições educacionais, o planejamento educacional possui grande relevância. Qualquer que seja o trabalho a ser realizado, seja em âmbito nacional, seja em uma pequena escola ou em uma sala de aula, as ações deverão ser intencionais, portanto, precisam ser planejadas para contribuir para a qualidade da educação. E, por sua vez, o princípio da abrangência ou da participação repercute no entendimento de que, na maioria das vezes, o planejamento provoca a necessidade de realizar mudanças para alcançar os objetivos traçados pela instituição educacional. Essas mudanças poderão mobilizar pessoas, exigir o compartilhamento de ideias, ampliar e requerer a divisão de responsabilidades entre a equipe de participantes e a seleção de novos recursos e meios. Exigirá, ainda, outras competências e habilidades de negociação, bem como o consenso na compatibilização dos interesses do grupo ou dos grupos, em especial, a substituição de novos artefatos tecnológicos. Antes de discutir as fases dos diferentes níveis dos planejamentos educacionais propriamente ditos, é fundamental apresentar os elementos necessários para ampliar a compreensão dos planejamentos abordados, o que faremos a partir do Quadro 1. NÍVEIS ELEMENTOS NECESSÁRIOS Primeiro Prioridades básicas Segundo Recursos e meios Terceiro Objetivos Quarto Finalidade Quinto Metas Quadro 1: O planejamento e a direção do processo educacional Fonte: Elaborado pelo Autor (2021) No sentido exposto no quadro, Silva e Silva (2019, p. 691)consideram o planejamento um “[...] mecanismo necessário para a concretização das metas e dos objetivos que se pretendem alcançar em diferentes esferas da política educacional”. Da concepção da ideia até a sua execução, o planejamento passa por várias fases. Com o objetivo de que você possa compreender cada uma delas, será apresentado, em 25 caráter didático, o Quadro 2, o qual contempla três fases do planejamento. É importante ressaltar que, na prática, estas fases, na maioria das vezes, não se apresentam de forma isolada e facilmente reconhecíveis. Primeiro Diagnóstico Segundo Programação Terceiro Controle e Avaliação Quadro 2: Fases do planejamento Fonte: Elaborado pelo Autor (2021 No Diagnóstico, a equipe da escola faz o levantamento, a partir de um exame detalhado da instituição escolar e da proposta pedagógica para decidir junto o que precisa ser mudado. Ao mesmo tempo, vai desenhando a situação que deseja imprimir na escola. Na Programação, a equipe, com base no diagnóstico, define objetivos e metas que a instituição escolar quer alcançar. E passa, nessa fase, a programar as ações/atividades a serem realizadas, a estabelecer o cronograma e a distribuir responsabilidades entre os membros. No Controle e Avaliação, a equipe busca acompanhar o desempenho das ações/ atividades, isto é, busca verificar se o que foi programado está acontecendo e como está acontecendo, além de suas facilidades e dificuldades para o alcance dos objetivos e metas estabelecidos. Nessa fase, podem surgir diversos desafios, e muitos momentos de avaliação das ações/atividades podem ser exigidos. Morin (2016) ressalta esses desafios, sinalizando que é uma exigência para os novos tempos, de modo que as pessoas consigam equacionar a criatividade com o planejamento, haja vista que a organização precisa ser acolhida por novas concepções que envolvem adaptações a cada situação a que se apresenta. Em cosonância com Morin (2016), faz-se necessário que os sujeitos estejam dispostos a receber os imprevistos e vê-los como oportunidades de aprendizado e iniciativa para a reconstrução de suas plataformas de pensamento. Assim, estejam também acessíveis a constituir um referencial que lhes permita trabalhar para o alcance de resultados com base em previsões sustentadas em análises sólidas e abertas ao novo: o inédito. Nesse seguimento, o inesperado precisa ser visto como pertencente ao universo do planejamento, o qual demanda estar aberto e preparado para alterações à medida em que se incorporam novas sugestões e realidades ao processo em desenvolvimento. A título de elucidação, exploraremos o planejamento educacional, curricular, de ensino e de aula como meios de alargar o entendimento acerca dos seus pontos de diálogo e contribuições para o fazer educacional. Considerando os níveis de interações no campo do planejamento da educação, é essencial compreender que o planejamento é o processo de abordagem racional e científica dos problemas de educação, incluindo definição de prioridades e levando em conta a relação entre os diversos níveis do contexto educacional, como destaca Ribeiro (2010, p. 4). Em tal ponto de vista, trata-se de iniciativas com implicações diretas nas decisões tomadas, dado que, a rigor, também se planeja a própria decisão sobre a área educativa com repercussões diretas no projeto ou política educacional que o Estado e o governo orientam para a sociedade do país. O Planejamento Educacional quanto à sua abrangência, pode ser classificado como estratégico, amplo, sistêmico e de longo prazo, por exemplo, o Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024), cuja duração é de uma década. O planejamento curricular, que pode ser estadual ou municipal, alinha-se ao Planejamento Educacional e orienta o conjunto de 26 saberes ou conhecimentos que devem ser trabalhados nas escolas da educação básica. Já o Planejamento de Ensino orienta o trabalho docente, o plano de ação ou o plano didático, que envolve a execução do processo de ensino e aprendizagem, articulando, ainda, a execução das ações dos gestores e dos professores. Esse nível de planejamento exige uma tomada de decisões sobre aspectos educacionais em seu conjunto. A sua elaboração requer a proposição de objetivos a longo prazo, definindo, por exemplo, uma política de educação. É realizado por órgãos máximos, como as instituições governamentaisa nível federal, por exemplo, a LDB 9394/1996 e os Planos Nacionais de Educação. O Quadro 3 dá visibilidade aos níveis de planejamento pertencentes à prática da educação em nossa sociedade, explorando as suas modalidades e as características mais relevantes para a compreensão das suas interrelações e orientações das atividades educativas em suas distintas etapas da educação básica e superior. NÍVEIS MODALIDADE DE PLANOS CARACTERÍSTICAS Planejamento Educacional Responsável por incorporar as políticas educacionais em uma cobertura ou escala mais ampla, cujas decisões são a nível nacio- nal, estadual, distrital e municipal. Planos nacionais, estaduais, distritais e municipais de educação Programas (conjunto de projetos de uma deter- minada área/órgãos em um prazo determinado) e projetos (produto do planejamento, no qual se registra o que se quer alcançar) de Estado e de Governo. Planejamento Curricular Envolve a tomada de decisão pen- sando a vida escolar do estudan- te em face da ação pedagógica, consistindo em expectativas que repercutem nas atividades siste- matizadas e ordenadas. Desenvolvido no âmbito das escolas em articulação com a rede educacional Planos de curso Matriz curricular Projeto Político Pedagó- gico Regimento escolar Planos de ação Planejamento de Ensino Abarca atuações concretas dos docentes no ato pedagógico, ações assentadas nas interações professor-estudante e estudante- -estudante. Plano de disciplina Plano de unidade Plano de aula Disciplina: ações a serem desenvolvidas durante o ano ou o semestre Unidade: ações destina- das a cada uma das par- tes da disciplina Aula: detalhamento para cada aula Quadro 3: Níveis de planejamento educacional e suas interações Fonte: Elaborado pelo Autor (2021) 27 Observa-se, no Quadro 3, que o planejamento é um meio de programar as ações dos profissionais da educação, mas não é uma atividade isolada. O Planejamento Educacional prevê, ainda, diversas interações, incluindo-as como atividades relevantes à pesquisa e à reflexão, as quais estão intimamente ligadas ao processo de avaliação. Além disso [...] planejamento é uma tarefa educativa que inclui tan- to a previsão das atividades didáticas em termos da sua organização e coordenação em face dos objetivos pro- postos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino” (LIBÂNEO, 1994, p. 221). O planejamento é uma oportunidade, como mencionamos no início do capítulo, de agir, pesquisar e refletir sobre os fatos, e prever as ações. Nesse sentido, a palavra reflexão: […] vem do verbo latino “refectire que significa voltar atrás”. (...) Refletir é o ato de retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, vasculhar numa busca cons- tante de significado. É examinar detidamente, prestar atenção, analisar com cuidado. E isto é filosofar (SAVIA- NI, 1997, p. 23). Saviani (1997) chama a nossa atenção sobre a importância da palavra reflexão no planeja- mento de educação, pois, para ele, não é uma reflexão qualquer, mas um aspecto articulado. Isto é, o planejamento busca prever e tomar a decisão sobre o que se pretende fazer na edu- cação. O que vai fazer de fato nessa área? Como vão fazer e analisar a realidade? Em seguida, como vão realizar as ações necessárias? E ainda, o que foi de fato alcançado do planejamento realizado? VAMOS PENSAR? Antes de discutir o Planejamento de Ensino, apresentamos o Plano da Escola, denominado Projeto Político-pedagógico (PPP), o qual deve ser construído em consonância com o Planejamento Educacional e com o Planejamento Curricular de seu Estado ou Município, com a finalidade de orientar as ações globais da escola. O Planejamento de Ensino (trabalho docente, plano de ação ou plano didático) envolve a execução do processo de ensino aprendizagem e a execução das ações dos professores; e no planejamento de aula (nível mais operacional e detalhado), o professor sistematiza o conteúdo, os objetivos, a metodologia, a avaliação, entre outros aspectos. Parra (1972) pontua que todo trabalho educativo deve ser pautado em um planejamento reflexivo, pois planejar é um modo de pensar em ações que auxiliem atingir o que se quer alcançar. Diante disso, o PPP implica, basicamente, decidir o que se pretende realizar na escola, de que maneira e com qual objetivo, e como se deve analisar a situação, a fim de se verificar se o que se almejou foi atingido. Por sua vez, Souza et al. (2005, p. 27) asseveram que “[...] muitas instituições querem o Planejamento Participativo para organizar a escola, mas não como um instrumento de transformação social”. 28 O PPP é um instrumento que torna possível a materialização do planejamento da institui- ção de ensino. O enfoque assumido nessa nossa abordagem entende que o planejamento é estruturado na relação dos polos teoria e prática. Desse modo, viabiliza as tomadas de deci- sões que envolvem a educação básica e os seus objetivos essenciais. E, no ambiente escolar, o planejamento é visto como recurso fundamental, por intermédio do qual a participação de todos é desenhada e, assim, se ampliam as possibilidades de realização plena do trabalho educativo. FIQUE ATENTO Sendo assim, os professores devem pautar o planejamento de suas aulas e de projetos pedagógicos no Projeto Político-pedagógico, considerando que ele foi organizado no início do ano pela comunidade escolar. Nesse sentido, o Projeto Político-pedagógico é “[...] um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano da escola, só que de uma forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica e, o que é essencial, participativa” (VASCONCELOS, 1995, p. 143). Agora, voltando-nos ao planejamento curricular, comunicamos que se trata de um documento plural e multidisciplinar, marcado por influências distintas resultantes de relações de poder que se materializam nas decisões da escola, tomando como referência as relações lógicas e psicológicas dos múltiplos campos do conhecimento, com foco na constituição das condições que facilitam o processo de ensino aprendizagem. Trata- se do repertório de atividades a serem desenvolvidas pelos estudantes sob o auxílio dos profissionais da escola, com vistas a alcançar determinados fins educativos. Sendo assim, o objetivo do planejamento curricular orienta o trabalho do professor em suas atuações como docente, ou seja, em suas práticas pedagógicas concretas: planejamento das experiências a serem vivenciadas na escola. Por sua vez, o planejamento de ensino é a: [...] previsão inteligente e bem calculada de todas as etapas de trabalho escolar que envolvem as atividades docentes e discentes, de forma a tornar o ensino segu- ro, econômico e eficiente. Previsão de situações especí- fica do professor com a classe. Processo de tomada de decisões bem informadas que visam a racionalização das atividades do professor e do aluno, na situação de ensino aprendizagem, possibilitando melhores resulta- dos e, em consequência, maior produtividade (TURRA et al., 1975, p. 19) Qualquer que seja o tipo de plano de ensino, é importante que seja coerente com fundamentos conceituais e metodológicos inseridos em uma prática pedagógica socializadora e promotora do processo de construção do conhecimento, na qual o professor passa a ser mediador e criador de situações de aprendizagem para que o aluno aprenda. Sendo assim, a atuação do professor é intencional – sabe aonde é preciso chegar, reflete sobre o que precisa ser feito para alcançar o objetivo –, aproveitando os ventos e as correntes favoráveis, estudando novas rotas caso seja necessário. E, para isso, faz-se necessário que o professor planeje suas atividades pedagógicas. Libâneo (1994, p. 222) define o plano de ensino como “[...] um documento mais elaborado, no qual aparecem objetivos específicos, conteúdos e desenvolvimento metodológico”. No planejamento de ensino, cabe ao professor criar situações de aprendizagem, envolvendo 29 a“[...] problematização dos conteúdos, a coordenação das equipes de trabalho, a sistematização das experiências de aprendizagem, as quais valorizam e possibilitam o diálogo entre culturas e gerações” (SILVA, 2002, p. 70). O plano de curso, por sua vez, é definido por Vasconcellos (1995, p. 117) como “[...] a sistematização da proposta geral de trabalho do professor naquela determinada disciplina ou área de estudo, numa dada realidade. Pode ser anual ou semestral, dependendo da modalidade em que a disciplina é oferecida”. 2.2 PLANEJAMENTO DE ENSINO E DE AULA E SEUS COMPONENTES BÁSICOS Libâneo (1994) afirma que a principal atividade do professor é assegurar o processo de transmissão dos conhecimentos culturais acumulados socialmente. Para isso, é preciso planejar suas aulas, buscando explicitar alguns aspectos, tais como: objetivos, conteúdos, estratégias de ensino, recursos didáticos e processo de avaliação. Na mesma direção, Saviani (2003) defende que o processo de ensinar insere- se na dinâmica que favorece a consolidação de conhecimentos, os quais permitem o desenvolvimento de capacidades para a intervenção na realidade. Esses mecanismos sociais e culturais são cruciais para que as camadas populares possam ocupar melhores condições para o enfrentamento de desafios que se apresentam no atual momento histórico. Nesse contexto, o papel do professor é fundamental para a ampliação dos horizontes dos estudantes. O plano de aula deve abordar esses aspectos, que também estão pontuados no Quadro 4. COMPONENTES DESCRIÇÃO Objetivos Repertório de competências, conhecimentos, ha- bilidades e atitudes que será mobilizado pelos educandos no processo educativo de ensino e aprendizagem Conteúdos Conhecimentos ou objetos de conhecimentos a serem utilizados pelos educadores e pelos edu- candos com o propósito de alargar a compreen- são da realidade concreta Estratégias de ensino Procedimentos técnicos e metodológicos com fi- nalidade pedagógica, no exercício do magistério, tornando o processo de ensino e aprendizagem mais concreto e significativo Recursos didáticos Ferramentas, instrumentos e materiais que po- dem ser operados em sintonia com o propósito de realização da aprendizagem Avaliação Transcurso ou processamento dotado de poten- cial para averiguar alterações de comportamento ocorridas em um percurso de formação pedagó- gica Quadro 4: Descrição dos componentes do plano de aula Fonte: Elaborado pelo Autor (2021) 30 O Quadro 4 trata dos aspectos essenciais do plano de aula. Sendo assim, o planejamento de aula “serve para que os professores e os alunos desenvolvam uma ação eficaz de ensino e aprendizagem” (MENEGOLLA; SANT’ANA, 2001, p. 43). O Plano de aula pode ser compreendido, ainda, como a “(...) sistematização de todas as atividades que se desenvolvem no período de tempo em que o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de ensino-aprendizagem.” (PILLETTI, 2001, p. 73). Os objetivos educacionais são as metas e os valores mais amplos que a escola procura atingir, e os objetivos-ins- trucionais são proposições mais específicas referentes às mudanças comportamentais esperadas para um deter- minado grupo classe. O conteúdo refere-se à organiza- ção do conhecimento em si, porém, com base nas suas próprias regras, ele é um instrumento básico para poder atingir os objetivos. Torna-se necessário um bom crité- rio de seleção na escolha dos conteúdos mais centrados, mais importantes e mais atuais. O conteúdo selecionado precisa estar relacionado com os objetivos definidos. O mais importante é o fato do professor estar apto a levan- tar a ideia central do conhecimento deve trabalhar em sala de aula [sic] (CONCEIÇÃO et al., 2016, p. 8). Entretanto, no decorrer do ano letivo, mudanças podem ser necessárias no processo educativo. Por outro lado, sabemos que o planejamento tem, como uma das características, a flexibilidade. Os planos de aulas precisam estar vinculados à prática pedagógica, por isso muitas vezes necessitam ser revistos e refeitos. Além disso, devem apresentar objetivos claros, utilizando os verbos adequados, uma vez que os planos de aula revelam a concepção que se tem do processo de ensino-aprendizagem. FIQUE ATENTO De acordo com Libâneo (1994, p. 222) os Planejamentos de ensino e de aula “não se reduzem ao simples preenchimento de formulários para controle administrativo, é antes, a atividade consciente com a previsão das ações político-pedagógicas”. A partir dos ensinamentos de Libâneo (1994), podemos estruturar os métodos e técnicas de ensino levando em conta os aspectos tidos como essenciais para que o professor considere em suas ações de planejamento de ensino. O Quadro 5 apresenta um conjunto de pontos que precisam ser valorizados no espaço educacional, com vistas a obter sucesso nas empreitadas pedagógicas junto aos estudantes. 31 Perfil dos estudantes Concepção de aprendizagem Condições físicas do espaço escolar Tempo disponível do trabalho pedagógico Relação dos estudantes com o conteúdo tratado Objetivos de ensino e aprendizagem Experiência didática do professor Afetividade e vínculos entre professor e estudantes Quadro 5: Aspectos relevantes (métodos e técnicas de ensino) Fonte: Elaborado pelo Autor (2021) O Planejamento de aula é o nível de plano mais operacional e detalhado, em que o professor sistematiza as atividades que realizará com o grupo de estudantes em sala de aula. Esse plano explicita os conteúdos, os objetivos, a metodologia ou os procedimentos didáticos, os recursos e meios, o processo de avaliação, entre outros aspectos. Nos dias de hoje, é fundamental o professor fazer seus projetos pedagógicos e planos de aula alinhados com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com o fim de enriquecer as suas práticas em sala de aula, bem como de assegurar os direitos de aprendizagem. Nos planos de aula, informações como nome da escola, do professor, o título ou tema, a modalidade, a turma e o componente curricular são tidos como rotineiros na dinâmica do fazer docente. Esclarecemos que o título ou tema diz respeito ao ponto específico que será tratado em sala de aula. Antes de elaborar o plano de aula, o professor precisa acessar o site da BNCC <basenacional- comum.mec.gov.br> e, ao encontrar os três arquivos principais disponibilizados: BNCC para navegação, BNCC em PDF e BNCC em planilha, recomendamos clicar em BNCC em PDF, opção que permite baixar o documento que norteia toda a educação brasileira. O docente pode ler todo o conteúdo e, conforme a necessidade, buscar o seu componente curricular e o ano ou série. De acordo com cada unidade temática, há os objetos de conhecimento. Depois de localizar a unidade temática e o objeto de conhecimento, o professor pode elaborar o pla- nejamento de aula, pois essa indicação deve decorrer da unidade e do objeto. Para registrar a habilidade, deve-se escolher uma das habilidades referentes à unidade temática e o objeto de conhecimento selecionados. No geral se registra apenas uma habilidade para cada aula, de acordo com cada disciplina. O local da aula e a duração dependem das orientações e das regras da instituição educacional na qual se trabalha. Os objetivos devem expressar conexão direta com o tema ou título, e os objetivos específicos podem ser até três. A maior especifici- dade expressa a capacidade de síntese e de clareza do professor em relação ao conhecimen- to em apreciação. Quanto mais a linguagem for direta, clara e objetiva, melhor. É relevante inserir quais são os conhecimentos prévios trabalhados. Essa manifestação ajuda o aluno aentender quais são os conhecimentos que já foram trabalhados e dos quais ele terá que se valer para ter um desempenho a contento na sala de aula. FIQUE ATENTO 32 Ressalta-se que não existe um modelo ideal ou correto de plano de aula. O professor, na elaboração do seu plano de aula, deve considerar os fatores que influenciam sua orientação pedagógica e deve levar em conta a realidadeespacial, cultural, social e econômica em que a escola está inserida, bem como o projeto político-pedagógico da instituição educacional. A busca efetuada pelo docente deve se dar no sentido de criar e confeccionar um formato que atenda às suas necessidades mais diretas associadas aos ritmos e aos gradientes de relações sociais. Destarte, o plano de aula deve atender às demandas específicas e ser construído em prol do aprendizado dos estudantes, sem perder de vista a sua conexão obrigatória com a BNCC. BUSQUE POR MAIS Para complementar seus estudos, faz-se relevante a leitura do livro eletrônico Méto- dos e técnicas de ensino, cuja referência é a seguinte: TOLEDO, Maria Elena Roman de Oliveira; OLIVEIRA, Simone Machado Kühn de. Métodos e técnicas de ensino. Porto Alegre: SAGAH, 2019. Esse trabalho pode ser acessado na Minha Biblioteca Única, por intermédio do seguinte link: https://bit.ly/2OGRKYT. Acesso em: 28 nov. 2020. https://bit.ly/2OGRKYT 33 1. (FUNCAB/2010 – adaptado) “O planejamento é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua organização e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino.” (LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994, p. 221). Analise as assertivas abaixo: I. O planejamento é um meio para se programar as ações docentes, mas é também um momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado à avaliação. II. A ação de planejar é uma atividade consciente de previsão das ações docentes, não fundamentadas em opções político-pedagógicas, pois tem como referência permanente as teorias de aprendizagem. III. O planejamento escolar engloba três níveis: o plano da escola, o plano de ensino e o plano de aula. IV. O planejamento é iniciativa do diretor/gestor escolar a partir das necessidades administrativas e pedagógicas da escola e deve ser por ele avaliado. Assinale a alternativa que apresenta somente assertivas CORRETAS. a) II, III e IV. b) I, II, III, IV e V. c) I e III. d) II e IV. e) III e IV. 2. (IF-MT/2014 - adaptado) O planejamento pedagógico pressupõe que o ato de ensinar e aprender requer esforço metódico e crítico do professor, no sentido de desvelar a compreensão de algo. Nessa perspectiva, são consideradas práticas docentes mediadoras: ( ) I - debate, uso de tecnologias digitais e proposição de exercícios que recorrem à memorização. ( ) II - diálogo, troca de experiências e proposição de situações desafiadoras que colocam o pensamento dos alunos em movimento. ( ) III - debate crítico e dialógico, uso de atividades repetitivas e aplicação de procedimentos já consagrados entre os saberes docentes ( )IV - provocação, disposição de objetos e situações e manutenção de relações já existentes entre os alunos e os conhecimentos a serem ensinados. Analise cada uma das assertivas acima. Para isso, use (V) se for verdadeira e (F) se for falsa. Em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA. a) F – F - V - V b) F – V – F - F FIXANDO O CONTEÚDO 34 c) V - V- V- F d) V – F - F - V e) V – V – F -F 3. (Cetro – Fundação Casa – 2014 – adaptado) As fases do planejamento escolar podem ser divididas em: o planejamento da escola, o planejamento curricular e o projeto ou plano de ensino. Assinale a alternativa CORRETA como complemento da seguinte frase: o planejamento curricular é a) o que chamamos de Projeto Político-pedagógico ou projeto educativo, sendo este o plano integral da instituição, composto de marco referencial, diagnóstico e programação. Esse nível envolve tanto a dimensão pedagógica quanto as comunitária e administrativa da escola. b) a proposta geral das experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela escola, incorporadas nos diversos componentes curriculares, podendo ter como referência os seguintes elementos: fundamentos da disciplina, área de estudo, desafios pedagógicos, encaminhamento, proposta de conteúdos, processos de avaliação. c) o planejamento mais próximo da prática do professor e da sala de aula. Diz respeito, mais restritamente, ao aspecto didático. Pode ser subdividido em projeto de curso e plano de aula. d) o planejamento global da escola, que envolve o processo de reflexão, de decisões sobre a organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da instituição. e) uma ferramenta gerencial que auxilia a escola a realizar melhor o seu trabalho: focalizar sua energia, assegurar que sua equipe trabalhe para atingir os mesmos objetivos e avaliar e adequar sua direção em resposta a um ambiente em constante mudança. É considerado um processo de planejamento estratégico desenvolvido pela escola para a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Define diretrizes, objetivos e metas estabelecidas pela Unidade escolar. 4. (Fepese – MPESC- 2014) O processo de planejamento participativo da escola vem ganhando importância na literatura acadêmica entre pesquisadores que defendem a descentralização do sistema educacional como um caminho para a democratização da gestão da educação e a melhoria da qualidade do ensino. Nesse sentido, é correto afirmar: I. A construção do planejamento participativo da escola está ancorada fundamentalmente nas relações de poder estabelecidas entre a comunidade escolar e os dirigentes do sistema educacional. II. O planejamento participativo tem por função modernizar os tempos e os espaços da escola, tendo como referência uma realidade em constante transformação social. III. A construção do planejamento participativo deve levar em conta que a escola possui vínculos institucionais com um determinado sistema escolar, ou seja, sua autonomia deve ser entendida de forma relacional, inserida em um contexto de interdependências. IV. A participação ativa da comunidade escolar, se constituindo como um coletivo que pensa a escola, favorece a construção de um planejamento no qual estejam presentes diferentes pontos de vista sobre a realidade escolar, possibilitando a interação entre 35 famílias, professores, estudantes, funcionários e especialistas. V. O diálogo e o debate democrático são fundamentais para a produção de critérios coletivos na orientação do processo de planejamento participativo, pois significados comuns são estabelecidos corroborando para a identifcação destes na escola. Assinale a sequência correta. a) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3. b) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4. c) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 5. d) São corretas apenas as afirmativas 2, 4 e 5. e) São corretas apenas as afirmativas 3, 4 e 5. 5. (FGV – SEDUCAM – 2014) Leia o fragmento a seguir: “… não se constitui na simples produção de um documento, mas na consolidação de um processo de ação- reflexão-ação, que exige o esforço conjunto e a vontade política do coletivo escolar.” Assinale a opção que indica o conceito explicado no fragmento acima. a) Plano de Aula. b) Projeto Político-pedagógico. c) Prestação de Contas. d) Avaliação dos Estudantes. e) Escolha do Livro Didático. 6. (Cespe - FUB - 2013 – adaptada) O conjunto de conteúdos e unidades a serem utilizados no processo de ensino-aprendizagem a serem desenvolvidos em uma determinada disciplina pode caracterizar: a) Planejamento Curricular. b) Planejamento da Escola. c) Planejamento Educacional. d) Planejamento de Curso. e) Planejamento Pedagógico. 7. (Cespe – Depen - 2015) Na elaboração do planejamento de aula, o docente deve delinear e estabelecer a) objetivos da escola. b) recursos e meios. c) procedimentos metodológicos. d) avaliação dos alunos. e) diagnóstico dos estudantes. 8. (IESES – 2018 – adaptada) Ao discutir Projeto Político-pedagógico, a comunidade escolar deve, como princípios centrais para a gestão democrática da escola, explicitar 36 a) autonomia e atitude pedagógica. b) autonomia e reflexão. c) mediação e avaliação. d) autonomia e participação. e) diálogo e regras explícitas. 37 PLANEJAMENTO
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