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GASTRITE / H. PYLORI / CÂNCER DE ESTÔMAGO Objetivos: 1- Revisar a morfofisiologia do estômago 2- Entender a fisiopatologia (etiologia, epidemiologia, fatores de risco, manifestações clínicas e diagnóstico) da gastrite e compreender os seus tipos (aguda e crônica) 3- Compreender as complicações da gastrite 4- Relacionar H. pylori com a gastrite 5- Compreender a farmacodinâmica do tratamento da H. pylori 6- Correlacionar o câncer com H. pylori _________________________________ MORFOFISIOLOGIA · O estômago é uma porção dilatada do tubo digestivo, em forma de J e é interposta entre o esôfago e o duodeno · Possui duas curvaturas (pequena e grande) · É revestido completamente pelo peritônio · Divide-se em 4 regiões anatômicas: cárdia (células produtoras de muco, endócrinas e indiferenciadas), fundo e corpo (glândulas oxínticas - composta por células parietais, principais endócrinas e mucosas) e o antro pilórico (células endócrinas, principalmente liberadoras de gastrina - porção altamente muscular, mói o alimento e regula o esvaziamento gástrico) HISTOLOGIA FISIOLOGIA GERAL · O estômago armazena os alimentos que chegam à sua luz, promove a fragmentação dos componentes sólidos e os transfere para o duodeno · A secreção gástrica contribui para a fragmentação das partículas ingeridas e elimina as bactérias ingeridas com os alimentos · O revestimento do estômago é impermeável ao ácido, possibilitando que o órgão contenha ácido e pepsina sem ter suas paredes digeridas · Sua parede coberta por células epiteliais superficiais excepcionalmente justapostas favorecem a característica de impermeabilidade da parede do estômago · Além disso, tem-se o muco espesso secretado pelas células e que contém bicarbonato (mantendo o pH neutro) As células do epitélio gástrico apresentam uma camada lipídica hidrofóbica impermeável. O AAS (substância lipossolúvel) consegue atravessar a camada lipídica e causar danos às células superficiais, podendo resultar em erosões agudas. · Irritação gástrica e sangramento oculto devido a irritação ocorrem em uma porcentagem significativa dos pacientes tratados com AAS regularmente · O álcool etílico também rompe essa barreira, aumentando a permeabilidade da mucosa do estômago, destruindo suas células. · AAS e os AINES também reduzem a liberação de bicarbonato por inibição da COX 1 gástrica (sintetiza as prostaglandinas mediadoras da secreção de bicarbonato) ! ! As prostaglandinas aumentam a irrigação sanguínea da mucosa, reduz a secreção ácida, aumenta a secreção de íons bicarbonato e intensifica a produção de muco. SECREÇÃO ÁCIDA ! ! ! A secreção de ácido gástrico pode ser estimulada por fatores tão diversos quanto o pensamento em comida, distensão do estômago e ingestão de proteína Pepsinogênio células principais/ peptídicas Ácido clorídrico células parietais Fator Intrínseco células parietais Muco, bicarbonato mucosas ! ! A produção de ácido é importante na digestão proteolítica, absorção de ferro e eliminação de patógenos · A célula parietal tem uma proteína de membrana (bomba de prótons) que regula a troca de prótons · A célula apresenta receptores de histamina, gastrina e acetilcolina (responsáveis pela regulação da liberação ácida) · As células parietais liberam H+ e Cl- que se unem formando o HCl · O excesso de HCl estimula a liberação de pepsinogênio (enzima pepsina inativa - ajuda na digestão de proteínas) · Mecanismo de liberação do ácido: Por meio da alimentação tem-se a presença de peptídeos e aminoácidos que são "reconhecidos" pelas células G (célula produtora de gastrina), através disso são estimuladas a produzir gastrina (hormônio). A gastrina chega na circulação sanguínea e interage com célula ECS (essas células produzem histamina que interage com o receptor H2 (presente na célula parietal) estimulando a célula parietal na ativação da bomba de prótons · Gastrina interage no receptor de CCK-B (colecistocinina) na célula parietal, estimulando-a · A célula parietal também tem o receptor de acetilcolina (receptor muscarínico M3 - parassimpático) - a acetilcolina é liberada de neurônios pós-ganglionares vagais ou entéricos durante a alimentação ! ! Sistema parassimpático atua no processo digestivo ! ! A somatostatina (células delta do pâncreas e células D antral do estômago) faz uma retroalimentação negativa - quando tem aumento da acidez promovida pela gastrina, tem-se o aumento da somatostatina que inibe a liberação de gastrina · A somatostatina tem receptores na célula G que inibem a liberação da gastrina ! ! A secreção ácida auxilia na digestão proteica ao permitir um pH adequado para ação da pepsina, absorção de cálcio (falta = osteopenia), ferro (falta = anemia ferropriva) e vitamina B12 (falta = anemia perniciosa) · A gastrina (produzida pela célula G) é a mais potente estimulante endógeno da secreção ácida gástrica (quando o pH gástrico cai abaixo de 3, a liberação de gastrina é inibida, por meio de feedback negativo, pela somatostatina) · Outros estimulantes da secreção gástrica são a histamina, a acetilcolina e a grelina FASE CEFÁLICA · Cerca de 30% de resposta · A secreção de ácido gástrico é iniciada pela visão, olfato, paladar e pela deglutição · Isso ativa o núcleo motor dorsal do núcleo vago no bulbo e resultam em descarga vagal e de nervos motores parassimpáticos · A liberação de ACh ativa diretamente as células parietais por receptores M3 e ativa indiretamente ao estimular a liberação de histamina nas células ECS (enterocromafins) · Além disso, no antro, ocorre a liberação de peptídeo liberador de gastrina por meio do estímulo vagal FASE GÁSTRICA · Cerca de 70% de resposta · A secreção é induzida por estímulos dentro do estômago · Nervos sensoriais vagais detectam a distensão gástrica e desencadeiam um reflexo vasovagal, liberando ACh · Proteínas parcialmente digeridas e aminoácidos estimulam a liberação de gastrina pelas células G - a gastrina estimula diretamente as células parietais, além de estimular as enterocromafins na produção de histamina FASE INTESTINAL · Muitas substâncias, particularmente gordura e ácido, estimulam a secreção gástrica de ácido. Exemplos incluem secretina e colecistocinina. OUTRAS SECREÇÕES GÁSTRICAS · Pepsina (liberada como pepsinogênio e ativada na acidez): inicia a degradação de proteínas da dieta em peptídeos - responsável apenas por 10% da digestão total · Mucinas: se combinam com fosfolipídeos, bicarbonato e água para formar a camada de gel do muco que adere à superfície de células epiteliais · Fator intrínseco: liberado pelas células parietais, sendo importante na absorção de vitamina B12 (cobalamina - única fonte é por meio da dieta) · Ácido e pepsina liberam B12 das proteínas A utilização de IBP pode ocasionar anemia perniciosa no paciente por conta da hipocloridria? Como proceder? - sem ácido e pepsina não tem a quebra da proteína e não tem liberação de B12 para que o fator intrínseco possa atuar ESVAZIAMENTO GÁSTRICO · Secretina (liberação é estimulada por ácido) inibe as contrações do esfíncter pilórico, para tornar mais lento o esvaziamento · Colecistocinina (liberação estimulada por alimentação gordurosa) age diminuindo o esvaziamento gástrico que resulta no aumento da pressão estomacal e diminuição da pressão do EIE GASTRITE · Gastrite é a inflamação do estômago e indica presença de lesão epitelial gástrica associada à regeneração da mucosa, obrigatoriamente na presença de inflamação · CLASSIFICAÇÃO - feito pelo Sistema Sidney que envolve aspectos histológicos e endoscópicos, podendo proceder ao laudo médico e à classificação da gastrite · Existem várias formas de gastrite, mas a maioria pode ser dividida em aguda ou crônica GASTRITE AGUDA ! ! Geralmente ocorre no antro do estômago, onde estão as células principais (produtoras de pepsinogênio) · Caracteriza-se por um processo inflamatório agudo da mucosa, geralmente de natureza transitória · Pode causar vômitos, dor e hemorragia, assim como ulcerações nos casos graves · A forma erosiva é uma causa importantede sangramento gastrointestinal agudo · Está mais associada aos compostos irritativos locais, como AAS ou outros AINEs, álcool ou toxinas bacterianas · Em relação ao álcool a situação é mais atípica, podendo causar desconforto gástrico que pode gerar vômitos, sangramento e hematêmese · A gastrite por toxinas de microrganismos infecciosos geralmente tem início súbito e violento, com desconforto gástrico e vômitos que começam 5 horas após a contaminação · Uremia, tratamento com quimioterápicos para câncer e radioterapia do estômago também causam gastrite aguda · Geralmente é um distúrbio autolimitado, com recuperação e cicatrização completas dentro de alguns dias depois da eliminação da condição ou agente desencadeante GASTRITE CRÔNICA · Gastrite crônica caracteriza-se pela inexistência de erosões visíveis macroscopicamente e pela existência de alterações inflamatórias crônicas - acarretam na atrofia do epitélio glândulas do estômago H. PYLORI ! ! Consegue sobreviver no ambiente ácido - bastonete gram-negativo · Secretam urease, contribui para a produção de amônia suficiente para tamponar a acidez do seu ambiente ! ! Produz enzimas e toxinas que têm a capacidade de interferir na proteção local da mucosa gástrica contra a ação do ácido, causar inflamação intensa e desencadear uma reação imune - aumenta a produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, IL-8), que ajudam a recrutar e ativar neutrófilo · Em alguns pacientes, a infecção por H. pylori pode levar à morte de células parietais, inflamação crônica e padrões alterados de diferenciação da mucosa (metaplasias), que aumentam o risco de progressão para câncer gástrico · A infecção da H. pylori, em geral, ocorre na infância, mas passa despercebida e aparentemente sem sintomas · Quando adquirida na fase aguda pode ocasionar dor ou desconforto epigástrico, náuseas, vômitos, halitose e astenia (sintomas que se iniciam em um período de 3 a 7 dias após a infecção e persistem durante poucos dias) · Em razão da alta prevalência de gastrite crônica associada ao H. pylori, supõe-se que muitos casos de dispepsia aguda sejam decorrentes de uma infecção primária pela bactéria · H. pylori é encontrada em ⅔ da população mundial · As formas de transmissão são: de pessoa a pessoa por vômitos, saliva ou fezes; água contaminada e locais sem saneamento · A infecção aguda pelo H. pylori gera hipocloridria (diminuição da produção de ácido clorídrico), pois, indiretamente, estimula a liberação de somatostatina ! ! Responsável por até 80% de úlceras gástricas e mais de 90% dos casos de úlceras duodenais SINTOMAS · Náuseas e vômitos, dor abdominal, azia, diarreia, fome de manhã e mau hálito FATORES QUE GERAM GASTRITE · Uso abusivo de AINEs, consumo excessivo de álcool, a bactéria H. pylori e beber com frequência bebidas quentes SINTOMAS · Queimação na boca do estômago · Sensação de estufamento · Dor na região do estômago que pode acentuar ao se alimentar ou após ! ! ! Úlceras diminuem a dor ao se alimentar, pois sofrem acidificação PREVENÇÃO E TRATAMENTO · Dieta saudável - sem gorduras, chocolates, muito café, pimenta e comidas industrializadas · Gorduras ficam muito tempo no estômago, produzindo muito ácido e piorando a gastrite · Evitar consumo de bebidas alcoólicas · Uso de anti-inflamatórios de forma desordenada DIAGNÓSTICO MÉTODOS INVASIVOS · Teste rápido de urease: detecta a presença de urease na amostra da mucosa gástrica · Biópsia · Cultura microbiológica MÉTODOS NÃO-INVASIVOS · Teste respiratório com ureia 13C: considerado padrão ouro no diagnóstico não invasivo desta infecção · O teste respiratório consiste na ingestão de 75 mg de uréia marcada com carbono 13, misturada com suco de laranja ou maçã. Dentro do estômago, a uréia entra em contato com substância gerada pelo H. pylori. A reação produz bicarbonato e amônia. O bicarbonato penetra na corrente sanguínea e é expirado pelo pulmão na forma de CO2 marcado. · Teste de antígeno fecal · Sorologia H. PYLORI E NEOPLASIA GÁSTRICA · Devido às grandes lesões na mucosa pode ocorrer uma metaplasia (mudança do epitélio) para sanar a lesão, o problema é quando a metaplasia discorre em uma displasia (lesão pré-cancerosa) evoluindo para um adenocarcinoma gástrico TRATAMENTO · Terapia tripla (tratamento de primeira linha): IBP (Omeprazol), Amoxicilina (antibiótico penicilânico) e Claritromicina (antibiótico de largo espectro) por 14 dias · Amoxicilina pode ser substituída por Furazolidona em casos de alergia ! ! ! Tem havido preocupação crescente quanto à eficácia da terapia tripla com claritromicina, mas continua sendo uma opção de tratamento de primeira linha em regiões onde a resistência à claritromicina por H. pylori é conhecida por ser baixa (tem sido evitada na América do norte, pois a resistência excede 15%) · Todos os pacientes devem ser questionados sobre exposição prévia a macrolídeos (classe de antimicrobianos) - essa terapia é evitada em caso de exposição prévia · Terapia quádrupla: com Bismuto (metal que ajuda no alívio da má digestão) por 10 a 14 dias e terapia concomitante (utilização de medicamentos que destroem as células doentes que formam um tumor) por 14 dias ! ! Ao contrário da terapia tripla com claritromicina, a eficácia da terapia quádrupla com bismuto não é afetada pela resistência à claritromicina. · A eficácia do tratamento deve ser investigada através de nova pesquisa da H. pylori 4 semanas após o tratamento _________________________________ Referências: · Santos, Nívea Cristina M. Anatomia e Fisiologia Humana. 2nd, 2014. · Martins, Mílton de, A. et al. Clínica Médica, Volume 4. 2nd, 2016. · Dani, Renato, e Maria do Carmo Friche Passos. Gastroenterologia Essencial, 4ª edição, 2011. · Hammer, Gary, D. e Stephen J. McPhee. Fisiopatologia da doença. 7th edição, 2015. · CHEY, William D. et. al. Diretriz Clínica ACG: Tratamento da Infecção por Helicobacter pylori. American Journal of Gastroenterology 112(2):p 212-239, fevereiro de 2017. Acadêmica: Vitória América Almeida Guimarães Acadêmica: Vitória América Almeida Guimarães
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