Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fernanda Jorge Martins – 4º Período - @fernandamartins.med 1 APG IV GASTRITE POÉTICA Objetivos: 1. Entender quais os mecanismos químicos envolvidos na patologia. 2. Compreender a fisiopatologia da Gastrite. 3. Descrever o quadro clínico da gastrite e as suas complicações. 4. Identificar os critérios de diagnóstico e tratamento. Secreções Gastrointestinais Ao longo de todo o sistema digestório, glândulas secretórias desempenham 2 funções básicas: - Produzir muco para lubrificar e proteger a mucosa da parede do sistema digestório; - Secretar líquidos e enzimas que facilitam a digestão e a absorção dos nutrientes. Células epiteliais secretoras de muco revestem a superfície interna e as depressões gástricas do estômago e funcionam como barreira protetora para toda a superfície gástrica. Além disso, a mucosa gástrica tem vários outros tipos de células que secretam substâncias necessárias à digestão. Isso inclui as células parietais, as células principais e as células G. - Células parietais: secretam ácido clorídrico (HCl) e fator intrínseco. As funções principais do ácido gástrico são decompor quimicamente e desinfetar os alimentos ingeridos. O fator intrínseco é necessário à absorção da vitamina B12. - Células principais: secretam pepsinogênio, que é convertido rapidamente em pepsina quando fica exposto ao pH ácido dos sucos gástricos. A pepsina é uma enzima que inicia a proteólise (ou decomposição das proteínas). - Células G: localizado no antro, que fica no estômago, e secretam gastrina. Secreção Ácida do Estômago O mecanismo de secreção de HCl pelas células parietais do estômago envolve o transportador trifosfatase de adenosina (ATPase) que permuta hidrogênio (H+) por potássio (K+) e canais de cloreto (Cl–) localizados na sua membrana luminal; Durante o processo de secreção do HCl, o dióxido de carbono (CO2) produzido pelo metabolismo aeróbio combina-se com água (H2O) em uma reação catalisada pela anidrase carbônica e forma ácido carbônico (H2CO3), que se dissocia em H+ e bicarbonato (HCO3–); O íon H+ é secretado com Cl– no lúmen gástrico, enquanto o HCO3– sai da célula e entra na corrente sanguínea a partir da membrana basolateral; O HCO3– absorvido é responsável pela “maré alcalina” (aumento do pH), que ocorre depois de uma refeição; Na membrana, o íon H+ é secretado no estômago por meio do transportador Fernanda Jorge Martins – 4º Período - @fernandamartins.med 2 APG IV H+/K+ATPase (bomba de prótons). O íon Cl– acompanha o H+ quando entra no estômago por difusão através dos canais de Cl– existentes na membrana luminal. Substâncias que estimulam a secreção de HCL pelas células parietais Acetilcolina, gastrina e histamina. Embora cada uma dessas substâncias ligue- se a receptores diferentes da célula parietal e tenha mecanismo de ação independente, todas têm como função estimular o aumento da secreção de H+ por meio do transportador H+/K+ATPase. - Acetilcolina: é liberada pelos nervos vagais que inervam o estômago e liga-se aos receptores de acetilcolina (M3) das células parietais. - Gastrina: é secretada pelas células G do antro gástrico e alcança as células parietais por meio da circulação. Esse hormônio liga- se aos receptores de colecistocinina tipo 2 (CCK2) das células parietais. - Histamina: é liberada por células endócrinas especiais existentes na mucosa gástrica e difunde-se às células parietais adjacentes, onde se liga aos receptores de histamina tipo 2 (H2). Gastrite É definida como a presença de inflamação da mucosa gástrica, de forma aguda ou crônica, acompanhada de lesão epitelial e regeneração da mucosa; Geralmente, ela é classificada de acordo com seus aspectos endoscópicos e histológicos, de acordo com o Sistema Sidney, o mais utilizado atualmente; Existem diversas formas de apresentação da gastrite; entretanto, a manifestação mais comum é a gastrite crônica induzida por Helicobacter pylori; A H. pylori é uma bactéria espiralada e gram negativa, que possui boa adaptação ao ambiente gástrico, colonizando o muco de revestimento do estômago. Ela é considerada um carcinógeno do tipo I. Epidemiologia A predominância da gastrite está associada à colonização pela bactéria Helicobacter pylori, que chega a infectar cerca de metade da população mundial; Fernanda Jorge Martins – 4º Período - @fernandamartins.med 3 APG IV A prevalência da infecção por H. pylori aumenta com a idade e é praticamente igual em homens e mulheres. Além disso, há uma elevada prevalência de comprometimento em países em desenvolvimento, comparada à uma diminuição dela em países desenvolvidos. Etiologia Na maior parte das vezes é de causa infecciosa pelo H. pylori, podendo ser transmitida através da água, de alimentos contaminados ou de pessoa a pessoa. Outra causa muito comum é o uso prolongado de anti-inflamatórios não estereoidais (AINES) como aspirina e ibuprofeno, uma vez que se usados de forma crônica eles reduzem a proteção gástrica; Álcool, drogas e cigarro também podem causar gastrite, pois aumentam a produção de ácido no estômago causando irritação e dificultando a digestão. Também pode ser etiologia autoimune, que é quando o sistema imune produz anticorpos que agridem e destroem as células gástricas do próprio organismo. Classificação Gastrites Agudas: Gastrite Aguda por H. pylori: Adquirido por via oral, o microrganismo entra na camada mucosa e se multiplica em contato íntimo com as células epiteliais do estômago. Em resposta a isso, ocorre a perda de mucina do epitélio, esfoliação celular e alterações regenerativas. As bactérias que penetraram irão liberar vários quimiotáticos que entram através do epitélio lesado e induzem a migração de células de defesa para a lâmina própria e epitélio. Os produtos bacterianos ativam mastócitos que sofrem degranulação liberando outros ativadores inflamatórios que aumentam a permeabilidade vascular, a expressão de moléculas de adesão de leucócitos nas células endoteliais e também contribuem para uma maior migração de leucócitos. Além disso, o H. pylori estimula o epitélio gástrico a produzir uma potente citocina, a interleucina-8, cuja produção é potencializada pelo fator de necrose tumoral e pela IL-1 que são liberados pelos macrófagos em resposta ao LPS bacteriano. Durante essa fase, ocorre diminuição da produção de HCL e ausência da produção de ácido ascórbico para o suco gástrico. Essa fase aguda é de curta duração podendo ser curada espontaneamente em algumas crianças ou produzida uma reposta imune neutrofílica que dará lugar a uma gastrite ativa crônica. As manifestações clínicas são dor ou mal estar epigástrico, pirose, náuseas, vômitos, flatulências, sialorreia, halitose, cefaleia e astenia. Os sintomas tendem a permanecer por 1 a 2 semanas. Gastrite supurativa ou flegmonosa aguda: É uma doença rara que acomete mais crianças, caracteriza-se por infecção bacteriana das camadas musculares, mucosa e submucosa do estômago, com Fernanda Jorge Martins – 4º Período - @fernandamartins.med 4 APG IV infiltração de células plasmáticas, linfócitos e polimorfonucleares. Na maioria dos casos, a mucosa gástrica não é acometida. O quadro costuma se instalar como complicação de doença sistêmica ou septicemia, tendo sido observada após meningite, empiema, e endocardite pneumocócica, por exemplo. Quando causada por agentes que formam gás, é chamada de gastrite enfisematosa. A evolução clínica é rápida, com dor epigástrica, náuseas e vômitos purulentos sendo constantemente observados. Em outros casos, pode ter sinais de irritação peritoneal. Gastrite aguda hemorrágica ou gastrite erosiva aguda: As lesões agudas damucosa gastroduodenal ou úlceras de estresse se iniciam nas primeiras horas após grandes traumas ou doenças sistêmicas graves, acometendo as regiões proximais do estômago. São caracterizadas por múltiplas lesões hemorrágicas, puntiformes, associadas a alterações da superfície epitelial e edema. Gastrite Crônica: É uma condição inflamatória da mucosa gástrica que pode afetar diferentes regiões do estômago e exibir graus diferentes de lesão da mucosa. Predominantemente causada pelo H. pylori tem um longo período latente de infecção subclínica, durante o qual causa inflamação e dano da mucosa. Embora a bactéria esteja presente tipicamente no antro e no corpo do estomago, ela vai ser mais encontrada no antro pois lá tem condições favoráveis para sua existência. Histologicamente, observa-se infiltrado inflamatório composto de plasmócitos e linfócitos na lâmina própria. Sendo a inflamação ativa evidenciada pela presença de neutrófilos na camada glandular e na superfície epitelial. Fisiopatologia Cerca de 95% dos casos de gastrite crônica são causados pela infecção por H. pylori, sendo uma das infecções mais comuns em seres humanos. A evolução clínica depende de aspectos do hospedeiro e da própria bactéria, em interação. A lesão do epitélio pode ocorrer diretamente, através da liberação de enzimas e toxinas, ou por meio da indução de resposta inflamatória do hospedeiro. Apesar da indução dessa resposta imune local, uma vez adquirida, a infecção persiste para sempre e raramente Fernanda Jorge Martins – 4º Período - @fernandamartins.med 5 APG IV regride naturalmente. Depois da fase aguda, o padrão da gastrite vai depender do curso da infecção; A região de antro é frequentemente a primeira a ser acometida e esses indivíduos mantém a produção de secreção gástrica ácida normal, visto que a mucosa oxíntica é preservada. Entretanto, esses pacientes têm mais chances de desenvolver úlcera péptica; O acometimento da região de corpo gástrico indica comprometimento de secreção e a inflamação pode resultar no desenvolvimento de atrofia da mucosa, que predispõe ao câncer gástrico; Assim, é possível estabelecer a sequência: infecção pelo H. pylori → gastrite crônica → atrofia glandular → metaplasia intestinal; A possibilidade de a gastrite crônica evoluir para atrofia gástrica, metaplasia intestinal, displasia e neoplasia dá suporte para a classificação do H. pylori como carcinógeno tipo I, segundo a Associação Internacional para Pesquisa contra o Câncer, da OMS. Quadro Clínico Em geral, a gastrite é descrita como assintomática e silenciosa. Entretanto, podem surgir alguns sintomas inespecíficos, como dor em epigástrio que pode irradiar para tórax ou outras regiões abdominais, pirose, náuseas e vômitos; Dessa forma, o maior significado clínico da gastrite crônica por H. pylori é o risco de aparecimento de úlcera péptica e carcinoma gástrico. Complicações Câncer Gástrico: A gastrite crônica é um fator de risco canceroso e estar relacionada ao carcinoma gástrico do tipo intestinal. A carcinogênese gástrica é multifatorial que está relacionado com a interação de fatores genéticos do hospedeiro (secreção ácida gástrica e mutações nas citocinas próinflamatórias), diversidade genética do H. pylori infectante e fatores ambientais como os hábitos dietéticos e de higiene pessoal. Assim, a inflamação gástrica de longa duração promovida pelo H. pylori está diretamente relacionada com a gastrite atrófica que é considerada o primeiro passo pra histogênese do câncer gástrico. Além disso, a metaplasia intestinal também confere maiores chances de desenvolvimento de câncer gástrico. Doença ulcerosa péptica: O envolvimento da gastrite na doença ulcerosa é complexo, uma vez que ela pode aumentar ou diminuir o risco de úlcera, dependendo do seu grau e do local que atinge. Gastrite e atrofia do antro tendem a aumentar o risco de úlcera péptica, enquanto a gastrite com atrofia do corpo tende a diminuí-lo. As úlceras gástricas ocorrem em mucosa enfraquecida por uma infecção de longa duração pelo H. pylori e quanto mais severa é a gastrite, maior a possibilidade de haver diminuição das defesas da mucosa, o que Fernanda Jorge Martins – 4º Período - @fernandamartins.med 6 APG IV permite a ocorrência da lesão produzida pelo ácido. Tumores neuroendócrinos Tipo I (NET-I): São pequenos, multifocais, ocorrendo na gastrite crônica com atrofia severa do corpo, e estão relacionados com a acloridria causada pela atrofia total da mucosa do corpo. Anemia perniciosa: Complicação tardia da gastrite crônica e está sempre associada com atrofia severa (total) da mucosa do corpo gástrico e com diminuição da secreção de fator intrínseco pela mucosa do corpo. Diagnóstico Uma boa anamnese e exame físico são importantes no diagnóstico de gastrites, bem como o exame histológico da mucosa, que é mandatório, nesse caso. Assim, é importante a realização de endoscopia com biópsia para a diferenciação de outras afecções gástricas. Além disso, pode ser realizado teste para presença de Helicobacter pylori com anticorpos no soro, teste de antígeno nas fezes e teste respiratório com ureia marcada com carbono- 13. Tratamento A infecção por Helicobacter pylori associa-se a úlceras pépticas duodenais e gástricas e tem curso clínico altamente variável, manifestando-se por gastrite, úlcera gástrica ou duodenal, atrofia da mucosa, carcinoma gástrico ou linfoma gástrico; Assim, essa doença tem tratamento específico que alivia os sintomas e acelera a cicatrização das lesões provocadas pelo processo patológico; Sendo assim, foi preconizado que o tratamento de erradicação do H. pylori de primeira linha envolve uma terapia tríplice padrão por 14 dias com: inibidores da bomba de prótons – IBP em 12/12 h (omeprazol 20 mg, lansoprazol 30 mg, pantoprazol 40 mg, rabeprazol 20 mg, dexlansoprazol 60 mg, vonoprazano 20 mg ou esomeprazol 40 mg), claritromicina com dose de 500mg em 12/12 h e amoxilina com dose de 1g de 12/12 h. Além desse tratamento padrão, existem outras terapias alternativas como a quádrupla com bismuto por 10-14 dias que incluem também os IBPs (de 12/12 h), o subcitrato de bismuto coloidal (240 mg de 12/12 h), o cloridrato de tetraciclina (500mg de 6/6 h) e o metronidazol (400mg de 8/8 h); e a terapia concomitante sem bismuto por 14 dias que é composta por: IBP (de 12/12 h), amoxilina (1g de 12/12 h), claritromicina (500mg de 12/12 h), metronidazol ou tinidazol (500mg de 12/12 h). Referências Bibliográficas 1. VAKIL.NIMISH. Gastrite. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt- br/casa/dist%C3%BArbios- digestivos/gastrite-e-%C3%BAlcera- Fernanda Jorge Martins – 4º Período - @fernandamartins.med 7 APG IV p%C3%A9ptica/gastrite>. Acesso em: 13 set. 2021.
Compartilhar