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Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia A farmacologia colinérgica trata das propriedades do neurotransmissor acetilcolina (ACh). As funções das vias colinérgicas são complexas, porém envolvem geralmente a junção neuromuscular (JNM), o sistema nervoso autônomo e o sistema nervoso central. A acetilcolina é sintetizada em uma única etapa a partir da colina e da acetil coenzima A (acetil-CoA) pela enzima colina acetiltransferase (ChAT): Acetil-CoA + Colina → Acetilcolina Uma vez sintetizada no citoplasma, a ACh é transportada até o interior de vesículas sinápticas para armazenamento. A liberação de ACh na fenda sináptica ocorre por meio da fusão da vesícula sináptica com a membrana plasmática A ACh é degradada na fenda sináptica pela acetilcolinesterase (AChE) de forma rápida e a colina liberada sob sua ação é eficientemente transportada de volta à terminação pré-sináptica. Os agentes anticolinesterásicos diminuem a degradação da ACh e aumentam sua concentração na fenda sinática. Dessa forma, essa classe pode ser explorada na clínica. Uma vez liberada na fenda sináptica, a ACh liga-se a uma de duas classes de receptores, localizados habitualmente sobre a superfície da membrana da célula pós-sináptica: Receptores nicotínicos; Receptores muscarínicos. Os receptores nicotínicos são ionotrópicos, ou seja, estão ligados a canais iônicos e são encontrados principalmente na junção neuromuscular (JNM). Quando um agonista nicotínico se liga nesse receptor nessa região, ocorre a contração muscular. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia Já os receptores muscarínicos estão acoplados a proteína G e a transmissão colinérgica muscarínica ocorre principalmente: Gânglios autônomos; Vísceras; Musculatura lisa; Tecido glandular. Os receptores M1, M3 e M5 estão acoplados a proteínas G responsáveis pela estimulação da fosfolipase C. Por outro lado, os receptores M2 e M4 estão acoplados a proteínas G responsáveis pela inibição da adenilciclase e pela ativação dos canais de potássio. Receptores 1, 3 e 5: excitatórios; Receptores 2 e 4: inibitórios. Em geral, o receptor M1 é expresso nos neurônios corticais e gânglios autônomos; os receptores M2, no músculo cardíaco, e os receptores M3, em músculo liso e tecido glandular. Como a estimulação de M1, M3 e M5 facilita a excitação da célula, enquanto a estimulação de M2 e M4 suprime a excitabilidade celular, existe uma correlação previsível entre o subtipo de receptor e o efeito da ACh sobre a célula. A ACh se liga a receptores M2 presentes na fibra muscular cardíaca e provoca: Inotropismo negativo; Cronotropismo negativo; Dromotropismo negativo. Dessa forma, ocorre a diminuição da força e da frequência cardíaca. A ACh se liga a receptores M3 presentes nesse sistema e provoca: Broncoconstrição; Aumento de secreções (muco) na traqueia e nos brônquios. A ACh se liga ao receptor M3 presente na bexiga e provoca: Contração do músculo detrusor; Relaxamento do esfíncter interno. A ACh se liga em receptores M3 presentes no TGI provocando: Aumento da amplitude das contrações; Aumento das secreções gástricas e intestinais. A ACh se liga a receptores M3 presentes no tecido glandular, aumentando a secreção de diversos locais, como glândulas: Lacrimais; Sudoríparas; Salivares; Nasofaríngeas. A ACh se liga a receptores M3 presente nos olhos e provoca: Contração do mm. esfíncter da pupila (miose); Contração do músculo ciliar (acomodação para perto). Os fármacos colinérgicos e anticolinérgicos são usados principalmente para: Modulação do TGI; Xerostomia (boca seca); Glaucoma; Cinetose (e antieméticos); Doenças neuromusculares; Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia Bloqueio neuromuscular agudo e reversão durante cirurgia; Bloqueio ganglionar durante dissecção aórtica; Distonias (como torcicolo); Midríase; DPOC (broncodilatadores); Espasmos vesicais e incontinência urinária; Doença de Alzheimer, disfunção cognitiva e demência. Esses agentes degradam a AChE e, consequentemente, aumentam o tempo da ACh na fenda sináptica. São divididos em: Ação curta: edrofônio; Ação intermediária: neo e fisostigmina; Irreversíveis: organofosforados e ecotiopato; O edrofônio é usado no teste de Miastenia grave, doença que afeta a JNM. O edrofônio inibe a AChE por meio de sua associação reversível com o sítio ativo da enzima e esse complexo persiste por apenas 2 a 10 min, ocasionando bloqueio relativamente rápido, porém totalmente reversível. Já a neostigmina, piridostigmina, etc. melhoram o sintoma de força muscular, pois permanece por mais tempo inibindo a AChE e aumentando a ação da ACh. Além disso, esses fármacos são usados no glaucoma, tendo sudorese, bradicardia e piora da asma como efeitos colaterais. Os organofosforados possuem usos clínicos, como no caso do etiopato, também usado no glaucoma. Porém, possui risco intoxicação (defensivos agrícolas) por terem efeitos sobre o coração e músculos. OBS: para reverter, usa-se pralidoxima, reativador da AChE. Os agonistas colinérgicos também podem ser chamados de: Parassimpaticomiméticos Isso se deve ao fato de que esses fármacos imitam a ação da acetilcolina. A succinilcolina (suxametônio) possui alta afinidade com os receptores nicotínicos e é resistente à AChE. É utilizada para induzir paralisia durante a cirurgia por meio de bloqueio despolarizante. Quando administrado, ocorre uma despolarização persistente que provoca uma dessenssibilização, porém com menor tempo de duração. Essa ação despolarizante prova fasciculação (espasmos) e dor muscular subsequente. Os agonistas muscarínicos são ésteres de colina, moléculas com carga elétrica e hidrofílicas. Possuem baixa absorção por VO e pouca distribuição ao SNC. São eles: Betanecol; Metacolina; Carbacol; Muscarina; Pilocarpina. A pilocarpina possui pouco uso farmacológico e é sialagoga e miótica e utilizada no tratamento da xerostomia. A acetilcolina é indicada para miose em cirurgia, enquanto o carbacol é utilizado para miose em cirurgia e também para o glaucoma, assim como a pilocarpina. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Farmacologia A metacolina é indicada para diagnósticos de hiper-reatividade dos brônquios. Já o betanecol é indicado para retenção urinária pós-operatória. Por fim, a pilocarpina também é indicada para xerostomia. Efeitos adversos: diaforese (transpiração excessiva), diarreia, cólicas intestinais, náuseas e vômitos, dificuldade de acomodação visual e hipotensão. Os antagonistas dos AChR atuam por sua ligação direta ao sítio agonista, bloqueando competitivamente a estimulação do receptor pela ACh endógena ou pela administração exógena de agonistas do receptor. Esses fármacos atuam na JNM e produzem bloqueio de forma não despolarizante, impedindo a despolarização das células musculares e promovendo paralisia. Podem possuir diferentes tempos de ação, sendo: Ação longa: d-tubocurarina e pancurônio; Ação intermediária: vecurônio e rocurônio; Ação curta: mivacúrio. Os compostos anticolinérgicos que atuam sobre os receptores muscarínicos são utilizados para produzir efeito parassimpaticolítico nos órgãos-alvo. Esses compostos, ao bloquear o tônus colinérgico normal, possibilitam o predomínio das respostas simpáticas. No sistema cardiovascular, os antagonistas colinérgicos muscarínicos irão promover a mesma resposta simpática, que seria então: inotropismo, dromotropismo e cronotropiso positivo (atropina). Já no sistema respiratório, quando os antagonistas muscarínicosse liga aos receptores, promovem relaxamento da musculatura lisa da arvore brônquica (broncodilatação) e diminuição das secreções traqueobrônquicas. São utilizados para o tratamento de DPOC e da asma (tiotrópio e ipratrópio). Nos olhos, esse grupo de fármacos (tropicamida e ciclopentolato) promove o relaxamento do musculo esfíncter da pupila (midríase) e do musculo ciliar (cicloplegia). Já no TGI, a metilescopolamina e glicopirrolato, antagonistas muscarínicos, promovem redução do tônus vagal, ou seja, redução da amplitude e frequência das contrações peristálticas. São chamados de antiespasmódicos. Além disso, reduzem ainda as secreções gástricas e são usados para o tratamento de ulceras pépticas (metilescopolamina e pirenzepina). No trato urinário, os antagonistas do receptor muscarínico, propantelina e oxibutinina, são usados no tratamento da bexiga hiperativa e no tratamento da incontinência urinária. Sedação (concentrações baixas a médias) Taquicardia e hiperexcitação do SNC (concentrações mais altas) Visão embaçada (cicloplegia e midríase) Boca seca Retenção urinária Rubor e febre Agitação e taquicardia
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