Buscar

DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR

Prévia do material em texto

CAPÍTULO VI
DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR
Ato obsceno
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou
exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
BEM JURÍDICO PROTEGIDO: é a moral, o pudor público da sociedade relacionado à
comportamentos com certa conotação sexual;
SUJEITOS:
Sujeito passivo – qualquer pessoa, tanto individual quanto a coletividade;
Sujeito ativo – qualquer pessoa.
TIPO OBJETIVO: realização a partir de um movimento corporal voluntário com a intenção
de ofender ou “chocar” o recato sexual alheio, em local público, ou seja, ambiente aberto
com frequência de indeterminado número de pessoas ou local aberto ao público. Simples
palavras não configuram o crime em estudo.
TIPO SUBJETIVO: o dolo é o elemento para prática do crime, não admitindo-se a forma
culposa.
OBSERVAÇÃO: o tipo pode ser praticado na modalidade omissiva no caso do agente
garantidor, ex: policial. Art. 13, paragrafo 2º, alínea a, Código Penal.
CONSUMAÇÃO: no momento em que o agente pratica o ato obsceno em lugar público, ou aberto, ou
exposto ao público tiver sido presenciada por terceiros.
TENTATIVA: é admissível.
AÇÃO PENAL: ação pública incondicionada. Cabe a aplicação do Juizado Especial criminal, arts. 61
e 89 da Lei n. 9.099/1995
OBSERVAÇÕES: A expressão ato obsceno tem significado relativo, modificando-se de acordo com os
valores culturais inerentes à coletividade, que certamente não serão os mesmos em todo o país, além
de se modificarem com o passar do tempo. Podemos citar como exemplo o beijo lascivo, que há anos
era tido como ato ultrajante ao pudor público, mas, com a evolução dos costumes, deixou-se de assim
considerá-lo. Logo, apresentando um viés subjetivo ao analisar o ato praticado.
Crítica doutrinária: inconstitucionalidade do crime do art. 233 do CP sob o argumento de que a
forma da tipificação contraria o princípio da taxatividade (ou da determinação), representa um
tipo penal extremamente aberto.
CAPÍTULO VII
DISPOSIÇÕES GERAIS 
Aumento de pena
Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:
I – (VETADO);
II – (VETADO);
III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez;
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite à vítima doença sexualmente
transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com
deficiência.
Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de
justiça.
Art. 234-C. (VETADO).
1. GRAVIDEZ – punição de forma mais rígida, gravosa aquele que ao praticar um estupro
ou violação sexual mediante fraude acaba por gerar como resultado uma gravidez
indesejada, fruto de uma prática criminosa.
- Art. 128, inciso II, CP: aborto;
- Efeitos lesivos da conduta no que tange à própria integridade da vítima.
2. TRANSMISSÃO DE DOENÇA - para aplicação da agravante é necessário que o agente
atue com dolo direto ou eventual, caso contrário, não incide o aumento.
- Caso o autor gere apenas o perigo de transmissão, sendo a mesma doença venérea,
responderá pelo art. 130, CP, perigo de contágio de moléstia venérea, em concurso com o
crime sexual, não pelo aumento de pena, que apenas se aplica caso a enfermidade seja
efetivamente transmitida.
3. SEGREDO DE JUSTIÇA – em todos os processos em que estejam sendo apurados
crimes que atentem contra a dignidade sexual da pessoa, é obrigatório o segredo de justiça,
com o objetivo a resguardar os direitos da partes envolvidas.
- Art. 201, paragrafo, 6º, CPP;
TÍTULO VII
DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA
CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO
Bigamia
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada,
conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três
anos.
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo
que não a bigamia, considera-se inexistente o crime.
BEM JURÍDICO PROTEGIDO – a organização familiar e a ordem matrimonial. Casamento, art.
1514, Código Civil.
SUJEITOS
Ativo – a pessoa que, casada, contrai novo matrimônio, ou que, solteira, viúva ou divorciada, se
casa com pessoa que sabe ser casada;
Passivo – o Estado, o cônjuge do primeiro casamento e o contraente do segundo, caso tenha
agido de boa-fé.
TIPO OBJETIVO – ocorre quando o sujeito ativo, casado, contrai novo casamento. Não é
suficiente a união estável para caracterizar o delito em tela.
- Casamento religioso anterior ou posterior ao casamento civil não permite a caracterização do
crime em estudo. Porém, se realizado na forma prevista no art. 226, paragrafo 2º, Constituição
Federal combinado com art. 1515, Código Civil, está apto ao crime em estudo.
- Separação judicial: é irrelevante para não configuração o presente delito.
- Casamento nulo ou anulável anterior ou anulado o matrimônio posterior, por razão diversa da
bigamia, cessando os efeitos penais, art. 235, paragrafo 2º, CP.
TIPO SUBJETIVO – dolo;
CONSUMAÇÃO – com a celebração do novo casamento;
TENTATIVA - admissível;
FORMA PRIVILEGIADA – art. 235, paragrafo 1º, CP;
AÇÃO PENAL – ação pública incondicionada.
JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL – art. 235, paragrafo 1º, CP.
PRESCRIÇÃO - antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr, no delito
de bigamia, da data em que o fato se tornou conhecido ( art. 111, inciso IV, CP) –
geralmente, a contagem do prazo prescricional é iniciado na data em que o fato adquiriu
notoriedade ou tornou-se conhecido pela autoridade competente.
Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o
outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja
casamento anterior:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do
contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de
transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou
impedimento, anule o casamento.
INTRODUÇÃO
O conceito de erro essencial – apresentado pelo artigo 1.557 do Código Civil, que
considera como sendo erro essencial em relação à pessoa o engano sobre sua
identidade, honra e boa fama; ignorância de crime anterior ao casamento; ou
ignorância quanto a defeito físico irremediável, ou doença grave e transmissível.
Situações impeditivas ao casamento também estão descritas no Código Civil, no
artigo 1.521, que determina que não podem se casar: os ascendentes com os
descendentes, seja o parentesco natural ou civil; os afins em linha reta; o adotante com
quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; os irmãos,
unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; o adotado com o
filho do adotante; as pessoas casadas; e o cônjuge sobrevivente com o condenado por
homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.
TIPO OBJETIVO - contrair casamento induzindo em erro ou ocultar impedimento.
A) CONTRAIR MATRIMÔNIO INDUZINDO O OUTRO CONTRAENTE
(convencendo, persuadindo) em ERRO ESSENCIAL. Nesta primeira figura
típica, o agente vicia a vontade do outro contraente, ao induzi-lo a contrair
casamento de forma enganada em relação a uma das hipóteses previstas no
art. 1557 do Código Civil.
B) Na segunda figura típica, o agente vicia a vontade do outro contraente
OCULTANDO-LHE (escondendo, simulando, encobrindo, disfarçando) a
existência de IMPEDIMENTO QUE NÃO SEJA CASAMENTO ANTERIOR.
Logicamente, se o agente oculta do outro contraente impedimento que seja
casamento anterior (ainda em vigor legalmente) o tipo penal a ser analisado será o
de Bigamia. Nesta última figura (ocultar), não basta uma mera omissão (neste
caso, o tipo penal pode ser o do art. 237 do CP), o Sujeito Ativo deve agir de forma
comissiva, objetivando que a verdade não seja revelada à vítima.
BEM JURÍDICO PROTEGIDO – a organização familiare a ordem matrimonial.
SUJEITOS
Ativo – qualquer pessoa, crime comum;
Passivo – o Estado e o cônjuge inocente;
TIPO SUBJETIVO – o dolo.
CONSUMAÇÃO - no momento em que o agente contrair matrimônio, consoante o disposto
nos arts. 1514 e 1515 do Código Civil, tendo induzido o outro cônjuge a erro essencial ou
lhe ocultado impedimento que não seja casamento anterior.
TENTATIVA – não é admissível;
AÇÃO PENAL – ação privada personalíssima, somente intentada pela vítima, a enganada.
OBSERVAÇÕES: ocorre uma condição de procedibilidade para propositura da ação
penal, o casamento devidamente anulado na esfera cível.
CAPÍTULO II
DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO
Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-
nascido
Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem;
ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao
estado civil:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza:
Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
BEM JURÍDICO TUTELADO – a fé pública e o estado de filiação.
SUJEITOS
Ativo: em dar parto alheio como próprio, apenas a mulher; nas demais modalidades, qualquer
pessoa;
Passivo: o Estado, bem como os herdeiros prejudicados e eventuais pessoas lesadas pelo registro.
TIPO OBJETIVO – tipo misto cumulativo.
• Dar parto alheio como próprio: o agente cria situação em que a gravidez e o parto são simulados
e, depois, apresenta o recém-nascido de outrem como se fosse próprio ou, caso tenha ocorrido o
parto, substitui o natimorto por outro;
• Registrar como seu o filho de outrem: quando o sujeito promove a inscrição no Registro Civil de
filho de outrem como se seu fosse, falsa declaração;
• Ocultar recém nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado
civil: o agente esconde recém-nascido e, pela quarta modalidade, troca por outro, vivo ou morto,
alterando ou suprimindo, em ambas as hipóteses, o direito inerente ao estado civil.
TIPO SUBJETIVO – o dolo;
CONSUMAÇÃO – em dar parto alheio como próprio: com a situação que altera o estado de filiação;
Registrar como seu o filho de outrem: com o efetivo registro;
Ocultar recém-nascido ou substituí-lo: com a supressão ou alteração de direito inerente ao estado
civil;
TENTATIVA – é admissível;
FORMA PRIVILEGIADA E PERDÃO JUDICIAL– O parágrafo único prevê a forma privilegiada do
crime, quando o mesmo é praticado por motivo de reconhecida nobreza. É o caso de cometer uma
das condutas descritas no tipo penal para que o recém-nascido não viva na miséria, dentre outras
hipóteses. Traduz um ato de humanidade e solidariedade. A forma mais benéfica do privilégio
possibilita que o juiz deixe de aplicar a pena. Neste caso, teremos uma espécie de perdão judicial,
sendo o agente obrigatoriamente condenado, mas o juiz concedendo o perdão, deixando de aplicar
a pena imposta. No entanto, em hipóteses onde o caráter humanitário estiver incrementado, há
possibilidade de se reconhecer o estado de necessidade, considerando a excludente de ilicitude.
AÇÃO PENAL – ação penal pública incondicionada. A competência para processamento do crime
em tela na forma privilegiada é do Juizado Especial Criminal.
OBSERVAÇÃO - Há um conflito aparente de normas, entre o tipo
penal do art. 242 do CP e o do art. 299 do CP (Falsidade Ideológica).
Neste caso, cumpridas as elementares do tipo penal, prevalecerá o
crime do art. 242 do CP, aplicando-se o Princípio da Especialidade.
CAPÍTULO III
DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR
Abandono material
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho
menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior
de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao
pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem
justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior
salário mínimo vigente no País.
Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de
qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento
de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.
BEM JURÍDICO TUTELADO – o núcleo familiar;
SUJEITOS
Ativos: os cônjuges, genitores, ascendentes ou descentes;
Passivos: o cônjuge, o filho menor de dezoito anos ou inapto para o trabalho, o ascendente inválido
ou maior de 60 anos, o descendente ou ascendente gravemente enfermo.
TIPO OBJETIVO – tipo penal cumulativo.
a) Deixar o agente de atender, total ou parcialmente, os meios necessários à subsistência da
vítima. Não confundir com os alimentos devidos na esfera cível;
b) Faltar ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada: é
necessária a existência de sentença judicial determinando a obrigação. A Dever do cônjuge
responsável pela separação judicial litigiosa prestação de pensão ao outro que dela necessitar.
No caso da separação consensual, deve conter na petição inicial a pensão se a outra parte não
possuir bens para se manter.
c) Deixar de socorrer, abandonar, sem justa causa: o agente omite a devida assistência.
Art. 229, Constituição Federal de 1988;
TIPO SUBJETIVO – o dolo ( sem justa causa é elemento normativo do tipo);
CONSUMAÇÃO – com a recusa do agente em proporcionar os recursos
necessários à subsistência da vítima;
TENTATIVA – inadmissível;
FORMA EQUIPARADA ( art. 244, paragrafo único, CP)
TIPO OBJETIVO – ocorre quando o devedor, embora solvente, frustre, de qualquer modo,
a assistência ou pagamento de pensão alimentícia;
TIPO SUBJETIVO - o dolo;
CONSUMAÇÃO – com a prática de qualquer das figuras previstas no tipo objetivo;
TENTATIVA – admissível;
AÇÃO PENAL – ação penal pública incondicionada.

Continue navegando