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Marcello Muniz FINANÇAS CORPORATIVAS E-book 4 Neste E-Book: INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3 CUSTO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO OU CUSTO DO EQUITY ��������������������������������������������������4 CUSTO DAS DÍVIDAS (CUSTO DO DEBT) �������13 BENEFÍCIO FISCAL E IMPOSTO DE RENDA �� 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS �����������������������������������27 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, vamos estudar como calcular o custo de capital de uma empresa, para isso, vamos verificar que esse cálculo depende do cálculo do custo do patrimônio líquido (ou custo do equity) e do custo das dívidas (ou custo do debt) assumidas pela empresa. Assim, ao calcular o custo de capital da empresa, estaremos calculando o custo da empresa para man- ter sua estrutura de capital, formada por patrimônio líquido e passivo exigível no longo prazo (PL + ELP). O custo do capital próprio representa a taxa ou remu- neração exigida (kS) para que os sócios-proprietários apliquem os seus recursos na empresa. Já o custo das dívidas representa a taxa ou remuneração (kD) que os credores exigem para prover recursos para financiar a empresa. A partir da aferição de kS e kD, vamos aprender a cal- cular o Custo Médio Ponderado de Capital (em inglês: Weighted Average Cost of Capital – WACC), que é a taxa RWACC ajustada ao risco e que mede a remunera- ção requerida por todas as fontes de capital investidas na empresa. Desse modo, vamos aprender que a tal taxa mede o custo de oportunidade relacionado às decisões dos investidores e credores da empresa. Por fim, vamos estudar que o financiamento da em- presa, por meio de dívidas, gera benefício fiscal de- vido ao impacto do imposto de renda (IR) sobre os resultados operacionais da empresa. 3 CUSTO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO OU CUSTO DO EQUITY A disciplina Finanças Corporativa oferece o instru- mental técnico que permite ao gestor ampliar o valor da empresa, maximizar o valor do acionista, monito- rar e interpretar as informações financeiras do negó- cio. Nesse sentido, existe uma grande preocupação com o tratamento dado aos aspectos financeiros, pois as finanças são uma das principais forças dire- cionadoras das decisões dos gestores profissionais. Assim, Finanças Corporativas é o ramo da adminis- tração financeira que estuda captação e uso/gestão do capital em uma empresa. Um dos objetivos básicos da disciplina é a elabora- ção de planejamento e controle orçamentários que possam: I. viabilizar os recursos necessários para as deci- sões do plano estratégico de gestão; II. criar valor econômico agregado no curto prazo; III. gerar caixa no curto e longo prazos; IV. aumentar o valor patrimonial da empresa; V. aumentar o retorno sobre ativos e patrimônio lí- quido (PL) dos acionistas; VI. incrementar o uso dos ativos, minimizando com isso a ociosidade, o crescimento e a rentabilidade. 4 Mas afinal, o que são ações e que direitos elas ofe- recem a quem investe em títulos? Ações representam frações ou parcelas do capital controlado por uma empresa. As ações estão para as S/A (únicas empresas que podem emitir e negociar ações em bolsas de valores) como as cotas estão para empresas limitadas. Por exemplo, se os Ativos Totais da empresa são AT = $ 1,000 e há 100 ações circulando no mercado, cada ação dá direito a $ 10 dos ativos da empresa. Se o Patrimônio Líquido da empresa é PL ≡ AT – PT = $ 1,000 - $ 400 = $ 600, cada ação dá direito a $ 6 (=$600/100) do valor residual da empresa. Dessa forma, possuir ações significa possuir uma determinada fração do caixa, recebíveis, estoques, aplicações de curto e longo prazo, imobilizado (imó- veis, máquinas, equipamentos etc.) pertencentes à empresa. Um acionista não é um credor da empresa, mas seu coproprietário e, enquanto tal, tem direito a lucros e responsabilidades sobre os prejuízos. Essa é a diferença básica entre ação e outros ativos, como Notas Promissórias e Debêntures (títulos de dívida que não dão aos detentores direitos de participar dos lucros da empresa). As ações podem ser classificadas de diferentes for- mas, as quais concedem direitos específicos, desta- cando-se: (1) direto de participar nos resultados da empresa; (2) possibilidade de intervenção indireta 5 na gestão da companhia por meio das Assembleias dos Acionistas (cada ação dá direito a 1 voto nas deliberações). Quando há espécie, as ações perten- cem a dois grandes grupos: ações ordinárias e ações preferenciais. FIQUE ATENTO As ações ordinárias (ON) são aquelas que garan- tem a quem as possui o direito a voto e à partici- pação nas decisões da companhia. Vale lembrar que a diferença que essa participação faz na ad- ministração da empresa depende da quantidade de ações ordinárias que um investidor possui. Já as ações preferenciais (PN) dão preferência, daí o nome, no recebimento de valores como distribui- ção de lucros. Em outras palavras, um acionista preferencial recebe dividendos e outras compensa- ções antes do que quem possui ações ordinárias da mesma empresa. Ao investir em ações, os investidores sempre levam em conta o risco não diversificável (ou risco específi- co) e o risco sistemático (ou risco não diversificável). Retomando, o risco diversificável é aquele que pode ser total ou parcialmente diluído quando o investi- dor investe em uma carteira de ativos diversificada. Já o risco sistemático é a parcela do risco que não pode ser eliminada, isto é, está sempre presente na estrutura do portfólio, mesmo em uma carteira de ativos diversificada. 6 Mais especificamente, para prover financiamento a uma empresa, os investidores levam em conta o risco sistemático (ou risco não diversificável), que é a taxa de retorno exigida pelos investidores (kS), quando proveem capital para financiamento de uma empresa. Assim, a questão que surge é: como calcular o custo do capital próprio, kS, e qual a relação deste com o custo de capital de uma empresa? FIQUE ATENTO Uma carteira de investimentos ou carteira de ati- vos é um conjunto de ativos que pertencente a um investidor. Também chamada de cesta ou portfólio de investimentos, reúne todos os ativos financeiros escolhidos para fazer seu dinheiro crescer, tanto em renda fixa quanto variável. Ao diversificar os investimentos, o investidor potencialmente corre menos riscos, já que não está deixando dinheiro em apenas um lugar (regido por um conjunto enor- me de variáveis, nem todas possíveis de antever). Assim, repartir o capital em mais ativos costuma proporcionar maior segurança financeira. O método mais empregado para determinar o custo do capital próprio é o Capital Asset Pricing Model (CAPM), ou Modelo de Precificação de Ativos de Capital. Esse modelo associa o risco sistemático com o retorno obtido no investimento em ações 7 de uma empresa, sendo calculado pela equação a seguir: Onde kS = retorno exigido sobre o ativo (custo do capital próprio); Rf = taxa de retorno livre de risco (medida geralmente pelo retorno sobre o Título do Tesouro); bi = coeficiente beta do ativo i (é um índice do grau de movimento do retorno do ativo i em resposta à mudança no retorno do mercado). O coeficiente beta (bi) é função da relação entre o retorno exigido sobre determinado ativo e o prêmio de risco mercado, diferença entre RM e Rf, ou seja, é a medida da sensibilidade da variação do retorno da ação da empresa em resposta às variações no retorno de mercado. O coeficiente beta, b, capta o risco sistemático, ou seja, como o retorno da ação de uma empresa é afe- tado pelos movimentos de mercado (oscilações nos níveis de emprego, renda e consumo das famílias, en- tre outras variáveis que afetam o retorno de vendas, custos, despesas e lucros obtidos pelas empresas), sendo calculado da seguinte maneira: Dessa forma, para calcular o beta relacionado ao risco de investir em ações de uma empresa i, bi, o gestor deve recuperar dados do retorno das ações da empresa, Ri e dados do retorno de mercado,RM, 8 com base nesses, calcular a covariância entre o Ri e RM, Cov(Ri, RM) e a variância de RM, σ 2(RM). Assim que se define o beta de um ativo i, bi, é apurado como razão entre a covariância entre o retorno do ativo i, Ri, e o retorno do ativo de mercado, RM, e a variância índice de mercado, RM. Assim definido, bi mede a sensibilidade do retorno kS em relação aos movimentos do mercado, sendo interpretado da seguinte maneira (Tabela 1): bi > 1 A taxa de retorno exigida pelo investidor, kS, tende a se mo- ver no mesmo sentido, mas em maior proporção (quando bi = 1,5, por exemplo, se o retorno do mercado, RM, aumentar em 10%, o retorno exigido sobre esta ação aumentará 15%). bi < 0 Quando a taxa de retorno de mercado, RM, se mover para cima ou para baixo, kS varia em sentido contrário (quando bi = – 1,5, por exemplo, se o retorno do mercado, RM, aumentar em 10%, o retorno exigido sobre a ação cairá 15%). 0 ≤ bi ≤ 1 Quando a taxa de retorno do mercado, RM, se move para cima ou para baixo, a taxa de retorno exigida sobre determinado ativo tende a se mover no mesmo sentido, porém, em menor proporção (se bi = 0,8, se o retorno do mercado aumentar em 10%, o retorno exigido sobre esta ação aumentará em apenas 8%). bi = 1 Quando a taxa de retorno do mercado varia, RM, a taxa de retorno exigida kS sobre o ativo também varia no mesmo sentido e mesma proporção. Figura 1: Interpretação do coeficiente beta, bi. Fonte: Elaboração própria. Vamos admitir que você recuperou os dados sobre a cotação dos preços das ações da empresa i, retorno de mercado e retorno do ativo livre de riscos. A partir dessas informações, você calculou a covariância entre o retorno das ações da empresa, Ri, e o retorno 9 do ativo de mercado, Cov( Ri , RM), e a covariância do retorno do ativo de mercado, σ2(RM), obtendo os seguintes resultados: Cov( Ri , RM) = 8,5% σ2(RM) = 7,08% Dessa maneira, bi = 1,2 O modelo de precificação de ativos de capital (CAPM) relaciona, por meio do coeficiente beta, b, a taxa de retorno de investir em uma empresa, kS — no caso, a taxa de variação do preço da ação de uma em- presa cotada em Bolsa de valores — com o prêmio de mercado (média de retorno das ações mais ne- gociadas na bolsa de valores, BM&FBovespa), RM, e a taxa de retorno do ativo livre de risco Rf (títulos emitidos pelo governo e, portanto, garantidos pelo Tesouro Nacional). Assim definido, quanto maior o beta do ativo, b, mais sensível é a taxa de retorno do ativo aos movimentos de mercado: ● Quando o retorno de RM sobe, kS aumenta mais que proporcionalmente em relação ao retorno de mercado. ● Quando o retorno de RM, kS declina mais que proporcionalmente. 10 Em suma, a taxa de retorno paga aos investidores que fornecem capital para empresa é muito sensível às oscilações do mercado. Agora, considere que Rf = 7%, RM = 12% e b = 1.2, conforme calculado acima, vamos calcular o custo dos lucros retidos com base no modelo CAPM. kS = Rf + b.(Ri - RM) kS = 7,0% + 1,2.(12% - 6%) kS = 7,0% + 1,2.(6%) kS = 7,0% + 7,2% kS = 14,2% Como o beta da empresa é b = 1,2, o investidor es- pera receber retorno kS de 14,2% que representa um prêmio de risco de 7,2% (=14,2% – 7%) em relação à taxa de retorno do ativo livre de risco, Rf = 7%. Em suma, como b = 1,2 o investido recebe um prêmio de risco ao investir na empresa e, dados Rf e RM o prêmio será tanto maior/menor quanto maior/menor for o beta relacionado à empresa. Agora, vamos abordar os Lucros Retidos (parcela de lucros obtidos pela empresa não distribuída aos acio- nistas na forma de dividendos) representam direitos de propriedade dos detentores de ações ordinárias (common equity). O investidor pode comprar ações de uma empresa ou pode investir em outros títulos (adquirir títulos públicos, investir na caderneta de poupança ou títulos 11 emitidos por bancos, como o Certificado de Depósito Bancário – CDB) como meio de obter retorno. Dessa forma, há custo de oportunidade (retorno que os acionistas poderiam obter em investimentos al- ternativos com igual risco) se os Lucros são retidos pela empresa. Por exemplo, os investidores pode- riam comprar ações de empresas que apresentam retornos similares e ganhar kS, ou a empresa poderia recomprar suas próprias ações e ganhar kS (é, por- tanto, o custo dos lucros retidos). Acesse o Podcast 1 em Módulos 12 CUSTO DAS DÍVIDAS (CUSTO DO DEBT) As decisões de financiamento devem ser tomadas levando-se em conta o custo de capital, RWACC. Este representa a taxa de retorno que a empresa precisa obter sobre os seus projetos de investimentos para sustentar o valor de mercado das ações da empresa e atrair recursos necessários para financiar suas operações. A razão pela qual a taxa deve sustentar o valor de mercado das ações da empresa é o seguinte: a taxa de retorno gerada pela empresa deve garantir as ta- xas de remuneração kS e kD. Estudamos que kD é calculado a partir do CAPM e usa dados sobre o retorno de investimento nas ações da empresa, Ri, retorno de mercado, RM, e retorno do ativo livre de riscos Rf para calcular bi e o RWACC por meio das seguintes expressões: ● Cálculo do beta: ● Cálculo da taxa de retorno sobre o capital próprio: A partir disso, vamos aprender a calcular a taxa de retorno exigida pelos credores ou taxa das dívidas contraídas pela empresa com terceiros, kD. Caso a empresa capite recursos abaixo da taxa de Retorno sobre Ativos (ROA — do inglês: Return on Assets), está destruindo valor. 13 Retorno sobre Ativos = Lucro Líquido/Ativo total ROA = LL/AT Isso acontece porque o retorno gerado pelo o uso dos ativos da empresa deve gerar uma taxa de retorno maior do que a taxa de retorno das dívidas contraí- das. Dessa maneira, ROA = kD.(1 – IR) Para compreender isso, é necessário entender: (1) qual a importância de possuir o custo de capital; (2) por que é necessário estimá-lo?; (3) como estimá-lo e empregá-lo na tomada de decisões relacionadas às operações de financiamento da empresa. Uma questão importante que surge ao calcular kD é: o custo de capital deve ser calculado em uma base antes ou depois do imposto de renda? Resposta: deve ser calculado pelo enfoque dos acio- nistas investidores tomando o Fluxo de Caixa (FDC) aferido após a incidência do imposto de renda (IR). O efeito do IR só afeta a magnitude de kD, que é custo do capital de terceiros (dívida ou debt). Outra questão que surge é: o gestor deve apurar kD utilizando custos históricos ou custos atuais (ou custos marginais), ou seja, com base no custo que é cobrado quando a empresa toma empréstimos adicionais para se financiar? Ora, o custo de capital é empregado em decisões que envolvem captação de novos recursos. Nesse 14 contexto, custo marginal significa a variação no custo provocada pela captação de recursos adicionais. Nós devemos utilizar custos marginais, custo cobrado pelos credores para fornecer mais recursos para financiar a empresa. Uma empresa pode obter recursos financeiros de diversas formas: por meio de empréstimos ban- cários, emitindo ou lançando notas promissórias (Commercial papers) ou debêntures e ou contratan- do leasing. Mais adiante, vamos estudar que essas operações permitem que empresa obtenha bene- fícios tributários. Pois bem, a expressão abaixo é aplicada para calcular o custo das fontes externas de financiamento: kD = (taxa de juros cobrada pelo credor).(1 – IR) kD = (Custo pré).(1 – IR) kD = j.(1 – IR) Onde o custo pré ou taxa de juros cobrada pelo cre- dor nada mais é do que a taxa de juros cobrada pelos credores da empresa quando a busca captar recur- sos financeiros para financiar seus ativos. Enquanto instrumentos de captação de recursos, alguns títulos emitidos por SA, companhias de capital aberto ou fechado, são emitidos com valor de face. Vendidos com ágio ou deságio, alguns deles preveem o paga- mento de juros periódicos. Por exemplo, qual é a taxa de juros kD (taxa sobre a dívida)exigida quando a empresa emite um título prometendo pagar um cupom de 12% a.a. (capitali- 15 zados semestralmente), negociados ao preço de $ 1,153,72 e com prazo de 15 anos? Na Figura 1, os dados explicitam todos os elementos relacionados à obtenção do financiamento por meio do título: Figura 2: FDC relacionado à captação de recursos de uma empresa. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Essa figura indica que, para a empresa captar $ 1.153,72 prometendo pagar 12% a.a. com juros apu- rados semestralmente, terá de pagar $ 60/mês ao credor. Os dados apresentados foram apurados com base nas seguintes informações: ● Prazo = 15 anos = (2 semestres ano).(15 anos) = 30 semestres. ● Valor de face do título = $ 1,000. ● Valor pago pelo credor (com ágio sobre valor de face de $ 1,000). ● Valor do cupom de juros = (12%/2)($ 1,000) = $ 60. As operações são definidas em termos do valor de face, prazo da operação, periodicidade do pagamento dos cupons (juros periódicos), valor de face, valor futuro e taxa da operação. Como indicado, estas operações geram obrigações de pagamentos CF 16 (fluxo de caixa ou cash flows) periódicos de juros e economias de impostos. Portanto e como já indicado, os juros são dedutíveis do imposto de renda (IR) e, desta forma para cada $ 1,00 captado, admitindo que a alíquota do imposto de renda seja IR = 10%: kD (após os impostos) = 12%.(1 – 10%) kD = 10,8% a.a. Em suma, a empresa obteve uma vantagem ao tomar recursos de terceiros pois, devido ao IR de 10%, o custo efetivo da operação é de 10,8% a.a. e não a taxa nominal de 12% a.a. Mais adiante, vamos estu- dar mais de perto esse resultado. Acesse o Podcast 2 em Módulos FIQUE ATENTO Os elementos de um FDC de um projeto são for- mados por estimativas de investimento, receitas, custos, despesas e lucros. Os gestores têm de avaliar se deve ou não investir no projeto, fato que implica obter recursos para financiar ativos (equi- pamentos, máquinas, instalações etc.) como meio de produzir bens ou serviços. Para tanto, o gestor tem de obter as estimativas de receitas e gastos contra receitas para estimar o FDC dos projetos. A partir disso, pode aplicar técnicas de análise de investimento como meio de avaliar se um projeto é ou não viável. 17 https://famonline.instructure.com/files/436757/download?download_frd=1 Resumidamente, no processo de tomada de deci- são de investimento, o gestor necessita estimar as receitas, custos, despesas e lucro que obterá com o uso dos ativos empregados na produção de bens ou serviços que a empresa pretende ofertar no mer- cado. Isso exige identificar e definir qual é a melhor alternativa de investimento e captar recursos para financiá-la. Também exige que o gestor dimensione quanto o investidor vai obter de Lucro Líquido e em quanto tempo vai recuperar os recursos ou o capital investidos, além da análise dos riscos da opção do investimento. Sob o ponto de vista da análise econômico-financeira de um projeto de investimento, o gestor deve realizar o orçamento de capital, o que envolve obter estima- tivas de receitas de vendas e gastos necessários para a obtenção dessas receitas. A partir daí, deve aplicar técnicas de análise econômico-financeiras para tomar a decisão de investimento, sendo a mais empregada o Valor Presente Líquido (VPL), que é calculado da seguinte forma: Nela, os termos assinalados como CF representam as diferentes saídas e entrada de FDC estimadas pelo gestor. Em suma, o VPL do FDC de um proje- to de investimento é a soma do valor atualizado do FDC de um projeto taxa de descontado pelo custo médio ponderado de capital, RWACC., ou seja, o custo de oportunidade do capital investido. Sendo i a taxa de descapitalização, na vida útil do investimento e Rn o valor do fluxo de caixa do instante n. 18 No caso da Tabela 1: CF0 = – $165, CF1 = $136, CF2 = $132 e CF3 = $136. Agora, considerando que RWACC = 10%, que é o Custo Médio Ponderado de Capital ou WACC, podemos verificar que: Como o VPL > 0, o gestor deve implantar o projeto. Na verdade como VPL = $170 significa que as recei- tas estimadas são suficientes para cobrir todos os gastos previstos com os investimentos em ativos, cobertura de gastos estimados e indicados na Tabela 1 (custos diretos, despesas operacionais, amortiza- ção gastos pré-operacionais, despesas financeiras e impostos), cobrindo ainda a taxa de retorno, RWACC, necessária para a cobertura de todas as fontes de capital demandadas por este projeto de investimen- to, kS e kD, garantindo ainda uma estimativa de ga- nho extra, VPL = $ 170, aos sócios proprietários da empresa. SAIBA MAIS Saiba mais sobre como o cálculo do VPL pode ser feito de forma rápida por meio de calculadoras financeiras, como a HP 12c, ou por meio do uso do MS Excel, que tem a função VPL no grupo de suas funções financeiras. Para que você possa aprender a empregar as ferramentas para calcular o VPL, consulte Kassai et al. (2000). Em suma, como o VPL > 0 gestor espera que o pro- jeto irá gerar um valor para empresa que excede os gastos para implanta-lo e ofertar bens e ou serviços 19 por meio do uso dos ativos identificados para im- plantação do projeto. Atenção: o VPL é o FDC trazido ao valor presente por uma taxa RWACC = 10% a.a. Como VPI (0,1%) é positivo o projeto é atrativo e deve ser executado. Caso tivéssemos várias opções de projeto com o mesmo horizonte de tempo, optaríamos por aquela que possuísse o maior VPL, dada uma idêntica taxa mínima de atratividade. A questão que surge é: como o gestor deve calcular a taxa RWACC para que seja possível obter o VPL do projeto e decidir se a empresa deve ou não investir em determinado projeto? FIQUE ATENTO A Taxa Mínima de Atratividade (TMA) é um con- ceito muito importante aplicado na análise de in- vestimentos. Trata-se de uma taxa de juros que representa o mínimo que o investidor se propõe a ganhar quando aplica seus recursos, ou o máximo que uma entidade está disposta a pagar quando faz um financiamento. Dado que a empresa deve remunerar todas as fontes de provisão de capital e que as proporções entre o uso capital próprio e de capital de terceiros podem diferir o custo de capital para avaliar a viabilidade de investimento na empresa se baseia no cálculo do WACC, que deve ser assim ser calculado: 20 Onde ● kS = custo de capital próprio (ou cost of equity) ● kD = custo de capital de terceiros, após a incidên- cia do imposto de renda (IR) (ou cost of debt) ● V = soma do capital Próprio e do Capital de Terceiros (dívidas) que financia os ativos da empre- sa desta forma: V = S + D) ● S/(D + S) = Capital próprio/Capital total (que repre- senta a participação do capital próprio, ou Patrimônio Líquido, no Capital total) ● D/(D + S) = Capital de terceiros/Capital total (que é a participação das dívidas no capital total) ● IR = alíquota de Imposto de Renda incidente sobre o Lucro Líquido gerado pela empresa. Admitindo que kS = 10%, kD = 5%, S= $30, D = $70 (portanto V = S + D = $30 + $70 = $100), IR = 15%, vamos calcular RWACC? RWACC = 10%.(0,30) + 5%.(85%).(0,70) RWACC = 6% Portanto, para cobrir todas os retornos exigidos pelas diferentes fontes de capital empregadas pela empre- sa, a taxa de retorno exigida não poderá ser inferior a 6%. Essa é a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) que deve ser empregada pelo gestor no cálculo do Valor Presente Líquido (VPL) como meio de estabe- lecer a linha de corte para projetos de investimento na empresa. 21 Observe que, além da taxa kS (que deve ser apurada por meio do CAPM), a taxa de retorno exigida pelos investidores (RWACC) depende da proporção na qual a empresa emprega recursos próprios (S) e de tercei- ros (D), da taxa de retorno exigidas pelos credores para financiar a empresa. 22 BENEFÍCIO FISCAL E IMPOSTO DE RENDA Agora vamos usar a fórmula do WACC para indicar o impacto do Imposto de Renda (IR) sobre a taxa de retorno, ou taxa de desconto ou linha decorte de projetos, exigida pelos investidores que provem capital para a empresa. Em geral, o endividamento é encarado como algo negativo, mas como verificaremos, manter algum nível de endividamento pode ser benéfico para as empresas. Quando uma empresa emite ações pre- ferências (ações que pagam uma taxa fixa periódica de dividendos) poderiam aumentar seu Lucro Líquido (LL) na medida em que, ao reduzir a quantidade de ações preferenciais, uma vez que ao assumir dívidas para se financiar ao invés de pagar dividendos prefe- renciais a empresa reduz o lucro tributável e aumenta a rentabilidade disponível aos acionistas ordinários. Em suma, a opção de mudar a estrutura de capital da empresa, mudando a forma como a empresa se financia pode gerar benefícios. Outra fonte de benefício está relacionada à opção de a empresa pagar aos seus acionistas o que os financistas denominam juros sobre capital próprio. 23 SAIBA MAIS Os juros sobre capital próprio é uma forma de dis- tribuição de dividendos que pode ser adotada a depender do estatuto da empresa. Essa forma de distribuição de recursos aos acionistas é tributada em 15% pela Receita Federal na data do depósito. Saiba mais sobre o assunto acessando Qual é a diferença entre dividendos e juros sobre capital próprio, disponível em: https://www.infomoney. com.br/mercados/qual-e-a-diferenca-entre-dividen- dos-e-juros-sobre-capital-proprio/. Acesso em: 07 dez. 2019. A distribuição de recursos aos acionistas da empre- sa dessa forma, apesar de remunerar o acionista da mesma forma que os dividendos, provoca queda no imposto de renda que incide sobre o Lucro Líquido gerado pela empresa, gerando economias para em- presa e, como decorrência, aumento em seu valor de mercado. SAIBA MAIS Saiba mais da relação entre o endividamento e aplicação do CAPM, lendo O estrategista, disponí- vel em: https://www.valor.com.br/valor-investe/o- -estrategista/1111286/dividas-para-que-te-quero- -vantagens-e-desvantagens. Acesso em: 07 dez. 2019. 24 https://www.infomoney.com.br/mercados/qual-e-a-diferenca-entre-dividendos-e-juros-sobre-capital-proprio/ https://www.infomoney.com.br/mercados/qual-e-a-diferenca-entre-dividendos-e-juros-sobre-capital-proprio/ https://www.infomoney.com.br/mercados/qual-e-a-diferenca-entre-dividendos-e-juros-sobre-capital-proprio/ https://www.valor.com.br/valor-investe/o-estrategista/1111286/dividas-para-que-te-quero-vantagens-e-desvantagens https://www.valor.com.br/valor-investe/o-estrategista/1111286/dividas-para-que-te-quero-vantagens-e-desvantagens https://www.valor.com.br/valor-investe/o-estrategista/1111286/dividas-para-que-te-quero-vantagens-e-desvantagens O custo do capital de terceiros, kD, está relaciona- do ao uso de passivos onerosos, empréstimos e fi- nanciamentos, usados para financiar os ativos da empresa. Como vimos, para apurar kD você precisa obter a seguinte informação: taxas de juros cobradas pelos credores para conceder novos empréstimos ou financiamentos para a empresa. Vamos admitir que, kS = 10%, kD = 5%, S= $30, D = $70 (portanto V = S + D = $30 + $70 = $100), exa- tamente como apresentado acima. Agora vamos admitir analisar o impacto de mudanças da alíquota do imposto de renda (IR). Verificamos que o aumento na alíquota do imposto de renda (IR) reduz o custo de capital total, RWACC, da empresa. Para isso, suponha que IR aumente e passe a ser de IR = 30%. Aplicando a fórmula para apurar RWACC temos: RWACC = 10%.(0,30) + 5%.(70%).(0,70) RWACC = 5,5% Como podemos observar, o aumento na alíquota do imposto de renda, IR, reduziu a taxa de retorno exigida pelos acionistas da empresa e, como conse- quência a linha de corte para os projetos da empresa. Os benefícios fiscais associados aos empréstimos (dívida) podem ser explicados da seguinte forma: como os juros são dedutíveis do imposto de renda (IR), o custo da dívida após tributação (kD) é uma função da alíquota fiscal (IR). O benefício fiscal de- 25 corrente do pagamento de juros torna mais baixo o custo da dívida após a tributação em relação ao custo antes do pagamento dos impostos. À medida que a empresa se endivida, os níveis das taxas de juros exigidas pelos credores também au- mentam o custo da dívida para a empresa. A empresa aumenta seu nível de endividamento (ou seja, altera a estrutura de capital) risco de inadimplência da em- presa também aumenta: o risco de inadimplência da empresa implica em aumentos no custo de tomar dinheiro emprestado. SAIBA MAIS Conheça mais sobre as vantagens e desvantagens do endividamento, lendo a entrevista feita com o especialista Rodrigo Zeidan: se a empresa esti- ver pouco endividada, um aumento no endivida- mento pode gerar mais benefícios do que custos. Disponível em: https://exame.abril.com.br/pme/ as-vantagens-e-desvantagens-da-suaempresa-ter- -dividas/. Acesso em: 07 dez. 2019. 26 https://exame.abril.com.br/pme/as-vantagens-e-desvantagens-da-suaempresa-ter-dividas/ https://exame.abril.com.br/pme/as-vantagens-e-desvantagens-da-suaempresa-ter-dividas/ https://exame.abril.com.br/pme/as-vantagens-e-desvantagens-da-suaempresa-ter-dividas/ CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo, estudamos que o custo do capital é a taxa de juros RWACC empregada pelas empresas para decidir se devem ou não implantar um novo projeto de investimento. Ao fazê-lo, pudemos observar que, nesse cálculo, é necessário considerar os custos de captação de todas as fontes de capital que financiam os ativos da empresa, levando em conta a participa- ção de cada fonte empregada na empresa (capital próprio e capital de terceiros). A forma de calcular o custo de capital se faz por meio do Custo Médio Ponderado de Capital (WACC), exigindo que o analista apure o custo do Patrimônio Líquido (ou custo do equity), kS, e o custo das dívidas (ou custo do debt), kD. Com isso, aprendemos que, para calcular kD, de- vemos empregar o Capital Asset Pricing Market (CAPM), ou o modelo de precificação de ativos de capital que permite calcular o coeficiente beta, b, captando o risco sistemático (ou risco não diver- sificável de investir em ações de uma determinada empresa. Ao captar esse risco, os coeficientes bi torna-se uma medida da sensibilidade do retorno da ação da empresa i. Estudamos, então, que para calcular bi é necessário obter dados sobre o retorno da ação da empresa, Ri, retorno do ativo de mercado, RM, e taxa de retorno do ativo livre de risco, Rf. 27 Com base nesses dados, conseguimos calcular bi como razão entre a covariância entre retorno das ações da empresa i e retorno de mercado: Cov(Ri, RM) e variância do retorno do ativo de mercado, σ2(RM). Ainda, que para calcular o custo do capital de tercei- ros, kD, devemos levantar o custo marginal do capital por meio da expressão: kD = (Custo pré).(1 – IR). Com base em kS e kD estimados, podemos calcular o custo de capital da empresa, RWACC, baseando-se no WACC. Portanto, aprendemos que, diferentemente do que diz o senso comum, a empresa pode obter vantagens ao definir uma estrutura de capital que mantenha algum grau de endividamento, em virtude da obtenção de benefício fiscal associado à incidência do imposto de renda (IR). 28 FINANÇAS CORPORATIVAS MÉTODO DE PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS DE CAPITAL Neste e-book, estudamos os seguintes tópicos: • Risco, Risco sistemático, Risco não sistemático e Risco total. • Probabilidade objetiva e Probabilidade objetiva. • Evento, estimativas de retorno e estimativas de risco esperados de um ativo isolado. • Cálculo da variância e do desvio-padrão do retorno esperado de um ativo isolado. • Cálculo do retorno e do risco esperado de uma carteira diversificada. • Cálculo da variância e do desvio-padrão do retorno esperado de uma carteira diversificada. CONCEITO DE RISCO, RISCO SISTEMÁTICO E RISCO ESPECÍFICO: • Taxa livre de risco e exemplos de ativos livres de risco. • Taxa de mercado e exemplo de ativo de mercado. • Investimento no ativo livre de risco e custo de oportunidade.TAXA LIVRE DE RISCO E TAXA DE MERCADO: • As três fontes de informação necessárias para aplicação do CAPM: retorno esperado das ações da empresa, retorno do ativo livre de risco e retorno do ativo de mercado. • Lógica e fundamentos da aplicação do CAPM. • Cálculo da covariância e da correlação entre o retorno de ativos e sua interpretação. • Passos para a obtenção das estatísticas para o cálculo do coeficiente beta com uso do CAPM. • Fórmula de cálculo do CAPM: • Fórmula de cálculo do coeficiente beta: • Interpretação do coeficiente beta, b. CAPITAL ASSETS PRICING MODEL: BETA COMO MEDIDA DE DIMENSIONAMENTO DO RISCO DE MERCADO: • O conceito de risco país. • Gasto do governo, emissão de títulos públicos e risco país. • Coeficiente beta, b, risco país e rentabilidade dos títulos emitidos pelo governo. CUSTO DE CAPITAL E RISCO PAÍS: SÍNTESE Referências Bibliográficas & Consultadas ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. São Paulo: Atlas, 2014 [Minha Biblioteca]. BREALEY, R.; MYERS, S.; ALLEN, F. Princípios de finanças corporativas. Porto Alegre: AMGH, 2018 [Minha Biblioteca]. DAMODARAN, A. Finanças corporativas: teoria e prática. Porto Alegre: Bookman, 2004. EITEMAN, D. K.; STONEHILL, A. I.; MOFFETT, M. H. Administração Financeira Internacional. Porto Alegre: Grupo A, 2012 [Minha Biblioteca]. GITMAN, L. J. Princípios de administração finan- ceira. 10. ed. São Paulo: Pearson, 2009 [Minha Biblioteca]. GITMAN, L. J.; MADURA, J. Administração fi- nanceira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson, 2012 [Biblioteca Virtual]. GORDON, M. J. Optimal investment and financing policy. The Journal of Finance, v. 18, n. 2, p. 264- 272, 1963. HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégias finan- ceiras, orçamento empresarial. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2014 [Minha Biblioteca]. HELFERT, E. A. Técnicas de análise financeira. Porto Alegre: Bookman, 2000. KASSAI, J. R.; CASANOVA, S. P. C.; SANTOS, A.; ASSAF NETO, A. Retorno de investimento: aborda- gem matemática e contábil do lucro empresarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. LEMES JR, A. B.; CHEROBIM, A. P. M.; RIGO, M, C. M. Fundamentos de finanças empresariais: téc- nicas e práticas essenciais. Rio de Janeiro: LTC, 2018 [Minha Biblioteca]. MÁLAGA, F. K. Análise de Demonstrativos Financeiros e da Performance Empresarial para empresas não financeiras. 3. ed. São Paulo: Saint Paul Editora, 2017. MATIAS, A. B. Finanças corporativas no curto pra- zo: a gestão do valor do capital de giro. São Paulo: Atlas, 2014 [Minha Biblioteca]. MILLER, M. H.; MODIGLIANI, F. Dividend policy, growth and the valuation of shares. Journal of Business of the University of Chicago. Chicago, v. 34, n. 4, p. 411-433, 1961. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J.; LAMB, R. Administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J.; LAMB, R. Fundamentos de administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2013 [Minha Biblioteca]. SCHALL, L. D.; HALEY, C. W. Dividend policy and retained earnings. In: Introduction to financial management. 5. ed. New York: McGraw-Hill, 1988. p. 365-389. STARK FERREIRA, J. A. Finanças corporativas: conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson, 2005 [Biblioteca Virtual]. WESTON, J. F.; BRIGHAM, E. F. Fundamentos da administração financeira. São Paulo: Makron Books, 2000. INTRODUÇÃO CUSTO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO OU CUSTO DO EQUITY CUSTO DAS DÍVIDAS (CUSTO DO DEBT) BENEFÍCIO FISCAL E IMPOSTO DE RENDA CONSIDERAÇÕES FINAIS
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