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1 2 SUMÁRIO 1 HISTÓRIA DA SUPERVISÃO ESCOLAR ................................................... 3 1.1 Missão, objetivo, atuação, formação e limites do supervisor escolar ... 8 1.2 A ação supervisora frente ao contexto educacional ........................... 10 1.3 O supervisor escolar como parceiro do educador .............................. 15 1.4 A supervisão escolar e a orientação educacional: um trabalho integrado 20 2 O SERVIÇO DE INSPEÇÃO ESCOLAR PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA ................................................................................................ 23 2.1 Inspeção Versus Supervisão .............................................................. 32 3 GESTÃO EDUCACIONAL ........................................................................ 39 3.1 Conceitos de Gestão Educacional, Gestão Escolar e Gestão Democrática ........................................................................................................... 41 3.2 Gestão Educacional e as relações necessárias ................................. 49 4 CONTEXTO HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ................ 51 4.1 A orientação educacional e seus desafios na atualidade ................... 54 4.2 Função da Orientação Educacional ................................................... 62 5 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 65 3 1 HISTÓRIA DA SUPERVISÃO ESCOLAR Fonte: centraldeinteligenciaacademica.com No campo da educação a supervisão escolar tem sido um tema presente nas discussões, especialmente no que diz respeito ao ensino básico, na fronteira dos campos da política e da legislação educacional. Tem se tornado um assunto conhecido desde as reformas educacionais dos anos 1990, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), lei nº. 9.394, de 1996. As investigações abordam experiências cotidianas na busca de soluções para problemas como a qualidade do ensino e o envolvimento da supervisão na efetivação de lideranças e gestões democráticas, e definir a natureza de seu papel em relação ao seu relacionamento com os professores dentro da escola, LUZ (2009). A supervisão surgiu no Brasil pela primeira vez com a reforma Francisco Campos, Decreto-Lei nº19.890, de 18 de abril de 1931, concebida de forma bem diferente da que se vinha realizando até aquele momento de simples fiscalização, para assumir o caráter de supervisão e inspeção (RANGEL, 2001 apud PEREIRA et al., 2013). Com a função de otimizar a produção quantitativa e qualitativa, também há evidências que o termo supervisão surgiu no período da Revolução industrial, proporcionando o lucro dessa forma. De acordo com isso surgiu a necessidade de melhores técnicas para orientar os profissionais a exercerem suas funções na indústria e no comercio (ALVES, 2012; RANGEL, 2001 apud PEREIRA et al., 2013). 4 De acordo com o contexto brasileiro, a supervisão tem um conceito e se apresenta como uma prática relativamente jovem e recente. Contudo, remonta na data da década de 1970 e foi criada “no cenário sócio-político-econômico historicamente em função de“ controle ”. No decorrer do tempo, prevaleceu uma imagem da supervisão ligada à fiscalização e ao controle. (RANGEL, 2001 p.63 apud PEREIRA et al., 2013). No decorrer do tempo, prevaleceu uma imagem da supervisão ligada à fiscalização e ao controle. De acordo com LUZ (2009), a partir da década de 1970, quando o papel do supervisor na educação se concretizou, os autores buscaram dar à palavra um significado etimológico, conforme podemos verificar logo abaixo: A palavra Supervisão é formada pelos vocábulos super (sobre) e visão (ação de ver). Indica atitude de ver com mais clareza uma ação qualquer. Como significação estrita do termo, pode-se dizer que significa olhar de cima, dando uma visão global. Neste sentido, pode-se partir de um conceito geral, que, aliás, se aplica a vários campos de atividade: ‘Nesse aspecto pode ser entendida como um processo pelo qual uma pessoa possuidora de conhecimentos e experiência, assume responsabilidade de fazer com que outras pessoas que possuem menos recursos, executem determinado trabalho’. (ANDRADE, 1976, p. 9 apud LUZ; 2009). Na supervisão, o prefixo ‘super’ une-se à ‘visão’ para designar o ato de ‘ver’ o geral, que se constitui pela articulação das atividades especificas da escola. Para possibilitar a visão geral, ampla, é preciso ‘ver sobre; e é este o sentido de ‘super’, superior, não em termos de hierarquia, mas em termos de perspectiva, de ângulo de visão, para que o supervisor possa ‘olhar’ o conjunto de elementos e seus elos articuladores. (RANGEL, 2000, p. 76 apud LUZ; 2009). No entanto, alguns estudos históricos revelam que, embora muitas vezes parecessem estar ligados à política por meio da hierarquia administrativa e antes dos professores, outros frequentemente rompiam com mandatos governamentais e se juntavam às lutas do magistério, ou seja, da profissão docente. Essa gama de posicionamentos em relação à conexão com as administrações e gestões políticas e com os professores também se encontra nos discursos e nas práticas que os superiores usam hoje. (FERREIRA, 2010 p.149 apud PEREIRA et al., 2013). A procedência da supervisão escolar também está interligada ao Programa de Assistência e Formação de Professores Leigos (PABAEE), que através da influência norte-americana foi implantada no Brasil. Contudo, no decorrer do tempo o conceito de supervisão educacional tem sofrido alterações, modificando os objetivos conforme as diferentes etapas que passou a ser um marco no processo evolutivo dessa profissão. Essas mudanças produziram alterações profundas na forma de abordar a 5 tarefa educativa e na concepção da escola como local especializado para conduzir o processo educativo. (FERREIRA, 2010 apud PEREIRA et al., 2013). E é dentro das ciências da educação e nas ciências sociais que podemos encontrar os fundamentos da supervisão, que explica esse conjunto como uma criação de desenvolvimento dos grupos e que são socialmente organizados para que seja realizada funções ou atividades consideradas desejáveis. PEREIRA et al., (2013). Com a constituição de 1988 a política da gestão democrática foi implantada no sistema de ensino, dessa maneira intensificou o discurso de que a escola pública pertence ao setor público. Desta forma, a implementação de um trabalho educacional articulado determinou legalmente para permitir a facilitação de um projeto educacional que reúne os projetos dos educadores, com um projeto mais amplo de ação individual e coletiva, com ainda mais ênfase na função dos supervisores escolares. PEREIRA et al., (2013). Outro ponto importante é o significado específico que o termo "supervisão" adquire nos diferentes sistemas de ensino. No estado de São Paulo a expressão esteve sempre relacionada ao cargo de "supervisor", alocado nas delegacias de ensino (Lei Complementar nº836, dezembro 1977). Nos demais estados, não existe o cargo, mas a função. Esse profissional fica na escola e realização a "supervisão pedagógica", junto aos professores, recebendo nome de coordenador, orientados, assistente pedagógico ou equivalente. Essa distinção torna-se importante, visto que decorrem algumas dificuldades de entendimento de muitas críticas feitas ao trabalho do "supervisor", para pessoas não familiarizadas com o sistema paulista de ensino (FERREIRA, 2010 apud PEREIRA et al., 2013). Embora este profissional contribua decisivamente para o êxito das práticas educativas no contexto escolar a profissão de Supervisor Escolar ou Supervisor Educacional sempre foi carregada de indefinições, PEREIRA et al., (2013). D’ Antola (1983 apud LUZ; 2009) atravésde seus estudos traz conceitos de grande relevância para a supervisão e que estão contidos em documentos oficiais e também em diferentes autores: Supervisão Pedagógica é um processo técnico-pedagógico que visa a promoção e a manutenção da unidade de atuação docente com vistas a realizações dos objetivos educacionais do estabelecimento de ensino, por meio de um serviço planejado que possibilite a eficiência e a eficácia da ação educativa. Sua finalidade básica é a promoção da melhoria do sistema ensino-aprendizagem. (MEC, 1979 apud D’ ANTOLA, 1983, p. 39 apud LUZ; 2009). Supervisão é o conjunto de ações, tarefas e atividades desempenhadas por indivíduos ou grupos de indivíduos que visam a visam a melhoria da produtividade do ensino em seus aspectos quantitativos e qualitativos. (S. E. C., 1981 apud D’ ANTOLA, 1983, p. 39 apud LUZ; 2009). A Supervisão é participante de um sistema responsável diretamente pelos 6 subsistemas psicossocial e tecnológico, assumindo a função da facilitação de desenvolvimento de um processo de trabalho grupal dentro da organização, de tal modo que o grupo seja autoconsciente e ao mesmo tempo se prepare para assumir como captador das necessidades verdadeiras que inclusive o sistema educacional deve atender. (ATTA, 1976 apud D’ ANTOLA, 1983, p. 39 apud LUZ; 2009). Supervisão Educacional cumpre as suas funções explicitas, capaz de opção, percepção da realidade, como função política, reflexiva, crítica, consciente, assumida, inovadora, transformadora, decisória, libertadora, criativa. Caracteriza-se como função comprometida com a educação’. (SILVA, 1981 apud D’ ANTOLA, 1983, p. 39 apud LUZ; 2009). Os conceitos acima referem-se a uma ação ligada a um contexto complexo, como a escola, onde o supervisor cumpre as funções de planejar, programar, coordenar, oferecer oportunidades e dinamizar as atividades planejadas de acordo com as necessidades da comunidade, ou seja, da coletividade. Portanto, também cabe a ele conseguir a integração entre as atividades e os profissionais da escola com a comunidade. Nota –se que com os estudos e pesquisas, a palavra para o papel do supervisor escolar tem sofrido modificações ao longo da história da educação, Rangel (2000 apud LUZ; 2009) especifica que o nome é uma atribuição de identidade à ação da supervisão. Uma vez que as diferentes formas como são identificados designam a sua ação na sociedade e na escola. Nessa evolução, a autora inclui as seguintes expressões e as define: ‘Supervisão educacional’ situa, mais amplamente, no que diz respeito às questões e serviços da educação, a ação supervisora. O educacional, portanto, extrapola as atividades da escola para alcançar, em nível macro, os aspectos estruturais, sistêmicos da educação. (RANGEL, 2000, p. 76 apud LUZ; 2009). ‘Supervisão escolar’ supõe a supervisão da escola nos serviços administrativos, de funcionamento geral, como também os pedagógicos. Nesse sentido observam-se ações semelhantes às de direção (gestoras), ficando, portanto, pouco identificada a especificidade da função com referência ao ensino. (RANGEL, 2000, p. 76 apud LUZ; 2009). ‘Coordenação’ é, também, designativo que se atribui a uma das condutas supervisoras. ‘Coordenar’ é organizar em comum, é prover e prover momentos de integração do trabalho entre as diversas disciplinas, numa mesma série, e na mesma disciplina, em todas as séries, aplicando-se diferentes atividades, a exemplo da avaliação e elaboração de programas, de planos de curso, da seleção de livros didáticos, da identificação de problemas que se manifestam no cotidiano do trabalho, solicitando estudo e definição de critérios que fundamentem soluções. (RANGEL, 2000, p. 76 apud LUZ; 2009). ‘Supervisão pedagógica’ refere-se à abrangência da função, cujo ‘olhar sobre’ o pedagógico oferece condições de coordenação e orientação. (RANGEL, 2000, p. 77 apud LUZ; 2009). 7 Dessa maneira foram observados nas definições apresentadas um eixo comum que segue os princípios da promoção, melhoria individual e coletiva, melhoria da produtividade, monitoramento e avaliação do processo educativo. Eles também visam os recursos humanos e seu uso integral. É necessário frisar que o conceito evolui de acordo com o contexto histórico, político, social e econômico até se efetivar como profissão docente e pedagógica, LUZ (2009). Assim, de acordo com o referencial teórico que sustenta esta pesquisa no domínio da supervisão escolar, entendemos que o caminho para uma nova concepção da ação supervisora passa pela promoção e articulação de atividades, as pessoas, as diferentes competências e abordagens, caracterizadas pelo que consegue recolher e agregar. Além do mais, o trabalho deve estar integrado em todas as suas dimensões: currículo, programas, planejamento, avaliação, ensino e aprendizagem, condições de legitimação para a comunidade, unidade e qualidade da ação pedagógica, LUZ (2009). Pensar e agir são práticas coletivas conscientes que se orientam pela necessidade e respeito da maioria, se reconhecem no “outro”, buscam compreender quem o construiu por meio de suas experiências, uma reflexão sobre suas ações e suas Para mostrar a contribuição, ou não, pelo que foi proposto. Como diz Saviani (2000, p. 34 apud LUZ; 2009): “A questão da identidade do supervisor educacional continua, pois, em discussão”. Importa, portanto, ressiginificar a supervisão, construindo, coletivamente, a sua consciência política e social e o seu fazer pedagógico, considerando os desafios importantes para sua trajetória que podem realizar transformações em seu perfil. No contexto histórico da educação, os jesuítas foram os primeiros a serem considerados educadores, mas a educação não teve um valor social significativo, na realidade, era uma arma de controle social, a tarefa educativa baseava-se na catequese e na educação dos povos indígenas. As atividades educativas no Brasil começaram a organizar em 1549, através do plano de ensino enviado por Manuel da Nóbrega, e apesar da função da supervisão estar presente na escola, a ideia de supervisão não se manifesta. Foi fundado o plano de educação, cuja ideia era a formação do homem universal, humanista e cristão, e nesse período a educação se limitou aos filhos da elite, (FERREIRA, 2008 apud RODRIGUES 2011). 8 A educação dizia respeito ao ensino humanista da cultura geral e, alheias à realidade da vida colonial, formas dogmáticas de pensamento contra o pensamento crítico que atrapalhavam a ação educativa dos jesuítas e que privilegiavam a memorização e o raciocínio (FERREIRA, 2008 apud RODRIGUES 2011). Isso inviabilizou uma prática pedagógica que buscava um horizonte transformador para a educação, e que de acordo com Libâneo (2002, p. 54 apud RODRIGUES 2011) “É necessário construir uma pedagogia social crítica que aceite o conhecimento como consciência”. Dessa maneira, agora englobada nos aspectos político-administrativos a ideia da coordenação pedagógica continuava presente e suas características eram em relação a orientação do ensino, aspectos de direção, coordenação e fiscalização, na figura dos diretores de estudos. É formulada a primeira instrução pública (15/10/1827 apud RODRIGUES 2011) com a independência do Brasil, que instituiu as escolas de primeiras letras baseadas no “Ensino Mútuo”, onde as funções de docência e coordenação eram voltadas a um método concentrado nos professores, ou seja, instruir os coordenadores e os monitores, as atividades de ensino e aprendizagem dos alunos (LIBÂNEO, 2002 apud RODRIGUES 2011). O regulamento educacional do período imperial estabelecia que a função coordenadora devesse ser exercida por agentes específicos para a coordenação permanente, essa missão foi atribuída ao Inspetor Geral que supervisionava todas as escolas, colégios, casa de educação pública e privada (LIBÂNEO, 2002, p. 59 apud RODRIGUES 2011). O inspetor-geralcontinuou a conduzir os exames dos professores e a dar-lhes seus diplomas, autorizar a abertura de escolas particulares e revisar livros, o inspetor tinha que ser um elemento de prestígio pessoal e ter conhecimento de pessoas importantes e autoridades designadas (LIBÂNEO, 2002 apud RODRIGUES 2011). 1.1 Missão, objetivo, atuação, formação e limites do supervisor escolar O objetivo da supervisão escolar é contribuir para o dia a dia dos professores, para melhorar o desempenho da produção de seu trabalho e o processo de ensino- aprendizagem, o que se reflete diretamente no comportamento dos alunos. O supervisor, atualmente, é responsável pelo funcionamento geral da escola, em todos os setores: burocrático, administrativo, cultural, financeiro e de serviços, o mesmo 9 também é considerado o instrumento de execução das políticas pedagógicas, ALVES et al., (2012). Para ALVES et al., (2012) o papel do supervisor começa a ter uma ideia diferente. De acordo com a definição de Rangel, a supervisão passa de escolar, como é usualmente chamada, para supervisão pedagógica e é caracterizada pelo trabalho auxiliar do professor, em forma de acompanhamento, controle, planejamento, avaliação, coordenação e atualização do desenvolvimento do processo ensino‐ aprendizagem. A sua missão é sociopolítica, porém, continua a ser também a missão política, sendo ela crítica, evidenciada em afirmações como: O objeto específico da supervisão escolar em nível de escola é o processo de ensino‐aprendizagem. A abrangência desse processo inclui: currículo, programas, planejamento, avaliação, métodos de ensino e recuperação, sobre os quais se observam os procedi‐ mentos de coordenação, com finalidade integradora, e orientação, nucleada no estudo, nas trocas, no significado das práxis (RANGEL, 2003, p. 78 apud ALVES et al., 2012). Seu objetivo é, portanto, a qualidade do ensino, mas tendo em vista que os critérios e a avaliação da qualidade não são dados impostos de cima para baixo, do ponto de vista das críticas e orientações aceitas pelos professores, mas na interação entre supervisores e professores no ambiente escolar institucional. Dessa maneira, a atividade do supervisor está em constante desenvolvimento, evidenciando as transformações ocorridas e as evoluções no decurso da história, ALVES et al., (2012). O caráter fiscalizador e inspecional anteriormente atribuído ao papel de supervisor escolar, prejudicou a relação pedagógica entre professor e orientador supervisor em relação à prática pedagógica, visto que o professor era visto apenas como o executor de ação planejada, enquanto o supervisor assumia o papel de fiscalizador dessas ações e, assim, distanciava o pensamento da execução. Nesse panorama, é importante salvar algumas exceções, onde havia uma relação fria e distante entre esses dois especialistas profissionais, o que ainda se reflete nos dias de hoje e dificulta o estabelecimento de uma relação de parceria, cooperação, coparticipação e colaboração no trabalho educativo pedagógico do orientador/supervisor, ALVES et al., (2012). Ressalta-se que, apesar dos avanços no desenvolvimento de uma prática educacional pedagógica mais interativa e participativa que forneça um panorama em conjunto, no contexto escolar ainda existem lacunas na relação professor-supervisor que estão sendo superadas. Assim, em determinadas situações do cotidiano escolar, 10 o supervisor ainda não consegue se distanciar totalmente da antiga posição historicamente construída, embora já tenha avançado na relação interativa e dialógica com o professor, ALVES et al., (2012). Hoje em dia a figura do supervisor educacional como mediador, aliada à ideia de mudança, permeia novas propostas curriculares. Uma nova concepção de supervisão do desenvolvimento expressa maturidade e busca uma proposta de ação que corresponda à realidade educacional com o envolvimento de todos os membros da escola. Torna-se assim uma força motriz, mediadora da ação de professores, alunos e demais profissionais educacionais, mas não mais em uma posição de subordinação, mas na posição de interpretar a realidade da escola e suas necessidades. Dessa maneira, é necessário considerar a importância da formação acadêmica do supervisor ao se pensar nesse processo de mudança, ALVES et al., (2012). O Curso de Pedagogia passou então a formar “especialistas” em educação (supervisor escolar, orientador educacional, administrador e inspetor escolar, etc.). Medina (2002 apud ALVES et al., 2012) relata que a formação acadêmica engloba conhecimentos do ensino e da educação, como também conhecimentos de questões políticas que enlaçam as instituições escolares, tais como: conhecimentos das metodologias usadas pelos professores, esforço para manter‐se atualizado, modo de perceber e liderar os professores, controle do trabalho escolar, forma de autoridade exercida entre os professores e demais setores da escola e o modo como se comunicam. Essa formação acadêmica superior visa, também, à aquisição de habilidades técnicas e pessoais pertinentes ao trabalho realizado na escola, possibilitando minimizar as dificuldades ao relacionar a teoria que especifica o trabalho de supervisão com a realidade cotidiana da escola. 1.2 A ação supervisora frente ao contexto educacional A partir do momento em que se coloca a necessidade de se trabalhar em equipe promove a harmonia entre supervisores e educadores, também faz surgir a necessidade de amparar, articular e envolver toda a comunidade escolar no processo de ensino-aprendizagem, demonstrando que vivemos um momento em que as estruturas familiares, sociais e econômicas exigem um novo modelo de escola. Uma escola em que a educação formal não seja uma tarefa singular, mas coletiva, onde conhecimentos únicos se unem na busca de objetivos comuns, pois sabemos que responsabilidades não podem ser deslocadas ou transferidas, mas sim compartilhadas em uma visão de parceria. Por mais comprometida que seja uma escola, ela nunca poderá substituir a família, WENDLER (2015). 11 De acordo com Romão, vivemos numa época de crise, mas de ricas potencialidades na medida em que a sobrevivência do próprio processo civilizatório depende da construção de uma sociedade educacional. Ou seja, nenhuma formação social sobreviverá, se seus governos, suas instituições e suas classes sociais não entenderem que a única saída está na educação para toda à vida, de todas as pessoas, pois a cidadania ativa não pode mais ser prerrogativa de uma minoria (2006, p.45 apud WENDLER 2015). A importância da participação da comunidade escolar para um desempenho feliz do supervisor fortalece as medidas, uma vez que possuem contribuições e participações dos pais dos alunos que são sempre os melhores, porque querem o melhor não só para escola, mas também para os seus filhos e sentem-se valorizados por participar nos planejamentos e decisões escolares. São ações que oferecem oportunidades para a democratização da educação, como enfatiza Paulo Freire: “Ensinar exige a compreensão de que a educação é uma forma de intervenção no mundo” (1997, p.110 apud WENDLER 2015). Na educação não se age para agir, não se faz nada para fazer algo, todos os atos educacionais devem ser intencionais. Tem como objetivo de levar a alcançar determinados resultados relacionado à aprendizagem ou provocar mudanças de comportamentos. A educação escolar não se limita à sala de aula e é possível através da ação conjunta de todos os profissionais educativos: professores, técnicos, administrativos, funcionários em geral e de apoio que atuam na escola, WENDLER (2015). A supervisão tem como foco a formação de professores, indica uma reorientação do trabalho dos agentes, trazendo atenção para questões da sala de aula, com os professores, e outras questões mais gerais dentro e fora da escola. Portanto, os supervisores precisam estarbem preparados, atualizados, dinâmicos e preocupados com o destino dos alunos e com a responsabilidade da escola para com a comunidade, WENDLER (2015). Visando a supervisão como uma tarefa consultiva para professores e funcionários da escola, encarando-se a supervisão como um trabalho de assessoramento aos professores e à equipe escolar, a fim de desenvolver um projeto conjunto que sugira mudanças não apenas em práticas familiares, mas mesmo nas concepções que o sustentam, este trabalho deve ser entendido como uma interação ao nível dos olhos, em que não existem diferenças de posição entre os membros do 12 grupo, mas sim uma relação colaborativa. Essa parece ser a única forma de mudar as práticas existentes, garantindo avanços significativos no desenvolvimento docente (ALONSO, 2003 apud WENDLER 2015). Para refletir sobre a atual supervisão da escola no Brasil, devemos primeiro entender os compromissos que apoiaram e implementaram seus meios no poder das políticas públicas e administração relacionada a própria educação, desde a especialização de supervisão que teve a sua função profissionalizada. Segundo, para entender que epistemologia norteia suas práticas e compromissos que agora se impõem aos profissionais da educação, à administração e às políticas públicas. Em seguida, expresse os compromissos e esperanças de construir uma escola de alta qualidade, democrática e igualitária que ajude a modificar a sociedade. A supervisão escolar está empenhada em garantir a qualidade da educação na formação do homem, com um trabalho articulado e orgânico entre a qualidade real do trabalho pedagógico e o que é percebido como qualidade e o que subsidia novas políticas e novas formas de gestão escolar orientadas para a mudança. Supervisão significa “visão sobre” etimologicamente e está intrinsecamente ligada à gestão escolar. Como responsáveis pela qualidade do processo de humanização das pessoas por meio da educação, a supervisão neste contexto atual estabelece outras obrigações que vão além das especificidades da sala de aula dentro do espaço escolar, sem dele desistir, WENDLER (2015). Trabalhando-os com profundidade em toda sua complexibilidade e transitoriedade e comprometendo-se com a administração da educação, a meta é de garantir conteúdos emancipatórios e isso leva a uma resposta da escola às políticas educacionais e públicas que a norteiam. Este compromisso manifesta-se no acompanhamento e investigação de todas as relações que se estabelecem entre a tomada de decisões, os regulamentos sociais e as políticas que os geram, bem como no financiamento da gestão educacional, como atitude de apoio à prática pedagógica educativa que envolve a participação direta na construção coletiva da libertação humana e acadêmica, WENDLER (2015). A supervisão escolar participa na construção da sociedade se reconhecer e reconhecer também o seu papel fundamental para construir uma nova visão de educação e exercer sua função política com consciência e compromisso. O processo educacional envolve uma infinidade de fatores inter-relacionados e de amplo alcance 13 humano e social, devendo ser levados em consideração os fatores que ocorrem durante esse processo e que precisam ser tratados adequadamente. Para que isso aconteça na educação, é importante que as linhas de atividades e ações sejam definidas e coerentes, WENDLER (2015). O acaso não pode e não deve ser a única fonte de incentivo e direção para a ação educacional. Como determinantes fundamentais para a importância da estruturação e da adequada dinamização do serviço de supervisão escolar, muitos são os motivos que se implementam na medida em que for necessário. Esses motivos nos levam a posicionar o serviço da supervisão escolar como um serviço de fundamental importância para a efetivação do processo educativo na escola e no sistema educacional, WENDLER (2015). Com o objetivo de formar alunos que acelerem o processo de desenvolvimento do pensamento desde a aprendizagem até uma nova perspectiva de vida, o trabalho da supervisão escolar mobiliza, promove e impulsiona a comunidade escolar, de forma a unir esforços para a superação das diferenças e desigualdades no contexto escolar. Contudo, o estudo dessas rotas deve ser realizado de forma a se obter uma base para o desenvolvimento e adaptação à comunidade escolar como um todo em seu cotidiano. Não quero dizer que isso só acontecerá com a leitura que nos diz quais planos precisamos aplicar, mas, sim, com uma visão mais ampla do contexto educacional e adaptada a cada realidade, WENDLER (2015). Dada a relevância de se trabalhar uma metodologia coletiva, voltada para educadores motivados na busca do conhecimento, os dois criam uma harmonia mais vibrante e é por meio dessa atração motivadora que a comunidade escolar, principalmente os pais, se sentirão mais integrados à sociedade. Esta integração dentro da gestão escolar deve ser mantida com urgência para o processo educacional, WENDLER (2015). Conforme Penin o conhecimento do cotidiano escolar é necessário por duas razões. Primeiro, porque sendo conhecido é possível conquista-lo e planejar ações que permitam transformá-lo, assim como lutar por mudanças institucionais no sentido desejado [...]. Segundo, porque o cotidiano, sendo conhecido, pode fornecer informações a gestões institucionais democráticas que queiram tomar medidas adequadas para facilitar o trabalho ao nível cotidiano das escolas e melhorar a qualidade do ensino aí realizado (1989, p.161 apud WENDLER 2015). 14 A gestão partilhada em uma ação conjunta com a comunidade escolar garante assim o maior desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem e visa desenvolver alianças neste intercâmbio para esclarecimento de questões sociais, econômica e política no quadro educacional, diminuindo assim possíveis distorções nas práticas de avaliação da educação de forma mais geral. Visto isso, a Constituição da República Federativa do Brasil no Capítulo III, seção I da Educação, p. 55/2006, cita: “A educação, é dever do Estado e da família sendo ela direito de todos, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, (...)”, WENDLER (2015). Além disso, acredita - se que uma contribuição prática do supervisor é permitir tempo de contato e integração entre os docentes, e uma forma de encontrar tempo é adquirir o tempo é prestar atenção ao horário de cada mestre em sua área de atuação. É necessário que a coordenação, supervisão, direção e o gestor priorizem a reserva de tempo para comparecimento ao planejamento e reuniões conjuntas entre o grupo de responsabilidade compartilhada. Trabalhar a dimensão individual dos educadores também é uma diretriz que um bom supervisor deve cumprir, WENDLER (2015). Assim diz Medeiros, graças a essas competências, os sujeitos constroem condições de reconstruir as leis que regem o mundo por meio da busca argumentativa e processual da verdade. São sujeitos que não se conformam com o sistema de normas que vigora na sociedade, tendo condições argumentativas de questioná-lo, buscando, no interior de uma ética discursiva, novos princípios normativos para a ação individual e coletiva, à base do melhor argumento (2002, p.143 apud WENDLER 2015). Para isso, a escola pode e deve ser um laboratório de sensibilização e um espaço de promoção e incentivo às ações de cordialidade, podendo o supervisor em consulta com os educadores, apontar e promover exemplos de consistência e engajamento social, que servem de modelo para nossos alunos que são jovens estudantes, bem como para a sociedade como um todo. Este aprendizado de modelos de comportamento enfatiza cada vez mais a importância da construção de parcerias, reforçar, talvez paradoxalmente, o papel do supervisor nesse processo, uma vez que a forma como a equipe docente conduz o trabalhopedagógico também fornece modelos de formação para toda a comunidade, WENDLER (2015). 15 1.3 O supervisor escolar como parceiro do educador O trabalho do supervisor não é limitado puramente para "supervisionar" se a escola é "boa", mas com sua competência, implica em ações de abertura para as relações sócias-políticas mais amplas, pactuando – se a seus companheiros para fundar um novo pensar em educação. Conforme Passarino (1996, p. apud WENDLER 2015), “o trabalho do supervisor educacional, exige um compromisso muito amplo, deve ser orientado pela concepção libertadora de educação, não somente com a comunidade na qual está trabalhando, mas consigo mesmo”. Relaciona - se com o compromisso político que induz à competência profissional e acaba refletindo nas ações do educador, nas mudanças que são desejadas e almejadas em sala de aula, mas também temos que enfatizar que a função do supervisor é muito complicada de cumprir e ser realizada, pois, exige participação para a integração em sua complexidade, WENDLER (2015). A inclusão do cargo de supervisor escolar conforme com o plano de carreira do magistério público traz importantes mudanças, já que ele deixou de ser visto apenas como um agente administrativo, exclusivamente, configuram a exigência de um profissional qualificado para essa função, o que também obriga o sistema a dar mais atenção à formação e ao desempenho do supervisor da escola. O crescimento do sistema educacional e sua complexidade, por sua vez, exigem uma ação que extrapola o campo de atuação desse especialista e é vista como uma ação compartilhada por todos os especialistas em educação, WENDLER (2015). Portanto, é pacífico o entendimento atual de que não só a fiscalização relacionada a supervisão escolar que “faz a fiscalização da supervisão”, mas a supervisão ocorre em todos os níveis da rede escolar e por todos os educadores que nela atuam. Esse posicionamento também vem da concepção muito atual de gestão democrática da educação relacionada a forma de ensino, por meio da qual todos planejam, discutem, realizam, avaliam e participam sistematicamente as ações educativas e de apoio à educação. Naturalmente, este projeto leva à reserva das ações, que diz respeito que a responsabilidade pela supervisão não se limita à figura do supervisor escolar, tornando-se uma tarefa de todos os assuntos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, WENDLER (2015). 16 É claro que a democratização das ações traz a vantagem de envolver todos no processo educativo, mas se os papéis não forem definidos corre-se o risco de um esperar que o outro o faça e ninguém assumir a responsabilidade de ser tarefa do outro. Portanto, nesse cenário, é de extrema importância repensar o papel do supervisor escolar, cabendo destacar o contexto em que esse profissional está inserido, WENDLER (2015). Conforme este contexto, o supervisor escolar deve atuar em conjunto com todos os profissionais da escola, participando das atividades e funções educativas que são desenvolvidas dentro da escola, atuando de forma a promover e fortalecer a participação coletiva da comunidade escolar na tomada de decisão da escola. Obedecendo e respeitando o papel do diretor da escola, o supervisor deve atuar como um elo entre a escola e os diversos órgãos do sistema, WENDLER (2015). Desse modo, o ato fiscalizador da ação supervisora deve ser exercido por todos os especialistas e profissionais em educação de nível educacional estadual, municipal e federal de ensino. A ação supervisora deve ser conjugada com ações de parceria entre secretaria municipal de educação, educadores e alunos. É importante ressaltar, entretanto, que essa aliança só pode se concretizar se houver espaço em todos os níveis do sistema para a elaboração do planejamento participativo, o que requer instâncias democráticas para sua concretização, WENDLER (2015). Podemos dizer que cabe a todos planejar, realizar, avaliar e replanejar as atividades pedagógicas da sua área de responsabilidade, cabendo ao supervisor escolar a função de mediador para que estas informações sejam repassadas entre os diversos níveis do sistema, WENDLER (2015). Acredita-se que a passagem entre a cristalizada concepção de supervisão escolar eminentemente fiscalizadora, porque sabe-se que uma nova concepção de supervisão implica em mudanças de posturas profissionais e ruptura de paradigmas. Para um novo conceito que efetivamente salve a supervisão escolar como uma ação integradora do projeto escolar, supõe investimentos na formação dessas figuras profissionais, incluindo-os nas políticas públicas a serem implementadas, WENDLER (2015). 17 Apenas com a integração do conhecimento e encontrando-lhes que tanto o supervisor quanto educadores, conseguem traçar os caminhos para a gestão democrática e transparente no contexto educacional. Para isso, as metas e objetivos têm que ser traçados de forma contínua e coletiva, mas centrados no profissional supervisor, pois acredita- se que será o profissional quem fará a mediação de todo o processo de iniciação com os professores, WENDLER (2015). Não o diria verdadeiro, mas como o mais adequado para permitir um trabalho coerente e praticável nas escolas, para articular o trabalho nas suas diferentes áreas, refletir sobre os dogmas e princípios que norteiam o trabalho do educador, dialogar com a realidade da sala de aula e refletir os métodos utilizados, revela ser uma pessoa competente, mas com a humildade de querer aprender, WENDLER (2015). Para BARBOSA (1999 apud WENDLER 2015), os novos conceitos de gestão se constituem numa preocupação da Administração Pública na busca de um novo paradigma, uma vez que o aumento de poderes sugere a ampliação de responsabilidades e, consequentemente, maior preparo dos gestores educacionais. É importante ressaltar que esta parceria com a autoridade pública é indispensável porque apoiará o trabalho realizado no coletivo. Da mesma forma, que um profissional da área que abandonou uma visão fundacional das ações organizacionais da escola, porque sublinha que não se trata de delimitar o papel “verdadeiro” e “exclusivo” do supervisor escolar, mas de configurar as suas funções de acordo com as possibilidades que o próprio cargo oferece, ou seja, a partir de uma visão ampla e articulada das ações que acontecem na escola. Como um profissional que atua diretamente com a educação, mas também como um educador com características que são fundamentais de acordo com processo de mudanças, em uma escola democrática, influencia e interfere diretamente na formação das potencialidades de cada sujeito, WENDLER (2015). Supervisor Político Administrativo: não deixa de ser comprometido com a educação, mas está com as atividades atribuídas e tidas como função ao campo técnico-político para determinados fins sociais. Supervisor Educador: Comprometido com trabalho escolar dentro e fora da escola. Podemos dizer que para ambos, os mediadores são através do seu conhecimento e quando esses papéis são assumidos pela responsabilidade individual, é essencial, indiscutível, imprescindível, agora em relação a tarefas, o supervisor terá um intervalo muito mais amplo, WENDLER (2015). 18 Em primeiro lugar, ser um educador que pelos seus conhecimentos é capaz de transmitir confiança e espírito de liderança, em equipe, que valoriza o trabalho coletivo, que é atencioso, parceiro e semeador de comprometimento com um ensino de qualidade. O supervisor escolar seria uma pessoa que auxilia tanto quanto possível em todos os assuntos relacionados com a escola, como também no âmbito da aprendizagem, como também está constantemente ligado a todos os eventos e medidas educativas além do conhecimento para definir suas ações de trabalho. Mais do que nunca, é o processo ensino-aprendizagem e a aprendizagem envolve os educadores, a comunidadeescolar e os gestores que a relacionam com as suas funções, WENDLER (2015). Sem hesitação temos uma pessoa que desempenha várias funções e esse talvez seja o desafio que poucos têm o compromisso de assumir, pois quando esse profissional deixar de ser um "faz tudo" poderemos ver e ter um supervisor com uma dicotomia para fazer um trabalho que faça a diferença. Tanto no processo educacional quanto no processo de aprendizagem, o supervisor agregaria oportunidade para encontrar, em conjunto, formas de conduzir a aprendizagem que correspondem às habilidades de cada indivíduo, WENDLER (2015). É necessário ser educador, mas ter uma especialização e ser qualificado para que consiga apoiar essa função e alcançar mudanças. O erro que se comete até hoje é pensar que ser educador pode ser supervisor, então estamos cometendo os mesmos erros que historicamente tem acontecido para atuar nessa função, WENDLER (2015). Para muitos, o supervisor ainda aparece como um profissional que “sabe tudo”, que fiscaliza tudo, por isso é necessária uma ampla e profunda divulgação entre educadores e gestores e isso deve ocorrer, por meio de debates, encontros educativos pedagógicos, onde o coletivo possa gradativamente se substituir e desenvolver novas concepções dessa função. A realidade desafiadora e complexa sobre as mudanças pelas quais o mundo passa na atualidade como a questão de responder aos desafios de uma sociedade globalizada, centrada na informação e nas tecnologias requer que a escola recupere suas ações para que as práticas educacionais estejam em reconstrução contínua e permanente, WENDLER (2015). 19 Desse modo, o supervisor escolar e os outros participantes neste processo pedagógico devem suportar e esforça-se para monitorar e suportar as novas características desta sociedade que se apresenta de forma complexa, dinâmica, exigente e desafiadora, WENDLER (2015). De acordo com, WENDLER (2015), ao tratar especificamente da atuação do supervisor escolar, foi constatado que, neste início de século, o foco da atuação desse profissional da educação vem sofrendo grandes modificações. Nesse sentido, e ao contrário do passado, não há sugestão de que o trabalho do supervisor deva se concentrar no controle puro e simples do trabalho do professor. Medina enfatiza esse problema observando que: [...] é o trabalho do professor [...] que dá sentido ao trabalho do supervisor no interior da escola. O trabalho do professor abre o espaço e indica o objeto da ação/reflexão, ou de reflexão/ação para o desenvolvimento da ação supervisora (2004, p. 32 apud WENDLER 2015). Assim, verifica-se que a ação da supervisão escolar está longe de ser uma função mecanizada e pautada em uma rotina burocrática, como era há décadas atrás. Atualmente, é fundamental e esperado desenvolver ações a partir de uma reflexão sobre o processo pedagógico, onde o professor passa a ser o principal instrumento dessa reflexão e não mais um agente a ser controlado nas escolas. Assim, vamos citar alguns pontos que é considerado relevantes e que se relacionam com este novo perfil esperado e relacionados com a atuação do supervisor escolar, WENDLER (2015). Cabe ao supervisor escolar, conviver com a diversidade levando em consideração que é um dos desafios pelo qual passa a escola moderna, portanto é importante ressaltar que é primordial que supervisor trabalhe essa realidade com os professores com o propósito de explicitar as contradições e os conflitos consequentes dessa diversidade. A escola a ser lida hoje é a de uma escola única, mas inserida na pluralidade, cabendo ao supervisor fazer com que os professores reflitam sobre esse fato e ajam de forma em que suas ações locais sejam refletidas no mundo todo, WENDLER (2015). 20 Ressalta-se, ainda, que o supervisor escolar deve- se colocar no papel de problematizar a dor frente ao oficio do professor, a fim de fazê-lo refletir constantemente sobre sua atuação na e para a educação. Além disso, é função do supervisor escolar ser claro e estimular os professores a pensar que o conhecimento é um fato relativo, ou seja, que os métodos utilizados pelos professores não devem mais ser apresentados de forma linearizada, uma vez que a produção deles se dá em um movimento de ensinar e aprender, WENDLER (2015). Além do mais, o supervisor deve ter uma postura clara em relação ao processo de ensino-aprendizagem, à função social da escola e ao trabalho de todas as demais áreas de atuação que envolvem o fazer na e pela educação. E ainda o supervisor deve ver na proposta pedagógica da escola a oportunidade de reconstruí-la, de propor momentos de reflexão, de confrontar a ação, principalmente o professor, com o que se apresenta na proposta e este com a realidade social da escola. Há que se trabalhar “visando não mais um tipo ideal de homem, mas trabalhar tendo em vista o sentido da vida humana” (Medina, 2004, p.27 apud WENDLER 2015). 1.4 A supervisão escolar e a orientação educacional: um trabalho integrado Através de um trabalho integrado apresenta –se uma proposta que surge ocupando o lugar de uma postura tradicional da prática pedagógica da Supervisão Escolar e da Orientação Educacional, substitui uma posição tradicional, um trabalho inteiramente técnico e alienante em algum momento que passou por várias fases de transformação desde que as ações desses profissionais surgiram no processo educacional formal, SIMÕES; (2009). A esse respeito Fontes & Viana (In Presença Pedagógica,2003, p.55 apud SIMÕES; 2009), acrescenta que pensar o papel e a prática de supervisores e orientadores educacionais na escola é pensar antes de tudo em seu surgimento na história da educação em nosso país. [...] foram funções pedagógicas criadas durante o regime de ditadura militar no Brasil[...] um sistema que tinha como ideologia a opressão; como método o silêncio, por objetivo, a alienação. Nesse sentido, a ação integrada de Orientação Educacional e de Supervisão Escolar é um tema muito debatido no meio acadêmico e por isso tantas publicações e debates se baseiam neste tema, especialmente na formação e atuação desses profissionais, tratam da realidade educacional, SIMÕES; (2009). 21 Orientação Educacional e Supervisão Escolar são funções educacionais pedagógicas que surgiram para que cada uma desempenhe seu papel fragmentada em um campo de ação diferente. Por muito tempo, a primeira dedicou seu campo de atuação exclusivamente aos professores, a segunda tinha a função exclusiva de atender os alunos, SIMÕES; (2009). Mas, conforme Urbanetz & Silva (p.61 apud SIMÕES; 2009), “A classificação do trabalho na supervisão escolar e no aconselhamento educacional, ou seja, na orientação educacional é característica do período tecnicista, refletiu-se em inúmeros estudos, artigos, pesquisas, e o mesmo encontram-se em absoluta superação nas variadas alternativas de ensino [...]. Com base em inúmeros estudos, artigos e outras publicações, foi confirmada a ineficácia do trabalho desses profissionais na forma fragmentada como foi desenvolvido e surgiu a necessidade de um processo de transformação que buscou a unidade desses especialistas para responder às propostas inovadoras que surgiram no campo educacional. Dessa forma, “não só a formação do orientador ou do supervisor teve a necessidade de mudança, mas também e sobretudo a sua mentalidade e o seu curso de ação. (FONTES & VIANA, in Presença Pedagógica, 2003, p.57 apud SIMÕES; 2009). Urbanetz & Silva (p.54 apud SIMÕES; 2009) afirma que uma proposta pedagógica inovadora não pode perder de vista as metas a atingir. [...] A gestão pedagógica que não tem consciência de seu papel no processo de mudança repete cegamente as práticas já existentes, sem o questionamento sobre a realidade social que a escola se insere. Por causa dessa reflexão, o papel da Orientação Educacional e da SupervisãoEscolar deve ter o mesmo discurso e ação hoje, para que seu trabalho dê sentido ao conhecimento do aluno, o enquadre na realidade e o torne crítico, criativo e cívico. Sendo assim, Urbanetz & Silva (p.59 apud SIMÕES; 2009) destaca ainda que “Um dos maiores desafios para esses profissionais especialistas hoje é entender a complexidade da realidade em suas diversas disposições e, então, reagir conscientemente aos seus limites, mas também às suas possibilidades. 22 Uma alternativa de destaque na prática educacional, que pode considerar como objetivo comum a todos os profissionais da área de educação, é a pesquisa, pois ela é quase obrigatória e muito constante na formação em educação. Para Rangel (in Ferreira, 2002, p.95 apud SIMÕES; 2009) "a pesquisa expande a compreensão do desempenho do processo didático, dessa maneira, sendo relacionado sobre as ações e relacionamentos que nele tem curso, fornecendo decisões respaldadas sobre as perspectivas para o avanço do conhecimento e da prática". A supervisão escolar é permeada através de pesquisas e a pesquisa não só dá o suporte pedagógico para que a supervisão aconteça, mas também leva a orientação pedagógica educacional, dessa forma podemos dizer que promove a consciência de que o professor é um ator ativo e fundamental na produção do conhecimento, assim como uni o conjunto de profissionais inseridos na escola, em que a experiência de cada um é analisado, para que toda a comunidade escolar possa dar um novo significado de sua ação na escola. É um movimento de reflexão/ação, ação/reflexão, SIMÕES; (2009). Como saliente Lück (2009, p82 apud SIMÕES; 2009): “Educação é processo humano de relacionamento interpessoal e, sobretudo, determinado pela atuação de pessoas. Isso porque são as pessoas que fazem diferença em educação, como em qualquer outro empreendimento humano, pelas ações que promovem, pelas atitudes que assumem, pelo uso que fazem dos recursos disponíveis, pelo esforço que dedicam na produção e alcance de novos recursos e pelas estratégias que aplicam na resolução de problemas, no enfrentamento de desafios e promoção do desenvolvimento. ” As questões relacionadas à educação devem ter o comprometimento e o aprimoramento da prática na escola por parte dos profissionais que nela atuam, para que o essencial não fique em segundo plano, e a ação integrada da Orientação Educacional e da Supervisão Escolar, É um elemento fundamental nessa construção do trabalho em grupo, tendo em vista que abrange a coletividade, uma vez adotado de forma coordenada, facilita essa prática ao mobilizar a escola para assumir seu verdadeiro papel e, consequentemente, de benefício para a educação, SIMÕES; (2009). 23 2 O SERVIÇO DE INSPEÇÃO ESCOLAR PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Fonte: ineq.com.br Na época da organização do império com a Lei Orgânica do Ensino Primário é que podemos dizer que o Serviço de Inspeção teve sua origem. Com a república veio a reforma de Afonso Pena de 3 de agosto de 1892, de caráter descentralizado, que trouxe mudanças significativas e inovações profundas gerando o Conselho Superior de Educação e a Inspetoria Ambulante para que pudesse atender ás escolas estaduais e municipais, SANTIAGO; (2021). No período de 1920 a 1961, cada estado brasileiro se organizou de acordo com suas necessidades e buscou a identidade e a organização do serviço de fiscalização escolar, tendo como objetivo a promoção da identidade e organização para o serviço de inspeção escolar. Com o surgimento de novas regulamentações do governo, por meio da Lei 4 024/61, todas as instituições públicas e privadas de ensino médio e superior estavam sujeitas à inspeção federal, SANTIAGO; (2021). O Conforme registra Oliveira (2008 apud SANTIAGO; 2021): “essa integração ao serviço de inspeção federal, tinha por objetivo organizar e reestruturar as atividades escolares do ensino primário e normal da época. ” Ao Inspetor Escolar cabia conceder autorização, credenciamento e inspecionar as práticas pedagógicas dentro das formalidades legais da educação. 24 Entretanto, com o crescimento das instituições de ensino, as atividades do inspetor escolar tornaram-se fragmentadas por nível de escolaridade, pois ele era o responsável pela formação que o professor deveria realizar na função de inspetor de alunos, professores, repassar seus conhecimentos e ter responsabilidade pelas atividades no que se refere à organização do currículo, ao planejamento e desenvolvimento dos conteúdos nas diversas modalidades de ensino, garantindo o desenvolvimento conjunto com o governo federal, incluindo o estado e município dentro das formalidades vigentes da educação brasileira, SANTIAGO; (2021). A publicação da Lei 5.692/71 No decorrer da história, trouxe novos rumos relacionados a orientação e mudanças significativas na educação a nível nacional. As primeiras mudanças e adequações foram feitas com a reorganização do ensino de 1º e 2º grau, fundamental e médio atualmente, com isso, houve a necessidade de unir e integrar os estabelecimentos de ensino da rede privada com a pública, uma vez que o serviço de fiscalização de inspeção escolar de todas as unidades de ensino básico foi assumido pelo Estado, SANTIAGO; (2021). Em 1975, por extrema necessidade, iniciou-se também um amplo debate com vista à reorganização do quadro da função pública para o ingresso e exercício do profissional da inspeção escolar em estabelecimentos de ensino, sobretudo no Estado de Minas Gerais. O papel do inspetor de escolar frente a sua atuação, que parecia não fazer sentido em sua real função, emergiu da fragmentação e passou a se destacar em sua constituição como carreira docente do magistério, aliada à gestão da parte burocrática da educação e envolveu a seleção de pessoas com treinamento apropriado para a inspeção escolar e o exercício de planejamento de carreira, SANTIAGO; (2021). Com passar dos anos, a Inspeção Escolar apropria –se de diferentes papéis e funções, dependendo dos interesses políticos e do papel da educação nos planos do governo. Em uma visão passada e, mas ainda difundida, o inspetor era considerado como aquele que fiscalizava, como responsável por zelar pela burocracia do Estado na organização escolar, MARTINS (2018). 25 Barbosa (2008, p. 46 apud MARTINS; 2018) menciona que o Estado utilizava a burocracia como forma de controle do sistema educacional e, até a década de 1950, "que se comprometia a manter a burocracia e essa centralização no setor educacional", foi o inspetor escolar que recebeu esta atribuição que passou a fazer parte da sua função ”. A partir da década de 1960, com a evolução da legislação e da própria organização do ensino, a inspeção vai assumindo também um papel de assistência aos processos educativos conduzidos pelas instituições de ensino. (BARBOSA, 2008 apud MARTINS; 2018). Através do curso de Licenciatura em Pedagogia que possibilitava o acadêmico de se licenciar para atuar na educação infantil, disciplinas didático-pedagógicas do antigo magistério, anos iniciais do ensino fundamental, orientação escolar, supervisão pedagógica, inspeção escolar e administração é que se dava a formação dos especialistas em Educação Básica, MARTINS; (2018). Entretanto, foi pelo meio das atuais exigências e reforma da educação, o curso de Pedagogia passa por atenção especial, permitindo ao acadêmico ter apenas a licenciatura plena em educação infantil e ensino fundamental dos anos iniciais, ficando as especializações ao nível de pós-graduação Lato Sensu para atuar em atividades de inspeção escolar, coordenação, administração, supervisão, orientação, SANTIAGO; (2021). Registra a LDB 9.394/96, no artigo 64: A formação dos profissionais da educação básica para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básicaserá feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, nesta formação, a base comum nacional. (BRASIL, 1996 apud SANTIAGO; 2021). São inúmeras as normas que regulam o papel do inspetor escolar na instituição de ensino e as visitas frequentes a este especialista têm como objetivo resolver as dificuldades e unificar as leis educativas de todo o sistema. Uma vez que a educação é conduzida pelas normas e orientações do Conselho Nacional e Estadual de Educação (CNE/CEE) e Secretaria de Estadual da Educação (SEE), as quais são repassadas aos diretores e superintendentes das escolas de ensino, que têm de sustentar a unidade administrativa entre os estabelecimentos escolares, SANTIAGO; (2021). 26 O papel do inspetor é mediar as relações entre os sistemas educacionais nos níveis regional, local e estadual. Objetiva suporte técnico-administrativo e pedagógico dentro das necessidades da instituição de forma ampla e abrangente de acordo com a atuação nos estabelecimentos. Por se tratar de um serviço que não se limita à turma em sala de aula, é importante ressaltar que esse se desenvolve na organização administrativa das escolas, SANTIAGO; (2021). Além das orientações, o inspetor escolar buscará possibilitar as diretrizes e orientações, o inspetor escolar se empenhará em promover, apoiar e implementar especialistas em educação (orientador educacional e supervisor pedagógico) nas atividades realizadas em seu trabalho, implementação e direcionamentos nos projetos estruturados, avaliação, diagnóstico no ensino aprendizagem, complementares e acompanhamentos de docentes nas suas necessidades quando solicitado. No entanto, quando houver uma boa comunicação entre as áreas dos setores da escola e a comunidade, as atividades serão agradáveis e beneficiarão o desenvolvimento profissional de todos, MARTINS (2018). Com resultado, o acompanhamento, a orientação, supervisão, coordenação, e a avaliação do serviço de inspeção escolar de forma a ter efeitos contínuos nas atividades da rotina diária, devem ser praticadas em equipe, entre os especialistas da área, funcionários das superintendências de ensino e das unidades de ensino. Desse modo, Silva (2008 apud SANTIAGO; 2021) reafirma a necessidade da união em todos os segmentos que tange a organização escolar. Uma organização funciona através da cooperação. União, conhecimento da realidade e o aprendizado contínuo para a solução dos problemas de todos os envolvidos no sistema educacional, escola, professores, especialistas, família, sociedade e, sobretudo o aluno. (SILVA, 2008, p.05 apud SANTIAGO; 2021). A necessidade de participação dos grupos nas diversas atividades pedagógicas só se consolida no trabalho ético e no sentido do cumprimento efetivo dos objetivos fixados pelas secretarias de estado da educação, SANTIAGO (2021) Como marca registrada do século 21, o impacto do pós-modernismo também desafia a inspetoria escolar a romper com velhos paradigmas e renovar sua atuação como atividade articuladora e renovar meios que favoreçam inclusão e desenvolvimento global da educação. O inspetor escolar deste novo patamar deve procurar o melhor desempenho na promoção e revisão de medidas administrativas e 27 pedagógicas educativas no quotidiano fragmentado que se encontra dentro espaço escolar e promover medidas concretas baseadas na ética, na autonomia, democracia e na responsabilidade, SANTIAGO (2021). A situação atual de novas linguagens, códigos e tecnologias deve permitir ao inspetor escolar se envolver com as necessidades atuais da escola, da comunidade regional e local, para monitorar e realizar suas ações por intermédio de visitas as unidades de ensino orientando especialistas e gestores, em educação básica, funcionários da administração escolar e membros do corpo docente na tomada de decisões e gestão participativa. A ação pedagógica do inspetor escolar dentro das escolas, hoje, deve permitir uma interação mais forte dos funcionários da escola no regime de cooperação, especialmente na gestão escolar. Segundo Silva (2008 apud SANTIAGO; 2021): Os gestores em educação precisam estar abertos à participação, às mudanças, às novidades e ao diálogo. O comprometimento do líder e a vontade de envolver toda a comunidade escolar são decisivos. Quando isso acontece, estabelece-se uma forte coesão em equipe escolar. Nas instituições escolares, onde os líderes-gestores demonstram confiança na equipe de funcionários, de professores e especialistas, o desempenho é significativo e o sucesso é de todos. (SILVA, 2008, p.58 apud SANTIAGO; 2021). O inspetor escolar nas visitas diárias das instituições de ensino deve procurar uma secretária e também ajuda de secretariado, técnico na educação em uma busca constante pela melhoria da função nas reuniões, e na revisão da atividade de cada um para que não haja sobrecarga de funções a uma única pessoa. Deve haver plena comunicação entre todos os profissionais da escola, principalmente quando são publicadas novas leis, resoluções, decretos e circulares que devem ser compreendidos por todos os funcionários do setor, SANTIAGO (2021). Composta por um sistema de regras e produzida historicamente a inspeção escolar é entendida aqui como uma instituição social, ela perpassa e é permeada pelas relações de poder que circulam no ambiente educacional. Alguns autores, como Meneses (1977 apud PEREIRA 2012) argumentam que “ a inspeção é uma ação que sempre esteve presente e a mesma não é constitui como uma novidade nem nas atividades sociais e nem nas empresas” (p. 5). 28 PEREIRA (2012), porém, diz que, essa visão naturalizada da inspeção neutraliza a possibilidade de se pensar outras possibilidades de práticas, principalmente educacionais, não apenas ignora a historicidade das produções sociais e, sobretudo, impede que a função seja questionada. Por fim, nem sempre existia a escola, as hierarquias, os sistemas educacionais, as leis e, consequentemente, a inspeção. Em vez de buscar uma definição em relação a essa função e profissão, por que não pensar nos caminhos que garantiram sua criação, produção e, em última instância, sua institucionalização? As contribuições da análise institucional na perspectiva dos franceses nos ajudam a refletir e questionar a naturalidade das instituições educacionais e servem como alternativa para a cristalização do campo educacional. O termo “instituição” foi utilizado com ênfases muito diferentes, e três fatores podem ser identificados: Primeiro, as instituições são concebidas como instalações de cuidado, ou seja, a serviço da ação terapêutica, em um segundo momento as instituições foram entendidas como dispositivos que foram instalados nas instituições; e no terceiro momento a instituição deixa de ser entendida como algo que pode ser encontrado, mas como a “forma” de produzir e reproduzir as relações sociais ou a “forma geral” dessas relações que se instrumentalizarão nos estabelecimentos ou nos dispositivos (RODRIGUES, SOUZA, 1987 apud PEREIRA 2012). Lapassade (1977 apud PEREIRA 2012) ao propor uma pedagogia institucional, melhor dizendo, uma nova forma de trabalhar em que "a criança passa a ser o centro da decisão, ou melhor, o grupo segue seu próprio caminho e avança para sua própria autogestão", é um acontecimento considerado um fenômeno para a pedagogia tradicional é bastante visível, já de acordo com a pedagogia institucional assume a responsabilidade de que as ideias das estruturas podem ser alteradas, levando em consideração que não há dúvidas sobre seu modo de funcionamento e, portanto, possui uma organização hierárquica. A burocracia pedagógica funciona num sistema em que as decisões fundamentais (programas e nomeações) são tomadas pela “cúpula da burocracia pedagógica” e são transmitidas e executadas através dos vários graus da hierarquia.Várias regras são definidas pela burocracia resultando em estatutos, obrigações, condições de ingresso na profissão pedagógica, definindo um sistema de controle e acaba sendo vista como uma fonte de julgamentos e sanções. Segundo Lapassade: [...] o “universo burocrático” exprime-se ao nível do “vivido”, e pertence, por esse fato, ao campo da análise psicológica (ansiedade dos professores, por exemplo, quando das “visitas” do Inspetor, encarado antes como um controlador e como um juiz do 29 que como um conselheiro pedagógico (LAPASSADE, 1977, p. 199 apud PEREIRA 2012). Para PEREIRA (2012) esse exemplo, entendido pelo autor como pertencente ao campo da análise psicológica, se reflete na prática das relações historicamente estabelecidas entre a inspetoria escolar e os demais profissionais da educação. A produção de uma relação cristalizada, fragmentada, autoritária e hierarquizada. Contudo, algumas escolas institucionalistas nos ajudam a entender que não há[...] uma separação radical entre vida econômica, vida política, vida do desejo inconsciente, vida biológica e natural; o que existem são imanências – isto é, a coextensão, a condição intrínseca de cada um destes campos em relação aos outros, que só podem se separar de uma maneira artificial para a finalidade de seu estudo (BAREMBLITT, 1992, p. 44 e 45 apud PEREIRA 2012). Assim, conforme o autor, ao invés de uma separação radical, pode-se imaginar a vida social como uma rede em que é possível identificar os "molares" (o macro, o lugar de preservação, a ordem, a regularidade, as leis, o visível, a reprodução) o instituinte (dinâmica de transformação) e o “molecular” (o micro, o lugar da produção, do impensável, do novo, do imprevisível). Em outras palavras, movimentos intensos ente o instituído (o que está posto, o que procura conter as transformações, controlar), PEREIRA (2012). A inspeção social é caracterizada por processos burocráticos, portanto usados em um contexto molar, que faz parte de uma rede de produções e reproduções que confirmam um modo de operação que induz os efeitos de submissão dos sujeitos. As condições que conduziram às diversas mudanças na organização da inspeção escolar não surgiram apenas com base no estado, poder, legislação, portarias, ou seja, e as regulamentações assim decretaram, PEREIRA (2012). Mas exatamente porque as mudanças moleculares foram feitas na vida social e conectadas. Tendo em vista que isso é os direcionamentos que ocasionaram em institucionalização da inspeção Escolar, são o resultado de mudanças ocorridas na sociedade como forma de contê-los ou reconfigurá-los, PEREIRA (2012). Em meio a tantas mudanças no tecido social, em relação à Inspeção Escolar é possível distinguir, de um modo geral, três períodos de “evolução”, conforme o dicionário de Pedagogia LABOR (MENESES, 1977 apud PEREIRA 2012) aponta: período confessional, período de transição e período técnico-pedagógico. 30 Teve como principal o período confessional a característica da influência religiosa, no período anterior ao século XII, escola paroquial era a única existente em que o bispo da diocese era o responsável pela Inspeção. Com o grande aumento do número de escolas, o objetivo da função de inspecionar a educação foi designada aos “cantores de cabido”. Posteriormente a função foi oficializada e agora ao “escolástico” ou “mestre-escola”, eles receberam a tarefa de "redigir currículos, nomear e demitir professores e conceder o direito de ensinar em nome do bispo" (MENESES 1977, p. 7 apud PEREIRA 2012). Com as mudanças ocorridas desde o século XIII, devido a enfraquecimento da baixa influência religiosa e ao desenvolvimento da indústria e do comércio, temos o que se denomina período de transição. Com o desdobramento das administrações municipais, as escolas dos tempos seculares começaram a surgir e a responsabilidade pela inspeção foi aos poucos transferida da diocese para o poder civil. Nesse período de transição (por volta do século XVI) surgiu o profissional “inspetor escolar público” (MENESES, 1977 apud PEREIRA 2012). Depois da revolução francesa, temos o período em que é atribuída ao Estado a responsabilidade pela inspeção, na qual se chama período técnico-pedagógico. A índole do caráter fiscalizador, determina a atuação da atividade do inspetor, devido a à ideia de uma organização escolar, estabelecida por inúmeros pensadores como Pestalozzi, baseada num sistema de controle. De acordo com Meneses (1977 apud PEREIRA 2012) o modelo francês dessa perspectiva da inspeção escolar, que assusta ou apavora os professores, serviu como modelo para vários sistemas educacionais. A Inspeção Escolar na maioria dos países passa, então, a ser personificada pela figura do Inspetor, um funcionário público, desenvolvendo uma fiscalização pautada na técnica e na burocracia. No caso do Brasil, pode-se considerar a partir da contribuição de vários pesquisadores (MENESES, 1977; LIMA, 1978; NOGUEIRA, 1989; ALARCÃO, 2002; SAVIANI, 2006; FERREIRA, 2006; BARBOSA, 2008 apud PEREIRA 2012), que a inspeção escolar já estava presente nas práticas educativas mais remotas, embora ainda que não regulamentada como profissão. O modelo de sistema feudal que foi implantado durante a colonização trazia consigo a ideia de controle, delineando o processo educacional que se iniciava no Brasil no período do século XVI. 31 Como caracteriza Meneses (1977 apud PEREIRA 2012) coloca em seu trabalho que a palavra inspeção vem do latim “inspectio”, “onis”, e significa “ação de exame, verificação”, olhar. Dessa forma, o autor cita a inspeção no sentido de ação: “inspeção é acercar-se de alguma coisa ou alguém para compreender, cuidar, guardar, superintender, examinar, supervisar, vigiar, olhar, controlar, revistar, ver, verificar, observar, fiscalizar, vistoriar” (MENESES, 1977, p. 23; grifo do autor apud PEREIRA 2012). Essa visão foi fortemente influenciada pelas teorias relacionada a administração, segundo as quais uma função, que na verdade é de fiscalizar, é exercida pela própria administração por meio de uma inspeção interna. Assim dizendo, a supervisão sob vigilância dos trabalhadores pelas autoridades das instituições empresariais; e por parte de um organismo estranho – quase sempre o Estado, para verificar se as leis estão sendo cumpridas, PEREIRA (2012). Nesse contexto, a inspeção no campo educacional não seria diferente do significado em que é realizada nas empresas, a expressão “inspeção escolar” não estaria vinculada apenas à fiscalização de vigilância e ao controle, mas também à orientação da ação, conforme aponta o “Dicionário de Pedagogia LABOR”, de 1936 (MENESES, 1977 apud PEREIRA 2012). Contudo, sobre o entendimento de Meneses a Inspeção Escolar tem por objetivo orientar, examinar e observar os elementos que fazem parte dos sistemas de ensino para o seu desenvolvimento. Agora vamos mencionar uma definição do Petit Dictionnarie Portatif de Pédagogie Pratique, que embora desde 1962, esteja muito presente nas práticas que vem sendo realizada e desenvolvida pelo inspetor da escola, PEREIRA (2012): Condenado por esse nome lacônico e pouco amável, o inspetor departamental do ensino é o funcionário mais difícil de ser classificado. É professor quando se ocupa da Escola Normal, preocupando-se com a formação dos futuros mestres; é administrador assoberbado pelo excesso de leis, num dilema constante entre conhecê-las todas e por elas não se deixar dominar; é o examinador que outorga os certificados de estudos; é o conselheiro pedagógico, que gostaria de dar a sua orientação aos professores a respeito das melhores técnicas de ensino e que dariam bons resultados mesmo nas piores classes; é o conferencista que procura persuadir os professores de que eles são intelectuais em perigo pelo contato permanente com crianças e em isolamento cultural; é o animador das atividades perie pós-escolares, bibliotecário. (MENESES, 1977, p.25 apud PEREIRA 2012). 32 A pontualidade desta definição é evidente nas diferentes responsabilidades atribuídas ao inspetor escolar, visto e que o profissional de educação se comprometeu a garantir direitos e obrigações. Na medida do possível, trata da questão pedagógica, pois também é responsável pela "qualidade" do ensino em educação. Uma leitura minuciosa sobre as legislações aprovadas do sistema escolar brasileiro em relação à inspeção escolar nos permite coletar uma relação direta com o contexto de políticas educacionais que desenvolvem cuidado, particularmente para os requisitos internacionais, PEREIRA (2012). 2.1 Inspeção Versus Supervisão Como caracteriza Pereira & Santos (1981 apud PEREIRA 2012) a visão de supervisão sobreveio durante fase da industrialização como uma estratégia para melhorar a produção e foi posteriormente introduzida no contexto educacional americano, com o propósito de melhorar o desempenho das escolas. Meneses (1977 apud PEREIRA 2012) indica que o termo "Inspeção Escolar" não aparece na bibliografia americana "(p. 36; grifo do autor), mas conforme o termo" supervisão " o mesmo abrange questões relacionadas à inspeção de unidades escolares, ou seja, atividades típicas de inspeção. A supervisão surgiu a partir das atividades da Inspetoria e, no cenário educacional nos Estados Unidos, passou por quatro fases: tarefa de orientação, aconselhamento, liderança democrática e a tarefa de supervisão (vigilância), melhoria de sistemas e trabalho de análise (LEMUS apud PEREIRA, SANTOS, 1981 apud PEREIRA 2012). A ideia de supervisão no Brasil começou a se difundir no âmbito educacional na década de 30. Saviani (2002 apud PEREIRA 2012) destaca que com a Reforma de Pernambuco de 1928, iniciou-se uma “reformulação do aparato organizacional”, no sentido de separar os setores técnico-educacional pedagógico dos administrativos. Portanto, requer que a criação de organizações específicas para lidar com a parte técnicas (educacional) e também órgão específicos para tratar com a parte administrativa. Dessa forma para este autor, essa classificação possibilitou o surgimento do Supervisor, responsável pela parte pedagógica, enquanto que ao Diretor cabia a parte administrativa. 33 PEREIRA (2012) olhando para essa perspectiva, através do Decreto-Lei nº 19.890/31 a Reforma Campos, pretendia uma inspeção: [...] de forma bem diferente da que vinha ocorrendo até então, uma vez que se tornara formal, mera fiscalização, surgindo a necessidade de uma ação supervisora que, sem deixar de zelar pelos aspectos legais, estivesse voltada para a dinamização do sistema de ensino, na busca de sua melhoria e de maior produtividade no campo pedagógico (PEREIRA, SOUZA, 1981, p. 13 apud PEREIRA 2012). Nesse contexto, seria uma reconfiguração o papel do Inspetor sobre o papel do supervisor, privilegiando o aspecto pedagógico, pois [...] é quando se quer emprestar à figura do inspetor um papel predominantemente de orientação pedagógica e de estímulo à competência técnica, em lugar da fiscalização para detectar falhas e aplicar punições, que esse profissional passa a ser chamado de supervisor (SAVIANI, 2002, p. 26 apud PEREIRA 2012). De acordo com Saviani (2002 apud PEREIRA 2012) a aprovação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 4024/61, refletiu as mudanças ocorridas após a Reforma Francisco Campos (1931) e a Reforma Capanema (1942) em termos de estruturação e reestruturação do sistema educacional brasileiro. Coube às Faculdades de a partir do Decreto nº 19.851/31 Letras, Filosofia e Ciências, formar os professores do ensino secundário. Como resultado, foi criado o curso de pedagogia, cujo objetivo era formar professores das disciplinas do curso normal e “técnicos da educação pedagógicos”, a saber: A categoria ‘técnicos da educação tinha, aí, um sentido genérico. Em verdade, os cursos de Pedagogia formavam pedagogos, e estes eram os técnicos ou especialistas em educação. O significado de ‘técnico da educação’ coincidia, então, com o ‘pedagogo generalista’ (SAVIANI, 2002, p. 28 e 29 apud PEREIRA 2012). Durante o período da ditadura militar, novas reformas educacionais foram realizadas para atender à situação existente. Seguindo as ideias da teoria de gestão administrativa taylorista, em que “o controle é realizado de forma a diminuir tempos e movimentos, a fim de diminuir custos e aumentar a velocidade de trabalho e consequentemente a produtividade” (BARBOSA, 2008, p. 15 apud PEREIRA 2012), em relação as reformas educacionais que ocorrem durante este período foram fortemente focadas no técnico tecnicismo, fortalecendo a burocratização do ensino da educação. 34 Para Aranha (1996 apud PEREIRA 2012) a tendência tecnicista, planejada sob a influência estadunidense, consiste em: [...] planejamento e organização racional da atividade pedagógica; operacionalização dos objetivos; parcelamento do trabalho, com a especialização das funções; incentivo à utilização de várias técnicas e instrumentos, como instrução programada, ensino por computador, máquinas de ensinar, telensino, procurando tornar a aprendizagem ‘mais objetiva’. Como todo processo em que predominam práticas administrativas, a tendência tecnicista privilegia as funções de planejar, organizar, dirigir e controlar, intensificando a burocratização que leva à divisão do trabalho (ARANHA, 1996, p. 183; grifo do autor apud PEREIRA 2012). Pensando neste contexto foi que surgiu parecer nº 252 de 1969 e o mesmo foi aprovado, reestruturando o curso de Pedagogia, em atendimento e em acordo com o que determina a Lei nº 5.540/68. Com a reforma, o curso foi estruturado em habilitações, portanto, em vez de treinar o técnico de educação, ele passou - se a formar como especialista educacional. O currículo do curso de Pedagogia previa quatro aquisições que são habilidades importantes para o currículo de pedagogia: inspeção, orientação, supervisão e administração, PEREIRA (2012). Surgiram algumas divergências de opinião em relação à inclusão da Inspeção Escolar nas habilitações, durante a discussão do Parecer nº252/69. O Conselheiro Durmeval Trigueiro defendia a extinção da Inspeção Escolar no currículo de Pedagogia dentre os contrários à inclusão e fez um voto em separado para propor a questão. Ao dizer sobre esse voto o Conselheiro e Relator Valnir Chagas, declarou que a inspeção deveria ser excluída pela sua inutilidade, por ter as características de um "guarda ao pé da escola", devendo, portanto, "reaparecer ora como corretivo, ora como assistência técnica, ora associada à supervisão, ora transferida à competência dos vários sistemas de ensino” (apud MENESES, 1977, p. 53 apud PEREIRA 2012). O inspetor é, e tende a ser cada vez mais, um profissional que atua em âmbito macro educacional, orientando e coordenando escolas dentro do sistema, enquanto o supervisor está situado no plano da microeducação, orientando e coordenando a atividade de professores dentro da escola. A fusão proposta redundaria, fatalmente na absorção do segundo pelo primeiro, o que seria tanto mais de lastimar quanto, no progresso da supervisão repousam fundadas esperanças de uma renovação qualitativa da educação brasileira de graus primário e médio (apud MENESES, 1977, p. 53, p. 53 apud PEREIRA 2012). 35 Para Meneses (1977 apud PEREIRA 2012) o entendimento que prevaleceu para a manutenção da qualificação da habilitação levou à ideia de que, ao proporcionar ao inspetor sobre a formação básica como educador e formação específica, seria possível eliminar o estilo burocrático que o Inspetor vinha desempenhando. O autor destaca ainda que no currículo relacionado à habilitação, foram definidas três disciplinas específicas: Princípios e Métodos de Inspeção Escolar, Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º graus. E
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