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Distúrbios da Junção Neuromuscular

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1 Laís Flauzino | ANATOMIA PATOLÓGICA | 7°P MEDICINA 
Distúrbios Da Junção Neuromuscular 
 
A junção neuromuscular está localizada na interface 
dos axônios do nervo motor e músculo esquelético. 
• Serve para controlar a contração muscular. 
Após a despolarização, os terminais nervoso pré-
sinápticos liberam acetilcolina (ACh) na fenda 
sináptica. 
Sarcolema = membrana da miofribrila. 
O sarcolema pós-sináptico é caracterizado por 
enovelamentos complexos e exibe especializações 
distintas com agrupamento localizados dos 
receptores de ACh. Esses receptores são 
responsáveis pela iniciação de sinais que levam à 
contração muscular. 
Independentemente da causa, os pacientes com 
distúrbios que prejudicam a função das junções 
neuromusculares se queixam de fraqueza e fadiga 
indolores. 
• Autoanticorpos que reconhecem proteínas-
chave da junção neuromuscular são a causa mais 
comum de interrupção da transmissão 
neuromuscular, como a encontrada na miastenia 
gravis (literalmente, “fraqueza grave”). 
• Defeitos hereditários em proteínas 
especializadas da junção neuromuscular também 
estão associados a síndromes miastênicas. 
• Distúrbios causados por toxinas que alteram a 
transmissão neuromuscular raramente são 
encontrados. 
 
DOENÇAS MEDIADAS POR ANTICORPOS 
DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR: 
MIASTENIA GRAVIS: 
• Doença autoimune que geralmente está 
associada a autoanticorpos direcionados contra 
receptores de ACh. 
• Apresenta distribuição de idade bimodal. 
• Em adultos jovens, a proporção de mulheres para 
homens é de 2:1, mas em adultos mais velhos há 
uma predominância masculina. 
 
Patogênese: 
Aproximadamente 85% dos pacientes têm 
autoanticorpos contra receptores de ACh pós-
sinápticos, enquanto a maioria dos pacientes 
restantes tem anticorpos contra a tirosinoquinase 
receptora específica da proteína muscular do 
sarcolema. 
• Esses autoanticorpos parecem ser patogênicos – 
manobras terapêuticas que diminuem os níveis 
de autoanticorpos estão associadas a uma 
redução dos sintomas. 
• O mecanismo de ação dos vários autoanticorpos 
parece ser diferente. 
Acredita-se que os anticorpos antirreceptor de ACh 
levem à agregação e degradação dos receptores, 
bem como danifiquem a membrana pós-sináptica 
por meio da fixação do complemento. Como 
resultado, as membranas pós-sinápticas mostram 
alterações na morfologia e são depletadas de 
receptores de ACh. Isso limita a capacidade das 
miofibrilas de responder à ACh. 
Autoanticorpos dirigidos contra a tirosinoquinase 
receptora específica do músculo não fixam o 
complemento. Ao contrário, esses anticorpos 
parecem interferir no tráfico e agrupamento dos 
receptores de ACh dentro da membrana sarcolemal, 
sendo o efeito líquido novamente a diminuição da 
função do receptor de ACh. 
 
Associação entre autoanticorpos patogênicos 
antirreceptor de ACh e anormalidades tímicas: 
• Aproximadamente 10% dos pacientes com 
miastenia gravis tem um timoma, uma neoplasia 
das células epiteliais tímicas. 
• Outros 30% dos pacientes (e sobretudo pacientes 
jovens) têm uma anormalidade tímica diferente, 
chamada hiperplasia tímica. Essa condição 
peculiar é marcada pelo aparecimento de 
folículos de células B no timo, que normalmente 
contém um pequeno número de células mioides, 
células estromais que expressam antígenos do 
músculo esquelético. 
É uma hipótese que tanto o timoma quanto a 
hiperplasia tímica interrompem a função tímica 
normal de uma maneira que promove autoimunidade 
contra os receptores de ACh expressos nas células 
mioides tímicas. 
Em contraste, as anormalidades tímicas geralmente 
estão ausentes nos casos de miastenia gravis que 
ocorrem em pacientes mais velhos; a base para o 
desenvolvimento de autoanticorpos nesses casos é 
desconhecida. 
 
Características clínicas: 
• Pacientes com anticorpos antirreceptor de ACh 
tipicamente se apresentam com fraqueza 
flutuante que piora com o esforço e muitas 
vezes ao longo do dia. 
• Diplopia e ptose devido ao envolvimento dos 
músculos extraoculares são comuns e distinguem 
a miastenia gravis de miopatias, nas quais o 
envolvimento dos músculos extraoculares é 
incomum. 
• Em alguns pacientes, os sintomas estão 
confinados aos músculos oculares, enquanto 
outros desenvolvem fraqueza generalizada que 
pode ser tão grave a ponto de exigir ventilação 
mecânica. 
• Os casos que cursam com anticorpos contra a 
tirosinoquinase receptora específica do músculo 
diferem dos casos típicos por exibirem 
envolvimento mais focal dos músculos 
(músculos do pescoço, ombro, facial, respiratório 
e bulbar). 
 
Diagnóstico: 
 
2 Laís Flauzino | ANATOMIA PATOLÓGICA | 7°P MEDICINA 
• É baseado no histórico clínico, achados físicos, 
identificação de autoanticorpos e estudos 
eletrofisiológicos. 
• Os estudos eletrofisiológicos revelam um 
decréscimo na resposta muscular com 
estimulação repetida, uma característica desse 
transtorno. 
 
Tratamento: 
• A mortalidade geral caiu de mais 30% na década 
de 1950 para menos de 5% com as terapias atuais. 
• Inibidores da acetilcolinesterase que 
aumentam a meia-vida da ACh é a primeira linha 
de tratamento. 
• Outros tratamentos, como plasmaférese e 
medicamentos imunossupressores (p. ex., 
glicocorticoides, ciclosporina, rituximabe), 
podem manter os sintomas sob controle, 
diminuindo a produção de autoanticorpos. 
• A timectomia costuma ser eficaz em pacientes 
com timoma, mas é de benefício incerto em 
pessoas com hiperplasia tímica ou sem 
anormalidades tímicas. 
 
SÍNDROME MIASTÊNICA DE LAMBERT-
EATON: 
Distúrbio autoimune causado por anticorpos que 
bloqueiam a liberação de ACh por meio da inibição 
de um canal de cálcio pré-sináptico. 
 
• Em contraste com a miastenia gravis, uma 
estimulação repetitiva rápida aumenta a 
resposta muscular. 
• A força muscular aumenta após alguns segundos 
de atividade muscular. 
• Os pacientes geralmente apresentam fraqueza 
de suas extremidades. 
• Em cerca de metade dos casos, há é uma 
malignidade subjacente, na maioria das vezes 
carcinoma neuroendócrino do pulmão. 
• Os sintomas podem preceder o diagnóstico de 
câncer, às vezes em anos. 
• Acredita-se que o estímulo para a formação de 
autoanticorpos em casos paraneoplásicos pode 
ser a expressão do mesmo canal de cálcio nas 
células neoplásicas. 
• Pacientes sem câncer muitas vezes têm outras 
doenças autoimunes, como vitiligo ou doenças da 
tireoide. 
• O tratamento consiste em medicamentos que 
aumentam a liberação de ACh por 
despolarização das membranas sinápticas e 
agentes imunossupressores, como como 
aqueles usados para tratar a miastenia gravis. 
 
SÍNDROMES MIASTÊNICAS 
CONGÊNITAS: 
Esses distúrbios raros, que mais comumente têm um 
modo de herança autossômico recessivo, são 
marcados por vários graus de fraqueza muscular. 
Mutações causativas foram identificadas em genes 
que codificam várias proteínas pré-sinápticas, 
sinápticas ou pós-sinápticas diferentes. As mais 
comuns destas são as mutações com perda de função 
no gene que codifica a subunidade ε do receptor de 
ACh. Outro grupo de mutações afeta proteínas que 
são importantes no agrupamento normal dos 
receptores de ACh em membranas pós-sinápticas. 
Muitos pacientes com síndromes miastênicas 
congênitas se apresentam no período perinatal com 
tônus muscular pobre, fraqueza muscular externa 
do olho e dificuldades respiratórias, mas outros 
apresentam formas mais leves da doença e podem 
não receber atenção clínica até a adolescência ou 
idade adulta. 
A apresentação clínica, resposta a medicamentos 
como inibidores da acetilcolinesterase e o 
prognóstico dependem em grande parte da mutação 
subjacente. 
 
ELA – ESCLEROSE LATERAL 
AMIOTRÓFICA 
SNC – Doença neurodegenerativa 
A esclerose lateral amiotrófica (ELA) é um distúrbio 
progressivo em que há perda de neurônios motores 
superiores no córtex cerebral e de neurônios 
motores inferiores na medula espinal e tronco 
encefálico. 
A perda destes neurônios resulta em desnervação 
dosmúsculos, produzindo fraqueza que se torna 
profunda à medida que a doença progride. 
A doença tem uma incidência geral de cerca de 2 
casos a cada 100 mil pessoas, afeta os homens um 
pouco mais frequentemente do que as mulheres e 
comumente surge na quinta década de vida ou mais 
tarde. 
A ELA esporádica é mais comum do que a ELA 
familiar, que pode representar até 20% dos casos. 
 
Patogênese: 
Tanto a ELA esporádica quanto a familiar estão 
associadas a degeneração dos neurônios motores 
superiores e inferiores, muitas vezes acompanhada 
do acúmulo de proteínas tóxicas. 
Cerca de duas dezenas de loci gênicos foram 
identificados como causadores de ELA e 
praticamente todos representam distúrbios 
autossômicos dominantes. 
Uma das primeiras formas hereditárias de ELA 
descobertas tem mutações no gene que codifica a 
cobre-zinco superóxido dismutase (SOD1) no 
cromossomo 21; esta variante é responsável por cerca 
de 20% dos casos familiares. Inicialmente, a 
identificação de mutações em SOD1 sugeriu que a 
lesão neuronal da ELA pode refletir um 
comprometimento da capacidade de eliminar 
radicais livres, mas agora se acredita que as mutações 
levam a um fenótipo de ganho de função adverso 
associado a proteína SOD1 mutante. Parece que a 
proteína SOD1 mutada se dobra incorretamente e 
forma agregados (que incluem proteínas de tipo 
 
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selvagem), os quais causam lesão celular por meio de 
uma variedade de mecanismos postulados, como 
desregulação do catabolismo proteassomal e 
autofágico, bloqueio do transporte axonal e da 
função mitocondrial e sequestro de outras proteínas 
dentro dos agregados. O acúmulo de agregados de 
proteínas pode, eventualmente, desencadear a 
resposta à proteína mal enovelada, com iniciação 
subsequente de apoptose. A importância geral das 
vias de degradação de proteínas é reforçada pela 
descoberta de uma gama de mutações incomuns em 
genes implicados na degradação de proteínas que 
também estão associados a ELA familiar. 
 
Morfologia: 
As raízes anteriores da medula espinal são finas 
devido à perda de axônios do neurônio motor inferior 
e o giro motor pré-central do córtex pode ser atrófico 
em casos especialmente graves. 
Há uma redução no número de neurônios do corno 
anterior ao longo de todo o comprimento da medula 
espinal, associada a gliose reacional. 
Achados semelhantes são observados nos núcleos 
dos nervos cranianos hipoglosso, ambíguo e motor 
do trigêmeo. 
Os neurônios restantes frequentemente contêm 
inclusões citoplasmáticas PAS-positivas chamadas 
corpúsculos de Bunina (que parecem ser 
remanescentes de vacúolos autofágicos) e inclusões 
citoplasmáticas TDP-43-positivas (que são vistas em 
casos esporádicos e casos familiares causados por 
mutações nos genes C9orf72 e da TDP-43 [TARDBP], 
mas estão ausentes em casos SOD1-mutante e FUS-
mutante). 
Os músculos esqueléticos inervados pelos neurônios 
motores inferiores degenerados mostram atrofia 
neurogênica. 
A perda dos neurônios motores superiores leva à 
degeneração dos tratos corticospinais, resultando 
em perda de volume e ausência de fibras 
mielinizadas, o que pode ser particularmente 
evidente nos níveis segmentares inferiores. 
 
 
 
Características clínicas: 
Sintomas precoces: 
• Fraqueza assimétrica das mãos – manifestam 
como queda de objetos e dificuldade de realizar 
tarefas motoras finas 
• Cólicas 
• Espasticidades dos braços e pernas. 
Conforme a doença progride, a força e o volume 
musculares diminuem e ocorrem contrações 
involuntárias de unidades motoras individuais, 
denominadas fasciculações. 
A doença eventualmente envolve os músculos 
respiratórios, levando a episódios recorrentes de 
pneumonia. 
 
Embora os indivíduos mais afetados tenham uma 
combinação de envolvimento de neurônios motores 
superiores e inferiores, outros padrões são 
observados. 
• O termo atrofia muscular progressiva se aplica 
aos casos incomuns cujo envolvimento de 
neurônios motores inferiores predomina, 
• Enquanto esclerose lateral primária refere-se 
aos casos com envolvimento principal de 
neurônios motores superiores. 
Em alguns indivíduos afetados, a degeneração dos 
núcleos motores cranianos do tronco encefálico 
inferior ocorre cedo e progride rapidamente, um 
padrão conhecido como paralisia bulbar 
progressiva ou ELA bulbar. Nesses indivíduos, 
anormalidades de deglutição e fala predominam, e 
o curso clínico é inexorável durante um período de 1 
ou 2 anos. Quando o envolvimento bulbar é menos 
grave, cerca de metade dos indivíduos afetados 
sobrevivem 2 anos após o diagnóstico. 
Os neurônios motores que inervam os músculos 
extraoculares estão entre os últimos a serem 
afetados pela ELA; porém, em casos de sobrevivência 
por tempo prolongado, geralmente associados ao 
uso de suporte ventilatório, mesmo esse tipo de 
neurônio motor falha. 
Casos familiares desenvolvem sintomas mais 
precocemente do que a maioria dos casos 
esporádicos, embora o curso clínico seja comparável. 
 
Embora a ELA seja considerada uma doença do 
sistema motor, uma fração significativa dos indivíduos 
afetados tem evidências de doença cortical cerebral 
mais disseminada. 
 
4 Laís Flauzino | ANATOMIA PATOLÓGICA | 7°P MEDICINA 
A apresentação clínica da doença cerebral é 
geralmente demência frontotemporal, com achados 
patológicos que com grande frequência 
correspondem àqueles encontrados na DLFT 
associada a inclusões de TDP-43. A ligação 
mecanística entre esses dois processos é mais 
fortalecida pela presença de inclusões contendo TDP-
43 em muitos casos de ELA, bem como sobreposição 
de alterações genéticas em ELA e DLFT. 
 
DISTÚRBIOS CAUSADOS POR TOXINAS: 
O botulismo é causado pela exposição a uma 
neurotoxina (toxina botulínica, popularmente 
conhecida como Botox) produzida pelo organismo 
anaeróbio gram-positivo Clostridium botulinum. 
O Botox atua bloqueando a liberação de ACh dos 
neurônios pré-sinápticos. 
Curare é o nome comum para os relaxantes 
musculares derivados de plantas que bloqueiam os 
receptores de ACh, resultando em paralisia flácida. 
Foi inicialmente descoberto e usado como veneno 
nas pontas das flechas por populações nativas da 
floresta tropical amazônica. Ao mesmo tempo, foi 
usado como relaxante muscular durante certos tipos 
de cirurgia, mas agora foi suplantado por outros 
fármacos relacionados com um mecanismo de ação 
semelhante. 
 
BOTULISMO: 
Infecção por bactéria anaeróbica – clostrídios: 
C. botulinum, a causa do botulismo, cresce em 
alimentos inadequadamente cozidos e libera uma 
potente neurotoxina, que bloqueia a liberação 
sináptica de acetilcolina e provoca paralisia flácida 
dos músculos respiratórios e esqueléticos. 
 
SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ 
• Neuropatia periférica específica – inflamatória 
• Polineuropatia desmielinizante inflamatória 
aguda 
A síndrome de Guillain-Barré é uma neuropatia 
periférica desmielinizante imunologicamente 
mediada que pode levar a uma paralisia respiratória 
com risco de vida. 
A incidência anual geral é de aproximadamente 1 
caso a cada 100 mil pessoas. A doença é caracterizada 
clinicamente por fraqueza começando nos membros 
distais, que avança rapidamente para afetar a função 
muscular proximal (“paralisia ascendente”). As 
características histológicas são inflamação e 
desmielinização das raízes nervosas espinais e nervos 
periféricos (radiculoneuropatia). 
 
Patogênese: 
Na maioria dos casos, a síndrome de Guillain-Barré é 
considerada uma neuropatia desmielinizante 
imunomediada de início agudo. Aproximadamente 
dois terços dos casos são precedidos por um quadro 
agudo de doença semelhante à influenza da qual o 
indivíduo afetado se recuperou no momento em que 
a neuropatia se torna sintomática. Infecções por 
Campylobacter jejuni, citomegalovírus, vírus Epstein-
Barr e Mycoplasma pneumoniae, bem como 
vacinação prévia têm associações epidemiológicas 
significativas com a síndrome de Guillain-Barré. 
Nenhum agente infeccioso foidemonstrado nos 
nervos afetados e uma reação imunológica é 
considerada como sendo a causa subjacente. Uma 
doença inflamatória semelhante pode ser 
reproduzida em animais experimentais pela 
imunização com uma proteína da mielina do nervo 
periférico. Uma resposta imune mediada por células T 
se segue, acompanhada pela desmielinização 
segmentar induzida pelas ações de macrófagos 
ativados. A transferência destas células T para um 
animal naive resulta em lesões comparáveis. Além 
disso, os linfócitos de indivíduos com síndrome de 
Guillain-Barré produzem desmielinização em culturas 
teciduais de fibras nervosas mielinizadas. Anticorpos 
circulantes que reagem de forma cruzada com 
componentes dos nervos periféricos também podem 
desempenhar um papel. 
 
Morfologia: 
• O achado dominante nas seções coradas com 
hematoxilina e eosina é a inflamação dos nervos 
periféricos, manifestada como infiltração 
perivenular e endoneural por linfócitos, 
macrófagos, e alguns plasmócitos. 
• A desmielinização segmentar que afeta nervos 
periféricos é a lesão mais proeminente, mas 
danos aos axônios também são vistos, sobretudo 
quando a doença é grave. 
• A microscopia eletrônica identificou um efeito 
precoce nas bainhas de mielina. 
• Os processos citoplasmáticos dos macrófagos 
penetram na membrana basal das células de 
Schwann, particularmente na vizinhança dos 
nódulos de Ranvier, e se estendem entre as 
lamelas de mielina, removendo a bainha de 
mielina do axônio. 
• Em última análise, os remanescentes da bainha de 
mielina são englobados pelos macrófagos. 
• A inflamação e a desmielinização do sistema 
nervoso periférico podem ser generalizadas, mas 
são geralmente mais proeminentes na região 
proximal, perto das raízes nervosas. 
 
Características clínicas: 
O quadro clínico é dominado por paralisia 
ascendente e arreflexia. 
• Os reflexos profundos do tendão desaparecem 
no início do processo. 
• Envolvimento sensitivo, incluindo perda da 
sensação de dor, com frequência se apresenta, 
mas não costuma ser uma característica 
proeminente. 
• As velocidades de condução nervosa são 
reduzidas em decorrência de destruição 
multifocal dos segmentos de mielina em muitos 
axônios dentro de um nervo. 
 
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• Os níveis proteicos do líquido 
cefalorraquidiano (LCR) estão elevados devido 
à inflamação e à alteração da permeabilidade da 
microcirculação dentro das raízes espinais à 
medida que atravessam o espaço subaracnóideo. 
• Por outro lado, as células inflamatórias 
permanecem confinadas às raízes; portanto, há 
pouca ou nenhuma pleocitose do LCR. 
• Muitos pacientes passam semanas na unidade de 
terapia intensiva (UTI) antes de recuperar as 
funções normais. 
• Com melhorias nos cuidados respiratórios de 
suporte, monitoramento cardiovascular e 
profilaxia contra trombose venosa profunda, a 
taxa de mortalidade tem caído. 
• Plasmaférese e terapia com imunoglobulina 
intravenosa aceleram a recuperação, 
aparentemente porque removem anticorpos 
patogênicos e suprimem a função imune, 
respectivamente. 
• No entanto, de 2 a 5% dos pacientes afetados vão 
a óbito em decorrência de paralisia respiratória, 
instabilidade autonômica, parada cardíaca ou 
complicações relacionadas, e até 20% dos 
sobreviventes hospitalizados sofrem de 
incapacidades a longo prazo. 
 
DISTROFIA DE BECKER: 
Doença hereditária do músculo esquelético – distrofia 
muscular. 
As distrofias musculares mais comuns são ligadas ao 
X e derivam de mutações que interrompem a função 
de uma grande proteína estrutural chamada 
distrofina. Como resultado, estas doenças às vezes 
são chamadas de distrofinopatias. 
A forma de início precoce mais comum é referida 
como distrofia muscular de Duchenne, que tem uma 
incidência de 1 a cada 3.500 nascidos vivos do sexo 
masculino e um fenótipo progressivo grave. 
A distrofia muscular de Becker é uma segunda 
distrofinopatia relativamente comum caracterizada 
pelo início tardio da doença e um fenótipo mais leve. 
 
Patogênese: 
A distrofia muscular de Duchenne e a de Becker são 
causadas por mutações de perda de função no gene 
da distrofina presente no cromossomo X. O gene 
distrofina é um dos maiores genes humanos, 
abrangendo 2,3 milhões de pares de bases e 
composto por 79 éxons. A proteína codificada, 
distrofina, é um componente-chave do complexo 
distrofina-glicoproteína. Esse complexo atravessa a 
membrana plasmática e serve como um elo entre o 
citoesqueleto dentro da miofibrila e a membrana 
basal fora da célula. Ao fazer isso, acredita-se que 
distrofina forneça estabilidade mecânica à miofibrila e 
sua membrana celular durante a contração muscular. 
Defeitos no complexo podem levar a pequenas 
rupturas na membrana que permitem influxo de 
cálcio, desencadeando eventos que resultam em 
degeneração da miofibrila. Além de sua função 
mecânica, a distrofina pode ter um papel nas vias de 
sinalização; por exemplo, sua porção carboxiterminal 
interage com a óxido nítrico sintase, que gera óxido 
nítrico (NO). 
A identificação e caracterização de mutações 
específicas do gene distrofina fornecem uma 
explicação para algumas das variações fenotípicas em 
pacientes com distrofinopatias. A distrofia muscular 
de Duchenne está tipicamente associada a deleções 
ou mutações com mudança de quadros de leitura 
(frameshift) que resultam em ausência total de 
distrofina. Em contraste, as mutações presentes na 
distrofia muscular de Becker normalmente permitem 
a síntese de uma versão truncada da distrofina, que 
presumivelmente retém função parcial. 
 
Morfologia: 
As mudanças morfológicas básicas que as distrofias 
musculares provocam no tecido muscular esquelético 
podem diferir em gravidade, mas não discriminam 
entre as diferentes formas de distrofia. As alterações 
da distrofia muscular de Duchenne servem como 
exemplo. Essa doença é marcada por dano muscular 
crônico que ultrapassa a capacidade para reparo 
(Figura 27.11). Biopsias musculares em meninos 
jovens mostram danos em andamento na forma de 
degeneração e regeneração segmentar das 
miofibrilas associadas a uma mistura de miofibrilas 
atróficas. A arquitetura fascicular está preservada 
neste estágio da doença, e geralmente não há 
inflamação, exceto pela presença de miofagocitose. 
Conforme a doença progride, o tecido muscular é 
substituído por colágeno e adipócitos (“substituição 
gordurosa” ou “infiltração gordurosa”). As miofibrilas 
restantes neste ponto do curso da doença mostram 
variação proeminente no tamanho, desde pequenas 
fibras atróficas a grandes fibras hipertrofiadas. Esse 
remodelamento distorce a arquitetura fascicular do 
músculo, que se torna marcadamente anormal ao 
longo do tempo. Estudos imuno-histoquímicos para 
distrofina mostram ausência do padrão de coloração 
normal do sarcolema na distrofia muscular de 
Duchenne e coloração reduzida na distrofia muscular 
de Becker. 
 
Características clínicas: 
• Tipicamente se apresenta no final da infância, 
adolescência ou vida adulta; 
• Tem progressão mais lenta; 
• Pode ter uma expectativa de vida quase normal. 
 
Tratamento: 
O trabalho nesta área é encorajado pelo 
reconhecimento de que a expressão de alguma 
proteína distrofina (como em pacientes com distrofia 
muscular de Becker) é suficiente para melhorar 
substancialmente o fenótipo da doença. 
 
DISTROFIA MIOTÔNICA: 
A distrofia miotônica é um distúrbio autossômico 
dominante multissistêmico associado a fraqueza do 
 
6 Laís Flauzino | ANATOMIA PATOLÓGICA | 7°P MEDICINA 
músculo esquelético, catarata, endocrinopatia e 
cardiomiopatia. 
Esse distúrbio afeta cerca de 1 a cada 10 mil 
indivíduos. 
A miotonia, uma contração involuntária sustentada 
dos músculos, é uma característica fundamental da 
doença. Raramente, os pacientes se apresentam com 
“miotonia congênita”, marcada por graves 
manifestações na infância. 
 
Patogênese: 
A doença é causada por expansões de trinucleotídios 
CTG, repetidos na região 3’ nãocodificadora do gene 
da proteinoquinase miotônica distrófica (DMPK). 
Entretanto, não se sabe precisamente como essa 
aberração genética produz o fenótipo da doença. A 
correlação entre o comprimento da expansão e a 
gravidade da doença é variável em comparação a 
alguns outros distúrbios da expansão de repetições 
de trinucleotídios como a doença de Huntington. 
Estudos experimentais sugerem que o fenótipo do 
músculo esquelético decorre de um ganho de função 
“tóxico” causado pela expansão da repetição de 
trinucleotídios. Especificamente, as repetições CUG 
expandidas no transcrito de mRNA de DMPK parecem 
ligar e sequestram proteínas como o regulador de 
processamento alternativo muscleblind-like 1, que 
tem um papel importante no processamento do RNA. 
O resultado da disrupção dos eventos normais de 
processamento provoca erros de processamento de 
outros transcritos de RNA, incluindo o transcrito para 
um canal de cloreto denominado CLC1. Acredita-se 
que a deficiência resultante de CLC1 seja responsável 
pela miotonia característica. Em concordância com 
este cenário, uma forma rara de miotonia congênita é 
causada por mutações da linhagem germinativa com 
perda de função em CLC1, indicando que CLC1 é 
necessário para o relaxamento muscular normal. 
 
Capítulos 8, 27 e 28 
Kumar, V., Abbas, A. K., & Aster, J. C. (2023). Robbins 
& Cotran Patologia: Bases Patológicas das Doenças 
(10th ed.). Grupo GEN. 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/978
8595159167 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788595159167
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788595159167