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Daniela Santos Rocha As taquicardias são alterações do ritmo cardíaco caracterizadas por FC> 100 bpm. Fisiopatologia Os principais mecanismos de taquiarritmia são o automatismo aumentado e os circuitos de reentrada, mas existem também as arritmias por atividade deflagrada. • AUTOMATISMO: um conjunto de células do miocárdio despolariza com limiar menor em relação às demais células. A despolarização ocorre em frequência aumentada, de forma a assumir o controle do ritmo cardíaco. 1. Alterações estruturais do tecido miocárdico, autonômicas, distúrbios hidroeletrolíticos e medicamentos podem facilitar esse mecanismo. 2. Essas arritmias são frequentemente precipitadas por estimulação adrenérgica, tendem a acelerar até a frequência cardíaca máxima e não são precipitadas por contrações prematuras. Possuem variabilidade a cada batimento e tendem a desacelerar gradualmente. • REENTRADA: nesse caso, há duas vias de condução do estímulo elétrico, uma via de condução rápida e uma via de condução lenta. A via rápida possui um período refratário mais prolongado, enquanto a via lenta conta como característica um período refratário curto. Em condições normais, o estímulo elétrico será conduzido pela via rápida, em detrimento da lenta. 1. O mecanismo de reentrada mais comum se inicia com um estímulo precoce, como uma extrassístole. Nesse momento, a via rápida estará em período refratário e o estímulo será conduzido pela via que sobra, a lenta. Durante o período que o estímulo percorre a via lenta, a via rápida não estará mais refratária. A via rápida é estimulada (só que em sentido retrógrado). O circuito se completa quando a via lenta é reestimulada, criando assim um ciclo repetitivo de despolarização celular. 2. Não há variação de frequência entre os batimentos (RR regular) e cessam abruptamente, sem desaceleração. São exemplos de arritmias por reentrada: Flutter atrial, taquicardia por reentrada nodal e taquicardia por reentrada atrioventricular. • ATIVIDADE DEFLAGRADA: ocorre quando o potencial de ação pode deflagrar despolarizações anormais adicionais. Arritmias ventriculares associadas a QT longo, como torsades de pointes e arritmias associadas a digoxina, são causadas por esse mecanismo. Quadro Clinico e Avaliação Inicial Diversos sintomas, não sendo possível, apenas pelo quadro clínico, identificar a arritmia presente. Entre as principais manifestações estão mal-estar inespecífico, • Dor torácica • Dispneia • Palpitações • Alterações do nível de consciência • Hipotensão. Deve-se caracterizar as palpitações: duração, início, percepção e entrada e saída do episódio. ANAMNESE: interrogar ativamente sobre dispneia, síncope, precordialgia ou tontura, assim como episódios de confusão mental. HPP: 1. Histórico de arritmias (quais tipos e tratamentos realizados) 2. Cardiopatias no geral (sobretudo infarto prévio, insuficiência cardíaca) 3. Doenças respiratórias Taquiarritmias Daniela Santos Rocha 4. Endocrinológicas (p. ex., hipertireoidismo, feocromocitoma) 5. Fatores de risco para distúrbios hidroeletrolíticos (doença renal crônica, vômitos, diarreia etc.). 6. Uma investigação detalhada também deve ser realizada em relação aos medicamentos em uso pelo paciente, assim como drogas de abuso. Indivíduos com sinais de gravidade devem ser examinados na sala de emergência, ao mesmo tempo que são monitorizados e recebem o tratamento inicial. EXAME FÍSICO • Regularidade do pulso e comparação com frequência cardíaca • Pulsação visível em fúrcula (frogging) • Medida de pressão arterial em ambos os membros, e/ou em decúbito dorsal e posição ortostática. • Avaliar presença de B3 ou B4, atrito pericárdico ou abafamento de bulhas. • Edema assimétrico de membros inferiores e sinais de hipertireoidismo. SINAIS E SINTOMAS DE INSTABILIDADE podem indicar tratamento imediato com cardioversão ou desfibrilação elétrica. São critérios de instabilidade: • Hipotensão, choque. • Rebaixamento do nível de consciência. • Dor precordial. • Dispneia (insuficiência cardíaca/edema agudo de pulmão). Vale lembrar que essas condições clínicas podem não ser secundárias à taquiarritmia. Exemplo disso é o paciente com choque séptico que também apresenta uma taquicardia supraventricular. Provavelmente, tratar essa taquicardia não vai ajudar o paciente, enquanto que o tratamento da sepse deve resolver ou diminuir a taquicardia. Para fazer a diferenciação, a frequência cardíaca e a idade do paciente podem ajudar. Um parâmetro subjetivo que pode ser usado é a equação de Karvonen. Essa equação prediz a frequência cardíaca máxima do paciente como: 220 – idade. Então compara-se a frequência cardíaca do paciente com esse resultado. Se a frequência cardíaca do paciente ultrapassa a máxima predita pela equação ou está próxima, é possível que a clínica do paciente seja secundária à taquiarritmia em si. Exames Complementares ELETROCARDIOGRAMA: é exame fundamental para o diagnóstico das taquiarritmias, em especial se realizado durante os sintomas. • O eletrocardiograma realizado em período assintomático é menos sensível, mas ainda pode ajudar em algumas condições (p. ex., a onda delta do Wolff-Parkinson-White ou com o padrão de Brugada) ou denunciar alterações estruturais cardíacas (p. ex., sobrecargas e áreas eletricamente inativas). A depender dos diagnósticos diferenciais, outros exames podem ser solicitados, COMO ELETRÓLITOS, FUNÇÃO RENAL, MARCADORES DE NECROSE MIOCÁRDICA, DOSAGEM SÉRICA DE SUBSTÂNCIAS (p. ex., digoxina). QRS estreito • FC>100 • QRS<120ms • Taquicardias supraventriculares RR REGULAR • Buscar pelas ondas P. • DII e V1, porém devemos analisar todas as derivações. Ondas P não identificáveis • Taquicardia juncional. • Taquicardia atrial. Diante de uma taquicardia, fazemos três perguntas: O QRS é estreito ou largo? O ritmo é regular ou irregular? Existe onda P? Se existe, qual a relação com QRS? Daniela Santos Rocha • Taquicardia por reentrada nodal. Podemos usar adenosina (Com o bloqueio temporário do nó AV induzido pela adenosina, poderá haver reversão da arritmia, ou nos casos em que não há reversão da arritmia o bloqueio de condução para o ventrículo permite discernir as ondas P e fazer o diagnóstico da taquiarritmia). Ondas P > complexos QRS 1. Flutter atrial. 2. Taquicardia atrial. Quando temos a relação 1:1 de ondas P e complexos QRS precisamos olhar a distância entre cada onda P e o complexo QRS seguinte e o que precede. Por exemplo, no ritmo sinusal temos uma distância entre a onda P e o complexo QRS seguinte curto (distância PR) e uma distância longa do complexo que precede (distância RP). Por convenção, chamamos de RP longo. Quando a distância entre a onda P e o complexo QRS que precede é curta por convenção, chamamos de RP curto. Seguem as possibilidades diagnósticas de acordo com a duração do período RP. RP longo 1. Taquicardia sinusal. 2. Taquicardia por reentrada nodal atípica. 3. Taquicardia juncional reciprocante (Coumel). 4. Taquicardia atrial. RP curto 1. Taquicardia por reentrada nodal típica. 2. Taquicardia por reentrada atrioventricular ortodrômica. 3. Taquicardia atrial com bloqueio atrioventricular de primeiro grau. 4. Taquicardia originária do seio coronariano ou juncional. RR IRREGULAR • Fibrilação atrial. • Flutter atrial de condução AV variável. • Taquicardia atrial. QRS largo • FC>100 bpm. • QRS>120 ms. Na maioria das vezes são ritmos ventriculares e frequentemente geram instabilidade hemodinâmica. No entanto, nem toda taquicardia de QRS largo é ventricular. Se houver condução por feixe acessório, bloqueios de ramo preexistentes ou induzidos pelataquicardia, uma taquicardia supraventricular pode se apresentar com QRS largo. Em caso de potencial gravidade considerar: TV • ECG de base com bloqueio de ramo e a taquicardia tenha exatamente a mesma morfologia, trata-se de taquicardia supraventricular. Os fatores seguintes aumentam a probabilidade de ser TV: • Cardiomiopatias. Por exemplo: cardiomiopatia isquêmica, hipertensiva, chagásica etc. • Dissociação atrioventricular (P e QRS em frequências distintas, sem relação entre si) e batimentos de fusão (complexos QRS híbridos resultantes da fusão entre um batimento sinusal e ventricular) no ECG. • Critério de Pava: intervalo de tempo entre o início do QRS e a primeira mudança de polaridade em DII > 50 ms. • Presença de bloqueio atrioventricular de primeiro grau em ECG prévio. • Presença de bloqueio de ramo em ECG prévio e morfologia diferente no ECG da taquiarritmia. RR REGULAR 1. Taquicardia ventricular. 2. Taquicardia supraventricular com condução aberrante. 3. Taquicardia por reentrada atrioventricular antidrômica. 4. Alterações tóxico-metabólicas. Daniela Santos Rocha RR IRREGULAR 1. Taquicardia ventricular polimórfica. 2. Torsades de pointes. 3. Fibrilação atrial pré-excitada. 4. Fibrilação atrial com aberrância. Taquicardias Específicas e Manejo TAQUICARDIA SINUSAL Ao identificar ondas P precedendo cada complexo QRS, se a onda P tiver orientação normal (eixo entre 0 e 90°) fazemos o diagnóstico de uma taquicardia sinusal; caso contrário, de uma taquicardia atrial. É a arritmia cardíaca mais comum e pode ser causada por: hipoxemia, anemia, febre, hipertireoidismo, hipovolemia, choque, tromboembolismo pulmonar, ansiedade, atividade física, medicamentos, abstinência. No ECG é caracterizada pela presença de ondas P precedendo cada QRS, positivas em DI, DII, DIII, aVF e negativa em aVR (Figura 6). Se o ritmo for por volta de 150 bpm, deve-se lembrar que é possível que se trate de flutter atrial. Fisiopatologia: hiperautomatismo do nó sinusal, sem necessariamente representar uma condição patológica. Na maioria das vezes a taquicardia é apropriada para uma condição clínica do paciente (hemorragia ou febre, p. ex.), e raramente uma taquicardia não apropriada Deve-se procurar e tratar a causa de base. Devemos suspeitar de flutter atrial sempre que a FC estiver em torno de 130 a 170 bpm, pois a frequência atrial do flutter tem 300 bpm e a condução mais comum do flutter é de 2:1, gerando frequências ventriculares próximas a 150 bpm. Também devemos procurar por ondas F em todas as derivações. TAQUICARDIA POR REENTRADA NODAL TÍPICA E ATÍPICA É a causa mais comum de palpitações em pacientes sem alterações cardíacas estruturais. A TRN é tipicamente paroxística e pode ocorrer espontaneamente ou pode ser provocada por exercícios físicos, ingestão de café, chá ou álcool. É mais comum em mulheres, contando com aproximadamente 75%, e geralmente bem tolerada. Sua fisiopatologia envolve um circuito de reentrada formado dentro do nó AV com via anterógrada lenta e retrógrada rápida. Em sua forma típica, no ECG observamos: FC entre 150 e 250 bpm; ausência de onda P precedendo o QRS; QRS em geral estreito e RR regular; e pode haver presença de onda pseudo-s em DII/DIII e onda pseudo-r’ em V1, ou “infra de segmento ST” nas derivações inferiores (DII, DIII e aVF) – trata-se de onda P retrógrada (Figura 7). Além disso, são comuns alterações do segmento ST com infradesnivelamento difuso e supra em aVR, em geral sem correlação clínica e que se resolvem após reversão ao ritmo sinusal. Tratamento: ESTÁVEL→ manobras vagais para o diagnóstico e o tratamento e/ou adenosina (interrompe a condução nó atrioventricular) • 6 mg da droga diluídos em 10-20 mL de solução fisiológica, em bolus rápido, uma vez que sua meia-vida é muito curta (segundos). • A dose pode ser repetida até duas vezes, caso não haja sucesso (com 12 e 18 mg). • Também é fundamental explicar ao paciente antes da infusão que essa medicação causa um desconforto importante (alguns pacientes descrevem uma sensação de morte iminente). • Pacientes jovens (ou daqueles que sabidamente não têm cardiopatia estrutural) com TRN, uma excelente alternativa ao tratamento, em vez da adenosina, são os bloqueadores de canal de cálcio administrados de maneira endovenosa (diltiazem e verapamil), pois revertem a reentrada sem o desconforto provocado pela adenosina. Essas medicações não estão disponíveis no Brasil há alguns anos. Daniela Santos Rocha • Não havendo reversão da taquiarritmia supraventricular com essas estratégias, assumimos que se trata de mecanismo por automatismo ou então reentrada que não envolve o nó AV (p. ex., fibrilação atrial, flutter etc.), sendo indicado controle da FC com drogas específicas FIBRILAÇÃO E FLUTTER ATRIAL Arritmia sustentada mais comum no departamento de emergência e é caracterizada por hiperautomatismo de veias pulmonares, gerando impulsos mais precocemente que o nó sinoatrial. No ECG observamos ausência de ondas P; presença de ondas irregulares, denominadas ondas f; QRS estreito; e RR irregular. O flutter atrial é uma arritmia supraventricular causada por um circuito de macrorreentrada no átrio direito. O ECG é caracterizado por taquicardia de QRS estreito, com ondas F, em “dente de serra”, mais bem vistas em DII, DIII e aVF; frequência das ondas F 250- 350 bpm; frequência ventricular mais comum de 150 bpm com condução atrioventricular 2:1, mas podem existir outros padrões de condução ou até condução atrioventricular variável; e ausência de período isoelétrico entre ondas F, em razão da atividade atrial contínua. TAQUICARDIA ATRIAL MULTIFOCAL A taquicardia atrial multifocal (TAM) é um ritmo atrial irregular secundário a múltiplos focos ectópicos de automatismo dos átrios. Associada a doença pulmonar em 60 a 85% dos casos, geralmente quadros de exacerbação de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), mas também em distúrbios eletrolíticos como hipomagnesemia ou uso de aminofilina ou teofilina. No ECG observamos FC >100 bpm, ritmo irregular com ondas P de pelo menos três morfologias diferentes com intervalos PR irregulares. O tratamento deve ser dirigido à causa de base, com correção da hipoxemia e eletrólitos. A frequência ventricular pode ser controlada com bloqueadores do canal de cálcio, como verapamil e diltiazem ou amiodarona. TAQUICARDIA VENTRICULAR São muito menos frequentes que as taquicardias supraventriculares, no entanto, representam maior gravidade. Comumente estão associadas a cardiomiopatias (isquêmica, dilatada, hipertrófica, doença de Chagas, estenose aórtica etc.) e representam uma complicação importante do infarto agudo do miocárdio (IAM). Podem ser classificadas em monomórficas ou polimórficas. As TVs monomórficas, em geral, possuem FC > 130 bpm, QRS alargado e regular, com a mesma morfologia, dissociação entre as ondas P e o complexo QRS. Daniela Santos Rocha Também são classificadas em sustentadas e não sustentadas. As TVs sustentadas ocorrem por mais de 30 segundos ou geram instabilidade hemodinâmica. Já as TVs não sustentadas (TVNS) ocorrem por menos de 30 segundos e não geram instabilidade. Tratamento Taquicardia ventricular não sustentada O tratamento das TVNS consiste em procurar e tratar a causa de base: hipomagnesemia, hipocalemia, isquemia, hipóxia etc. Não há indicação de antiarrítmicos. Taquicardia ventricular sustentada Todo paciente com taquiarritmia ventricular deve ser levado para a sala de emergência e monitorizado. Com frequência pode haver degeneração para um ritmo de parada cardiorrespiratória, como fibrilação ventricular. NAS TAQUICARDIAS VENTRICULARES MONOMÓRFICAS INSTÁVEIS E COM PULSO devemos realizarcardioversão elétrica sincronizada a princípio com 100 J, podendo-se aumentar a carga progressivamente. PARA OS PACIENTES ESTÁVEIS, a cardioversão elétrica é a opção mais segura. Pacientes que possuem cardiopatia estrutural com fração de ejeção reduzida podem não tolerar o uso das drogas antiarrítmicas e evoluir com instabilidade hemodinâmica. • Caso se opte pelo manejo farmacológico, pode-se utilizar inicialmente a adenosina, uma vez que cerca de 15% são TSV. Entretanto, em caso de reversão, deve-se ter muito cuidado ao rotular como TSV, uma vez que aproximadamente 10% das TVs revertem com adenosina. • Procainamida: medicação de primeira linha para o tratamento de TV monomórfica estável, porém não está disponível no Brasil. Pode reduzir o débito cardíaco. Os pacientes devem ser admitidos na unidade de terapia intensiva (UTI) para investigação etiológica e avaliar necessidade de cardioversor desfibrilador implantável (CDI). Alterações Tóxico-Metabólicas • HIPERCALEMIA: muitas vezes se apresenta como uma taquicardia de QRS largo. Ao aumentar os níveis séricos de potássio, as ondas P desaparecem, deixando apenas complexos QRS largos. Em geral, apresentam frequências cardíacas menores que 120 a 130 e complexos QRS muito alargados, frequentemente maiores que 200 ms. Também podem apresentar desvio do eixo do QRS para a direita. Daniela Santos Rocha • INTOXICAÇÃO POR BLOQUEADORES DE CANAL DE SÓDIO (antidepressivos tricíclicos): apresentam-se como bloqueio de canal de sódio no ECG e taquicardia sinusal por bloqueio muscarínico (M1). Na derivação DII o QRS é maior que 100 ms. Em aVR a onda R’ é maior que 3 mm com relação R/S > 0,7. Nas derivações DI e avL há S empastado e profundo. Outros sinais do ECG são prolongamento do intervalo PR e QTc. Além disso, clinicamente o paciente terá rebaixamento de nível de consciência (até coma), convulsões, hipotensão e síndrome anticolinérgica. O paciente deve ser monitorizado e avaliado para proteção de via aérea. Quando alterações eletrocardiográficas são constatadas na suspeita de intoxicação por tricíclico, deve-se administrar bicarbonato de sódio 100 mEq (1 a 2 mEq/kg), que pode ser repetido após 5 minutos até melhora da pressão arterial e estreitamento dos complexos QRS. Amiodarona está contraindicada. Cuidado: ambas as situações não estão descritas no ACLS e devem ser lembradas, uma vez que o manejo farmacológico usual em pacientes estáveis com amiodarona ou lidocaína aumenta a inibição dos canais de sódio e pode resultar em assistolia! Tv Polimórfica A TV polimórfica é uma arritmia ventricular em que há vários estímulos elétricos de diferentes focos ventriculares, resultando em complexos QRS com duração, amplitude, eixos e morfologias diferentes. É classificada em TV polimórfica com QT normal ou com QT longo. A principal causa de TV polimórfica com QT normal é secundária à isquemia aguda; o paciente frequentemente se apresenta com dor anginosa e alterações isquêmicas no ECG. Quando associada ao intervalo QT longo é chamada de torsades de pointes . Tratamento O tratamento da TV polimórfica é semelhante ao da TV monomórfica. O tratamento de primeira linha é a desfibrilação. Mesmo havendo pulso, a cardioversão não é recomendada, pois em virtude das alterações da morfologia típica dos complexos QRS o algoritmo do desfibrilador pode não reconhecer o momento de administrar o choque. Correção de distúrbios eletrolíticos, especialmente hipocalemia e hipomagnesemia. Prevenção de episódios seguintes com amiodarona ou lidocaína. Betabloqueadores, como o esmolol ou metoprolol, também podem ser utilizados como segunda linha. Se a causa for isquêmica, iniciar medidas para síndrome coronariana aguda. TORSADES DE POINTES Torsades de pointes (TdP) significa “torção das pontas” e é definida como associação entre TV polimórfica e QT longo. Geralmente ocorre quando QT corrigido > 500 ms. Possui a característica de alternância da polaridade e da amplitude dos QRSs, formando um traçado em fusos, como se as pontas do ECG fossem torcidas. A TdP inicia-se quando uma contração ventricular prematura atinge a onda T (fenômeno “R sobre T”). Geralmente dura poucos segundos, mas pode gerar instabilidade hemodinâmica e degenerar a fibrilação ventricular. Causas: Daniela Santos Rocha • Adquiridas: eletrólitos (hipomagnesemia, hipocalemia e hipocalcemia) e medicamentos. • Congênita: síndrome do QT longo congênita (rara). Tratamento A maioria das TdP são autolimitadas. Se não reverter espontaneamente, a conduta é desfibrilação com 200 J se instável. A cardioversão elétrica pode não funcionar, pois o algoritmo do desfibrilador pode não reconhecer o complexo QRS. Após reversão, seja elétrica ou espontânea, existe grande chance de recorrer e o tratamento é focado em prevenir a recorrência. Todos os pacientes com TdP devem receber magnésio, mesmo que a dosagem de magnésio esteja normal. O magnésio (Mg) é rapidamente excretado na urina. Portanto, deve-se fazer dose de ataque seguida de manutenção, para manter os níveis séricos elevados com alvo de 3,5 a 5 mg/dL até a retirada do agente causador. A dosagem de Mg deve ser feita a cada 6 horas. Se Mg > 7 mg/dL, parar a infusão. Se Mg entre 5 e 7, reduzir infusão pela metade. A infusão não deve ser utilizada em pacientes com doença renal crônica e taxa de filtração glomerular < 30 mL/min. • Ataque: sulfato de magnésio 10% 2 g IV em 10 min. • Manutenção: sulfato de magnésio 10% 1-4 g/hora. Se o paciente se mantiver refratário às medidas, a opção é aumentar a FC para diminuir o intervalo QT. Pode ser utilizada infusão de medicamentos cronotrópicos como adrenalina ou dobutamina; ou então cronotropismo elétrico com marca-passo transcutâneo ou transvenoso. O alvo de FC é 100 a 110 bpm. Potássio: tratar agressivamente hipocalemia, com alvo de K sérico de 4,5 mEq/L. Taquicardias Por Reentrada Atrioventricular (Via Acessória) No coração normal, o impulso elétrico atrial chega aos ventrículos após passar pelo nó atrioventricular e sofrer um retardo fisiológico, permitindo assim que a contração ventricular suceda a contração atrial. A via acessória é uma via de condução extranodal que liga o miocárdio do átrio ao ventrículo através de um sulco ou ranhura atrioventricular, permitindo uma pré-excitação ventricular. A síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) é definida como a combinação entre presença de via acessória e episódios de taquiarritmias. Está associada a um pequeno risco de morte súbita. No eletrocardiograma em ritmo sinusal, observamos três alterações principais: • PR curto (< 120 ms). • QRS alargado (> 110 ms) com empastamento na porção inicial (onda delta), que corresponde à fusão entre a ativação inicial causada pela passagem do impulso elétrico pela via acessória e a ativação final**. • Alterações secundárias do ST-T opostas à polaridade da onda delta. As taquicardias são facilitadas pela formação de um circuito de reentrada envolvendo a via acessória. São chamadas taquicardias por reentrada atrioventricular (TAV) e são divididas entre ortodrômicas e antidrômicas, baseadas na direção da reentrada e morfologia do ECG. Outro mecanismo é a ativação direta ventricular pela via acessória, vista em fibrilação atrial ou flutter atrial associada a WPW. Daniela Santos Rocha
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