Buscar

Gestão, Normalização E Certificação Para A Qualidade (EMC10)-Sistema De Gestão De Qualiade

Prévia do material em texto

SISTEMA DE GESTÃO DE QUALIDADE 
E ISO 9001: UM ESTUDO DE CASO 
SOBRE O PROCESSO DE 
IMPLEMENTAÇÃO E CERTIFICAÇÃO 
NUMA EMPRESA DE AGRONEGÓCIOS 
DE UBERLÂNDIA-MG 
 
Vivian Duarte Couto Fernandes (UFU ) 
vivianduarte@terra.com.br 
Lenise Marques Garcia (UFU ) 
lenise.garcia@yahoo.com.br 
Etienne Cardoso Abdala (UFU ) 
etienneabdala@hotmail.com 
Luciana Oranges Cezarino (UFU ) 
lucianacezarino@fagen.ufu.br 
 
 
 
Este trabalho buscou analisar o processo de implementação do Sistema 
de Gestão da Qualidade (SGQ) e sua certificação pela Norma ISO 
9001 em uma empresa de agronegócios de Uberlândia-MG, a partir de 
três categorias de análise: as motivações,, as dificuldades e os 
benefícios operacionais percebidos. Pode-se averiguar que a 
resistência dos funcionários às mudanças, a falta de disseminação da 
cultura de qualidade e a falta de tempo para a dedicação ao SGQ, 
foram as principais barreiras no processo. Sobre os benefícios 
percebidos, notou-se a melhoria do controle de documentação, a 
padronização dos processos e a melhoria no nível de qualidade. Por 
fim, o envolvimento da Alta Direção pode ser considerado com o ponto 
crítico de sucesso na implementação do SGQ. 
 
Palavras-chave: Sistema de Gestão da Qualidade. 2. ISO 9001:2008. 
3. Motivações, Benefícios, dificuldades. 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
 
 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
2 
 
1. Introdução 
A tecnologia e a rapidez com que as informações se difundem contribuem para a promoção de 
um mercado consumidor mais globalizado, a competitividade entre as organizações e a 
imprevisibilidade econômica proporcionam um ambiente turbulento para os negócios. Assim, 
a busca por estratégias diferenciadas e criativas tornou-se uma necessidade, tendo em vista 
não somente o aumento das suas chances de sobrevivência, mas a conquista de mercado. 
Os Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ) são uma opção para a geração de diferenciais 
competitivos, pois desenvolvem padrão de melhorias contínuas a partir da motivação do 
quadro de colaboradores, do controle de processos, da identificação de requisitos e 
atendimento das necessidades dos clientes (SILVA JÚNIOR, 2013). 
A implantação e certificação da norma ISO 9001 permitem à organização demonstrar níveis 
diferenciados de planejamento, gerência e preocupação com a satisfação do cliente. Para 
Godoy et al. (2009), qualquer tipo de implantação destas iniciativas, deve ser tida como 
mecanismo de redução de custos e de melhoria da qualidade dos produtos e serviços 
ofertados, constituindo verdadeiro viés de incremento da competitividade organizacional. 
Nas organizações em que a implementação do SGQ é bem sucedida, benefícios relacionados a 
melhorias no desempenho produtivo, econômico e organizacional são evidenciados. 
Entretanto, é comum encontrar barreiras. Através do estudo de caso em uma empresa de 
agronegócios, referência em produção de sementes e agroquímicos no Brasil, foi investigado 
o processo de implementação do SGQ e sua certificação segundo a Norma ISO 9001:2008, 
identificando as motivações, as dificuldades e os seus benefícios, bem como os fatores que 
contribuíram para o sucesso do projeto. 
 
2. Certificação de Qualidade – Norma ISO 9001:2008 
A ISO é uma entidade não governamental criada em 1947 com sede em Genebra, na Suíça, 
com objetivo de promover o desenvolvimento da normatização em âmbito mundial, 
facilitando as atividades de trocas de produtos e serviços (SARTORELLI, 2003), para nivelar 
globalmente as práticas de qualidade. 
A ISO 9001:2008 é a norma principal que compõe o sistema de gestão da qualidade 
estabelecido como modelo pela ISO, que tem por finalidade a certificação de sistemas de 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
3 
qualidade segundo seus requisitos específicos (CARPINETTI; GEROLAMO; MIGUEL, 
2010). 
A certificação tem aceitação e credibilidade das organizações, independente do porte ou ramo 
de atividade. A norma não garante a qualidade do produto, mas especifica critérios pelos 
quais a sua qualidade pode ser atingida (CALLARGE; ZANINI; LIMA, 1999). 
Para Barros (1992, p. 50): 
As normas da Série ISO, isoladamente, não produzirão qualidade nas 
empresas. Elas, como toda e qualquer norma, são apenas uma 
referência “do que fazer”. O “como fazer” é um problema nada 
simples que a própria empresa deverá estudar, planejar e executar com 
seus próprios recursos e adaptados à sua realidade. 
Num mercado cada vez mais competitivo, a implantação e certificação desses sistemas vêm se 
tornando quase que uma obrigação para a sobrevivência e sucesso no mercado, transmitindo 
confiança ao cliente e criando vantagem competitiva (RIBEIRO, 2012). 
 
2.1 Motivações e Decisão para Certificação da ISO 9001 
A decisão de implantar um sistema de gestão da qualidade deve ser uma estratégia da 
organização, avaliada pela Alta Direção considerando benefícios e impactos (LOPES; 
JUDICE, 2009). Ela requer esforços e investimentos, cabendo aos gestores verificar se os 
benefícios proporcionados compensarão os recursos investidos (BASTOS, 2005). 
As motivações para a implantação deste sistema podem ser internas e/ou externas. As 
primeiras estão relacionadas à eficiência organizacional, como mudança de processos e 
melhoria da qualidade. As outras estão relacionadas a questões promocionais, de marketing e 
melhoria de imagem da organização (SAMPAIO, 2008). Maekawa et al. (2013) acreditam que 
as principais motivações são a busca por melhorias da qualidade e da imagem corporativa, 
vantagem competitiva e pressão dos clientes. 
Em uma pesquisa com 100 empresas certificadas pelas Normas ISO 9000, identificou-se que 
as principais motivações para a certificação do SGQ, são: a exigência dos clientes (32%), o 
aumento da qualidade (20%) e a melhoria de controle de processos (15%) (INMETRO, 2005). 
Existem organizações que decidem obter a certificação ISO 9001 por uma pressão do 
mercado. Seus esforços estão voltados para a obtenção e manutenção do certificado e, o que 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
4 
se nota, é um menor comprometimento destas organizações com a implementação e o 
desempenho do sistema de gestão da qualidade (SUBBA et al.,1997). Assim, após a 
certificação, quando deixam de ser pressionadas pelos clientes, desistem do programa de 
melhoria contínua da qualidade (SINGLES; RUEL; VAN DE WATER, 2001). 
Tristão (2011) realizou uma pesquisa com 29 empresas certificadas pela ISO 9001 no Brasil e 
constatou que o motivo principal para as empresas obterem a certificação foi devido à 
exigência do mercado (46,15%), política da empresa (23,08%) e conquista de novos mercados 
(17,95%). 
 
2.3 Dificuldades no processo de implementação do SGQ 
Para Maranhão (1994), a implantação destes sistemas representa uma mudança cultural e, 
geralmente, promove conflitos. Uma vez que as empresas necessitam alterar o status quo e 
desenvolver uma cultura que suporte a gestão da qualidade, os resultados podem demorar a 
aparecer, de modo que é necessário tempo para se adaptar e aprender a trabalhar com a 
qualidade (LOW; TEO, 2004). 
Tolovi Júnior (1994) destaca fatores relacionados ao insucesso da implantação do SGQ: não-envolvimento da Alta Direção; ansiedade por resultados; desinteresse do nível gerencial; 
planejamento inadequado; treinamento deficiente; falta de apoio técnico; descuido com a 
motivação. 
Para Depexe e Paladini (2007), o comprometimento da Alta Direção é o mais crítico deles. As 
iniciativas de melhoria da qualidade falham porque as lideranças não conseguem promover a 
alteração comportamental necessária nos funcionários. É um processo que requer o 
envolvimento e comprometimento de todas pessoas e áreas, então, o papel dos líderes é 
relevante (TOLOVI JÚNIOR, 1994). 
Outros fatores ainda podem atrapalhar a implantação do SGQ: excesso de documentação, 
aumento dos custos, resistências à mudança, dificuldade e lidar com ferramentas e linguagem 
da qualidade, adaptação à Norma, falta de tempo, falta de recursos humanos e materiais, falta 
de comprometimento dos envolvidos, e incompatibilidade com outros sistemas de gestão 
(RIBEIRO, 2012; SILVA JUNIOR, 2013). 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
5 
Nas empresas brasileiras foram constatadas as principais dificuldades, sendo a mudança da 
cultura da empresa (25%), a resistência dos funcionários (21%) e a capacitação dos 
funcionários (13%), as barreiras mais citadas (INMETRO, 2005). 
 
2.4 Benefícios percebidos com a Certificação ISO 9001 
Os benefícios da certificação estão relacionados às categorias de motivações para a 
implantação do SGQ e sua certificação (SAMPAIO; SARAIVA; RODRIGUES, 2009). Isto é, 
se a empresa possui motivações externas para a certificação, então, os benefícios são, 
geralmente, de âmbito externo. Já as motivações internas levam aos benefícios de natureza 
interna. Quando as organizações se motivam por fatores externos recebem pouco retono da 
certificação, uma vez que não valorizam o que, de fato, o SGQ poderia proporcionar em 
termos de melhoria. 
Casadesús, Giménez e Heras (2001) realizaram uma pesquisa envolvendo 502 empresas de 
vários setores de atuação na Espanha a respeito dessas vantagens. Dentre os benefícios 
internos (relacionados aos aspectos humanos e operacionais), identificou-se: melhoria na 
definição e padronização dos procedimentos de trabalho; melhoria na definição das 
responsabilidades e obrigações dos funcionários; aumento da confiança da empresa em sua 
qualidade; aumento do comprometimento com o trabalho; redução de improvisações através 
da melhoria das normas de procedimentos; aumento da satisfação com o trabalho; melhoria na 
comunicação interna; redução de erros e defeitos durante a produção; redução de custos 
operacionais. 
Sobre os benefícios externos identificados (relacionados aos clientes e aspectos financeiros), 
destaca-se: melhor resposta aos requerimentos dos clientes; inserção em novos mercados; 
melhoria nas relações com os consumidores; redução das auditorias por parte dos clientes; 
aumento da satisfação dos consumidores; queda no número de reclamações; elevação da 
repetição de compras; aumento do market-share. 
 
3. Metodologia 
Este trabalho segue as orientações metodológicas de um estudo de caso único, pois se presta 
às investigações de um fenômeno ou conjunto de acontecimentos dentro do seu contexto real 
(YIN, 2001). Quanto aos objetivos é uma pesquisa exploratória-descritiva, pois amplia o 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
6 
conhecimento a respeito de um determinado fato ou fenômeno (GIL, 2007), descrevendo-os 
com exatidão (ZANELLA, 2009). 
Quanto à abordagem, é uma pesquisa qualitativa que caracteriza-se por se preocupar com a 
compreensão dos fenômenos a partir do ponto de vista dos participantes, isto é, tem o 
ambiente natural como fonte direta dos dados (ZANELLA, 2009). 
Os dados foram coletados entre os meses de abril e junho de 2015, por meio de dois tipos de 
instrumentos de pesquisa: questionário estruturado e entrevista pessoal. As entrevistas foram 
realizadas com dois gestores e com o Representante da Direção (RD), a partir de um roteiro 
semi-estruturado. Esta técnica é adequada quando necessário um aprofundamento de detalhes, 
pois permite maior liberdade no diálogo entre entrevistador e entrevistado (ZANELLA, 
2009). 
O questionário, contendo questões sobre 3 grupos de variáveis, motivação, dificuldades e 
benefícios percebidos com a implantação do SGQ, foi estruturado usando escala tipo Likert 
de 5 pontos, variando de discordo totalmente, discordo parcialmente, sem opinião, concordo 
parcialmente e concordo plenamente. Este instrumento foi aplicado aos 19 funcionários que 
participaram do processo de implementação do SGQ na empresa pesquisada. As questões do 
questionário foram desenvolvidas tendo como orientação os trabalhos de Ribeiro (2012) e 
Silva Júnior (2013). 
A Empresa Delta, nome fictício, foi criada em 2001 e atua no ramo agroindustrial. Ela é 
referência em produção de sementes e agroquímicos e está presente nas principais regiões 
agrícolas brasileiras com de centros de pesquisa, estações experimentais e unidades de 
produção. A pesquisa foi realizada na cidade de Uberlândia-MG. A decisão de implementação 
do Sistema de Gestão da Qualidade e ocorreu em 2007 e a certificação da norma ISO 
9001:2008 ocorreu em 2009. 
 
4. Resultados 
O processo de implantação do SGQ e a certificação da Norma ISO 9001:2008 contou com o 
suporte da ferramenta PDCA que permitiu melhor orientação para a condução do projeto. 
Questionados sobre a decisão de implementar o SGQ na organização, os entrevistados foram 
unânimes em afirmar que o motivo principal foi a necessidade de obter maior organização, 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
7 
controle e padronização de processos, para melhoria da qualidade interna. Os entrevistados 
salientaram ainda a pressão exercida pela concorrência, pois as demais empresas do ramo já 
eram certificadas na Norma. Estes resultados corroboram com as motivações mencionadas 
por outros autores (LOPES; JUDICE, 2009; SUBBA et al., 1997; TRISTÃO, 2011). 
Quem decidiu pela implementação da ISO 9001 foi o Diretor de Produção& 
Abastecimento, numa época delicada para a empresa, num ano que a companhia 
teve muitos descartes. Então, ele queria alguma coisa que pudesse agregar qualidade 
no processo. (Gestor 1) 
As respostas dos funcionários vão de encontro ao relatado pelos gestores, conforme se 
observa na Figura 1. Para análise destes dados, foi utilizado o trabalho de Sanches, Meireles e 
Sordi (2011). Segundo estes autores, quando se aplica um questionário com escala do tipo 
Likert, o diferencial semântico (“DT” discordo totalmente, “DP” discordo parcialmente; “SO” 
sem opinião; “CP” concordo parcialmente a “CT” concordo totalmente) expressa a opinião do 
respondente. Como são variáveis nominais, não faz sentido o uso de médias e desvio padrão, 
embora muitos estudos os façam. Ao invés disso, foi calculada a mediana observada, para se 
ter o “sentido geral” das respostas. Nesta pesquisa, a mediana é a coluna dentro do referencial 
semântico que se encontra o respondente 10 (19/2). 
 
Figura 1. Percepção dos funcionários sobre as motivações para implantação do SGQ 
 
 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
8 
A coluna “Os discordantes da proposição” apresenta o somatório da quantidadede 
discordantes de cada afirmativa, e foi calculado pela fórmula: DP + DT + 0,5*SO (o total de 
respostas “discordo parcialmente”, “discordo totalmente” e metade dos respondentes “sem 
opinião”). A coluna “Os concordantes da proposição” apresenta o somatório da quantidade de 
concordantes de cada afirmativa, e foi calculado pela fórmula: CT+CP+0,5*SO (o total de 
respostas “concordo parcialmente”, “concordo totalmente” e metade dos respondentes “sem 
opinião”). 
O grau de concordância da proposição, que é determinado pelo oscilador estocástico de 
Wilder Jr (1981) apud Sanches, Meireles e Sordi (2011, p. 6) é conhecido como força de 
indicador relativa, e é dado pela expressão: GCP = 100 – [ 100 / ( CP / DP + 1)]; onde CP é o 
valor de concordantes de cada proposição dentro do fator em análise e DP é o valor de 
discordantes de cada proposição dentro do fator em análise. Sanches, Meireles e Sordi (2011) 
salientam que, para evitar a divisão por zero, é preciso acrescentar 0,00001 aos valores de CP 
e DP. Os autores mostram ainda como avaliar os valores do GCP: 
Figura 2. Valores de referência do Grau de Concordância da Proposição CGP: 
 
Fonte: Sanches, Meireles e Sordi (2011, p.6) 
A partir dos dados da Figura 1, os itens relacionados à melhoria no controle de processos e 
práticas de gestão da qualidade, a padronização interna e a melhoria da organização interna – 
relacionadas às motivações internas conforme Sampaio (2008) – são, de acordo com a opinião 
dos funcionários, as principais motivações que levaram a empresa a implementar o SGQ, 
pois apresentaram uma concordância muito forte da proposição. 
O indicador Cf mostra o total de concordantes daquele fator e o indicador Df mostra o total de 
discordantes do fator motivação, na Figura 1. Neste sentido, µ1 revela a crença de que as 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
9 
proposições como um todo sejam verdadeiras (139/152) e µ2 mostra descrença de que as 
proposições como um todo sejam verdadeiras (13/152). 
Em relação às dificuldades encontradas durante o processo, o desenvolvimento e 
disseminação da cultura de qualidade e o entendimento dos requisitos exigidos quanto à 
estruturação da documentação de processos, foram as mais citadas pelos entrevistados; 
corroborando com Sampaio (2008) e Ribeiro (2012). Segundo o Representante da Direção, 
o fator tempo foi uma das maiores dificuldades, pois os responsáveis pela gestão da 
qualidade (focal points) de cada área, em muitas ocasiões, deixavam de realizar os 
trabalhos propostos dentro do cronograma definido do projeto, sob a justificativa da 
falta de tempo para conciliar as atividades rotineiras da função com as atividades do 
SGQ (Fala RD) 
Todos os entrevistados concordaram que o comprometimento e a participação da Alta Direção 
foram efetivos durante todo o processo e esta seria a razão pelo qual as resistências não 
persistiram. A Figura 3 mostra a resposta dos funcionários que, vai de encontro, às percepções 
dos gestores. 
Figura 3. Percepção dos funcionários quanto às dificuldades para implantação do SGQ 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
10 
 
 
Na percepção dos funcionários, a resistência a mudanças, a falta de disseminação da cultura 
de qualidade, a dificuldade em conciliar as tarefas do dia-a-dia com o SGQ, foram as 
variáveis com o GCP mais expressivas, acima de 80, mostrando uma concordância 
substancial. Sobre a variável resistência dos funcionários, percebe-se que este fator decorre, 
sobretudo, pela falta de entendimento dos requisitos do SGQ e da Norma ISO 9001. Não 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
11 
obstante, percebe-se que esta incompreensão é uma consequência da dificuldade na 
disseminação da cultura de qualidade que, pode estar relacionada à falta de treinamento dos 
funcionários ou comunicação deficiente entre gestores e funcionários, ou entre áreas. Por 
outro lado, conforme haviam apontado LOW e TEO (2004) e MARANHÃO (1994), a 
implantação de sistemas da qualidade representa uma forte mudança cultural, em que a 
alteração do status quo e o desenvolvimento de uma cultura de gestão da qualidade 
demandam tempo para que os resultados possam começar a aparecer. 
Quanto aos benefícios observados com a implementação do SGQ e a certificação, na opinião 
dos entrevistados, verificou-se a melhoria do gerenciamento de processos e controle de 
documentos que proporcionaram melhoria na rastreabilidade de informações em todas as 
áreas. A “maior segurança da base operacional”, contribuiu para que os funcionários 
alcançassem maior disciplina em seus trabalhos, pela identificação e descrição dos requisitos 
das suas atividades que passaram a estar documentados em procedimentos. Esses benefícios 
foram relatados por Casadesús; Giménez; Heras (2001) e Sampaio (2008). 
Com a implementação do SGQ na organização, houve uma maior preocupação com 
a melhoria contínua da qualidade em todos os níveis, e isto contribui para a 
manutenção do sistema até os dias atuais (Fala Gestor 2). 
 
A Figura 4 mostra os resultados dos questionários aplicados aos funcionários. Os itens que 
apresentaram concordância muito forte ou substancial (SANCHES; MEIRELES; SORDI, 
2011) são: melhoria no controle de procedimentos e registros; padronização e gerenciamento 
dos processos; melhoria do nível de qualidade; maior organização e eficiência interna; 
melhoria dos procedimentos; aumento da identificação de oportunidades de melhorias; 
aumento da satisfação do cliente final com o produto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4. Percepção dos funcionários sobres os benefícios da implantação do SGQ. 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
12 
 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
13 
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir dos dados coletados. 
Por fim, questionados sobre os pontos críticos que contribuíram para o sucesso da 
implementação do SGQ e a certificação, os gestores disseram que o comprometimento e 
apoio da Alta Direção foram cruciais. O acompanhamento da consultoria contratada para 
suporte ao projeto também foi importante: “para uma empresa que não tem a mínima ideia de 
como implementar o sistema ISO 9001, a consultoria é primordial” (Fala Gestor 1). 
Esta consonância observada entre as percepções dos funcionários e as reais motivações 
confirmadas pelos gestores durante as entrevistas leva a crer que houve uma comunicação 
efetiva da Política e objetivos de qualidade da empresa ao se tomar esta decisão, sendo, 
portanto, o fator comunicação, elemento fundamental para conscientização dos funcionários. 
Observou-se, ainda que os fatores críticos para o sucesso da implementação do SGQ estão 
associados ao envolvimento da Alta Direção que parece constituir-se como fator crítico de 
sucesso, dado o seu papel enquanto elementos dinamizadores de todos os colaboradores 
(TOLOVI JÚNIOR, 1994). 
 
5. Considerações finais 
 
A implementação de um SGQ constitui um processo contínuo de melhorias, que requer o 
envolvimento de toda a organização, especialmente, da gestão de topo.Para a compreensão 
deste processo, procedeu-se um estudo de caso em uma empresa atuante no ramo de 
agronegócios, situada na cidade de Uberlândia-MG. 
 O estudo analisou o processo de implementação do SGQ e sua certificação pela Norma ISO 
9001:2008, tendo em vista a análise de três variáveis: a motivação para a implementação do 
SGQ, dificuldades encontradas no processo e benefícios operacionais percebidos. Também 
pretendeu-se identificar os fatores críticos que impactaram no sucesso da implementação do 
sistema de gestão da qualidade na empresa pesquisada. 
As principais motivações foram de natureza interna, relacionadas à eficiência organizacional 
interna, tais como mudança de processos e melhoria da qualidade. Com relação às 
dificuldades, a resistência dos funcionários a adaptação à Norma, falta de disseminação da 
cultura de qualidade e escassez de tempo para conciliar as tarefas do dia-a-dia com o SGQ 
foram os principais desafios do processo de implementação do projeto. 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
14 
Sobre os benefícios recebidos, destacam-se a melhoria no controle de procedimentos e 
registros, padronização dos processos e melhoria do nível de qualidade. Outro ponto de 
destaque, foi o aumento da motivação e da satisfação com relação ao trabalho. 
O comprometimento e envolvimento da Alta Direção e do grupo gerencial durante o processo 
constituem elementos fundamentais para que haja uma comunicação adequada, para a 
motivação do quadro de funcionários e para consolidação e propagação da cultura de 
qualidade e melhoria contínua. 
Como principais limitações deste trabalho, cita-se a restrição em se analisar apenas uma 
empresa (estudo de caso único). Além disso, sobre a variável “benefícios” foi dado ênfase à 
análise dos resultados relacionados às melhorias operacionais percebidas a partir da 
implementação do SGQ na empresa pesquisada, isto é, melhorias referente ao gerenciamento 
de processos, à qualidade interna e ao controle de processos. Outros benefícios relacionados 
ao desempenho financeiro e comercial, tais como o aumento das vendas, aumento das 
exportações e melhoria da imagem da empresa frente aos clientes, não foram analisados neste 
estudo de caso. 
Desta forma, seria propícia a realização de pesquisa similar em várias empresas do ramo de 
agronegócios no Brasil, a fim de verificar se os resultados obtidos são recorrentes em outras 
organizações. Sugere-se também a investigação das implicações financeiras e comerciais, 
atreladas à certificação ISO 9001, especialmente no que diz respeito à melhoria da imagem da 
empresa frente aos seus clientes e fornecedores. 
 
REFERÊNCIAS 
BARROS, C.D.C. Sensibilizando para a qualidade. Rio de Janeiro: Qualitymark,1992. 
BASTOS, G.M. Vantagens e custos de uma certificação ISO. Biblioteca on-line do Serviço Brasileiro de 
Apoio às Micro e Pequenas Empresas. 2005. 3 pgs. Disponível em: 
<http://bis.sebrae.com.br/bis/conteudoPublicacao.zhtml?id=507/> Acesso em: 15 de maio de 2015. 
CALLARGE, F.A., ZANINI, R.A., LIMA, P.C. QS9000: um estudo de caso enfocando a implantação e 
certificação em uma empresa do setor de autopeças. Revista Produto & Produção, v. 3, n. 1, p. 1-12, 1999. 
CARPINETTI, L.C.R.; GEROLAMO, M.C.; MIGUEL, P.A.C. Gestão da qualidade ISO 9001:2008: 
princípios e requisitos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 
CASADESÚS, M.; GIMÉNEZ, G.; HERAS, I. Benefits of ISO 9000 implementation in Spanish 
industry. European Business Review, V. 13, N. 6, P. 327-35, 2001. 
DEPEXE, M.D.; PALADINI, E.P. Dificuldades relacionadas à implantação e certificação de Sistemas de Gestão 
da Qualidade em empresas construtoras. Revista Gestão Industrial, v. 03, n. 01, p. 13-25, 2007. 
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2007. 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
15 
GODOY, L.P.; SCHMIDT, A.S.; CHAPOVAL NETO, A.; CAMFIELD, C.E.R.; SANT’ANNA, L.C.C. 
Avaliação do grau de contribuição das normas de garantia da qualidade ISO-9000 no desempenho de empresas 
certificadas. Revista de Administração da UFSM, Santa Maria, v. 2, n. 1, p. 41-58, jan/abr, 2009. 
LOPES, A.L.M.; JUDICE, V.M.M. Modelo, Contexto e Estratégia de implantação de Sistema de Qualidade 
baseado na norma ISO 9001:2000 em uma microempresa. Enegep 2009, Salvador, 2009, p. 1-13. 
LOW, S.P.; TEO, J.A. Implementing total quality management in construction firms. Journal of Management 
in Engineering, v. 20, n. 1, p. 8-15, 2004. 
MAEKAWA, R; CARVALHO, M.M.; OLIVEIRA, O.J. Um estudo sobre a certificação ISO 9001 no Brasil: 
mapeamento de motivações, benefícios e dificuldades. Gestão de Produção, São Carlos, v. 20, n. 4, p. 763-779, 
2013. 
MARANHÃO, M.. ISO Série 9000: Manual de Implementação. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1994. 
RIBEIRO, S.I.M.C.P. Os benefícios e as dificuldades na certificação da qualidade: Norma NP EN ISO 
9001:2008. 2012. 96 f. Dissertação (Mestrado em Assessoria de Administração) – Instituto Superior de 
Contabilidade e Administração do Porto, Instituto Politécnico do Porto, Porto, Portugal. Disponível em: 
<http://recipp.ipp.pt/bitstream/10400.22/638/1/DM-SandraRibeiro_2012.pdf>. Acesso em: 20 de junho de 2015. 
SAMPAIO, P. Estudo do fenômeno ISO 9000: origens, motivações, consequências e perspectivas. 2008. Tese 
(Doutorado em Engenharia). Universidade do Minho, Braga, Portugal, 2008. Disponível em: 
<http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/8840/1/ Tese_PhD_Set2008.pdf>. Acesso em: 05 de abril 
de 2015. 
SAMPAIO, P.; SARAIVA, P.; RODRIGUES, A.G. ISO 9001 Certification Research: questions, answers and 
approaches. International Journal of Quality & Reliability Management, v. 26, n.1, p. 38-58, 2009. 
SANCHES, C; MEIRELES, M.; SORDI, J. O. Análise Qualitativa por meio de lógica Paraconsistente: Método 
de Interpretação e Síntese de Informação obtidas por Escalas Likert. In: III Encontro de Ensino e Pesquisa em 
Administração e Contabilidade, João Pessoa, Nov./2011. 
SARTORELLI, L.E. Análise crítica da implantação da ISO 9001/1994 com alguns requisitos da ISO 
9001:2000 à luz dos principais autores da qualidade. 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica). 
Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo. Disponível em: 
<http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?view=vtls000304158>. Acesso em: 21 de junho de 2015. 
SILVA JÚNIOR, M.T. Benefícios e dificuldades na adoção de um Sistema de Gestão da Qualidade no Rio 
Grande do Norte. 2013. 118 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte, 2013. Disponível em: 
<http://:repositorio.ufrn.br:8080/jspui/handle/123456789 /15085>. Acesso em: 11 de junho de 2015. 
SINGLES, J.; RUEL, G.; WATER, H.V. ISO 9001 series certification and performance. International Journal 
of Quality & Reliability Management, v.18, n.1, p.62-75, 2001. 
SUBBA, R.; RAGU-NATHAN, T.S.; SOLIS, L.E. Does ISO ())) have an effect on quality management 
practices? An international empirical study. Total Quality Management, v. 8, n.6, p. 335-346, 1997. 
TOLOVI JÚNIOR, J. Por que os programas de qualidade falham? Revista de Administração de Empresas, v. 
34, n. 6, p. 6-11, nov/dez 1994. Disponível em: <http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/10.1590_S0034-
75901994000600002.pdf>. Acesso em: 03 de junho de 2015. 
TRISTÃO, R.G.C. Importância das ações corretivas e ações preventivas nos Sistemas de Gestçao da 
Qualidade – um estudo em empresas certificadas ISSO 9001 no Estado do Rio de Janeiro. Dissertação(Mestrado). Pós Graduação Profissional em Sistemas de Gestão, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 
2011. 
YIN, R.K. Estudo de caso: Planejamento e métodos. 2. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. 
ZANELLA, L.C.H. Metodologia de Estudo e de Pesquisa em Administração. 1. Ed. Florianópolis: 
Departamento de Ciências da Administração/ UFSC; [Brasília]: CAPES, 2009. 
 
 
 
XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO 
Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil 
João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. 
. 
 
 
 
 
16

Continue navegando