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Diabetes é o distúrbio endócrino mais comum. É um grupo de doenças marcadas por altos níveis de glicose resultando de defeitos na produção e/ou na ação de insulina. As complicações agudas da diabetes melito incluem hipoglicemia, cetoacidose diabética e coma hiperosmolar hiperglicêmico não cetótico. A hiperglicemia, ou açúcar elevado no sangue, e suas sequelas representam uma das duas complicações clinicamente significativas para o cirurgião-dentista que é solicitado a atender às necessidades de tratamento odontológico do paciente diabético. A segunda complicação, com risco de vida ainda mais agudo, é a hipoglicemia, ou baixo açúcar no sangue. A hipoglicemia pode estar presente em indivíduos diabéticos e não diabéticos. Níveis de glicose no sangue abaixo de 50 mg por 100 mL (sangue venoso) geralmente indicam hipoglicemia em adultos, ao passo que valores de glicose no sangue inferiores a 40 mg por 100 mL indicam hipoglicemia em crianças. Os sinais e sintomas de hipoglicemia podem tornar-se evidentes dentro de minutos, conduzindo o paciente rapidamente à perda de consciência, ou podem se desenvolver gradualmente, levando a alterações progressivas na consciência do indivíduo, o que é mais comum. As complicações a longo prazo da diabetes melito incluem distúrbios na microcirculação, no sistema cardiovascular, nos olhos, nos rins e nos nervos. Existem três grandes categorias de complicações diabéticas: doenças dos grandes vasos sanguíneos, doenças dos pequenos vasos sanguíneos (microangiopatia) e aumento da suscetibilidade à infecção. As doenças dos grandes vasos sanguíneos, como a arteriosclerose, ocorrem com frequência em indivíduos não diabéticos; no entanto, são mais comuns em pacientes diabéticos e se desenvolvem em idade mais precoce (pacientes diabéticos são duas a quatro vezes mais propensos a desenvolver doenças cardíacas do que indivíduos não portadores de diabetes). As manifestações clínicas estão relacionadas a um suprimento inadequado de sangue para o coração (angina pectoris, infarto do miocárdio, parada cardíaca súbita), para o cérebro (isquemia vascular encefálica ou infarto [novamente, os pacientes diabéticos são duas a quatro vezes mais propensos a desenvolverem doença cerebrovascular]), para os rins (glomerulosclerose) e para as extremidades inferiores (infecção e gangrena). A pressão arterial elevada também ocorre com maior frequência, e em idade mais precoce, no paciente diabético. A morte por doença cardíaca é duas a quatro vezes mais provável em pacientes diabéticos do que em indivíduos não diabéticos. Microangiopatia diabética, ou doença dos pequenos vasos sanguíneos, está relacionada a distúrbios que afetam arteríolas, vênulas e capilares. Acredita-se que a doença seja específica, ocorrendo apenas em pacientes portadores de diabetes melito. As manifestações clínicas da microangiopatia aparecem com mais frequência no olho (retinopatia diabética), nos rins (nefroesclerose arteriolar) e nas extremidades inferiores (gangrena). A primeira causa está relacionada à intolerância aos carboidratos, associada com a diabetes melito. Diabetes Melito A diabetes é a causa mais frequente de amputação não traumática de membros inferiores. Fatores Predisponentes A diabetes tipo 1 resulta de uma interação entre fatores genéticos, ambientais e autoimunes, os quais destroem seletivamente as células beta produtoras de insulina. Fatores genéticos: o papel dos fatores genéticos no desenvolvimento da diabetes tipo 1 tem sido claramente demonstrado. Fatores ambientais, fatores ambientais como dieta e toxinas têm sido propostos como gatilhos para a diabetes. Recentemente, a atenção científica centrou-se sobre viroses como causa. Epidemias de caxumba, rubéola congênita e coxsackievirus têm sido associadas com aumento da frequência de diabetes tipo 1. Se viroses estiverem envolvidas na etiologia da diabetes do tipo 1, acredita-se que atuem desencadeando uma resposta autoimune. Fatores autoimunes: a diabetes tipo 1 é considerada uma doença autoimune crônica com manifestações agudas. O risco de diabetes tipo 1 é maior do que 50% caso auto- anticorpos estejam presentes em mais de um antígeno de células beta. Se esses anticorpos aparecerem em uma idade jovem, o risco clínico de desenvolvimento de diabetes se torna particularmente elevado. A diabetes tipo 2 resulta provavelmente de interações genéticas complexas, cuja expressão é modificada por fatores ambientais, tais como peso corporal e exercícios físicos. Os indivíduos portadores de diabetes do tipo 2 consistentemente demonstram três anormalidades cardinais: (1) resistência à ação da insulina em tecidos periféricos (especialmente o músculo e a gordura, mas também o fígado); (2) secreção de insulina defeituosa, particularmente em resposta a um estímulo de glicose; e (3) aumento da produção de glicose pelo fígado. Fatores genéticos: a diabetes tipo 2 mostra uma clara agregação familiar, mas parece que a doença é um resultado de uma combinação de defeitos genéticos ou da presença simultânea de múltiplos genes de suscetibilidade associada à presença de fatores ambientais predisponentes. Secreção de insulina: os níveis de insulina em jejum na diabetes tipo 2 geralmente são normais ou elevados, mas são ainda relativamente baixos, dado o grau de hiperglicemia coexistente. À medida que a diabetes tipo 2 progride, com o aumento da hiperglicemia, os níveis basais de insulina não conseguem manter-se e podem até diminuir. Resistência à insulina: a diabetes tipo 2 caracteriza-se por uma ação prejudicada da insulina (diminuição da sensibilidade à insulina), juntamente com uma resposta máxima reduzida, particularmente no ambiente de hiperglicemia severa. Classificação da Diabetes Um nível de glicose no sangue ocasional de 200 mg/dLou mais, associado aos sintomas de diabetes (poliúria, polidipsia e perda de peso); Um nível de glicose em jejum de 126 mg/dLou mais (sem ingestão calórica por mais de 8 horas); Um nível de glicose pós-prandial de 2 horas superior a 200 mg/dL. O diagnóstico deve ser confirmado por uma segunda medição, em um dia diferente. Diabetes melito tipo 1 Esta forma de diabetes é predominantemente genética ou hereditária. auto-anticorpos envolvidos na destruição autoimune celular mediada das células beta do pâncreas. Na diabetes tipo 1, a insulina circulante é essencialmente ausente, os níveis de glucagon no plasma estão elevados, e células b pancreáticas não respondem a todos os estímulos insulinogênicos. Os pacientes com diabetes tipo 1 necessitam de insulina exógena para reverter esse estado catabólico, prevenir cetoacidose diabética, reduzir a hiperglucagonemia e reduzir os níveis elevados de glicose no sangue. Diabetes melito tipo 2 Os níveis circulantes de insulina endógena são adequados para prevenir a cetoacidose (insulinopletórica) no estado de repouso, mas são subnormais ou inadequados para atender às necessidades crescentes do indivíduo, causadas por uma insensibilidade dos tecidos. A diabetes melito tipo 2 é uma forma não cetótica de diabetes, a qual não está ligada aos marcadores de antígeno de linfócitos humanos no sexto cromossomo; esse tipo de diabetes não tem anticorpos de ilhotas. Existe uma alta incidência de obesidade na diabetes melito tipo 2. A maioria dos pacientes portadores de diabetes tipo 2 (mas não todos) não necessita de terapia com insulina exógena para manter a vida. Independentemente do peso corporal, os tecidos dos pacientes com diabetes tipo 2 demonstram algum grau de insensibilidade à insulina, produzida por uma falta de receptores de insulina em tecidos periféricos ou por uma insensibilidade dos receptores existentes. Diabetes melito gestacional A diabetes melito gestacional é caracterizada porum resultado anormal no teste de tolerância oral à glicose, durante a gravidez, que pode reverter ao normal no período pós-parto ou permanecer anormal. A patogênese clínica da diabetes melito gestacional é semelhante à da diabetes melito tipo 2, enquanto a apresentação clínica é geralmente de hiperglicemia não cetótica durante a gravidez. Tolerância à glicose diminuída/tolerância à glicose diminuída em jejum A tolerância à glicose diminuída (TGD) e a glicemia de jejum alterada (GJA) são condições intermediárias na transição entre a normalidade e a diabetes. As pessoas com TGD ou GJA estão em alto risco de progressão para o diabetes tipo 2, embora essa transição não seja inevitável. Os indivíduos com tolerância à glicose diminuída têm níveis de glicose no plasma entre 140 e 199 mg/dL após um teste de tolerância à glicose por via oral de 2 horas. Estes níveis são mais elevados do que o normal, mas não suficientemente elevados para que o indivíduo seja classificado como diabético. Pessoas com tolerância à glicose diminuída apresentam mais risco de desenvolver diabetes e doenças cardiovasculares futuramente. No caso da tolerância à glicose diminuída em jejum, o nível de açúcar no sangue em jejum é de 100 a 125 mg/dL após uma noite de jejum, o que representa um nível mais elevado do que o normal, mas não alto o suficiente para ser classificado como diabetes. A apresentação clínica dessas condições é geralmente representada por hiperglicemia não cetótica, resistência à insulina, hiperinsulinismo e, frequentemente, obesidade. A tolerância à glicose diminuída e a tolerância à glicose diminuída em jejum diferem de outras formas de diabetes melito de modo que tais alterações não estão normalmente associadas com as complicações da diabetes melito. Muitos pacientes com tolerância à glicose diminuída e tolerância à glicose diminuída em jejum revertem espontaneamente para tolerância normal à glicose. Hiperglicemia Qualquer um dos seguintes fatores, todos os quais aumentam a demanda do corpo pela insulina, pode precipitar a hiperglicemia: Ganho de peso Cessação do exercício Gravidez Hipertireoidismo ou medicação tireóidea Terapia com adrenalina Corticoterapia Infecção aguda Febre A cetoacidose diabética ocorre mais frequentemente em pacientes com diabetes tipo 1 e está associada com administração inadequada de insulina, infecção ou infarto do miocárdio. A cetoacidose diabética pode ocorrer em pacientes com diabetes tipo 2 e pode ser associada com qualquer tipo de medicação, terapia com adrenalina ou estresse. A cetoacidose diabética se desenvolve lentamente, produzindo de um dia a duas semanas de mal-estar, náuseas, polidipsia, poliúria e polifagia em indivíduos mais jovens. Em tais situações, não é incomum que o paciente experimente vômitos e falta de ar. É altamente improvável que a cetoacidose diabética se apresente como uma emergência médica aguda no ambiente do consultório odontológico. Hipoglicemia Diferentemente da hiperglicemia, a hipoglicemia pode se desenvolver rapidamente, especialmente em pacientes que recebem a terapia injetável de insulina, os quais podem perder a consciência dentro de minutos após a administração da insulina. Em pacientes tratados com agentes hipoglicemiantes orais, o aparecimento dos sintomas é mais lento e geralmente se desenvolve ao longo de várias horas. Os seguintes fatores diminuem a exigência do organismo pela insulina: Perda de peso Aumento da atividade física Interrupção da gravidez Interrupção de outras terapias medicamentosas (p. ex., adrenalina, medicamentos para a tireoide ou corticosteroides) Recuperação frente a infecção e febre As causas mais comuns de hipoglicemia incluem omissão ou atraso de refeições, excesso de exercício antes das refeições, ou aumento da dose de insulina. O tratamento odontológico representa uma ameaça potencial para pacientes diabéticos e para o seu controle da doença. O estresse – fisiológico e psicológico – aumenta a exigência do organismo pela insulina, o que aumenta a chance de o paciente odontológico diabético desenvolver hiperglicemia. (Tanto o cirurgião-dentista quanto o paciente devem estar cientes desta possibilidade, para que o plano de tratamento possa ser modificado e, se necessário, também a dose de insulina do paciente, a fim de se evitar uma progressão do quadro para coma diabético). Além disso, o tratamento odontológico pode necessitar de alterações nos hábitos alimentares desses pacientes, por períodos de tempo variáveis: alguns pacientes propositadamente evitam comer antes de consultas odontológicas, para que seus dentes fiquem “limpos”; o cirurgião-dentista, em caso de necessidade, pode precisar agendar o tratamento durante um horário normal de almoço ou jantar, obrigando o paciente a tardar ou ainda perder uma refeição. O procedimento odontológico também pode acabar atrasando a ingestão de alimentos pelo paciente. A anestesia prolongada dos tecidos moles após tratamento e procedimentos odontológicos extensos (p. ex., cirurgia periodontal ou oral ou endodontia), o uso de anestésicos locais de longa duração, como a bupivacaína, podem atrasar a próxima refeição do paciente, aumentando o risco de hipoglicemia. Tratamento da diabetes melito tipo 1 O tratamento da diabetes tipo 1 requer um balanceamento preciso da insulina administrada com a ingestão de carboidratos e com a atividade física. Duas abordagens são comumente empregadas: Na abordagem clássica para o tratamento da diabetes melito, os prestadores de cuidados de saúde têm prescrito estilos de vida muito regulares, sob a forma de planos de restrições nas refeições, bem como doses fixas de insulina para corresponder ao estilo de vida. Amaioria dos pacientes não consegue aderir a esses planos de estilo de vida de forma consistente ao longo de períodos prolongados, como semanas, meses ou anos. Atualmente, a maioria das autoridades defende uma abordagem pela qual os pacientes podem fazer escolhas de estilo de vida bastante irrestritas, ajustando as doses de insulina para combinar essas opções, utilizando uma técnica de injeção diária múltipla. Vários esquemas de injeções diárias e bombas de insulina são geralmente apropriados para todos os pacientes com diabetes melito tipo 1, bem como para muitos com diabetes melito tipo 2. Tal terapia intensiva tem demonstrado enormes benefícios em pacientes com controle errante da glicose, hipoglicemia grave, cetoacidose diabética recorrente, estilos de vida irregulares, programas de exercícios pesados e gravidez. Os pacientes com tipo 1 e aqueles com diabetes 2 fazem em casa um automonitoramento da glicose no sangue, a fim de auxiliar no tratamento da diabetes melito no dia a dia. Isto tem permitido uma maior flexibilidade no tratamento da diabetes e permite alcançar um melhor controle glicêmico. Este melhor controle é especialmente importante para os pacientes portadores de diabetes tipo 1 que tentam conseguir “justo” controle metabólico. Monitores de glicose portáteis são dispositivos pequenos operados por bateria. Tratamento da diabetes melito tipo 2 Os pacientes portadores de diabetes tipo 2 podem ser tratados através da manutenção de um controle sobre a dieta, da atividade física e da administração de medicamentos antidiabéticos orais e de insulina, conforme necessário. Muitos pacientes com diabetes tipo 2 utilizam a combinação de perda de peso, exercícios físicos e controle da dieta. No entanto, quando este regime falha, o que, infelizmente, ocorre com frequência, medicamentos antidiabéticos orais devem ser prescritos. Agentes de sulfonilureia (tais como tolbutamida, tolazamida, clorpropamida e acetohexamida) e medicamentos de sulfonilureia mais recentes de segunda geração (gliburida e glipizida)continuam a ser os fármacos orais mais amplamente prescritos para o tratamento da hiperglicemia. Os pacientes com diabetes tipo 1 necessitam de insulina para controlar os níveis de glicose no sangue. Além disso, mais pacientes não obesos com diabetes tipo 2, cuja hiperglicemia não responde à terapia de dieta isoladamente ou em combinação com medicamentos antidiabéticos orais, requerem insulina. Considerações sobre o tratamento odontológico As complicações orais da diabetes melito não controlada podem incluir xerostomia, infecção, má cicatrização, aumento da incidência e da severidade de cáries, candidíase, gengivite, doença periodontal, abscessos periapicais e síndrome de ardência bucal. Os pacientes portadores de diabetes do tipo 2 geralmente são menos propensos a flutuações agudas nos níveis de glicose no sangue e são mais capazes de tolerar todas as formas de tratamento odontológico, incluindo anestesia geral, sedação parenteral e anestesia local, com mínimas preocupações. Modificações no plano de tratamento odontológico podem ser consideradas nos pacientes portadores de diabetes tipo 1 (que são mais propensos à cetoacidose diabética), através do uso do protocolo de redução de estresse. Os pacientes devem também ser aconselhados a tentar manter seus hábitos alimentares normais, fazendo uso de sua dose habitual de insulina e comendo um café da manhã normal, antes de se dirigirem à consulta odontológica. O agendamento de consultas odontológicas no início do dia, pela manhã, também ajuda a minimizar os risco de desenvolvimento de episódios de hipoglicemia. O uso de anestésicos locais adequados (p. ex., anestésicos locais de ação curta [mepivacaína pura] versus anestésicos locais de ação mais prolongada [bupivacaína com adrenalina]) minimiza a deficiência alimentar pós-tratamento odontológico. Se a natureza do procedimento odontológico for passível de prejudicar os hábitos alimentares normais do paciente, quer antes (como sedação intravenosa) ou após uma cirurgia (como a cirurgia em si), a dose de insulina deve ser ajustada de acordo. Foi demonstrado que a injeção pós-tratamento odontológico de mesilato de fentolamina (OraVerse®), um bloqueador alfa-adrenérgico, reduz significativamente a duração do efeito residual da anestesia local nos tecidos moles. Quanto mais rápido ocorrer o retorno da sensação e da função normal dos tecidos, menores serão os riscos de lesão dos tecidos moles por auto-agressão à língua e/ou aos lábios. Além disso, a consulta médica deve ser considerada para pacientes portadores de diabetes tipo 1 que necessitam de grandes doses de insulina para manter níveis adequados de glicose no sangue (> 40 unidades diárias) ou em qualquer caso em que subsistam dúvidas sobre o ajuste da dose de insulina do paciente. O dentista deve encorajar os pacientes diabéticos a trazerem consigo o seu medidor de glicose para as consultas odontológicas. Sempre que um dentista tratar muitos pacientes diabéticos, sugere-se que um medidor de glicose seja comprado, permitindo que o mesmo possa verificar o sangue dos pacientes, obtendo uma medição exata (medidores de glicose são precisos dentro de uma faixa de 5%) em 1 minuto. Se os níveis sanguíneos estiverem baixos ou na extremidade inferior do intervalo normal de glicose sanguínea em jejum (80 a 120 mg/dL), um carboidrato de ação rápida pode ser administrado antes do início do tratamento odontológico. Os pacientes diabéticos são mais capazes de tolerar períodos transitórios de hiperglicemia do que períodos de hipoglicemia. Após extensos procedimentos odontológicos (p. ex., cirurgia oral ou periodontal), reconstrução ou endodontia, pacientes com diabetes tipo 1 devem ser instruídos a verificarem os seus níveis de glicose sanguínea com mais frequência durante os próximos dias. Se os níveis de glicose ou cetona tornam-se elevados, o paciente deve modificar a dose de insulina e contatar o seu médico da atenção primária. Um paciente diabético que tenha a doença sob controle justo geralmente não requer antibióticos após procedimentos cirúrgicos. Hiperglicemia A hiperglicemia, ou nível de açúcar elevado no sangue, pode manifestar-se de diferentes maneiras, dependendo da gravidade da diabetes. Ela pode ser evidente em pacientes com diabetes não previamente diagnosticada ou em pacientes com diabetes conhecida, mas que negligenciam seus esquemas terapêuticos. Pacientes com diabetes tipo 2 pode não apresentar quaisquer sinais ou sintomas clínicos de hiperglicemia. Muito comumente, esta forma de diabetes é detectada durante um exame físico de rotina, através de evidências de níveis elevados de glicose no sangue. Geralmente, a diabetes melito é diagnosticada pela primeira vez após um episódio clínico provocado por um grau avançado de aterosclerose, associada com a doença. O infarto do miocárdio em um homem ou uma mulher mais jovem, ou o desenvolvimento de insuficiência vascular periférica em uma idade precoce, também pode levar o cirurgião-dentista a suspeitar de diabetes. Pacientes com diabetes tipo 1 apresentam um quadro clínico mais grave de hiperglicemia. A tríade clássica da diabetes – polidipsia, polifagia e poliúria – torna-se evidente por um dia ou mais e está associada a acentuada perda de peso, fadiga, dor de cabeça, visão turva, dor abdominal, náuseas e vômitos, constipação, dispneia e estupor mental, podendo evoluir para um estado de inconsciência conhecido como coma diabético. Os sinais clínicos de hiperglicemia incluem uma aparência florida da face (cor vermelha brilhante) associada com a pele quente e seca, sinais de desidratação. As respirações são comumente profundas e rápidas (respiração de Kussmaul), com um cheiro doce de acetona, que se torna evidente se a cetoacidose diabética estiver presente. A frequência cardíaca fica acelerada, enquanto a pressão arterial torna-se inferior à normal. Esta combinação de taquicardia e hipotensão é mais uma indicação de desidratação e depleção de sal. Hipoglicemia A hipoglicemia, a segunda e ainda mais comum complicação aguda da diabetes melito, pode progredir rapidamente para a perda de consciência, ou pode assumir uma forma relativamente suave, representando um quadro clínico menos ameaçador. Os episódios de hipoglicemia geralmente se desenvolvem quando o paciente permanece sem se alimentar por várias horas. Inicialmente, a hipoglicemia geralmente se manifesta como uma função cerebral diminuída, tal como uma incapacidade de realizar cálculos simples, diminuição da espontaneidade em um diálogo e mudanças de humor (p. ex., letargia). Os sinais e sintomas de envolvimento do sistema nervoso central incluem fome, náusea e um aumento da motilidade gástrica. Isto é seguido por uma fase de hiperatividade simpática, clinicamente marcada por sinais de aumento da atividade adrenérgica, que incluem sudorese, taquicardia, piloereção e aumento da ansiedade. A pele torna-se fria e úmida, em uma marcada distinção para a pele quente e seca da hiperglicemia. O indivíduo se encontra consciente, mas pode apresentar padrões de comportamento estranho, que muitas vezes levam os espectadores a suspeitarem de intoxicação por álcool ou drogas. Se a condição progride, o paciente hipoglicêmico pode perder a consciência e convulsões podem se desenvolver. Uma vez que a hipoglicemia é um problema mais agudo do que a hiperglicemia, pacientes diabéticos sempre carregam consigo uma fonte de carboidratos, tal como um pacote de açúcar, uma bala ou caramelo. Comprimidos contendo 3 g de glicose (Dextrosol) também se encontram disponíveis. Também é recomendado que cada paciente diabético que faça terapia com insulina deva receber uma ampola de glucagon (1 mg) e que o seu médico da atenção primária instrua sua família e amigosquanto à técnica de injeção intramuscular (IM), no caso de o paciente perder a consciência ou se recusar a ingerir alimentos. Além disso, o estado de consciência alterada produzido pela hipoglicemia pode mimetizar uma intoxicação por drogas. Desta forma, os pacientes diabéticos podem não ser capazes de responder de forma racional para um interrogatório. Insulina e glicose sanguínea A glicose é a principal fonte de combustível e de energia para todas as células do corpo. Na verdade, a glicose é o único combustível que o cérebro pode utilizar para reconstituir a sua necessidade contínua. Um nível de açúcar no sangue muito alto (hiperglicemia) ou muito baixo (hipoglicemia) produz diversos graus de disfunção do sistema nervoso central (alteração do nível de consciência). A insulina é o fator mais importante na regulação do nível sanguíneo de glicose. É sintetizada nas células beta do pâncreas e rapidamente secretada para o sangue em resposta a elevações nos níveis de açúcar no sangue (p. ex., após uma refeição). A meia-vida da insulina no sangue é de 3 a 10 minutos e sua biotransformação ocorre no fígado e nos rins. A insulina promove a absorção da glicose nas células do corpo e seu armazenamento no fígado, sob a forma de glicogênio; também promove a absorção de ácidos graxos e aminoácidos pelas células e sua posterior conversão em formas de armazenamento (triglicerídeos e proteínas). Desta forma, a insulina produz uma diminuição dos níveis de glicose no sangue, impedindo a sua perda através da excreção renal. Sem insulina, as membranas celulares de muitas células são impermeáveis à glicose. As células musculares e adiposas são insulino-dependentes; exigem a presença de insulina para permitir que a glicose atravesse a membrana celular, mesmo em estados hiperglicêmicos. Na ausência de insulina, estas células quebram os triglicerídeos em ácidos graxos, que o corpo pode utilizar como uma fonte de energia alternativa. Este processo dá origem ao estado hiperglicêmico conhecido como cetoacidose diabética. Outros tecidos e órgãos, como o tecido nervoso (incluindo o cérebro), os rins e o tecido hepático, não são dependentes de insulina. Estes tecidos podem transferir a glicose através das membranas celulares sem a insulina. Na fase de jejum, a diminuição dos níveis de açúcar no sangue (hipoglicemia) inibe a secreção de insulina. As células do corpo continuam a exigir glicose, no entanto, existem vários mecanismos através dos quais a glicose se torna disponível. O objetivo desses mecanismos é o de fornecer ao sistema nervoso central o nível mínimo de glicose necessário para manter a função normal. O corpo decompõe os estoques de glicogênio no fígado em glicose, através de um processo conhecido como glicogenólise, enquanto os aminoácidos são convertidos em glicose através de um processo chamado gliconeogênese. Esta glicose recém-formada se torna principalmente disponível para o sistema nervoso central; de fato, células insulino-dependentes realmente sofrem uma diminuição da absorção da glicose. O combustível para estas células (p. ex., músculo e tecido adiposo) é fornecido através da quebra dos triglicerídeos, a forma de armazenamento da gordura, em ácidos graxos livres. Assim, a insulina é um sinal para o corpo que o mesmo fora alimentado, bem como um meio de manutenção da homeostase da glicose. Após uma refeição, o nível arterial elevado de insulina diz às células do organismo que elas devem absorver e armazenar qualquer combustível que não seja imediatamente necessário para as necessidades metabólicas. No estado de jejum, os baixos níveis de insulina no corpo dizem às células que nenhum alimento está sendo ingerido e que as formas de armazenamento dos nutrientes devem ser utilizadas como forma de combustível. Hiperglicemia, cetose e acidose Depois que um indivíduo diabético ou não diabético ingere uma refeição, a hiperglicemia se desenvolve. No entanto, o nível de glicose no sangue do paciente diabético permanece elevado durante um período prolongado, devido a uma falta de insulina (tipo 1) ou a uma falta de resposta à insulina circulante, nos tecidos (tipo 2). Outros fatores que aumentam os níveis de glicose no sangue incluem um aumento na produção hepática de glicose proveniente da glicogenólise e uma diminuição na absorção da glicose pelos tecidos periféricos dependentes de insulina (músculo e tecido adiposo). Importante: A falta de glicose manifesta-se ainda mais com um aumento das atividades do sistema nervoso simpático e parassimpático. Parte desta resposta é mediada pelo aumento da secreção de adrenalina, o que produz aumentos na pressão sistólica e na pressão arterial média, aumenta a transpiração e produz taquicardia. Quando o nível de açúcar no sangue cai ainda mais, pode haver perda de consciência, o paciente pode entrar em um estado de coma hipoglicêmico ou choque de insulina. Durante esta fase, os pacientes diabéticos frequentemente desenvolvem convulsões tônico-clônicas, que podem levar à disfunção cerebral permanente, se não forem tratadas rapidamente. Tratamento Outro fator importante no diagnóstico diferencial é a aparência quente e seca vista na hiperglicemia, que contrasta com a aparência fria e úmida da hipoglicemia. O odor de corpos cetônicos na respiração confirma ainda mais o diagnóstico de hiperglicemia. O tratamento definitivo da hiperglicemia, da cetose e da acidose consiste na administração de insulina para normalizar o metabolismo do corpo, restaurar a deficiência de fluidos e de eletrólitos, determinar o fator precipitante dessa hiperglicemia, assim como evitar complicações. Os seguintes sinais servem como pistas de diagnóstico quanto à presença de hiperglicemia e suas manifestações de emergência, a cetoacidose diabética e o coma diabético: Hiperglicemia (> 250 mg/dL) Acidose com o pH sanguíneo de 7.3 Pele seca, quente Respirações de Kussmaul Respiração com odor doce, frutado, cetônico Pulso fraco e rápido Pressão arterial entre normal e baixa Nível de consciência alterado Hiperglicemia – paciente consciente O paciente que se apresenta para o tratamento odontológico exibindo sinais e sintomas de hiperglicemia representa um risco de nível 4 de acordo com a American Society of Anesthesiologists e não deve receber qualquer tratamento odontológico, até que um médico seja consultado. Na maioria dos casos, a consulta médica resulta no agendamento de uma consulta imediata entre o paciente e o médico ou ainda em hospitalização. A razão para isso é que, se a hipoglicemia não for tratada rapidamente, o paciente desenvolve maior probabilidade de morrer ou sofrer danos neurológicos graves. Hiperglicemia - paciente inconsciente Etapas Interrupção do tratamento odontológico; Ativação da equipe de emergência do consultório odontológico; P(posição); Remoção de materiais odontológicos da boca; C → a → b (suporte básico de vida), conforme necessário. D (tratamento definitivo) Solicitação da assistência médica Infusão iv (se disponível) Administração de oxigênio Transporte do paciente para o hospital Os seguintes sinais proporcionam pistas para o diagnóstico de presença de hipoglicemia, também conhecida como choque de insulina: Fraqueza, tonturas Palidez, pele úmida Frequência respiratória normal ou diminuída Dor de cabeça Alteração do nível de consciência Hipoglicemia – paciente consciente e responsivo Reconhecimento da hipoglicemia Interrupção do procedimento odontológico P (posição) C → a → b (sbv, conforme indicado) D (tratamento definitivo) Administração de carboidratos orais
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