Prévia do material em texto
1 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P DMG 5M2 – DIABETES GESTACIONAL DIABETES E GESTAÇÃO: • Diabetes é a comorbidade mais comum na gestação • Aumento de 40% da incidência de 1989 a 2004 • Em 2006, 4,2% das gestações dos EUA foram concomitantes a diabetes prévio • A prevalência de DMG varia de acordo com a definição TIPOS DE DIABETES: • Diabetes Mellitus tipo 1: deficiência absoluta de insulina por destruição das células B pancreáticas. • Diabetes Mellitus tipo 2: secreção defeituosa de insulina, resistência à insulina e/ou produção aumentada de glicose. Diabetes Gestacional: estado de intolerância transitória a glicose (insuficiência insulínica) induzida pela gestação. Dividido em: • DMG A1: glicemia adequadamente controlada com dieta. • DMG A2: glicemia descontrolada ou necessita de insulina para controle (é a que não controlou com a dieta). DM PRÉVIO E GESTAÇÃO: Níveis glicêmicos aumentados e lesão vascular preexistente geram riscos à gestação. Consequências maternas: • Maior risco de pré-eclampsia • Maior risco de infecções – candidíase, infecção urinária • Piora da doença de base: neuropatia, retinopatia, cetoacidose Muitas são únicas dessas pcts e não acontecem em DMG. Consequências fetais: • Mais risco de abortamento • Malformações fetais – a medida que a glicemia aumenta • Parto prematuro • Polidrâmnio • Crescimento fetal excessivo • Morte súbita intraútero a partir de 35 semanas (aprox.) – desequilíbrio metabólico e a partir de certo momento que eles tem maior demanda metabólica, há risco de morte súbita. Uma hemoglobina glicada menor tem menos má formação. Consequências neonatais: • HIPOGLICEMIA • Desconforto repiratório • Hiperbilirrubinemia e policitemia • Miocardiopatia • Risco aumentado de DM no futuro DMG FISIOPATOLOGIA: • Gestação: alterações no metabolismo dos carboidratos • Placenta: BHCG e lactogênio placentário – vão diminuir a atuação da insulina no receptor de insulina. • Aumento da produção fisiológica de: cortisol, prolactina – também reduz a atuação da insulina. • Hormônios reduzem atuação da insulina no receptor • Produção de insulina aumenta para compensar • Paciente não consegue aumentar produção de insulina: hiperglicemia A gestação induz o estado de resistência a insulina. Para compensar, o corpo aumenta a produção de insulina. Mas algumas pcts não são capazes de aumentar essa produção suficiente para manter os níveis adequados e aí apresentam hiperglicemia. A insulina age menos por conta de hormônios da placenta e do corpo da mãe. DMG: CONSEQUÊNCIAS • DMG - Não há níveis glicêmicos aumentados na fase embrionária nem lesão vascular preexistente Então não vai ser uma preocupação a questão da má formação fetal, da taxa aumentada de abortamento. Mas a medida que a gestação vai se desenvolvendo, os hormônios vão sendo produzidos, essa pct não consegue produzir insulina o suficiente para compensar o estado de resistência a insulina, começa a ter um nível glicêmico aumentado e aí sim começa a ter consequência para o feto. • Glicose atravessa a placenta e insulina não • Produção fetal de insulina elevada → produção de IGF e GH A linha laranja no meio é a barreira placentária. A glicose que atravessa a barreira chega no feto e estimula o pâncreas fetal a produzir uma quantidade aumentada de insulina. Essa produção aumentada de 2 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P insulina também leva o pâncreas fetal a produzir IGF1 e GH (hormônio do crescimento). Então é a ação desses 3 hormônios (insulina, IGF1 e GH) que provocam um crescimento excessivo do feto. Ambiente hiperglicêmico e hiperinsulinêmico: • Polidrâmnio – excesso de líquido amniótico • Crescimento fetal excessivo • Morte súbita intraútero a partir de 38 semanas (aprox.) • Hipoglicemia neonatal – o pâncreas fetal produz muita insulina e uma vez que acontece o parto, para de chegar a glicose materna e enquanto isso o pâncreas continua a produzir a insulina fazendo com que a glicemia caia subitamente. DMG FATORES DE RISCO: Rastreamento: apesar da existência comprovada de fatores de risco, o rastreamento deve ser universal. Fatores de risco não participam do rastreamento, pq o rastreamento é universal. Rastreamos DMG para manter os níveis glicêmicos da pct em um nível que proteja elas e o feto das consequências. Então é necessário saber os níveis que induzem essas consequências. DMG HISTÓRICO Hiperglicemia e Resultados Adversos na Gravidez (Hyperglycemia and Adverse Pregnancy Outcomes – HAPO, 2008): estudo observacional prospectivo que incluiu 25.000 gestantes em vários países. Correlação positiva e linear (diretamente proporcional) entre glicemia materna e desfechos adversos: • Pré-eclampsia • Cesariana • Macrossomia • Distócia de ombro • Hipoglicemia neonatal • Elevação na concentração de peptídeo C no sangue do cordão umbilical). – Indicador de sofrimento fetal Cada um dos valores de glicemia da curva é preditor independente de desfechos adversos. Então se faz uma curva de glicose e a pct tem um dos valores alterados, qualquer um deles que seja, ela tem um risco aumentado de ter os desfechos adversos. IADPSG 2010: 3 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P • DM prévio: Hemoglobina glicada ≥ 6,5%; glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL; ou glicemia ocasional ≥ 200 mg/dL • DMG: Glicemia de jejum ≥ 92 mg/dL e ≤ 125 mg/dL; • DMG: Glicemia de 1h após TTGO 75g (curva de glicose) ≥ 180 mg/dL e ≤ 199 mg/dL • DMG: Glicemia de 2h após TTGO 75g ≥ 153 mg/dL e ≤ 199 mg/dL • Escolha dos pontos de corte: risco 75% maior (desfechos adversos) de peso >p90, gordura corporal >p90 ou peptídeo C no cordão umbilical >p90 Consequências do protocolo IADPSG: • Aumento considerável dos diagnósticos: no Brasil aprox. de 7,6% a 18% • Muitas pacientes obterão controle glicêmico e redução do risco perinatal com dieta • Redução efetiva de complicações perinatais associadas a DMG • São Paulo, agosto de 2016: fórum com Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Organização Panamericana de Saúde (Opas/OMS Brasil) e Ministério da Saúde • Diretrizes para rastreamento de DMG, MS/FEBRASGO - FEBRASGO. Rastreamento e diagnóstico de diabetes mellitus gestacional no Brasil. FEMINA 2019;47(11): 786-96. Novas diretrizes brasileiras de rastreamento de DMG (2019) • Gestações complicadas pelo diabetes apresentam risco aumentado de resultados perinatais desfavoráveis, • Intuito brasileiro de redução do componente neonatal da mortalidade infantil, • Potencial de prevenção de risco para obesidade e DM do tipo 2 para a mulher com antecedente de DMG e seus filhos. • IADPSG: exame mais sensível para diagnóstico é TTGO 75g • Estudo Brasileiro de Diabetes Gestacional: 86% das pacientes diagnosticadas por TTGO tem glicemia de jejum alterada • Dificuldade técnica e econômica de disponibilizar TTGO75g para todas as gestantes brasileiras Por essa dificuldade, o MS propõe um rastreamento que tem dois modelos: um que usa a curva de glicose quando disponível e outro que não usa curva de glicose. Se o pré-natal começa antes de 20 semanas, faz glicemia de jejum imediatamente no primeiro trimestre. • Glicemia de jejum maior que 126 é diagnóstico de DM prévio • De 92 até 126 já dá o diagnóstico para essa pct de DMG • Se for menor que 92 essa pct está ok por enquanto e deve fazer a curva de glicose entre 24 e 28 semanas. Importante saber os valores do TOTG! Se não tiver a curva de glicose – simplesmente repete a glicemia de jejum entre 24 e 28 semanas. Maior que 92 e menor que 126 é diabetes gestacional. Maior que 126 é DM prévio. DMG – MANEJO Primeira linha de tratamento: conservadora – dieta restritiva em carboidratos e exercício físico. • Explicar doença paraa gestante • Aconselhar atividade física e dieta: importância do apoio multidisciplinar • 2 semanas para iniciar dieta e exercícios • Iniciar Perfil Glicêmico Simplificado para acompanhamento PGS: Uma medida de glicose capilar em jejum e 3 pós prandiais. 4 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P Jejum + 3 pós prandiais (1h ou 2h após) Valores de referência: ◦ Jejum <95 ◦ 1h pós refeição < 140 ◦ 2h pós refeição < 120 Objetivo: >70% normal ou >80% normal se PFE> p70 Não precisa estar todos valores normais, apenas 70% deles. Se o peso fetal estimado estiver acima do percentil 70 é necessário 80% dos valores normais. Jejum 2h pós café 2h pós almoço 2h pós janta Dia 1 99 116 128 99 Dia 2 100 110 100 108 Dia 3 102 98 118 122 Dia 4 101 101 119 135 Dia 5 106 100 126 119 Dia 6 98 99 106 102 Dia 7 102 122 110 113 Controle adequado com dieta: • DMG A1 • Manter dieta • Manter PGS (pode ser menos rigoroso) Controle inadequado com dieta: • DMG A2 • Iniciar terapia medicamentosa • Manter controle (PGS ou Perfil Glicêmico Ampliado) HIPOGLICEMIANTES ORAIS (METFORMINA) • Atravessa a barreira placentária • Estudos vem demonstrando segurança (até 2 anos de vida do bebê) • Eficácia comprovada – liberada para uso na gestação • Preocupação com efeitos de longo prazo • Possível manter em pacientes que já usam metformina • Pode ser útil para “poupar insulina” • ACOG ainda considera Insulina primeira linha de tratamento • Não atrasar o controle glicêmico com insulina insistindo no controle com hipoglicemiantes orais INSULINA: • Não atravessa a barreira placentária • Esquema de ação lenta + ação rápida Ação lenta cobrindo a insulina basal e a rápida fazendo o pico pós-prandial • Dose inicial: 0,7-1,0 UI/kg/dia • Dividido: ½ lenta + ½ rápida • Dividido em múltiplas (3) doses ao longo do dia • Possível focar em descontroles pontuais Insulina: exemplo 1 Paciente de 90 Kg com o seguinte PGS: Valor de referência: em jejum < 95 e 2h pós-prandial < 120. Dose inicial total 90 UI/dia: 45 UI NPH, 45 UI regular 15 UI NPH e 15 UI regular com o café da manhã 15 UI NPH e 15 UI regular com o almoço 15 UI NPH e 15 UI regular com a janta Insulina: exemplo 2 Paciente de 66 Kgs com o seguinte PGS: Dose inicial total seria de 66 UI/dia: 33 UI NPH, 33 UI regular Para corrigir descontrole marcado no jejum prescrita apenas a dose de 11 UI de insulina NPH na janta. Nesse caso as pós-prandiais estão boas, o que está alterado é o jejum – então não precisa usar insulina o dia inteiro. Ela tem um descontrole de jejum. As doses são de NPH no café, no almoço e no jantar. Qual dessas doses que vai agir quando ela estiver em jejum? É a NPH do jantar. Então nesse caso pode fazer só as 11 UI de NPH no jantar. Insulina: exemplo 3 Paciente de 78 Kgs com o seguinte PGS: 5 Laís Flauzino | GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA | 7°P Dose inicial total seria de 78 UI/dia: 39 UI NPH, 39 UI regular Para corrigir descontrole marcado no pós almoço e janta, podemos tentar apenas as doses de 13 UI regular com almoço e janta. Insulina: • Ajustar conforme medidas diárias • Se necessário, ajustar internada para fazer controle diário e fazer ajuste mais rápido • Pacientes em uso de insulina devem idealmente fazer PGA: ◦ Jejum ◦ Pós-café ◦ Pré-almoço ◦ Pós-almoço ◦ Pré-janta ◦ Pós-janta ◦ 3h da madrugada PGA – Perfil glicêmico ampliado DMG – MANEJO DO PARTO (ACOG) Parto: • DMGA1: conduta expectante até 41 semanas • DMGA2 bem controlada: indução de parto entre 39s e 39s6d reduz riscos • DMGA2 mal controlada: parto às 38 semanas previne complicações e óbito súbito Parto: • Avaliação de peso por USG ao termo • USG SOBRESTIMA PESO! • Considerar cesariana se PFE > 4000 DMAG – CUIDADOS PÓS PARTO: Sai a placenta, os hormônios normalizam e a DMG passa. Então a pct que fazia insulina, suspende a medicação. Mas não acaba o cuidado com essa pct. • Quase 1/3 apresenta DM ou pré-DM após o parto • Entre 15 e 70% desenvolverá DM2 em algum ponto • 7x mais risco de desenvolver DM2 • Rastrear TODAS AS PACIENTES com DMG de 4 a 12 semanas após o parto 6 semanas após o parto faz uma curva de glicose. Se tiver maior que 126 em jejum ou maior que 200 na 2ª hora tem DM. se tem entre 100 e 125, entre 140 e 199 é prediabetes. Referências: GDM Practice Bulletin, ACOG - Gestational diabetes mellitus. ACOG Practice Bulletin No. 190. American College of Obstetricians and Gynecologists. Obstet Gynecol 2018;131:e49–64. Atenção ao PNAR, MS - Manual de gestação de alto risco [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2022. Diretrizes para rastreamento de DMG, MS/FEBRASGO - FEBRASGO. Rastreamento e diagnóstico de diabetes mellitus gestacional no Brasil. FEMINA 2019;47(11): 786-96.