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Evolução da Ciência do Processo

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Introdução ao Estudo do Direito Processual 2022.2 
 Professora: Diana Perez 
 Aluna: Ana Flora Lima 
Evolução da Ciência do 
Processo 
Fases Metodológicas da Evolução da Ciência do 
Processo 
• Sincretismo/Praxismo/Imanentismo: 
- Essa fase perdura até meados do século XIX; 
- O que marca essa fase é o processo não ser estudado de forma autônoma; 
- Não se via o Processo como uma ciência e como algo distinto do Direito Material; 
- Nessa fase, o Processo seria o Direito Material violado, Direito Material levado a 
Juízo; 
- Direito Processual como algo imanente ao Direito Material; 
- Preocupação com a praxe e não com o estudo da relação jurídica nova ali surgida. 
• Autonomia Processual/Processualismo/Cientificismo: 
- Oskar Von Billow, em sua obra Teoria das Exceções e Pressupostos Processuais, traz a 
ideia de distinção entre as relações de Direito Material e Direito Processual; 
- Fase marcada pelo estudo do Processo como uma ciência; 
- O Direito Processual adquire autonomia em relação ao Direito Material; 
- Ruptura abrupta entre Direito Material e Direito Processual, que se distanciam 
totalmente; 
- Essa ruptura, nesse momento, era necessária ao Processo, para que se fixassem e se 
firmassem suas bases, premissas e pressupostos como ciência; 
- Por isso, muitas vezes, o formalismo era levado ao extremo; 
→ Teoria Dualista (Giusepp Chiovenda): A Teoria Dualista prega que há uma cisão 
nítida entre o Direito Material e o Direito Processual; 
 Introdução ao Estudo do Direito Processual 2022.2 
 Professora: Diana Perez 
 Aluna: Ana Flora Lima 
- O Direito Processual não traria nada de novo, apenas declararia o Direito Material 
(função meramente declaratória do Direito pré-estabelecido) 
→ Teoria Unitária (Francesco Carnellutti): Nessa teoria, essa cisão entre Direito 
Material e Direito Processual não é tão clara ou nítida, porque muitas vezes o Direito 
Material não pode regrar todos os conflitos de interesse e o Processo serviria para 
complementar os comandos da lei; 
- Processo não se resume apenas e tão somente a declarar a lei, tendo caráter 
constitutivo; 
- Pelo Processo se cria norma (norma individualizada do caso concreto). 
• Instrumentalismo: 
- Contestação e questionamento da ruptura abrupta entre Direito Material e Direito 
Processual; 
- O Direito Processual não é um fim em si mesmo e sim um instrumento de efetivação 
do Direito Material, de forma que não pode ser estudado isoladamente; 
- Reaproximação entre o Direito Material e o Direito Processual; 
- Nesse sentido, não há confusão entre os conceitos, instaurando uma relação 
simbiótica de retroalimentação; 
→ Ondas de Acesso à Justiça (Mauro Capelletti): Preocupação com aspectos sociais 
surgidos; 
- 1ª Onda Renovatória de Acesso à Justiça: Reflete a preocupação de acesso à justiça 
aos necessitados, ou seja, às pessoas que não tinham condições de arcar com os custos 
do Processo; 
- 2ª Onda Renovatória de Acesso à Justiça: Reflete a preocupação com a proteção e 
tutela de interesses coletivos, porque o Processo originariamente foi concebido para 
proteção de direitos individuais. No entanto, com o tempo, surgem os interesses que 
se referem à coletividade e o Processo, não estando apto à proteção desses direitos, 
busca a criação de mecanismos para tal função; 
- 3ª Onda Renovatória de Acesso à Justiça: Reflete a preocupação com o formalismo 
exacerbado, que advém da fase da autonomia (forma em detrimento do conteúdo). 
Não se prega a ausência ou aniquilação do formalismo, mas sim seu excesso. Foram 
criados mecanismos para tentar minimizar o formalismo. 
• Neoprocessualismo/Formalismo-Valorativo: 
 Introdução ao Estudo do Direito Processual 2022.2 
 Professora: Diana Perez 
 Aluna: Ana Flora Lima 
- Fase marcada pelo estudo de institutos do Direito Processual à luz dos novos 
paradigmas; 
- Revisitação aos institutos para dar-lhes nova cara; 
- Inserção de aspectos éticos no Processo, para que esse se desenvolva da melhor 
forma possível; 
- Não se abre mão do formalismo, mas um formalismo que deve ser valorado no caso 
concreto, afastando a forma em detrimento do conteúdo. 
O FATO DE PASSAR DE UMA FASE PRA OUTRA NÃO SIGNIFICA PERDA DAS 
CARACTERÍSTICAS DA FASE PASSADA! 
AS FASES NÃO SÃO EXCLUDENTES E SIM CUMULATIVAS! 
O Direito Processual Contemporâneo 
• Texto x Norma: 
- Norma não se confunde com texto; norma é a extração do texto; o texto 
interpretado; 
- De um único texto é possível extrair diversas normas, por isso que existem decisões 
conflitantes sobre o mesmo tema; 
- No âmbito do Direito Processual, surge a consequência de criação de normas pelo 
magistrado no julgamento através de um processo jurisdicional (norma individualizada 
do caso concreto) → papel criativo do magistrado. 
• Princípio como Norma: 
- Princípio tem caráter normativo; princípio tem caráter de exigibilidade; 
- Princípio não é simplesmente um “tapa-buraco”; 
- Normas se dividem em regras e princípios, não podendo negar a importância dos 
princípios como norma; 
- Por vezes, se afastam regras com base em princípios (frequente no Direito 
Processual). 
• Jurisprudência como Fonte: 
- A jurisprudência é extremamente importante como precedente jurídico em um caso 
concreto; 
 Introdução ao Estudo do Direito Processual 2022.2 
 Professora: Diana Perez 
 Aluna: Ana Flora Lima 
- É possível a superação de precedente, inclusive os vinculantes, mas é mais difícil; 
- O fato de ter um precedente firmado não impede sua superação, que precisa ser 
baseada em fundamentação lógica forte; 
- Uma jurisprudência reiterada faz nascer as famosas súmulas e existem súmulas que 
são vinculantes; 
- A súmula tem interpretação e densidade hermenêutica mais restrita que os textos. 
Mas, ainda assim, ela é texto, e como tal, deve ser interpretada, para novamente ser 
transformada em norma; 
- Não é pelo simples fato de existir uma súmula vinculante que ela tem que ser 
aplicada em todo e qualquer caso. 
• Conceitos Jurídicos Indeterminados/Cláusulas Gerais: 
- As mudanças cotidianas se dão muito rápido que as mudanças legislativas; 
- Então, as leis, muitas vezes, se tornam obsoletas, de forma que o legislador passou a 
se valer de textos mais abertos e fluidos, para que, no caso concreto, o magistrado 
decida se determinada norma pode ser aplicada naquela situação ou não; 
- Conceitos jurídicos indeterminadossão abertos na hipótese fática e fechados no 
consequente normativo; 
- As cláusulas gerais têm abertura tanto na hipótese fática quanto no consequente 
normativo. 
• Força Normativa da Constituição (Direitos Fundamentais): 
- A Constituição não é só mais um documento ideológico que vai servir como base para 
criação de políticas públicas; 
- A Constituição tem caráter normativo e irradia seus efeitos por todo o Ordenamento 
Jurídico; 
- Os valores da Constituição vão guiar a aplicação dos outros dispositivos de lei; 
- A Constituição traz, expressa e implicitamente, os direitos fundamentais. Na violação 
desses direitos, o Processo vai servir como garantidor de seu cumprimento e 
efetivação; 
- Existem direitos fundamentais de índole processual (Ex.: Devido processo legal, 
fundamentação das decisões judiciais, ampla defesa, contraditório etc.). 
• Processo Civil x Processo Penal (Reaproximação): 
 Introdução ao Estudo do Direito Processual 2022.2 
 Professora: Diana Perez 
 Aluna: Ana Flora Lima 
- Processo Civil e Processo Penal eram regidos por princípios antagônicos; 
- O Processo Civil era regido por princípios dispositivos, tendo as partes o papel 
principal no processo e magistrado como coadjuvante; 
- No Processo Penal, que trata do poder de punir do Estado, o que prevalecia era o 
princípio inquisitivo, com a figura do juiz como papal central e as partes como meros 
coadjuvantes; 
- Cada vez mais o juiz exerce um papel mais atuante no Processo Civil (papel 
instrutório do juiz); 
- Cada vez mais a figura das partes cresce no Processo Penal, no que tange às garantias 
processuais das partes; 
- Logo, a dicotomia entre princípios dispositivos e inquisitivos está superada, dando 
lugar aos princípios cooperativos; 
- Dentro dos elementos do processo e das garantias existentes, se busca uma “verdade 
possível”; 
- Reaproximação entre Processo Civil e Processo Penal a partir se conceitos servíveis a 
ambos (Teoria Geral do Processo). 
• Tutela Individual x Tutela Coletiva: 
- O Processo foi concebido originariamente para proteção de direitos individuais; 
- Com o tempo, o interesse coletivo surge e traz a necessidade de criação de 
mecanismos para regula-los; 
- O Processo coletivo tem uma série de particularidade dignas de nota. 
• Civil Law x Common Law: 
- Há poucas décadas, não se discutia adequação do Ordenamento Jurídico Brasileiro ao 
Civil Law; 
- No entanto, têm-se adotado cada vez mais precedentes judiciais do Common Law; 
- Nesse sentido, o Brasil está em um processo de superação da dicotomia do sistema 
híbrido, tendo características dos dois blocos. 
Evolução Histórica da Ciência do Processo no 
Brasil 
 Introdução ao Estudo do Direito Processual 2022.2 
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 Aluna: Ana Flora Lima 
• Ordenações do Reino: 
- O Brasil, mesmo adquirindo independência, continuou sendo regido pelas leis 
lusitanas (Ordenações do Reino); 
- No âmbito do Direito Processual existe, basicamente, influência das Ordenações 
Filipinas; 
- No âmbito do Processo Penal, eram permitidas várias penas corporais; 
- A Constituição de 1824 vedou a aplicação desses castigos corporais aos cidadãos (os 
escravos não estavam incluídos entre os cidadãos); 
- Em 1830 surge o Código Criminal. 
• Código de Processo Criminal (1832): 
- Possuía um anexo que tratava da Administração da Justiça Civil; 
- Esse anexo foi perdendo força com o tempo através de revogações, de forma que 
não era aplicado e não vingou; 
- Longo, no âmbito do Processo Civil vigorava, ainda, as Ordenações Filipinas e leis 
esparsas. 
• Regulamento 737 (1850): “Código de Processo Comercial”; 
• Consolidação das Leis do Processo/Consolidação Ribas (1876): Ribas organizou e 
consolidou as leis esparsas do Processo Civil, mas ainda não era um Código; 
• Extensão do Regulamento 737 às Causas Cíveis: Por ter dado muito certo, o 
Regulamento 737 buscou uniformizar todo o Direito Processual; 
• Constituição Republicana de 1891 – Dualidade de Processos: Tanto a União quanto 
os estados-membros podem versar sobre Processo (cada estado tinha seu próprio 
Código de Processo); 
• Constituição de 1934: A competência para legislar sobre Processo passa a ser 
privativa da União; 
• Código de Processo Civil de 1939: Aplicado em todo o território nacional; 
• Vinda de Enrico Tullio Liebman para o Brasil: 
- Nessa época, a Europa já estudava Processo enquanto ciência; 
- Ele, professor italiano, vem para o Brasil e funda a Escola Processual de São Paulo 
(marco zero da fase da Autonomia Processual no Brasil); 
 Introdução ao Estudo do Direito Processual 2022.2 
 Professora: Diana Perez 
 Aluna: Ana Flora Lima 
- Transição do Praxismo para o Processualismo. 
• Código de Processo Civil de 1973: 
- À medida que se estudava Processo enquanto ciência reconhecia-se seus defeitos; 
- As mudanças sociais exigiam um novo Código de Processo; 
- Jânio Quadros nomeia Alfredo Buzaid para criar o novo Código Processual Civil; 
- Buzaid era discípulo de Liebman, de forma que o Sistema Processual Brasileiro como 
um todo foi fortemente influenciado por Liebman; 
- O Código Processual Civil de 1973 surgiu durante um período marcado pelo 
individualismo. 
• Constituição de 1988 e Reformas Processuais: 
- Transição para a fase do Instrumentalismo e a preocupação com o acesso à justiça; 
- Nesse sentido, o Código Processual Civil teve que sofrer uma série de reformas para 
se adequar a essa nova realidade, perdendo a feição original e ficando totalmente 
desfigurado (“colcha de retalhos”). 
• Novo Código de Processo Civil de 2015: Marco da transição para a fase do 
Neoprocessualismo.

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