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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 NATUREZA DO TRABALHO PEDAGÓGICO ....................................................... 4 2.1 Elemento norteadores do contexto educacional ................................................. 7 3 INTENCIONALIDADE DA AÇÃO EDUCATIVA ..................................................... 9 4 A CONSTRUÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO DA ESCOLA ......................... 13 4.1 Diagnóstico da realidade escolar ...................................................................... 14 4.2 Concepções em relação ao trabalho pedagógico: identidade .......................... 16 4.3 Definição de estratégias ................................................................................... 17 4.4 Cronogramas de trabalho e avaliação .............................................................. 17 4.5 O projeto pedagógico e as suas diferentes instâncias ...................................... 18 5 O TRABALHO PEDAGÓGICO NAS ORGANIZAÇÕES ...................................... 20 5.1 Dificuldades para contratar um pedagogo para as organizações ..................... 23 5.2 O perfil do pedagogo nas organizações ........................................................... 26 6 ÉTICA DO PROFISSIONAL PEDAGOGO ........................................................... 30 6.1 A ética profissional e o ambiente de trabalho do pedagogo ............................. 36 7 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA ............................................................................ 39 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. 4 2 NATUREZA DO TRABALHO PEDAGÓGICO Fonte: https://bityli.com/gefaX Para tratarmos das diretrizes norteadoras do trabalho a ser desenvolvido pela escola, retomaremos algumas ideias do professor Saviani (2003) sobre a natureza e a especificidade da educação, conceitos fundamentais que devem estar presentes nas mentes e corações de todos os profissionais que atuam no ambiente escolar, para que a organização do trabalho pedagógico coletivo e coerente seja possível. Para tratarmos da natureza e da especificidade da educação, resgataremos as ideias de Saviani (2003), pois elas dizem muito sobre a forma como os profissionais da educação devem compreender as características intrínsecas ao trabalho pedagógico. Isso deve pautar a compreensão desses profissionais, pois, de outra forma, o trabalho pedagógico dentro e fora da escola estará comprometido. Segundo Saviani (2003, p. 11): Com efeito, sabe-se que, diferentemente dos outros animais, que se adaptam à realidade natural tendo a sua existência garantida naturalmente, o homem necessita produzir continuamente sua própria existência. Para tanto, em lugar de se adaptar à natureza, ele tem que adaptar a natureza a si, isto é, transformá-la. E isto é feito pelo trabalho. Portanto, o que diferencia o homem dos outros animais é o trabalho. E o trabalho instaura-se a partir do momento em que seu agente antecipa mentalmente a finalidade da ação. Consequentemente, o trabalho não é qualquer tipo de atividade, mas uma ação adequada a finalidades. É, pois, uma ação intencional. 5 Então, o homem transforma a natureza como forma de atender às suas necessidades de sobrevivência e o faz por meio do trabalho, entendido aqui como atividade intencional desenvolvida pelo ser humano, portanto, planejada do início ao fim. Se entendermos que, na escola, todas as ações dos profissionais devem ser pautadas pela clareza dos objetivos a que se propõem e encaminhadas de tal forma que seja possível atingir tal finalidade, diríamos então que ela desenvolve, sim, uma atividade intencional. Sendo assim, podemos afirmar que o princípio que deve nortear a organização de todo trabalho pedagógico desenvolvido pelas escolas é, de fato, o trabalho (SOARES, 2014). Segundo Saviani (2003, p. 13): o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo. No entanto, para que a escola cumpra a sua função, não basta que a instituição realize suas atribuições tendo como pressuposto o princípio do trabalho; cabe à instituição escolar seu aprimoramento, pois Ihe é destinado o desenvolvimento do trabalho educativo, Isso significa que a escola, por meio de atividades intencionais, deve permitir o ser humano acesso à cultura acumulada historicamente, a fim de possibilitar o meio de produção de sua própria cultura (SOARES, 2014). Para tanto, cabe à escola, no momento de elaboração de seu PPP, a escolha dos elementos culturais que serão priorizados em cada uma das etapas do trabalho desenvolvido no ambiente escolar e, consequentemente, da melhor forma de fazélo, Conforme Saviani (2003, p. 13:14); Quanto ao primeiro aspecto (a identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados), trata-se de distinguir entre o essencial « o acidental, o principal e o secundário, o fundamental e o acessório. Aqui me parece de grande importância, em pedagogia, a noção de “clássico”. O clássico não se confunde com o tradicional e também não se opõe, necessariamente, a moderno muito menos ao atual. O clássico é aquilo que se firmou como fundamental, como essencial. Pode, pois, constituir-se num critério útil para a seleção dos conteúdos do trabalho pedagógico. Quanto o segundo aspecto (a descoberta das formas adequadas de desenvolvimento do trabalho pedagógico), trata-se da organização dos meios (conteúdos, 6 espaço, tempo e procedimentos) através dos quais, progressivamente, cada indivíduo singular realize, na forma de segunda natureza, a humanidade produzida historicamente. Ao realizar a elaboração do seu PPP, a escola deve ver com clareza o projeto de sociedade que pretende construir. Para isso, é fundamental que as pessoas e os profissionais que ali trabalham se disponham a refletir sobre todas as ações executadas e a entender que os passos trilhados possuem um objetivo explícito a ser alcançado. Definir o conteúdo a ser trabalhado requer desses profissionais uma atenção redobrada, pois o conjunto de conhecimentos escolhido exige dos alunos um repertório de habilidades a serem desenvolvidas. Elas irão formar um cidadão que se adapte à realidade existente ou, quem sabe, com base na compreensão desta realidade, traçar conscientemente um caminho diferenciado que possibilite a transformação social, mesmo que em pequenas doses (SOARES, 2014). Ao realizar suas escolhascoletivamente, é preciso que a escola organize metodologias que possibilitem a apreensão do conteúdo, característica fundamental da instituição de ensino. Como é de nosso conhecimento, os alunos não aprendem todos da mesma forma, e muito menos todos ao mesmo tempo. Isso demanda dos profissionais da educação uma constante readequação das formas de trabalhar o mesmo conteúdo com vistas a atingir o seu objetivo principal: conseguir que o aluno aprenda aquilo que está sendo ensinado. Desse modo, é fundamental que enfatizemos o compromisso da escola com a construção e a disseminação dos conhecimentos acumulados pela humanidade em cada momento histórico, papel principal destinado às instituições de ensino formais. Esses conhecimentos podem e devem ser complementados por outras instituições que se dedicam a trabalhar com a cultura acumulada pela sociedade em espaços não formais. É importante destacar aqui que os princípios definidos pela coletividade da escola devem demarcar aquilo que de fato seja o conjunto de crenças do grupo, pois suas ações diárias perante seus pares e alunos estarão comprovando-os. Não é possível ensinar algo em que você mesmo não acredite; suas palavras não irão 7 condizer com suas ações, e aqueles que estão ao seu redor saberão perfeitamente disso (SOARES, 2014). É importante frisarmos que nossas ações, evidentemente, não valem somente no espaço da escola, pois se você comunga de uma determinada concepção de vida, esta deve estar presente em todos os momentos dela, e não somente em alguns. 2.1 Elemento norteadores do contexto educacional Destocaremos, neste ponto do texto, alguns aspectos fundamentais da legislação educacional brasileira que devem viabilizar aos profissionais do ensino o atendimento às condições necessárias para que estes possam alcançar seus objetivos, principalmente conforme destacado nos itens anteriores, conforme o art. 1º da Lei nº 9,394/1996: Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social (BRASIL, 1996). A educação, de acordo com o ponto de vista da legislação, deve ser reconhecida, em primeira instância, como processo de formação humana que se realiza em todos os momentos da vida do indivíduo, aspecto que deve ser destacado e compreendido pelos profissionais da educação (SOARES, 2014). O apoio dos demais espaços não formais de aprendizado organizados para a vida em sociedade contribui, e muito, para o fortalecimento do papel central das instituições formais de ensino. No entanto, cabe também a elas o fortalecimento das condições necessárias à vida em sociedade, ou seja, cabe à escola o compromisso de que o conhecimento ensinado à população permita a integração desta ao mundo do trabalho. Mais do que isso, permita que a pessoas reflitam sobre a realidade social em que vivem e tomem decisões que dirijam o rumo de suas próprias vidas. Conforme a Constituição Brasileira de 1988 (Brasil, 1988): 8 Art. 205 -A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento a pessoa, sem preparo para o exercício da cidadania e na qualificação para o trabalho. Essas palavras são quase que integralmente reproduzidas pelo art. 2º da Lei nº 9.394/1996, mas como uma diferença fundamental, como veremos a seguir: Art, 2º- A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Nesse quesito da legislação educacional, realizaremos na comparação entre o que está escrito na Constituição Brasileira e na LDBEN/1996. O detalhe que nos impele a realizar tal análise está na inversão do princípio constitucional realizado pelo art. 2º da LDBEN/1996 - pois a Constituição afirma que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, ou seja, resguarda o direito de todos à educação e a impõe como dever do Estado em primeiro momento e da família em um segundo momento. No entanto, a redação da legislação educacional na LDBEN/1996 inverte a situação. Ao longo dos últimos anos, a Constituição e a Lei nº 9.394/1996 sofreram várias modificações referentes aos preceitos legais que gerem a educação em nosso país. Essas alterações influenciam direta ou indiretamente o trabalho pedagógico realizado pela escola. No entanto, daremos destaque aos pontos que indicam a ampliação da obrigatoriedade do ensino à população brasileira. Em decorrência de modificação no texto constitucional especificamente no art. 208 (Brasil, 1988), realizado pela Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009 (Brasil, 2009), a educação básica dos 4 aos 17 anos passa a ser obrigatória para a população brasileira (SOUZA, 2014). Algumas modificações na LDBEN/1996 já apontavam para a ampliação no atendimento educacional brasileiro. A mais efetiva foi a Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006 (Brasil, 2006), que ampliou a oferta do ensino fundamental para 9 anos. Contudo, é somente com a aprovação da Lei nº 12796, de 4 de abril de 2013 (Brasil, 2013) que ocorrem as modificações previstas pela Emenda Constitucional nº 59/2003. A tentativa de ofertar à população o acesso à escola veio se concentrando ao longo desse período (pós-LIDBEN) em boa parte do tempo no nível considerado 9 obrigatório, deixando de lado um efetivo investimento nos demais níveis de ensino, que também são responsabilidade do governo (Inep, 20136). O objetivo a ser alcançado por todos os entes da federação e de seus governantes deveria ser a ampliação do atendimento educacional sempre tendo como meta maior a universalização do ensino em todos os níveis, o que possibilitaria à população o acesso às condições necessárias o seu bom desenvolvimento intelectual e social e favoreceria o fortalecimento das qualidades indispensáveis ao ser humano para o desenvolvimento qualitativo da cidadania. Dessa forma, podemos afirmar que esses princípios devem organizar todo o trabalho pedagógico, seja ele desenvolvido em instituições públicas ou privadas. O conjunto de princípios elencados pela lei possibilita aos profissionais da educação a definição coletiva dos rumos da instituição de ensino, os quais devem estar descritos em seu PPP. Caso a compreensão de tais princípios esteja de fato fortalecida por todos aqueles que participam do dia a dia da escola, com certeza a educação ofertada caminha na direção de possibilitar o aluno a construção de sua cidadania, o que é tudo que se espera da instituição de ensino chamada escola (SOUZA, 2014). 3 INTENCIONALIDADE DA AÇÃO EDUCATIVA Fonte: https://bityli.com/jzgJR Se fizermos uma rápida retomada histórica, será possível perceber que existem diferentes conceitos de “educação”, uma vez que cada sociedade, a cada etapa de 10 desenvolvimento, terá objetivos específicos a serem atingidos. Esses objetivos podem se manter ou se modificar ao longo do tempo, da mesma maneira que podem ser comuns ou diversos quando se trata de sociedades contemporâneas. Por isso, entende-se que uma mesma sociedade em diferentes momentos históricos poderá ter diferentes formas de educar (DI PALMA, 2012). No século XVI, por exemplo, no Brasil, não havia o entendimento de que a mulher precisava ter uma educação acadêmica muito sofisticada, já que o seu destino seria firmado no momentodo seu casamento e da constituição de uma família. Sua educação consistia de um conjunto de preceitos para que pudesse desempenhar o papel de boa mãe e esposa, segundo os princípios da fé católica, além de algumas noções de leitura, escrita e cálculo básico. Não havia a possibilidade de frequentar uma faculdade e exercer uma profissão ou fazer opções quanto a permanecer casada, ter — ou não — filhos. Depois de quatro séculos no próprio Brasil, há uma compreensão diferente em relação à educação feminina. As mulheres estão cada vez mais presentes e participantes na sociedade e no mercado de trabalho, sua formação acadêmica não é diferente daquela recebida pelo homem, podendo atingir os níveis mais altos de escolarização, escolher uma profissão para seguir sem qualquer tipo de restrição, seja de sua família ou da sociedade, já que a mulher independente econômica e profissionalmente é uma realidade desde a segunda metade do século XX. Além disso, a mulher já pode optar por casar ou não, ter ou não filhos, independentemente de seu estado civil (DI PALMA, 2012). Porém, se compararmos a realidade brasileira do século XXI com a realidade de alguns países do continente africano ou asiático, será possível perceber que as conquistas feitas pelas mulheres em nosso pais ainda não chegaram a outros lugares do mundo. A maioria das mulheres nesses Iugares continua vivendo em condições muito semelhantes àquelas vividas pelas nossas antepassadas há 400 anos. Como profissionais da educação, é importante que compreendamos essas diferenças e que nos dediquemos a estudar e a compreender o papel que essas mudanças exercem na vida das pessoas e das sociedades. Além disso, é imprescindível que estejamos atentos aos fatos do cotidiano para que tenhamos 11 elementos de análise que nos permitam optar pelo encaminhamento a ser dado às nossas ações pedagógicas no âmbito escolar (DI PALMA, 2012). Segundo Pimenta (1998), a pedagogia se constitui como uma ciência que entrelaça conhecimentos produzidos pelas diferentes ciências do homem - antropologia, história, psicologia, sociologia, entre outras – tendo como elemento integrador de análise a educação escolar, buscando estabelecer parâmetros para compreender as melhores condições para que o processo educativo de ensino aprendizagem se efetive. Segundo Libâneo (1994), muito embora a ação educativa ocorra em diferentes âmbitos e espaços, foi na escola, independentemente de suas nuances, que essa atividade assumiu uma especificidade cuja reflexão, estudo e intervenção permitem o desenvolvimento qualitativo do trabalho educativo. Enfim, objetiva-se que, através da ação pedagógica escolar, as competências dos indivíduos possam ser integralmente trabalhadas, propiciando uma compreensão mais ampla de sua inserção na sociedade. A concretização da educação acontece pela prática educativa, a qual Libâneo (1994, p. 16-17) define como “um conjunto de ações, processos, influências e estruturas que interferem no desenvolvimento humano, no meio natural e social, nas relações entre grupos e nas relações entre classes sociais”. Essas ações e processos intencionais podem acontecer em vários ambientes, como na família, na empresa, na igreja, nos sindicatos, entre outros. Porém, existe um objetivo claro a ser alcançado em cada um desses espaços, seja a maneira de se comportar à mesa, os procedimentos regulares que caracterizam cada função dentro de uma empresa, as práticas religiosas que identificam os membros de cada grupo religioso e assim por diante. Ou seja, muito embora ações intencionais não venham a passar por um processo avaliativo formal, instituído pelo governo, com documentos específicos para tal, a prática educativa acontece, e nesse caso, é denominada não formal (DI PALMA, 2012). Embora a educação não formal aconteça, a maior parte das vezes fora do ambiente escolar, também podemos identificar a existência dela nos contextos 12 escolares, quando ofertamos aos alunos palestras a respeito de determinada temática ou através de projetos extracurriculares de cunho social, por exemplo. Libâneo (1994) também destaca a ação das influências, «que nem sempre são transparentes ou fixas, como os meios de comunicação de massa, que apresentam e divulgam maneiras de pensar, agir, sentir, falar etc., e acabam sendo assumidas por uma grande parcela da população, principalmente pelos mais jovens. Designamos educação informal a ação educativa realizada de maneira pulverizada, sem um objetivo claro e manifesto, embora veiculada por vários canais diferentes. Esses aspectos interferem nos desenvolvimentos humano e social. Isso significa que, se não houvesse uma ação educativa modelada por outro ser humano, não teríamos condições de desenvolver a linguagem, as formas de comunicação, os meios de produção e, como consequência, não seria possível acumular conhecimentos. A partir do convívio social são incorporados comportamentos considerados adequados e que são valorizados e aceitos por cada grupo social, com isso, a ação educativa tem a função de estabelecer e/ ou reforçar as relações hierárquicas que existem socialmente (DI PALMA, 2012). Essas ações também interferem nas relações que estabelecemos no meio natural, ou seja, a partir das condições naturais encontradas em cada região, nação ou país haverá o desenvolvimento de uma prática educativa distinta. Embora o homem não seja o único ser vivo a educar seus pares, é entre nós que esse processo alcançou seu mais alto grau de relevância e complexidade, instituindo-se inclusive um espaço específico para que a ação educativa seja realizada na escola. A ação educativa realizada no ambiente escolar, nos seus diferentes níveis e modalidades, com objetivos, processos metodológicos e avaliativos definidos, qualificamos de educação formal. Na sociedade urbana contemporânea, esses três processos educativos convivem e interagem. Em alguns momentos, seus ensinamentos são complementares; em outros, são dissociativos, contribuindo para o aumento de confrontos entre gerações, gêneros, etnias, crenças políticas, religiosas e culturais. A escola, como instituição socialmente condicionada e condicionante, precisa estar sintonizada com as mudanças para que 13 possa adequar suas formas de trabalho às novas circunstâncias contemporâneas (DI PALMA, 2012). A organização do trabalho na escola foi construída de maneira mais significativa a partir do século XVI, principalmente pelas contribuições de Lutero, Ratke e Comenius, que influenciaram vários países no mundo, inclusive o Brasil. Posteriormente, a organização do Ratio Studiorum permitiu a padronização de procedimentos e métodos para instituições de ensino baseadas em um roteiro construído coletivamente pelos jesuítas. O direito de acesso e permanência irrestrito à escola está garantido na Constituição Federal de 1988 e na LDBEN nº 9,394/1996. O pedagogo é um profissional estratégico, porque seu lócus de trabalho essencial é a escola, e seu fazer está diretamente ligado à produção e à transmissão de conhecimentos, tendo por essência a docência ou a gestão educacional para que esta aconteça (DI PALMA, 2012). 4 A CONSTRUÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO DA ESCOLA Fonte: https://bityli.com/YxZa3 Para a oferta de um ensino de qualidade e comprometido com a aprendizagem dos alunos, é fundamental que os diferentes movimentos para a construção do projeto pedagógico escolar sejam identificados. Além disso, nesse processo de construção, 14 faz-se necessária a constituição de órgãos colegiados para a participação de todos os envolvidos nos processos educativos, permitindo, assim, a efetivação de uma gestão democrática na escola. A construção da identidade e da autonomia escolar requer, também, a articulação do projeto pedagógico às diferentes instâncias que o compõem (MARÇAL; SOUZA; MACHADO,2001). Cada unidade escolar possui características e demandas específicas. Por isso, deve elaborar o seu próprio projeto pedagógico. Para essa elaboração, o conhecimento da realidade é fundamental, mas não é o sufi ciente. Também é necessário o embasamento teórico do projeto, essencial para que a escola avalie as dimensões e os princípios que nortearão a construção de seu projeto pedagógico. As teorias podem subsidiar a leitura crítica das práticas, oportunizando o planejamento de estratégias que promovam melhorias no ensino oferecido e na aprendizagem dos alunos. De acordo com as características e necessidades da unidade escolar, a construção do seu projeto pedagógico seguirá uma dinâmica própria. Apesar das diferenças, é possível discutir o processo de construção do projeto político- pedagógico tendo por base três grandes movimentos bastante interligados. Segundo Marçal, Souza e Machado (2001), esses movimentos são relacionados e interdependentes entre si. Eles devem ser realizados simultaneamente e demandam uma avaliação constante. Assim, cada escola precisa se autoconhecer, refletir sobre as suas práticas e construir o seu projeto pedagógico de maneira autônoma e coletiva. 4.1 Diagnóstico da realidade escolar O primeiro movimento diz respeito ao diagnóstico da realidade escolar. A ideia é analisar a realidade da escola em suas dimensões pedagógica, administrativa, financeira e jurídica. Para que esse movimento ocorra, todos os envolvidos na elaboração do projeto pedagógico devem buscar responder a esta questão: como é a nossa escola? Nesse movimento, a escola precisa coletar dados sobre a sua realidade e analisá-los criteriosamente no que diz respeito aos aspectos qualitativos 15 e quantitativos. As informações coletadas devem ser referentes a aspectos internos e externos da realidade escolar. Elas servem para a identificação das dificuldades a serem superadas e dos aspectos facilitadores do sucesso. Ainda segundo Marçal, Souza e Machado (2001), para que o diagnóstico seja bem detalhado, a escola precisa, por meio dos instrumentos adequados, levantar questionamentos em dois níveis: um mais amplo e outro mais específico. Os questionamentos em nível mais amplo devem possibilitar o estabelecimento de relações entre a realidade escolar e os aspectos sociais, políticos e econômicos da comunidade na qual ela está inserida e da sociedade brasileira como um todo. Os questionamentos mais específicos, por sua vez, devem estar voltados para a organização do trabalho pedagógico, considerando a atuação dos vários segmentos escolares. O diagnóstico é uma radiografia da escola. Por isso, para elaborá-lo, é preciso fazer um levantamento de dados sobre: o local onde a escola está localizada (bairro); a distância entre o bairro e o centro da cidade, a existência de transporte público e a facilidade de acesso; a clientela atendida (profissão dos pais, estruturação das famílias, renda familiar, etc.); os alunos da escola (quantidade total, quantidade por nível de ensino e por ano, dados comparativos de ingressantes e concluintes por ano, etc.); as causas de evasão escolar; o rendimento escolar dos alunos (aprovação, reprovação, distorção idade/série). Para que esses dados sejam coletados de maneira fidedigna, vários instrumentos podem ser utilizados, como pode ser a ficha para preenchimento pelos pais no momento da matrícula; análise dos resultados das avaliações externas, como: 16 Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e Exame Nacional do Ensino Médio (Enem); Avaliações dos professores; Registros dos conselhos de classe; Registros anuais do rendimento escolar; Levantamento dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad); Censo Escolar; Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e do Ministério da Educação (MEC). 4.2 Concepções em relação ao trabalho pedagógico: identidade O segundo movimento refere-se ao levantamento das concepções do coletivo da escola. Ele tem como objetivo discutir as concepções do coletivo da escola em relação ao trabalho pedagógico como um todo. A pergunta “qual é a identidade da nossa escola?” deve ser respondida. Após a escola ter a sua situação diagnosticada, ela precisa buscar uma fundamentação teórica que oriente a ação de seus segmentos. A escolha de um referencial teórico é fundamental para o embasamento das práticas e para a compreensão das situações que emergem do cotidiano escolar. Nesse movimento, o principal objetivo deve ser o levantamento das concepções do coletivo da escola em relação ao trabalho pedagógico como um todo, visando à proposição de mudanças. A partir da discussão das concepções dos vários segmentos, deve-se definir uma linha de ação única, que traduza aquilo que é considerado prioritário pelo grupo para o trabalho da escola. Esse movimento exige da escola um posicionamento político- -pedagógico e a definição das concepções e ações que serão compartilhadas por seus atores. Para que ele ocorra, é fundamental que o gestor crie e oportunize a discussão e a troca de ideias (MARÇAL; SOUZA; MACHADO, 2001). 17 4.3 Definição de estratégias O terceiro movimento é a definição de estratégias, pessoas e/ou grupos, objetivando assegurar a realização das ações propostas pelo coletivo da escola. Esse movimento visa a definir as ações da escola, os responsáveis pela sua execução e os recursos necessários à implantação do projeto pedagógico. A sua realização demanda responder a esta questão: como executar as ações definidas pelo coletivo? Após a definição das concepções que nortearão o trabalho dos diferentes segmentos da escola, é necessário definir as estratégias que serão adotadas por todos. Para que isso ocorra, segundo Marçal, Souza e Machado (2001), a escola deve definir as suas prioridades, além de estabelecer as ações que serão desenvolvidas e as pessoas que irão realizá-las. Esse processo deve ser pautado pelas decisões tomadas de forma coletiva e visar à superação dos problemas diagnosticados inicialmente. Outro aspecto bastante relevante nesse momento, que não pode ser perdido de vista, é a necessidade de identificar os responsáveis por cada uma das ações assumidas no coletivo. A definição de um cronograma de trabalho é fundamental. Nele, devem ser definidas as ações que serão realizadas a curto, médio e longo prazos, para que possam ser acompanhadas e avaliadas (MARÇAL; SOUZA; MACHADO, 2001). 4.4 Cronogramas de trabalho e avaliação O cronograma deve prever momentos dedicados ao planejamento pedagógico e às reuniões dos seus colegiados, como conselhos escolares, conselhos de classe, associações de pais e mestres (APMs), grêmios estudantis, entre outros. Nesse movimento, é preciso considerar também o tempo destinado à redação do documento que retratará todo o processo desenvolvido pela escola. Para isso, deve-se constituir um grupo de trabalho, com representantes dos vários segmentos envolvidos. Os colegiados, obedecendo ao cronograma das reuniões, devem sempre se debruçar sobre o projeto político-pedagógico para verificar se o que foi proposto está 18 sendo executado e se os resultados esperados estão sendo atingidos. Assim, a avaliação deve permear todo o processo de elaboração do PPP, possibilitando mudanças sempre que necessário. Mudanças na legislação, alterações na oferta de alguma das etapas do ensino (educação infantil, ensino fundamental ou ensino médio), bem como alterações em relação às modalidades de ensino, precisam ser sempre analisadas e discutidas, determinando adaptações no PPP, mas sem que a identidade da comunidade seja perdida. 4.5 O projeto pedagógico e as suas diferentes instâncias O projeto político-pedagógico (PPP) se articula intimamentecom as diferentes instâncias que o compõem. Tais instâncias são: o planejamento, a organização do trabalho escolar, o regimento escolar, as práticas pedagógicas e as políticas educacionais. O projeto político-pedagógico de uma unidade escolar oferece diretrizes e estabelece prioridades para o trabalho coletivo. Contudo, para que ele cumpra o seu papel, é necessário que se articule com o planejamento e a prática pedagógica. Veja o que afirmam Marçal, Souza e Machado (2001, documento on-line): A escola pública necessita de uma gestão que, partindo da construção do projeto pedagógico, possibilite à escola alcançar sua finalidade, concretizando sua função social: a promoção da cidadania, o desenvolvimento pleno e o sucesso dos alunos. E para concretizar o que pretende, a escola necessita de um planejamento que organize o seu trabalho escolar e a sua prática pedagógica, de modo que as ações implementadas se articulem, promovendo uma educação de qualidade conforme o proposto no projeto pedagógico pelo coletivo da escola. A relação entre o projeto pedagógico e o planejamento é bastante próxima, embora ambos tenham diferentes significados. O projeto pedagógico visa à construção da identidade da escola, delineando os rumos a serem seguidos e explicitando o compromisso da instituição com a oferta de um ensino de qualidade e com a aprendizagem dos alunos. O projeto pedagógico não pode ser construído sem planejamento. O planejamento deve permear todas as atividades escolares, constituindo-se como um instrumento permanente para a elaboração e o desenvolvimento do projeto 19 pedagógico. Para a gestão escolar e a promoção de melhorias, é necessário um planejamento capaz de identificar as condições favoráveis, diagnosticar os problemas e apontar os caminhos para que os objetivos escolares sejam atingidos. O PPP relaciona-se também com a organização do trabalho escolar. O sucesso escolar depende de políticas e diretrizes externas, mas também das características organizacionais da escola. São consideradas características organizacionais: a autonomia escolar, a gestão democrática, a articulação curricular, a participação dos pais, a otimização do tempo, a estabilidade profissional, a capacitação dos profissionais, o reconhecimento público e o apoio das autoridades. A análise das características organizacionais de uma escola permite o conhecimento da cultura escolar e a identificação das áreas determinantes do sucesso ou do insucesso da instituição. O planejamento deve acompanhar a organização do trabalho da escola, uma vez que esse é o espaço no qual o PPP se realiza. O PPP apresenta diretrizes para a elaboração do regimento escolar, orientando a estruturação e o funcionamento da escola de acordo com os seus objetivos, visando também ao estabelecimento de um clima de convivência harmônico e democrático. O regimento escolar deve apresentar uma série de orientações que dizem respeito a diferentes áreas, garantindo o cumprimento das leis e das diretrizes e resguardando espaços de autonomia e responsabilidade, inerentes à instituição escolar. Sob nenhuma hipótese o regimento pode contrariar o que está posto no projeto pedagógico. Ao traçar objetivos a serem atingidos em determinado tempo e delinear a missão da escola, o PPP aponta para as práticas pedagógicas que devem ser desenvolvidas para que o que está proposto no documento seja concretizado. As práticas pedagógicas devem ser pensadas a partir dos referenciais curriculares propostos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) — relacionados ao tipo de sujeito e de sociedade que se pretende construir — e da Constituição Federal de 1988. Ao mesmo tempo em que a escola tem uma identidade própria, ela está inserida em um contexto maior. 20 5 O TRABALHO PEDAGÓGICO NAS ORGANIZAÇÕES Fonte: https://bityli.com/OcYQA O mundo se modificou nas últimas décadas, exigindo que as organizações empresariais se adaptassem a um mercado mais dinâmico e extremamente competitivo. Nesse novo contexto, a concorrência fez com que todos se empenhassem em construir diferenciais e explorar novas competências como necessárias para o bom andamento da organização. Essas ações exigem investimento em práticas pedagógicas que levem as empresas a gerir e compartilhar os conhecimentos entre os seus membros, bem como mapear os cenários externos. Assim, elas podem desenvolver programas de aperfeiçoamento e capacitação das competências existentes entre os trabalhadores que compõem a organização e são responsáveis pelo alcance dos seus resultados. É nesse contexto que o pedagogo se insere, uma vez que é o profissional visto como apto para desenvolver práticas de ensino e aprendizagem nos espaços não escolares. Um dos primeiros aspectos que você deve conhecer antes de estudar a posição do profissional da pedagogia no ambiente organizacional são as mudanças no mundo do trabalho e nas relações de emprego que estão ocorrendo na contemporaneidade, pois estas afetam diretamente as suas possibilidades de atuação. As reconfigurações ocorridas no mercado de trabalho nas últimas décadas possibilitaram a emergência da atuação do pedagogo no ambiente organizacional — sobretudo no campo empresarial. Dessa forma, veja algumas mudanças que vão ajudá-lo a compreender 21 como o pedagogo se encaixa e quais atributos são exigidos dele para atuar nesses ambientes não escolares: sociedade aprendente; competências; concorrência; relações de emprego/trabalho; empregabilidade; gestão da diversidade. O primeiro ponto a reconhecer é o fato de que as tecnologias digitais de informação e comunicação, por meio do uso da internet, promoveram profundas modificações nas possibilidades de aprendizagem da sociedade. Assim, a denominada sociedade da informação, conforme foi chamada a partir da universalização da internet, no final da década de 1990, converteu-se em sociedade de aprendizagem. Isso influenciou tanto a vida das pessoas como o funcionamento das organizações que operam no mercado de trabalho. Estas, ao se tornarem mais dinâmicas e eficientes por meio do mapeamento dessas informações e da sua conversão em conhecimentos úteis e aplicáveis, conseguem atingir melhores resultados. A esse respeito, Assmann (2000, p. 9) comenta: A mera disponibilização crescente da informação não basta para caracterizar uma sociedade da informação. O mais importante é o desencadeamento de um vasto e continuado processo de aprendizagem. [...] sublinhamos que é fundamental considerar a sociedade da informação como uma sociedade da aprendizagem. [...] O processo de aprendizagem já não se limita ao período de escolaridade tradicional. Trata-se de um processo que dura toda a vida, com início antes da idade da escolaridade obrigatória, e que decorre no trabalho e em casa. Assim, partindo da afirmação do autor, podemos posicionar o pedagogo como aquele que vai colocar em prática esse processo de aprendizagem de que a organização necessita. Para isso, ele realizará a gestão dos conhecimentos de todos que ali se encontram e estabelecerá formas de ensino e aprendizagem de novas competências que se fizerem necessárias ao longo do tempo, de acordo com as 22 tendências e os cenários que o segmento de atuação da empresa exigir. O desenvolvimento de competências se faz necessário e importante para que as empresas possam competir com vantagem nesse novo mercado globalizado. A competência pode ser entendida como o resultado dos conhecimentos adquiridos, que se transformam em habilidades e que, assim, produzem as ações de forma mais eficiente e eficaz. Dessa forma, novas competências precisam ser ensinadas e aprendidas constantemente dentro de uma organização empresarial. Isso possibilita ao pedagogo agir também no diagnóstico, no planejamento e na implementação de programasde capacitação que articulem os conhecimentos que alguns colaboradores da organização já possuem e o seu compartilhamento com os demais. Ainda, esse profissional poderá apontar a necessidade de contratação de uma consultoria externa para apoiar essas novas aprendizagens. Ao mesmo tempo em que essas exigências sobre a produção ou os serviços prestados pelas organizações aumentam, ocorre uma redução — mundial e com grande impacto no Brasil atual — nos postos de emprego do mercado de trabalho. Isso faz com que muitas pessoas precisem buscar novos trabalhos informais para conseguirem sobreviver. Conforme observa Antunes (2009, p. 11): Mais do que nunca, bilhões de homens e mulheres dependem exclusivamente de seu trabalho para sobreviver e encontram cada vez mais situações instáveis, precárias, quando não inexistentes de trabalho. Ou seja, enquanto se amplia o contingente de trabalhadores e trabalhadoras no mundo, há uma constrição monumental dos empregos, corroídos em seus direitos e erodidos em suas conquistas. Isso significa que cabe ao pedagogo também, no interior das organizações, desenvolver nos trabalhadores essa compreensão de que a sua empregabilidade — ou seja, a capacidade de manter-se empregado na organização — depende diretamente do seu esforço em aperfeiçoar-se e aprimorar as suas competências. Outro ponto que merece destaque (e que está relacionado à importância de haver um pedagogo nas organizações) é que esse profissional seja formado com enfoque no lado humano e que compreenda como as pessoas se constituem ao longo das suas experiências sociais e culturais. Essa habilidade diz respeito à chamada gestão da diversidade. Ao analisar as práticas de gerenciamento da diversidade que 23 ocorrem nas empresas brasileiras, Fleury (2000, p. 21) comenta que “[...] o tema da desigualdade racial e sexual tem sido objeto de intensa discussão no Brasil, levada adiante por grupos defensores dos negros, mulheres e homossexuais [...]”. As organizações precisam estruturar os seus processos internos para não procederem de maneira preconceituosa ou discriminatória sob nenhum aspecto cultural ou identitário dos seus colaboradores. Isso muitas vezes exige que se coloquem em prática ações pedagógicas voltadas para as políticas de recursos humanos (RH), como o recrutamento e a seleção de pessoas, treinamentos e comunicação interna. Em todos esses campos, o pedagogo pode vir a atuar somando com a sua experiência e formação para que a diversidade presente na organização agregue valor ao que ela executa. Veja no exemplo a seguir a atuação de um pedagogo na gestão da diversidade de uma grande empresa. Como você pôde perceber, existem na atualidade muitas oportunidades de atuação no ambiente empresarial para o pedagogo. Porém, ele deve seguir as mesmas exigências de qualificação para todos os demais cargos, ou seja, precisa estar atualizado e ser competente, trazendo consigo o conjunto de conhecimentos e habilidades que farão com que os seus atos sejam eficientes e conduzam ao resultado final (sejam eficazes). 5.1 Dificuldades para contratar um pedagogo para as organizações O universo empresarial contemporâneo precisou se adaptar às exigências impulsionadas com a globalização das economias, ocorrida na década de 1990. Esse período passou a pedir maior percepção das tendências do mercado e rapidez para se ajustar ao novo quadro de competências que passaram a ser exigidas a partir de então. Nesse novo cenário, para se manterem competitivas no mercado, as organizações precisam atualizar-se constantemente e procurar superar os seus concorrentes por meio do desenvolvimento de diferenciais. Isso demonstra que a necessidade de processos de aprendizagem nas empresas é urgente e constante, o que pode vir a ser realizado pelo profissional da pedagogia. 24 Apesar dessas novas demandas pela aprendizagem que possibilitam novos campos de atuação para o pedagogo, Claro e Torres (2012, p. 208) problematizam que: [...] além da literatura ainda escassa voltada especificamente para os pedagogos que atuam na área de treinamento e desenvolvimento de empresas, estes profissionais não são encontrados facilmente no mercado, já que sua formação ainda é voltada para a atuação em escolas [...] Dessa forma, os currículos das licenciaturas em pedagogia ainda hoje enfatizam uma preparação principal para a atuação com as crianças e na educação formal, o que dificulta a entrada do pedagogo no ambiente organizacional. Assim, para atuar nas empresas, os pedagogos acabam por conduzir as suas carreiras na pós- graduação, em cursos que se aliam com as áreas da gestão de pessoas, pois conhecer como funciona o ambiente organizacional e apropriar-se do seu campo teórico e prático se faz imprescindível. Dessa forma, podemos considerar que a principal dificuldade na busca por um profissional da pedagogia para atuar dentro de uma empresa paira sobre a sua formação específica, que frequentemente exige que o pedagogo seja um gestor. Para fins didáticos, podemos citar algumas das dificuldades encontradas para a contratação do pedagogo organizacional face às necessidades mais pontuais da sua formação. Veja as exigências na formação do pedagogo empresarial: qualificação para gestão; visão estratégica; capacidade de liderar; habilidades para gerir conflitos. A formação realizada no curso de licenciatura em pedagogia habilita minimamente o pedagogo para atuar nos cargos de gestão da escola. Na atualidade, a grande maioria dos profissionais acabam por aperfeiçoar-se nas áreas da gestão escolar, supervisão ou orientação educacional para atuar mesmo nesses espaços formais da educação. 25 Para atuar nos espaços não escolares, como no ambiente empresarial, as exigências são ainda maiores: o gestor de uma organização deve reunir atributos técnicos, humanos e conceituais. Os atributos técnicos referem-se ao saber fazer, às atribuições do seu cargo e do que desenvolve o setor que dirige. Os aspectos humanos envolvem a habilidade de relacionamento interpessoal e a inteligência emocional necessária para coordenar grupos, bem como a visão sobre o trabalhador como ser humano. As habilidades conceituais envolvem a visão do todo da empresa e a importância da correlação entre os setores e a sua interdependência para que se alcancem os resultados projetados no planejamento de longo prazo da organização. Assim, a qualificação exigida para ser um gestor coloca o pedagogo também em condições de apoiar a empresa na efetivação das suas estratégias em curto, médio e longo prazo. Logo, cabe a esse profissional apropriar-se do planejamento estratégico da organização para desenvolver as suas atividades pedagógicas. Outro ponto importante que recai sobre o profissional da pedagogia e que necessita de uma formação específica diz respeito ao conhecimento das múltiplas teorias da liderança organizacional. Esse profissional da educação costuma ser visto como um líder dentro desses espaços e, eventualmente, cabe a ele a tarefa de criar programas de liderança ou que melhor capacitem os líderes/gestores para atuar. Cabe ressaltar que não é necessário escolher ou estabelecer um único estilo de liderança que vai pautar a atuação do pedagogo na empresa. Durante um dia de trabalho atuando como gestor, ele poderá se valer desses estilos de liderança para situações específicas da sua atividade. Dessa forma, haverá situações que exigirão desse profissional uma postura autocrática, liberal ou democrática. Robbins (2002, p. 286) reforça o conceito de liderança como “[...] a capacidade de influenciar um grupo em direção ao alcance dos objetivos organizacionais [...]”. Outra questão que exige formação específica do pedagogo para agir no ambiente empresarial diz respeito à gestão dos conflitos organizacionais. Um conflito pode serdefinido como um “[...] processo que se inicia quando um indivíduo ou grupo se sente negativamente afetado por outra pessoa ou grupo [...]” (DREU, 1997, p. 9). Assim, muito da origem dos conflitos remete à identidade e 26 formação cultural de cada pessoa que compõe os grupos de trabalho da organização. Por esse motivo, costumam ser recorrentes e exigem esforços cotidianos dos gestores em sua resolução. Se o pedagogo compreender que o conflito pode ser utilizado para melhorar os processos internos da empresa, poderá aplicar os seus programas de treinamento para trabalhar direcionando esses confrontos, hostilidades e choques de valores e princípios rumo a uma visão de conjunto e compartilhada por todos da empresa. Isso contribui definitivamente para a melhoria do ambiente de trabalho e a conquista dos resultados esperados. 5.2 O perfil do pedagogo nas organizações Dadas as características da sua formação na graduação, aliadas à busca por especializações nas áreas específicas da aprendizagem organizacional, o pedagogo desponta como o profissional mais apto a ocupar essas funções. Um dos grandes desafios do pedagogo no ambiente empresarial consiste em promover, junto ao grupo de colaboradores da empresa, o alinhamento dos seus objetivos individuais aos objetivos organizacionais. Essa não é uma tarefa simples, uma vez que as pessoas são diferentes naquilo que buscam para si e, via de regra, as empresas operam tendo como objetivo principal a lucratividade. Para que possa ter condições de cumprir com suas atribuições nas organizações, o pedagogo precisa ter uma formação consolidada em algumas áreas, conforme descreve Ribeiro (2010, p. 10): O Pedagogo Empresarial precisa de uma formação filosófica, humanística e técnica sólida a fim de desenvolver a capacidade de atuação junto aos recursos humanos da empresa. Via de regra sua formação inclui disciplinas como: Didática Aplicada ao Treinamento, Jogos e Simulações Empresariais, Administração do Conhecimento, Ética nas Organizações, Comportamento Humano nas Organizações, Cultura e Mudança nas Organizações, Educação e Dinâmica de Grupos, Relações Interpessoais nas Organizações, Desenvolvimento Organizacional e Avaliação do Desempenho. Alguns desses requisitos profissionais serão adquiridos durante a graduação em pedagogia, mas grande parte deles precisa ser buscada em nível de pós- 27 graduação nas áreas afins, como pedagogia empresarial, gestão de pessoas, administração de RH, gestão estratégica de pessoas e coaching, educação corporativa, entre outras. Veja a seguir algumas habilidades que são requeridas do pedagogo para que a sua atuação nas organizações seja bem-sucedida (PASCOAL, 2007): criatividade; espírito de inovação; compromisso com resultados; pensamento estratégico; trabalho em equipe; capacidade de realização; direção de grupos de trabalho; condução de reuniões; análise de conflitos; sensibilidade. Os tempos atuais exigem dos trabalhadores das organizações requisitos imateriais para o desenvolvimento das suas funções, independentemente do cargo que ocupem. Isso significa que, além das atribuições técnicas relativas às tarefas, outros aspectos de caráter relacional e sensorial também são importantes e exigidos — o que constituirá o foco do trabalho do pedagogo. Para isso, o pedagogo precisa ser criativo, o que exige que ele possa propor novas maneiras de aprender e de encarar os problemas que a empresa apresente (como um todo, em algum setor específico ou um gestor em particular e sua equipe de trabalho), ou seja, a inovação é uma habilidade fundamental. O Manual de Oslo, produzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma organização internacional que reúne hoje 36 nações democráticas que se alinham com a economia de mercado (e da qual o Brasil almeja fazer parte), define que: [...] uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo modelo de 28 marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas [...] (OCDE, 2005, p. 55). Ser comprometido com os resultados da organização é um dos grandes desafios do pedagogo empresarial, pois deve pautar seus projetos e programas de aprendizagem, não perdendo de vista o fato de que estes deverão contribuir para a melhoria dos resultados que a organização propõe no seu planejamento estratégico de longo prazo. Assim, esse entendimento passa a ser decisivo para que os projetos e as ideias possam ser ou não aprovados e implementados. Essa constitui a base do pensamento estratégico que esse profissional deve possuir para atuar com sucesso. Ser capaz de trabalhar em equipe é fundamental para o pedagogo organizacional, pois, na grande maioria das vezes, ele vai atuar formando uma equipe de profissionais de outras áreas. Nesse sentido, a soma de seus saberes deve atuar de forma sinérgica e incrementar os processos de ensino e aprendizagem que ocorrem nesses espaços. É importante lembrar ainda que o pedagogo também estará capacitando os diversos grupos organizacionais para que se consolidem como equipes e, assim, tenham maior resultado e produtividade no que fazem. O pedagogo nas empresas precisa ser um intraempreendedor, ou seja, precisa ser capaz de pôr em prática as suas ideias, buscando a inovação e realizando as mudanças que foram diagnosticadas como necessárias. Da mesma forma, deve ser apto a tornar-se um líder e um gestor de grupos e equipes de trabalho sempre que se fizer necessário, seja para atuar em tarefas pontuais, seja como gestor permanente de algum setor específico, como o de recursos humanos. Na atuação como gestor no ambiente organizacional, incumbe ao pedagogo a organização de reuniões de trabalho dos mais diversos tipos, bem como atuação na solução de conflitos internos, visando à sua solução e à minimização dos seus impactos para a empresa. Os conflitos dentro do ambiente organizacional são frequentes, e muitos deles decorrem de falhas nos processos de comunicação internos, bem como do desalinhamento de objetivos entre colaboradores e empresa, ou ainda, da incompatibilidade de funcionários em relação aos estilos de liderança adotados pelos seus gestores. Quando não resolvidos, causam grande desmotivação e queda na produtividade, o que é percebido pela falta de qualidade nas tarefas executadas e na 29 diminuição do clima organizacional. Ao analisar as exigências de habilidades que recaem sobre o pedagogo para atuar nas organizações empresariais, Ribeiro (2010, p. 24) acrescenta: O pedagogo que atua na empresa precisa ter sensibilidade suficiente para perceber quais estratégias podem ser usadas e em que circunstâncias, para que não se desperdice tempo demais aplicando numerosos métodos e, com isso, percam-se de vista os propósitos tanto da formação quanto da própria empresa, ao planejar um programa de formação ou treinamento a seleção de métodos obedece ao princípio do desenvolvimento concomitante de competências técnicas e de relacionamento social. Como você pode perceber, a sensibilidade também é exigida do pedagogo, de forma que tenha uma visão sistêmica e abrangente da empresa e dos seus processos internos, bem como do impacto do cenário externo nas suas atividades. Ao mesmo tempo, ainda que precise focar em treinamentos voltados para as tarefas técnicas e específicas de cada um, não pode esquecer os aspectos relacionais envolvidos, ou seja, deve propor um equilíbrio entre as ações técnicas e a humanização das relações de trabalho. Ao agir assim, o pedagogo pode promover o crescimento profissional dos colaboradores tanto nos aspectos internos da empresa quanto nos aspectos externos, preparando-os para viveremmais plenamente suas vidas também fora do contexto do trabalho. Estudando sobre a importância do pedagogo no ambiente empresarial, dentro dessa lógica de um mundo empresarial em transformação e no qual a educação corporativa se expande, Prado, Silva e Cardoso (2013, p. 68) destacam que: dentro das organizações, o pedagogo irá planejar, executar, coordenar e avaliar programas e projetos educacionais da empresa. Através de acompanhamento do desenvolvimento do pessoal sob o seu desempenho e direcionando-o como agente de mudanças de mentalidade e cultura. Assim, compete ainda ao pedagogo conhecer detalhadamente os aspectos psicológicos do ser humano, como se comporta em grupo e o que representa o trabalho para ele. Ademais, precisa conhecer a cultura organizacional, percebendo como as práticas profissionais realizadas se consolidaram e quais as crenças e os 30 valores que a empresa traz consigo, para que possa propor ações eficazes ao planejar e propor suas ações educacionais, considerando todos esses aspectos. 6 ÉTICA DO PROFISSIONAL PEDAGOGO O Código de Ética é um instrumento que se apresenta na forma de um documento que pretende expor os princípios e a missão, bem como os valores de uma determinada profissão, constituindo, dessa maneira, uma ferramenta norteadora para a funcionalidade de todo e qualquer profissional. Como a profissão do pedagogo pode promover a sustentação para o caminho que os sujeitos percorrem na ampliação de seus saberes e o desenvolvimento de seu amadurecimento nas mais variadas instâncias, torna-se de extrema importância e necessidade a efetivação de um Código de Ética na vida funcional de um profissional de Pedagogia. O profissional pedagogo ainda não tem um Código de Ética organizado por conselhos federais ou regionais de Pedagogia. A profissão de pedagogo foi regulamentada no final do ano de 2017, com a aprovação do Projeto de Lei nº 6.847/17, pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. No entanto, existe um Código de Ética organizado por estudantes e pedagogos da Associação Universitária de Pedagogia do Brasil (AUNIPEDAG. BR), o qual propõe algumas diretrizes para a profissão do pedagogo e foi criado a partir de documentos 31 legais, como a Constituição Federal do Brasil (1988), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394 – LDB e Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia (Resolução nº 1 do MEC/CNE, de 05 de maio de 2006), entre outras resoluções. A AUNIPEDAG.BR, situada no município de São Paulo/SP, organizou por iniciativa própria, em 2009, o Código de Ética do Profissional Pedagogo, no qual estão presentes as questões fundamentais para o exercício do profissional pedagogo, tais como: princípios, deveres fundamentais, impedimentos, direitos, sigilo profissional, trabalho científico, divulgação, relações profissionais, medidas disciplinares e disposições gerais (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). Composto por 22 artigos, o Código de Ética Profissional do pedagogo, da AUNIPEDAG.BR, reúne fundamentos que orientam as condutas do pedagogo, valorizando a Pedagogia enquanto campo científico profissional. Ancorado nas legislações que conduzem a Pedagogia, a educação, a formação do pedagogo e sua prática, tais como a Constituição Federal do Brasil de 1988, a LDBEN – Lei nº 9.394/96 e as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia, Resolução nº 1 do MEC/CNE de 2006, bem como as resoluções que complementam essas legislações (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). O Artigo 1º se refere aos requisitos para atuar como profissional pedagogo, conferindo ao profissional licenciado em Pedagogia a atuação junto à docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional, na área de serviços e apoio escolar, bem como nas demais áreas em que sejam solicitados conhecimentos pedagógicos. O profissional pedagogo pode atuar tanto em contextos escolares, ou não escolares, além de também estar capacitado para atuar como profissional da educação na administração, no planejamento, na inspeção, na supervisão e na orientação educacional, conforme referenciado no Artigo 64º da LDB, Lei nº 9.394/96 (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). Dessa maneira, o Código de Ética, conforme organizado pela AUNIPEDAG. BR, indica que a prática profissional do pedagogo será conduzida: 32 a) No respeito, na dignidade e na integridade do ser humano, objetivando o desenvolvimento harmônico do Ser e dos seus valores, munindo-se de técnicas adequadas, assegurando os resultados propostos e a qualidade satisfatória da educação; b) Na defesa da democracia, respeitando as posições filosóficas, políticas, religiosas e culturais, analisando crítica e historicamente a realidade em que atua, buscando a socialização do saber; c) Na promoção do bem-estar dos sujeitos e da comunidade atuando a favor destes com aplicação de várias áreas do conhecimento humano, selecionando métodos, técnicas e práticas que possibilitem a consecução do ato de educar; d) Na responsabilidade profissional por meio de um constante desenvolvimento pessoal, científico, técnico e ético; e) Na definição de suas responsabilidades, direitos e deveres de acordo com os princípios estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no Estatuto da Criança, Adolescente e no Estatuto do Idoso na legislação educacional em vigor (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015, p. 11). Em uma atuação com coerência, dignidade, honestidade e respeito ao ser humano, ao sujeito que se dispõe como aprendiz e a sociedade como um todo, fazendo de sua prática um instrumento para a mudança e se disponibilizando como facilitador para as transformações que se apresentarem necessárias. Constituindo, assim, conforme consta no segundo capítulo, sobre os deveres fundamentais, em sua prática profissional, tais como: respeitar a dignidade e os direitos fundamentais da pessoa humana; „ atuar com elevado padrão de competência, senso de responsabilidade, zelo, discrição e honestidade; manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos, corroborando com pesquisas que tratem o fenômeno do desenvolvimento humano; colocar-se a serviço do bem comum da sociedade, sem permitir que prevaleça qualquer interesse particular ou de classe; ter uma filosofia de vida que permita o respeito à justiça, a transmissão de segurança e a firmeza para todos aqueles com quem se relaciona profissionalmente; respeitar os códigos sociais e as expectativas morais das comunidades com as quais realize seu trabalho; 33 assumir somente a responsabilidade de tarefas para as quais está capacitado, recorrendo a outros especialistas sempre que for necessário; zelar para que o exercício profissional seja efetuado com a máxima dignidade, recusando e denunciando situações em que o indivíduo esteja correndo risco ou o exercício profissional esteja sendo aviltado; prestar serviços profissionais, desinteressadamente, em campanhas educativas e situações de emergência dentro de suas possibilidades; manter a atitude de colaboração e solidariedade com colegas; denunciar ao Conselho Federal e/ou Regional de Pedagogia as instituições públicas ou privadas onde as condições de trabalho não sejam dignas ou depreciem, monetária e moralmente, nas diferentes mídias, a formação e a atuação do profissional pedagogo; dar conhecimento ao Conselho Federal e/ou Regional de Pedagogia as instituições públicas e particulares que tenham atos que possam prejudicar alunos, suas famílias, membros da comunidade ou outros profissionais; lutar pela expansão da Pedagogia e defender a qualidade na sua profissão; denunciar falhas em regulamentos, normas e programas da instituição emque trabalha, quando estes estiverem ferindo os princípios e as diretrizes curriculares do Curso de Pedagogia, bem como o Código de Ética, mobilizando, inclusive, o Conselho Regional caso seja necessário; denunciar ao Conselho Regional os profissionais Pedagogos e/ou as Instituições que não atendam aos preceitos científicos da profissão e que, notoriamente, ferem o Código e outros parâmetros legais; empregar com transparência as verbas sob a sua responsabilidade, de acordo com os interesses e as necessidades coletivas dos usuários (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). O Artigo 3° se refere aos impedimentos do pedagogo, no que compreende o favorecimento de qualquer forma existente, e de pessoas que exerçam ilegalmente a profissão de pedagogo e em desacordo com o Código de Ética, bem como: 34 usar títulos que não possua; usar de privilégio profissional ou faculdade decorrente de função para fins discriminatórios ou para auferir vantagens pessoais; desviar, para atendimento particular próprio, os casos da instituição onde trabalha; „ usar ou permitir tráfico de influência para obtenção de emprego, desrespeitando concursos ou processos seletivos; induzir a convicções políticas, filosóficas, morais ou religiosas no exercício de suas funções profissionais; adulterar, interferir em resultados e fazer declarações falsas; apresentar publicamente os resultados de desempenho que depreciem indivíduos ou grupos; exercer sua autoridade de maneira a limitar ou cercear o direito de participação do próximo; decidir, livremente, sobre seus interesses, sem anuência destes. O pedagogo deve cumprir as normas técnicas e os princípios teóricos que embasam a ação do profissional pedagogo, não deixando de divulgar os conhecimentos científicos, artísticos e tecnológicos inerentes à profissão (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). Os direitos do pedagogo estão presentes no Artigo 4º e contemplam a disposição de condições de trabalho dignas, sejam em entidades públicas ou privadas, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional, bem como a busca pela valorização profissional, como garantida pela Constituição Federal de 1988, com planos de carreira, ingresso exclusivamente por concursos públicos de provas e títulos, quando a atuação se der em redes públicas e o respeito e a valorização a suas atividades forem desenvolvidas no âmbito da educação escolar e não escolar. É, ainda, direito de o pedagogo fazer cumprir a aplicação do Inciso II do Parágrafo Único do Artigo 22º da Lei nº 11.494/2007 referente à destinação de, pelo menos, 60% dos recursos anuais totais aos fundos de pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da Educação Básica em efetivo exercício na rede 35 pública, bem como a garantia do piso salarial da categoria, conforme legislação em vigor (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). No Código de Ética descrito pela AUNIPEDAG.BR consta, ainda, no Artigo 5º, o resguardo de sigilo de tudo que o pedagogo constituir de conhecimento decorrente de sua atividade profissional, salvo em casos que constitua perigo eminente. No artigo 6º, há a divulgação do resultado de investigações e experiências, quando isso gerar benefício no desenvolvimento educacional e no artigo 7º a observação, nas divulgações dos trabalhos científicos, quanto às normas referentes à identificação e à autorização dos envolvidos e às normas científicas que regulamentam a publicação em questão (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). As medidas disciplinares sobre a categoria referentes à associação do profissional pedagogo em associações profissionais e cientificas, bem como a sua postura crítica e protetiva sobre a Pedagogia na promoção de sua qualidade profissional, estão presentes no Artigo 8º. Contudo, o Código também prevê medidas disciplinares, mas dessa vez sobre infrações e sanções disciplinares relacionadas à postura profissional do pedagogo em sua diversidade de contextos, como conta no Artigo 9º (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). Medidas referentes a transgressões, sanções, advertências, multas, suspensões, exclusões e outras penalidades a respeito do mau uso da titulação de pedagogo e da má conduta profissional estão presentes nos Artigos 10º ao 18º, nos quais estão referidas, também, quais medidas serão fiscalizadas e regulamentadas conforme inferência dos conselhos regionais, da mesma maneira que toda e qualquer alteração nesse Código pode ser realizada pelos Conselhos Regionais de Pedagogia, por iniciativa própria ou da categoria, como está presente no Artigo 19º. Do Artigo 20º ao 22º estão previstas as disposições gerais referentes à sua disponibilidade para entrar em vigor a partir de 28 de março do ano de 2009, bem como a sua divulgação e o cumprimento como obrigação das entidades de classe (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015). A criação de um Código de Ética que proporciona o norteamento de direitos e deveres para os pedagogos vai além da criação de órgãos representativos, pois se busca permear a profissão de pedagogo, a fim de constituir limites nesse exercício 36 (ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA..., 2015), disponibilizando, dessa forma, um olhar para a expansão do campo de atuação do pedagogo. 6.1 A ética profissional e o ambiente de trabalho do pedagogo Para compreendermos a dimensão da ética profissional no ambiente de trabalho do pedagogo, é necessário entendermos o conceito de ética relacionada ao âmbito profissional. A ética profissional diz respeito a um conjunto de normas morais utilizadas pelos sujeitos com objetivo de orientar suas condutas profissionais. Sendo a ética norteadora para todos os sujeitos em todas as instâncias, como individuais, sociais, profissionais, entre outros, a ética profissional medeia princípios e valores próprios do sujeito para a sua atuação em atividades relacionadas ao trabalho (CHAUÍ, 1995). Souza (2009) referencia sobre um ramo da ética chamado de Deontologia (Quadro 1), um termo criado em 1834, por Jeremy Bentham, o qual se propõe ao estudo dos fundamentos do dever e das normas morais. Sendo compreendida como a ciência dos deveres, em especial dos deveres profissionais, constituindo assim um conjunto de normativas para as condutas profissionais, categorizando um Código de Ética Profissional, no qual são explicitados os direitos, os deveres e as responsabilidades de membros de uma determinada categoria profissional. Quadro 1 – Conceitos de Ética, Deontologia e Códigos Deontológicos Do grego ethiké, ou do Latim ethica (ciência relativas aos costumes), a ética é o domínio da Filosofia que tem por objetivo o juízo de apreciação que distingue o bem e o mal e os comportamentos corretos e incorretos. Os princípios éticos se constituem enquanto diretrizes, pelas quais o homem rege o seu comportamento, tendo em vista uma Filosofia moral dignificante. O termo Deontologia surgiu das palavras gregas déon (déontos, que significa dever) e lógos, que se traduz por discurso ou tratado. Ou seja, a deontologia é um tratado do dever ou um conjunto de deveres, princípios e normas adotadas por um determinado grupo profissional. A deontologia é uma disciplina da ética adaptada ao exercício de uma profissão. Há inúmeros códigos. de deontologia, sendo essa codificação a da responsabilidade de associações ou ordens profissionais. Os códigos. deontológicos têm por base as grandes declarações universais e se esforçam por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando- os, no entanto às particularidades de cada pais e de cada grupo profissional. Fonte: Chauí (1995) 37 A pedagogia como campo de conhecimento que investiga a natureza e as finalidades da educação na sociedade, resguardando suas especificidades e ainda refletindo sobre os meios apropriados de formação e desenvolvimento dos sujeitos,pode ser concebida como a ciência da prática que tende a clarificar objetivos e modos de intervir, metodológica e organizativamente, nos âmbitos da atividade educativa implicados na transição e na assimilação ativa de saberes e modos de ação, tendo, ainda, acentuada relevância nos processos de formação dos cidadãos, pois dispõe da educação como seu objeto de estudo (LIBÂNEO, 2001). Assim sendo, a educação, enquanto objeto de estudo da Pedagogia, articula a teoria com a prática no ambiente de trabalho do pedagogo, tanto em ambiente escolar ou não escolar, estabelecendo um processo por meio do qual exista o planejamento dado a partir de uma análise teórica, mas que produza o desenvolvimento de ações concretas e efetivas, sendo essas ações responsáveis tanto pela oferta de ampliação dos conhecimentos, quanto pela oferta de inserção dos sujeitos no contexto de sua realidade sociocultural (VEIGA et al., 1997). Compreendendo que a educação é o objeto de estudo do pedagogo, o qual tem como objeto de trabalho os processos de ensino-aprendizagem, podemos contemplar o ambiente de trabalho do pedagogo como multifacetado, podendo variar, dentro do ambiente escolar, como professor, gestor educacional, coordenador, supervisor, orientador, inspetor, entre outros, da mesma maneira que expandindo sua variabilidade de atuação em ambientes não escolares, como em empresas, hospitais ou na área social no atendimento às comunidades. A complexidade e a variabilidade do ambiente de trabalho do pedagogo acompanham seu compromisso ético profissional, anexando composições flexíveis e adaptativas à atuação profissional do pedagogo, ou seja, as diretrizes éticas do pedagogo acompanham e se alinham à realidade do seu ambiente de trabalho (RAMAL, 2002). A atuação dos pedagogos possibilita uma vinculação mais iminente da Pedagogia com a ética, pois carrega consigo uma intencionalidade voltada para as finalidades condutivas, formativas, implicadas e com comprometimento. O ambiente de trabalho 38 do pedagogo, independente do contexto, se escolar ou não escolar, resguarda uma atuação como, primordialmente, educacional. Nesse sentido, a ética profissional do pedagogo prioriza a formação de sujeitos racionais mediante a valorização da razão crítica, o resgate do sentido da busca da autonomia e a afirmação de uma ciência pedagógica conectada ao contexto social, cultural, econômico e político (VEIGA; ARAUJO; KAPUZINIAK, 2005). Como podemos compreender, a ética profissional é de extrema importância em todas as áreas de atuação profissional, no entanto, especialmente na área da educação, a ética profissional tem uma potência com ímpetos ainda maiores. Nesse sentido, Ortega e Santiago (2009) referem que no ambiente profissional do pedagogo, ao atuar com pessoas, habilidades, competências, limitações, desafios, sentimentos e valores em uma dinâmica de constante transformação e ampliação da complexidade do campo prático, torna-se necessariamente urgente a reflexão e a discussão das melhores formas de agir diante das circunstâncias que se apresentam, muitas vezes caracterizando dilemas éticos. 39 7 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA ANTUNES, R. L. C. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2009. ASSMANN, H. A metamorfose do aprender na sociedade da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 2, p. 7–15, 2000. ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE PEDAGOGIA DO BRASIL (AUNIPEDAG.BR). Código de ética do profissional pedagogo. 2015. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF 1988. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995. 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