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#Carolina R. Dobrotinic AULA 02 HAM V Síndromes piramidais e extrapiramidais Piramidais O trato piramidal é apenas um dos sistemas motores descendentes que convergem na célula do corno anterior Para fins clínicos, o Trato Córtico Espinal é o principal sistema eferente por meio do qual são iniciados e executados movimentos dotados de propósito. O TCE não é, de maneira alguma, o único mecanismo cortical de movimento; sua principal ação é integrar movimentos definidos, finos e altamente especializados das extremidades. É responsável pela contração de músculos agonistas, bem como pela inibição, ou o relaxamento gradativo, de músculos antagonistas necessários para a execução de movimentos especializados. Por sua integração e controle, as contrações musculares individuais são transformadas em atos motores complexos. A doença das vias piramidais suprime esse efeito inibitório e acarreta função hiperativa e autônoma dos segmentos afetados da medula espinal. A consequência é a atividade excessiva dos centros inferiores normalmente inibidos por mecanismos de controle cortical. O TCE é importante no controle de respostas motoras isoladas e distintas, sobretudo o movimento voluntário fino de cada dedo; ele garante a rapidez e a agilidade dos movimentos das extremidades. As manifestações essenciais de uma lesão do TCE são perda dos movimentos voluntários especializados, ou diminuição da integração dos movimentos, com hiperatividade de centros segmentares inferiores por causa da desinibição. A perda do movimento voluntário é acompanhada do aumento do tônus nos músculos afetados. A paresia por uma lesão do trato piramidal tende a acometer membros inteiros ou alguns grupos musculares. As lesões piramidais perturbam os movimentos; qualquer músculo que participe do movimento será enfraquecido, seja qual for a inervação específica pelo neurônio motor inferior. As lesões do trato piramidal não causam a atrofia muscular focal inicial e intensa observada nas lesões do neurônio motor inferior, mas pode haver atrofia leve e tardia da parte acometida decorrente do desuso Há aumento dos reflexos tendinosos profundos (de estiramento muscular) em vez de perda, como é comum na atrofia neurogênica por lesão do neurônio motor inferior e pode haver clônus. Os reflexos superficiais são diminuídos ou ausentes. É frequente o surgimento de vários reflexos patológicos, como o sinal de Babinski, muitas vezes denominados reflexos piramidais ou sinais do neurônio motor superior Quando a fraqueza é grave, os músculos fortes não inervados pelo TCE sobrepujam os músculos fracos, produzindo a postura característica de hemiplegia espástica. O braço é mantido em adução, com leve rotação medial do ombro, flexão e pronação do cotovelo e flexão do punho e dos dedos. A espasticidade, ou aumento do tônus, é mais acentuada nos músculos flexores e pronadores do membro superior e extensores do membro inferior, mais evidente quando há tentativa de extensão ou supinação do membro superior ou flexão do membro inferior. O movimento passivo pode ser feito com pequena dificuldade se a amplitude for pequena, mas a resistência aumenta com a tentativa de fazer um movimento de maior amplitude. O movimento passivo lento pode ser feito com certa facilidade, mas o movimento rápido é “bloqueado” ou “preso”, muitas vezes com aumento do tônus, seguido por diminuição súbita nos extremos da amplitude de movimento (fenômeno do canivete) A síndrome piramidal, ou do neurônio motor superior, surge gradativamente ao longo de horas a semanas, com espasticidade, hiperatividade dos reflexos tendinosos, resposta plantar extensora e ausência persistente dos reflexos superficiais. Nas lesões da medula espinal também há disfunção intestinal, vesical e sexual. Extrapiramidais Os distúrbios extrapiramidais constituem uma classe de doença neurológica que agora, na maioria das vezes, é denominada distúrbios do movimento, que podem causar movimentação excessiva (p. ex., coreia de Huntington), escassez de movimentos (como doença de Parkinson) ou distúrbio de postura, tônus, de reflexos de endireitamento ou outras manifestações. O sistema extrapiramidal pode ser considerado uma rede neural que influencia o controle motor. Não tem relação direta com a produção de movimentos voluntários, mas está intimamente integrado a outros níveis do sistema motor para modular e regular a atividade motora que ocorre por meio do sistema piramidal. Os núcleos da base (NBs) que mais contribuem para o sistema extrapiramidal e têm maior importância clínica são caudado, putame, globo pálido (GP), substância negra (SN) e núcleo subtalâmico (NST). Além dos circuitos motores que controlam o movimento voluntário, os NBs têm conexões límbicas que participam dos aspectos emocionais do movimento, além de conexões com o sistema oculomotor. Eles também desempenham um papel na cognição. Outras estruturas importantes que participam do sistema de controle motor extrapiramidal incluem tálamo, núcleo rubro (NR), formação reticular (FR) do tronco encefálico, núcleo olivar inferior no bulbo, zona incerta (ZI), núcleos vestibulares, núcleo pedunculopontino (NPP) e substância cinzenta da lâmina do teto. Acredita-se que os distúrbios hipocinéticos do movimento, como no parkinsonismo, sejam decorrentes do aumento dos efeitos inibitórios normais dos neurônios de saída dos NBs. Os distúrbios hipercinéticos do movimento, como a coreia, o hemibalismo e a distonia, provavelmente são consequências da diminuição da inibição normal. O produto final da atividade do sistema extrapiramidal sobre o tônus muscular é o de inibição deste, por meio das conexões do sistema com as áreas bulborreticulares que atuam diretamente nos mecanismos tonígenos. A lesão difusa do sistema retiraria as influências inibidoras que ele exerce sobre as áreas bulborreticulares e haveria um aumento da atividade facilitadora do tônus, com a produção de hipertonia. As conexões do estriado com o córtex são intensas, e as aferências que recebe da área pré-motora (área 6 de Brodmann) são de natureza excitatória. Os neurônios dessa via usam o glutamato como neurotransmissor. Lesões estriatais induzem o aparecimento de hipercinesias, do tipo da coreia e da atetose, ou outros tipos de distonia. Os neurônios intrínsecos do estriado são colinérgicos (excitatórios) e recebem outra aferência de extrema importância, proveniente da substância negra, cujos neurônios são dopaminérgicos. Classicamente considera-se que essas aferências dopaminérgicas desempenhem ação inibitória sobre a atividade intrínseca colinérgica estriatal. O cérebro dos pacientes com Parkinson apresenta uma deficiência de dopamina estriatal secundária à perda dos neurônios da substância negra. A perda da inibição exercida pela substância negra libera a atividade estriatal, que seria responsável pelos sintomas, dentre os quais uma forte hipertonia muscular (rigidez parkinsoniana). As lesões experimentais do globo pálido, em animais, induzem um estado de hipertonia (rigidez) e tremor nas extremidades, equivalente ao que ocorre na síndrome parkinsoniana. A perda dos movimentos associados à mímica facial e gestual, que ocorre nas lesões palidais, é também característica parkinsoniana. Distúrbios hipercinéticos Nesse grupo de movimentos anormais espontâneos, serão discutidas as hipercinesias de origem no sistema extrapiramidal (atetose, distonia, tremor, tiques, balismo, coreias) Atetose Constitui-se de movimentos involuntários que ocorrem nas partes mais distais de um ou mais membros, podendo também ocorrer no tronco, no pescoço e na face. Os músculos envolvidos contraem-se vigorosamente, produzindo deslocamentos lentos das partes afetadas que podem durar muito tempo ou ser contínuos durante o período de vigília. Nos membros superiores, eles começam por hiperextensão do punho e dos dedos, seguida por flexão da mão e, depois, por rotação para o lado, voltando a iniciar-se novamente um ciclo igual, e assim sucessivamente. Esse caráter lento, de contrações musculares vigorosase certa estereotipia, diferencia a atetose da coreia. Por outro lado, a atetose pode apresentar-se mesclada a períodos em que se produzem paradas no movimento, mantendo o segmento em uma postura anormal, rígida, com a musculatura contraída, e que define uma postura distônica (distonia). Após algum tempo, essa postura se desfaz e novamente se estabelece o padrão cinético da atetose. Distonia Os movimentos distônicos são lentos, com contrações musculares muito vigorosas, de longa duração e podem acometer grupos musculares isolados, um segmento corporal ou grandes extensões corporais. Postura distônica é o termo usado para definir segmento em uma posição imóvel por períodos prolongados. Ao longo do tempo, estes pacientes costumam apresentar aumento do volume das massas musculares devido à excessiva demanda de contração Considera-se a distonia uma perturbação do funcionamento dos núcleos da base. Na maioria das vezes, as lesões situam-se predominante ou isoladamente no putame. Na atetose, diferentemente da maioria das distonias, encontram-se alterações em vários setores, decorrentes das agressões sofridas pelo SNC Tremor Tremor pode ser definido como um movimento involuntário estereotipado, rítmico, produzido por contrações alternadas ou sequenciais de músculos agonistas e antagonistas de um segmento corporal. Há dois tipos de tremor por disfunção do sistema extrapiramidal: (1) o de repouso da síndrome parkinsoniana, analisado no tópico sobre parkinsonismo; (2) o de ação, classificado como tremor essencial. Discinesia é um termo utilizado para definir estados em que há movimentação involuntária, muitas vezes confundido ou usado em lugar de distonia. Quando há movimentação rápida, sem contração muscular prolongada e excessiva, as discinesias são consideradas do tipo coreico, coreoatetósico ou balístico; quando a movimentação é lenta com contrações musculares exuberantes e associadas ou não a posturas anormais fixas, as discinesias são consideradas do tipo distônico. Quando muito rápidas, mesclando-se a outras mais lentas, podem ser confundidas com mioclonias. Tiques Os tiques são movimentos involuntários repetitivos e estereotipados que aparecem em determinadas pessoas, especialmente quando em situações de tensão emocional. O portador de um tique sente que o movimento pode ser inibido por controle voluntário, mas, quando o faz, percebe que uma sensação angustiante avoluma-se no seu íntimo, aliviando apenas após o aparecimento do tique. Balismo O balismo constitui-se em uma sucessão de movimentos involuntários rápidos e violentos de grandes áreas do corpo, que se deslocam subitamente, devido a contrações musculares enérgicas e de curta duração. Todo o membro inferior pode, por exemplo, subitamente saltar e realizar uma extrema flexão para logo se relaxar ou o tronco ser deslocado no sentido giratório. O membro superior pode ser jogado para cima ou para os lados com muita força. Trata-se de movimentos que acometem predominantemente as grandes articulações. De maneira geral, esses movimentos ocorrem apenas em um lado do corpo, e por isso costumam ser chamados de hemibalismo. Coreias O termo coreia provém do grego, que significa dança, e traduz uma série de movimentos involuntários irregulares, rápidos, sem contração tônica dos músculos, de breve duração e sem sequência definida. Ocorrem principalmente nas extremidades (mãos, antebraços, pés) e na face. Podem ser movimentos simples ou relativamente elaborados. Quando mais simples, apresentam-se como menear da cabeça, desvios forçados e rápidos dos olhos para um dos lados, brusca elevação dos ombros, piscar de olhos ou mesmo discretos movimentos de passar a língua pelos lábios ou de desvio da boca. Distúrbios hipocinéticos Acinesia, hipocinesia e bradicinesia são termos usados para definir um mesmo fenômeno que se caracteriza por pobreza geral na motricidade automática e associada à diminuição da expressividade facial, da mímica facial e gestual, que ocorre nas síndromes parkinsonianas Síndromes parkinsonianas O parkinsonismo representa a mais frequente manifestação de disfunção do sistema extrapiramidal. A tríade característica da síndrome é composta por rigidez, acinesia e tremor, aos quais se devem acrescentar os distúrbios posturais. A hipertonia é evidenciada pelo sinal do canivete, que consta de uma resistência aumentada no início do movimento e uma redução ao final, pela facilidade advinda da estimulação dos órgãos neurotendíneos. Sinal da roda dentada Esse sinal é produto da fragmentação do movimento, que, em vez de se fazer de maneira contínua, ocorre de maneira entrecortada, como se a articulação fosse dotada de uma cremalheira na qual os dentes não estivessem exatamente se encaixando ou faltasse lubrificação adequada. A acinesia, hipocinesia ou bradicinesia, é responsável por uma variedade de sintomas parkinsonianos, como a pobreza da motricidade, denunciada pela diminuição da expressão facial denominada amimia ou hipomimia, e gestual, pela perda de movimentos associados, como o do balanço dos membros superiores na marcha, diminuição ou falta do piscamento, baixo volume de voz, que se torna monótona, e hesitação no início da marcha. O tremor da síndrome parkinsoniana, também definido como tremor de repouso
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