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Amanda Freitas—MED 5°P APG 11 1 @amandacfdias Definição Os distúrbios do movimento (algumas vezes denominados distúrbios extrapiramidais) comprometem a regulação de atividades motoras voluntárias, sem afetar diretamente a força, a sensibilidade ou a função cerebelar. Eles incluem os distúrbios hipercinéticos, associados a movimentos involuntários anormais, e os distúrbios hipocinéticos, caracterizados pela pobreza de movimentos. Os distúrbios do movimento resultam da disfunção de estruturas profundas de substância cinzenta subcortical, denominadas núcleos da base. Morfofisiologia dos núcleos da base Anatomia Básica Os núcleos da base são massas de substancia cinzenta situadas na base do telencéfalo, estes núcleos são: claustrum, corpo amigdaloide, núcleo caudado, putamen e globo pálido. Podem ser incluídas também mais duas estruturas: o núcleo basal de Meynert e o núcleo accumbens. O núcleo caudado, o putamen e o globo pálido integram o chamado copo estriado dorsal e os núcleos basal de Meynert e accumbens integram o corpo estriado ventral. O claustrum, situado entre o putâmen e o córtex da ínsula, tem conexões recíprocas com praticamente todas as áreas corticais, mas sua função é ainda enigmática existindo várias hipóteses sobre seu funcionamento. Embora os núcleos da base, em especial o corpo estriado dorsal, continuem a ser estruturas predominantemente motoras, eles também estão envolvidos com várias funções não motoras, relacionadas a processos cognitivos, emocionais e motivacionais. Corpo estriado O corpo estriado, também chamado corpo estriado dorsal, é constituído pelo núcleo caudado, putamen e globo pálido. O putâmen e o globo pálido, em conjunto, constituem o núcleo lentiforme. Assim, pode-se dividir o corpo estriado dorsal em uma parte recente, neoestriado, ou simplesmente striatum, que compreende o putâmen e o núcleo caudado; e uma parte antiga, paleoestriado, ou pallidum, constituída pelo globo pálido. O globo pálido divide-se em uma parte medial, o pálido medial e outra lateral, o pálido lateral, com conexões diferentes. Distúrbios do Movimento Amanda Freitas—MED 5°P APG 11 2 @amandacfdias Conexões e circuitos Ao contrário dos outros componentes do sistema motor, o corpo estriado não tem conexões aferentes ou eferentes diretas com a medula suas funções são exercidas por circuitos nos quais áreas corticais de funções diferentes projetam-se para áreas específicas do corpo estriado que, por sua vez, liga-se ao tálamo e, através deste, às áreas corticais de origem. Existem cinco tipos de circuitos corticoestriado-talamocorticais: a) circuito motor - começa nas áreas motora e somestésica do córtex e participa da regulação da motricidade voluntária. b) circuito oculomotor - começa e termina no campo ocular motor e está relacionado aos movimentos oculares; c) circuito pré-frontal dorsolateral - começa na parte dorsolateral da área pré-frontal. Projeta-se para o núcleo caudado, daí para o globo pálido, núcleo dorsomedial do tálamo e volta ao córtex pré-frontal. Suas funções são aquelas atribuídas a esta porção da área pré-frontal. d) circuito pré-frontal orbitofrontal – começa e termina na parte orbitofrontal da área pré-frontal e tem o mesmo trajeto do circuito pré-frontal dorsolateral. Tem as mesmas funções da área pré- frontal orbitofrontal, ou seja, manutenção da atenção e supressão de comportamentos socialmente indesejáveis; e) circuito límbico - origina-se nas áreas neocorticais do sistema límbico, em especial a parte anterior do giro do cíngulo, projeta-se para o estriado ventral em especial o núcleo accumbens, daí para o núcleo anterior do tálamo. Este circuito está relacionado com processamento das emoções. Circuito motor Origina-se nas áreas motoras do córtex e na área somestésica e projeta-se para o putâmen de maneira somatotópica, ou seja, para cada região do córtex há uma região correspondente no putâmen. A partir do putamen, o circuito motor pode seguir por duas vias, direta e indireta. Na via direta, a conexão do putâmen se faz diretamente com o pálido medial e deste para os núcleos ventral anterior (VA) e ventral lateral (VL) do tálamo de onde se projetam para as mesmas áreas motoras de origem. Já na via indireta, a conexão é com o pálido lateral que, por sua vez, projeta-se para o núcleo subtalâmico e deste para o pálido medial. Do pálido medial, seguido do tálamo e córtex como na via direta. Ligado ao circuito motor há um circuito subsidiário, no qual o putâmen mantém conexões recíprocas com a substância negra. Este circuito é importante porque as fibras nigroestriatais são dopaminérgicas e exercem ação modulatória sobre o circuito motor. Esta ação é excitatória na via direta e inibitória na via indireta. O fato do mesmo neurotransmissor, dopamina, ter ações diferentes explica-se pelo fato de que no putâmen existem dois tipos de receptores de dopamina, Dl excitador e 02 inibidor. Nas duas vias o pálido medial mantém uma inibição permanente dos dois núcleos talâmicos resultando em inibição das áreas motoras do córtex. Na via direta o putâmen inibe o pálido medial, cessa a inibição deste sobre o tálamo resultando ativação do córtex e facilitação dos movimentos. Na via indireta ocorre o oposto. A projeção excitatória do núcleo subtalâmico sobre o pálido medial aumenta a inibição deste sobre os núcleos talâmicos resultando em inibição do córtex e dos movimentos. Amanda Freitas—MED 5°P APG 11 3 @amandacfdias A ação excitatória das fibras dopaminérgicas nigroestriatais sobre o putâmen também inibe o pálido medial, com efeito semelhante ao de via direta, ou seja, há ativação dos núcleos talâmicos, resultando ativação do córtex motor, com facilitação dos movimentos. Funções do corpo estriado O papel do corpo estriado no controle motor pode ser inferido por meio do estudo de pacientes com lesões no circuito motor. A atividade tônica inibitória das eferências do pálido medial é um freio permanente para movimentos indesejados. A necessidade de realizar um movimento interromperia este freio tônico, permitindo liberação do comando motor ordenado pelo córtex cerebral. Dessa forma, os núcleos da base têm um papel na preparação de programas motores e na execução automática de programas motores já aprendidos. Síndromes hipercinéticas Tremor Um tremor é um movimento oscilatório rítmico, melhor caracterizado por sua relação com a atividade motora voluntária, ou seja, se ocorre em repouso, durante a manutenção de uma postura particular ou durante o movimento. O tremor é intensificado pelo estresse emocional e desaparece com o sono. Um tremor que ocorre quando o membro está em repouso geralmente é conhecido como tremor estático ou tremor de repouso. Se estiver presente durante a manutenção de uma postura, é denominado tremor postural. Quando o tremor está presente durante o movimento, mas não durante o repouso, em geral é denominado tremor intencional ou cinético. O tremor postural e o tremor intencional também são denominados tremores de ação. Amanda Freitas—MED 5°PAPG 11 4 @amandacfdias » Tremor postural Um tremor de 8 a 12 Hz das mãos estendidas é um achado normal. É considerado fisiológico. O tremor fisiológico pode estar exacerbado por medo ou ansiedade. Um tremor postural mais evidente também pode ser encontrado após atividade física excessiva ou privação do sono. O tipo mais comum de tremor postural anormal é o tremor essencial benigno, que tem uma base familiar. O tremor postural também pode ser evidente em pacientes com doença de Wilson ou distúrbios cerebelares. » Tremor intencional (cinético) Tremor que ocorre durante uma atividade. Quando se pede ao paciente que toque o próprio nariz com um dedo, o braço apresenta um tremor durante o movimento. O tremor intencional resulta de uma lesão afetando o pedúnculo cerebelar superior. Como este tremor é muito grosseiro, pode levar a incapacidade funcional grave. » Tremor residual Tremor característico do parkinsonismo. É um tipo de tremor associado à presença de rigidez ou hipocinesia. O tremor nas mãos pode ser semelhante ao movimento de “enrolar pílulas”→ movimentos rítmicos, circulares, de oposição de polegar e dedo indicador. Coreia A palavra coreia refere-se a abalos musculares irregulares e rápidos que ocorrem involuntariamente e de modo imprevisível em diferentes partes do corpo. Nos casos mais exuberantes, os movimentos voluntários intensos dos membros e da cabeça, além das caretas faciais e dos movimentos da língua, são inconfundíveis. Os movimentos voluntários podem estar distorcidos pelos movimentos involuntários sobrepostos. Nos casos leves, no entanto, os pacientes podem demonstrar somente inquietação e desajeitamento persistentes. A marcha se torna irregular e instável, e o paciente mergulha ou balança de um lado para o outro (marcha dançante). fala se torna irregular em volume e tempo, podendo ter um caráter explosivo. Em alguns pacientes, existem movimentos atetóticos ou postura distônica proeminente. A coreia desaparece com o sono. Embora não seja completamente compreendida, há evidências que apontam para a ideia de que a coreia resulte de um desequilíbrio entre rotas diretas e indiretas do circuito dos núcleos da base, levando a um aumento da atividade dopaminérgica em nível do estriado. Amanda Freitas—MED 5°P APG 11 5 @amandacfdias Balismo ⁄ Hemibalismo Hemibalismo é uma coreia unilateral especialmente violenta, pois os músculos proximais dos membros estão envolvidos. Essa condição em geral é decorrente de doença vascular no núcleo subtalâmico contralateral, e costuma ocorrer resolução espontânea nas semanas que seguem seu início. Distonias e Atetose O termo atetose geralmente significa movimentos anormais que são lentos, sinuosos e parecem contorções. Quando os movimentos são tão mantidos que mais parecem posturas anormais, usa-se o termo distonia e, atualmente, muitos usam os termos como sinônimos. Na distonia, a contração muscular excessiva ou inapropriada (frequentemente músculos agonistas e antagonistas) leva a posturas anormais mantidas da região corporal afetada. Os movimentos e as posturas anormais podem ser generalizados ou têm uma localização restrita, como no pescoço (torcicolo), na mão e no antebraço (cãibra do escritor), ou na boca (distonia oromandibular). Nas distonias restritas, um ou mais membros podem estar afetados (distonia segmentar), ou o distúrbio pode estar restrito a grupos musculares localizados (distonia focal). A distonia generalizada pode ser idiopática ou secundária. Mioclonias Movimentos mioclônicos são contrações musculares rápidas, súbitas e espasmódicas. As mioclonias podem ser classificadas de acordo com sua distribuição, sua relação com estímulos precipitantes ou sua etiologia. As mioclonias generalizadas têm uma distribuição ampla, enquanto as mioclonias focais ou segmentares estão restritas a uma parte do corpo em particular. As mioclonias podem ser espontâneas ou originar de estimulação sensorial, do despertar ou da iniciação de um movimento (mioclonia de ação). As mioclonias podem ocorrer como um fenômeno normal (mioclonia fisiológica) em pessoas sadias, como uma anormalidade isolada (mioclonia essencial), ou como uma manifestação de epilepsia (mioclonia epiléptica). A mioclonia também pode ocorrer com vários distúrbios degenerativos, infecciosos e metabólicos (mioclonia sintomática), afetando o córtex cerebral, o tronco cerebral ou a medula espinal. Essa condição algumas vezes se manifesta não como uma contração muscular súbita e espasmódica, mas com a perda súbita da atividade muscular (mioclonia negativa). » Mioclonias generalizadas A mioclonia fisiológica inclui a mioclonia que ocorre logo após o adormecer ou despertar (mioclonia noturna), bem como o soluço. Amanda Freitas—MED 5°P APG 11 6 @amandacfdias » Mioclonias segmentares A mioclonia segmentar pode se originar de lesões afetando o córtex cerebral, o tronco cerebral ou a medula espinal. Tiques Tiques são movimentos súbitos, recorrentes, rápidos e coordenados de modo anormal que em geral podem ser imitados sem dificuldade. O mesmo movimento ocorre de modo repetitivo e pode ser voluntariamente suprimido por curtos períodos, embora essa supressão possa causar ansiedade. Os tiques tendem a piorar com estresse, diminuem durante atividade voluntária ou concentração metal e desaparecem durante o sono. 1. Tiques transitórios simples: comuns em crianças. Desaparecem espontaneamente dentro de um ano. 2. Tiques crônicos simples: se desenvolve em qualquer idade. tem natureza benigna. 3. Tiques persistentes simples ou múltiplos: infância e adolescência. Tique motor único ou múltiplos. Pode ocorrer tiques vocais. 4. Tiques motores e vocais múltiplos crônicos ou síndrome de Gilles de la Tourette: pode ocorrer após uso de levodopa ou anfetamina e após o uso crônico de neurolépticos, após traumatismo de crânio ou encefalite viral. Síndromes hipocinéticas Parkinsonismo (Bradicinesia e hipocinesia) Bradicinesia (movimento lento) e hipocinesia ou acinesia (pobreza ou ausência de movimento) são as principais características do parkinsonismo e podem ser mais incapacitantes que a presença de movimentos anormais. As manifestações incluem uma expressão facial fixa (a assim chamada fácies em máscara, com redução do piscamento, fissuras palpebrais ampliadas e um aspecto aparentemente impassível) e uma pobreza de movimentos espontâneos dos membros (p. ex., redução nos movimentos associados dos braços durante o caminhar). Alguns pacientes apresentam “congelamento”, que significa dificuldade de iniciar ou manter uma atividade rítmica repetitiva, como andar. O paciente tem dificuldade de descrever tais sintomas, que, frequentemente, são erroneamente atribuídos à fraqueza. Etiologia do parkinsonismo: idiopática (Doença de Parkinson), encefalite letárgica, induzido por fármacos, parkinsonismo vascular, parkinsonismo pós-traumático, parkinsonismo familiar e genético e parkinsonismo associado a outras doenças neurológicas. Obs: detalhes das etiologias no livro neurologia clínica Lange 8°ed, pág. 355. Distúrbios do movimento Doença de Parkinson A variedade mais comum de parkinsonismo ocorre sem causa evidente; esta forma idiopática é denominada doença de Parkinson ou paralisia agitante quando não existem características atípicas e quando a doençanão é secundária a uma causa conhecida, além de existir resposta mantida ao tratamento com medicação dopaminérgica. O parkinsonismo idiopático (doença de Parkinson) é uma proteinopatia caracterizada por Amanda Freitas—MED 5°P APG 11 7 @amandacfdias malformação e agregação da a-sinucleína. Por isso, também é conhecido como uma sinucleinopatia. O exame histológico em um estágio avançado mostra perda de pigmentação e células na substância negra e em outros centros do tronco cerebral, perda celular no globo pálido e no putame, e grânulos de inclusão intraneural filamentosos e eosinofílicos (corpúsculos de Lewy), contendo sinucleína nos núcleos da base, no tronco cerebral, na medula espinal e nos gânglios simpáticos. Na doença de Parkinson, a proteína envolvida, a a-sinucleína em sua forma anormal pode se disseminar subsequentemente de célula para célula e, assim, propagar a doença para partes contíguas do sistema nervoso. As manifestações motoras da doença de Parkinson parecem resultar de padrões alterados de inibição e excitação dentro dos núcleos da base e de suas conexões com as vias diretas e indiretas. A dopamina e a acetilcolina atuam como neurotransmissores nesta região. No parkinsonismo idiopático, o equilíbrio normal entre esses dois neurotransmissores antagonistas encontra-se comprometido em decorrência da depleção de dopamina no sistema nigroestriatal dopaminérgico. Na doença de Parkinson, existe uma degeneração da parte compacta da substância negra, levando a hiperatividade na via indireta (em vermelho) e aumento da excreção glutamatérgica do núcleo subtalâmico. Os neurônios dopaminérgicos (em vermelho) originados na substância negra normalmente inibem a excreção GABAérgica do estriado (caudado e putame), enquanto os neurônios colinérgicos (em verde) exercem um efeito excitatório. Achados clínicos: » Tremor: de repouso, aumenta durante o estresse emocional e melhora durante o movimento. » Rigidez: ou aumento do tônus: aumento da resistência ao movimento passivo. Sinal da roda denteada→ interrupções semelhantes a uma catraca durante o movimento passivo. » Hipocinesia: lentificação do movimento voluntário e uma redução no movimento automático, como o balanço dos braços durante a marcha. Face imóvel ou em máscara. Voz com volume baixo. letra tremula e difícil de ler. » Marcha e postura anormais: postura fletida, dificuldade para se levantar. Difícil andar. Marcha com pequenos passos arrastados e ausência no balanço dos braços e instabilidade para virar. Amanda Freitas—MED 5°P APG 11 8 @amandacfdias Outras manifestações: » Blefaroclonia: pequenos abalos das pálpebras fechadas. » Blefaroespasmo: fechamento palpebral involuntário. » Sialorreia: por comprometimento na deglutição. » Anosmia: perda do olfato » Declínio cognitivo, alterações de personalidade, depressão e ansiedade. » Distúrbios do sono. Coréia de Sydenham A coreia de Sydenham ocorre principalmente em crianças e adolescentes como uma complicação de uma infecção estreptocócica hemolítica do grupo A. Essa condição é a causa mais comum da coreia de desenvolvimento agudo em crianças. A característica patológica provavelmente seja uma arterite. Em cerca de 30% dos casos, ela aparece 2 ou 3 meses após um episódio de febre reumática ou poliartrite, mas em outros pacientes não se obtém essa história. O distúrbio pode ter um início agudo ou insidioso, em geral melhorando nos 4 a 6 meses seguintes. No entanto, pode haver recaída durante a gestação (coreia gravídica) ou em pacientes que tomam contraceptivos orais. Se caracteriza por movimentos coreiformes anormais, que algumas vezes são unilaterais e, quando leves, podem ser erroneamente interpretados como inquietude ou agitação. Podem existir alterações comportamentais associadas, quando a criança se torna irritável ou desobediente. Sintomas obsessivos-compulsivos ou labilidade emocional também podem ocorrer. Tremor familiar ou tremor essencial benigno Os sintomas podem se desenvolver em adolescentes ou na idade adulta precoce, mas frequentemente só aparecem mais tardiamente. O tremor envolve principalmente uma ou ambas as mãos, ou a cabeça e a voz, enquanto as pernas tendem a ser poupadas. O exame geralmente não revela outras anormalidades grosseiras, mas alguns pacientes podem apresentar ataxia ou distúrbios da personalidade. Embora o tremor possa se tornar mais evidente com o tempo, ele em geral leva somente a deficiência estética e constrangimento social. O tremor interfere com a capacidade de realizar tarefas finas ou delicadas com as mãos. A escrita algumas vezes está seriamente prejudicada. A fala é afetada quando existe envolvimento dos músculos larígeos. Doença dos corpúsculos de Lewy As alterações cognitivas levando à demência são proeminentes e geralmente precedem ou ocorrem logo após o aparecimento de déficits parkinsonianos. A função cognitiva pode flutuar acentuadamente em um período de 24 horas. Alucinações visuais são comuns, mas podem não ser angustiantes para o paciente. Muitos pacientes apresentam períodos inexplicáveis de confusão ou delirium acentuados. Os déficits parkinsonianos se tornam mais graves com o tempo, mas o tremor costuma ser relativamente inaparente, quando comparado com a bradicinesia e a rigidez. Hipotensão postural e síncope são comuns. Amanda Freitas—MED 5°P APG 11 9 @amandacfdias Paralisia supranuclear progressiva As características clínicas clássicas são distúrbio da marcha, com quedas precoces, oftalmoplegia suprasupranuclear, paralisia pseudobulbar, distonia axial, com ou sem rigidez extrapiramidal nos membros, e demência. Os homens são duas vezes mais afetados que as mulheres, e o distúrbio tem seu início entre os 45 e 75 anos de idade. A oftalmoplegia supranuclear é caracterizada por acentuada insuficiência do olhar vertical voluntário, com paralisia posterior do olhar horizontal; os reflexos oculocefálico e oculovestibular estão preservados. Movimentos sacádicos verticais podem inicialmente ter sua velocidade reduzida. Instabilidade postural, acinesia acentuada e quedas inexplicáveis também podem ocorrer precocemente, podendo preceder as paralisias do olhar vertical. Uma paralisia pseudobulbar coexistente produz paralisia facial, disartria, disfagia e, frequentemente, movimentos mandibulares e reflexos de vômito; também podem ser observadas respostas emocionais exageradas e inadequadas (afeto pseudobulbar). Hiper-reflexia, respostas extensoras plantares e sinais cerebelares ocasionalmente são observados. A demência da paralisia supranuclear progressiva é caracterizada por esquecimento, processos mentais lentos, alterações do humor e da personalidade, além de comprometimento do cálculo e da capacidade de abstração. Degeneração corticobasal Essa condição caracteriza-se patologicamente pela presença de depósitos filamentosos intracelulares anormais, contendo proteína tau. Algumas vezes, a degeneração corticobasal simula a doença de Parkinson, quando a bradicinesia e a rigidez são as características evidentes. Também pode ocorrer um tremor postural ou de ação, mas a causa comum de incapacidade profunda é a apraxia dos membros e o desajeitamento, e não tanto os déficits extrapiramidais.Outras características do distúrbio estabelecido incluem distúrbios da fala (afasia, apraxia ou disartria), acalculia, déficits sensoriais corticais (p. ex., síndrome de negligência), mioclonia estímulo-sensitiva, fenômeno do membro alienígena (a tendência de um membro se mover sem propósito, involuntariamente ou sem o conhecimento de seu dono), disfagia, distúrbios posturais, características distônicas e, finalmente, declínio cognitivo e alterações comportamentais. Sinais de liberação frontal, reflexos tendinosos vivos e respostas extensoras plantares também podem ser encontrados. Doença de Huntington A doença de Huntington é um distúrbio hereditário do sistema nervoso central caracterizado por início gradual e progressão subsequente para coreia e demência. Os sintomas em geral não aparecem antes da idade adulta (normalmente entre os 30 e 50 anos), em um momento da vida em que estes pacientes já têm sua própria família; assim, essa doença passa de uma geração para a outra. Movimentos anormais ou alterações intelectuais podem ser o sintoma inicial, mas finalmente ambos estão presentes. A neurodegeneração começa muitos anos antes e pode ser acompanhada de alterações cognitivas sutis, psiquiátricas ou motoras que, em retrospectiva, são somente aparentes. 1. Demência: alterações mentais precoces, irritabilidade, mau humor e comportamento antissocial. 2. Coreia: inquietude aparente ou agitação, movimentos coreiformes anormais e grosseiros. 3. Formas atípicas: rigidez e acinesia progressiva, com pouca ou nenhuma coreia. Atrofia destatorrubropalidoluisiana Caracteriza-se por demência, coreoatetose, ataxia e epilepsia mioclônica. Amanda Freitas—MED 5°P APG 11 10 @amandacfdias Distonia de torção primária generalizada Este distúrbio é caracterizado por movimentos e posturas distônicas e pela ausência de outros sinais neurológicos. Os sintomas em geral começam nas pernas. A progressão é provável, e o distúrbio leva à incapacidade grave decorrente da distonia generalizada. O distúrbio se caracteriza por movimentos e posturas anormais, que são exacerbados por atividade voluntária. Muitas vezes, o paciente faz caretas; outras anormalidades faciais características também podem ser encontradas, incluindo blefaroespasmo (caracterizado por fechamento espontâneo forçado e involuntário das pálpebras por um período variável, dificuldade em abrir os olhos e piscamento repetitivo) e distonia oromandibular (fechamento, abertura ou desvio involuntário da mandíbula). Ocorrem espasmos da musculatura da boca, causando, por exemplo, abertura ou fechamento involuntário da boca; formação de beicinho, franzimento ou retração dos lábios; retração do músculo platisma e movimentos itinerantes ou protrusão da língua. Distonia dopa-responsiva Este distúrbio é herdado de modo autossômico dominante, com uma penetrância incompleta ou, raramente, como um distúrbio autossômico recessivo (síndrome de Segawa). O sintoma normalmente começa na infância, mas pode ocorrer mais tarde. Meninas são mais afetadas do que meninos. Uma distonia incapacitante pode estar acompanhada de bradicinesia e rigidez, que muitas vezes leva a um diagnóstico errado de doença de Parkinson juvenil; a piora diurna dos sintomas é comum. Podem ocorrer respostas extensoras plantares ou outras evidências de envolvimento de neurônio motor superior. Alguns pacientes apresentam distonias focais ou déficits funcionais menores, enquanto outros ficam presos à cadeira de rodas, caso não sejam tratados. Doença de Wilson É um distúrbio autossômico recessivo do metabolismo do cobre que produz uma disfunção neurológica e hepática. Embora a natureza precisa da anormalidade bioquímica na doença de Wilson seja desconhecida, sua patogênese parece envolver a redução da ligação do cobre à proteína transportadora ceruloplasmina. Como resultado, grandes quantidades de cobre não ligado entram na circulação e, subsequentemente, são depositadas nos tecidos, incluindo o cérebro, o fígado, o rim e a córnea. Manifestações hepáticas e neurológicas são igualmente comuns, e a maioria dos pacientes, quando não tratados, eventualmente desenvolvem os dois tipos de comprometimento. Apresentações raras incluem doença articular, febre, anemia hemolítica e distúrbios comportamentais. Anormalidades oculares e hepáticas são as manifestações mais proeminentes da doença de Wilson. Os achados oculares mais comuns são os anéis de Kayser-Fleischer: anéis corneanos marrons bilaterais que resultam da deposição de cobre na membrana Descemet. Na doença de Wilson, os achados neurológicos refletem o envolvimento desproporcional do núcleo caudado, do putame, do córtex cerebral e do cerebelo. Os sinais incluem tremor residual ou postural, movimentos coreiformes dos membros, caretas, rigidez, hipocinesia, distaria, disfagia, posturas anormais (fletidas) e ataxia. Convulsões também podem ocorrer. Distúrbios patológicos da doença de Wilson incluem demência, caracterizada por lentidão mental, dificuldade de concentração e comprometimento da memória; distúrbios do afeto, do comportamento ou da personalidade e, raramente, psicose com alucinações. Amanda Freitas—MED 5°P APG 11 11 @amandacfdias Referências Bibliográficas Neuroanatomia Funcional Machado 3°ed 2014. Neurologia Clínica Lange 8°ed 2014. Anatomia Elaine e Marieb 7°ed 2014. Fundamentos de neurologia e neurocirurgia 1°ed 2008 Espaço para anotações...
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