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RESUMO - AS MEDIDAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL

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AS MEDIDAS CAUTELARES NO PROCESSO PENAL
- Aluno
Em linhas gerais, as medidas cautelares tem como função principal garantir a defesa de determinados direitos, até que se confirme a tutela definitiva, o que apenas ocorre com o fim do provimento jurisdicional. Elas existem, portanto, em razão da urgência verificada em alguns casos de que os direitos das vítimas ou de terceiros interessados ou até mesmo da sociedade sejam devidamente protegidos, seja em razão da demora em se obter uma tutela jurisdicional definitiva ou seja em razão de algum outro tipo de risco. Sobre o assunto, destaca-se que o processo penal brasileiro, a partir do julgamento da ADPF 444, passou a adotar também o principio do dever geral de cautela, de modo que o juiz pode, de ofício, decretar a incidência de medidas cautelares, nos termos do art. 749 do Código de Processo Civil. Tal decisão explica a importância destas modalidades de medidas. 
O processo penal brasileiro classifica as medidas cautelares em três categorias/espécies, quais sejam as medidas cautelares pessoais (prisão temporária, prisão em flagrante e prisão preventiva), probatórias (busca e apreensão e produção antecipada de provas) ou reais (sequestro, arresto e hipoteca legal).
As medidas cautelares pessoais são polêmicas na visão de alguns autores, em razão da existência do princípio da presunção de inocência, garantido constitucionalmente em nosso ordenamento jurídico. Por isso, as normas que a regulamentam são objetos de diversas críticas. Sua importância se dá na medida em que sua aplicação no caso concreto consiste na privação da liberdade do indivíduo, haja vista ser constituído por prisões temporárias, prisões em flagrante e prisões preventivas. Justamente em razão desses efeitos, as medidas cautelares apenas são aplicáveis quando presentes alguns requisitos, quais sejam o fumus comissi delicti – prova da existência do delito associada à presença de indícios suficientes de autoria - e o periculim libertatis – a necessidade da prisão a fim de que seja evitada a prática de futuras infrações penais, conforme estabelece o art. 282, I, do CPP. Tal norma cuida de um filtro, responsável por evitar prisões arbitrárias e garantir os direitos constitucionais do suspeito, em especial o direito à liberdade e o princípio da presunção de inocência. 
Hoje, as normas que regulamentam a incidência de medidas cautelares estão precipuamente previstas pelo Código de Processo Penal. Entretanto, existem outras leis específicas. 
A prisão temporária é prevista e regulamentada pela Lei 1.960/89, cujo objetivo principal é assegurar uma eficaz investigação policial nos casos de infrações graves, conforme discorre NUCCI (2022). Sua aplicação, não obstante os requisitos normativos já indicados anteriormente, são estabelecidos por seu art. 1º, sendo o principal a imprescindibilidade da prisão para o correto desenvolvimento das investigações promovidas em sede de inquérito policial. Sobre esse instituto, uma série de críticas, também relacionadas ao principio da presunção de inocência, são traçados pela doutrina. A opinião do professor Bottini (2011), por exemplo é a de que as hipóteses previstas pelo art. 1º da Lei 1.960/89 não justificam a prisão do suspeito. Lopes Jr. (2011) também de manifesta, apontando que é ilegal a prisão temporária fundada apenas na imprescindibilidade para as investigações do inquérito policial. Apesar das críticas, entretanto, se trata de norma compatível com o Código de Processo Penal e o Código Penal brasileiros, haja vista que há a sobreposição da utilidade pública e urgência sobre os direitos individuais dos suspeitos. 
Já as medidas de prisão em flagrante e prisão preventiva estão previstas pelo próprio Código de Processo Penal. 
A prisão em flagrante está prevista constitucionalmente (art. 5º, LXI, CF) e regulamentada pelo art. 312 do CPP, sendo fundada na quase certeza da autoria do delito, o que afasta o princípio da presunção de inocência em um nível considerável, permitindo que seja o sujeito privado de sua liberdade. Trata-se de medida reformada pela Lei 12.403/2011, de modo que, ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz tenha a obrigação de observar o disposto no art. 310 do CPP. Tratam-se, portanto, de previsões manifestamente constitucionais e que seguem à risca os princípios do CPP e do CP brasileiros; vez que não apenas estabelecem sua aplicação nas hipóteses em que há considerável certeza a respeito da autoria do delito, como também permite que o juiz revise a prisão, nos termos do art. 310 do CPP, o que garante maior segurança a respeito dos direitos do suspeito. 
A prisão preventiva, por sua vez, é prevista pelo art. 310, b, do CPP. Em linhas gerais, se trata de medida subsidiária, a ser tomada na hipótese de as medidas assecuratórias previstas pelo art. 319 do CPP (medidas cautelares reais) não serem o bastante. O que ocorre é que, após receber os autos da prisão em flagrante, o juiz pode convertê-la em prisão preventiva, caso preenchidos os requisitos. Ou seja, também se trata de medida manifestamente constitucional e de acordo com os princípios do CPP e do CP. 
É importante mencionar que, enquanto o Código Penal regula a prisão proveniente de condenação, o Código de Processo Penal e a Lei 1.960/89 vão tratar dos procedimentos adotados pelas medidas cautelares. Por isso, ao analisar a compatibilidade entre as normas que regulamentam essas medidas e o Código Penal, deve-se ter como base os princípios por ele estabelecidos, bem como preceitos da Teoria Geral do Direito Penal. 
Sob essa perspectiva, evidencia-se que as normas que cuidam das medidas cautelares pessoais no ordenamento jurídico brasileiro têm compatibilidade com o direito penal brasileiro, em especial com as normas previstas nos diplomas do Código Penal e do Código de Processo Penal. 
REFERÊNCIAS
BOTTINI, Pierpaolo Cruz. A prisão temporária merece críticas considerações. 2011. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2011-ago-23/direito-defesa-prisão-temporaria-merece-criticas-consideracoes>. Acesso em: 31 mar. 2019.
JÚNIOR, Aury Lopes. O novo regime jurídico da prisão processual, liberdade provisória e medidas cautelares diversas. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen, 2011.
NUCCI, Guilherme de S. Manual de Processo Penal. São Paulo: Grupo GEN, 2022. E-book. 9786559643691. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559643691/. Acesso em: 07 set. 2022.

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