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1Curso Ênfase © 2021 TEMAS ESPECIAIS PARA JUIZ FEDERAL DIREITOS HUMANOS Tráfico de pessoas e a Justiça Federal 1. Tráfico de pessoas O tráfico de pessoas é um fato que acontece desde os tempos antigos. Sendo assim, já havia previsão no Código Penal (CP) desde a sua edição, mas, com uma tipificação mais restrita do que a emprestada ao art. 231 por meio da Lei nº 11.106/2005, já que, inicialmente, havia previsão quanto ao tráfico de mulheres, notadamente no aspecto da exploração sexual. À época, o nosso legislador punia a entrada e saída em território nacional de pessoa, ou melhor, a promoção da entrada, já que a pessoa era uma vítima, para fins de exploração sexual. Atualmente, o art. 231 resta integralmente revogado, tendo a disciplina do tráfico de pessoas sido disposta no atual art. 149-A (Lei nº 13.344/2016), todos do CP. Tráfico de Pessoas Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: I − remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; II − submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; 2Curso Ênfase © 2021 III − submetê-la a qualquer tipo de servidão; IV − adoção ilegal; ou V − exploração sexual. Pena − reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se: I − o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; II − o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; III − o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou IV − a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. § 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa. 2. Definição jurídica Os tipos penais anteriores a 2016 não atendiam às obrigações internacionais assumidas pelo Brasil, porquanto deveriam abranger a arregimentação e o transporte de pessoas para as mais diversas finalidades, normalmente aquelas em situação de vulnerabilidade. Se observarmos no Protocolo Adicional à Convenção de Palermo, da qual o Brasil é signatário através do Decreto nº 5.017/2004, temos uma definição da expressão tráfico de pessoas, designando o que esse fenômeno significa e em que condições ele acontece. Vejamos: 3Curso Ênfase © 2021 Art. 3. a) A expressão “tráfico de pessoas” significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. Observa-se que a exploração não é apenas a sexual. Toda forma de exploração contra o ser humano, que o coloque em posição de objeto, coisa, pretende ser punida por esse protocolo, incluindo, no mínimo, a exploração de outrem em diversas formas, como a sexual, do trabalho ou serviços forçados, escravidão ou práticas similares, a servidão ou a remoção de órgãos. Nesse mesmo protocolo há uma menção clara à ideia de que o tráfico de pessoas estará presente quando a vítima não puder manifestar livremente o seu consentimento. Quando ela é colocada nessa posição, de alguém que é transportado ou levado contra a sua vontade, ao menos com algum tipo de vício da vontade: Art. 3. b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente artigo. Será considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a). Art. 3. c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma criança para fins de exploração serão considerados “tráfico de pessoas” mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos da alínea a) do presente artigo. 3. Tráfico de pessoas – art. 149-A do CP Após a edição da Lei nº 13.344/2016, que alterou sensivelmente a conformação do tipo penal de tráfico de pessoas no nosso CP, inclusive topograficamente, deslocando-o do art. 231 para o art. 149-A, ele está muito mais coerente com os termos da Convenção de Palermo. 4Curso Ênfase © 2021 Como foi determinada ou realizada a redação do art. 149-A do CP? No art. 149-A foram previstas várias condutas como: agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, bem como vários modos de praticar essa conduta: mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, bem como vários modos de praticar essa conduta e várias finalidades: I − remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; II − submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; III − submetê-la a qualquer tipo de servidão; IV − adoção ilegal; ou V − exploração sexual. Essas cinco finalidades vieram atender com muito mais precisão às obrigações assumidas pelo Brasil ao aderir ao Protocolo Adicional da Convenção de Palermo. Ainda, as penas foram elevadas para reclusão de quatro a oito anos e multa. Quais as principais distinções entre o art. 149-A e o antigo art. 231, já revogado, ambos do CP? Primeiro, a ampliação da figura do tráfico de pessoas. Segundo, tivemos uma novatio legis in pejus, devido ao aumento de pena e a inclusão da pena de multa no tipo básico. No art. 231 do CP, como não se atrelava a priori a finalidade lucrativa, só quando caracterizada tal finalidade no caso concreto, é que se aplicava a multa prevista no parágrafo 3º do art. 231. O novo art. 149-A traz a previsão de multa já em seu tipo base. Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: (...) Pena − reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Grifos nossos.) 5Curso Ênfase © 2021 Outro dado importantíssimo, especialmente para a competência federal, é que houve a reunião do tráfico internacional e do interno de pessoas no mesmo tipo penal. Anteriormente, tínhamos os arts. 231 e o 231-A, o primeiro tratando do tráfico internacional de pessoas e o segundo sobre o tráfico interno. Hoje, ambas as figuras delituosas estão dispostas no art. 149-A. Além disso, houve a inserção de várias finalidades, que não precisam necessariamente ser atingidas para que o crime se consuma. Veremos que se trata de crime formal, de ação múltipla ou conteúdo variado, ou seja, não precisa ter a finalidade exclusiva de remoção de órgãos, ou trabalho escravo, podendo haver uma apenas ou várias, cumulativamente. Como se trabalhava essa ideia do tráfico de pessoas, especialmente para a exploração sexual, na redação anterior, do art. 231 do CP? A redação anterior não mencionava nada a respeito das modalidades de conduta, mas trazia, por exemplo, causa de aumento da pena, em sendo configurada uma ou outra situação em que houvesse um vício no consentimento ou emprego de condutas mais reprováveis na promoção da entrada ou da saída da pessoa em território nacional.Dessa forma, se houvesse o emprego da fraude, violência ou até mesmo se a vítima fosse menor de 18 anos, a conduta era agravada. Mas, se a vítima fosse maior, já estivesse inserida na prostituição e fosse promovida a sua saída do território nacional, o entendimento jurisprudencial era no sentido de, mesmo nessas condições, tratando-se de um crime contra a liberdade sexual, no qual, pelo menos em tese, poderia haver juízo de valor pela própria vítima e impossibilidade de decisão por parte dela, seu consentimento era irrelevante, pois ela estaria em uma situação de vulnerabilidade social. Sendo, portanto, seu consentimento viciado. O tipo atual não menciona a necessidade de consentimento ou dissenso da vítima. O recrutamento é normalmente feito em condições em que o agente se prevalece de uma situação de fragilidade da vítima e, portanto, repise-se, mesmo que a vítima já se prostituísse, ou já soubesse que iria se prostituir no exterior, a conduta era assim mesmo considerada punível pelo CP na visão da jurisprudência. Atenção! 6Curso Ênfase © 2021 Havia alguns dissensos a respeito da invalidade do consentimento em casos como esses, alguns prestigiando a situação de vulnerabilidade, outros argumentando a presença da liberdade sexual, devendo a análise recair caso a caso. Havia também debates no sentido de que, caso se considerasse o consentimento como descriminante, ainda quando dado por pessoa capaz, tal consentimento violaria ainda assim o bem jurídico protegido pelo tipo, pois afastaria a própria punibilidade daquela pessoa que promovia essa saída ou entrada em território nacional da suposta vítima. Repise-se que a nossa jurisprudência afastava esse entendimento e dizia que o consentimento é irrelevante. Ocorre que a redação atual não permite mais essa conclusão. Essa talvez seja a tônica mais importante do art. 149-A, ou seja, a necessidade do dissenso da vítima ou do seu consentimento viciado para caracterizar o crime, porque só existe crime se as condutas descritas no referido artigo forem praticadas mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso (nessas duas situações, embora não haja essa agressividade ou violência, há a aplicação de meios enganosos ou excessivos para obter um eventual consentimento). Em todas essas hipóteses, grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, a liberdade de escolha e de decisão da pessoa não se exerce plenamente. Assim, para que haja o crime, deve haver pelo menos o dissenso da vítima ou o seu consentimento viciado. Se a pessoa é maior de idade, tem capacidade de decisão, não está sendo enganada, mesmo que ela esteja em uma situação de vulnerabilidade econômica, seu consentimento é válido, desde que a proposta reflita o que foi combinado, não podendo haver nenhum engodo, como ser submetida a regime de escravidão, retenção de passaporte, impedimento de manter comunicação com a família etc. Nessas condições não há crime. Isso representa de fato, uma abolitio criminis de fatos anteriores que não passou despercebida ao TRF3, por exemplo, que já explicitou entendimento nesse sentido. Vejamos: 4. Houve revogação formal do tipo penal, com a inserção imediata de tipo inovador (alteração fotográfica normativa), sem efetiva supressão do fato criminoso, ocorrendo, portanto, 7Curso Ênfase © 2021 continuidade normativo-típica, porém somente em parte. 5. Na vigência da Lei 11.106/2005 o emprego de violência, grave ameaça, ou fraude consistia qualificadas das condutas descritas no caput do artigo 231 do Código Penal. Logo, na vigência dessa lei, o entendimento jurisprudencial, inclusive adotado na sentença apelada e por este Relator, era amplamente majoritário no sentido e que o consentimento da vítima era irrelevante para a configuração do delito previsto no caput. 6. Contudo, na nova redação do artigo 149-A do CP dada pela Lei 13.344/2016, a violência, agrave ameaça e a fraude – e agora também as figuras de coação e abuso estão incluídas como circunstâncias elementares do novo tipo penal, de modo que, se elas não ocorrem, não se configura a tipicidade da conduta. Equivale dizer, especialmente em relação ao crime de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual, de que se cuida nos autos, que uma vez verificada a existência de consentimento válido, sem qualquer vício, resta afastada a tipicidade da conduta. 7. Assim, quanto ao crime de tráfico de pessoas disposto no artigo 231, caput, do CP na redação da Lei 11.106/2005, para o qual o consentimento da vítima era irrelevante penal, ocorreu abolitio criminis (TRF 3ª Região, 1ª Turma, Ap. nº 58.381 – 0003569-27.2007.4.03.6181, rel. Juiz Convocado Márcio Mesquita, julgado em 19.09.2017, e-DJF3 judicial 1, 25.09.2017). 3.1. Características da pena Temos no dispositivo 149-A que o bem jurídico tutelado é a liberdade individual, haja vista o crime estar inserido nesse capítulo. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo e passivo, homem ou mulher. Durante muito tempo, esse crime quando era concebido para fins de exploração sexual tinha como vítimas apenas as mulheres, mas homens ou mulheres, indiscriminadamente podem ser vítimas desse crime, embora haja grupos ou gêneros mais atingidos, como os travestis e as próprias mulheres. O tipo é de ação múltipla e conduta variada, significa dizer que, se várias condutas forem praticadas no mesmo contexto de fato, o agente responderá por um crime só. 8Curso Ênfase © 2021 A consumação vai depender do núcleo verbal, e não da efetiva transposição das fronteiras a alojamento, desde que comprovada essa relação de destinação da pessoa para o exterior. O crime é doloso e exige dolo específico (especial fim de agir, elemento especial do tipo). Só há crime se forem praticadas aquelas ações com as intenções e circunstâncias ali dispostas, seja isolada, sejam cumulativamente. É alguém que está sendo recrutado de forma fraudulenta ou mediante grave ameaça ou é sequestrado para ser levado para o exterior para que lhe seja retirado um rim, por exemplo. Ou em outra situação, uma mulher que é seduzida por uma proposta para ia à Espanha com a promessa de que irá dançar em uma boate, mas, lá chegando, tem seu passaporte confiscado e é obrigada a fazer programas sexuais, sendo vedada a comunicação com a sua família, não recebe nada, ficando em regime de trabalho escravo e de exploração sexual. Os crimes violentos, geralmente praticados no bojo do tráfico, estarão em concurso com o art. 149-A. Apenas a violência empregada para recrutar e transportar e ainda assim, no caso de lesões leves, ficarão absorvidas pelo crime de tráfico de pessoas. Lesões graves e gravíssimas, são punidas de forma autônoma, em concurso. As penas para esses crimes são aumentadas de 1/3, até a metade, em se tratando de tráfico transnacional ou internacional, conforme previsto no inciso IV , § 1º do art. 149- A do CP: “a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional”. 3.2. Tráfico transnacional Quando se terá tráfico transnacional? O art. 149-A, § 1º, IV, CP, prevê que ocorrerá tráfico transnacional quando a vítima do tráfico for retirada do território nacional. Assim, teremos tanto tráfico de pessoas se alguém for arregimentado em território nacional para ser levado para, por exemplo, Fortaleza/CE, ou ainda, para ser objeto de exploração sexual dentro do mesmo estado em que a pessoa se encontra, sem a necessidade de transposição de fronteiras nessas circunstâncias, ou se houver a retirada da pessoa do território nacional. Sendo assim, teremos a incidência da causa de aumento do inciso IV. O que chama a atenção imediatamente éum equívoco gravíssimo do Atenção! 9Curso Ênfase © 2021 legislador, pois só existe tráfico internacional, como causa de aumento, em um sentido, se a pessoa sai do Brasil para o exterior. Por outro lado, se a pessoa é arregimentada no sentido contrário, para ser explorada no Brasil, não incide a causa de aumento da transnacionalidade, pois em nenhum momento o artigo fala da hipótese de haver a entrada da pessoa em território nacional como o art. 231 do CP dizia anteriormente. Nessas circunstâncias a conduta não é atípica, somente não incide a causa de aumento o inciso IV. Duas questões de extrema importância em relação ao crime de tráfico de pessoas: 1) Só há crime de tráfico se houver dissenso da vítima ou se o seu consentimento for viciado. 2) A atual conformação do tráfico internacional de pessoas implica a competência da Justiça Federal. O crime de tráfico, como concebido hoje, e como era anteriormente, em regra, será de competência da Justiça Estadual; mas, havendo a transnacionalidade, a competência passa a ser da Justiça Federal, tendo em vista os tratados e convenções internacionais incidentes nesses casos. Ainda que a transnacionalidade se dê como imigração, vale dizer, a vítima é trazida de outro país ao Brasil, a competência será federal. Mas, nesse caso, sem a incidência da causa de aumento, incidente apenas no caso de emigração, ou seja, caso a vítima seja retirada do Brasil para outro país. 3.3. Causas de aumento da pena Quais são as outras causas de aumento hoje previstas no CP? Atenção! 10Curso Ênfase © 2021 § 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se: I − o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las; (...) A pena é aumentada de um terço até a metade se o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, ou seja, um crime em que há uma facilitação ou participação do funcionário público para aquela atividade. Imagine que seja um funcionário público que trabalhe em uma fronteira e faz a intermediação de mulheres com o fim de serem exploradas em território paraguaio, por exemplo. Mulheres brasileiras são coagidas por uma determina pessoa que recebe certa quantia por fazer isso. II − o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; Outra hipótese é quando o crime for cometido contra criança, adolescente, pessoa idosa ou com deficiência. Essas são pessoas que o legislador considera como vulneráveis, frágeis, merecedoras de especial proteção. III − o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função. Ainda, nas hipóteses em que se espera do agente uma ação de maior zelo com a vítima, casos de parentescos com a vítima, pai, mãe que cede ou explora o próprio filho sexualmente, mediante violência ou ameaça, fazendo parte de um esquema de exploração em que a vítima é uma pessoa que está em sua relação de parentesco. Isso vale também para aquele que se prevalece das relações domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função. De forma semelhante ao que ocorre no tráfico de drogas, estabeleceu a lei uma causa de redução de pena (art. 149-A, § 2º, do CP), que se chama de tráfico de pessoas privilegiado. A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização criminosa. Essa redação é suficiente para mostrar que nas hipóteses eventuais em que a pessoa não esteja associada para a exploração do tráfico, 11Curso Ênfase © 2021 ela pode ter esse benefício. IV − a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional. Por fim, no caso do tráfico internacional, lembrando que somente no sentido Brasil- exterior a pena poderá ser aumentada em um terço até a metade. 3.4. Livramento condicional Embora a Lei nº 13.344/2016 não equipare o crime de tráfico de pessoas a crime hediondo, inseriu no art. 83 do CP uma regra mais rigorosa de exigência para fins de livramento condicional. Requisitos do livramento condicional Art. 83. O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: (...) V − cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016.) (Grifos nossos.) O livramento condicional é aquele benefício de obtenção de liberdade prévia, a partir do bom cumprimento da pena, sendo mais restritivo, com critérios mais rígidos, em se tratando de determinadas categorias de crimes, como ocorre com os hediondos e equiparados. Neste particular apenas, em que pese o crime de tráfico de pessoas não tenha sido equiparado aos hediondos, porquanto a lei não o inseriu no rol da Lei nº 8.072/1990, estabeleceu a regra mais gravosa do livramento condicional. Assim, ainda que os requisitos para o livramento condicional, no crime de tráfico de pessoas, sejam mais rígidos, ele não foi equiparado a hediondo. Atenção! 12Curso Ênfase © 2021 Outras regras processuais importantes: − Aplica-se subsidiariamente a Lei nº 12.850/2013 (art. 9º da Lei nº 13.344/2016). Art. 9º Aplica-se subsidiariamente, no que couber, o disposto na Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013. − A competência pode ser da Justiça Estadual ou Federal. − Os processos devem tramitar em segredo de justiça (art. 6º, IV, da Lei nº 13.344/2016). Art. 6º A proteção e o atendimento à vítima direta ou indireta do tráfico de pessoas compreendem: (...) IV − preservação da intimidade e da identidade; (...) Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência dos temas em provas de concursos públicos. A autoria dos e-books não se atribui aos professores de videoaulas e podcasts. Todos os direitos reservados.
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