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Aspectos Polêmicos Do Habeas

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1Curso	Ênfase	©	2021
TEMAS	ESPECIAIS	PARA	JUIZ	FEDERAL
DIREITO	PROCESSUAL	PENAL
Aspectos	Polêmicos	do	Habeas	corpus	na	Jurisprudência
da	Justiça	Federal
O	habeas	corpus	é	uma	ação	autônoma	de	impugnação,	de	índole	constitucional.	Desde
a	 origem,	 a	 ação	 de	 habeas	 corpus	 tem	 sido	 “o	 meio	 de	 garantir	 a	 liberdade
ambulatória,	 direito	 individual	 básico	 de	 que	 goza	 a	 pessoa.	 O	 direito	 à	 liberdade	 é
pressuposto	para	o	exercício	de	vários	outros	direitos”	 (TÁVORA;	ALENCAR,	2020,	p.
1.621).	
Norberto	Avena	(2019)	explica	que:	
o	 instituto	 do	 habeas	 corpus	 (HC)	 chegou	 ao	 Brasil,	 no	 Código	 de
Processo	 Criminal	 do	 Império,	 em	 1832.	 O	 art.	 340,	 desse	 diploma,
dispunha	 que	 todo	 cidadão	 que	 entender	 que	 ele	 ou	 outrem	 sofre	 uma
prisão	ou	constrangimento	em	sua	liberdade	tem	o	direito	de	pedir	uma
ordem	 de	 habeas	 corpus	 em	 seu	 favor,	 e	 foi	 incluído	 no	 texto
constitucional	por	meio	do	art.	72,	§	22,	da	Constituição	da	República	de
1891.	Atualmente,	está	previsto	no	art.	5º,	LXVIII,	da	atual	Constituição
Federal	(CF/1988).
De	acordo	com	Lima	(2020),	
A	 liberdade	 de	 locomoção	 é	 um	 dos	 direitos	 mais	 sagrados	 do	 ser
humano,	 direito	 este	 que	 não	 pode	 sofrer	 quaisquer	 restrições	 e/ou
limitações,	 senão	 as	 previstas	 em	 lei.	 Para	 assegurar	 tal	 direito,	 de
2Curso	Ênfase	©	2021
maneira	célere	e	eficaz,	a	CF/1988	outorga	a	qualquer	pessoa,	nacional
ou	estrangeira,	a	garantia	do	habeas	corpus.
1.	Noções	gerais
A	expressão	habeas	corpus	traduz-se	literalmente	como	“tome	o	corpo”,	isto	é,	tome	a
pessoa	 presa	 e	 apresente-a	 ao	 juiz	 para	 decisão	 quanto	 à	 legalidade	 ou	 não	 do
cerceamento	de	sua	liberdade.	
Na	 dicção	 da	 doutrina,	 a	 expressão	 habeas	 corpus	 significa	 “exiba	 o
corpo”,	ou	seja,	apresente	a	pessoa	que	está	sofrendo	ilegalidade	na	sua
liberdade	 de	 locomoção.	 Habeas,	 de	 habeo,	 habes,	 habui,	 habitum,
habere,	 que	 significa	 “ter”,	 “possuir”,	 “apresentar”;	 e	 corpus	 (corpus,
oris),	 que	 se	 traduz	 por	 “corpo”	 ou	 “pessoa”.	 A	 expressão	 é	 writ	 of
habeas	 corpus:	 ordem	 para	 apresentar	 a	 pessoa	 que	 está	 sofrendo	 o
constrangimento	(LIMA,	2020,	p.	1.849).	
Segundo	a	doutrina	de	Mendes	e	Branco:	
O	habeas	corpus	destina-se	a	proteger	o	indivíduo	contra	qualquer	medida	restritiva	do
Poder	Público	à	sua	liberdade	de	ir,	vir	e	permanecer.	A	jurisprudência	prevalecente	no
STF	é	no	sentido	de	que	não	terá	seguimento	habeas	corpus	que	não	afete	diretamente
a	 liberdade	 de	 locomoção	 do	 paciente.	 Em	que	 pesem	 a	 extensão	 e	 a	 amplitude	 que
essa	 interpretação	 tem	 assumido,	 não	 impressiona,	 contudo,	 o	 argumento	 de	 que	 o
habeas	corpus	é	 o	meio	adequado	para	proteger	 tão	 somente	o	direito	de	 ir	 e	 vir	 do
cidadão	 em	 face	 de	 violência,	 coação	 ilegal	 ou	 abuso	 de	 poder	 (MENDES;	 BRANCO,
2020,	p.	448).
O	 examinador,	 por	 diversas	 vezes,	 utiliza	 nas	 provas	 a	 expressão	 writ
substituindo	o	termo	habeas	corpus.
O	habeas	corpus	tem	fundamento	na	Constituição	Federal	e	está	previsto	em	seu	art.
5º,	 LXVIII,	 da	 CF/1988,	 dentre	 os	 direitos	 e	 garantias	 fundamentais:	 “conceder-se-á
Atenção!
3Curso	Ênfase	©	2021
habeas	corpus	sempre	que	alguém	sofrer	ou	se	achar	ameaçado	de	sofrer	violência	ou
coação	em	sua	liberdade	de	locomoção,	por	ilegalidade	ou	abuso	de	poder”.	
Em	sentido	bastante	parecido,	o	art.	647	do	Código	de	Processo	Penal	(CPP)	dispõe	que
“dar-se-á	habeas	corpus	sempre	que	alguém	sofrer	ou	se	achar	na	iminência	de	sofrer
violência	 ou	 coação	 ilegal	 na	 sua	 liberdade	 de	 ir	 e	 vir,	 salvo	 nos	 casos	 de	 punição
disciplinar”.
Observação	importante	que	se	deve	fazer	é	que,	embora	o	habeas	corpus	seja,	via	de
regra,	 uma	 ação	 individual,	 não	 há	 impedimento	 para	 sua	 impetração	 na	 defesa	 de
direitos	coletivos,	de	 forma	semelhante	ao	que	 já	ocorre	com	relação	ao	mandado	de
segurança.	Inclusive,	foi	utilizado	recentemente	no	HC	nº	143.641	no	caso	de	mulheres
grávidas	e	mães	de	crianças	de	até	12	anos	incompletos.	
HABEAS	 CORPUS	 COLETIVO.	 ADMISSIBILIDADE.	 DOUTRINA	 BRASILEIRA	 DO
HABEAS	CORPUS.	MÁXIMA	EFETIVIDADE	DO	WRIT.	MÃES	E	GESTANTES	PRESAS.
RELAÇÕES	 SOCIAIS	 MASSIFICADAS	 E	 BUROCRATIZADAS.	 GRUPOS	 SOCIAIS
VULNERÁVEIS.	 ACESSO	 À	 JUSTIÇA.	 FACILITAÇÃO.	 EMPREGO	 DE	 REMÉDIOS
PROCESSUAIS	ADEQUADOS.	LEGITIMIDADE	ATIVA.	APLICAÇÃO	ANALÓGICA	DA	LEI
13.300/2016.	 MULHERES	 GRÁVIDAS	 OU	 COM	 CRIANÇAS	 SOB	 SUA	 GUARDA.
PRISÕES	 PREVENTIVAS	 CUMPRIDAS	 EM	 CONDIÇÕES	 DEGRADANTES.
INADMISSIBILIDADE.	 PRIVAÇÃO	 DE	 CUIDADOS	 MÉDICOS	 PRÉ-NATAL	 E	 PÓS-
PARTO.	FALTA	DE	BERÇÁRIOS	E	CRECHES.	ADPF	347	MC/DF.	SISTEMA	PRISIONAL
BRASILEIRO.	 ESTADO	 DE	 COISAS	 INCONSTITUCIONAL.	 CULTURA	 DO
ENCARCERAMENTO.	 NECESSIDADE	 DE	 SUPERAÇÃO.	 DETENÇÕES	 CAUTELARES
DECRETADAS	DE	FORMA	ABUSIVA	E	IRRAZOÁVEL.	INCAPACIDADE	DO	ESTADO	DE
ASSEGURAR	 DIREITOS	 FUNDAMENTAIS	 ÀS	 ENCARCERADAS.	 OBJETIVOS	 DE
DESENVOLVIMENTO	 DO	 MILÊNIO	 E	 DE	 DESENVOLVIMENTO	 SUSTENTÁVEL	 DA
ORGANIZAÇÃO	 DAS	 NAÇÕES	 UNIDAS.	 REGRAS	 DE	 BANGKOK.	 ESTATUTO	 DA
PRIMEIRA	INFÂNCIA.	APLICAÇÃO	À	ESPÉCIE.	ORDEM	CONCEDIDA.	EXTENSÃO	DE
OFÍCIO.	 I	 –	 Existência	 de	 relações	 sociais	 massificadas	 e	 burocratizadas,	 cujos
problemas	 estão	 a	 exigir	 soluções	 a	 partir	 de	 remédios	 processuais	 coletivos,
especialmente	 para	 coibir	 ou	 prevenir	 lesões	 a	 direitos	 de	 grupos	 vulneráveis.	 II	 –
Conhecimento	do	writ	coletivo	homenageia	nossa	tradição	jurídica	de	conferir	a	maior
amplitude	possível	ao	remédio	heroico,	conhecida	como	doutrina	brasileira	do	habeas
corpus.	 III	–	Entendimento	que	se	amolda	ao	disposto	no	art.	654,	§	2º,	do	Código	de
Processo	Penal	−	CPP,	o	qual	outorga	aos	juízes	e	tribunais	competência	para	expedir,
de	 ofício,	 ordem	 de	 habeas	 corpus,	 quando,	 no	 curso	 de	 processo,	 verificarem	 que
alguém	sofre	ou	está	na	 iminência	de	 sofrer	 coação	 ilegal.	 IV	 –	Compreensão	que	 se
4Curso	Ênfase	©	2021
harmoniza	também	com	o	previsto	no	art.	580	do	CPP,	que	faculta	a	extensão	da	ordem
a	 todos	que	se	encontram	na	mesma	situação	processual.	V	 –	Tramitação	de	mais	de
100	milhões	de	processos	no	Poder	Judiciário,	a	cargo	de	pouco	mais	de	16	mil	juízes,	a
qual	 exige	 que	 o	 STF	 prestigie	 remédios	 processuais	 de	 natureza	 coletiva	 para
emprestar	 a	 máxima	 eficácia	 ao	 mandamento	 constitucional	 da	 razoável	 duração	 do
processo	 e	 ao	 princípio	 universal	 da	 efetividade	 da	 prestação	 jurisdicional.	 VI	 –	 A
legitimidade	ativa	do	habeas	corpus	 coletivo,	 a	 princípio,	 deve	 ser	 reservada	àqueles
listados	 no	 art.	 12	 da	 Lei	 13.300/2016,	 por	 analogia	 ao	 que	 dispõe	 a	 legislação
referente	ao	mandado	de	injunção	coletivo.	VII	–	Comprovação	nos	autos	de	existência
de	 situação	 estrutural	 em	 que	 mulheres	 grávidas	 e	 mães	 de	 crianças	 (entendido	 o
vocábulo	 aqui	 em	 seu	 sentido	 legal,	 como	 a	 pessoa	 de	 até	 doze	 anos	 de	 idade
incompletos,	 nos	 termos	 do	 art.	 2º	 do	 Estatuto	 da	 Criança	 e	 do	 Adolescente	 –	 ECA)
estão,	 de	 fato,	 cumprindo	 prisão	 preventiva	 em	 situação	 degradante,	 privadas	 de
cuidados	 médicos	 pré-natais	 e	 pós-parto,	 inexistindo,	 outrossim,	 berçários	 e	 creches
para	seus	filhos.	VIII	–	“Cultura	do	encarceramento”	que	se	evidencia	pela	exagerada	e
irrazoável	 imposição	 de	 prisões	 provisórias	 a	 mulheres	 pobres	 e	 vulneráveis,	 em
decorrência	 de	 excessos	 na	 interpretação	 e	 aplicação	 da	 lei	 penal,	 bem	 assim	 da
processual	 penal,	 mesmo	 diante	 da	 existência	 de	 outras	 soluções,	 de	 caráter
humanitário,	 abrigadas	 no	 ordenamento	 jurídico	 vigente.	 IX	 –	 Quadro	 fático
especialmente	 inquietante	 que	 se	 revela	 pela	 incapacidade	 de	 o	 Estado	 brasileiro
garantir	 cuidados	mínimos	 relativos	 à	maternidade,	 até	mesmo	 às	mulheres	 que	 não
estão	 em	 situação	 prisional,	 como	 comprova	 o	 “caso	 Alyne	 Pimentel”,	 julgado	 pelo
Comitê	para	a	Eliminação	de	 todas	as	Formas	de	Discriminação	contraa	Mulher,	das
Nações	Unidas.	X	–	Tanto	o	Objetivo	de	Desenvolvimento	do	Milênio	nº	5	(melhorar	a
saúde	 materna)	 quanto	 o	 Objetivo	 de	 Desenvolvimento	 Sustentável	 nº	 5	 (alcançar	 a
igualdade	de	gênero	e	empoderar	todas	as	mulheres	e	meninas),	ambos	da	Organização
das	Nações	Unidas,	ao	tutelarem	a	saúde	reprodutiva	das	pessoas	do	gênero	feminino,
corroboram	 o	 pleito	 formulado	 na	 impetração.	 XI	 –	 Incidência	 de	 amplo	 regramento
internacional	 relativo	 a	 Direitos	 Humanos,	 em	 especial	 das	 Regras	 de	 Bangkok,
segundo	 as	 quais	 deve	 ser	 priorizada	 solução	 judicial	 que	 facilite	 a	 utilização	 de
alternativas	penais	ao	encarceramento,	principalmente	para	as	hipóteses	em	que	ainda
não	 haja	 decisão	 condenatória	 transitada	 em	 julgado.	 XII	 –	 Cuidados	 com	 a	 mulher
presa	que	se	direcionam	não	só	a	ela,	mas	igualmente	aos	seus	filhos,	os	quais	sofrem
injustamente	 as	 consequências	 da	 prisão,	 em	 flagrante	 contrariedade	 ao	 art.	 227	 da
Constituição,	 cujo	 teor	 determina	 que	 se	 dê	 prioridade	 absoluta	 à	 concretização	 dos
direitos	destes.	XIII	 –	Quadro	descrito	nos	 autos	que	exige	 o	 estrito	 cumprimento	do
Estatuto	da	Primeira	 Infância,	 em	especial	da	nova	 redação	por	ele	 conferida	ao	art.
318,	IV	e	V,	do	Código	de	Processo	Penal.	XIV	–	Acolhimento	do	writ	que	se	impõe	de
modo	a	superar	tanto	a	arbitrariedade	judicial	quanto	a	sistemática	exclusão	de	direitos
de	grupos	hipossuficientes,	 típica	de	 sistemas	 jurídicos	que	não	dispõem	de	 soluções
5Curso	Ênfase	©	2021
coletivas	 para	 problemas	 estruturais.	 XV	 –	 Ordem	 concedida	 para	 determinar	 a
substituição	 da	 prisão	 preventiva	 pela	 domiciliar	 –	 sem	 prejuízo	 da	 aplicação
concomitante	 das	 medidas	 alternativas	 previstas	 no	 art.	 319	 do	 CPP	 –	 de	 todas	 as
mulheres	presas,	gestantes,	puérperas	ou	mães	de	crianças	e	deficientes,	nos	 termos
do	art.	2º	do	ECA	e	da	Convenção	sobre	Direitos	das	Pessoas	com	Deficiências	(Decreto
Legislativo	 186/2008	 e	 Lei	 13.146/2015),	 relacionadas	 neste	 processo	 pelo	 DEPEN	 e
outras	autoridades	estaduais,	enquanto	perdurar	tal	condição,	excetuados	os	casos	de
crimes	 praticados	 por	 elas	 mediante	 violência	 ou	 grave	 ameaça	 contra	 seus
descendentes	 ou,	 ainda,	 em	 situações	 excepcionalíssimas,	 as	 quais	 deverão	 ser
devidamente	fundamentadas	pelos	juízes	que	denegarem	o	benefício.	XVI	–	Extensão	da
ordem	de	ofício	a	todas	as	demais	mulheres	presas,	gestantes,	puérperas	ou	mães	de
crianças	e	de	pessoas	com	deficiência,	bem	assim	às	adolescentes	sujeitas	a	medidas
socioeducativas	 em	 idêntica	 situação	 no	 território	 nacional,	 observadas	 as	 restrições
acima	 (HC	 nº	 143.641,	 2ª	 Turma,	 rel.	 Min.	 Ricardo	 Lewandowski,	 julgado	 em
20.02.2018,	PROCESSO	ELETRÔNICO	DJe	 215	 divulgado	 em	 08.10.2018,	 	 publicado
em	09.10.2018).
1.1.	Conceito
Não	há	um	consenso	na	doutrina	sobre	o	conceito	do	habeas	corpus,	portanto,	trata-se
de	um	remédio	 judicial	que	tem	por	 finalidade	evitar	ou	 fazer	cessar	a	violência	ou	a
coação	à	liberdade	de	locomoção	decorrente	de	ilegalidade	ou	abuso	de	poder	(CAPEZ,
2018).
1.2.	Natureza	jurídica
Trata-se	 de	 ação	 autônoma	 de	 impugnação	 constitucional.	 Nesse	 sentido,	 veja	 o	 que
explica	a	doutrina:
O	Código	 de	 Processo	 Penal	 trata	 o	 habeas	 corpus	 como	 recurso:	 o	 Capítulo	 X,	 que
cuida	do	habeas	corpus	e	seu	processo	encontra-se	inserido	no	Título	II	que	versa	sobre
os	Recursos	em	Geral,	 o	qual	 faz	parte	do	Livro	 III	do	CPP,	 referente	às	Nulidades	e
Recursos	em	geral.	Apesar	de	sua	localização	topográfica	no	CPP,	o	habeas	corpus	não
tem	 natureza	 jurídica	 de	 recurso.	 É	 bem	 verdade	 que	 o	 habeas	 corpus,	 por	 vezes,
funciona	 como	 verdadeiro	 instrumento	 destinado	 à	 impugnação	 de	 decisões	 judiciais
(LIMA,	2020,	p.	1.849).
1.3.	Objetivo
6Curso	Ênfase	©	2021
O	 habeas	 corpus	 é	 uma	 ação	 autônoma	 de	 impugnação,	 constitucionalmente
estabelecida,	 objetivando	 preservar	 ou	 restabelecer	 a	 liberdade	 de	 locomoção
ilegalmente	ameaçada	ou	violada.
1.4.	Espécies
De	acordo	com	Nestor	Távora	e	Rosmar	Rodrigues	de	Alencar	(2020,	p.	1.630-1.631),	o
habeas	corpus	classifica-se	em	quatro	espécies:
a)	Repressivo	ou	liberatório
Objetiva	cessar	o	constrangimento	ilegal	que	já	se	consumou,	ou	seja,	liberar	a	pessoa
que	 está	 com	 seu	 direito	 de	 liberdade	 violado.	 É	 a	 espécie	 mais	 comum	 e	 levará	 a
autoridade	 judicial,	 se	 concedida	 a	 ordem,	 a	 expedir	 um	 alvará	 de	 soltura,
determinando	a	sua	soltura,	salvo	se,	por	outro	motivo,	deva	permanecer	presa	(como
outro	processo).	Segundo	a	doutrina,	nessa	espécie:	“O	habeas	corpus	 repressivo	 é	 o
conhecido	como	liberatório.	Visa	à	soltura	de	quem	se	encontra	preso	de	forma	ilegal.
No	caso	de	 concessão	da	ordem,	nos	 termos	do	 §	1º	do	art.	 660,	CPP,	 será	expedido
alvará	de	 soltura,	 salvo	 se	por	outro	motivo	dever	 ser	 o	paciente	mantido	na	prisão”
(TÁVORA;	ALENCAR,	2020,	p.	1.630).
b)	Preventivo
Objetiva	evitar	que	um	constrangimento	ilegal	à	liberdade	de	locomoção	se	consume.	O
seu	uso	é	mais	raro	e	levará	a	autoridade	a	expedir	um	salvo-conduto,	para	evitar	que	o
ato	 ilegal	à	 liberdade	de	 locomoção	seja	praticado.	De	acordo	com	o	art.	647	do	CPP,
exige-se	que	alguém	esteja	 “na	 iminência	de	 sofrer	 violência	 ou	 coação	 ilegal	 na	 sua
liberdade	de	ir	e	vir”.	Para	a	doutrina:
Os	 limites	 amplos	 de	 conformação	 do	 habeas	 corpus	 ensejam	 mais	 de
uma	 possibilidade	 de	 propositura.	 A	 impetração	 pode,	 por	 exemplo,
acontecer	 preventivamente,	 para	 fazer	 cessar	 a	 ameaça	 de	 lesão	 à
liberdade.	 Denominamos	 esse	 caso	 de	 habeas	 corpus	 preventivo,	 que
enseja	a	emissão	de	salvo-conduto,	como	dispõe	o	§	4º	do	art.	660,	CPP.
Contudo,	 o	 ajuizamento	 preventivo	 pode	 se	 deparar,	 no	 curso	 da
demanda,	 com	 a	 efetivação	 da	 lesão	 que,	 antes,	 era	 apenas	 ameaça	 à
liberdade	 de	 locomoção.	 Em	 tal	 caso,	 o	 habeas	 corpus	 preventivo	 se
transmuda	 em	 liberatório,	 mercê	 do	 princípio	 da	 fungibilidade	 que
permeia	 a	 compreensão	 da	 demanda.	 Não	 se	 faz	 necessário,	 portanto,
7Curso	Ênfase	©	2021
que	o	autor,	diante	da	concretização	da	lesão,	desista	do	primeiro	habeas
corpus	preventivo	para	mover	outro,	liberatório.	O	cabimento	do	habeas
corpus	 preventivo	 está	 vinculado	 ao	 fundado	 receio	 de	 que	 o	 paciente
possa	vir	a	sofrer	a	coação	ilegal	ao	seu	direito	de	ir,	vir	e	ficar,	ou	seja,	a
ameaça	combatida	deve	ser	 iminente,	estando	desautorizado	o	writ	 por
mero	receio	 infundado	de	coação	tida	como	 ilegal	 (TÁVORA;	ALENCAR,
2020,	p.	1.630).
O	Superior	Tribunal	de	Justiça	(STJ)	entende	que	“mesmo	para	a	concessão	de	habeas
corpus	 preventivo,	 exige-se	 uma	 real	 ameaça	 ao	 direito	 de	 locomoção,	 não	 bastando
uma	suposição	infundada	de	que	venha	a	ocorrer	algum	constrangimento	ilegal”	(STJ,
AgRg	no	RHC	nº	83.730/SP,	5ª	Turma,	rel.	Min.	Maria	Thereza	de	Assis	Moura,	julgado
em	 18.05.2017;	 Precedente:	 STJ,	 AgRg	 no	 HC	 nº	 276.586/SP,	 6ª	 Turma,	 rel.	 Min.
Ribeiro	Dantas,	julgado	em	28.06.2016).
HABEAS	CORPUS	REPRESSIVO HABEAS	CORPUS	PREVENTIVO
Já	 está	 em	 curso	 a	 lesão	 ao	 direito	 de
locomoção	 (por	 exemplo:	 a	 pessoa	 está
presa).
Há	uma	ameaça	de	 restrição	à	 liberdade
de	 locomoção	 (por	 exemplo:	 o	 mandado
de	prisão	foi	expedido).
Faz	cessar	a	violência. Faz	evitar	a	violência.
Juiz	expede	alvará	de	soltura. Juiz	expede	o	salvo-conduto.
c)	Profilático	ou	trancativo
É	 possível	 fazer	 menção	 a	 uma	 terceira	 espécie,	 denominada	 de	 habeas	 corpus
profilático.	 Colima	 suspender	 atos	 processuais	 ou	 impugnar	 medidas	 que	 possam
implicar	prisão	futura.	O	processo	combatido	tem	aparência	de	legalidade,	porém	nele
dormita,	 em	 estado	 de	 latência,	 uma	 ilicitude.	 Trata-se	 de	 espécie	 híbrida,	 com
caracteres	 preventivos.	 Neste	 caso,	 a	 impugnação	 não	 visa,	 diretamente,	 ao
constrangimento	 ilegal	 já	 consumado	 ou	 à	 ameaça	 iminente	 de	 que	 ocorra	 esseconstrangimento,	mas	 sim	à	 potencialidade	 da	 lesão	 que	dele	 ainda	possa	 advir	 e	 se
agravar.	O	habeas	corpus	para	o	trancamento	do	processo	penal,	com	sua	extinção	sem
resolução	do	mérito,	enquadra-se	nesta	categoria.
d)	Suspensivo
Ainda	 se	 fala	 em	 habeas	 corpus	 suspensivo,	 que	 ocorre	 quando	 já	 existe
constrangimento	 ilegal,	mas	 o	 sujeito	 ainda	 não	 foi	 segregado.	 Nesse	 caso,	 emite-se
8Curso	Ênfase	©	2021
contramandado	de	prisão,	haja	vista	que	se	cuida	de	uma	ameaça	efetiva	à	liberdade,
mas	o	sujeito	não	está	preso.
2.	Hipóteses	de	cabimento
O	 art.	 648	 do	 CPP	 traz	 um	 rol	 de	 situações	 que	 autorizam	 a	 impetração	 do	 habeas
corpus.
Art.	648.	A	coação	considerar-se-á	ilegal:	
I	–	quando	não	houver	justa	causa;
II	–	quando	alguém	estiver	preso	por	mais	tempo	do	que	determina	a	lei;
III	–	quando	quem	ordenar	a	coação	não	tiver	competência	para	fazê-lo;
IV	–	quando	houver	cessado	o	motivo	que	autorizou	a	coação;
V	–	quando	não	for	alguém	admitido	a	prestar	fiança,	nos	casos	em	que	a	lei	a	autoriza;
VI	–	quando	o	processo	for	manifestamente	nulo;	
VII	–	quando	extinta	a	punibilidade.
Ausência	de	justa	causa
Sobre	o	tema,	ensina	a	doutrina	que:	
Quando	 se	 fala	 em	 ausência	 de	 justa	 causa	 como	 hipótese	 de	 cabimento	 do	 habeas
corpus,	a	expressão	é	aí	utilizada	em	sentido	ampliativo,	abrangendo	a	falta	de	suporte
fático	 e	 de	 direito	 para	 a	 prisão	 ou	 para	 a	 deflagração	 de	 persecução	 penal	 contra
alguém.	Nesse	caso,	a	ausência	de	 justa	causa	pode	se	apresentar	pela	 inexistência
de	 lastro	 probatório	mínimo	 (justa	 causa	 formal)	 ou	 pela	 patente	 ilegalidade	 da
persecução	penal	(justa	causa	material),	autorizando	o	trancamento	do	procedimento
investigatório	ou	do	próprio	processo	penal,	ou,	ainda,	o	relaxamento	da	prisão	(LIMA,
9Curso	Ênfase	©	2021
2020,	p.	1.869).
De	acordo	com	Norberto	Avena	(2019),	“justa	causa	é	um	conceito	que	não	se	confunde
com	a	justiça	ou	injustiça	da	decisão.	Há	justa	causa	para	uma	coação	quando	estiver
prevista	em	lei	e	quando	observados	seus	requisitos”.	Segundo	a	doutrina,	a	expressão
“justa	causa”	é	tão	ampla	que	abrange	todas	as	demais	hipóteses	previstas	no	art.	648
do	CPP:	
A	expressão	“justa	causa”	do	art.	648,	inciso	I,	do	CPP,	é	tão	abrangente	que	se	pode
dizer	que,	de	certa	 forma,	engloba	todas	as	demais	hipóteses	do	art.	648.	De	fato,	se
alguém	está	preso	por	mais	tempo	do	que	determina	a	lei	(CPP,	art.	648,	II),	se	o	agente
for	submetido	à	coação	ordenada	por	autoridade	 incompetente	 (CPP,	art.	648,	 III),	 se
cessado	 o	 motivo	 que	 autorizou	 a	 coação	 (CPP,	 art.	 648,	 LV),	 se	 não	 for	 admitida	 a
prestação	da	fiança	nos	casos	em	que	a	lei	a	autoriza	(CPP,	art.	648,	V),	se	o	processo
for	manifestamente	nulo	 (CPP,	art.	648,	VI),	se	extinta	a	punibilidade	do	agente	(CPP,
art.	 648,	 VII),	 significa	 dizer	 que	 não	 há	 suporte	 jurídico	 que	 legitime	 a	 coação	 à
liberdade	 de	 locomoção	 do	 agente,	 daí	 por	 que	 ser	 concedida	 a	 ordem	 de	 habeas
corpus	(LIMA,	2020,	p.	1.870).
Também	 inexiste	 justa	 causa	 para	 que	 o	 juiz	 decrete	 a	 prisão	 preventiva	 de	 alguém
quando	 ausentes	 indícios	 suficientes	 de	 autoria,	 visto	 que,	 apesar	 de	 prevista	 essa
prisão	 em	 lei,	 não	 estão	 atendidos	 seus	 requisitos	 (STJ,	HC	nº	 374.515/MS,	 rel.	Min.
Maria	 Thereza	 de	 Assis	 Moura,	 Sexta	 Turma,	 julgado	 em	 07.03.2017).	 Logo,	 caso
ocorra	 a	 decretação	 da	 prisão,	 será	 cabível	 o	 habeas	 corpus.	 Sobre	 o	 tema	 da	 justa
causa	 para	 a	 ordem	 prisional	 proferida,	 importante	 as	 lições	 de	 Nestor	 Távora	 e
Rosmar	Rodrigues	de	Alencar	(2020,	p.	1.624).	Observe-se:
Na	hipótese	de	falta	de	justa	causa	para	a	ordem	prisional	proferida,	há	relação	direta
com	 o	 art.	 5º,	 inciso	 LXI,	 CF/1988,	 que	 dispõe	 sobre	 a	 necessidade	 de	 ordem
fundamentada	 para	 a	 realização	 da	 prisão,	 salvo	 em	 caso	 de	 flagrante	 delito.	 Deste
modo,	não	haverá	justa	causa	quando	a	coação	exercida	sobre	a	liberdade	do	indivíduo
estiver	desamparada	legalmente	ou	sem	motivação.	O	§	2º,	do	art.	315	do	CPP,	com	a
redação	dada	pela	Lei	nº	13.964/2019,	elenca	os	casos	em	que	se	considera	a	decisão
sem	fundamentação,	a	exemplo	daquela	que	se	 limita	à	 indicação,	à	 reprodução	ou	à
paráfrase	 de	 ato	 normativo,	 sem	 explicar	 sua	 relação	 com	 a	 causa	 ou	 a	 questão
decidida,	bem	como	a	que	invoca	motivos	que	se	prestariam	a	justificar	qualquer	outra
decisão.
Excesso	ilegal	de	tempo	de	prisão
10Curso	Ênfase	©	2021
Conforme	 determina	 o	 art.	 648,	 inciso	 II,	 do	 CPP,	 haverá	 constrangimento	 ilegal	 à
liberdade	de	locomoção	quando	alguém	estiver	preso	por	mais	tempo	do	que	determina
a	lei.	O	excesso	de	prazo	pode	se	dar	tanto	na	prisão	temporária	como	na	preventiva.	O
excesso	 pode	 ocorrer	 tanto	 quando	 se	 atinge	 o	 limite	 do	 prazo	 estabelecido	 em	 lei,
como	se	dá	com	a	prisão	temporária,	quanto	quando	se	ultrapassa	o	tempo	de	prisão
para	 a	 prática	 de	 um	 determinado	 ato	 processual,	 como	 ocorre	 com	 a	 conclusão	 do
inquérito	policial	ou	para	o	encerramento	do	processo.		São	alguns	exemplos:	excesso
de	prisão-pena,	quando	o	condenado	já	deveria	ter	sido	colocado	em	liberdade,	por	já
ter	cumprido	a	pena	judicialmente	fixada;	excesso	de	prisão	temporária	(5	+	5	dias,	ou
30	+	 30	 dias,	 conforme	 a	 Lei	 nº	 7.960/1989	 ou	 a	 Lei	 nº	 8.072/1990);	 ou	 excesso	 de
prisão	preventiva	 (STJ,	HC	nº	384.814/PE,	rel.	Min.	Sebastião	Reis	 Júnior,	 julgado	em
06.06.2017).
Segundo	 a	 doutrina,	 várias	 críticas	 são	 feitas	 quanto	 ao	 excesso	 ilegal	 de	 tempo	 na
prisão;	 aponta-se,	 inclusive,	 a	 ausência	 de	 prazo	 para	 a	 prisão	 preventiva	 um	 dos
maiores	problemas	de	administração	da	 Justiça	no	país.	Pela	 importância	do	assunto,
trazemos	as	lições	dos	especialistas:
A	ausência	de	prazo	para	prisão	preventiva	sempre	foi	um	problema	grave.	Há	notícia
de	pessoas	presas	anos	a	fio,	sem	a	formação	de	culpa.	A	razoável	duração	do	processo,
capitulada	 dentre	 os	 direitos	 fundamentais	 (art.	 5º,	 LXXVIII,	 CF),	 seguiu	 sendo	 letra
morta	ou,	pontualmente,	 foi	 invocada	para	processar	o	acusado	com	urgência,	com	a
supressão	 de	 direito	 ao	 devido	 processo	 legal.	 O	 desvirtuamento	 às	 garantias
fundamentais	 se	 tornou	 rotineiro	 sob	esse	aspecto.	Na	verdade,	a	garantia	 individual
fundamental	ao	processo	sem	dilações	é	do	imputado.	É	o	acusado	que	tem	direito	a	ser
julgado	 no	 tempo	 devido.	 Como	 pontifica	 Aury	 Lopes	 Jr.,	 a	 demora	 na	 prestação	 da
jurisdição	constitui	um	dos	mais	antigos	problemas	da	administração	da	Justiça:	ao	lado
do	 imensurável	 custo	 de	 uma	 prisão	 cautelar	 indevida	 ou	 excessivamente	 larga:
Contribui	 para	 esse	 cenário	 a	 adoção	 da	 “doutrina	 do	 não	 prazo”,	 fazendo	 com	 que
exista	uma	 indefinição	de	 critérios	 e	 conceitos.	Aliás,	 os	Tribunais	 têm	 relativizado	a
construção	doutrinária	segundo	a	qual	o	prazo	a	ser	observado	para	o	encerramento	da
instrução	 deveria	 corresponder	 à	 exata	 soma	 dos	 prazos	 previstos	 para	 cada	 etapa
procedimental.	Admite-se,	assim,	o	alargamento	da	instrução,	desde	que	respeitados	o
princípio	da	razoável	duração	do	processo	(art.	5º,	LXXVIII,	CF/1988)	e	a	dignidade	da
pessoa	 humana	 (art.	 1º,	 III,	 CF/1988),	 como	 nos	 casos	 em	 que	 há	 complexidade
(TÁVORA;	ALENCAR,	2020,	p.	1.625).
Apesar	das	críticas	doutrinárias,	não	se	pode	perder	de	vista	que	a	reforma	legislativa
operada	 pelo	 chamado	 Pacote	 Anticrime	 (Lei	 nº	 13.964/2019)	 introduziu	 a	 revisão
11Curso	Ênfase	©	2021
periódica	dos	fundamentos	da	prisão	preventiva,	por	meio	da	alteração	do	art.	316	do
CPP.	 A	 redação	 atual	 prevê	 que	 o	 órgão	 emissor	 da	 decisão	 deverá	 revisar	 a
necessidade	de	sua	manutenção	a	cada	noventa	dias,	mediante	decisão	fundamentada,
de	ofício,	sob	pena	de	tornar	ilegal	a	prisão	preventiva.	Confira-se:
Art.	316.	(...)
Parágrafo	único.	Decretada	 a	prisão	preventiva,	 deverá	 o	 órgão	 emissor	da	decisãorevisar	 a	 necessidade	 de	 sua	manutenção	 a	 cada	 90	 (noventa)	 dias,	 mediante
decisão	fundamentada,	de	ofício,	sob	pena	de	tornar	a	prisão	ilegal	(Incluído	pela	Lei	nº
13.964,	de	2019).	(Grifos	nossos.)
Trata-se	de	um	controle	obrigatório	do	prazo	da	prisão	preventiva.	A	doutrina	aponta
esse	 dever	 de	 revisão	 da	 necessidade	 de	manutenção	 da	 prisão	 preventiva	 como	 um
avanço	significativo,	pois	a	manutenção	da	prisão	preventiva	exige	a	demonstração	de
fatos	concretos	e	atuais	que	a	justifiquem.	A	existência	desse	substrato	mínimo,	apto	a
lastrear	 a	 medida	 extrema,	 deverá	 ser	 regularmente	 apreciada	 por	 meio	 de	 decisão
fundamentada.
Coação	por	autoridade	incompetente
Contempla-se	aqui	a	hipótese	em	que	a	coação,	apesar	de	prevista	em	lei
e	mesmo	se	atendidos	os	seus	requisitos	legais,	tenha	sido	determinada
por	 autoridade	 incompetente	 para	 a	 prática	 do	 ato.	 Exemplo:	 a
decretação	de	prisão	preventiva	 de	um	promotor	 de	 justiça	por	 juiz	 de
primeiro	 grau,	 com	 violação	 manifesta	 das	 regras	 que	 disciplinam	 a
competência	 em	 razão	 da	 função	 e	 o	 privilégio	 de	 foro	 que	 assiste	 ao
agente	do	Ministério	Público	(AVENA,	2019,	p.	2291).
Assim,	demonstrado	que	a	coação	à	liberdade	de	locomoção	de	alguém	foi	determinada
por	autoridade	que	não	tinha	competência	para	fazê-lo,	há	de	se	conceder	a	ordem	em
habeas	 corpus	 com	 fundamento	 no	 art.	 648,	 inciso	 III,	 do	 CPP,	 para	 fins	 de	 se
reconhecer	a	existência	do	constrangimento	ilegal.	Sobre	o	assunto,	são	as	palavras	da
doutrina:	
A	regra	de	competência	é	basilar	para	a	validade	dos	atos	emanados	de	um	órgão.	Tem
repercussão	penal,	na	medida	em	que	sua	violação	pode	dar	espaço	à	aplicação	da	Lei
nº	13.869/2019,	que,	dos	seus	artigos	9°	ao	38,	prevê	crimes	de	abuso	de	autoridade.
Caberá	habeas	corpus	 se	quem	ordenar	a	 coação	não	 tiver	 competência	para	 fazê-lo.
12Curso	Ênfase	©	2021
Essa	exigência	 fundamental	 visa	a	 impedir	 situações	 teratológicas,	 como	a	expedição
de	ordem	de	prisão	por	juiz	cível	em	decorrência	de	processo	em	trâmite	perante	vara
criminal.	Por	outro	lado,	é	indispensável	que	também	seja	competente	o	órgão	que	irá
apreciar	a	impetração.	O	juiz	das	garantias	tem,	por	exemplo,	competência	para	julgar
o	habeas	corpus	 impetrado	 antes	 do	 oferecimento	 da	 denúncia,	 no	modo	 descrito	 no
inciso	XII,	do	art.	3º-B,	do	CPP,	com	redação	da	Lei	nº	13.964/2019.	Essa	competência
incide	até	o	momento	em	que	a	autoridade	coatora	não	detenha	prerrogativa	de	função
para	ser	julgada	criminalmente	perante	um	tribunal.	Caso	o	impetrado	seja	o	promotor
de	 justiça,	no	exercício	de	sua	função,	competente	para	apreciar	o	habeas	corpus	é	o
órgão	de	segunda	instância	(TÁVORA;	ALENCAR,	2020,	p.	1.625).
Cessação	do	motivo	que	autorizou	a	coação
O	art.	648,	inciso	IV,	do	CPP	dispõe	que	caberá	habeas	corpus	quando	houver	cessado	o
motivo	que	autorizou	a	coação.	O	ato	limitador	da	liberdade	era	legal	e	livre	de	coação,
mas	 acabou	 por	 se	 tornar	 ilegal	 por	 já	 não	 subsistirem	 mais	 seus	 fundamentos
legitimadores.	
Nessa	hipótese,	o	constrangimento	não	decorre	de	ilegalidade	ou	abuso
de	poder,	sendo	legal	na	sua	origem.	Entretanto,	posteriormente,	deixam
de	 subsistir	 as	 razões	 que	 o	 motivaram.	 Logo,	 se	 não	 determinada	 a
cessação	 do	 constrangimento	 da	 liberdade,	 faculta-se	 a	 impetração	 de
habeas	corpus	 para	 que	 seja	 alcançado	 esse	 objetivo	 (AVENA,	 2019,	 p.
2292).
Basta	 imaginar	 uma	 prisão	 cautelar	 decretada	 tendo	 como	 fundamento	 um	 suporte
fático	 legal,	 mas	 que	 depois	 desaparece.	 A	 prisão,	 inicialmente,	 era	 legal	 e
fundamentada,	 todavia,	 ulteriormente,	 cessou	 o	 motivo	 que	 autorizou	 a	 restrição	 da
liberdade	do	agente,	o	que	autoriza	a	impetração	do	remédio	heroico.	
De	acordo	com	o	STJ,	
a	decisão	que	decreta	a	prisão	cautelar	é	tomada	rebus	sic	stantibus,	pois	está	sempre
sujeita	 a	 nova	 verificação	 de	 seu	 cabimento,	 quer	 para	 eventual	 revogação,	 quando
cessada	a	 causa	ou	o	motivo	que	a	 justificou,	quer	para	 sua	 substituição	por	medida
menos	gravosa,	na	hipótese	em	que	seja	esta	última	suficientemente	idônea	(adequada)
para	 alcançar	 o	 mesmo	 objetivo	 daquela	 (STJ,	 HC	 nº	 492.848/SP,	 rel.	 Min.	 Rogerio
Schietti	Cruz,	julgado	em	20.09.2016).
13Curso	Ênfase	©	2021
Inadmissão	 de	 fiança	 quando	 possível	 (ou	 negativa	 injustificada	 de
fiança)
Nessa	 hipótese,	 será	 ilegal	 o	 ato	 que,	 diante	 de	 expressa	 autorização	 legal	 para
concessão,	não	permitir	a	prestação	de	 fiança.	Diz	o	art.	648,	 inciso	V,	do	CPP,	que	a
coação	será	considerada	ilegal	“quando	não	for	admitido	prestar	fiança	a	alguém,	nos
casos	em	que	a	lei	a	autoriza”.
A	 liberdade	provisória	com	 fiança	é	um	direito	 subjetivo	constitucional	do	acusado,	a
fim	de	que,	mediante	caução	e	cumprimento	de	certas	obrigações,	possa	permanecer
em	liberdade	até	a	sentença	condenatória	 irrecorrível.	Seu	fundamento	constitucional
encontra-se	no	art.	5º,	inciso	LXVI,	da	Constituição	Federal	(CF)/1988,	segundo	o	qual
“ninguém	 será	 levado	 à	 prisão	 ou	 nela	 mantido,	 quando	 a	 lei	 admitir	 a	 liberdade
provisória,	com	ou	sem	fiança.”	A	previsão	 legal	 tem	em	vista	hipótese	de	prisão	por
crime	afiançável,	não	sendo,	porém,	arbitrada	fiança	em	favor	do	paciente.	
Aqui,	 a	 impetração	 do	 habeas	 corpus	 não	 visa	 à	 sua	 liberação,	mas,	 unicamente,	 ao
arbitramento	da	fiança,	conforme	se	vê	no	art.	660,	§	3º,	do	CPP,	ao	dispor	que,	“se	 a
ilegalidade	decorrer	do	fato	de	não	ter	sido	o	paciente	admitido	a	prestar	fiança,	o	juiz
arbitrará	o	valor	desta,	que	poderá	ser	prestada	perante	ele,	remetendo,	neste	caso,	à
autoridade	os	respectivos	autos,	para	serem	anexados	aos	do	inquérito	policial	ou	aos
do	processo	judicial.”
Nos	 casos	 em	 que	 a	 fiança	 for	 cabível,	 a	 autoridade	 judiciária	 que	 a
denegar	poderá,	inclusive,	responder	por	crime	de	abuso	de	autoridade,
nos	 termos	 do	 art.	 9º,	 parágrafo	 único,	 inciso	 II,	 in	 fine,	 da	 Lei	 nº
13.869/19.	Essa	negativa	de	concessão	da	fiança	também	é	apta	a	gerar
constrangimento	legal	à	liberdade	de	locomoção,	à	luz	do	art.	648,	inciso
V,	do	CPP,	ensejando	concessão	de	ordem	de	habeas	corpus.	
Processo	manifestamente	nulo
Nos	 termos	do	 art.	 648,	 inciso	VI,	 do	CPP,	 admite-se	 a	 impetração	de	 habeas	corpus
quando	o	processo	for	manifestamente	nulo.	A	concessão	da	ordem,	nesse	caso,	gerará
a	renovação	do	ato	(art.	652	do	CPP),	salvo	algum	impedimento,	como	a	ocorrência	da
Atenção!
14Curso	Ênfase	©	2021
prescrição.	
Esse	 habeas	 corpus	 poderá	 ser	 impetrado,	 inclusive,	 após	 o	 trânsito	 em	 julgado	 de
sentença	 condenatória	 ou	 absolutória	 imprópria;	 porém,	 nesse	 caso,	 há	 de	 se	 ficar
atento	à	espécie	de	nulidade.	De	 fato,	 em	se	 tratando	de	nulidade	absoluta,	 é	 sabido
que	sua	arguição	pode	ser	feita	a	qualquer	momento.	Todavia,	na	hipótese	de	nulidade
relativa,	 caso	 esta	 não	 seja	 arguida	 oportunamente	 (art.	 571	 do	 CPP),	 dar-se-á
preclusão	temporal	e	consequente	convalidação	da	nulidade.
Havendo	 uma	 nulidade	 manifesta,	 a	 parte	 poderá	 argui-la	 no	 momento	 processual
oportuno	 e	 aguardar	 a	 sentença	 do	 juiz	 ou,	 se	 preferir	 e	 assim	 comportar,	 impetrar
habeas	corpus;	ou	então,	poderá	impetrar	o	remédio	heroico	também	para	combater	a
introdução	de	uma	prova	ilícita	ao	processo	(art.	157	do	CPP).	Por	exemplo:	declaração
de	nulidade	das	decisões	judiciais	que	determinaram	a	quebra	de	sigilo	telefônico	e	de
busca	 e	 apreensão,	 bem	 como	 das	 provas	 decorrentes,	 diante	 da	 fundamentação
genérica	 empregada	 pelo	 juiz,	 que	 poderia	 ser	 utilizada	 em	 qualquer	 procedimento
(STJ,	HC	nº	374.585/SC,	rel.	Min.	Nefi	Cordeiro,	6ª	Turma,	julgado	em	09.03.2017).
Os	doutrinadores	Oliveira	e	Fischer	(2019,	p.	1.549)	entendem	que	essa	é	a	forma	mais
utilizada	na	prática.	Observe	os	ensinamentos:	
648.6.	Quando	o	processo	for	manifestamente	nulo	(inciso	VI):	Hodiernamente,	o	inciso
em	tela	é,	talvez,	um	dos	mais	utilizadospara	amparar	a	impetração	de	habeas	corpus.
Dispõe	a	norma	em	comento	que	será	considerada	ilegal	a	coação	quando	o	processo
for	manifestamente	 nulo.	 Em	 nossa	 compreensão,	 a	 locução	 do	 processo	 precisa	 ser
feita	da	forma	mais	ampla	possível,	abarcando,	inclusive,	em	determinadas	situações,	o
próprio	inquérito	policial	ou	demais	investigações	criminais	(conforme	a	atribuição	da
autoridade	que	realiza	a	investigação).	Embora	extremamente	amplas	as	possibilidades
que	permitem	a	discussão	da	nulidade	do	processo	mediante	habeas	corpus,	de	forma
bastante	 marcante	 se	 destaca	 sua	 utilização	 para	 impugnação	 à	 competência
processual,	 às	 provas	 ilícitas	 ou	 então	 à	 inobservância	 de	 fórmulas	 essenciais	 na
realização	dos	 atos	processuais.	Evitando-se	 tautologia	do	que	 já	 enfrentado	alhures,
reporta-se	aos	comentários	insertos	nos	artigos	563	e	seguintes,	do	CPP,	especialmente
às	 considerações	 sobre	 nossa	 compreensão	 –	 e	 eventuais	 dissensos	 doutrinários	 –
acerca	das	diferenças	entre	nulidades	absolutas	e	relativas	e	suas	consequências	para	o
processo	 penal.	 O	 que	 resta	 importante	 acentuar	 aqui	 é	 que	 a	 demonstração	 da
nulidade	deve	ser	manifesta,	aferível	de	plano,	como	exige	a	própria	natureza	do	writ.
Como	é	 cediço,	 não	pode	haver	 dilação	probatória	 em	 sede	de	habeas	 corpus,	muito
menos	exame	aprofundado	de	provas	e	elementos	que	se	apresentem	controversos.
15Curso	Ênfase	©	2021
Extinção	da	punibilidade
Como	se	sabe,	a	extinção	da	punibilidade	ocorre	quando	o	direito	de	punir	do	Estado
não	mais	subsiste.	Dispõe	o	art.	648,	inciso	VII,	do	CPP,	que	é	admitido	o	uso	do	habeas
corpus	quando	extinta	a	punibilidade.	Assim,	ocorrendo	uma	das	causas	extintivas	da
punibilidade	e	não	a	declarando	o	juiz,	este	se	tornará	autoridade	coatora	para	fins	de
habeas	corpus,	de	modo	que	o	tribunal	poderá	trancar	a	investigação	ou	a	ação	penal
em	curso.	
Logo,	 estando	 extinta	 a	 punibilidade,	 o	 Estado-acusação	 não	 tem	 mais	 forças	 nem
legitimidade	 para	 investigar,	 processar	 ou	 condenar	 o	 agente,	 de	 modo	 que	 as
investigações	 ou	 os	 autos	 do	 processo	 deverão	 ser	 arquivados	 (trancados).	 Nesse
sentido,	 é	 possível	 o	 reconhecimento	 da	 prescrição	 por	meio	 de	 habeas	 corpus	 (STJ,
AgRg	 no	 HC	 nº	 283.772/RS,	 rel.	 Min.	 Nefi	 Cordeiro,	 Sexta	 Turma,	 julgado	 em
30.03.2017).
Súmula	 nº	 695	 do	 STF:	 “Não	 cabe	 habeas	 corpus	 quando	 já	 extinta	 a
pena	privativa	de	liberdade”.
Sobre	esse	enunciado,	o	professor	Guilherme	de	Souza	Nucci	(2020,	p.	1.045)	adverte:	
Entretanto,	 é	 possível	 haver	 constrangimento	 ilegal,	 ainda	 que	 essa	 hipótese	 tenha
ocorrido,	 como	poderia	 acontecer	 com	a	 anistia	 ou	 abolitio	 criminis,	mantendo-se	 na
folha	de	antecedentes	o	registro	da	condenação	não	excluída	como	seria	de	se	esperar.
Assim,	poderia	o	 interessado	impetrar	habeas	corpus	para	o	 fim	de	apagar	o	registro
constante	na	 folha	de	antecedentes,	que	não	deixa	de	ser	um	constrangimento	 ilegal.
Pode-se	ainda	imaginar	a	impetração	de	habeas	corpus	para	liberar	pessoa	que,	embora
com	a	punibilidade	extinta,	não	tenha	sido	efetivamente	solta	pelo	Estado,	continuando
no	 cárcere.	 Enfim,	 a	 simples	 extinção	 da	 pena	 privativa	 de	 liberdade	 não	 afasta
completamente	a	possibilidade	de	interposição	de	habeas	corpus.
É	 possível	 a	 impetração	 do	 habeas	 corpus	 mesmo	 após	 o	 trânsito	 em	 julgado.	 Por
exemplo,	em	razão	de	abolitio	criminis,	o	 fato,	pelo	qual	o	agente	 foi	 condenado	com
trânsito	em	julgado,	deixa	de	ser	considerado	infração	penal	e,	considerando-se	que	se
trata	 de	 causa	 extintiva	 da	 punibilidade,	 admite-se	 a	 impetração	 da	 medida
Atenção!
16Curso	Ênfase	©	2021
constitucional	(art.	107,	III,	do	CP)	caso	o	juiz	da	execução	penal	assim	não	reconheça
(art.	66,	I,	da	Lei	nº	7.210/1984).
3.	Legitimidade	ativa	e	legitimidade	passiva
Em	breves	linhas,	no	processo	de	habeas	corpus,	podem	ser	visualizados	três	sujeitos
processuais:	o	 impetrante,	o	 paciente	 e	 o	 impetrado	 ou	 coator.	 O	 impetrante	 ou
autor	 é	 a	 pessoa	 que	 intenta	 a	 ação	 processual.	 O	 paciente	 é	 a	 pessoa	 em	 favor	 de
quem	o	habeas	corpus	é	ajuizado.	O	impetrado,	parte	passiva	ou	demandado	é	a	pessoa
–	 autoridade	 ou	 não	 -–	 responsável	 pelo	 ato	 apontado	 como	 lesivo	 à	 liberdade	 de
locomoção.
a)	Legitimidade	ativa
A	ação	de	habeas	corpus	apresenta	um	grande	diferencial	quanto	à	legitimidade	ativa:
existem	a	figura	do	impetrante	e	a	do	paciente.	O	impetrante	é	quem	ajuíza	a	ação	e	o
paciente	é	quem	sofre	a	ilegalidade	ou	o	abuso	em	seu	direito	de	locomoção,	ou	seja,	o
beneficiário	da	ordem	que	se	pede.
Diante	disso,	percebe-se	que	é	possível	a	desvinculação	entre	a	pessoa	do	impetrante	e
do	paciente.	Assim,	por	exemplo,	Fulano	pode	impetrar	um	habeas	corpus	em	benefício
de	Beltrano.	Roque	e	Costa	(2018)	explicam	que,	nesse	caso,	há	uma	típica	substituição
processual,	 ou	 seja,	 não	 há	 coincidência	 entre	 quem	 exercita	 o	 direito	 em	 juízo
(impetrante)	 e	 o	 titular	 do	 direito	 invocado	 (paciente);	 mais	 especificamente,	 há
legitimidade	extraordinária	autônoma	concorrente.
Pode	ocorrer	que	o	impetrante	e	paciente	sejam	a	mesma	pessoa,	tendo
em	 vista,	 inclusive,	 que	 não	 há	 exigência	 de	 capacidade	 postulatória
(representação	por	advogado,	com	capacidade	para	pleitear	em	juízo),	já
que	o	habeas	corpus	é	considerado	uma	ação	penal	popular.
Pela	importância	do	bem	jurídico	tutelado	pelo	habeas	corpus	–	liberdade	de	locomoção
–,	o	writ	(habeas	corpus)	 pode	 ser	 impetrado	 por	 qualquer	 pessoa,	 física	 ou	 jurídica,
Atenção!
17Curso	Ênfase	©	2021
nacional	ou	estrangeira,	ainda	que	sem	a	plena	capacidade	civil	e	independentemente
da	presença	de	capacidade	postulatória.
Nesse	sentido,	 inclusive,	o	Estatuto	da	Ordem	dos	Advogados	do	Brasil	 (OAB)	dispõe
que	“não	se	inclui	na	atividade	privativa	de	advocacia	a	impetração	de	habeas	 corpus
em	qualquer	instância	ou	tribunal”	(art.	1º,	§	1º,	do	Estatuto	da	OAB);	e	ainda	prevê	o
CPP	que	o	habeas	corpus	poderá	ser	impetrado	por	qualquer	pessoa,	em	seu	favor	ou
de	outrem,	e	cuja	petição	inicial	conterá	a	assinatura	do	impetrante	ou	de	alguém	a	seu
rogo	quando	não	souber	ou	não	puder	escrever	(art.	654,	§	1º,	“c”,	do	CPP),	sob	pena
de	 não	 conhecimento	 (STJ,	 RMS	 nº	 32.918/MS,	 rel.	 Min.	 Laurita	 Vaz,	 julgado	 em
17.04.2012),	o	que	pode	ser	criticado.	
Dessa	forma,	fica	claro	que	não	é	preciso	ter	capacidade	postulatória	para	se	impetrar
o	remédio	heroico,	já	que	o	impetrante	pode	ser	até	analfabeto,	menor	de	idade,	pessoa
com	deficiência	mental,	interditado	etc.,	bastando,	claramente,	o	mínimo	de	capacidade
volitiva.
Importante	destacar	que	a	impetração	do	habeas	corpus	pode	se	dar	tanto	por	pessoa
física	 como	 por	 pessoa	 jurídica	 em	 favor,	 sempre,	 de	 uma	 pessoa	 física	 que	 esteja
sofrendo	restrição	quanto	ao	seu	direito	de	locomoção.
De	acordo	com	o	Supremo	Tribunal	Federal	(STF),	
o	súdito	estrangeiro,	mesmo	o	não	domiciliado	no	Brasil,	tem	plena	legitimidade	para
impetrar	o	remédio	constitucional	do	‘habeas	corpus’,	em	ordem	a	tornar	efetivo,	nas
hipóteses	 de	 persecução	 penal,	 o	 direito	 subjetivo,	 de	 que	 também	 é	 titular,	 à
observância	 e	 ao	 integral	 respeito,	 por	 parte	 do	 Estado,	 das	 prerrogativas	 que
compõem	e	dão	significado	à	cláusula	do	devido	processo	legal.	−	A	condição	 jurídica
de	não	nacional	do	Brasil	e	a	circunstância	de	o	réu	estrangeiro	não	possuir	domicílio
em	 nosso	 país	 não	 legitimam	 a	 adoção,	 contra	 tal	 acusado,	 de	 qualquer	 tratamento
arbitrário	 ou	 discriminatório	 (HC	 nº	 94.404/SP,	 Segunda	 Turma,	 rel.	 Min.	 Celso	 de
Mello,	julgado	em	18.11.2008,	publicado	em	18.06.2010).
Lembrando	 que,	 por	 razões	 óbvias,	 uma	 pessoa	 jurídica	 não	 poderá,	 nunca,	 ser
paciente,	 já	que	 jamais	 terá	seu	direito	de	 locomoção	violado;	e,	ainda	que	possa	ser
considerada	a	prática	de	crimes	ambientais	por	ela,	nenhuma	das	possíveis	penas	da
Lei	 nº	 9.605/1998interfere	 no	 seu	 direito	 de	 deambular	 (STF,	 AgRg	 no	 HC	 nº
88.747/ES,	rel.	Min.	Carlos	Britto,	Primeira	Turma,	 julgado	em	15.09.2009;	e	STJ,	HC
nº	 134.333/SP,	 rel.	 Min.	 Felix	 Fischer,	 Quinta	 Turma,	 julgado	 em	 29.04.2010).	 Se
18Curso	Ênfase	©	2021
necessário,	 e	 desde	 que	 preenchidos	 os	 requisitos	 legais,	 a	 pessoa	 jurídica	 poderá
impetrar	mandado	de	segurança	para	defender	seus	interesses.
Ao	 juiz	 ou	 ao	 tribunal	 caberá	 julgar	 o	 writ,	 como	 previsto	 no	 rol	 das
atribuições	do	juiz	das	garantias,	acrescentado	pela	Lei	nº	13.964/2019,
ao	 Código	 de	 Processo	 Penal.	 Como	 responsável	 pelo	 controle	 das
investigações	e	pela	salvaguarda	dos	direitos	fundamentais,	compete	ao
juiz	 das	 garantias	 julgar	 o	 habeas	 corpus	 impetrado	 antes	 do
oferecimento	 da	 denúncia.	 Não	 é	 sua	 atribuição	 impetrar	 a	 demanda
(TÁVORA;	ALENCAR,	2020,	p.	1.636).	
Ministério	Público
O	Ministério	Público	também	tem	legitimidade	para	impetrar	ordem	de	habeas	corpus
(art.	654,	caput,	do	CPP).	É	nesse	sentido,	aliás,	o	 teor	do	art.	32,	 inciso	 I,	da	Lei	nº
8.625/1993	 (Lei	 Orgânica	 Nacional	 do	Ministério	 Público),	 que	 prevê	 que,	 “além	 de
outras	 funções	 cometidas	 nas	 Constituições	 Federal	 e	 Estadual,	 na	 Lei	 Orgânica	 e
demais	leis,	compete	aos	Promotores	de	Justiça,	dentro	de	suas	esferas	de	atribuições:	I
–	 impetrar	 habeas	 corpus	 e	 mandado	 de	 segurança	 e	 requerer	 correição	 parcial,
inclusive	perante	os	Tribunais	locais	competentes”	(LIMA,	2020,	p.	1.865).
Legitimidade	passiva
A	pessoa	apta	a	figurar	no	polo	passivo	da	ação	penal	de	habeas	corpus	é	a	chamada
autoridade	coatora,	que	é	a	responsável	pela	violência	ou	pela	coação	ilegal	no	direito
de	ir	e	vir.	Assim,	caso	haja	uma	prisão	em	flagrante	abusiva,	será	legitimado	passivo	o
delegado	 de	 polícia	 em	 si,	 e	 não	 a	 Polícia	 Civil	 ou	 a	 Polícia	 Federal,	 por	 exemplo.
Importante	esclarecer	que	ainda	assim	é	possível	que	seja	impetrado	diretamente	aos
Poderes	Executivo	ou	Legislativo.
Não	se	pode	confundir	a	autoridade	coatora,	responsável	pela	ordem	ilegal	ou	abusiva,
com	o	detentor.	Este	é	o	agente	que	executa,	materialmente,	a	referida	ordem	a	mando
daquela,	 responsável	 por	 ordená-la.	 Por	 exemplo:	 o	 juiz	 decreta	 uma	 prisão	 cautelar
ilegal	(autoridade	coatora)	e	o	delegado	de	polícia	e	sua	equipe	de	agentes	executam	a
ordem	 judicial	 (detentor).	 O	 próprio	 art.	 658	 do	 CPP	 faz	 distinção,	 dispondo	 que	 “o
Atenção!
19Curso	Ênfase	©	2021
detentor	declarará	à	ordem	de	quem	o	paciente	estiver	preso”.
Essa	 distinção	 é	 extremamente	 importante,	 porque	 o	 detentor	 não	 compõe	 o	 polo
passivo	da	ação	heroica.	Por	isso,	é	salutar	discernir,	no	caso	concreto,	quem	é	quem.
Pode	 ocorrer	 que	 a	 autoridade	 coatora	 seja	 também	 o	 detentor,	 como	 no	 caso	 do
delegado	de	polícia	que	mantém	a	prisão	temporária	além	do	prazo	legal	determinado
pelo	juiz.	Mas	pode	ocorrer	(o	que	é	mais	comum)	que	sejam	figuras	distintas,	como	a
ordem	ilegal	emanada	do	juiz	–	autoridade	coatora	–	e	apenas	cumprida	pelo	delegado
de	polícia,	que	leva	o	agente	(paciente)	ao	presídio	aos	cuidados	do	diretor	do	presídio
e	do	carcereiro	–	meros	detentores	presos.
O	particular	pode	ser	autoridade	coatora,	ou	seja,	o	habeas	corpus	não	é	 instrumento
impetrado	apenas	em	face	de	um	agente	público,	mas	em	relação	a	qualquer	pessoa,
física	ou	jurídica,	particular	ou	pública,	que	viole	o	direito	de	liberdade	de	alguém.	Os
exemplos	mais	clássicos	são	o	do	médico	que	detém	ilegalmente	o	paciente	na	clínica
de	reabilitação,	impedindo	a	sua	saída	em	razão	de	atrasos	no	pagamento	dos	serviços
prestados;	ou	então	o	diretor	do	hospital	que	impede	o	paciente	de	sair	porque	ainda
não	 pagou	 todas	 as	 despesas	 da	 cirurgia	 realizada;	 ou,	 ainda,	 o	 dono	 do	 asilo	 que
impede	a	saída	dos	idosos	lá	residentes	por	débitos	em	aberto.
É	válido	observar	que,	nesses	casos,	 como	não	se	 trata	de	um	agente	estatal,	não	se
falará	 em	 “autoridade”	 coatora,	mas	 apenas	 em	 coator,	 já	 que	 não	 há	 o	 exercício	 de
nenhum	poder	público	sobre	o	paciente.
4.	Transgressão	disciplinar
Transgressão	 disciplinar	 é	 o	 nome	 dado	 às	 infrações	 administrativas	 previstas	 nos
regulamentos	 disciplinares	 militares.	 As	 transgressões	 disciplinares	 preveem,	 a
depender	 da	 gravidade	 da	 conduta,	 sanções	 de	 advertência,	 detenção	 ou	 prisão.	 São
penas	administrativas	que	podem	se	consubstanciar	em	privação	da	liberdade.	
No	que	tange	ao	regramento	legal	do	habeas	corpus,	o	CPP,	em	seu	art.	647,	estatui	o
seu	cabimento	toda	vez	que	alguém	sofrer	ou	se	achar	na	iminência	de	sofrer	violência
ou	coação	ilegal	na	sua	liberdade	de	locomoção,	afastando	a	impetração	na	hipótese	de
punição	disciplinar.
Os	arts.	647	do	CPP,	e	142,	§	2º,	da	CF/1988	preconizam	o	não	cabimento	de	habeas
corpus	 relativamente	 a	 punições	 disciplinares	 militares.	 De	 acordo	 com	 Távora	 e
20Curso	Ênfase	©	2021
Alencar	(2020,	p.	1.632),	esses	dispositivos	devem	ser	interpretados	sistematicamente
com	o	enunciado	que	assegura	o	remédio	heroico	como	garantia	individual	fundamental
e	que,	por	ter	essa	natureza,	deve	ser	compreendido	extensivamente.	Conforme	estatui
o	art.	5º,	inciso	LXVIII,	da	CF/1988,	a	impetração	de	habeas	corpus	é	autorizada,	sem
restrições,	“(...)	sempre	que	alguém	sofrer	ou	se	achar	ameaçado	de	sofrer	violência	ou
coação	em	sua	liberdade	de	locomoção,	por	ilegalidade	ou	abuso	de	poder”.
Os	enunciados	normativos	do	art.	647	do	CPP	e	o	art.	142,	§	2º,	da	CF/1988,	que	vedam
o	manejo	do	habeas	corpus	contra	punição	disciplinar,	são	adequados	para	os	casos	em
que	se	pretenda	 invadir	o	mérito	do	ato	administrativo	punitivo,	pondo-se	em	risco	a
própria	 hierarquia	 militar.	 Em	 outras	 palavras,	 se	 a	 punição	 disciplinar	 é	 aplicada
dentro	 dos	 limites	 legais	 e	 regulamentares,	 a	 propositura	 do	 habeas	 corpus	 é
descabida.
No	 entanto,	 no	 caso	 de	 punições	 disciplinares	 que	 extrapolem	 os	 parâmetros	 do
permitido	 à	 autoridade	 competente,	 com	 cerceio	 indevido	 à	 liberdade	 de	 locomoção,
cabível	 é	 o	 habeas	 corpus,	 a	 teor	 do	 art.	 5º,	 inciso	 LXVIII,	 da	 CF/1988,	 não	 sendo
plausível	 sustentar	 limitação	 a	 essa	 garantia	 fundamental.	 Segundo	 essa	 doutrina,	 a
melhor	orientação	é:	
Não	cabe	habeas	corpus	contra	imposição	da	pena	de	exclusão	de	militar
ou	de	perda	de	patente	ou	de	 função	pública,	por	 se	 tratar	de	 sanções
administrativas,	 não	 estando	 em	 discussão	 violação	 ou	 ameaça	 à
liberdade	de	 locomoção.	Por	outro	 lado,	o	habeas	corpus	 impetrado	em
favor	de	militar	dos	estados	–	agora	restrito	para	casos	de	infração	penal
–	tem	seu	processamento	e	julgamento	afetos	à	Justiça	Militar	estadual,
nos	termos	do	§	4º,	do	art.	125	da	Constituição	do	Brasil,	eis	que	afirma	a
sua	 competência	 para	 processar	 e	 julgar	 as	 ações	 judiciais	 contra	 atos
disciplinares	militares.	(TÁVORA	e	ALENCAR,	2020,	P.	1633).	
No	mesmo	sentido	é	o	entendimento	sumulado	do	Supremo	Tribunal	Federal:	
STF	 –	 Súmula	 nº	 694	 -	 Não	 cabe	 habeas	 corpus	 contra	 a	 imposição	 da	 pena	 de
exclusão	de	militar	ou	de	perda	de	patente	ou	de	função	pública.
5.	Competência
A	definição	da	competência	para	o	processo	e	 julgamento	do	habeas	corpus	 deve	 ser
21Curso	Ênfase	©	2021
feita	 a	 partir	 da	 CF/1988,	 das	 Constituições	 estaduais	 e	 da	 legislação
infraconstitucional,	 visando	 facilitar	 a	 determinação	 do	 juízo	 competente	 para	 o
processo	e	julgamento	do	habeas	corpus.	O	art.	650	do	CPP	e	a	CF/1988	estabelecem	a
competência	para	o	julgamento	do	habeas	corpus.
Supremo	Tribunal	Federal	(STF)
De	acordo	com	a	CF/1988,	compete	ao	STF	processar	e	julgar,	originariamente:
a)	O	habeas	corpus,	sendo	pacientes	o	presidente	da	República,	o	vice-presidente,	os
membros	do	Congresso	Nacional,	os	ministros	do	STF,	o	procurador-geral	da	República,
os	ministros	de	Estado,	os	comandantes	da	Marinha,	do	Exército	e	da	Aeronáutica,	os
membros	dos	Tribunais	Superiores,do	Tribunal	de	Contas	da	União	(TCU)	e	os	chefes
de	 missão	 diplomática	 em	 caráter	 permanente	 (art.	 102,	 inciso	 I,	 “d”,	 primeira
parte,	da	CF/1988).
Presidente	da	República
Vice-presidente	da	República
Membros	do	Congresso	Nacional
Ministros	do	STF
Ministros	dos	Tribunais	Superiores
Procurador-geral	da	República
Ministros	de	Estado
Comandantes	das	Forças	Armadas
Ministros	do	TCU
Chefes	de	missão	diplomática	em	caráter	permanente
b)	“O	habeas	corpus,	quando	o	coator	for	Tribunal	Superior	ou	quando	o	coator	ou
o	 paciente	 for	 autoridade	 ou	 funcionário	 cujos	 atos	 estejam	 sujeitos	 diretamente	 à
jurisdição	 do	 Supremo	 Tribunal	 Federal,	 ou	 se	 trate	 de	 crime	 sujeito	 à	 mesma
jurisdição	em	uma	única	instância”	(art.	102,	inciso	I,	“i”,	da	CF/1988	–	grifos	nossos).
c)	Julgar,	em	recurso	ordinário,	“o	habeas	corpus,	o	mandado	de	segurança,	o	habeas
data	e	o	mandado	de	injunção	decididos	em	única	instância	pelos	Tribunais	Superiores,
se	denegatória	a	decisão”	(art.	102,	inciso	II,	“a”,	da	CF/1988).
22Curso	Ênfase	©	2021
Observações	importantes:	
1.	 STF/Súmula	 nº	 690:	 “Compete	 originariamente	 ao	 Supremo	 Tribunal	 Federal	 o
julgamento	de	habeas	corpus	contra	decisão	de	Turma	Recursal	de	Juizados	Especiais
Criminais”.	 Atualmente,	 essa	 orientação	 não	 mais	 prevalece	 pela	 superação	 do
entendimento	 ARE	 nº	 676.275	 AgR,	 rel.	 Min.	 Gilmar	 Mendes,	 2º	 Turma.	 Assim,
“compete	 ao	 Tribunal	 de	 Justiça	 ou	 ao	 Tribunal	 Regional	 Federal,	 conforme	 o	 caso,
julgar	 habeas	 corpus	 impetrado	 contra	 ato	 praticado	 por	 integrantes	 de	 Turmas
Recursais	de	Juizado	Especial.”
2.	STF/Súmula	nº	606:	“Não	cabe	habeas	corpus	originário	para	o	Tribunal	Pleno	de
decisão	 de	 Turma,	 ou	 do	 Plenário,	 proferida	 em	 habeas	 corpus	 ou	 no	 respectivo
recurso”.
3.	Divergência	 de	 entendimento	 a	 respeito	 de	 determinado	 assunto	 entre	 as
Turmas	do	Supremo:	É	firme	a	jurisprudência	no	sentido	de	que	não	cabem	embargos
de	divergência	contra	decisão	proferida	por	Turma	do	Supremo	em	habeas	corpus,	seja
em	 sede	 de	 impetração	 originária	 (CF,	 art.	 102,	 inciso	 I,	 ‘d’	 e	 ‘i’),	 seja	 em	 sede	 de
Recurso	Ordinário	(CF/1988,	art.	102	,	inciso	II,	‘a’).	Veja-se:	
Não	cabem	embargos	de	divergência	contra	decisão	proferida	por	turma
do	 STF	 em	 habeas	 corpus,	 seja	 em	 sede	 de	 impetração	 originária	 (CF,
art.	102,	I,	d	e	i),	seja	em	sede	de	recurso	ordinário	(CF,	art.	102,	II,	a).
[HC	 nº	 70.274	 ED-EDv-AgR,	 rel.	 Min.	 Celso	 de	 Mello,	 julgado	 em
25.08.1994,	P,	DJ	de	09.12.1994.]	=	HC	nº	88.247	AgR-AgR-EDv-AgR,	rel.
Min.	Ellen	Gracie,	julgado	em	19.08.2010,	P,	Dje	de	22.10.2010.	
4)	Julgamento	monocrático	de	habeas	corpus	por	ministro	do	STF:	“o	STF	 tem
admitido	 o	 julgamento	 monocrático	 de	 habeas	 corpus	 por	 ministro	 de	 sua	 Corte,
concedendo	 ou	 denegando	 a	 ordem,	 quando	 a	 jurisprudência	 estiver	 consolidada
quanto	à	matéria	versada	na	impetração,	nos	termos	do	art.	192,	caput,	do	Regimento
Interno	do	STF,	sem	que	se	possa	arguir	violação	ao	princípio	da	colegialidade”	(STF,	2ª
Turma,	HC	nº	 107.320	AgR/SP,	 Segunda	Turma,	Min.	Celso	 de	Melo,	 Julgamento	 em
24.05.2011).	
Superior	Tribunal	de	Justiça	(STJ)
Compete	ao	STJ	processar	e	julgar,	originariamente:
a)	os	habeas	corpus,	 quando	 o	 coator	 ou	 paciente	 for	 governador	 de	 Estado	 e	 do
Distrito	Federal,	desembargadores	dos	Tribunais	de	Justiça	dos	Estados	e		do	Distrito
Federal,	membros	dos	Tribunais	de	Contas	dos	Estados	e	do	Distrito	Federal,	membros
23Curso	Ênfase	©	2021
dos	Tribunais	Regionais	Federais	(TRFs),	dos	Tribunais	Regionais	Eleitorais	(TREs)	e	do
Trabalho	(TRTs),	os	membros	dos	Conselhos	ou	Tribunais	de	Contas	dos	Municípios	e
os	do	Ministério	Público	da	União	 (MPU)	que	oficiem	perante	 tribunais,	 ressalvada	a
competência	 da	 Justiça	 Eleitoral	 (art.	 105,	 inciso	 I,	 “c”,	 primeira	 parte,	 da
CF/1988);
b)	os	habeas	corpus,	quando	o	coator	for	tribunal	sujeito	à	sua	jurisdição	(leia-se:
Tribunais	 de	 Justiça	 dos	Estados	 e	 do	Distrito	Federal,	 Tribunais	 de	 Justiça	Militar	 e
Tribunais	 Regionais	 Federais),	 ministro	 de	 Estado	 ou	 comandante	 da	 Marinha,	 do
Exército	 ou	da	Aeronáutica,	 ressalvada	a	 competência	da	 Justiça	Eleitoral	 (art.	 105,
inciso	I,	“c”,	parte	final,	da	CF/1988);
c)	 também	compete	ao	STJ	 julgar,	em	recurso	ordinário,	 “os	habeas	corpus	 decididos
em	única	ou	última	instância	pelos	Tribunais	Regionais	Federais	ou	pelos	Tribunais	dos
Estados,	do	Distrito	Federal	e	Territórios,	quando	a	decisão	for	denegatória	(art.	105,
inciso	II,	“a”,	da	CF/1988).
Tribunais	Regionais	Federais	(TRFs)
Compete	 aos	 TRFs	 processar	 e	 julgar	 os	 habeas	 corpus,	 “quando	 a	 autoridade
coatora	for	juiz	federal”	(art.	108,	inciso	I,	“d”,	da	CF/1988).
Cabe	 ainda	 ao	 respectivo	 TRF	 o	 processo	 e	 julgamento	 de	 habeas	 corpus	 impetrado
contra	membros	do	MPU	que	atuam	perante	a	primeira	instância,	aí	incluídos	membros
do	Ministério	Público	do	Trabalho,	do	Ministério	Público	Militar,	do	Ministério	Público
Federal	e	do	Ministério	Público	do	Distrito	Federal	e	Territórios.	 Isso	porque	cabe	ao
TRF	 processar	 e	 julgar	 originariamente	 os	 membros	 do	MPU	 de	 primeira	 instância,
ressalvada	 a	 competência	 da	 Justiça	 Eleitoral	 (art.	 108,	 inciso	 I,	 “d”	 c/c	 “a”,	 da
CF/1988).	 Nesse	 sentido,	 também,	 entende	 a	 jurisprudência	 (STJ,	 HC	 nº	 67.416/DF,
rel.	Min.	Felix	Fischer,	julgado	em	26.06.2007).
	Tribunal	de	Justiça
Nos	termos	do	art.	125,	§	1º,	da	CF/1988,	a	competência	do	Tribunal	de	Justiça	será
definida	na	Constituição	de	cada	Estado,	conforme	a	 lei	de	organização	 judiciária,	de
iniciativa	do	próprio	Tribunal	de	Justiça.	Assim,	por	exemplo,	no	Estado	de	São	Paulo,	o
TJ-SP	 julgará	 originariamente	 o	 habeas	 corpus	 quando	 coator	 ou	 paciente	 for
autoridade	 diretamente	 sujeita	 à	 sua	 jurisdição,	 ressalvada	 a	 competência	 da
Justiça	 Militar.	 Logo,	 a	 Corte	 Bandeirante	 julgará	 o	 habeas	 corpus	 cujo	 coator	 ou
24Curso	Ênfase	©	2021
paciente	 for	 vice-governador,	 secretário	 de	 Estado,	 deputado	 estadual,	 procurador-
geral	de	 Justiça,	 procurador-geral	do	Estado,	defensor	público	geral	 e	prefeitos	 (art.
74,	inciso	IV,	da	Constituição	do	Estado	de	São	Paulo).
Assim,	 aos	 Tribunais	 de	 Justiça	 dos	 Estados	 e	 do	 Distrito	 Federal	 e	 Territórios
competem	o	processo	e	julgamento	de	habeas	corpus	quando	a	autoridade	coatora	ou
paciente	 for	 autoridade	 diretamente	 sujeita	 à	 sua	 jurisdição,	 sendo	 que,	 nesse
particular,	 a	 disciplina	 é	 tratada,	 em	 regra,	 pelas	Constituições	 estaduais.	De	 acordo
com	Brasileiro	(2020,	p.	1.884),	também	será	da	competência	do	Tribunal	de	Justiça	o
habeas	corpus	quando	a	autoridade	coatora	for	juiz	de	Direito	ou	promotor	de	Justiça.
Turma	recursal
Nos	feitos	regidos	pela	Lei	nº	9.099/1995,	a	competência	para	o	processo	e	julgamento
de	 habeas	 corpus	 contra	 decisão	 singular	 de	 juiz	 do	 Juizado	 Especial	 Criminal	 é	 da
Turma	Recursal,	 e	 não	 do	 Tribunal	 de	 Justiça	 (STJ,	 5ª	 Turma,	HC	 nº	 30.155/RS,	 rel.
Min.	Jorge	Scartezzini,	Quinta	Turma,	julgado	em	11.05.2004).
Importante	destacar	que,	
para	que	seja	cabível	o	habeas	corpus,	há	necessidade	de	risco	potencial
à	liberdade	de	locomoção.	Por	isso,	se	à	infração	de	menor	potencial	for
cominada	 tão	 somente	 pena	 de	 multa,	 não	 se	 afigura	 possível	 a
impetração	de	habeas	corpus,	visto	que	a	nova	redação	conferida	ao	art.
51	do	CPP,	pela	Lei	nº	9.268/1996,	deixou	de	admitir	que	pena	de	multa
não	paga	seja	convertida	em	pena	privativa	de	liberdade	(LIMA,	2020,	p.
1.886).
Juiz	de	primeira	instância
Tratando-se	de	constrangimento	ilegal	perpetrado	por	particular	ou	autoridade	que	não
seja	dotada	de	 foro	por	prerrogativa	de	 função	 (por	 exemplo:	 delegado	de	Polícia),	 a
competência	para	o	processo	e	 julgamento	do	habeas	corpus	será	do	juiz	da	comarca
ou	 da	 subseção	 judiciária	 em	 cujos	 limites	 estiver	 ocorrendo	 a	 violência	 oucoação
ilegal	à	liberdade	de	locomoção	(LIMA,	2020,	p.	1.887).
Quanto	à	competência	da	Justiça	Federal	de	primeira	 instância,	o	art.	109,	 inciso	VII,
da	 CF/1988,	 dispõe	 que	 aos	 juízes	 federais	 compete	 processar	 e	 julgar	 “os	 habeas
corpus,	em	matéria	criminal	de	sua	competência	ou	quando	o	constrangimento	provier
25Curso	Ênfase	©	2021
de	autoridade	cujos	atos	não	estejam	diretamente	sujeitos	a	outra	jurisdição”.
6.	Procedimento
De	acordo	com	Roque	e	Costa	(2018),	o	procedimento	do	habeas	corpus	é	composto	dos
seguintes	atos:	(a)	petição	inicial;	(b)	pedido	de	informações	à	autoridade	coatora;	(c)
eventual	manifestação	do	Ministério	Público;	e	(d)	decisão.
a)	Petição	inicial
A	 petição	 inicial	 do	 pedido	 de	 habeas	 corpus	 exige	 o	 preenchimento	 de	 alguns
requisitos,	conforme	o	art.	654,	§	1º,	do	CPP:
“O	nome	da	pessoa	que	sofre	ou	está	ameaçada	de	sofrer	violência	ou	coação	e	o
de	quem	exercer	a	violência,	 coação	ou	ameaça”.	 Entende-se	 que	 basta	 que	 o
paciente	 consiga	 ser	 individualizado,	 seja	 pelas	 suas	 características	 ou	 pelo
lugar	em	que	se	encontra	com	seu	direito	de	locomoção	violado.
“A	 declaração	 da	 espécie	 de	 constrangimento	 ou,	 em	 caso	 de	 simples
ameaça	de	coação,	as	razões	em	que	funda	o	seu	temor”	(grifos	nossos).	É
preciso	que	se	indique,	concretamente,	qual	é	a	violência	ou	coação	(ou	ameaça)
que	o	paciente	está	sofrendo.
“A	 assinatura	 do	 impetrante,	 ou	 de	 alguém	 a	 seu	 rogo,	 quando	 não
souber	 ou	 não	 puder	 escrever,	 e	 a	 designação	 das	 respectivas
residências”	 (grifos	 nossos).	 A	 jurisprudência	 vem	 entendendo	 que	 é
obrigatória	 a	 assinatura	do	 impetrante	 ou	de	 alguém	a	 seu	 rogo,	 sob	pena	de
não	 conhecimento	 (STJ,	 AgRg	 no	 EDcl	 no	 HC	 nº	 133.078/SP,	 rel.	 Min.	 Jorge
Mussi,	julgado	em	16.06.2011).
Uso	do	vernáculo	(língua	portuguesa).	Qualquer	pessoa	pode	 impetrar	um
habeas	corpus	 independentemente	de	ser	nacional	ou	estrangeiro.	No	entanto,
os	tribunais	exigem	que	a	redação	seja	em	língua	portuguesa,	sob	pena	de	não
conhecimento,	 tendo	 em	 vista	 que	 o	 conteúdo	 da	 ação,	 dada	 a	 sua	 natureza
popular,	 deva	 ser	 acessível	 a	 todos,	 sendo	 insuficiente	 a	 alegação	 de	 que	 o
idioma	 estrangeiro	 é	 conhecido	 pelo	 julgador	 (STF,	 QO-HC	 nº	 72.391/DF,	 rel.
Min.	Celso	de	Mello,	Tribunal	Pleno,	julgado	em	08.03.1995).
Observação:	
1.	 Liminar:	 Apesar	 de	 não	 existir	 previsão	 legal	 de	 liminar	 em	 habeas	 corpus,	 a
26Curso	Ênfase	©	2021
jurisprudência,	assim	como	a	doutrina,	são	consolidadas	no	sentido	da	possibilidade	de
seu	 deferimento,	 desde	 que	 presentes	 os	 pressupostos	 atinentes	 a	 toda	 e	 qualquer
cautelar	–	fumus	boni	iuris	e	periculum	in	mora.
2.	Habeas	corpus	de	ofício:	É	possível,	sobre	o	tema,	trazer	as	lições	da	doutrina:
O	 poder	 de	 conceder	 a	 ordem	 ex	 officio	 permite	 ao	 julgador	 analisar
qualquer	coação	ilegal	à	 liberdade	de	locomoção	ligada	ao	processo	em
julgamento,	ampliando	a	cognição	em	duas	direções.	Por	um	lado,	o	juiz
ou	 tribunal	 não	 está	 limitado	 aos	 elementos	 que	 identificam	 a	 ação
(partes,	causa	de	pedir	e	pedido)	ou	à	matéria	devolvida	no	recurso.	Por
outro,	 o	 juiz	 ou	 tribunal	 pode	 superar	 obstáculos	 ao	 conhecimento	 da
causa	ou	recurso	em	julgamento	(pressupostos	processuais	ou	recursais
ou	condições	da	ação)	(MENDES;	BRANCO,	2020,	p.	461).
3)	Dilação	probatória:	Tendo	em	vista	as	características	que	permeiam	a	impetração
do	 habeas	 corpus,	 quais	 sejam,	 simplicidade	 e	 sumariedade,	 seu	 procedimento	 não
possui	 uma	 fase	 de	 instrução	 probatória.	 Isso,	 todavia,	 não	 significa	 que	 não	 seja
necessária	a	produção	de	provas	destinadas	à	demonstração	do	constrangimento	ilegal,
até	mesmo	porque,	ausente	essa	prova,	a	ordem	de	habeas	corpus	será	denegada.
b)	Pedido	de	informações	à	autoridade	coatora
CPP,	art.	656.	Recebida	a	petição	de	habeas	corpus,	o	juiz,	se	julgar	necessário	e	estiver
preso	o	paciente,	mandará	que	este	lhe	seja	imediatamente	apresentado	em	dia	e	hora
que	designar.
Parágrafo	 único.	 Em	 caso	 de	 desobediência,	 será	 expedido	 mandado	 de	 prisão
contra	o	detentor,	que	será	processado	na	forma	da	lei,	e	o	juiz	providenciará	para	que
o	paciente	seja	tirado	da	prisão	e	apresentado	em	juízo.	(Grifos	nossos.)
O	CPP	assegura	que,	em	caso	de	desobediência,	será	expedido	mandado
de	prisão	contra	o	detentor,	que	será	processado	na	forma	da	lei,	e	o	juiz
providenciará	para	que	o	paciente	seja	tirado	da	prisão	e	apresentado	em
juízo	 (parágrafo	 único,	 art.	 656,	 CPP).	 Portanto,	 eventualmente,	 terá
incidência	a	Lei	nº	13.869/2019,	que	disciplina	o	abuso	de	autoridade.	
Atenção!
27Curso	Ênfase	©	2021
A	despeito	dessa	 faculdade	outorgada	ao	 juiz,	na	prática,	é	muito	mais	comum	que	o
juiz	 ou	 o	 tribunal	 solicite	 informações	 por	 escrito	 à	 autoridade	 coatora	 (art.	 662	 do
CPP).	Esse	pedido	de	informações,	que	pode	ser	dispensado	quando	o	constrangimento
ficar	evidenciado	do	plano,	consiste	em	verdadeira	contestação	da	autoridade	coatora
quanto	à	suposta	ilegalidade	ou	abuso	de	poder.
Nada	 impede	que	a	autoridade	coatora	encaminhe,	em	conjunto	com	as	 informações,
documentos	 que	 confirmem	 a	 veracidade	 de	 suas	 afirmações.	 Na	 hipótese	 de
autoridade	pública,	as	 informações	por	ela	prestadas	gozam	de	presunção	relativa	de
veracidade,	podendo	ser	desmentidas	a	depender	da	prova	pré-constituída	apresentada
pelo	impetrante	(LIMA,	2020,	p.	1.892).
“O	carcereiro	ou	o	diretor	da	prisão,	o	escrivão,	o	oficial	de	justiça	ou	a
autoridade	 judiciária	 ou	 policial	 que	 embaraçar	 ou	 procrastinar	 a
expedição	de	ordem	de	habeas	corpus,	as	informações	sobre	a	causa	da
prisão,	 a	 condução	 e	 apresentação	 do	 paciente,	 ou	 a	 sua	 soltura,	 será
multado”:	 sem	 prejuízo	 das	 penas	 em	 que	 incorrer	 (art.	 655,	 CPP),	 se
típica	a	conduta	na	Lei	nº	13.869/2019.
c)	Manifestação	do	Ministério	Público
Em	 primeira	 instância,	 em	 razão	 da	 celeridade	 que	 se	 imprime	 ao	 julgamento	 do
remédio	constitucional,	 o	Ministério	Público	não	 se	manifesta	antes	de	o	 juiz	decidir.
Inexiste	 previsão	 legal	 nesse	 sentido.	 O	 órgão	 ministerial,	 após	 a	 decisão,	 será
intimado,	 podendo,	 então,	 praticar	 o	 que	 entender	 cabível,	 como	 interpor	 recurso
contra	 a	 decisão	 proferida.	 Já	 no	 que	 diz	 respeito	 aos	 habeas	 corpus	 impetrados	 em
segunda	 instância,	 o	 ordenamento	 jurídico,	 aí	 sim,	 exige	 a	 prévia	 manifestação	 do
Ministério	 Público	 (art.	 1º	 do	 Decreto-Lei	 nº	 552/1969),	 o	 que	 se	 dá	 por	 meio	 de
parecer.
d)	Decisão
Estabelece	o	art.	664	do	CPP	que	o	habeas	corpus	“será	 julgado	 na	 primeira	 sessão,
podendo,	 entretanto,	 o	 julgamento	 ser	 adiado	para	a	 sessão	 seguinte”.	 A	 decisão,	 no
caso	de	Tribunal,	será	tomada	por	maioria	de	votos.	Ocorrendo	empate,	se	o	presidente
Atenção!
28Curso	Ênfase	©	2021
da	Corte	não	tiver	votado,	proferirá	voto	de	desempate.	No	caso	contrário,	prevalecerá
a	decisão	mais	favorável	ao	paciente	(art.	664,	parágrafo	único,	do	CPP).
Em	um	determinado	julgado	do	STJ,	surgiram	três	posições	dos	julgadores	no	tribunal	a
quo:	 uma	 totalmente	 desfavorável,	 que	 denegava	 a	 ordem;	 outra	 intermediária,	 que
concedia	 a	 ordem,	mas	 impunha	medidas	 cautelares	 alternativas;	 e	 outra	 totalmente
benéfica,	que	concedia	 integralmente	a	ordem.	Entendeu-se,	 tal	como	previsto	na	 lei,
que	deve	prevalecer	sempre	a	posição	mais	benéfica	ao	paciente	 (HC	nº	357.445/PE,
rel.	Min.	Reynaldo	Soares	da	Fonseca,	Quinta	Turma,	julgado	em	18.10.2016).
7.	Julgamento
O	art.	660	do	CPP	determina	que,	 “uma	vez	efetuadas	as	diligências	e	 interrogado	o
paciente,	o	juiz	decidirá,	fundamentadamente,	no	prazo	de	24	horas,	esclarecendo	que:
a)	Caso	haja	uma	decisão	favorável	ao	paciente,	será	ele	logo	posto	em	liberdade,	salvo
se	por	outro	motivo	deva	permanecer	preso	(§	1º).
b)	 Se	 os	 documentos	 que	 instruírem	 a	 petição	 inicial	 demonstrarem	a	 ilegalidade	 da
coação,	o	juiz	ou	o	tribunaldeterminará	que	cesse	imediatamente	o	constrangimento	(§
2º).
c)	Na	hipótese	de	a	ilegalidade	decorrer	do	fato	de	não	ter	sido	permitida	ao	paciente	a
prestação	 de	 fiança,	 o	 juiz	 arbitrará	 o	 valor	 para	 esta,	 a	 qual	 poderá	 ser	 prestada
perante	ele,	enviando,	neste	caso,	à	autoridade	policial	os	autos	respectivos	para	serem
anexados	aos	do	 inquérito	policial,	 ou	ordenando	sua	 inclusão	no	processo	 judicial	 (§
3º).	 É	 possível,	 ademais,	 que	 o	 juiz	 imponha	 ou	 cumule	 medida	 cautelar	 diversa,
conforme	o	rol	do	art.	319	do	CPP.
d)	Se	o	habeas	corpus	for	concedido	para	evitar	ameaça	de	violência	ou	coação	ilegal,
dar-se-á	ao	paciente	salvo-conduto	assinado	pelo	magistrado	(§	4º).
e)	Será	imediatamente	enviada	cópia	da	decisão	à	autoridade	que	tiver	determinado	a
prisão	ou	tiver	o	paciente	à	sua	disposição,	para	que	seja	juntada	aos	autos	do	processo
(§	5º).
f)	Se	o	paciente	estiver	preso	em	lugar	que	não	seja	o	da	sede	do	juízo	ou	do	tribunal
29Curso	Ênfase	©	2021
que	conceder	a	ordem,	o	alvará	de	soltura	será	emitido	pelo	telégrafo,	por	via	postal	(§
6º),	 por	 fax	 (conforme	 interpretação	 progressiva	 da	 lei)	 ou	 por	 via	 eletrônica	 (Lei	 nº
11.419/2006,	 que	 dispôs	 sobre	 a	 informatização	 do	 processo	 judicial,	 que	 passou	 a
admitir,	expressamente,	o	uso	de	meio	eletrônico	na	tramitação	de	processos	judiciais,
comunicação	 de	 atos	 e	 transmissão	 de	 peças	 processuais).	 Observe	 o	 artigo	 660,	 do
Código	de	Processo	Penal	em	sua	literalidade:	
Art.	 660.	 Efetuadas	 as	 diligências,	 e	 interrogado	 o	 paciente,	 o	 juiz	 decidirá,
fundamentadamente,	dentro	de	24	(vinte	e	quatro)	horas.
§	1º	Se	a	decisão	for	favorável	ao	paciente,	será	logo	posto	em	liberdade,	salvo	se	por
outro	motivo	dever	ser	mantido	na	prisão.
§	2º	Se	os	documentos	que	instruírem	a	petição	evidenciarem	a	ilegalidade	da	coação,	o
juiz	ou	o	tribunal	ordenará	que	cesse	imediatamente	o	constrangimento.
§	 3º	 Se	 a	 ilegalidade	 decorrer	 do	 fato	 de	 não	 ter	 sido	 o	 paciente	 admitido	 a	 prestar
fiança,	o	juiz	arbitrará	o	valor	desta,	que	poderá	ser	prestada	perante	ele,	remetendo,
neste	 caso,	 à	 autoridade	os	 respectivos	 autos,	 para	 serem	anexados	aos	do	 inquérito
policial	ou	aos	do	processo	judicial.
§	 4º	Se	a	 ordem	de	habeas	corpus	 for	 concedida	 para	 evitar	 ameaça	 de	 violência	 ou
coação	ilegal,	dar-se-á	ao	paciente	salvo-conduto	assinado	pelo	juiz.
§	 5º	 Será	 incontinenti	 enviada	 cópia	 da	 decisão	 à	 autoridade	 que	 tiver	 ordenado	 a
prisão	ou	tiver	o	paciente	à	sua	disposição,	a	fim	de	juntar-se	aos	autos	do	processo.
§	6º	Quando	o	paciente	estiver	preso	em	lugar	que	não	seja	o	da	sede	do	 juízo	ou	do
tribunal	 que	 conceder	 a	 ordem,	 o	 alvará	 de	 soltura	 será	 expedido	 pelo	 telégrafo,	 se
houver,	observadas	as	formalidades	estabelecidas	no	art.	289,	parágrafo	único,	in	fine,
ou	por	via	postal.
Como	se	depreende,	o	habeas	corpus	pode	ser	julgado	por	juiz	singular	ou	por	tribunal.
O	 processamento	 e	 julgamento	 por	 juiz	 de	 primeiro	 grau	 de	 jurisdição	 ocorrerão
sempre	que	incidir	a	regra	de	competência	correspondente.	Nesse	caso,	o	processo	de
habeas	corpus	será	encerrado	por	sentença	que,	sendo	concessiva,	ensejará,	de	regra,
a	expedição	de	mandado	(alvará	de	soltura	ou	salvo-conduto).
Já	 a	 decisão	 em	 habeas	 corpus,	 proferida	 por	 órgão	 colegiado,	 “será	 tomada	 por
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maioria	 de	 votos”.	 Se	 houver	 empate	 e	 “se	 o	 presidente	 não	 tiver	 tomado	 parte	 na
votação,	 proferirá	 voto	 de	 desempate”.	 Mas,	 no	 caso	 de	 ter	 aquele	 participado	 da
votação,	“prevalecerá	a	decisão	mais	favorável	ao	paciente”	(art.	664,	parágrafo	único,
CPP).
Pode	ocorrer	 julgamento	antecipado	do	mérito	em	habeas	corpus.	O	§	2º	do	art.	660,
CPP	 prevê	 tal	 possibilidade	 ao	 asseverar	 que	 “se	 os	 documentos	 que	 instruírem	 a
petição	evidenciarem	a	ilegalidade	da	coação,	o	juiz	ou	o	tribunal	ordenará	que	cesse
imediatamente	o	constrangimento.”	Sem	embargo,	a	previsão	legal	também	é	legítima
para	autorizar	concessão	de	liminar.	É	com	essa	ideia	que	se	tem	entendido	que	nada
impede	 que	 seja	 concedida	 liminar	 no	 processo	 de	 habeas	 corpus,	 preventivo	 ou
liberatório,	 quando	 houver	 extrema	 urgência,	 com	 a	 ilação	 de	 que	 a	 concessão	 de
liminar	em	habeas	corpus,	construída	pretoriamente,	tem	o	mesmo	caráter	de	medida
cautelar	 atribuída	 à	 liminar	 em	 mandado	 de	 segurança.	 Importa	 anotar	 que,	 muito
embora	 se	 exija	 que	 a	 petição	 inicial	 esteja	 acompanhada	 de	 provas	 pré-constituídas
que	 comprovem	 a	 ameaça	 ou	 coação	 ilegal,	 não	 há	 vedação	 absoluta	 ao	 exame	 de
provas	por	ocasião	do	julgamento	(TÁVORA;	ALENCAR,	2020,	p.	1.643).	
Por	fim,	com	o	intuito	de	que	as	decisões	em	habeas	corpus	sejam	efetivas,	o	art.	653,
parágrafo	 único,	 do	CPP,	 enuncia	 que,	 uma	 vez	 ordenada	 a	 soltura	 do	 paciente,	 será
condenada	nas	 custas	 a	 autoridade	que,	 por	má-fé	 ou	 evidente	 abuso	de	poder,	 tiver
determinado	a	coação.	Conforme	determina	a	Lei	nº	13.869/2019,	o	coator	poderá	se
sujeitar	 às	 sanções	 por	 crime	 de	 abuso	 de	 autoridade,	 razão	 pela	 qual	 devem	 ser
remetidas	cópias	das	peças	necessárias	ao	Ministério	Público	para	que	seja	promovida
a	sua	responsabilidade.	O	habeas	corpus	deve	ser	gratuito,	sem	condenação	em	custas,
salvo	comprovada	má-fé.	Esse	direito	é	garantido	constitucionalmente	(art.	5º,	 incisos
LXXIV	e	LXXVII,	CF/1988).
8.	Recursos
A	 decisão	 de	 habeas	 corpus,	 a	 depender	 de	 seu	 conteúdo,	 pode	 ser	 combatida	 da
seguinte	forma:
a)	Recurso	 em	 sentido	 estrito:	 em	 face	 da	 decisão	 que	 concede	 ou	 que	 denega	 a
ordem	proferida	pelo	juiz	de	primeiro	grau	(art.	581,	inciso	X,	do	CPP).	O	recurso	em
sentido	 estrito	 é	 recurso	 exclusivo	 contra	 decisões	 de	 primeiro	 grau,	 com
endereçamento	ao	tribunal	de	segunda	instância.	
Por	 exemplo:	 delegado	 de	 polícia	 coator,	 com	 decisão	 proferida	 pelo	 juízo	 criminal,
31Curso	Ênfase	©	2021
autoriza	 a	 interposição	 de	 recurso	 em	 sentido	 estrito	 ao	 tribunal	 de	 segundo	 grau.
Contra	a	decisão	que	 julga	prejudicado	o	pedido,	 também	caberá	 recurso	em	sentido
estrito,	equiparando-se	a	situação	à	denegação	da	ordem.
b)	Recurso	ordinário	ao	STJ	e	ao	STF:	competirá	o	STJ	julgar,	em	recurso	ordinário,
o	 habeas	 corpus	 decidido	 em	 única	 ou	 última	 instância	 pelos	 TRFs	 ou	 tribunais	 de
Justiça	 se	 denegatória	 a	 decisão	 (art.	 105,	 inciso	 II,	 “a”,	 CF/1988).	 Igualmente,	 se	 o
remédio	 constitucional	 é	 tido	 por	 prejudicado	 ou	 não	 conhecido,	 caberá	 o	 recurso
ordinário,	 pois	 equivale	 essa	decisão	a	uma	denegação.	Por	 outro	 lado,	 competirá	 ao
STF	 julgar,	 em	 recurso	ordinário,	 o	habeas	corpus	 decidido	 em	 única	 instância	 pelos
Tribunais	Superiores	se	denegatória	a	decisão	(art.	102,	inciso	II,	“a”,	da	CF/1988).
Caso	 o	 recurso	 seja	 interposto	 fora	 do	 prazo	 legal,	 entende-se,
excepcionalmente,	 que	 ele	 poderá	 ser	 conhecido	 como	 habeas	 corpus
substitutivo,	a	fim	de	se	verificar	flagrante	ilegalidade,	abuso	de	poder	ou
teratologia	 de	 ofício,	 evitando-se,	 assim,	 prejuízo	 à	 ampla	 defesa	 e	 ao
devido	processo	 legal	 (STJ,	RHC	nº	79.337/SP,	5ª	Turma,	rel.	Min.	Felix
Fischer,	julgado	em	28.03.2017;	e	RHC	nº	35.986/RS,	6ª	Turma,	rel.	Min.
Nefi	Cordeiro,	julgado	em	26.04.2016).
c)	 Recurso	 especial	 e	 extraordinário:	 uma	 vez	 preenchidos	 os	 requisitos	 legais,
admite-se	a	sua	interposição,	combatendo	seja	decisão	denegatória,	seja	concessiva	da
ordem	(COSTA;	ARAÚJO,	2018).
Obra	coletiva	do	Curso	Ênfase	produzida	a	partir	da	análise	estatística	de	incidência
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