Prévia do material em texto
69 6ºAula A Expressividade e o Gra smo Infantil A criança se expressa desde o seu nascimento de diferentes formas, entre elas, encontra-se o grafismo, tema desta aula. Lembram-se daqueles desenhos infantis difíceis de definir, produzidos pelas crianças? São, também, uma forma de arte? É o que veremos no decorrer desta aula Boa aula! 285 Arte-Educação e Movimento 70 Objetivos de aprendizagem 1 - A Expressividade e o Grafismo Infantil 2 - Etapas Evolutivas 3 - A Linguagem do Desenho no Contexto do Desenvolvimento Geral da Criança 4 - A Leitura e a Releitura 5 - Leitura 6 - Releitura 1 - A Expressividade e o Gra smo Infantil Ao final desta Aula, vocês serão capazes de: • conhecer a importância da expressividade do grafismo infantil, reconhecendo os principais elementos visuais para o ensino da Arte através dos conhecimentos teóricos e práticos, ampliando as vivências artísticas e estéticas para uma ação pedagógica com qualidade; • proporcionar situações de aprendizagem através da ludicidade da arte, favorecendo a análise de relação entre as práticas da cultura e as atividades nas aulas de arte; • identificar e conhecer os processos de Leitura e Releitura de uma obra da arte. • aplicar as técnicas de conhecimentos adquiridas a uma realidade organizacional, na busca de uma solução para o(s) problema(s). Seções de estudo A criança tem seu próprio processo de criação e expressão em constante movimento, por isso, as imagens, por ela produzidas, são importantes para que o educador perceba e esteja preparado para ajudar essas crianças na construção de um olhar mais crítico e perceptível, tão importantes nos dias de hoje. Quanto mais aguçamos o nosso olhar, mais prestamos atenção nos detalhes, mais estreitamos o foco, reconhecemos melhor as imagens e conseguimos decodificar o que nelas está presente. A criança se exprime naturalmente e, por circular em diversos espaços culturais, adquire inúmeras experiências e diferentes formas de produção cultural. Percebemos que o papel social da criança foi se modificando ao longo dos tempos e, atualmente, a criança apresenta-se na sociedade com a mesma intensidade dos adultos. Ao desenhar, cantar, rir, dramatizar, gesticular e falar ela está construindo sua história com emoção e diante da coletividade em que está inserida. Não existe uma cultura única, monológica, mas, uma via de mãos e sentidos múltiplos. Não há também valores absolutos que perpassem qualquer tempo ou sociedade. Entendemos, portanto, que o ser humano se exprime normalmente tanto pelo ponto de vista verbal, como plástico ou corporal incentivado pela vontade a cada momento, de uma nova descoberta. Desse modo, os sujeitos, desde muito novos, desenvolvem sua linguagem própria, repleta de signos e carregada de significados, sendo influenciados por sua cultura através de materiais e suportes que estão disponíveis e ao seu alcance. Seus trabalhos também recebem influências da TV, gibis, computador, rótulos, estampas, vídeos, objetos de arte, cinema, fotografias e, principalmente, trabalhos artísticos de outras crianças. Figura 6.1Fonte: SANS, 2001. Figura 6.2 Fonte: Produção de aluno da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Dourados. Projeto de Ensino – Profª Sueli Fernandes. 2010. Acervo pessoal: Profª Sueli Fernandes. 286 71 2 - Etapas Evolutivas É comum, ainda, nos dias atuais, professores e pais não entenderem o real valor do desenho infantil, esperando que essas crianças façam a representação do real através de seus desenhos. Sabemos que a arte está há muito tempo desvinculada desse conceito. O processo criativo das crianças não é o mesmo, embora existam características comuns, possibilitando dessa maneira sua divisão em estágios. Crianças que vivem em países diferentes ou mesmo em épocas distintas percebem detalhes diversificados, mas, mesmo assim, seus desenhos contêm similaridades que nos mostram uma visão análoga de expressão entre elas, certas características refletem os estágios do desenvolvimento mental da arte infantil. Para que o educador entenda a arte, principalmente a de nosso século, é fundamental que antes conheça a evolução gráfica infantil, percebendo de maneira clara os princípios e tendências que regem a criação visual. As aulas de arte passam a constituir-se em um dos principais espaços dos quais as crianças podem exprimir-se e exercitar-se, mostrando dessa maneira suas potencialidades imaginativas. Cabe ao professor ajudar a criança a perceber os elementos visuais que compõe um objeto, assim como a imagem, o som e a cena. Recorremos ao professor Paulo de Tarso Sans (2001), que é um profundo conhecedor da evolução do desenho infantil para nos ajudar a entender o processo evolutivo do traço infantil e, principalmente, o seu significado pedagógico. Fase inicial Entre as idades de um e dois anos: A criança, mesmo não tendo uma coordenação motora muscular madura, é capaz de rabiscar, normalmente com linhas curtas e simples, em curvas fechadas horizontais, depois em espirais e, finalmente, em confusos círculos múltiplos. Entre dois e três anos: A criança passa a controlar seus músculos o suficiente para empunhar um instrumento qualquer, até mesmo o seu próprio dedo e começa a rabiscar em diversas superfícies, no papel, na parede, na areia, Figura 6.3 na terra, e na água o que acarreta em movimentos de vai e vem no braço. Aos três anos, os movimentos circulares passam por uma simplificação até surgirem os primeiros círculos. Normalmente a criança, depois de ter certo domínio sobre as formas circulares, passa a explorar outras formas. Aos poucos acontece o aparecimento de linhas mais simples, mas, com firmeza e controle deliberados, surgem rabiscos mais avançados como o ziguezague, a curva fechada e o círculo imperfeito, quase sempre cobertos por rabiscos repetitivos; apenas um bom observador os consegue distinguir. É importante salientar que os adultos (educadores e pais), pouco valorizam essa etapa do grafismo infantil. Mas, é através dessa fase que a criança vai obter a autoconfiança para progredir com maior estímulo as etapas seguintes. Podemos dizer que o círculo é a primeira forma organizada que surge a partir dos rabiscos. Não se deve procurar perfeição geométrica nesses desenhos. Nesse período, o controle visual e motor da criança é insuficiente para elaborar uma forma exata. Inicialmente, os círculos aparecem vazios; aos poucos a criança passa a preenchê-los com manchas e rabiscos. O círculo é cruzado, formando-se dessa maneira a forma mais simples da mandala. Essas formas foram desenhadas pelo homem desde o tempo das cavernas (período rupestre), nas cavernas, nas fachadas dos templos e aparecem nos desenhos de todas as crianças do mundo inteiro. Figura humana Aos poucos e gradativamente, a mandala vai-se modificando e formando o sol irradiante, o espaço central é, aos poucos, preenchido com pequenos pontos e pequenos círculos. A criança ao chegar a Figura 6.4 Figura 6.5 Figura 6.6 287 Arte-Educação e Movimento 72 esse estágio descobre a fórmula para produzir uma imagem representativa que a satisfaz, iniciando, dessa forma, uma nova fase, descobrindo o rosto humano. Após a descoberta da face, as crianças vão aos poucos construindo os membros da figura humana: o corpo, os dedos, as pernas e outros detalhes que surgem gradativamente. São detalhes acrescentados aos poucos, pois o progresso é natural e lento, como aconteceu nas fases anteriores. Entre quatro e cinco anos, o desenvolvimento dos detalhes segue junto com o da figura, aparecendo os dedos dos pés e das mãos, dentes, orelhas, umbigo e outras experimentações. Nesse momento a criança deixa de representar sua experiência privada e gráfica, para desenhar objetos do mundo exterior colocando-os em relação uns aos outros, até que perceba que pode representar situações e distribuiras imagens no papel. Figuração esquemática Aos seis anos de idade aproximadamente, a criança passa a descobrir a relação entre o seu desenho e a realidade. A representação da realidade é a sua intenção, colocando em seus trabalhos, a influência que sofre da cultura em que está inserida. A sua capacidade de observação vai aos poucos atuando na sua expressão plástica. A criança coloca no papel o que sente através de sua realidade prevalecendo o emocional sobre o real. Vale ressaltar que, para a criança, a arte abstrata não existe. Ela vai desenhar momentos vividos e conhecimentos dominados por sua imaginação. Nessa fase, a figura humana já começa a ser representada também de perfil. Prevalece também, nessa fase, o esquema de um tipo genérico de casas, árvores, pessoas e a repetição é constante, mas a criança sempre procurará renovar- se e ultrapassar-se. Figura 6.7 Figura 6.9 A representação espacial vai se aprimorando e os motivos desenhados vão sendo, aos poucos, colocados em seus devidos lugares. As cores são cada vez mais relacionadas com a realidade. O espaço é geralmente ordenado por uma linha que serve de apoio para sustentar casa, pessoas, árvores, animais, carros. A visão gráfica da criança nessa fase é desprovida de perspectiva. Alguns autores classificam os planos deitados do desenho sob dois aspectos: Plano deitado irradiante: Como se fosse à representação de uma brincadeira de roda, com todos os personagens deitados. Plano deitado axial: Como desenhos que aparecem vistos de cima, como se fossem feitos e analisados do alto. Temos também nessa fase a chamada Transparência, ela mostra-nos o que deveria estar escondido como, por exemplo: os móveis que estão dentro da casa, aparecem no mesmo plano das linhas de contorno desta. A criança ainda descreve o que desenha verbalmente, como se fosse uma história. Figura 6.10 Figura 6.11 Figura 6.12 Figuração realista Aos dez anos de idade, aproximadamente, a criança atinge essa nova etapa do desenvolvimento mental. Ela procura a lógica em sua criação, provavelmente por ter aguçado seu senso crítico, resultando no julgamento de sua própria expressão, na qual, a espontaneidade anteriormente era latente. Lowelfeld e Brittain (1970), denominam essa fase de realista porque a criança descobre o plano que 288 73 substitui a linha básica. Observa-se que nessa fase a transparência desaparece dos desenhos, pois ela é substituída pelos planos, na qual a relação de profundidade entre os elementos são ordenados em cena. A criança, nessa fase, procura representar o que vê, estando constantemente insatisfeita com o resultado final de seu trabalho. A relação dos educadores e dos pais nesse período com a criança é de extrema importância, para que ela não troque a valorização da habilidade pela da expressividade, continuando dessa maneira a carregar consigo a espontaneidade já adquirida anteriormente. Como observamos nos itens anteriores, a construção das imagens no imaginário da criança ocorre gradativamente de acordo com as etapas operacionais do pensamento artístico de cada sujeito. O desenho para a criança reflete suas impressões e percepções, podendo ou não estar relacionadas com a sua visão de mundo. Ao desenhar, a criança descobre suas próprias regras, estabelecendo assim o seu limite. É fundamental que o educador perceba a importância desse processo, a do desenho, para o desenvolvimento de sua autoexpressão, do raciocínio, da sensibilidade e para relacionar-se com o outro. A educação é um processo rápido, dinâmico, no qual não cabe mais a transmissão de saberes consagrados e estáticos. Repensar as aulas de desenho implica, também, em redimensionar o conceito de desenho, não podendo mais ser traduzido em cópia mimética de um determinado objeto. A criança deve ser sempre estimulada a criar a partir de sua própria imaginação. Cada descoberta que faz, transforma-se em uma nova possibilidade, em uma nova variante. Relacionar-se com os desenhos das crianças sem a tradução feita pela língua escrita, como por Figura 6.13 3 - A Linguagem do Desenho no Contexto do Desenvolvimento Geral da Criança exemplo, um texto para ser decodificado, é no mínimo assustador aos olhos de profissionais despreparados para a compreensão e interpretação da arte. Muitas vezes, o educador não distingue seus significados. As mensagens escritas pelas crianças em seus trabalhos facilitam, sem dúvida, a sua compreensão, mas não são indispensáveis para o desenvolvimento do grafismo visual. O profissional da área de educação deve proporcionar aos seus alunos outros aspectos. Não apenas aqueles de imediata aplicabilidade pedagógica, mas também os inerentes à cultura como um todo, como a música, o teatro, as artes plásticas, a fotografia, o cinema, a literatura, a dança, as exposições de arte, entre tantos outros. O educador é responsável pela formação intelectual de seus educandos, e é justamente essa formação hoje, uma das maiores dificuldades da educação em nosso país. Para que fique mais claro o entendimento sobre a importância da criação pessoal e individual do grafismo infantil, segue abaixo uma situação verídica sobre desenhos de crianças brasileiras recusados em uma exposição de Milão em 1948, este evento deveria expor desenhos de crianças de todo o mundo. Por que, então, os dos brasileiros foram recusados? Vejamos: Conforme Martins (1998, p. 15) “O músico Koellreuter e Geni Marcondes, que na época estavam na Itália, entrevistaram a vice-presidente da instituição organizadora. Em artigo publicado pelo O Estado de Minas de 1949, relatam: Quisemos saber qual fora o critério adotado para a escolha dos desenhos expostos. A Dra. Paccagnella respondeu- nos: ‘os mais espontâneos, naturalmente, foram os preferidos. Fizemos uma seleção na remessa de cada país e tudo o que nos pareceu ajudado ou mesmo sugerido por adultos foi deixado de lado. No entanto, esse trabalho seletivo não pôde ser feito em relação aos desenhos vindos do Brasil. Como vêem – e a pedagoga sorriu gentilmente do nosso embaraço-, não tivemos muito o que escolher. Não recebemos nenhuma criação verdadeiramente livre das crianças brasileiras. Isso não quer dizer, é claro, que a infância do Brasil não sinta necessidade de usar também a linguagem grá ca, como a infância de todos os países do mundo. Apenas, creio que zeram lá uma seleção completamente inversa da que zemos aqui. Preteriram as criações espontâneas pelos desenhos assim chamados ‘bem- 289 Arte-Educação e Movimento 74 feitinhos’ e carentes de originalidade. Acharam, por certo, que isto aqui (e apontou um renque de palmeiras feito com régua e apresentando uma perspectiva perfeita) era mais interessante do que uma criação deste tipo’ (mostrou o desenho de um pequeno argentino, encantador, de liberdade inventiva). A Dra. Paccagnella tinha razão. Nada menos representativo, menos vivo que as produções brasileiras da exposição. Era como se nossas crianças tivessem nascido mortas e aqueles bichos empalhados fossem a expressão de sua falta de vitalidade (Escolinha de Arte do Brasil. Brasília, INEP, 1980, p. 32). De acordo com o que acabamos de ler, podemos chegar à conclusão de que o que foi verdadeiramente recusado não foram os desenhos das crianças brasileiras, mas sim, os responsáveis pela seleção feita no Brasil. Como os desenhos seriam para uma exposição na Europa, provavelmente pensaram que não poderiam enviar qualquer coisa. Então professores e/ou pais, deram uma “ajudinha”. Se pararmos para analisar esta situação, vamos acabar encontrando semelhanças ainda hoje nas escolas de nosso país. O professor precisa estar consciente da sua importância em sala de aula, ele deve ser um mediador e nunca um ajudante de seu aluno. Cabe a ele estimular e incentivar as produções gráficas das crianças, independente do seu conceito de perfeição e beleza. Inúmerassão as questões que atualmente inquietam os professores educadores de arte: compreender a produção contemporânea de arte e a sua estética na educação passa a ser para o professor um desafio a ser enfrentado e decodificado perante seu aluno. Nos últimos anos vem-se pesquisando cada dia mais sobre a leitura de uma obra de arte. Existem muitas definições em relação à leitura da obra, mas, Acredito que vocês tenham percebido como é importante a postura do professor perante a criação grá ca das crianças. As imagens que ilustram o conteúdo da seção foram retiradas da obra: SANS, Paulo de Tarso Cheida. Pedagogia do Desenho Infantil. Campinas: Átomo, 2001. 4 - A Leitura e a Releitura 5 - Leitura Há alguns anos, priorizava-se nas aulas de arte a produção de técnicas e a expressividade da arte. Atualmente, a principal preocupação é a estética nos conteúdos ministrados em arte. A partir dos anos de 1980, no Brasil, o ensino de arte começa a ser repensado em novas bases conceituais e revisado quanto a sua relação com as pesquisas contemporâneas em arte. Os professores passaram a trabalhar não só com a produção, mas também a leitura da imagem e a contextualização histórica. Surgiram também as releituras, enquanto produções realizadas com base em obras de arte. No entanto, na prática artística, há muito tempo os artistas trabalham com processos intertextuais em suas obras para homenagear, criticar ou parodiar outros textos. Necessita-se hoje de educadores que saibam compreender as mensagens gráfica/plástica/ visuais, aproximando-se dessa maneira das linguagens utilizadas pela arte contemporânea, e orientando-lhe para uma atitude mais crítica perante a produção artística. Sabemos que a escola é responsável por uma ampla formação cultural de nossa sociedade, e a arte tem em seu currículo escolar conteúdos próprios e ligados à cultura artística que deve ser devidamente explorada. Cabe aos educadores da arte a responsabilidade na formação de sujeitos leitores e sensíveis às imagens presentes no nosso dia a dia e principalmente e em particular no mundo das artes. Figura 6.14 Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Releitura.jpeg>. 290 75 para compreendermos melhor, é necessário que antes passemos a entender também o que é leitura. O texto, por exemplo, não é simplesmente um amontoado de frases, mas o sentido que cada uma delas possui é a relação que se estabelece entre elas. Assim, podemos dizer que o texto é definido por sua organização e passa a ser entendido como objeto de significação. Se formos comparar o texto com a pintura, podemos dizer que nem o texto é um agrupamento de frases e nem a pintura é um amontoado de manchas coloridas. Mas elas se interrelacionam entre si, ou melhor, cada parte depende da outra para poder ter sentido. É necessário que se observe também o que existe fora do texto ou da pintura, o que vai influenciar com certeza em seu contexto. Podemos dizer que a criação de um texto ou de uma obra deve ser lida como se fosse um texto escrito que se dá em um determinado espaço e tempo, desvelando ideias, valores e interpretações da arte e do mundo em que está inserido. Como objeto de comunicação, o texto, faz a ligação entre o produtor-destinador e o leitor-destinatário. Entendemos que o texto para a semiótica pode ser linguístico, visual, gestual, sonoro e sincrético, que é aquele que pode possuir mais de uma expressão ao mesmo tempo como, por exemplo: o teatro, o cinema e até mesmo o computador. John Dewey (1971), educador estrangeiro que influencia o ensino de arte no Brasil, em seus estudos sobre a função educativa da experiência da criança em suas diferentes fases de desenvolvimento e de sua consciência estética, ao tratar a arte como uma experiência estética, diferencia o ato de ver do ato de perceber. Para seu entendimento, um leitor poderá ver uma obra de arte, mas não necessariamente percebê-la esteticamente. Dessa forma, um sujeito, ao visitar uma exposição de arte e ao olhar para as obras, se ele não estabelecer relações não irá compreender o seu sentido, passando então a não percebê-la esteticamente. Para que o sujeito possa perceber uma obra de arte, ele necessita criar sua própria experiência, fazendo de sua criação-imaginação uma conexão com a obra original, que acaba de apreciar. Nessa proposta de leitura, o leitor recria o objeto para si e tenta percorrer o caminho que o artista faz ao produzir a obra. Mas isso acontece conforme a sua informação e interesse cultural. Se recorrermos ao dicionário Aurélio Buarque de Holanda e ao dicionário de Semiótica, podemos observar que o conceito de leitura não é diferente do que já foi posto até aqui. No Aurélio leitura é o “ato ou efeito de ler, arte de decifrar e fixar um texto de autor, segundo determinado critério”. No dicionário de semiótica, a leitura é “uma semiose, uma atividade primordial cujo resultado é correlacionar um conteúdo a uma expressão dada e transformar uma cadeia de expressão em uma sintagmática de signos”. Percebemos que, em ambos, os casos a leitura envolve um processo de reconhecimento, exigindo um leitor perceptivo para realizar o percurso do produtor do texto. Percebemos também que a leitura não é um ato passivo, pois exige um fazer interpretativo no qual constrói o leitor a partir de sua ação, de reconstrução do sentido do texto, no próprio texto. A leitura de uma obra de arte só se dá quando passamos a perceber, compreender e es tabe lecemos relações entre seus códigos visuais como: as cores, as formas e linhas presentes na obra e como elas são distribuídas e organizadas no espaço pictórico. Para esclarecer melhor como se dá a leitura de uma obra figurativa e outra abstrata, recorremos aos seguintes exemplos: Em uma obra figurativa, por exemplo, A Negra, de Tarsila do Amaral (1923), a presença de uma figura humana dá a ela um sentido humano específico, revelando ao sujeito apreciador que a observa o seu estado de alma. Mas, se em uma pintura figurativa, a presença de um corpo nos permite essa identificação, como isso se estabelece quando o trabalho não é figurativo? Percebemos através de nossa sensibilidade plástica e pela maneira como observamos o enunciado, o jeito como o artista organiza as cores e as formas no espaço pictórico. Citamos como exemplo Kandinsky e Mondrian, com obras não figurativas ou abstratas, que se apresentam de diversas maneiras. Porém, ambas nos fazem sentir algo diferente quando estabelecemos uma relação com elas. , p p Figura 6.15 291 Arte-Educação e Movimento 76 Batalha Wassily Kandinsky (abstracionismo informal) Composição Piet Mondrian (abstracionismo formal/ geométrico) Não existe um roteiro preestabelecido para a leitura de uma obra de arte. Cabe ao leitor perceber os processos de estruturação do texto a ser analisado. Se ele for imagético, por exemplo, o primeiro obstáculo a ser enfrentado será a abordagem de uma linguagem, ou seja, a da pintura por sua descrição verbal. O objeto semiótico é o resultado de uma leitura que se constrói e para que se obtenha essa leitura, faz-se necessário que o leitor (semioticista), elabore um discurso que lhe permita delinear o seu percurso. Chamamos, portanto de intertextualidade a relação que se dá entre um sistema de linguagem verbal e uma linguagem não verbal, no caso a pintura. Figura 6.16 Figura 6.17 Reler é reinterpretar, criar novos significados acerca de um determinado assunto, objeto, no caso da arte, a pintura. Quando recriamos um determinado objeto da natureza ou mesmo construído pelo homem através da pintura, estamos relendo-o. A questão da releitura ainda hoje é bastante complexa. Muitos educadores a confundem com cópia, o que definitivamente é um equívoco. Os professores apresentam aos seus alunos uma determinada obra de arte para que as copiem, e o fazem na certeza de que estão trabalhando com base na proposta triangular, referindo-seao fazer artístico, como proposta de releitura, e esta como referencial de cópia. Podemos dizer que existe uma grande diferença entre a releitura e a cópia. Na releitura, o sujeito interpreta a obra com base em um referencial já existente, ou melhor, dizendo, em um texto visual que poderá estar visível ou não na obra final. Já a cópia é o aprimoramento técnico, sem modificações nem transformações em relação à obra. Não existe interpretação e tampouco uma nova criação. Na releitura, devemos buscar sempre uma nova criação e não a reprodução de uma imagem já existente. Na releitura, um artista parte da obra de outro artista para criar a sua própria obra. Podemos citar como exemplo a obra de Velazquez, Las meninas. Picasso fez várias releituras dessa obra, mas sempre se apropriando da imagem e recriando em seu próprio universo. 6 - Releitura Figura 6.18 ‘As Meninas’, de Velásquez (1599-1660) 292 77 Dizemos que, ao ler uma obra de arte, estamos nos beneficiando de nossos conhecimentos culturais e artísticos para podermos dar significados à obra. Não há uma leitura, mas várias leituras, em que cada qual precisa encontrar a sua maneira de interpretar essa imagem. A releitura pode ser entendida como um diálogo entre textos visuais diferentes, que são os intertextos, não deixando de serem criações e produções de novos sentidos, no qual buscamos a relação de um texto com o nosso próprio texto. Figura 6.19 ‘As Meninas’. Pablo Picasso, 1957. Museu Picasso, Barcelona. Leitura e Releitura são criações, produções de sentidos em que buscamos explicitar relações de um texto com nosso contexto. E aí, tudo certo até aqui? 1- A Expressividade e o Grafismo Infantil A criança tem seu próprio processo de criação e expressão em constante movimento, por isso as imagens, por ela produzidas, são importantes para que o educador perceba e esteja preparado para ajudar essas crianças na construção de um olhar mais crítico e perceptível, indispensável nos dias de hoje. Quanto mais aguçamos o nosso olhar, mais prestamos atenção nos detalhes, mais estreitamos o foco, reconhecemos melhor as imagens e conseguimos decodificar o que nelas está presente. Retomando a aula Para encerrarmos esta aula vamos recordá-la!!! 2 - Etapas Evolutivas Os adultos (educadores e pais) pouco valorizam a etapa do grafismo infantil. Mas é através dessa fase que a criança vai obter a autoconfiança para progredir com maior estímulo as etapas seguintes, passando do rabisco para produções significativas, paulatinamente, explorando formas diversas, construindo o seu saber artístico. 3 - A Linguagem do Desenho no Contexto do Desenvolvimento Geral da Criança O desenho para a criança reflete suas impressões e percepções, podendo ou não estar relacionadas com a sua visão de mundo. Ao desenhar, a criança descobre suas próprias regras, estabelecendo assim o seu limite. É fundamental que o educador perceba a importância desse processo, a do desenho, para o desenvolvimento de sua autoexpressão, do raciocínio, da sensibilidade e para relacionar-se com o outro. 4 - A Leitura e a Releitura Inúmeras são as questões que atualmente inquietam os professores educadores de arte: compreender a produção contemporânea de arte e a sua estética na educação passam a ser para o professor um desafio a ser enfrentado e decodificado perante seu aluno. 5 - Leitura Dizemos que, ao ler uma obra de arte, estamos nos beneficiando de nossos conhecimentos culturais e artísticos para podermos dar significados à obra. Não há uma leitura, mas várias leituras, em que cada qual precisa encontrar a sua maneira de interpretar essa imagem. 6 - Releitura A releitura pode ser entendida como um diálogo entre textos visuais diferentes, que são os intertextos, não deixando de serem criações e produções de novos sentidos, no qual buscamos a relação de um texto com o nosso próprio texto. 293 Arte-Educação e Movimento 78 <www.mam.org.br>. <www.museuhistoriconacional.com.br>. <www.museusegall.org.br>. <www.mnba.gov.br>. <www.museuvirtual.org.br>. Vale a pena acessar Atividades - AULA 6 Após terem realizado uma boa leitura dos assuntos abordados em nossa aula, na Sala Virtual - Atividades, estão disponíveis os arquivos com as atividades (exercícios) referentes a esta aula. Após responder, envie por meio do Portfólio – ferramenta do ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. 294