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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM HISTÓRIA NELSON LOPES DE SOUZA JUNIOR TRABALHO DE AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA – AVA 2 Rio de Janeiro 2022 UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM HISTÓRIA NELSON LOPES DE SOUZA JUNIOR UM RIO DE MUITAS FACES Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em História da Universidade Veiga de Almeida, como requisito parcial para aprovação na disciplina História Regional: República (IL70158). ORIENTADORA: PROF.ª. VERONICA MOREIRA DOS SANTOS PIRES Rio de Janeiro 2022 RESUMO Este trabalho apresenta um ensaio sobre um recorte temporal – 1901 A 1920 - no qual é retratado o Rio de Janeiro e suas mudanças estruturais, através das reformas urbanas do início do século XX e seus impactos sobre a cidade. Palavras-chave: Rio de Janeiro. Reforma Urbana. ABSTRACT This work presents an essay on a time frame - 1901 to 1920 - in which Rio de Janeiro and its structural changes are portrayed, through the urban reforms of the early twentieth century and their impacts on the city. Keywords: Rio de Janeiro. Urban Reform. Introdução Quando se trata de História, o Rio de Janeiro transborda de fatos e acontecimentos que nos permitem um aprofundamento em nossos saberes sobre a cidade, suas mudanças e impactos nas mais diversas áreas, de cultura à política. De capital das Américas Portuguesas, em 1763, depois capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves no século XIX e, por fim, capital da República até 1960, a cidade foi foco da política e palco de uma das maiores reformas urbanas - a primeira de seu porte em nosso país, a Reforma Pereira Passos. Tal projeto, com intuito de europeizar a cidade, impactou em diversas mudanças paisagísticas, arquitetônicas e culturais, que ainda hoje refletem no cotidiano da cidade. Do Porto da cidade, passando pelo Theatro Municipal até os novos pontos da boemia na zona sul, das serestas e chorinhos às revoltas, a cidade apresenta uma gama de situações que formam, em suas particularidades, uma obra completa de uma história que mescla sofrimento e liberdade, burguesia e pobreza, atraso e progresso. Um Rio de Janeiro o qual devemos estudar. Mudanças impopulares, soluções excludentes Um Rio de Janeiro que marcado pelas mudanças políticas e sociais advindas do final do século XIX. A abolição da escravidão, a migração em massa de trabalhadores interessados nas oportunidades geradas pelas reformas urbanas, as quais falaremos adiante, desde ex-escravos, migrantes das regiões do norte e nordeste do país, trabalhadores europeus trazidos como mão de obra qualificada para atuar na construção civil e em outros setores da economia, além de mulheres e crianças que eram explorados nos trabalhos em fábricas e ateliês, o aumento populacional na cidade explodiu em expansão. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do Rio de Janeiro cresceu de 811.443 habitantes em 1900 para 1.157.873 habitantes em 1920, um aumento de mais de 40% em apenas duas décadas. O impacto do aumento da população foi o aumento da população pobre, o aumento também do número de residências coletivas e os cortiços, que marcaram a cidade por serem locais de moradia da população pobre na região central, o que facilitava a movimentação para as áreas de trabalho, mas também eram apontados como locais sinônimos de falta de saneamento e de proliferação de doenças. Esse período de duas décadas retratado aqui – de 1901 a 1920 – tem grande destaque pelas reformas urbanas e grande movimentação da população. A troca de lugar entre uma população pobre e a elite que queria ocupar mais lugares no então Distrito Federal. O início desse projeto de remodelação se deu no governo do presidente Rodrigues Alves (1902-1906). Acompanhando este processo, temos o então prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Pereira Passos, assumindo a missão de efetuar a reforma urbana a nível municipal, como cita Mayara Silva: “Na verdade, existiram duas reformas urbanas: uma executada pelo governo municipal, e outra executada pelo governo federal, ambas com ideais diferentes.” (SILVA, 2019). Além disso, como cita Suelem Teixeira, “[...] a cidade Rio de Janeiro passou por uma remodelação a fim de renovar a sua imagem como capital de um país que deveria ser apresentado como uma nação moderna e civilizada. Tais mudanças correspondiam aos anseios de uma elite republicana e estavam incluídas nos planos de duas reformas urbanas, uma de responsabilidade do governo federal e outra da administração municipal.” (TEIXEIRA, 2021) A reforma Pereira Passos visava o embelezamento, a adequação da cidade à elite urbana, deixando de lado uma fatia maior da população, pobre, que foi expulsa de suas moradias e obrigada a migrar para morros e subúrbios. Também aí vemos que, conforme buscava adequar a cidade, buscando um padrão visto em grandes capitais europeias, como Paris, que era vista como símbolo da modernização, as modificações também impactariam em mudanças radicais no modo de vida da população. Tais intervenções seriam orientadas por novos usos da capital, e podem ser vistas como um investimento simbólico a fim de melhorar a imagem do país no exterior (atraindo imigrantes e investimentos) e legitimar o regime republicano em esfera nacional, alcançando o imaginário de uma população que ainda estava afetivamente apegada à Monarquia e à figura central do Imperador D. Pedro II. (TEIXEIRA, 2021) A modernização da cidade foi responsável por tornar o Rio de Janeiro mais organizado e funcional, com a construção de novas avenidas, praças, pontes e viadutos, além da instalação de novas redes de transporte, como o bonde elétrico. A higienização do espaço urbano combateu as epidemias e as doenças que eram comuns na época, através da construção de novas redes de esgoto, da criação de hospitais e da remoção de cortiços e favelas que eram insalubres. A Reforma Pereira Passos também teve um impacto positivo na qualidade de vida da população, com a construção de novos espaços públicos, como praças e parques, e com a modernização do sistema de transporte, que permitiu que as pessoas se deslocassem com mais facilidade e rapidez pela cidade. Porém, mesmo com tantos aspectos positivos, alguns aspectos negativos se destacaram por causa do caráter antagônico e divisor de classes, que refletem até hoje no estado. A Reforma teve um forte impacto na população mais pobre da cidade, que muitas vezes foi deslocada de suas casas e bairros para dar lugar às novas construções e melhorias urbanas. Isso também levou à perda de grande parte do patrimônio histórico e arquitetônico da cidade, com a demolição de muitos prédios e monumentos antigos para dar lugar às novas construções. Além disso, a modernização da cidade e a concentração de investimentos em áreas nobres acabaram acentuando as desigualdades sociais e econômicas, com o desenvolvimento de uma elite cada vez mais rica e poderosa e o empobrecimento de muitas áreas periféricas da cidade. As reformas urbanas também tiveram grande impacto sobre a arte e a música na cidade. Com a construção de novos espaços culturais, como o Teatro Municipal e a Biblioteca Nacional, a cidade se tornou um centro importante para a música e a arte no Brasil. O Teatro Municipal, em particular, se tornou um importante centro para a ópera e a música clássica no país, e muitos artistas e músicos internacionais passaram a se apresentar na cidade. Além disso, a construção de novos bairros residenciais na zona sul da cidade, como Copacabana e Ipanema, acabou atraindo muitos artistas e músicos para a cidade,que se estabeleceram nesses bairros e ajudaram a criar uma nova cena artística e musical na cidade. Porém, com a demolição de muitos bairros antigos e tradicionais da cidade, muitos artistas e músicos perderam seus locais de trabalho e suas fontes de inspiração. Além disso, a construção de novas avenidas e praças acabou transformando a paisagem urbana e eliminando muitas das ruas estreitas e becos que eram frequentados pelos artistas e músicos. Na sequência das reformas executadas, algumas melhorias importantes foram implementadas e ajudaram a transformar a cidade em um importante centro cultural e econômico brasileiro, como a abertura da Avenida Central, a expansão do sistema de transporte, com a construção de novas linhas de bonde elétrico e modernização dos serviços de transporte público, a implantação do sistema de abastecimento de água e esgoto em diversos bairros da cidade e, não menos importante, a expansão da rede elétrica, que permitiu a iluminação de novas áreas e a modernização de serviços públicos e comerciais. “Pereira Passos e Rodrigues Alves realizaram um grande esforço para fazer os cariocas e brasileiros apurarem o seu sentido visual, convidando-os a olhar a cidade com maior orgulho. Passos, em particular, apostou na tradição de civilização da urbe, que vinha desde a experiência imperial. No entanto, não se deu conta de que a tradição do Rio de Janeiro não se limitava à experiência de ter sido cidade-corte. Não foi capaz de perceber que a cidade era mais do que isso.” (AZEVEDO, 2016) Como dito por Azevedo, mesmo com todas essas reformas não foi levada em consideração a maior parte da população e sua tradição, sua vivência. Ao invés de criar uma nova versão da cidade, mais moderna e abrangente, acabou por ser incapaz de seduzir todas as partes, tornando mais aparente a divisão de classes da cidade. Conclusão Apresenta-se aqui uma análise sobre as mudanças políticas e sociais ocorridas no Rio de Janeiro entre 1901 e 1920, período marcado pelo aumento populacional, migração em massa de trabalhadores e reformas urbanas que visavam modernizar a cidade e torná-la mais funcional e organizada, em conformidade com os padrões de grandes capitais europeias. Porém, tais reformas também resultaram na expulsão de uma fatia da população pobre de suas moradias e em uma divisão de classes que se reflete até hoje. Ressaltemos a importância de compreendermos as transformações históricas e sociais que moldaram a cidade e que se fazem presentes em nosso cotidiano. REFERÊNCIAS AZEVEDO, André Nunes. A grande reforma urbana do Rio de Janeiro e o apelo visual da urbe reformada como retórica e enlevo civilizador. Revista Maracanan. vol. 12, n.14, p. 161-174, jan/jun 2016. ISSN-e: 2359-0092. DOI: 10.12957/revmar.2016.20867 GOMES, Vivian A. C. R. Breve Histórico da produção do espaço intraurbano e da distribuição da população na cidade do Rio de Janeiro. VII ALAP Congreso de la Asociación Latinoamericana de Población e XX ABEP Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Foz do Iguaçu, out. 2016. IBGE. Tabela 1.6 - População nos Censos Demográficos, segundo os municípios das capitais - 1872/2010 In: Sinopse do censo demográfico 2010. Em: https://www.ibge.gov.br/censo2010/apps/sinopse/index.php?dados=6 RODRIGUES, A. E. M. e MELLO, Juliana O. B. As reformas urbanas na cidade do Rio de Janeiro: uma história de contrastes. Acervo, Rio de Janeiro, v. 28, n.1, p. 19-53, jan./jun. 2015. SILVA, M. G. C. F. da. Algumas considerações sobre a reforma urbana Pereira Passos. Urbe. Revista Brasileira De Gestão Urbana, 11(urbe, Rev. Bras. Gest. Urbana, 2019 11), e20180179. https://doi.org/10.1590/2175-3369.011.e20180179 TEIXEIRA, Suelem D. As reformas urbanas do Rio de Janeiro no início do século XX (1903-1906) e sua repercussão no território nacional. Arquivo Nacional, Portal Estudos do Brasil Republicano. 27, julho, 2021. disponível em: http://querepublicaeessa.an.gov.br/temas/323-reformas-urbanas-do-rio-de-janeiro- no-inicio-do-seculo-xx.html https://www.ibge.gov.br/censo2010/apps/sinopse/index.php?dados=6 https://doi.org/10.1590/2175-3369.011.e20180179 http://querepublicaeessa.an.gov.br/temas/323-reformas-urbanas-do-rio-de-janeiro-no-inicio-do-seculo-xx.html http://querepublicaeessa.an.gov.br/temas/323-reformas-urbanas-do-rio-de-janeiro-no-inicio-do-seculo-xx.html
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