Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Anestesiologia Caio Márcio Silva Cruz Anestésicos locais Ação: Bloqueia os canais de sódio São substâncias que bloqueiam a condução de impulsos quando em contato com o tecido nervoso. Dependendo da concentração são capazes de produzir bloqueio sensitivo e motor. O efeito é temporário e completamente reversível. Resumo histórico Em 1850 – a molécula de cocaína foi isolada. Já em 1884, Sigmund Freud estuda os efeitos da cocaína. 1905: primeiro anestésico sintético do grupo éster, Procaína. 1943: primeiro anestésico, amino amida, Lidocaína. 1957: Bupivacaína. 1970: iniciaram-se os estudos sobre utilização de opioides, com Wang. 1980: estudos buscavam drogas menos cardiotóxicas. 1990: enantiômeros levógiros dos AL amídicos: Ropivacaína e Levobupivacaína. Nota: Anestésicos locais do grupo éster são marcados por causar reações alérgicas. Ropivacaína é cardiotóxica. A lidocaína pode ser utilizada contra arritmia, logo não é cardiotóxica. Aplicação Clínica Uso mais comum: anestesia e analgesia regional Anestesias: subaracnóidea, peridural, bloqueios periféricos de plexos ou troncos nervosos, infiltração local, tópica. Aplicação contínua ou intermitente. Via venosa: como antiarrítmico, reversão de taquicardias ventriculares; diminuição de sensibilidade de vias aéreas. Aspectos Químicos São bases fracas com pKa acima de 7,4, que geralmente carregam uma carga positiva no grupamento amina. São parcialmente ionizáveis em PH fisiológico São pouco hidrossolúveis e instáveis em solução aquosa Usualmente preparados comercialmente como um sal para aumentar a estabilidade e hidrossolubilidade. Eletrofisiologia da Condução Neural Potencial de repouso da membrana neuronal: -60 a -70Mv. Sendo o interior negativo em relação ao exterior Em repouso, a membrana é totalmente permeável ao potássio e praticamente impermeável ao sódio Excitabilidade do tecido nervoso: depende da instabilidade dos gradientes iônicos através da membrana. O que equilibra a célula é a saída do potássio. Potencial de membrana, é mantido pela ação da bomba de sódio e potássio ↓ Transporte de sódio para fora da célula e o potássio para dentro ↓ Membrana mais permeável ao potássio → excesso de íons negativo se acumula no intracelular ↓ Potencial de repouso negativo (Polarização -70mV). Após estimulação → química, mecânica ou elétrica. Um impulso é conduzido ao longo de um axônio Propagação desse impulso → despolarização da membrana. Despolarização supera limiar de excitabilidade → canais de sódio são ativados. Canais de sódio ativados ↓ Influxo súbito e espontâneo dos íons Na → deflagração do potencial de ação (PA) ↓ Provoca excesso íons cátions intracelular ↓ Resultando potencial de membrana (+35mV) ↓ A membrana torna-se novamente impermeável ao Na → ocorre a repolarização (efluxo de potássio) → restaura o equilíbrio eletroquímico normal 2 Anestesiologia Caio Márcio Silva Cruz Onde atuam os Anestésicos locais (AL)? Os anestésicos locais interrompem a condução do estímulo nervoso por bloquear a condutância dos canais de sódio e consequentemente impedir a deflagração do potencial de ação Os receptores específicos no interior dos canais de sódio constituem, provavelmente, o sítio exato de ação do anestésico local. Mecanismo de Ação A ligação dos AL aos canais de sódio depende da conformação do canal O canal de sódio pode estar: o Aberto - ativado o Fechado - inativado O AL se liga preferencialmente a forma aberta Afinidade pela configuração fechada é baixa No estado de repouso os canais estão em equilíbrio (aberto / fechado) Local básico de ação: canal de sódio São glicoproteínas de membrana: → 1 subunidade α maior /1-2 β menores → Quatro domínios homólogos (D1-D4) Cada um com seis segmentos (S1-S6) Quanto maior o número de canais nas formas aberta e inativada, mais fácil será a ação do anestésico local. Farmacodinâmica Permanece desconhecido a percentagem de decréscimo no PA para que ocorra bloqueio Estudos sugerem que o PA deve ser reduzido em 50% para que ocorra déficit da função neuronal O que se observa quando se aplica um AL a um feixe nervoso misto? As fibras C, a de dor e temperatura: 1. ↓↓ sensibilidade térmica (são as primeiras a serem bloqueadas) 2. ↓↓ sensibilidade dolorosa 3. ↓↓ sensibilidade à pressão e tátil Fibras inicialmente bloqueadas e mais suscetíveis: o Menor diâmetro o Desmielinizadas o Conduzem sensação temperatura Classificação das Fibras Nervosas Fibra Diâmetro Mielina Velocidade Condução Função Aα 6 – 22 + 30 – 120 Motor e propriocepção Aγ 3 – 6 + 15 – 35 Tônus muscular Aδ 1 – 4 + 5 – 25 Dor, tato e temperatura B >3 + 3 – 15 Função autonômica C 0,3 – 1,3 - 0,7 – 1,3 Dor, temperatura Precisa de um tempo para bloquear todas as fibras, para ficar completo. Classificação e Estrutura Radical aromático (porção lipossolúvel): responsável pela sua penetração no nervo Ligado a um Grupo amina (hidrofílica): porção ionizável da molécula Através de uma cadeia intermediária: - Ligação éster (- C - O) - Ligação amida (- C - NH) 3 Anestesiologia Caio Márcio Silva Cruz Ésteres Cocaína, procaína, tetracaína e clorprocaína. São hidrolisados no plasma pela pseudocolinesterase. Metabólito: ácido paraminobenzóico → causa mais comum de reações alérgicas. Amidas Lidocaína, mepivacaína, prilocaína, bupivacaína, Ropivacaína e etidocaína. Metabolizadas no fígado em agentes inativos (biotransformação pelo sistema P450 dos microssomas hepáticos), tem meia vida mais prolongada. Reações alérgicas verdadeiras são raras. – As que se encontraram, foram por causa dos conservantes, usados para manter a vida útil do medicamento. Atualmente, são os AL mais utilizados. São 3 os conceitos farmacinéticos que serão vistos: Potencia, latente e o tempo de ação. Efeito da lipossolubilidade e potência anestésica A lipossolubilidade parece ser o principal determinante da potência anestésica Compostos químicos altamente lipofílicos penetram mais facilmente a membrana nervosa, e menos moléculas são requeridas para produzir bloqueio de condução. o Lipossolúvel elevado é cardiotóxico. Resultado: potência aumentada. Preciso de uma menor dose para obter o efeito. AL (A/E) pKa % ionização Lipossol. % lig. Protéica Bupivacaína 8,1 83 3423 97 Etidocaína 7,7 66 7317 94 Lidocaína 7,9 76 366 64 Prilocaína 7,9 76 129 55 Ropivacaína 8,1 83 775 94 Procaína 8,9 97 100 6 Tetracaína 8,5 93 5822 94 O sentido da potência é crescente: Etidocaína Bupivacaína Ropivacaína ↑ Lidocaína Prilocaína Efeito da afinidade protéica Quanto maior a afinidade por ligações protéicas, maior a duração de ação do AL. α-1 glicoproteína ácida / Albumina Bupivacaína (97%), Ropivacaína (94%), Lidocaína (64%) Efeitos do PH e pKa (depende de cada fármaco) A velocidade de ação dos AL depende do pKa do fármaco e do pH do meio. Inicialmente os AL dependem de sua forma não ionizada para se difundir e depois de sua forma ionizada para interagir com os sítios de ação Forma não carregada penetra na membrana (base neutra) Forma carregada (catiônica) liga-se ao receptor Quanto menor a fração não ionizada do AL melhor a ação. Em um frasco de AL tem-se o fármaco sob forma de cloridrato, em solução aquosa. O grau de ionização do AL, depende de seu pKa e do pH do meio em que está dissolvido Quanto menor o pKa, menor fração não ionizada, menor a latência do AL Quanto maior o pH do meio, menor fraçãonão ionizada, menor a latência. Em pH fisiológico, quem apresenta inalação de bloqueio mais rápido é a Bupivacaína (pKa 8,1) em relação a Lidocaína (pKa 7,7) Variações do pH: 7,4 em tecidos sãos. 6,4 em tecidos inflamados. 5,0 em câncer ósseo. Farmacocinética O término do efeito dos AL está relacionado a fenômenos de: Absorção, Redistribuição, Metabolismo e Excreção Absorção Dose Local de injeção: áreas ricamente vascularizadas têm maior absorção Associação de vasoconstrictores: o Diminui a velocidade de absorção, estimula captação neuronal, prolonga a duração do bloqueio, e diminui toxicidade; Associação de aditivos: o Adrenalina: diminui a velocidade de absorção, estimula captação neuronal, 4 Anestesiologia Caio Márcio Silva Cruz prolonga a duração do bloqueio e diminui toxicidade. o Pode ser usado como dose-teste o Não pode ser usado em bloqueios terminais, pois não tem vascularização e pode causar isquemia. Distribuição Depende da captação orgânica, que é determinada pelos seguintes fatores: 1- Perfusão tecidual → mais perfundidos: cérebro, pulmão, fígado, rim, coração ↓ Rápida captação inicial →menos perf. ↓ ↓ Redistribuição mais lenta (músculo e intestino) O tecido adiposo é o maior reservatório 2- Coeficiente de partição tecido /sangue A forte ligação às proteínas plasmáticas tende a reter o anestésico no sangue, enquanto que a elevada solubilidade em lipídios facilita a captação tecidual. 3 – Massa Tecidual O músculo proporciona o maior reservatório para os AL (mais do que a gordura). Metabolismo/Excreção 1 - Amidas: são metabolizados no fígado Cuidado com pacientes hepatopatas ou com ins. card. Congestiva. 2 – Ésteres: sofrem hidrólise pelas colinesterases plasmáticas e hepáticas Exceção: Cocaína Cuidado: pacientes com atividade alterada da pseudocolinesterase. Situações em que a colinesterase plasmática encontra-se diminuída: Gestação Doenças hepáticas Uremia Tratamento quimioterápico Toxicidade dos AL AL agem em qualquer estrutura onde mecanismos de excitação e condução de impulsos, estejam presentes Sistema Nervoso Central: a entrada de AL em baixas doses no cérebro causa depressão do SNC. Enquanto que altas doses resultam em estimulação e convulsão. Os efeitos dos AL no SNC são bloquear neurônios inibitórios. Manifestações da neurotoxicidade: Sinais de estimulação: ansiedade, apreensão, inquietação, pulso rápido, tremores, hipertensão, convulsão Sinais de depressão: confusão mental, sonolência, pulso fraco, hipotensão, respiração lenta e inconsciência. Manifestações no Sistema Cardiovascular: Doses maiores de AL são necessárias para causar toxicidade Toxicidade está relacionada com a potência do AL: o Lidocaína: hipotensão, bradicardia e hipóxia. o Bupivacaína: colapso cardiocirculatório. Prevenção: Injeção intravenosa inadvertida Respeitar os limites tóxicos de cada droga Realizar dose-teste, mesmo em crianças Qualquer anestesia deve ser realizada em ambiente cirúrgico Tratamento: Suporte ventilatório e cardiovascular Intubação orotraqueal Tratar convulsões Normovolemia Drogas vasoativas Tratamento arritmias/reanimação Reações alérgicas São raras as manifestações do tipo alérgico relacionado aos AL e envolvem o tipo I (mediadas por IgE) ou tipo IV (imunidade celular). Início: segundos a minutos Características: Angioedema, Asma ou Anafilaxia Tratamento Interromper medicação Oxigenar paciente – se for preciso, intubar. Anti-histamínico 5 Anestesiologia Caio Márcio Silva Cruz Epinefrina – adrenalina no choque anafilático (Tem na periferia uma extensa vasodilatação, com transudados entrando na circulação, e Broncoconstrição, com o paciente não conseguindo respirar), pois ela é um dos mais potentes Broncodilatadores. Manter via aérea pérvia Corticóides endovenosos
Compartilhar