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A IDENTIDADE DO INDIVÍDUO NAS REDES SOCIAIS Juliana de Oliveira Augusto O sujeito pós-moderno é intensamente marcado pela liquidez dos novos tempos, como diria BAUMAN (2001). Por viver em um mundo fluido, com rápidas e constantes transformações, sua identidade passa a também ser fluida e de difícil delimitação, levando o indivíduo à fragmentar-se e criar novas identidades, se tornando um sujeito heterogêneo. Essa fragmentação pode ser observada nas mídias sociais, cenário que permite construir e divulgar essas identidades. O relatório Digital in 2019, divulgado pelas empresas We are Social e Hootsuite, constatou que 66% da população brasileira (140 milhões de pessoas) está ativa nas redes sociais. O mesmo relatório mostra que cada pessoa gasta, em média, 3 horas e 34 minutos por dia em redes sociais; cada usuário possui, em média, 9.4 contas em redes sociais; e apenas 29% dos usuários utilizam as redes sociais para fins profissionais. Como mencionado anteriormente, as redes sociais permitem a criação e divulgação de identidades. Dentro do ambiente das redes sociais, é muito comum observar os hábitos e interesses dos indivíduos. Sendo assim, criam-se laços entre indivíduos com os mesmos interesses, formando-se subgrupos, o que pode causar uma exclusão de indivíduos que não compartilham de tais interesses. “Dessa forma, ao refletirmos sobre a questão do sujeito na era da globalização, vislumbramos carências, dúvidas e urgências, presentes nesse indivíduo, perdido em suas inseguranças, com a necessidade emergencial de pertencer à algum lugar.”1 A necessidade de fazer parte de um grupo pode levar o sujeito a criar uma identidade que talvez não seja completamente verdadeira, mas que cria a possibilidade desse sentimento de “pertencer” à uma comunidade. “Toda concepção identitária se esboça em forma de representação e no caso das redes virtuais de relacionamento, a representação do indivíduo se dá por meio da publicização do eu. O ego se torna uma centralidade na rede.”2 Com o uso cada vez mais popular das redes sociais, a fragmentação do indivíduo acaba tornando-se necessária para se encaixar nas normas deste ambiente. Mas até que ponto as identidades do sujeito são alteradas para se adaptar a esses meios, para alcançar a popularidade nas mídias sociais? Uma abordagem crítica 1 MONTE, Sheila da Silva. A IDENTIDADE DO SUJEITO NA PÓS-MODERNIDADE: ALGUMAS REFLEXÕES, p. 164. 2 NÓBREGA, Lívia de Pádua. A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NAS REDES SOCIAIS, p. 97. interessante dessa questão pode ser vista no episódio “Nosedive” da série antológica Black Mirror (temporada 3, episódio 1), que imagina uma sociedade voltada completamente à popularidade nas redes sociais, em que os indivíduos são classificados por estrelas (de 0 à 5). Essa classificação afeta todas as áreas da vida do indivíduo, desde o lugar que trabalha até o lugar que pode morar. Para conseguir obter e manter uma classificação de mais de 4 estrelas, a protagonista do episódio, Lacie, pratica seus sorrisos e risadas na frente do espelho em casa, pede comidas e bebidas que não gosta só para publicá-las em sua rede social e interage com outros indivíduos apenas superficialmente - de maneira educada, sempre sorridente e claramente falsa. Com o aumento constante do uso das redes sociais e da obsessão do indivíduo com o número de seguidores, “likes” e comentários, essa realidade mostrada na série - apesar de extrema - nos faz ponderar sobre o futuro e a direção que estamos seguindo. A vida não é (ou não deveria ser) um concurso de popularidade. O ser humano necessita de conexões profundas, reais com outras pessoas para ter uma vida completa, feliz. A lição que deve ser aprendida ao assistir este episódio é que a vida não se limita às redes sociais, e os indivíduos não deveriam criar suas identidades apenas com o intuito de se tornarem populares nas mesmas. REFERÊNCIAS MONTE, Sheila da Silva. A identidade do sujeito na pós-modernidade: algumas reflexões. In: Revista Fórum Identidades. Itabaiana: GEPIADDE, Ano 6, Volume 12, p.162-167, jul.-dez. 2012. NÓBREGA, Lívia de Pádua. A construção de identidades nas redes sociais. In: Fragmentos de Cultura. Goiânia, v. 20, n.1/2, p. 95-102, jan./fev. 2010. “Nosedive” Black Mirror, created by Charlie Booker, season 3, episode 1, House of Tomorrow, 2016, www.netflix.com/title/70264888.
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