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NJ Gastroenterologia
Cirrose hepática
Definição
• Doenca crônica do
fígado decorrente de
destruição e
regeneração das
celulas hepáticas,
ocasionando do ponto
de vista histológico, a
presença de fibrose e formação nodular difusa,
com consequente desorganização da arquitetura
lobular e vascular do órgão
• Brasil:
✦ 8o lugar em mortalidade
✦ 853.571 hospitalizações
• Exame físico:
✦ Encefalopatia hepática
✦ Icterícia
✦ Eritema palmar
✦ Ascite
✦ Aranhas vasculares
✦ Fígado fibrótico, pequeno, nodular, heterogêneo,
endurecido, bordas rombas
✦ Desnutrição com barriga enorme
✦ Ginecomastia
Etiologia
• Virais:
✦ Hepatite B
✦ Hepatite C
• Álcool:
✦ Ingestão média 40g/d para homem e 20g/d
para mulher
• Metabólicos:
✦ Erros congênitos do metabolismo: galactosemia,
tirosinemia, doença de Wilson, hemocromatose,
deficiência de alfa-1-antitripsina, esteato-
hepatite não alcoólica
• Induzida por fármacos:
✦ Metotrexato, Isoniazida, Alfametildopa
• Autoimune:
✦ Hepatite ou colangiopatia autoimune
• Biliares:
✦ Cirrose biliar primária
✦ Cirrose biliar secundária: colangites de repetição
• Obstrução do fluxo venoso hepático
✦ Anóxia congestiva: síndrome de Budd-Chiari,
doenca venooclusiva, pericardite constritiva
• Criptogênicas
‣ 5-10%
Fisiopatogenia
• Etapas:
A. Fator agressor hepático
B. Tentativa de regeneração
C. Nódulos de regeneração com fibrose
D. Mudança da arquitetura
• Consequências:
✦ Fibrose difuso
✦ Nódulos de regeneração
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✦ Arquitetura lobular alterada
✦ Derivações vasculares alteradas
✦ Derivações vasculares alteradas
✦ Capilarização dos sinusóides
✦ Fibrose perissinusoidal
✦ Trombose vascular
✦ Lesões obliterativas no trato portal e veias
hepáticas
✦ Todas essas alterações ocasionam hipertensão
portal
Fibrose hepática e fibrogênese
• A veia porta leva cerca de 80% do sangue para o
fígado —> não consegue passar o sangue para o
fígado por conta da fibrose
• Etapas:
1. Acúmulo de componentes da matriz extracelular
2. Linfócitos/monócitos/macrófagos —>
citocinas inflamatórias —> fibrogênese ou
fibrólise (tentativas de regeneração)
3. Celulas estreladas ou de ITO (macrófago no
espaço de disse quiescente) —> principais
efetoras da fibrogênese —> produção de
prometaloproteases
4. Formação de fibrólise, colágeno, glicoproteínas,
proteoglicanos, fatores inibidores (TIMP alfa-2,
macroglobulinas)
5. Fibrose
Hipertensão portal
• Aumento da pressão entre veia porta e a veia
hepática acima de 6mmHg
• Circulação hiperdinâmica {vasodilatação esplâncnica
e periférica (NO) —> redução da PA —>
aumento do DC}
• Vasos esplâncnicos = vasos do abdome
• Consequência: Esplenomegalia por regurgitação e
acúmulo de sangue
✦ Acúmulo de plaquetas, com destruição delas
• Veia umbilical: recanalização da veia umbilical —>
leva a cabeça de Medusa/aranhas vasculares/
telangectasias
• Estímulo das veias gástricas e esofágicas —>
formação de varizes esofágicas/gástricas
Circulação hiperdinâmica
1. Aumento da resistência intra-hepática +
aumento do fluxo
2. Hipertensão portal
3. Circulação colateral portossistêmica
4. Vasodilatação arterial periférica-NO ( redução
da resistência vascular periférica -> redução da
PA)
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5. Ativação do SRAA/SNS (vasoconstrição renal-
SRH) —> síndrome hepatorrenal
6. Retenção de água e sódio (ascite)
7. Aumento da volemia(edema de MMII) e do débito
cardíaco
Manifestações clínicas
• Fase inicial:
✦ Pressão da porta não está tão elevada
✦ Assintomático
✦ Podem ter cirrose
• Fases avançadas:
✦ Ascite
✦ Distúrbios de coagulação
✦ Hiperestrogenismo/hipoandrogenismo (eritema
palmar, telangectasias, ginecomastia, rarefação
de pelos e atrofia testicular)
✦ Hemorragia digestiva alta - geralmente com
varizes
✦ Encefalopatia
✦ Figado cirrotico —> TGO e TGP normais ou só
um pouco aumentados
Cla!ificação de Child-Pugh
✦ Inespecífico
Cla!ificação de Meld
(transplante hepático)
• Não tem variação de examinador
• Bilirrubina
• Creatinina
• INR
• Meld —> 0,957 + log(creatinina g/dl) + 0,378 x
log(bilirrubinas mg/dl) + 1,120 x 10g(INR) +
0,643>=15
Diagnóstico
• Anatomopatológico ( biópsia hepática) —> risco de
complicação = padrão ouro, risco de complicação
(sangramento)
• Alterações no exame fisico ( fígado nodular/
esplenomegalia/sinais periféricos de insuficiência
hepática
• Alterações no exame de imagem (alteração de
ecogenicidade/sinais de hipertensão portal)
• Biomarcadores diretos (metaloproteases)
• Biomarcadores indiretos (bilirrubinas, ASR, ALT,
bilirrubinas, proteínas, plaquetas)
• Escores:
✦ APRI (AST/plaquetas)
✦ FIB (AST/ALT/plaquetas)
• Eletograma:
✦ Ultrassom que vê a elasticidade hepática
✦ Fibroscan
✦ ARFI (acoustic radiation force impulse)
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Tratamento geral
• Erradicar o agente causal
• Reversível? (estágios muito iniciais)
• Irreversível ( grande retração do órgão e
hipertensão portal)
Nutrição
• Metabolismo de hidrato de carbono, lipídios,
proteínas, vitaminas e minerais
• Hipermetabolismo —> desnutrição (multifatorial)
• 30-40kcal/kg de peso ideal
• 1,2 a 1,5/Kg de peso ideal de proteínas
(principalmente vegetais e lácteas)
• Na encefalopatia hepática, diminuir proporção de
proteína animal, mas manter vegetal
• Restrição de sódio 2g/dia
• Restrição hídrica, se Na<120 mEq/L
Principais complicações
• Hemorragia digestiva
• Ascite
• Peritonite bacteriana espontânea
• Encefalopatia
• Síndrome hepatorrenal
• Síndrome hepatopulmonar
1. Ascite
• Acúmulo de liquido na cavidade peritoneal
• Frequente complicação da cirrose
✦ 60% de liquido na cavidade peritoneal
• Cirrose —> principal causa (80%)
• Marcador de mau prognóstico
✦ 1 ano - 85%
✦ 2 anos - 44%
• Indicação de transplante hepático
• Fisiopatologia da ascite:
1. Hipertensão portal (liberação de substancias
vasodilatadoras arteriolares em região
esplâncnica
2. Redução do volume arterial efetivo
3. Ativa sistemas vasoconstritores (SRAA e
SNA)
4. Retenção de sódio e água
5. Ascite e edemas
• Diagnóstico da ascite:
✦ Exame físico
‣ Macicez móvel (1,5L)
‣ 5L - semicírculo de Skoda/sinal de piparote
✦ Exames laboratoriais (sangue, liquido ascítico)
✦ USG abdome (pequenos volumes)
• Analise do líquido ascítico:
✦ Proteína total, glicose, LDH
✦ Albumina sérica e do liquido ascético GASA
(gradiente albumina soro ascite) >= 1,1g/dl
(hipertensão portal)
✦ GASA: albumina do liquido - albumina sistêmica
✦ Células neoplásicas
✦ ADA - enzima que avalia Tuberculose
✦ Amilase - ascite pancreática
✦ Cultura e leucometria - PBE
✦ Localização: no hemeabdome a esquerda na
região inferior entre a cicatriz umbilical e a
crista ilíaca, divide em 3, entre a segunda e a
terceira
✦ Anestesia local
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• Tratamento da ascite:
✦ Dieta hipossódica (2g sal/dia)
✦ Restrição de água (1L/dia) somente na < 120mm
✦ Diuréticos
‣ Espironolactona - inibe aldosterona
‣ Furosemida - diurético de alça
✦ Paracentese de alívio
‣ Sem resposta aos diuréticos
‣ Repor albumina se >5litros - 6 a 8g/l
✦ TIPS ( shunt portossistêmico intra-hepático por
via transjugular)
‣ Comunicação da porta com todo o organismo
pelo fígado por via transjugular por um
catéter
✦ Transplante hepático
2. Peritonite bacteriana espontânea
• Complicação infecciosa - 8 -30% dos cirróticos
com doenca avançada
• Infecção do líquido ascítico na ausência de qualquer
foco primário
• Peritonite bacteriana secundária (PBS):
✦ Ascite com infecção por ulcera perfurada,
apendicite, volvo, alça perfurada
✦ Não é PBE
• Via de infecção:
✦ Hematogênica: translocaçãobacteriana —>
linfonodos mesentéricbs —> corrente
sanguínea :
• Manifestações clinicas:
✦ 50% assintomáticos
✦ Febre
✦ Dor abdominal/ irritação peritoneal
✦ Náuseas/vômitos/diarréia
✦ Encefalopatia hepática/ alterações da função
renal
• Diagnóstico:
✦ Contagem de polimorfonucleares > = 250/mm3
✦ Cultura
‣ Positiva - Bacteracite, bactéria presente, mas
polimorfos<250/mm3
‣ Negativa (60%) - pouca sensibilidade. Ascite
neutrocítica/neutrofílica >250/mm3 de
cultura negativa
• Tratamento:
✦ Inicio rápido
✦ Principal flora: bactérias gram negativas
✦ Re-punção em 48hs —> redução dos 25% no
total de PMN
‣ Saber se o ATB ta funcionando
✦ 1/3 dos pacientes podem ter circulatória —>
albumina no 1o ao 3o dia
‣ Fazer síndrome hepatorrenal
✦ Cefalosporina de terceira geração/quinolonas
‣ exp. Cefitriaxona, ciprofloxacino, norfloxacino
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DIAGNOSTICO DIFERENCIAL DE ACORDO COM O GASA
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• Profilaxia:
✦ Primária (paciente que nunca teve PBE):
‣ Cirrose e sangramento GI
‣ Cirrose com proteína total do liquido ascético <
1g/dL
✦ Secundária:
‣ Cirrose com recuperação de um episódio
prévio de PBE
3. Encefalopatia hepática
• Conjunto de alterações neuropsiquiátricas
✦ Alterações do sono ao coma
• Ocasionada por distúrbios metabólicos
✦ Doença hepática aguda e crônica
• Potencialmente reversíveis:
✦ Disfunção hepática
✦ Shunts portossistêmicos - pioram
• Abordagem atual inclui 3 tipos de encefalopatia:
✦ EH aguda da insuficiência hepática fulminante
✦ EH por shunts porto-sistêmicos
✦ EH de cirróticos
‣ Episódica - 1 episódio em 6 meses
‣ Persistente - > 1 episódio em 6 meses
‣ Mínima - não melhora
• Classificação - FREQUÊNCIA:
✦ Episódicas -> raros, menos de 2 eventos anuais
✦ Recorrente -> intervalos menores de 6 meses
✦ Persistente -> alterações comportamentais
contínuas
• Fisiopatogenia:
✦ Aumento de substancias nitrogenadas de origem
intestinal (amônia)
✦ Ativação excessiva dos receptores gabaérgicos
(GABA) com aumento da inibição do SNC
• Fatores precipitantes:
✦ Hemorragia digestiva
✦ Constipação
✦ Infecções
✦ Insuficiência renal
✦ Drogas psicotrópicas
✦ Distúrbios hidroeletrolíticos
✦ TIPS
Classificação - MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Grau 1 Alterações leves de comportamento,
alternância do ritmo de sono, distúrbios
discretos do riso e choro fácil, hálito
hepático
Grau 2 Letargia ou apatia, lentidão nas
respostas, desorientação temporo-
espacial, alterações na personalidade e
comportamento inadequado, presença
de flapping (bater de asas, dorsiflexão
no punho)
Grau 3 Sonolência e torpor com resposta aos
estímulos verbais, desorientação
grosseira, agitação psicomotora,
desaparece flapping
Grau 4 Coma não-responsivo aos estímulos
verbais e com resposta flutuante a dor
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• AMÔNIA (principal):
✦ Até 90% excretada pelo metabolismo de
primeira passagem
✦ Interfere com a função cerebral —> síntese de
dopamina, norepinefrina e serotonina
✦ Edema cerebral
✦ Inibe potenciais pós-sinápticos
• Excluir outros diagnósticos:
✦ Wernicke-Korsakoff
✦ Lesões intracranianas
✦ Abstinência alcoólica
✦ Delirium
✦ Hipoglicemia
✦ Uremia/acidose
• Tratamento:
✦ Limpeza intestinal
✦ Lactulose - dose que promova 2-3 evacuações
pastosas
✦ Lactitol - menos efeitos colaterais
‣ Cuidado: hipernatremia/ distensão abdominal/
desidratação
✦ Antibioticoterapia:
‣ Não absorvíveis
‣ Neomicina/Metronidazol/Rifaximina
✦ Ornitina L-aspartato
‣ Hepamerz—> metabolização de amônia —>
uréia e glutamina
✦ Transplante hepático
• Tratamento:
✦ Limpeza intestinal
✦ Lactulose - dose que promova 2-3 evacuações
pastosas
✦ Lactitol - menos efeitos colaterais
‣ Cuidado: hipernatremia/ distensão abdominal/
desidratação
4. Síndrome hepato"enal
• Perda da função renal progressiva
• Disfunção circulatória decorrente da vasodilatação
esplâcnica —> vasoconstrição renal
• Funcional —> não há marcador diagnóstico (excluir
outras causas)
• Classificação:
✦ SHR tipo 1: IR grave e rapidamente progressiva
✦ SHR tipo 2: diminuição moderada e constante da
função renal
• Diagnóstico:
✦ Aumento da Cr 0,3mg/dl em 48 horas ou de
50% em relação ao valor basal
• Tratamento:
✦ Terlipressina (redução da vasodilatação
esplâncnica)
✦ Albumina
✦ Transplante hepático
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