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DERMAROSES VESICOBOLHOSAS INTRODUÇÃO · A adesão intercelular da epiderme tem a função de proteção contra agentes físicos, químicos e biológicos. · Os principais elementos responsáveis pela manutenção da integridade epidérmica são os desmossomas e o complexo hemidesmossoma zona da membrana basal · Alterações hereditárias ou adquiridas dessa rede levam à clivagem, que se traduz clinicamente por vesículas ou bolhas. *Desmossomos ficam na camada espinhosa junto com os queratinócitos (entre eles), e os hemidesmossomos ficam na membrana basal, ligando a epiderme na derme MOLÉCULAS INTRAEPITELIAIS · As células da epiderme mantêm-se conectadas pelos desmossomos. · Produção de autoanticorpos contra antígenos dos desmossomos desmogleínas · As dermatoses bolhosas autoimunes compreendem um grupo de doenças caracterizadas pela formação de vesículas e bolhas na pele e/ou mucosas, mediada por autoanticorpos (IgG e IgA) contra as glicoproteínas de adesão intercelular. *São doenças autoimunes, ou seja, os desmossomos são formados por desmogleínas, e o autoanticorpo da doença autoimune vai agir contra essa desmogleína CLASSIFICAÇÃO · A classificação dessas dermatoses baseia-se no nível de clivagem da pele, com a formação de bolhas intraepidérmicas ou perda da conexão entre a camada basal da epiderme e a derme, com a formação de bolhas subepidérmicas. · Os auto-anticorpos reconhecem determinantes antigênicos nos desmossomos (no caso do pênfigo vulgar e foliáceo) ou na zona da membrana basal (no caso do penfigóide bolhoso e dermatite herpertiforme). Dermatoses bolhosas intraepidérmicas: · Pênfigos foliáceo · Pênfigo vulgar Dermatoses bolhosas subepidérmicas: · Penfigóide bolhoso · Dermatite herpetiforme PÊNFIGOS · Doenças vesico-bolhosas cutaneomucosas autoimunes. · Acantólise: perda da coesão célula-célula acontece formação de bolha e de vesícula devido a acantólise · Fisiopatologia básica: inibição da função adesiva das desmogleínas pelos autoanticorpos, que levam à perda da adesão célula-célula dos queratinócitos resultando na formação de bolhas. · Na pele, Dsg 1 é expressa por toda a epiderme, mais intensamente nas camadas superficiais, enquanto a Dsg 3 é expressa na porção mais inferior da epiderme; · Na mucosa, Dsg 1 e Dsg 3 são expressas em toda a camada escamosa, porém Dsg 1 <<< Dsg 3; *Penfigo vulgar o auto anticorpo é contra a Dsg 3, assim a bolha vai ser mais baixa, e já do foliáceo, por ser contra Dsg 1, a bolha vai ser mais superficial PÊNFIGO VULGAR EPIDEMIOLOGIA · Dermatose vesicobolhosa grave que acomete pele/mucosas perdemos toda a camada da epiderme, assim podemos ter infecções secundárias que levam inclusive a sepse · 40 a 60 anos de idade, mais prevalente nos judeus e povos do Mediterrâneo IMUNOPATOGENIA · Principal autoantígeno é a desmogleína 3 pênfigo vulgar de mucosas (pois a Dsg 3 é muito presente em mucosa) · Quadro mucocutâneo (pega mucosa e pele) – Ac antidesmogleína 1 e 3 *Pega mucosa e a bolha vai ser mais baixa na epiderme (é o que diferencia ele do foliáceo) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS · Mucosas: 90% pacientes tem envolvimento de mucosa. · Predominam as lesões na mucosa jugal, no palato e nas gengivas (gengivite descamativa). Também podem ser afetadas conjuntiva, nariz, faringe, laringe, esôfago, vagina, uretra, ânus. · As bolhas são flácidas, rompem e sangram com facilidade, podendo comprometer o estado geral e nutricional é flácida pois por estar na epiderme, tem pouca pele em cima dela, então fica flácida; muitas vezes a bolha já até estourou e vemos apenas a exulcerarão · Geralmente dolorosas compromete o estado geral (desnutrição pela dor) · Pele: bolhas flácidas, fáceis de romper sobre áreas de pele sã ou eritematosa. · Grandes áreas erodidas, úmidas, sangrantes, recobertas por crostas hemáticas, confluentes, dolorosas e sem tendência à cicatrização. · Sinal de Nikolsky é indicativo de atividade de doença (fricção ou pressão exercida na pele perilesional induzindo ao descolamento epidérmico) a gente “esfrega” o dedo e a pele descola devido a acantólise · Acomete couro cabeludo, face, axilas e virilha. · Discromia, sem cicatriz mas pode deixar uma mancha, escura ou clara Mucosa nasal com erosões e exculceração Exulceração de grande extensão (erosões confluentes) *Se pegar pele e mucosa: já sei que é vulgar. Só pela foto da esquerda fica difícil falar se é pênfigo vulgar ou foliáceo (não daria para saber), aí teríamos que fazer biopsia, pois veríamos a altura da bolha na epiderme. Agora se der as duas fotos juntas e falar que é a mesma paciente, nós sabemos que é pênfigo vulgar, porque pega mucosa! Dificilmente vou ver bolha no pênfigo vulgar, pois geralmente elas já estouraram. A foto da mão mostra presença de sangue nas bolhas, e no cantinho da foto podemos ver a discromia que fica depois (mancha hipercromica) Pele exulcerada e erodida, região de pele e mucosa Lábio todo exulcerado e tronco com bolhas prévias que estouraram e formaram grandes exulcerações (confluências) – esse paciente já seria um quadro grave que precisaria de internação por exemplo HISTOPATOLOGIA · Você sempre precisa do histopatológico para dar o diagnóstico (mesmo que tenha certeza pela clínica) · Formação de bolhas intraepidérmicas devido à perda de adesão intercelular de queratinócitos (acantólise) sem a necrose de queratinócitos. · A acantólise é geralmente suprabasilar (acimada camada de células basais) (BOLHA SUPRABASAL) · Células basais mantêm conexão com camada basal pelos hemidesmossomos. · Qualquer doença bolhosa sempre faz biopsia para confirmar EVOLUÇÃO CLÍNICA · Doença grave, de caráter recorrente, pode evoluir para óbito (antes da corticoterapia 90% de óbito). · Infecções secundárias (bacterianas), sepse e choque. · Alterações do estado nutricional e caquexia · Gestação pode desencadear ou exacerbar a doença. · Feto pode ter retardo do crescimento, prematuridade e morte intrauterina · Pênfigo neonatal – passagem transplacentária de IgG maternos. Resolução completa do quadro em até 3 semanas (pois quando ele já tem os próprios anticorpos não vai mais ter a doença) *É raro pênfigo em grávidas e neonatal TRATAMENTO · Corticoterapia sistêmica (PREDNISONA) 1-2 mg/kg/dia (manter até completa cicatrização 3-4 semanas). *Problema: começa a diminuir o corticoide e a doença começa a voltar · Associação de imunossupressor após 7 a 10 dias se não houver melhora - AZATIOPRINA (escolha), micofenolato mofetil, ciclofosfamida. · Pulsoterapia com metilprednisolona/ ciclofosfamida – para casos refratários. · Imunoglobulina endovenosa, plasmaférese, sulfona (casos leves de lesões mucosas resistentes). · Agentes biológicos (rituximabe ou anti- CD 20) *na prática: usamos mais a prednisona *Sempre internamos pênfigo no inicio e fazemos corticoide de alta potência, se melhorar de primeira (ótimo, depois vamos desmamando), se não, já teremos que fazer associações *Fazemos analgesia oral também, para a dor Pega Dsm 3 BOLHA SUPRABASAL Bolha flácida exulceração Bolha intraepidérmica Tem nikolsky + Pega mucosa PÊNFIGO FOLIÁCEO EPIDEMIOLOGIA · Dermatose de ocorrência universal e esporádica · > 50 anos. · Fogo selvagem: forma endêmica no Brasil (GO, MT, MS, PR, MG e SP) e na América Latina. · Acomete indivíduos de faixa etária mais jovem (crianças, adolescentes e adultos jovens) e casos de indivíduos geneticamente relacionados. ETIOPATOGENIA · Fatores ambientais, genéticos e imunológicos estão envolvidos no PFE. · Simulium nigrimanum borrachudo, pode desencadear o pênfigo foliáceo endêmico · Insetos hematófagos: percevejos, barbeiros, Lutzomia longipalpis (leishmaniose) · Fatores imunológicos: Ac contra desmogleína 1 no PFE. *A bolha é mais alta, mas continua sendo intraepidérmica MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS · Manifestações iniciais no couro cabeludo e na face com vesículas e bolhas flácidas, de conteúdo seroso que evoluem para erosões superficiais e escamocrostosas · Nikolsky presente Não acomete mucosas! · Forma localizada: lesões em áreas seborreicas (face, couro cabeludo, porção superiordo tronco). · Forma generalizada: semanas ou meses após início do quadro (aí pega corpo todo, menos mucosa) · Fase de involução as lesões tornam-se queratósicas e há hiperpigmentação residual. Área de cicatrização, perto do olho observamos exculceração Múltiplas bolhas que se romperam e formaram as erosções, cicatrizaram e ficaram manchas hipercromicas Erosões em áreas seborreicas Bolhas no corpo todo, mas o que vemos são erosões pois as bolhas são flácias Área de erosão e exculceração com crosta Observa-se já a as áreas hiperqueratósicas que ocorrem na fase de cicatrização Rosto super comum dar PF, porém poupa sempre a mucosa Bolha que se rompeu e formou a erosão, e observa-se as manchas hipercrômicas deixadas HISTOPATOGENIA · Há formação de uma bolha abaixo da camada córnea devido à lesão dos desmossomos e consequente perda da adesividade das células epidérmicas (BOLHA SUBCÓRNEA) · Mortalidade 6-10% · PFE – complicações virais (Erupção Variceliforme de Kaposi, CMV, verrugas), bacterianas, fúngicas (tineas) e pneumocistose. TRATAMENTO · Corticoterapia sistêmica – PREDNISONA 1mg/kg/dia · Redução da dose após cicatrização completa das lesões. · Associação com imunossupressores tem pouca eficácia (MICOFENOLATO) se necessário · Formas leves e resistentes: sulfona e cloroquina (áreas fotoexpostas) · Corticoterapia tópica oclusiva: lesões crônicas e crianças com forma generalizada refratária · Infiltração intralesional de triancinolona: lesões crônicas Dsm 1 Bolhas flácidas exculcerações Bolha intraepidermica Nikolsky positivo Não pega mucosa PÊNFIGO BOLHOSO · Dermatose bolhosa crônica autoimune. · Há formação de bolhas subepidérmicas. · Maioria > 60 anos. · Raro na infância · Não há preferência étnica, racial ou sexual. · Mortalidade 6 a 10% em 1 ano · Autoanticorpos da classe IgG contra 2 antígenos dos hemidesmossomos *Agora os autoanticorpos vão ser contra 2 antígenos presentes nos hemidesmossomos (que conectam os queratinócitos com a camada basal) a bolha é mais profunda! MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS · Bolhas grandes e tensas, sobre base eritematosa ou pele normal, associado a exulcerações e/ou placas urticariformes agora encontraremos as bolhas · Coça muito! · Bolhas de conteúdo seroso, podendo ser hemorrágico. · Áreas de predileção: pescoço, axilas, abdome e região superiores da coxa. Sinal de Nikolsky negativo · Nikolsky é negativo porque não acontece acantólise, só está descolando a epiderme da derme, o que não faz ficar positivo (a bolha é mais profunda, não consegue fazer ela descolar com a fricção) · Não formam cicatrizes · Lesões orais: 10 a 30% (nos mais graves) Bolhas tensas e exulcerarão (de bolhas antigas) Bolhas tensas, presença de lesãoes urticarformes (placas) e algumas exulcerações de bolhas antigas Bolha tensa (muito tecido em cima), placas urticariformes, exulceração de bolha antiga Manchas hipercromáticas de áreas com cicatriz e bolhas tensas HISTOPATOLOGIA · Bolha SUBEPIDÉRMICA · O que vai diferenciar da dermatite herpetiforme é o conteúdo da bolha · Eosinófilos na cavidade da bolha (por isso que coça!) TRATAMENTO formas localizadas · Bons resultados com CORTICÓIDES TÓPICOS de alta potência difícil resolver na prática Tratamento formas extensas Corticóides sistêmicos · (PREDNISONA 1mg/Kg) Ação mais rápida. · Problema: efeitos adversos, pois a maioria dos pacientes são idosos. Poupadores de corticóides: · AZATIOPRINA, porém, o efeito desejado leva de 4 a 6 semanas. Dapsona ou Sulfonas · Podem ser utilizadas com relatos de sucesso no controle da atividade da doença após remissão do quadro agudo. Hemidesmossomos Bolhas tensas e placas urticariformes Bolhas subepidérmicas Nikolsky negativo Idosos > 60 anos DERMATITE HERPETIFORME DOENÇA DE DUHRING – BROCQ · Manifestação cutânea de sensibilidade ao glúten, extremamente pruriginosa (doença celíaca pode ter manifestação da dermatite herpertiforme) *Todo mundo que tem doença celíaca não quer dizer que vai ter dermatite herpetiforme (eles podem ter), mas todo mundo que tem dermatite herpetiforme vai ter sensibilidade ao glúten · Doença bolhosa crônica associada a enteropatia sensível ao glúten (doença celíaca diarréia, esteatorréia e processo disabsortivo, que resulta em anemia, doença óssea (osteopenia/osteoporose), perda de peso, desnutrição) · Apenas 20% dos pacientes com dermatite herpetiforme desenvolve sintomas intestinais. · Doença rara · Acomete mais adultos, principalmente do sexo masculino (2:1) · Faixa etária mais acometida: entre 30 e 40 anos de idade (porém também pode ocorrer na infância ou na faixa senil) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS · Lesões pápulo-vesiculosas pruriginosas que, ao se agruparem, apresentam aspecto herpetiforme (vesículas agrupadas) · Iniciam como sensação de prurido ou queimação sobre placas ou pápulas eritematosas, que evoluem para vesículas ou bolhas tensas · Lesões tem conteúdo seroso ou hemático · Distribuição simétrica · Localizações mais frequentes: superfície extensora dos cotovelos e joelhos, fronte, região superior do dorso, sacral, nádegas, escápulas. · Quando as bolhas rompem, a pele local fica exulcerada e com crostas, podendo evoluir para hipo ou hiperpigmentação residual. · Mucosa não comprometida (penfigóide pode até comprometer, mas é raro) Vesículas tensas, paciente que não é idoso Aqui você observa mais as exulcerações Exulcerações que eram bolhas sempre simétrico Joelhos com exculcerações, simétricas Conformação herpetiformes, vesículas agrupadas (em forma de buquê) HISTOPATOLOGIA · Vesicobolha subepidérmica · Dentro tem infiltrado inflamatório neutrofílico (microabscessos de Piérard) no topo das papilas dérmicas TRATAMENTO · Restrição rigorosa ao glúten e ao iodo, que podem desencadear a doença · DAPSONA 100-400mg/dia (principal medicação no tratamento), associada a RIBOFLAVINA 5mg, duas vezes ao dia · ÚNICA QUE NÃO USA CORTICÓIDE · Início do efeito da dapsona em 3h a 2 dias (não há aparecimento de novas lesões) · Pode-se associar ou não corticoide (mas normalmente vai super bem com o controle da dieta e a dapsona) *dapsona é um anti-neutrofílico, associa com a riboflavina pois a dapsona causa muita anemia (devido a hemólise) Conformação herpetiforme – vesículas densas Sensibilidade ao glúten Nikolsky negativo Bolhas subepidérmicas RESUMO INTRAEPIDERMICAS Pênfigo vulgar Dsm 3 pele e mucosa Bolha suprabasal Bolha mais baixa Bolha flácida nikolsky + Trat. corticoide e imunossupressor Pênfigo foliáceo Dsm 1 pele Bolha subcórnea Bolha mais alta Bolha flácida Nikolsky + Trat: corticoide e imunossupressor SUBEPIDERMICAS Penfigóide bolhoso Hemidesmossomo (BP180 e BP230) Bolha subepidérmica Conteúdo eosinofílico Placas urticariformes Bolhas Tensas Geralmente idosos Nikolsky - Dermatite herpetiforme Sensibilidade ao glúten Adultos Bolha subepidérmica Conteúdo neutrofílico Vesículas tensas Aspecto herpetiforme Simétricas Nikolsky - Trat: dapsona