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patologia geral veterinária

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A célula responde à lesão (ou estresse) de três maneiras principais possíveis: adaptação, lesão reversível com ou sem degeneração e morte. (McGAVIN & ZACHARY, 2009)
	DEGENERESCÊNCIAS
	As degenerescências são alterações morfofuncionais e/ou bioquímicas que ocorrem numa célula após uma agressão. É uma lesão reversível. Geralmente, quando cessa a agressão, a célula retorna ao seu estado normal.
As células perante uma agressão, reagem tentando adaptar-se à situação adversa, por alteração do seu metabolismo. Esta adaptação depende de vários fatores:
- Estado metabólico da célula: quanto mais ativa é uma célula, mais sensível é à lesão. Isto explica porque as células do fígado, do rim, do músculo e os neurônios são muito sensíveis.
- Localização da célula dentro do órgão: certas células encontram-se mais expostas à lesão, como por exemplo, pelo deficiente aporte de oxigênio, os hepatócitos periacinares são mais sensíveis à hipóxia que os centroacinares.
- Duração e intensidade da lesão.
- Vascularização, oxigenação, pH e temperatura da célula.
- Estroma celular.
Quanto à nomenclatura das degenerescências, geralmente é aplicado o sufixo OSE ao nome do órgão lesado, por exemplo hepatose, nefrose, miocardose.
Degenerescências intracelulares:
Tumefação celular:
A resposta imediata da célula à agressão aguda é o edema celular, tumefação turva ou tumefação celular.
È uma manifestação universal da célula que sofreu uma agressão. A etiologia é diversa: toxinas químicas ou biológicas, infecções por bactérias ou vírus, isquemia, excesso de calor ou de frio, etc.
Macroscopicamente, o órgão afetado pela tumefação celular está aumentado de volume (tumefeito), de coloração pálida, consistência branda, pastoso, de superfície turva e clara.
Microscopicamente, as células apresentam-se aumentadas de volume, devido a perda do equilíbrio hidroeletrolítico. O citoplasma apresenta-se pálido e o núcleo geralmente não apresenta alterações morfológicas evidentes.
A arquitetura do tecido mantém-se, mas as células tumefeitas acabam por comprimir as células e as estruturas vizinhas e ocupar espaços livres, como os lúmens de túbulos e cavidades orgânicas.
Degeneração hidrópica:
Esta degenerescência representa uma fase posterior à tumefação celular.
As células apresentam um acentuado aumento de volume por presença de água livre no citoplasma, devido a ruptura completa do mecanismo de equilíbrio hidroeletrolítico.
O aspecto macroscópico é semelhante ao observado na tumefação celular, mas mais pronunciado.
Microscopicamente observam-se células com um volume citoplasmático muito aumentado (representa o exagero do edema celular), praticamente vazias de conteúdo protéico (com poucas afinidades tintoriais citoplasmáticas). O núcleo apresenta-se normal ou reduzido de tamanho, em posição central ou na periferia da célula.
Degenerescência vacuolar:
É muito semelhante a degenerescência hidrópica, mas a água encontra-se dentro de estruturas celulares membranosas dilatadas, que se denominam vacúolos.
É uma lesão grave, em que a célula não consegue recuperar a sua atividade normal, geralmente terminando em lise e morte celular.
O aspecto macroscópico é semelhante ao das degenerescências anteriores.
Microscopicamente as células apresentam citoplasma pálido com estruturas vacuolares perfeitamente delimitadas.
Degenerescência balonizante:
É uma alteração que ocorre principalmente em epitélios (mas que também pode ser observada em parênquimas) e está relacionada usualmente com vírus epiteliotrópicos e queimaduras.
As células apresentam um aumento excessivo de volume, forma arredondada, assemelhando-se a balões, devido à presença de água livre no citoplasma.
O núcleo está empurrado contra a periferia celular, apresentando frequentemente a forma de meia-lua. Muitas vezes, há desintegração do núcleo.
Degenerescências extracelulares:
As lesões que afetam as células alterando a sua morfologia e função também induzem alterações dos produtos por estas segregados, ou seja, dos produtos extracelulares. A acumulação destes produtos, ou a sua adulteração, causa alterações degenerativas da matriz extracelular, que secundariamente afetam a célula.
Degenerescência hialina:
Designa-se por substância hialina todo o material de aspecto homogêneo, amorfo e eosinofílico (com HE) presente nos espaços extracelulares.
Quando em excesso, deixa os órgãos com aspecto claro, semitranslúcido ou vítreo e diminuição da resistência.
A substância hialina pode ter uma localização e origem muito diversas. A composição varia com o produto que está na sua origem.
O material hialino pode depositar-se sobre uma grande quantidade de tecidos, inclusive sobre cicatrizes, tornando-as menos resistentes.
Degenerescência fibrinoide:
É a degenerescência da fibrina, dos precursores e/ou isômeros do fibrinogênio.
Ocorre em situações inflamatórias e alérgicas, com alteração da permeabilidade vascular, bem como em patologias de origem tóxica ou imunológica.
Apresentam uma localização preferencial no interior das paredes vasculares.
É um material (semelhante à fibrina) intensamente eosinófilo, fibrilar, com reação histoquímica semelhante à da fibrina, por isso designado de fibrinoide.
Alguns autores designam este processo por necrose fibrinoide.
Degenerescênica mucoide (mixoide):
É uma alteração que ocorre por desequilíbrio metabólico dos mucopolissacarídeos ácidos.
Os tecidos afetados apresentam, macroscopicamente, consistência mole e gelatinosa, são flexíveis, tumefeitos e edematosos.
Ocorre em situações de mixedema, latirismo e mixomatose.
Os mucopolissacarídeos ácidos são depositados nos espaços extracelulares em quantidades excessivas, dando aos tecidos, microscopicamente, o aspecto de tecido conjuntivo frouxo, hipocelular, com matriz basófila.
Degenerescência amilóide:
É a conseqüência da deposição de material proteico e glicoprotéico amorfo, hialino nos espaços extracelulares, geralmente rodeando as membranas basais.
Está associada a diferentes processos patológicos e patogenias.
Os órgãos preferencialmente atingidos são rim, fígado, baço e cérebro, mas a localização da substância amiloide varia com a espécie animal.
A substância amiloide pode encontrar-se disseminada por vários órgãos, no caso da amiloidose senil.
Macroscopicamente, os órgãos atingidos apresentam-se pálidos a translúcidos ou vítreos, com dimensão e consistência aumentadas e friáveis.
Com a coloração HE, a substância amiloide tem aparência hialina (homogênea, amorfa e eosinofílica.
ALTERAÇÕES METABÓLICAS 
Alteração do metabolismo dos lipídeos e do colesterol:
Esteatose ou degenerescência gorda:
Esteatose ou degenerescência gorda é toda a acumulação excessiva de triglicerídeos nas células.
Esta acumulação numa fase inicial, não lesa a célula. Quando a acumulação destas substâncias é tão intensa, causa disfunção celular.
Esta acumulação ocorre com maior freqüência no fígado, rim e coração. 
Se a quantidade de lipídeos é mínima, pode não se observar qualquer alteração macroscópica dos órgãos afetados. Quando há uma grande deposição de lipídeos, os órgãos apresentam aumento de volume, os bordos arredondados, estão mais pálidos, de coloração amarelada, brilhantes, friáveis e são untuosos ao corte.
Em casos extremos, fragmentos desses órgãos podem flutuar no fixador, sendo usual observarem-se gotículas de gordura nos líquidos de fixação.
Na esteatose, o aspecto histológico das células varia com o órgão. No fígado, com a coloração de rotina (HE), os hepatócitos apresentam vacúolos citoplasmáticos de tamanho variável: vacúolos pequenos e múltiplos (esteatose microvacuolar, em que a célula tem dimensões próximas do normal, o núcleo mantém-se na sua posição normal e raramente ocorre aumento do órgão) ou grandes e únicos, preenchendo por completo o citoplasma (esteatose macrovacuolar, empurrando o núcleo para a periferia da célula, onde as dimensões das células estão muito aumentadas e as do órgão também.
No coração, os lipídeos encontram-se no sarcoplasma dos miócitos, soba forma de finos vacúolos, de aspecto espumoso.
No rim, os lipídeos apresentam-se sob a forma de múltiplos vacúolos de tamanhos variáveis (aspecto micro e macrovacuolar), dentro das células epiteliais dos túbulos proximais e nas alças de Henle ascendentes.
Nos gatos, em condições fisiológicas, encontram-se quantidades moderadas ou elevadas de lipídeos no epitélio dos túbulos proximais, o que dá ao órgão uma cor amarelada.
Alteração do metabolismo das proteínas e das nucleoproteínas:
Alteração do metabolismo do colágeno:
A colagenização excessiva de um tecido, que seja por síntese excessiva ou diminuição da degradação de colágeno, denomina-se fibrose ou esclerose.
Acumulação intracelular de proteínas:
A acumulação de proteínas no citoplasma das células é designada por gotas hialinas.
Esta alteração reflete um aumento da absorção proteica por determinadas células ou uma diminuição da capacidade de digestão por parte dos lisossomas.
É uma alteração muito comum nas células dos túbulos contornados proximais do rim. Geralmente o que está alterado é a quantidade de proteína que é filtrada pelo glomérulo, em quantidade superior ao normal, havendo posterior acumulação desta substância no citoplasma das células, por não haver capacidade de degradação em relação à quantidade que é absorvida.
Morfologicamente, as gotas hialinas são glóbulos amorfos, densos e acidófilos.
Acumulação extracelular de proteínas;
Quando no rim a quantidade de proteína presente nos túbulos é superior à capacidade de reabsorção por parte das células, há acúmulo desta substância no lúmen tubular.
Este aspecto morfológico denomina-se de cilindros hialinos (degenerescências extracelulares.
Outras proteínas que se acumulam no espaço extracelular, pertencem ao grupo da amiloidose.
Alteração do metabolismo das nucleoproteínas:
A gota é a deposição de cristais de ácido úrico ou de urato nos parênquimas, membranas serosas e articulações.
Ao exame macroscópico, os órgãos apresentam depósitos brancos, como se estivessem revestidos por pó de giz, aparecendo sobre as serosas e sobre as articulações.
Ao exame microscópico, pode-se observar cristais birrefringentes (os tofos), organizados em amontoados radiais, concêntricos, centrípetos. A envolver esta reação, encontra-se uma reação inflamatória aguda, mas com o tempo há uma reação inflamatória do tipo de corpo estranho.
 
ATLAS DE PATOLOGIA VETERINÁRIA
Mª DOS ANJOS PIRES
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