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Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 1 😳 Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) Índice Definição Epidemiologia Fatores de risco/etiologia Genético Hormonal Imunológico Ambiental Fisiopatologia Quadro clínico Manifestações por sistemas acometidos Manifestações articulares Diagnóstico Anticorpos no LES FAN (Fator antinuclear) Exames complementares Tratamento Não farmacológico Farmacológico Preventivo Hidroxicloroquina Prednisona (corticoide) Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 2 Definição 💡 “Doença inflamatória autoimune multissistêmica crônica, ocasionalmente com risco de vida. Os pacientes podem apresentar ampla gama de sintomas, sinais e achados laboratoriais e têm um prognóstico variável que depende da gravidade da doença e do tipo de envolvimento do órgão.” Decorre de um desequilíbrio do sistema imunológico e de produção de autoanticorpos dirigidos contra proteínas do próprio organismo. Formação de imunocomplexos → vasos de pequeno calibre → vasculite e disfunção do local.s 🩺 Clinicamente, a doença apresenta períodos de exarcebação de atividade inflamatória, intercalados com remissão parcial ou completa dos sintomas. Alguns há manutenção de atividade inflamatória crônica. Com apresentação polimórfica. Epidemiologia Mulheres (10:1) em idade reprodutiva/fértil (prevalência). Primeiros sintomas entre a 2ª/3ª décadas de vida → efeito do estrógeno. Incidência estimada no Brasil → 4,8 a 8,7 casos por 100.000 habitantes/ano. Doença universal → todas as etnias e áreas geográficas. Parece ter mais prevalência em afrodescendentes. Rara em crianças e idosos. Fatores de risco/etiologia Azatioprina ou metotrexato (imunossupressores) Rituximab Tratamento de casos/manifestações graves Pulsoterapia Complicações Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 3 Complexa e multifatorial → inter-relação de fatores! Genético Alta prevalência entre gêmeos monozigóticos (aumenta 29x a chance de desenvolver a doença) e em parentes de 1ª grau (aumenta 17x o risco de desenvolver a doença). Não existe gene único que crie alto risco para LES, mas sim a combinação de genes de susceptibilidade e ausência de genes protetores para alcançar uma vulnerabilidade genética. Deve-se somar fatores ambientais e hormonais! Alguns genes associados: Deficiência de algumas proteínas do sistema complemento (C1q e C4). Associação com alelos do MHC (Complexo Principal de Histocompatibilidade) DR2 e DR3 de classe II. Associação com a assinatura do IFN (interferon). Genes ligados à imunidade inata (STAT4, IRF5 e TLR7) → aumentam a expressão de IFN-alfa em 60-80% dos pacientes lúpicos. Hormonal A disfunção dos hormônios gonadais (estrógeno e progesterona) após a menopausa favorece a diminuição dos osteoblastos (reduz a apoptose de células B autorreativas). Estrógeno possui papel estimulador de várias células imunes como macrófagos e linfócitos T e B. Diminui a apoptose do linfócito B → produzindo autoanticorpos. Favorece a adesão de mononucleares ao endotélio vascular, estimula secreção de algumas citocinas como IL-1 e expressão de moléculas de adesão e MHC. Imunológico Aumento da produção de anticorpos anti-DNA (resposta imune exagerada); Diminuição nas células T citotóxicas e nas funções das células T supressoras; Expressão aumentada de BAFF/Blys. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 4 Ambiental Alguns vírus → induzem anticorpos anti-DNA (ex. mononucleose/EBV); CMV e Mycobacterium tuberculosis também são relacionados. Raios UV (70% dos pacientes com LES): Estimulam os queratinócitos a secretar IL e outras substâncias (+ produção de anticorpos pelas células B); Diminui a metilação de DNA nas células T (autorreativas → formam autoanticorpos); Aumentam a apoptose de queratinócitos (mais estímulo aos autoanticorpos). Tabagismo (segundo fator ambiental mais relacionado com o LES). Também reduz o efeito da hidroxicloroquina terapêutica. Fármacos (lúpus farmacoinduzido) como hidralazina e procainamida. Fisiopatologia A etiologia é desconhecida e multifatorial, envolvendo fatores genéticos, hormonais e ambientais. Todos esses fatores causam uma cascata de eventos que começam com a quebra celular anormal e termina com a produção de autoanticorpos. Perda da autotolerância. Linfócitos B → autoanticorpos. Aumento de BAFF/Blys e diminuição de linfócito T reg. Os corpos apoptóticos são reconhecidos por uma IgM autorreativa dos linfócitos B, são internalizados e apresentados para as células T auxiliares pelo MHC de classe II. Os linfócitos B se transformam em plasmócitos e secretam IgG, reconhecendo os corpos apoptóticos em todo o sistema. Há a formação de imunocomplexos que estimulam a imunidade inata, aumentando IL1 e TNF → inflamação. Os imunocomplexos ativam também o sistema complemento→ este consumo diminui o clearance dos imunocomplexos e restos apoptóticos. O aumento de citocinas pró inflamatórias no tecido (seja ele qual for) leva a lesão. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 5 💡 Ainda não se sabe o porque do IgM ter estas características autorreativas, por isso não há para prever o surgimento da etiologia. Quadro clínico Extremamente variável. “Padrão” nos primeiros 5 anos. É causa de FOI (febre de origem indeterminada). Sintomas constitucionais → por se tratar de uma doença sistêmica. Anorexia, perda de peso, perda de apetite, febre. Mais comum: cutâneo-articular. Mais grave: renal, sistema nervoso, miocárdio, pulmonar e vasculite. 💡 Nefrite lúpica é uma glomerulonefrite, ureia e creatinina podem estar normais (disfunção renal não é obrigatória). Manifestações por sistemas acometidos Pele (lúpus cutâneo agudo, subagudo ou discoide/crônico) - Rash malar em “asa de borboleta” - 30-60% dos casos. - Lúpus discoide Cardiovascular - Dor torácica - Hipertensão - Pericardite - Miocardite - Endocardite de Libman-Sacks (geralmente estéril) - Infarto - Hipertensão pulmonar Gastrointestinal - Pancreatite - Hepatite - Isquemia intestinal (decorrente de vasculite) Sangue (hematológicas) - Anemia hemolítica (10% dos casos) - Anemia de doença crônica - Plaquetas baixas (plaquetopenia) - Leucócitos baixos (leucopenia às custas de linfopenia) - Pancitopenia - Trombose - Vasculite Músculos e articulações - Dor muscular (mialgia) - Dor nas articulações (artralgia) - Artrite Pulmões - Pleurite - Pneumonite lúpica - Embolia pulmonar - Hemorragia pulmonar/alveolar - Hipertensão pulmonar - Derrame pleural (geralmente exsudato, encontrando Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 6 células LE - neutrófilos que fagocitam o material de outra célula) - Shrinking lung (síndrome do pulmão encolhido - elevação da cúpula diafragmática) Rins - Insuficiência renal - Hematúria - Urina muito espumosa - Nefrite lúpica (hematúria dismórfica, leucocitúria, proteinúria, cilindrúria, cilindros hemáticos - nefrite ativa) Outros - Queda de cabelo - Febre - Cefaleia - Úlceras orais Neuropsiquiátricas (podem aparecer sozinhas ou associadas a outros sintomas) - Meningite asséptica - Mielopatia - Coreia - Convulsões - Cefaleia - Doença cerebrovascular - Síndrome desmielinizante - Estado confusional agudo - Distúrbios cognitivos - Distúrbios do humor - Neuropatia craniana - Polineuropatia - Mononeurite simples ou múltipla - Plexopatia - Polirradiculopatia inflamatória aguda (guillain barré) - Desordens autonômicas - Miastenia gravis Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 7 Rash malar em “asa de borboleta” / lúpus agudo: maculo-papular eritematoso que poupa o sulco nasogeniano. É muito fotossensível e é associado à atividade sistêmica do LES. Lesões anulares e fotossensíveis: lúpus subagudo → psoriformes, pápulo- escamosas. Têm 50% de associação com o anti-Ro. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 8 Lesões cicatriciais e atróficas: lúpus discoide: forma crônica. Úlceras orais indolores. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 9 Vasculite cutânea. Manifestações articulares Artralgia inflamatória; Poliartrite simétrica; Não erosiva; Faz diagnóstico diferencial com artrite reumatoide.Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 10 Artropatia de Jaccoud → sem erosão óssea (estrutura óssea e articular preservada ou subluxada), deformidades como “pescoço de cisne” e polegar em “Z”, por frouxidão ligamentar e acometimento inflamatório de tendões. Presente em 8-10% dos casos. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 11 💡 O lúpus cutâneo isolado é diferente do lúpus eritematoso sistêmico, sendo acompanhado pela dermatologia. Diagnóstico Combinação de manifestações clínicas e alterações laboratoriais, desde que outras doenças sejam excluídas. Critérios de ACR 2019 Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 12 Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 13 Critérios classificatórios de SLICC 2012 (4 critérios, com pelo menos 1 clínico e 1 laboratorial): especificidade de 92% e sensibilidade de 94%. Critérios classificatórios ACR 1982 Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 14 💡 Anti-Sm positivo é o mais específico para lúpus mas só é positivo em 20- 25% dos pacientes. Anticorpos no LES Atividade clínica → anti-dsDNA, anti-P (associado a psicose lúpica) e complemento. Específicos de doença → anti-dsDNA, anti-P e anti-Sm. Lúpus neonatal, Sjogren secundário e lúpus cutâneo subagudo → anti-Ro. Anticorpos antifosfolípides como o anticoagulante lúpico (LA) e os anticorpos anticardiolipina (aCL) 💡 No caso de lúpus induzido por medicamento, podemos encontrar anticorpos anti-histona. São de caráter temporário e desaparecem poucos meses após o término do tratamento com a medicação indutora. FAN (Fator antinuclear) Teste de triagem → tria a presença de autoanticorpos. Pode estar positivo em neoplasias, infecções, não é patognomônico do LES, mas auxilia no diagnóstico (uma “peça” no quebra-cabeças). 💡 Pode existir lúpus com FAN negativo (embora difícil) ou não ser lúpus com FAN positivo. Exames complementares Hemograma → anemia, leucopenia e trombocitopenia. Exame de sedimento urinário → proteinúria, hematúria, leucocitúria e cilindrúria. Biópsia renal → classe histológica de nefrite. Enzimas musculares → pode confirmar suspeita de miosite. Enzimas hepáticas → podem fornecer indícios de hepatite. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 15 Devem ser solicitados de acordo com a suspeita de acometimento de órgãos/sistemas, exceto para quadros hematológicos e renais que devem ser pedidos independentemente da manifestação. Tratamento Não existe tratamento curativo. Objetivo do tto → garantir sobrevida a longo prazo, atingir o menor nível de atividade da doença, prevenir os danos aos órgãos, minimizar a toxicidade dos medicamentos, melhorar a qualidade de vida e educar os pacientes sobre seu papel no manejo da doença. Feito de acordo com a manifestação clínica do paciente. Se dois sistemas estiverem sendo acometidos simultaneamente, deve-se tratar primeiro o mais grave. Não farmacológico Educação do paciente. Apoio psicológico. Dieta → balanceada, evitando excessos de sal, carboidratos e lipídeos. Proteção solar (fotoproteção) → protetores solares, roupas com proteção UV, chapéus, sombrinhas. Atividade física → repouso nos períodos de atividade e medidas que visam melhora do condicionamento físico. Cessação do tabagismo → implica na patogenia da doença cardiovascular e exacerbação das lesões discoides. Vacinação atualizada. Farmacológico Individualizado para cada paciente, de acordo com os sistemas acometidos e gravidade dos sintomas. Preventivo Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 16 Profilaxia de OPIG (osteoporose induzida por glicocorticoides)→ cálcio, vitamina D e exercícios com carga. Anticoncepção → a base de progestágenos e métodos de barreira (medicamentos do LES são teratogênicos). Orientar o planejamento familiar durante a fase de remissão. Vacinação → indicado no período de remissão e, de preferência, de vacinas com vírus inativado. Tratamento de comorbidades. Prevenção de infecção urinária. Formas leves Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 17 Cutânea Corticoide tópico → antimaláricos → corticoide sistêmico (dose anti- inflamatória), ácido retinóico, talidomida, metotrexate ou azatioprina Osteoarticular AINE → antimaláricos ou corticoide sistêmico Serosite Corticóide sistêmico Formas moderadas a graves Hidroxicloroquina Em todos os pacientes quando não há contraindicações→ como imunomodulador. Prednisona (corticoide) Apenas em fase ativa de doença. Azatioprina ou metotrexato (imunossupressores) Rituximab Tratamento de casos/manifestações graves Pulsoterapia Casos graves ou em órgãos nobres. Metilprednisolona (1 grama/3 dias) ou ciclofosfamida. Fase de indução → mensalmente de 6 meses a 1 ano. Fase de manutenção → imunossupressor de VO base, de 3 a 5 anos. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 18 Dose de acordo com a clínica (em gramas) Manutenção com hidroxicloroquina Tratamento direcionado para nefrite Complicações Síndrome de ativação macrofágica. Osteonecrose ou artrite séptica → deve ser suspeitada quando houver persistência da dor, edema e calor em apenas uma articulação, principalmente no joelho, ombro ou no quadril. Hidralazina, metildopa, isoniazida, procainamida, quinidina
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