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@anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues RCC 10 1 CASO CLINICO Um homem de 42 anos de idade consulta-se com seu médico de família queixando-se de uma história de 3 meses de sangramento intestinal inferior. Ele descreve o sangramento como indolor, com sangue vivo aparecendo no papel higiênico após a defecação. Ele teve 2 episódios recentes em que o sangue esteve visível no vaso sanitário após a defecação. Ele nega sentir dor abdominal e ter história familiar de neoplasia gastrointestinal. O exame físico revela um homem saudável cujo único achado é sangue vivo no dedo após um exame de toque retal. Hemorroidas INTRODUÇÃO As hemorroidas são estruturas vasculares normais no canal anal, originadas de um canal de tecido conjuntivo arteriovenoso que drena para as veias hemorroidais superior e inferior. − As hemorroidas externas estão localizadas distalmente à linha denteada; − As hemorroidas internas estão localizadas proximalmente à linha denteada; − As hemorroidas mistas estão localizadas proximal e distalmente à linha denteada. PATOLOGIA As veias hemorroidárias são estruturas anatômicas normais localizadas na camada submucosa no reto inferior e podem ser externas ou internas dependendo de estarem abaixo ou acima da linha denteada. Ambos os tipos de hemorróidas coexistem frequentemente. As hemorroidas surgem de um plexo ou almofada de canais arteriovenosos dilatados e tecido conjuntivo. As hemorroidas internas surgem do coxim hemorroidário superior. Suas três localizações primárias (lateral esquerda, anterior direita e posterior direita) correspondem aos ramos terminais das veias hemorroidárias média e superior. O epitélio colunar sobrejacente é inervado visceralmente; portanto, essas hemorróidas não são sensíveis à dor, toque ou temperatura. As hemorroidas externas surgem do plexo hemorroidário inferior. Eles são cobertos por epitélio escamoso modificado (anoderma), que contém numerosos receptores somáticos de dor, tornando as hemorroidas externas extremamente dolorosas na trombose. As hemorroidas internas e externas se comunicam e drenam para as veias pudendas internas e, finalmente, para a veia cava inferior. O desenvolvimento de hemorroidas sintomáticas tem sido associado ao avanço da idade, diarreia, gravidez, tumores pélvicos, tempo sentado prolongado, esforço, constipação crônica e pacientes em uso de anticoagulação e terapia antiplaquetária, embora não esteja claro se a associação é causal. A patogênese das hemorroidas internas sintomáticas não é bem compreendida, mas pode ser devido aos seguintes fatores: − Deterioração do tecido conjuntivo que ancora hemorroidas. Supõe-se que, com o avançar da idade ou condições agravantes, as hemorroidas fracamente ancoradas começam gradualmente a inchar e "deslizam" para o canal anal, levando a sintomas progressivos. − Hipertrofia ou aumento do tônus do esfíncter anal interno. Durante a defecação, o bolo fecal força o plexo hemorroidário contra o esfíncter interno, o que faz com que ele aumente de tamanho e se torne sintomático. − Acredita-se que a etiologia primária seja o esforço excessivo em decorrência da constipação ou diarreia crônica. O esforço repetitivo ou prolongado provoca estresse inferior nos coxins hemorroidários vasculares, causando o rompimento dos elementos de tecido de suporte, com alongamento subsequente, dilatação e ingurgitamento dos tecidos hemorroidários. Em apoio a esta hipótese está a observação de que as hemorroidas regridem após a ligadura das artérias hemorroidárias. − Dilatação anormal das veias do plexo venoso hemorroidário interno. Outras condições podem contribuir para a formação de hemorroidas: um aumento da pressão intra-abdominal pode ser provocado por gestação ou ascite; a presença de lesões com efeito de massa dentro da pelve pode provocar, ao mesmo tempo, uma diminuição no retorno vascular e um aumento no ingurgitamento vascular anal. CLASSIFICAÇÃO As HEMORROIDAS INTERNAS são classificadas de acordo com o grau de prolapso do canal anal, e não de gravidade: − Hemorroidas grau I são visualizadas na anoscopia e podem inchar no lúmen, mas não prolapsam abaixo da linha denteada. A protrusão é limitada dentro do canal anal. − Hemorroidas grau II prolapsam para fora do canal anal com defecação ou esforço, mas reduzem @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues RCC 10 2 espontaneamente. Sai do canal anal, mas reduz espontaneamente ao cessar o esforço ao defecar. − Hemorroidas de grau III prolapsam para fora do canal anal com defecação ou esforço e requerem redução manual. Sai do canal anal e pode ser completamente reduzida com pressão manual. − As hemorroidas grau IV são irredutíveis e podem estrangular. Sai do canal anal e não pode ser reduzida. A classificação de hemorroidas internas é somente um reflexo do grau de prolapso, não uma medida da gravidade da doença ou do tamanho do prolapso da hemorroida. HEMORROIDAS EXTERNAS Hemorroidas que estão localizadas no canal anal distal, distalmente à linha dentada, cobertas por anoderma afetado ou pele. MANIFESTAÇÃO CLÍNICA Mais de 40% dos indivíduos com hemorróidas são assintomáticos. Pacientes sintomáticos geralmente procuram tratamento para hematoquezia, dor associada a uma hemorroida trombosada, prurido perianal ou sujeira fecal. − O sangramento hemorroidário é quase sempre indolor e geralmente está associado a uma evacuação, embora possa ser espontâneo. O sangue é tipicamente vermelho brilhante e cobre as fezes no final da defecação ou pode pingar no vaso sanitário. Ocasionalmente, o sangramento pode ser abundante e pode ser exacerbado por esforço. Em casos raros, a perda crônica de sangue pode causar anemia por deficiência de ferro com sintomas associados de fraqueza, dor de cabeça, irritabilidade e graus variados de fadiga e intolerância ao exercício. − Incontinência fecal leve, secreção de muco, umidade ou sensação de plenitude na área perianal devido a uma hemorroida interna prolapsada. − Irritação ou coceira da pele perianal é um sintoma comum da doença hemorroidária. − Os pacientes podem apresentar início agudo de dor perianal e um "caroço" perianal palpável de trombose. A trombose é mais comum com hemorróidas externas em comparação com hemorróidas internas. As tromboses das hemorroidas externas podem estar associadas à dor excruciante, pois a pele perianal sobrejacente é altamente inervada e torna-se distendida e inflamada. As hemorroidas internas trombosadas também podem causar dor, mas em menor grau do que as hemorroidas externas. Uma exceção é quando as hemorroidas internas se tornam prolapsadas, estranguladas e desenvolvem alterações gangrenosas devido à falta de suprimento sanguíneo associada. PRINCIPAIS FATORES PARA O DIAGNÓSTICO: ter fatores de risco, principalmente a idade; sangramento retal, dor/desconforto perianal; prurido anal; lesão perianal palpável dolorosa e massa anal PREVENÇÃO PREVENÇÃO PRIMÁRIA: Uma dieta rica em fibras pode ajudar a evitar a constipação, que é o principal fator de risco das hemorroidas. O consumo diário recomendado é de 25-30 g de fibras na forma de alimentos com alto teor de fibras ou de suplementos de fibras disponíveis comercialmente. A ingestão concomitante de hidratação adequada deve ajudar a evitar a constipação. PREVENÇÃO SECUNDÁRIA: Uma dieta rica em fibras pode diminuir o tempo de trânsito gastrointestinal, aumentar o volume das fezes e ajudar a evitar a constipação, que é o fator de risco principal das hemorroidas. Uma suplementação diária de 25-30 g de alimentos com alto teor de fibras ou de suplementos de fibras disponíveis comercialmente, juntamente com o aumento da hidratação, melhora a constipação e, portanto, os sintomas das hemorroidas. FATORES DE RISCO Idade entre 45-65 anos, constipação, gravidez ou lesãopélvica com efeito de massa, insuficiência hepática e ascites (dois últimos fatores fracos). DIAGNÓSTICO O exame físico do canal anorretal deve ser realizado na posição lateral esquerda (Symes), supina ou de litotomia. O exame físico deve ser abordado com cuidado, especialmente se a principal queixa for dor. Ele começa com uma inspeção visual da margem anal, ao afastar gentilmente as nádegas, para procurar hemorroidas externas, acrocórdones ou outras patologias anais, como fissuras, fistulas ou massas perianais. @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues RCC 10 3 Um prolapso pode se tornar mais visível ao solicitar que o paciente faça força, como se fosse defecar. Uma avaliação do tipo de prolapso deve sempre permitir que o examinador diferencie um prolapso hemorroidário (padrão radial) de um prolapso retal (padrão concêntrico). A menos que o paciente esteja sentindo muita dor, um exame digital e anoscópico pode ser realizado com um anoscópio iluminado ou uma fonte de luz externa. TRATAMENTO O objetivo principal do tratamento é aliviar os sintomas. O tratamento depende do fato de as hemorroidas sintomáticas serem internas, externas ou uma combinação de ambas. A classificação das hemorroidas internas não reflete a gravidade da doença ou o tamanho do prolapso, mas pode auxiliar na escolha do método de tratamento. Todos os pacientes devem receber informações sobre o estilo de vida e a modificação alimentar, especialmente aumento de ingestão de fibras e líquidos apropriados. SANGRAMENTO INTERMITENTE LEVE Se o paciente apresentar um sangramento intermitente leve, as modificações na dieta e no estilo de vida visando a prevenção da constipação são geralmente suficientes para tratar as hemorroidas. Os corticosteroides tópicos podem ser usados ocasionalmente em curto prazo, com o objetivo de aliviar os sintomas de pruriginosos, mas o uso prolongado deve ser evitado, pois podem provocar atrofia da pele anal. Uma avaliação completa, incluindo o exame endoscópico, é necessária para excluir um diagnóstico mais grave. HEMORROIDAS INTERNAS A ligadura elástica é um método simples e eficaz de tratamento de ferro tecidual e constitui o tratamento de primeira escolha para hemorroidas de grau 2. Escleroterapia, fotocoagulação por infravermelho, ligadura arterial da hemorroida e hemorroidopexia por grampeamento também podem ser usadas nas hemorroidas internas com prolapso moderadas (grau 2). A escleroterapia e a fotocoagulação por infravermelho podem ser mais adequadas para hemorroidas que são muito pequenas para a ligadura elástica (podendo incluir as hemorroidas grau 1 e 2). Ambas têm efeitos semelhantes e podem requerer várias sessões de tratamento para ablação do tecido. A escleroterapia envolve a injeção de um agente químico diretamente no tecido hemorroidário para provocar a destruição tecidual local e a cicatrização do tecido hemorroidário. A fotocoagulação por infravermelho usa a radiação infravermelha aplicada diretamente à hemorroida, ocasionando coagulação, cicatrização e a subsequente fixação do tecido hemorroidário interno. A ligadura da artéria hemorroidária (também conhecida como desarterialização hemorroidária transanal) utiliza um proctoscópio personalizado acoplado a um transdutor Doppler para identificar e ligar as ramificações terminais da artéria retal superior acima da linha dentada (resultando em encolhimento das hemorroidas). O procedimento é comumente realizado com anestesia geral breve e várias ligações podem ser necessárias. Pacientes com hemorroidas de grau 2 ou 3 randomizados para ligadura arterial da hemorroida tiveram menos recorrências em 1 ano que os pacientes tratados com ligadura elástica. No entanto, os escores dos sintomas e as complicações não diferiram entre grupos de tratamento, e os pacientes tratados com ligadura arterial da hemorroida apresentaram dor pós-operatória mais precocemente. A ligadura elástica continua a ser uma opção razoável para hemorroidas de grau 3. No entanto, pacientes com grandes hemorroidas de grau 3 (além de pacientes refratários ou que não toleram procedimentos ambulatoriais; pacientes com grandes apêndices externos sintomáticos; ou pacientes com hemorroidas de grau 4) são candidatos a cirurgia (hemorroidectomia, hemorroidopexia por grampeamento, ligadura da artéria hemorroidária). Em um pequeno estudo envolvendo pacientes com hemorroidas de grau 3 ou pequenas hemorroidas de grau 4, ligadura elástica e hemorroidopexia por grampeamento (em que hemorroidas com prolapso são realocadas no canal anal, em vez de removidas) foram igualmente eficazes no controle do prolapso sintomático, mas ligadura elástica foi associada a um aumento do risco de sangramento recorrente. A hemorroidopexia por grampeamento foi associada a aumento da dor e uso de analgesia no seguimento após 2 semanas e 2 meses; os dois grupos de tratamento não apresentaram diferença com respeito à satisfação do paciente ou à qualidade de vida. Os pacientes devem ser informados sobre o potencial de recorrência sintomática após a hemorroidopexia por grampeamento. A hemorroidectomia cirúrgica é a abordagem de primeira linha mais eficaz para hemorroidas internas de grau 4. Uma metanálise de rede incluindo pacientes submetidos a cirurgia seletiva para hemorroidas de grau 3 a 4 revelou que a hemorroidectomia convencional estava associada a maior dor pós-operatória mas a menos recorrências das hemorroidas que a hemorroidopexia por grampeamento. HEMORROIDAS EXTERNAS OU COMBINADAS Nas hemorroidas externas, ou nas hemorroidas internas e externas combinadas, com sintomas graves, a excisão cirúrgica pode ser a única opção de tratamento eficaz. Isso envolve a excisão com anestesia geral ou regional. As hemorroidas externas assintomáticas não necessitam de @anab_rs | Ana Beatriz Rodrigues RCC 10 4 tratamento invasivo, mas podem ser observadas enquanto o paciente segue a modificação da dieta e do estilo de vida. Na trombose das hemorroidas externas, os procedimentos minimamente invasivos, como o destamponamento, podem ser necessários para alívio de sintomas e podem ser feitos com anestesia tópica, regional ou geral. A recorrência dos sintomas após a hemorroidectomia é muito rara, mas a hemorroidectomia cirúrgica está associada a mais complicações e dor que os procedimentos conservadores. ELETROTERAPIA A eletroterapia (também conhecida como eletrocoagulação) é uma alternativa à ligadura em pacientes com hemorroidas de grau 1 ou 2 e uma alternativa à cirurgia para pacientes com hemorroidas de grau 3 ou 4. As abordagens incluem uma corrente elétrica direta de baixa amplitude (entre 8-16 mA) usada no contexto ambulatorial ou uma corrente elétrica direta de maior amplitude (até 30 mA) com o paciente sob anestesia geral ou espinhal.
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