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DOENÇAS RESPIRATÓRIAS PREVALENTES NA INFANCIA Profª Msc Cosete Rodrigues DOENÇAS RESPIRATÓRIAS DA INFANCIA A partir do século XX, as doenças respiratórias tornaram-se a principal causa de mortalidade infantil, acometendo crianças menores de cinco anos; Os motivos estão associados à falta de conhecimento durante os primeiros sintomas, às más condições básicas de saúde e à adoção de medidas inadequadas ao tratamento. As doenças respiratórias classificam-se como a primeira causa de internações no Sistema Único de Saúde (SUS), e também contribuem com o índice de morbidade e mortalidade de crianças menores de 5 anos. No âmbito nacional, tornam-se um grande desafio e exigem ações como pesquisas e estratégias governamentais para lidar com essa problemática. Rev. Soc. Bras. Enferm. Ped. | v.14, n.1, p 33-9 | Julho 2014 DOENÇAS RESPIRATÓRIAS DA INFANCIA Salienta-se que as doenças respiratórias constituem um grave problema de saúde pública mundial, sendo responsáveis pela morte de crianças que poderiam ser evitadas. No entanto, tem forte fator de impacto, sobretudo nos países com baixo e médio níveis socioeconômicos. DOENÇAS RESPIRATÓRIAS DA INFANCIA Para desenvolver atividades de cuidado e promover a saúde da criança, a família torna-se célula fundamental na manutenção dos cuidados em doenças respiratórias. A enfermagem deve atuar junto aos familiares de crianças com doenças respiratórias, considerando que a presença da doença aguda ou crônica, interfere diretamente no cotidiano das crianças e de suas famílias. Salienta-se a carência de uma educação permanente e uma assistência de qualidade nos hospitais e unidades básicas de saúde, para que os profissionais da saúde possam atuar junto à família, a fim de transformar a realidade para além do âmbito hospitalar e da atenção básica. DOENÇAS RESPIRATÓRIAS DA INFANCIA INFECÇÕES DAS VIAS AEREAS SUPERIORES As infecções da VAS e suas complicações são motivo de mais da metade das consultas ao pediatra e idas ao serviço de puericultura. São viroses autolimitadas, com cura espontânea em cerca de uma semana, independentemente de tratamento. Entretanto, causam preocupação pela frequência com que evoluem com complicações bacterianas (otite, sinusite, bronquite, pneumonia) que exigem tratamento com antibiótico. Resfriado comum e Gripe A infecção ocorre por partículas aéreas ou através das mãos e o período de incubação é de 1 a 3 dias para o resfriado e de 1 a 4 dias para a gripe; Nos primeiros 3 anos, as crianças têm em média 6 a 10 episódios de IVAS por ano e algumas, sobretudo aquelas que frequentam escolinhas e creches, chegam a apresentar de 12 a 20 episódios por ano, frequentemente emendando uma ocorrência com a próxima; Resfriado comum (rinofaringite ou rinosinusite viróticas) É uma infecção viral benigna caracterizada por sintomas nasais proeminentes ( congestão, obstrução nasal, rinorréia) com pouca ou nenhuma repercussão sistêmica como febre, prostração, mialgia. Gripe ou Influenza É uma virose respiratória mais grave, com maior repercussão sobre o estado geral e maior risco de comprometimento das vias aéreas baixa e de complicações bacterianas (otite, sinusite, pneumonia). Quando Suspeitar Os pais geralmente referem que a criança está “resfriada” ou “gripada”, relatando sintomas como: coriza, rinorreia, fungor, espirros, congestão com obstrução nasal, tosse, irritação ou dolorimento na garganta, congestão ocular e lacrimejamento. Outros sintomas que podem estar presentes são: tosse seca ou produtiva (“peito cheio”), rouquidão e comprometimento das VAI. Os bebês e lactentes pequenos se tornam irritados, inquietos, choro fácil, dificuldade de dormir e pouco apetite. Podem ocorrer vômitos espontâneos relacionados à tosse. Quando Suspeitar Mais raramente há queixa de dor de garganta Crianças asmáticas podem apresentar broncoespasmo associado; A febre está presente em menos de um terço dos resfriados e em quase todos os casos de gripe (influenza). É importante avaliar se a febre faz parte do quadro virótico ou se já é uma manifestação de uma complicação bacteriana que exija tratamento. Como Tratar O tratamento é apenas sintomático e tem o objetivo de reduzir o desconforto da criança causado por cefaleia, mialgia, coriza, obstrução nasal. É importante ensinar aos pais que não é preciso prescrever medicamentos, exceto um analgésico-antitérmico quando for necessário, Hidratar bem a criança, a gripe é curada pela própria imunidade da criança. Nos lactentes, a obstrução nasal leva o bebê a respirar pela boca, torna-se irritado, não dorme, parece sufocado. Como Tratar Hidratação: oferecer líquidos com frequência: agua, chás, sucos. Respeitar a falta de apetite e tranquilizar os pais , afirmando que o apetite voltará assim que a gripe passar. Analgésicos e antitérmicos: se a criança apresentar febre (acima de 37,8°C) ou se demonstrar sentir dor usar paracetamol (acetaminofeno) na dose de 10-15mg/kg/dose, ou dipirona (meia a uma gota/kg ou um ml para cada 2 a 4 kg, por dose). O ibuprofeno (10mg/kg/dose). Obstrução nasal: nos bebês pode ser aliviada com soro fisiológico morno ou soluções fisiológicas, pingando meio conta-gotas em cada narina sempre que necessário, sobretudo antes de dormir e antes das mamadas. Monitorar sinais de complicações: o principal papel dos pais na gripe é vigiar o aparecimento de sinais de complicações que precisam ser tratadas (otites, sinusites, bronquites, pneumonias). Por isso é necessário rever a criança em consulta de puericultura se ela apresentar: febre alta de difícil controle que dure mais do que 5 dias; choro forte parecendo dor, cansaço, respiração ofegante, ruidosa ou difícil. Como Tratar Vaporização: o uso de vaporizador para umidificar secreções não altera a evolução e, geralmente, não reduz os sintomas da doença, exceto quando há laringite (com rouquidão e afonia). No entanto alguns pacientes referem melhora com essa medida. Gripe Pandêmica por H1N1/ Influenza A Gripe pandêmica, iniciada em 2009, com maior risco de casos graves e fatais com pneumonia, SARA e choque. A gripe causada pelo novo vírus Influenza A/H1N1 (inicialmente chamada de gripe suína) é uma doença transmitida de pessoa a pessoa através de secreções respiratórias, principalmente por meio da tosse ou espirro de pessoas infectadas. A transmissão pode ocorrer quando houver contato próximo (aproximadamente um metro), principalmente em locais fechados, com alguém que apresente sintomas de gripe (febre, tosse, coriza nasal, espirros, dores musculares). Caso ocorra transmissão os sintomas podem iniciar no período de 3 a 7 dias após o contato. Não há registro de transmissão da Influenza A/H1N1 para pessoas por meio da ingestão de carne de porco e produtos derivados. Este novo vírus não resiste a altas temperaturas (70ºC). 17 Sintomas suspeitos da H1N1 Apresentar febre alta de maneira repentina (> 38ºC) E tosse podendo ser acompanhada de um ou mais dos seguintes sintomas: dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações ou dificuldade respiratória. A) Ter apresentado sintomas até 10 dias após voltar de viagens ao exterior, de países que reportaram casos pela Influenza A(H1N1). OU B) Ter tido contato próximo , nos últimos 10 dias, com uma pessoa classificada como caso suspeito de infecção humana pelo novo subtipo de Influenza A(H1N1). Outros quadros Viróticos das VAS Diversas viroses podem produzir quadros mais localizados como faringite, laringite, várias delas podem comprometer as vias aéreas inferiores com bronquite ou pneumonias virais. Faringite e Amigdalite Uma queixa de dor de garganta, com ou sem febre, é o motivo de mais de 10% das consultas com escolares. Pelo menos metade dos casos são por faringoamigdalites viróticas e os demais por infecções bacterianas. Dessas, a maioria são amigdalites streptocócicas, importantes pela alta frequência em crianças maiores que 3 anos. Faringite e Amigdalite As mais comuns são: Estreptocócica (Estreptococo beta-hemolítico A) Viróticas Bacterianas QuandoSuspeitar Em todo paciente com dor de garganta, febre, dor para engolir. A diferença entre amigdalite virótica e bacteriana é sempre um desafio, pois apesar das diferenças, nenhum conjunto de achados é suficientemente sensível para dar certeza absoluta. Os casos mais sugestivos de amigdalite estreptocócica seriam: febre acima de 38°C, secreção branca ou purulenta nas amigdalas e aumento de linfonodos regionais. Tratamento Faringite Virótica: deve ser tratada sintomaticamente como as gripes e os resfriados, aumentando a hidratação, analgésicos e antitérmicos. Gargarejos com soro fisiológico morno. Antibioticoterapia nas amigdalites estreptocócicas: O tratamento deve ser mantido por 10 dias para reduzir o risco do paciente continuar portador do streptococo e a infecção se repetir em pouco tempo: Penicilina V, amoxilina, Penicilina Benzatina, Azitromicina, Eritromicina. Otite É uma inflamação com coleção de líquido no ouvido médio. É a infecção bacteriana mais comum em pediatria, a segunda maior causa de consulta ao serviço de puericultura e a principal causa do uso de antimicrobianos em crianças. Na maioria das vezes surge de uma complicação de uma gripe ou resfriado, devido à congestão ou obstrução da tuba auditiva (trompa de Eustáquio). Pode ser purulenta ou só a persistência de uma efusão serosa ou catarral no ouvido médio. Quando Suspeitar Em lactentes e crianças a apresentação mais típica é otalgia, febre, irritabilidade e choro, após alguns dias de sintomas gripais. O sintoma mais importante é a dor de ouvido. Qualquer criança com febre deve ser, obrigatoriamente, submetida a uma otoscopia cuidadosa. Tratamento Tratamento sintomático: trata-se com antitérmicos e analgésicos e medidas de desobstrução do nariz. Antibioticoterapia Sinusite Uma infecção bacteriana aguda dos seios nasais da face. Gripes e resfriados provocam sinusites virais na maioria dos casos. Fatores de Risco para Sinusite Resfriados e gripes Rinite alérgica Fumaça de cigarro Asma Desvios de septo Refluxo Poluição ambiental Natação em piscina com cloro Quando Suspeitar Persistência dos sintomas residuais de uma gripe por mais de 10 dias. Febre alta, rinorreia, congestão nasal e tosse. A tosse geralmente é diurna, mas piora à noite, seca e não produtiva. Pode haver dor, sensibilidade ou sensação de pressão sobre os seios da face, referidas abaixo dos olhos, sobre a base do nariz, face, mandíbula ou dentes. Tratamento Antibioticoterapia Antitérmicos Rinite Alérgica A rinopatia crônica ou em crises recorrentes é caracterizada por sintomas de congestão e obstrução nasal, prurido nasal e ocular e coriza clara, causada por alergia respiratória (IgE→histamina, eosinófilos). Os alergenos causadores mais comuns são ácaros da poeira doméstica, mofo, barata, pólen, cães, gatos e fumaça de cigarro. É predominante no escolar. A doença pode prejudicar seriamente a qualidade de vida social e a performance escolar do paciente. Aumenta a frequência de otite, rinite e sinusites bacterianas e é agravada por elas e por viroses respiratórias. Principais Fatores de Risco História Familiar Asma associada Quarto e casa mal ventilados ou em que não bate sol Poluição exagerada do ar Animais dentro de casa Pais fumantes Ar condicionado central Quando Suspeitar Em pacientes com episódios repetidos de obstrução nasal acompanhados de coriza clara, fungor, espirros e coceira no nariz e olhos. Chama atenção as queixas de coceira, “nariz pinicando”, “dá vontade de arrancar o nariz” e de “nariz entupido que a gente assoa e não sai nada”. Pode haver tosse, cefaleia e crises de asma. A obstrução nasal piora à noite. Tratamento O tratamento vai depender da gravidade da doença, frequência e duração dos sintomas e resposta ao tratamento. Anti-histamínicos via oral: deve ser usado ao primeiro sinal de uma crise. Loratadina, Cetirizina, Clemastina, Hidroxizina, Levocabastina. Descongestionantes tópicos nasais: Fenoxazolina, Oximetazolina podem proporcionar um alívio rápido. Descongestionantes sistêmicos: Podem aliviar a congestão nasal e o incômodo de crianças maiores. Em crianças menores tendem a provocar mais efeitos colaterais do que alívio. Corticosteroides tópicos nasais: São as drogas mais úteis para os casos intermitentes: Fluticasona, mometasona, budesonida. Corticosteroides sistêmicos: Predinosona ou predinosolona Pneumonia É um processo inflamatório, geralmente infeccioso que envolve o parênquima pulmonar( bronquíolos , alvéolos e interstício), podendo ser causado por bactérias, vírus e outros agentes atípicos. A infecção geralmente ocorre a partir das vias aéreas superiores. Se manifesta por febre, tosse e dificuldade respiratória associada à presença de alterações atípicas na radiografia de tórax ou ausculta respiratória característica. É uma doença frequente, ocorrendo a cada ano em 3 a 4% das crianças abaixo de 4 anos. A maioria dos casos são leves e podem ser tratados ambulatoriamente. Fatores de Risco para Pneumonia Gripes e resfriados Baixo nível socioeconômico Aglomeração Falta de aleitamento materno Prematuridade Causas da Pneumonia Streptococcus pneumonie Haemophylus Staphylococcus aureus Quando Suspeitar Nos casos de febre, prostração, associada a tosse, taquipnéia e dificuldade respiratória com esforço e tiragem subcostal ou intercostal. Na maioria dos casos existe um caso prévio de resfriado ou gripe com coriza, obstrução nasal, espirros, tosse, rouquidão, “peito cheio”, dor de garganta e febre. Tratamento Hidratação venosa, corrigir acidose, analgésicos, antitérmicos. Oxigenoterapia Broncodilatadores Antibioticoterapia Asma Doença inflamatória crônica que cursa com episódios recorrentes de tosse, sibilância e dispneia devido a obstrução generalizada e variável das vias aéreas que é desencadeada por estímulos alérgicos e não alérgicos. O quadro obstrutivo se deve principalmente a broncoconstricção, mas, quando se prolonga, apresenta um componente importantes de inflamação, edema de mucosa e aumento da secreção brônquica. Os episódios de broncoespasmos variam de muito leves, quase imperceptíveis, até graves e potencialmente fatais. São deflagrados por diferentes tipos de estímulos. Estímulos para Asma Alergenos de ácaros Infecções viróticas Fumaça de cigarro Piora da poluição Pólen Medicamentos Induzida por excesso de exercício físico Poeira Ar frio e seco Doença do refluxo Problemas emocionais Quando Suspeitar A crise se manifesta por tosse seca, curta e irritativa, bastante característica, seguida de dispneia, chiado e sibilos (predominantemente expiratórios) podendo evoluir para dificuldade respiratória de intensidade variável. O sibilo na criança manifesta-se como um chiado mais rude e polifônico. Os sintomas tendem a piorar à noite. Os sibilos são os sintomas mais importantes. Nas crises graves a dispneia é intensa, com uso de musculatura acessória, um marcador importante da gravidade. A fala torna-se entrecortada, o tórax hiperinsuflado. Pode haver cianose, agitação, ansiedade, dor abdominal, taquicardia, pulso paradoxal, palidez e sudorese fria. 42 Tratamento O tratamento inicial deve ser em casa, ao primeiro sinal da crise como tosse seca curta, irritativa e produtiva, chieira. Deve-se usar imediatamente β-agonistas de ação curta. A droga mais usada é o sabutamol por via inalatória com aerossol pressurizado. Essas doses precisam ser usadas apenas enquanto durarem os sintomas. β-agonista em forma de xarope via oral não devem ser usados como rotina, pois são menos eficazes: salbutamol, fenoterol, terbutalina. Corticoterapia oral: é feita com predinosolona, apenas quando há persistência nos sintomas. Nas crises graves recomenda-se o internamento, onde o paciente fará uso intensivo de β-inalatório e uma dose de corticoide oral ou parenteral, corrigir as desidratações, realizar oxigenoterapia. Bronquiolite e Bronquite O chiado é um ruído rude e polifônico causado pelo fluxo de ar por vias aéreas semiobstruídas e de diferentes calibres. Bronquiolite: É uma infecçãovirótica autolimitada, mas potencialmente grave, com inflamação e obstrução predominante em bronquíolos terminais em lactentes pequenos (entre 2 e 6 meses) podendo ocorrer até 2 anos de idade. São geralmente causadas por vírus respiratório e também pela Influenza A, adenovírus, Mycoplasma, rinovírus. Bronquite: É a extensão aos brônquios de infecções viróticas de vias aéreas superiores. Têm pouco potencial para complicações e se resolvem em cerca de duas semanas. Quando Suspeitar Bronquiolite: deve ser suspeitada em lactentes pequenos que, após alguns dias com coriza, obstrução nasal e tosse, evoluem com taquipnéia, tiragens, tosse, sibilo, hipoxemia e irritabilidade, febre e dificuldade para alimentar. Bronquite: Sintomas de virose respiratória alta, que por volta do 4º dia de evolução, evolui com tosse produtiva, expectoração e roncos grosseiros no tórax (“peito Cheio”). Pode haver broncoespasmo. Tratamento da Bronquite Afastada a possibilidade de pneumonia, os pacientes com bronquite são tratados com hidratação oral, analgésicos e antitérmicos. É importante garantir aos pais que o quadro vai melhorar independentemente de qualquer tratamento. Sedativos da tosse, mucolíticos ou expectorantes não alteram a evolução da doença e devem ser evitados. Descongestionantes com anti-histamínicos não devem ser usados pois ressecam as secreções. Se houver broncoespasmos, usar salbutamol inalatório. Tratamento da Bronquiolite Os casos leves podem ser tratados ambulatoriamente com hidratação oral frequente, controle da febre. Na maioria dos casos os sintomas desaparecem em 7 a 12 dias. A internação só está indicada com: Apneia, cianose, prostração, hipoxemia, dificuldade para mamar e beber, desidratação. Nessa situação, o tratamento envolve: Oxigenoterapia e uso de broncodilatadores, corticoterapia, antibioticoterapia e antivirais.
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