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ATESTADO MÉDICO Dr. Carlos Eduardo de A. Bezerra Saúde Coletiva e Clínica Médica DEFINIÇÃO Atestado é o instrumento utilizado para se afirmar a veracidade de certo fato ou a existência de certa obrigação, destinado a reproduzir, com idoneidade, uma certa manifestação do pensamento. Atesta a veracidade em relação a datas, assistência, internações, a necessidade de exames complementares. Traduz, portanto, o ato médico praticado para as finalidades previstas em Lei, posto que o médico no exercício de sua profissão não deve abster-se de dizer a verdade sob pena de infringir dispositivos éticos, penais, etc. ● Afirmar ou provar em caráter oficial ● Certificar por escrito ● Dar testemunho ● Provar ● Demonstrar ● Depor ● Declarar SINÔNIMOS ● Declarar ● Ser de parecer ● Dar parecer técnico ● Testemunhar ● Certificar ● Informar CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA Capítulo X - Documentos Médicos: é vedado ao médico ● Art. 80: expedir documento médico sem ter praticado ato profissional que o justifique, que seja tendencioso ou que não corresponda à verdade. ● Art. 81: atestar como forma de obter vantagens. ● Art. 82: usar formulários de instituições públicas para prescrever ou atestar fatos verificados na clínica privada. ● Art. 83: atestar óbito quando não o tenha verificado pessoalmente, ou quando não tenha prestado assistência ao paciente, salvo, no último caso, se o fizer como plantonista, médico substituto ou em caso de necropsia e verificação médico-legal. ● Art. 84: deixar de atestar óbito de paciente, exceto quando houver indícios de morte violenta. ● Art. 85: permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo profissional quando sob sua responsabilidade. ● Art. 86: deixar de fornecer laudo médico ao paciente ou a seu representante legal quando aquele for encaminhado ou transferido para continuação do tratamento ou em caso de solicitação de alta. ● Art. 87: deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente ○ § 1º O prontuário deve conter os dados clínicos necessários para a boa condução do caso, sendo preenchido, em cada avaliação, em ordem cronológica com data, hora, assinatura e número de registro do médico no Conselho Regional de Medicina. ○ § 2º O prontuário estará sob a guarda do médico ou da instituição que assiste o paciente. ● Art. 88: negar, ao paciente, acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionarem riscos ao próprio paciente ou a terceiros. ● Art. 89: liberar cópias do prontuário sob sua guarda, salvo quando autorizado, por escrito, pelo paciente, para atender ordem judicial ou para a sua própria defesa. ○ § 1º Quando requisitado judicialmente o prontuário será disponibilizado ao perito médico nomeado pelo juiz. ○ § 2º Quando o prontuário for apresentado em sua própria defesa, o médico deverá solicitar que seja observado o sigilo profissional. ● Art. 90: deixar de fornecer cópia do prontuário médico de seu paciente quando de sua requisição pelos Conselhos Regionais de Medicina. ● Art. 91: deixar de atestar atos executados no exercício profissional, quando solicitado pelo paciente ou por seu representante legal. *Obs: sempre solicitar assinatura do paciente para expor o CID. ATESTADO X DECLARAÇÃO Semântica: os atestados médicos e as declarações médicas visam atestar ou declarar situações diversas constatadas pelos profissionais. Assim, o que prevalece não é o título, atestado ou declaração, mas o conteúdo (CREMESP). FINALIDADE Para fins de: ● Dispensa do trabalho ● Atividades laborais ● Dispensa de frequência escolar ● Prática desportiva ● Aposentadoria ● Laudo pericial… Não devemos utilizar a expressão “para devidos fins” ⇒ não traduz a finalidade para a qual foi emitido o parecer. COMPOSIÇÃO 1) Identificação: ● Sempre deverá ser completa, evitando abreviações ● Se emitido para menor de idade ou pessoa que não esteja de plena posse de suas faculdades mentais, identificar o responsável ou acompanhante 2) Autorização: ● Deixar expresso a autorização do paciente e sempre solicitar a assinatura do mesmo ● Acrescentar sempre a expressão: ○ “A pedido do interessado” ○ “A pedido deste” ○ “A pedido do responsável” ○ “Por solicitação do mesmo” ● Completada por ○ “Abaixo assinado” 3) Motivo do documento ● Motivo pelo qual o atestado está sendo emitido, que pode ser por necessidade de afastamento, por alguma necessidade especial ou para liberação de alguma atividade específica. ● Exemplos: ○ Necessita de 10 (dez) dias de afastamento de suas atividades laborais ○ Está apto à prática de natação ○ Deverá continuar tratamento fisioterápico ○ Deverá ser dispensado de ortostatismo prolongado ○ Deverá guardar o leito, em repouso ○ Necessita de dieta especial para Diabetes mellitus 4) Limites: ● Determinar por qual período é válido o atestado (início e final) ● Nunca emitir atestado retroativo, é ilícito ético e legal ○ O parecer Atestado Médico estabelece que o documento deve ser fornecido com a data do efetivo atendimento prestado. Assim, o atestado, declarando a internação, a alta e os dias de afastamento, inicialmente, prescritos, deve ser fornecido na data do evento da alta hospitalar. (Consulta CFM nº35.795/01) ● Exemplos - Início: ○ … a contar desta data ○ … a contar da data da emissão desse ○ … a contar de DD/MM/AAAA ○ … nessa data (ex. aptidão física, consulta médica) ○ … no momento ○ … em DD/MM/AAAA (ex. procedimento) ● Exemplos - Final, quando houver necessidade de afastamento ou restrição: ○ … por XX dias ○ … definitivamente (cuidado!) ○ … até liberação definitiva ○ … até conclusão de investigação 5) Finalização: ● Observações final S/N ○ … devendo retornar à consulta em dd/mm/aaaa ○ … deverá retornar à consulta em NN (ene ene) dias ○ … devendo consultar a especialidade de ... ● Ciência e anuência do paciente ou responsável (assinatura ou recibo) ● Assinatura e identificação do médico (carimbo ou impresso) ● Data da emissão do atestado (legível) PERÍODO DE AFASTAMENTO ● Única e exclusivamente por critério médico (técnico) ● Desvinculado de INSS, CLT, Estatutos ou outros códigos e normas por ser parte do tratamento e não de questões administrativas. ● Não negociável ● Motivos justificáveis QUESTÕES PRÁTICAS Somente atestados de quinze ou mais dias deverão ser encaminhados ao INSS para perícia médica: DECRETO Nº 3.048 -DE 6 DE MAIO DE 1999 Art.75. Durante os primeiros quinze dias consecutivos de afastamento da atividade por motivo de doença, incumbe à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário. (Redação dada pelo Decreto nº 3.265, de 29/11/99) ● §1º Cabe à empresa que dispuser de serviço médico próprio ou em convênio o exame médico e o abono das faltas correspondentes aos primeiros quinze dias de afastamento. ● §2º Quando a incapacidade ultrapassar quinze dias consecutivos, o segurado será encaminhado à perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social. ● §3º Se concedido novo benefício decorrente da mesma doença dentro de sessenta dias contados da cessação do benefício anterior, a empresa fica desobrigada do pagamento relativo aos quinze primeiros dias de afastamento, prorrogando-se o benefício anterior e descontando-se os dias trabalhados, se for o caso. ● §4º Se o segurado empregado, por motivo de doença, afastar-se do trabalho durante quinze dias (NÃO CONSECUTIVOS), retornando à atividade no décimo sexto dia, e se dela voltar a se afastar dentro de sessenta dias desse retorno, fará jus ao auxílio doença a partir da data do novo afastamento. (Redação dada pelo Decreto nº 3.265, de 29/11/99). ● §5º Na hipótese do §4º, se o retorno à atividade tiver ocorrido antes de quinze dias do afastamento (NÃO CONSECUTIVOS), o segurado fará jus ao auxílio-doença a partir do dia seguinte ao que completar aquele período. (Parágrafo acrescentado pelo Decreto nº 4.729, de 9/06/2003) Qual o período máximo de afastamento que pode ser concedido pelo médico assistente? ● Depende do tratamento, EXCLUSIVAMENTE!● A Junta Médica de uma Instituição não deve suspeitar de atestado falso sem antes solicitar ao médico atestante explicações e os exames complementares feitos no paciente. Em relação ao número de dias, além de quinze, poderá avaliar a necessidade deles e após isto solicitar novo exame para diminuir ou aumentá-los, na própria junta médica da instituição. (PARECER CRM/MS n°24/2001) Pode o parecer do INSS ou outra instituição ser questionado? ● Segundo o Parecer N°15/95, do Conselho Federal de Medicina, aprovado em 6 de Abril de 1995: Por junta médica, latusensu, entende-se dois ou mais médicos encarregados de avaliar condições de saúde, diagnóstico, prognóstico, terapêutica, etc., que pode ser solicitada pelo paciente ou familiares, ou mesmo proposta pelo médico assistente. Quando com finalidade específica, administrativa, tem a missão de avaliar condições laborativas ou não e assim fundamentar decisões de admissão, retorno ao trabalho, afastamento para tratamento ou aposentadoria. ● Consideramos ser uma prerrogativa da Junta Médica acatar parcialmente ou in totum, ou até mesmo recusar a eficácia do atestado sem ser considerado infração ao Código de Ética Médica. A decisão da Junta ocorrerá após um bem fundamentado exame médico-pericial. (CONSULTA CRM-PB Nº14/99 ) Pode o médico atestar para si mesmo? ● [...] portanto, não apenas natural suspeição do comprometimento da veracidade do atestado médico, quando este trata sobre as próprias condições de saúde de quem subscreve, massa ainda, pela impraticabilidade de ajustamento aos procedimentos legais e às justificativas de ordem moral, resta-nos, tão-somente, desaconselhar e censurar tal prática. (PC/CFM/Nº29/1987) É obrigatória a aposição do carimbo do emitente no atestado? ● [...] um atestado médico para afastamento de trabalho seja escrito em folha de receituário médico com as indicações de nome, inscrição no CRM, endereço e especialidade do emitente, o que consolida a responsabilidade do mesmo, a aposição do carimbo serve apenas para reforçar esta identificação, ficando a critério exclusivo do médico. (PC/CFM/Nº44/1999) Pode o empregador recusar atestado médico de profissional alheio ao seu serviço? Lei 605/49: Art. 6º Não será devida a remuneração quando, sem motivo justificado, o empregado não tiver trabalhado durante toda a semana anterior, cumprindo integralmente o seu horário de trabalho. ● §1º São motivos justificados: ○ f) a doença do empregado, devidamente comprovada. ● §2º A doença será comprovada mediante atestado de médico da instituição da previdência social a que estiver filiado o empregado, e, na falta deste e sucessivamente, de médico do Serviço Social do Comércio ou da Indústria; de médico da empresa ou por ela designado; de médico a serviço de representação federal, estadual ou municipal incumbido de assuntos de higiene ou de saúde pública; ou não existindo estes, na localidade em que trabalhar, de médico de sua escolha. ● Assim, se a empresa negar eficácia ao atestado médico apresentado pelo empregado porque fornecido por profissional em desconformidade com a sequência relacionada na Lei n°605/49 estará agindo corretamente não implicando tal conduta em contestação sobre o seu conteúdo, idoneidade e veracidade de informações. RATIFICADO PELO PC/CFM/Nº56/2002 Pode o médico do trabalho negar ou alterar o tempo de afastamento de um atestado emitido por colega? ● Sim, ... de posse de atestado médico emitido por colega, deve examinar o paciente, avaliar o seu estado clínico e sua capacidade laborativa para só então decidir sobre o afastamento e o seu período de tempo, independentemente do contido no atestado referido; o médico do trabalho tem competência e poder de divergir do colega… ● […] médico do trabalho tem esse poder, mas deve lembrar-se de que assim agindo assumirá a responsabilidade sobre a recuperação do paciente. (PC/CFM/Nº49/2002) Pode o médico atestar para seus parentes? ● À exceção dos casos de perícia judicial, de tratamento de doença grave ou toxicomania, e de situações outras previstas em legislação específica, não está impedido de emitir atestado médico - parte integrante do ato ou tratamento médico - a pessoa da própria família (PC/CFM/Nº05/1991) O médico psiquiatra pode ou deve fornecer relatório psiquiátrico, às empresas, quando o paciente (funcionário) corre riscos e a empresa precisa ser informada? ● O artigo 105 do nosso Código de Ética diz: é vedado ao médico revelar informações confidenciais [...] salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade. Neste caso se justifica a quebra do segredo médico, mas o problema não é mais médico, é laboral, portanto deverá ser encaminhado à Justiça do Trabalho. Pode o médico assistente fazer diagnóstico de doença do trabalho, estabelecendo seu nexo? ● Sim, desde que observado o artigo 2º(caput e incisos) da Resolução CFM nº 1.488/98. ● Art. 2º: Para o estabelecimento do nexo causal entre os transtornos de saúde e as atividades do trabalhador, além do exame clínico (físico e mental) e os exames complementares, quando necessários, deve o médico considerar: (PC/CFM/Nº49/2002) ○ I - a história clínica e ocupacional, ○ II - o estudo do local de trabalho; ○ III - o estudo da organização do trabalho; ○ IV - os dados epidemiológicos; ○ V - a literatura atualizada; ○ VI - a ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a condições agressivas; ○ VII - a identificação de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos, estressantes e outros; ○ VIII - o depoimento e a experiência dos trabalhadores; ○ IX - os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais, sejam ou não da área da saúde.”