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Atendimento à Vítima Politraumatizada

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Abordagem inicial à vítima politraumatizada: Antes de falarmos sobre as prioridades no atendimento a uma vítima de evento traumático, precisamos entender basicamente como são e como funcionam as principais funções do corpo humano responsáveis pela manutenção da vida.
Todos os sistemas do corpo humano são importantes para vida, entretanto, alguns são imprescindíveis, e não podem ficar mais do que alguns minutos sem funcionar, pois isso levaria o indivíduo à morte. Aqui veremos os dois principais sistemas para manutenção da vida que é o sistema respiratório e o sistema cardiovascular.
· Vias aéreas superiores: Nariz (nasofaringe), boca (orofaringe) e hipofaringe.
· Vias aéreas inferiores: Traquéia, brônquios, bronquíolos e alvéolos.
· Caixa torácica: Formada pelo gradil costal e músculos, viabiliza os movimentos respiratórios.
· Pulmões: Recebem o sangue rico em CO2 e transformam em sangue rico em O2.
· Coração: Bombeia sangue por todo o corpo
Sistema respiratório: O sistema respiratório é responsável em captar ar oxigenado do meio ambiente em uma concentração de 21% (no nível do mar) e levá-lo até os alvéolos pulmonares, que são as estruturas mostradas e estão posicionados no final dos brônquios.
Em volta dos alvéolos estão os capilares alveolares, que são vasos por onde passa o sangue.
Durante o seu trajeto pela superfície do alvéolo há a difusão de O2 de dentro do alvéolo para o capilar e de CO2 para dentro do alvéolo, fenômeno que chamamos de hematose, assim o sangue fica oxigenado e é transportado por todo o corpo pelo sistema cardiovascular até as células mais distantes.
O O2 funciona como combustível para produção de energia para o funcionamento do corpo, sem ele as células começam a entrar em sofrimento e morrem.
Agora sabemos que para manutenção da vida, os sistemas respiratório e cardiovascular não podem parar de funcionar, o nosso organismo não aguentaria mais do que alguns minutos sem esses sistemas funcionando!
Esse princípio é o que nos norteia para estratificar as prioridades no atendimento da vítima em uma situação de emergência.
Vítima de trauma e vítima de mau súbito: É importante ressaltar que existem diferenças de prioridades entre o atendimento da vítima de trauma e o atendimento a uma vítima de mal súbito, as causas de morte são diferentes, por isso o protocolo é diferente.
Vítima de Trauma: O que leva uma vítima de trauma a uma parada cardiorrespiratória (PCR) é a hipóxia, ou seja, a falta de oxigênio nos tecidos, normalmente devido à obstrução das vias aéreas ou perda de volume de sangue (choque hipovolêmico).
Sendo assim, basicamente, as prioridades para atender uma vítima de trauma serão: via aérea, respiração e circulação (ABC).
Vítima de mal súbito: A vítima de mal súbito, na grande maioria das vezes, tem como causa primária de parada cardiorrespiratória uma arritmia cardíaca, isto é, primeiro o coração para de funcionar e imediatamente os outros sistemas.
As prioridades no atendimento à uma vítima de mal súbito será circulação, via aérea e respiração (CAB).
Por onde começar o atendimento desse indivíduo que foi atropelado? Um princípio básico a ser seguido, é não desviar a sua atenção para as lesões mais chamativas, por exemplo, tratar a fratura exposta, que não vai matá-lo, em curto prazo de tempo, e esquecer que ele pode estar inconsciente e com sangue obstruindo a via aérea.
Sendo assim devemos nos basear em uma sequência sistematizada, de acordo com as prioridades para avaliar e resolver os problemas encontrados.
Avaliação primária: A avaliação primária é dividida em seis etapas.
1. Impressão Geral: Nessa etapa, o socorrista fará uma avaliação global rápida (15 a 30 segundos) do estado respiratório e circulatório.
Ao se aproximar do doente, ele deverá observar se ele está respirando efetivamente, se está acordado ou não, se apresenta movimentos voluntários e coordenados e se há sangramento externo importante.
Pergunte à vítima: “O que aconteceu?”, se o indivíduo responder de forma coerente, significa que sua via aérea está pérvia, ou seja, não há nada que obstrua a passagem de ar pelo nariz boca e traqueia, que os pulmões conseguem aspirar ar para o seu interior e que a pressão sanguínea é suficiente para manter a irrigação cerebral adequada.
Isso não significa que essa vítima não esteja grave, entretanto, não serão necessárias medidas imediatas para manutenção da vida; imobilize a cabeça e faça uma inspeção para identificar lesões potencialmente graves.
Depois dessa avaliação você poderá decidir quais os recursos irá solicitar, de acordo com a rotina do seu serviço. Por exemplo, se a vítima não responde e tem muito sangue na cavidade oral, você poderá pensar na possibilidade de acionar um socorro aeromédico.
É o translado ou remoção de doentes graves, por meio de helicópteros ou aeronaves, de um ponto A para um outro ponto B, ou em situações em que o doente necessite de um transporte inter hospitalar que seja mais adequado por via aérea.
2. Avaliação da via aérea (air way): Nessa etapa, você verificará e garantirá a permeabilidade da via aérea da vítima assim como a estabilização da coluna cervical, sempre que possível, para não causar um segundo trauma.
Inspecione a cavidade oral e fique atento aos sons emitidos durante a respiração.
Uma via aérea obstruída emite sons ruidosos durante a respiração, cornagem (batimento da asa do nariz) e estridor.
A principal causa de obstrução da via aérea é a língua, que é um órgão muscular preso à mandíbula.
Ao ficar inconsciente, o indivíduo tem o relaxamento de toda a musculatura, inclusive desse órgão que “cai” sobre a hipofaringe obstruindo a passagem do ar.
3. Avaliação do padrão respiratório (Breath): Nesta etapa, você deverá garantir uma ventilação e oxigenação adequada para o paciente. A ventilação é o trabalho mecânico do tórax para gerar uma pressão pulmonar negativa para que o ar entre pelas vias aéreas.
A oxigenação é a entrada do oxigênio junto com o ar. Para uma vítima de trauma grave a concentração de O2 precisa ser maior do que a do ar ambiente.
4. Circulação (circulation): Nesta etapa, você irá avaliar a condição hemodinâmica da vítima, ou seja, se a parte circulatória está funcionando de forma adequada.
· A cor da pele;
· A temperatura e umidade da pele;
· Se há sangramento importante.
Se a vítima apresentar a pele fria, úmida e pálida, significa que há uma insuficiência circulatória, que nos casos de trauma, normalmente, são decorrentes de alguma hemorragia. A esse quadro damos o nome de choque, assunto que será visto na próxima aula.
As vítimas com sinais de choque que não apresentam sangramento externo provavelmente têm hemorragias internas, que só podem ser tratadas no hospital, dentro do centro cirúrgico, sendo assim, para esses indivíduos o melhor tratamento é o transporte rápido.
5. Disfunção neurológica: Nessa etapa do exame, o socorrista deverá avaliar o nível de consciência da vítima, poderá elaborar perguntas simples como: “Você lembra o que aconteceu? Sabe que dia é hoje?”
As vítimas que apresentam qualquer alteração do nível de consciência são consideradas graves.
6. Exposição e controle da hipotermia: Agora você deverá expor as partes da vítima que aparentam ter lesões, por exemplo, caso você veja que há uma deformidade na região do corpo, ou a roupa esteja suja de sangue.
Após examinar a área você deverá aquecer o paciente com manta térmica.
Avaliação secundária: A avaliação secundaria só deverá ser feita após a avaliação primária e as medidas salvadoras (abertura de vias aéreas com imobilização da cabeça, ventilação e oxigenioterapia, controle de hemorragias externas), caso haja tempo.
Nessa fase do exame, o socorrista deverá inspecionar da cabeça aos pés buscando por lesões potencialmente graves que ainda não foram observadas e a coleta do histórico do paciente.
Utilizamos o mneumônico SAMPLA: 
 
· Sintomas;
· Alergias;
· Medicações;
· Passado médico;
· Líquidos e alimentos ingeridos;
· Ambiente (eventos que levaram ao trauma).
 
O objetivo dessa abordagem sistematizada é identificar condiçõesque ofereçam risco de morte à vítima e tratá-las conforme sua prioridade, otimizando o tempo em cena.
Devemos lembrar que o tratamento definitivo deste doente é no hospital, sendo assim, quanto mais rápido for seu transporte adequado, melhor será seu prognóstico e mais chances teremos de salvá-lo com o menor número de sequelas possíveis.
 
START (Simple Triage and Rapid Treatment)
Quando você se depara com um evento que apresenta uma quantidade de vítimas maior do que a sua capacidade de atendimento, chamamos de Acidente com Múltiplas Vítimas (AMV) e, nessas situações, seguimos outra lógica de atendimento.
A sequência ABCDE não é utilizada nessas situações, pois a prioridade não é salvar o mais grave e sim salvar o maior número de vítimas, para isso utilizamos o protocolo START (Simple Triage and Rapid Treatment).
Nesse protocolo, o primeiro indivíduo que chega a cena, irá apenas fazer a triagem das vítimas, uma a uma. Serão avaliados a respiração, a circulação e o nível de consciência.

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