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LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA CLÍNICA TEMPO DE PROTROMBINA ALGETEC – SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO CEP: 40260-215 Fone: 71 3272-3504 E-mail: contato@algetec.com.br | Site: www.algetec.com.br TEMPO DE PROTROMBINA A coagulação do sangue é um processo sequencial de reações químicas e enzimáticas, envolvendo proteínas plasmáticas, fosfolipídeos e cálcio ionizado (Ca2+). Os participantes desse processo são denominados fatores de coagulação, e podem ser divididos em três grupos: 1) Grupo de fatores associados ao fibrinogênio: inclui os fatores I, V, VIII e XIII, que são consumidos durante o processo de coagulação. 2) Grupo de fatores associados à protrombina: inclui os fatores II, VII, IX e X, que são dependentes da vitamina K, permanecendo estáveis no plasma armazenado, sendo inibidos pela varfarina. 3) Grupo de fatores de contato: inclui os fatores XI, XII, pré-calicreína e HMWK, que atuam na via intrínseca da coagulação, não sendo consumidos durante o processo (COLMAN, 2006). Muitas reações químicas ocorrem no processo de hemostasia, desde o estímulo inicial que desencadeou o sangramento até a formação final de um coágulo estável. Para melhor compreensão, o processo geral da coagulação foi dividido didaticamente em duas vias: extrínseca e intrínseca. Essas vias não funcionam separadamente na atividade fisiológica da hemostasia, mas permitem o agrupamento de defeitos individuais dos fatores, assim como o enfoque nos ensaios laboratoriais. O início da coagulação pode ocorrer por uma das vias, mas, independentemente da via inicial, ambas convergem em uma fase final comum (ativação do fator X). O resultado desse processo é a conversão dos fatores de coagulação circulantes em um coágulo estável de fibrina com células sanguíneas aprisionadas (coágulo sanguíneo). À mailto:contato@algetec.com.br LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA CLÍNICA TEMPO DE PROTROMBINA ALGETEC – SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO CEP: 40260-215 Fone: 71 3272-3504 E-mail: contato@algetec.com.br | Site: www.algetec.com.br medida que o tecido danificado é reparado, o coágulo é lisado em partículas menores, que são removidas pelo sistema fagocítico-mononuclear (MONROE; HOFFMAN, 2006). A via extrínseca da coagulação é iniciada pela entrada de tromboplastina tecidual no sangue circulante. Essa molécula é derivada de fosfolipoproteínas e membranas de organelas das células que foram danificadas no tecido. Essas lipoproteínas de membrana são denominadas, em conjunto, fator tecidual, e são normalmente extrínsecas à circulação (daí o nome dessa via). O fator VII se liga ao fator tecidual presente nas membranas celulares do tecido danificado, sendo convertido no fator VIIa, uma enzima de atividade elevada capaz de converter o fator X em Xa na presença de cálcio ionizado. A atividade do complexo fator tecidual-fator VII é dependente da concentração de tromboplastina tecidual. A clivagem proteolítica do fator VIIa pelo fator Xa resulta na inativação desse fator. As membranas liberadas na lesão que entram na circulação também fornecem uma superfície para a fixação e ativação dos fatores II e V (FERREIRA et al., 2010). Figura 1 – Vias intrínseca e extrínseca da coagulação. Fonte: Elaborada pelo autor (2021). mailto:contato@algetec.com.br LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA CLÍNICA TEMPO DE PROTROMBINA ALGETEC – SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO CEP: 40260-215 Fone: 71 3272-3504 E-mail: contato@algetec.com.br | Site: www.algetec.com.br O tempo de protrombina (TP), ou tempo de Quick, é o teste de triagem de maior importância clínica na avaliação de distúrbios da via extrínseca da coagulação. Sua sensibilidade a alterações qualitativas e quantitativas de fatores da via extrínseca e comum da coagulação permite que seja usado nos seguintes casos: a) Detecção de deficiências simples ou combinadas de fatores de coagulação, devido a distúrbios hereditários ou adquiridos (doença hepática, deficiência de vitamina K, entre outras). b) Triagem pré-operatória. c) Determinação específica da atividade dos fatores II, V, VII e X. d) Monitoramento da terapia com anticoagulantes orais, devido a sua sensibilidade aos fatores dependentes da vitamina K (II, VII e X) (REIS et al., 2005). Essa metodologia se baseia na medição do tempo de formação do coágulo de fibrina, pela adição de uma tromboplastina cálcica a um plasma citratado. O resultado primário desse teste é expresso em segundos, sendo que a faixa de normalidade varia de 10-14 segundos, com atividade > 60%. No entanto, a utilização de fontes de tromboplastina diferentes por parte dos fabricantes leva ao aparecimento de variações amplas nos resultados obtidos. Nesse sentido, foi criado um método de padronização que visa a corrigir essas variações da técnica, consistindo na expressão dos resultados utilizando a relação normalizada internacional (RNI). A importância desse parâmetro está em sua utilidade na avaliação da eficácia dos tratamentos profiláticos com anticoagulantes orais com antagonistas da vitamina K, tendo pouca utilidade em outros estados de coagulopatia, como a insuficiência hepática. Para o cálculo da RNI, precisam ser obtidos os seguintes parâmetros: • TP do paciente: obtido pela análise de uma amostra de plasma citratado, expresso em segundos. • TP controle: obtido pela mistura de três amostras de plasma citratado de pacientes considerados normais, expresso em segundos. Esse pool de plasmas pode ser dividido em alíquotas e congelado a –20°C por até duas mailto:contato@algetec.com.br LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA CLÍNICA TEMPO DE PROTROMBINA ALGETEC – SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO CEP: 40260-215 Fone: 71 3272-3504 E-mail: contato@algetec.com.br | Site: www.algetec.com.br semanas, ou a –70°C por até 6 meses. A determinação de TP controle precisa ser realizada individualmente com cada lote de reagente de tromboplastina utilizado para o teste. Junto com o valor de TP da amostra do paciente, é utilizado para calcular R (relação dos tempos de protrombina). • Valor ISI (índice de sensibilidade internacional): relação da tromboplastina comercial comparada com a tromboplastina controle da OMS. Os valores precisam ser próximos de 1,0 e são informados na etiqueta de cada frasco comercial de tromboplastina. 𝑅 = 𝑇𝑃𝑝𝑎𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑇𝑃𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙𝑒 𝑅𝑁𝐼 = 𝑅𝐼𝑆𝐼 Dependendo da condição de cada paciente, os valores de RNI esperados após o tratamento com anticoagulantes orais são mostrados na Tabela 1. Indicação terapêutica RNI Alvo Variação Anticoagulação pré e perioperatória (iniciada com antecedência de 2 semanas): ● Cirurgia de costela ● Outras cirurgias 2,5 2,0 2,0-3,0 1,5-2,5 Prevenção de trombose venosa primária ou secundária 2,5 2,0-3,0 Trombose venosa ativa, embolia pulmonar, prevenção de trombose venosa recorrente 3,0 2,0-4,0 Prevenção de tromboembolia arterial e portadores de válvulas cardíacas mecânicas 3,5 3,0-4,5 Tabela 1 – Valores da RNI em pacientes com tratamento anticoagulante. Fonte: Adaptada de Labtest (2006). mailto:contato@algetec.com.br LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA CLÍNICA TEMPO DE PROTROMBINA ALGETEC – SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO CEP: 40260-215 Fone: 71 3272-3504 E-mail: contato@algetec.com.br | Site: www.algetec.com.br Um dos fatores determinantes para a obtenção de testes de TP que apresentem resultados fidedignos corresponde à amostra de plasma coletada de forma correta. Para isso, o sangue precisa ser coletado com citrato trissódico 109mM (3,2%), em tubo plástico ou de vidro siliconado. No momento da punção, é preciso evitar o uso de garrote por tempo prolongado, priorizando as amostras coletadas de forma atraumática. Dessa forma, as amostras não entram em contato com o fator tecidual do paciente. As amostras precisam ser analisadas pouco tempoapós a coleta, podendo ser mantidas a temperatura ambiente por até 4 horas ou congeladas a –20°C por 2 semanas, ou por 6 meses a –70°C. A execução do teste pode ser feita de várias formas, desde a análise manual até ensaios automatizados. Contudo, independentemente da metodologia, o fundamento da técnica permanece inalterável: formação de um coágulo de fibrina após a mistura de plasma citratado e tromboplastina cálcica. Para isso, é importante que todos os componentes, incluindo os equipamentos, estejam estabilizados a 37°C. Uma das metodologias mais amplamente utilizadas para a determinação do TP é o coagulômetro com detector magnético. Para isso, são necessárias cubetas plásticas contendo pequenas esferas ou barras magnéticas, que serão utilizadas para manter a reação em agitação (Figura 2A). O coagulômetro apresenta uma área de trabalho que mantém os reagentes, as amostras e a reação a 37°C, e uma micropipeta acoplada ao equipamento, que permite dar início à contagem do tempo da reação após a aplicação da tromboplastina (Figura 2B). Figura 2 – Coagulômetro automático. A) Cubeta plástica com barra magnética. B) Principais componentes do coagulômetro. Fonte: Adaptada de Centerlab (2021). mailto:contato@algetec.com.br LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA CLÍNICA TEMPO DE PROTROMBINA ALGETEC – SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO CEP: 40260-215 Fone: 71 3272-3504 E-mail: contato@algetec.com.br | Site: www.algetec.com.br O fundamento utilizado pelo coagulômetro se baseia na detecção magnética do movimento da barra que se encontra no interior da cubeta plástica. Em fase líquida, a barra magnética se encontra em constante movimento, misturando os componentes da reação. Quando o coágulo de fibrina é formado, após a adição da tromboplastina, a barra magnética detém sua movimentação, mudança reconhecida pelo detector do equipamento. Dessa forma, o TP obtido no coagulômetro corresponde ao tempo, em segundos, que vai desde a aplicação da tromboplastina com a pipeta automática até a formação do coágulo detectada pelo equipamento. A realização do TP de forma manual apresenta o mesmo fundamento, diferenciando-se nos seguintes aspectos: as amostras e o reagente são estabilizados a 37°C em banho-maria, após a mistura dos reagentes; o tempo precisa ser controlado de forma manual; e a formação do coágulo de fibrina, no final do teste, é observada pelo operador. Em termos gerais, o cálculo de R e RNI, em amostras analisadas com uso de coagulômetro ou pela técnica manual, não deveria apresentar variações. mailto:contato@algetec.com.br LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA CLÍNICA TEMPO DE PROTROMBINA ALGETEC – SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO CEP: 40260-215 Fone: 71 3272-3504 E-mail: contato@algetec.com.br | Site: www.algetec.com.br REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CENTERLAB – CENTRAL DE LABORATÓRIOS LTDA. Coagmaster 4.0. 2021. 1 fotografia. Disponível em: https://centerlabsp.com.br/produtos/hematologia/equipamentos- hematologia/coagulometro-coagmaster-4-0-wama-diagnostica. Acesso em: 4 jul. 2021. COLMAN, R. W. 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Acesso em: 2 jun. 2021. mailto:contato@algetec.com.br https://centerlabsp.com.br/produtos/hematologia/equipamentos-hematologia/coagulometro-coagmaster-4-0-wama-diagnostica https://centerlabsp.com.br/produtos/hematologia/equipamentos-hematologia/coagulometro-coagmaster-4-0-wama-diagnostica https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16533890/ https://www.scielo.br/j/rbhh/a/rDLP3JcrWkbWpQWrCLBpyNL/?lang=pt http://labtest.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Ref_501_por_RevNovembro2006_Ref170309.pdf http://labtest.com.br/wp-content/uploads/2016/09/Ref_501_por_RevNovembro2006_Ref170309.pdf https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16254201/ LABORATÓRIO DE HEMATOLOGIA CLÍNICA TEMPO DE PROTROMBINA ALGETEC – SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS EM EDUCAÇÃO CEP: 40260-215 Fone: 71 3272-3504 E-mail: contato@algetec.com.br | Site: www.algetec.com.br REIS, P. R. M. et al. Avaliação da determinação do tempo de protrombina em amostras de sangue colhidas por duas diferentes técnicas. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 41, n. 4, p. 251-255, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbpml/a/3FxwrtwNS3Yx86T8N6rTJ6R/abstract/?lang=pt. Acesso em: 2 jun. 2021. mailto:contato@algetec.com.br https://www.scielo.br/j/jbpml/a/3FxwrtwNS3Yx86T8N6rTJ6R/abstract/?lang=pt