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Antropologia Rural e Urbana - UNIASSELVI

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Prévia do material em texto

Urbana
Prof.ª Andressa Lídicy Morais Lima
antropologia 
rUral e
Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Andressa Lídicy Morais Lima
Copyright © UNIASSELVI 2022
 Revisão, Diagramação e Produção:
Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
Impresso por:
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.
Núcleo de Educação a Distância. LIMA, Andressa Lídicy Morais.
Antropologia Rural e Urbana. Andressa Lídicy Morais Lima. Indaial - SC: 
UNIASSELVI, 2022.
200p.
ISBN 978-85-515-0614-1
ISBN Digital 978-85-515-0615-8
“Graduação - EaD”.
1. Antropologia 2. Rural 3. Urbana 
CDD 306.981
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Prezado acadêmico! Bem-vindo à disciplina de Antropologia Rural e Urbana. 
Este é o nosso livro didático, material elaborado com o objetivo de auxiliar e contribuir 
para a formação profissional e o avanço nos seus estudos. Este material lhe ajudará 
a conhecer um universo de muito conhecimento a respeito da vida social entre grupos 
humanos, a antropologia se caracteriza pelo estudo da diversidade dos modos de 
vida, nos proporciona um conhecimento vasto acerca das diferentes línguas, hábitos 
culturais, religiões, formas de direito, sentidos de justiça, artes, modos de existir e 
construir relações entre grupos sociais pertencentes a localidades distintas. Por isso, 
você pode usar este material como base para iniciar a sua imersão em um conteúdo que 
hoje pode parecer muito familiar, como é a cidade, a vida urbana ou a vida rural, suas 
formas de organização social, mas aqui você poderá conhecer um pouco do relevante 
processo histórico de formação e transformação da vida humana a partir dos fenômenos 
rural e urbano e das suas interferências e interfaces. 
Na Unidade 1, abordaremos como ponto de partida os estudos do urbano, isto 
porque a maneira como a antropologia brasileira se desenvolveu passou por diferentes 
expectativas de construção e aplicação de pesquisas marcadas substancialmente pelo 
acontecimento da Revolução Industrial e do sistema capitalista. Logo, cidade, urbano 
e indivíduo fazem parte de um conjunto de categoriais de análise para compreender o 
que é Antropologia Urbana.
Em seguida, na Unidade 2, estudaremos a Antropologia Rural, durante muito 
tempo essa subárea ficou conhecida como “sociedades camponesas”. Seu estudo 
procura se relacionar por contraponto ao urbano. Abordaremos um retrato da grande 
diversidade social e cultural que há no rural brasileiro. A dimensão antropológica dessa 
área de estudos permitirá o entendimento dos indivíduos que habitam os campos, seus 
conflitos, seus saberes e suas lutas pelo direito à terra. 
Por fim, na Unidade 3, estudaremos a relação entre os estudos urbanos e 
rurais, sabendo que as transformações que ocorrem tanto no rural quanto no urbano 
interferem uma na outra. Será possível entender como vários aspectos de uma cultura 
estão interligados a diferentes modos de existir, assim percebidas a interface entre rural e 
urbano como produtora de uma riqueza de modos de vida e de conflitos sociais. 
 
Neste livro você encontrará os conteúdos que lhe serão úteis para sua 
formação. Entretanto, lembre-se que o conhecimento é uma fonte inesgotável e aqui 
é um bom ponto de partida para você navegar pela Antropologia Rural e Urbana tendo 
como perspectiva que essas reflexões despertem o desejo pelo conhecimento, pela 
investigação antropológica, pela leitura de etnografias de temas que estão movendo os 
debates contemporâneos. 
APRESENTAÇÃO
Sabemos que neste livro será apresentado um conjunto de abordagens, escolas 
de pensamento, categorias de análise e linhas de pesquisa, fornecendo assim um mapa 
para facilitar a compreensão deste tema tão desafiador. Aproveite e navegue pelos 
estudos antropológicos. 
Desejo a você um bom estudo e que as leituras deste livro ampliem seus 
horizontes na busca por sempre renovar o interesse pelo conhecimento. 
Boa leitura! 
Prof.ª Andressa Lídicy Morais Lima
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – 
e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR 
Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite 
que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, 
é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
GIO
Olá, eu sou a Gio!
No livro didático, você encontrará blocos com informações 
adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento 
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender 
melhor o que são essas informações adicionais e por que você 
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações 
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais 
e outras fontes de conhecimento que complementam o 
assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos 
os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. 
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um 
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na 
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada 
também digital, em que você pode acompanhar os recursos 
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo 
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura 
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no 
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que 
também contribui para diminuir a extração de árvores para 
produção de folhas de papel, por exemplo.
Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, 
apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, 
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com 
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
Preparamos também um novo layout. Diante disso, você 
verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses 
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos 
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, 
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os 
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
QR CODE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 — ANTROPOLOGIA URBANA ................................................................... 1
TÓPICO 1 — CONTEXTO: O URBANO, AS CIDADES E OS SUJEITOS ..................... 3
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3
2 O URBANO ........................................................................................................... 6
3 AS CIDADES ....................................................................................................... 10
4 OS SUJEITOS .................................................................................................... 15
RESUMO DO TÓPICO1 .......................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................20
TÓPICO 2 — ENTRE ESCALAS E ESCOLAS DE ETNOGRAFIA URBANA .............23
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................23
2 ESCOLA DE CHICAGO .......................................................................................24
3 ESCOLA DE MANCHESTER ............................................................................... 31
RESUMO DO TÓPICO 2 ..........................................................................................39
AUTOATIVIDADE .................................................................................................. 40
TÓPICO 3 — MOVIMENTOS SOCIAIS, SUBCULTURAS E IDENTIDADES 
URBANAS .........................................................................................43
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................43
2 MOVIMENTOS SOCIAIS E SUBCULTURAS URBANAS .................................... 44
3 IDENTIDADES URBANAS .................................................................................. 51
LEITURA COMPLEMENTAR ..................................................................................58
RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................63
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................64
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 67
UNIDADE 2 — ANTROPOLOGIA RURAL .................................................................71
TÓPICO 1 — CONCEITOS E TRADIÇÕES TEÓRICAS NOS ESTUDOS DE 
CAMPESINATO E DA RURALIDADE .................................................. 73
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 73
2 OS ESTUDOS DO RURAL NA FORMAÇÃO DA ANTROPOLOGIA BRASILEIRA ......75
3 OS ESTUDOS DE COMUNIDADE ........................................................................89
RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................93
AUTOATIVIDADE ...................................................................................................94
TÓPICO 2 — POVOS TRADICIONAIS E SEUS MODOS DE USO E OCUPAÇÃO 
DO ESPAÇO RURAL .......................................................................... 97
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 97
2 ANTROPOLOGIA RURAL NO BRASIL ...............................................................102
3 CAMPESINATO .................................................................................................106
4 COMUNIDADES TRADICIONAIS ......................................................................109
4.1 INDÍGENAS ..........................................................................................................................111
4.2 QUILOMBOLAS .................................................................................................................. 114
4.3 CAIÇARAS .......................................................................................................................... 115
4.4 RIBEIRINHOS ..................................................................................................................... 116
RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................119
AUTOATIVIDADE .................................................................................................120
TÓPICO 3 — ORGANIZAÇÕES ECONÔMICAS, RELAÇÕES SOCIAIS E 
MORALIDADES NO MUNDO RURAL ............................................... 123
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 123
2 TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE ...............................................................124
3 IDENTIDADE, TERRITÓRIO E NOVAS QUESTÕES DO MUNDO RURAL .......... 126
LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................131
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 136
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 137
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 139
UNIDADE 3 — RELAÇÃO ENTRE O RURAL E O URBANO ...................................143
TÓPICO 1 — O CONTINUUM ENTRE O URBANO E O RURAL NA PRODUÇÃO 
DE IDENTIDADES SOCIAIS .............................................................145
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................145
2 ALGUMAS CATEGORIAS ANALÍTICAS ............................................................ 147
3 O RURAL E O MODERNO ................................................................................... 153
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................158
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 159
TÓPICO 2 — MODOS DE PRODUÇÃO, CONSUMO E USO DE RECURSOS ...........161
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................161
2 MODOS DE PRODUÇÃO .................................................................................... 163
3 MORALIDADES ENTRE O RURAL E URBANO .................................................. 166
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................ 176
AUTOATIVIDADE ..................................................................................................177
TÓPICO 3 — A QUESTÃO AMBIENTAL: TENSÕES, FRONTEIRAS E DISPUTAS ........ 179
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 179
2 NOVAS RURALIDADES .................................................................................... 181
3 NOVAS URBANIDADES ...................................................................................184
LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................188
RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................194
AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 195
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 199
1
UNIDADE 1 — 
ANTROPOLOGIA URBANA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 identificar	 a	 formação	 da	 antropologia	 urbana	 a	 partir	 dos	 estudos	 de	 diferentes	
contextos,	grupos	sociais	e	tempos	históricos;
•	 estudar	as	escolas	clássicas	como	a	Escola	de	Chicago	e	a	Escola	de	Manchester	
permitirá	compreender	as	contribuições	metodológicas	que	suas	pesquisas	oferecem	
aos	estudos	do	rural	e	do	urbano	e	suas	implicações	para	nossa	a	sociedade	contem-
porânea;
•	 dominar	as	categorias	centrais	do	campo	como	o	conceito	de	 “cidade”,	 “metrópole”,	
“vida	urbana”	e	“tribos	urbanas”;
•	 relacionar	os	elementos	conceituais	com	a	aplicação	em	estudos	etnográficos	para	
entender	 os	 efeitos	 das	 aglomerações,	 moradias,	 jornadas	 intensas	 de	 trabalho,	
precarização	da	mão	de	obra	nas	novas	formas	de	organização	social	da	vida	urbana.
	 A	cada	tópico	desta	unidade	você	encontrará	autoatividadescom	o	objetivo	de	
reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	CONTEXTO:	O	URBANO,	AS	CIDADES	E	OS	SUJEITOS
TÓPICO	2	–	ENTRE	ESCALAS	E	ESCOLAS	DE	ETNOGRAFIA	URBANA
TÓPICO	3	–	MOVIMENTOS	SOCIAIS,	SUBCULTURAS	E	IDENTIDADES	URBANAS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
CONTEXTO: O URBANO, AS CIDADES 
E OS SUJEITOS
TÓPICO 1 — UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO 
A	 antropologia	 se	 consolidou	 a	 partir	 de	 importantes	 estudos	 etnográficos	 do	
final	 do	 século	 XIX.	 Neles,	 os	 antropólogos	 dedicavam-se	 ao	 estudo	 aprofundado	 de	
diversas	sociedades,	tomando	como	premissa	entender	a	diversidade	dos	modos	de	vida	
em	relação	com	a	da	sociedade	do	pesquisador.	Assim,	as	ricas	etnografias	clássicas	da	
antropologia	colocavam	em	evidência	um	conjunto	robusto	de	descrições	dos	povos	com	os	
quais	conviveram	em	suas	pesquisas,	um	exemplo	desse	tipo	de	trabalho	é	o	centenário	
“Os	Argonautas	do	Pacífico	Ocidental:	um	relato	do	empreendimento	e	da	aventura	dos	
nativos	 nos	 Arquipélagos	 da	 Nova	 Guiné	 Melanésia”	 do	 antropólogo	 polonês	 Bronislaw	
Malinowski,	publicado	em	1922.	Acadêmico,	a	seguir	você	verá	uma	imagem	do	antropólogo	
Malinowski	interagindo	entre	trobriandeses	durante	sua	pesquisa	de	campo.	
Figura 1 – Argonautas do pacífico ocidental
Fonte: https://bit.ly/3J5hYw6. Acesso em: 20 jul. 2022.
Naquela	época	as	 investigações	antropológicas	concentravam-se	nos	estudos	
de	diferentes	sociedades	ao	redor	do	mundo	e	seus	modos	de	viver.	Aquelas	sociedades	
que	não	pertenciam	à	civilização	ocidental	foram	caracterizadas	como	“sociedades	de	
pouco	contato”,	 cuja	 tecnologia	não	era	considerada	desenvolvida	ou	que	havia	baixa	
divisão	do	trabalho	social.	Tais	povos	que	ali	habitavam	foram	chamados	em	diferentes	
momentos	históricos	de	“primitivos”,	“sociedades	simples”,	“arcaicos”	ou	“sociedades	frias”,	
sempre	em	comparação	com	as	chamadas	“sociedade	complexas”	–	aquelas	consideradas	
“civilizadas”,	“sociedades	modernas”	ou	“sociedades	quentes”.	
4
Quer saber mais a respeito de um dos livros mais importantes 
da história da Antropologia? Assista ao vídeo das “Aulas abertas: 
teorias e histórias da antropologia – o centenário de argonautas”. 
Promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia 
Social da Universidade Federal de Campinas (UNICAMP), com a 
presença da Prof.ª Dra. Mariza Peirano (Universidade de Brasília): 
https://bit.ly/3osZpsv.
DICA
Acadêmico,	 neste	momento,	 você	 pode	 se	 perguntar:	 quais	 seriam	 então	 essas	
“sociedades	quentes”?	Pois	bem,	já	adiantamos	a	você:	são	aquelas	das	quais	pertenciam	
os	pesquisadores	e	antropólogos.	Além	disso,	é	 importante	que	você	saiba	que	ambos	os	
termos,	sociedades	“frias”	e	“quentes”,	foram	introduzidos	pelo	antropólogo	francês	Claude	
Lévi-Strauss,	na	tentativa	de	 identificar	e	classificar	as	estruturas	 inconscientes	básicas	
que	definiriam	as	culturas	humanas.	Assim,	aquelas	sociedades	que	estavam	mais	perto	
do	estado	de	natureza	cujo	volume	de	pessoas	era	menor	e	embora	dinâmicas	nutriam	
resistência	às	mudanças	culturais	 foram	chamadas	de	sociedades	frias	ou	simples.	Por	
outro	 lado,	 as	 sociedades	quentes	 ou	 complexas	 são	 aquelas	marcadas	pelos	 processos	
industriais	e	que	foram	afetadas	pela	globalização,	pelo	progresso	e	apresentam	maior	
desarmonia	e	conflitos	de	desordem	social,	possuem	ainda	entre	suas	características	o	
grande	contingente	populacional,	históricas,	estão	mais	distantes	do	estado	de	natureza.	
No	entanto,	 essas	terminologias	passaram	por	 revisões	críticas	dentro	da	própria	
disciplina	 e	 tem	 procurado	 no	 contexto	 contemporâneo	 não	 se	 referir	 aos	 povos	 cujas	
culturas	 se	 diferenciam	da	nossa	de	 “primitivos”,	 entendendo	que	 isto	 é	 uma	 forma	de	
etnocentrismo.	Aliás,	importante	conceito	antropológico	que	será	muito	utilizado	em	
nosso	entendimento	acerca	da	Antropologia	Rural	e	Urbana.	
Abordaremos o estudo da Antropologia Rural em nossa próxima unidade.
ESTUDOS FUTUROS
De	acordo	com	o	antropólogo	Everardo	Rocha	(1988),	etnocentrismo	é	uma	visão	
de	mundo,	na	qual	a	pessoa	toma	seu	próprio	grupo	como	ponto	de	partida	para	avaliar	
e	medir	valores,	hábitos	e	modelos	de	existências	como	se	fossem	superiores,	melhores	
ou	os	mais	corretos	a	serem	seguidos	e	assim	passa	a	negar	a	existência	da	diversidade.	
Cabe	ainda	destacar	que	o	etnocentrismo	é	uma	característica	presente	em	
qualquer	sociedade	ou	grupo	social,	pois	todas	elas	tendem	a	olhar	umas	para	as	outras	
a	partir	de	si	próprias.	
5
A	partir	disso,	outro	importante	conceito	antropológico	merece	atenção:	trata-se	do	
relativismo.	 Este	 conceito	 possibilita	 o	 conhecimento	da	diversidade, entendendo	
os	seus	próprios	valores	e	contextos,	nos	quais	se	realizam,	portanto,	no	encontro	com	
o	“Outro”	e	com	a	diferença.	Assim,	o	relativismo	cultural	nos	auxilia	a	não	hierarquizar	
ou	 emitir	 juízos	 de	valor	 que	 estejam	 investidos	 de	 preconceitos.	 É	 importante	 lembrar	
que	esse	Outro	se	trata	daqueles	que	não	pertencem	à	mesma	cultura	que	o	“nós”	do	
pesquisador.	
O	etnocentrismo	é	produto	do	Ocidente,	que	toma	seu	estágio	de	desenvolvimento	
científico	e	tecnológico	como	o	de	maior	grau	em	desenvolvimento	humano,	ao	fazer	 isto	
analisa	outras	sociedades	de	modo	a	hierarquizá-las	partindo	de	suas	próprias	categorias,	
valores	 e	 conhecimento	 (LÉVI-STRAUSS,	 1993).	 Assim,	 uma	 crítica	 contundente	 ao	
evolucionismo	praticado	na	antropologia,	permitirá	entender	que	 "existem	nas	sociedades	
humanas,	 simultaneamente	 em	 elaboração,	 forças	 trabalhando	 em	 direções	 opostas:	
umas	tendem	à	manutenção,	e	mesmo	à	acentuação	dos	particularismos;	as	outras	agem	
no	sentido	da	convergência	e	da	afinidade"	(LÉVI-STRAUSS,	1993,	p.	331).	
Ao	 adotarmos	 o	 pensamento	 relativista	 compreendemos	 que	 a	 diversidade	
deixaria	 de	 ser	 entendida	 com	 base	 em	 processos	 evolutivos	 e	 passaria	 a	 ser	 vista	
de	uma	perspectiva	de	valorização	da	diferença,	respeitando	suas	configurações	e	as	
possibilidades	de	relações	de	culturas	entre	si.	
No	Brasil,	a	antropologia	tem	uma	 longa	trajetória	de	pesquisas	versadas	em	
estudos	 de	 populações	 indígenas,	 grupos	 rurais,	 grupos	 urbanos	 e	 aqueles	 grupos	
definidos	conforme	a	divisão	de	classes	sociais	 (MELLATI,	 1983;	OLIVEN;	2007).	Essa	
característica	é	 importante	por	nos	aproximar	de	nossa	própria	disciplina	aqui	estudada:	
Antropologia	Rural	e	Urbana.	A	relação	entre	o	eu	e	o	outro	ganha	agora	novos	contornos	
analíticos	que	privilegiam	a	perspectiva	da	alteridade.	
Do	 ponto	 de	 vista	 antropológico	 a	 alteridade	 significa	 que	 o	 “eu”	 só	 pode	
ser	 entendido	 a	 partir	 da	 interação	 que	 estabelece	 com	 o	 “outro”,	 tal	 categoria	 é	
frequentemente	usada	como	definidora	da	própria	antropologia,	por	colocar	em	foco	
a	importância	de	estudarmos	as	diferenças	entre	várias	culturas,	sociedades	e	grupos	
sociais	 com	o	 interesse	de	conhecermos	e	estabelecermos	uma	 relação	de	 respeito	
mútuo	e	aprendizado	moral	a	partir	das	diferenças.	
Desse	 modo,	 os	 estudos	 de	 diferentes	 contextos,	 grupos	 sociais	 e	 tempos	
históricos	permitirá	compreender	as	contribuições	dos	estudos	do	rural	e	do	urbano	e	
suas	implicações	para	nossa	a	sociedade	contemporânea.	As	especificidades	que	estão	na	
descrição	de	grupos	sociais	como	jovens	e	tribos	urbanas	nos	permitem	conhecer	suas	
práticas,	consumo,	formas	de	lazer	na	cidade	e	no	mundo	urbano,	ao	mesmo	tempo	em	
que	é	possível	conhecermos	os	campesinos,	seus	processos	de	trabalho	no	campo,	suas	
culturas	de	 subsistência	bem	como	seus	 rituais	 festivos.	 E,	finalmente,	 na	 interação	
entre	esses	universos	vastos	de	pesquisas	e	experiências	vividas	podemos	ainda	descobrir	
o	fio	invisível	que	permanece	ligando	essas	interações	entre	o	rural	e	o	urbano	no	mundo	
contemporâneo.6
Nesse	sentido,	o	antropólogo	em	campo	busca	 reunir	um	vasto	material	que	
possa	 registrar	as	diferenças	entre	essas	populações	de	acordo	com	a	observação	da	
organização	social,	do	sistema	de	parentesco,	do	 idioma	daquela	população,	o	modo	
como	manejam	alimentos,	a	maneira	de	se	relacionar	com	os	animais,	as	práticas	rituais	
de	magia	e	 religião,	 seus	sentidos	de	 justiça	e	direito,	 assim	como	diferentes	outros	
aspectos	 da	 vida	 social	 de	 um	 povo,	 sempre	 respeitando	 suas	 diferenças.	 A	 partir	
dessas	considerações	iniciais	e	da	breve	apresentação	desses	conceitos	elementares	e	
definidores	do	campo	da	antropologia,	nos	Tópico	2	e	3,	abordaremos	mais	diretamente	o	
urbano	e	o	surgimento	da	Antropologia	Urbana.	
Sistema de parentesco: conforme bom apontamento da 
antropóloga Cynthia Sarti (1992, p. 71) quando falamos em 
sistemas de parentesco na antropologia estamos nos referindo as 
estruturas formais de relação social, que resultam da combinação 
de três tipos de relações básicas:  a)  a relação de descendência, 
que é a relação entre pai e filho e mãe e filho;  b)  a relação de 
consanguinidade, que é a relação entre irmãos; e  c)  a relação 
de afinidade, ou seja, a que se dá por meio do casamento, pela 
aliança. Essas três relações são básicas e o estudo do parentesco é 
o estudo da sua combinação. Essas relações são a estrutura formal 
universal. Qualquer sociedade se forma pela combinação dessas 
três relações. A variabilidade está em como se faz essa combinação.
NOTA
2 O URBANO 
Caro	 acadêmico,	 até	 aqui	 podemos	 considerar	 que	 você	 já	 está	 um	 pouco	
familiarizado	com	o	universo	da	antropologia,	uma	riqueza	sem	fim	de	informações	e	
conhecimento	das	formas	de	vida,	agora	vamos	nos	aprofundar	um	pouco	no	contexto	
da	antropologia	urbana,	uma	subárea	da	antropologia,	na	qual	se	dará	nossa	disciplina.	
Uma	 dimensão	 interessante	 é	 procurar	 entender	 as	 transformações	 sociais	
advindas	 com	o	meio	urbano,	 isto	porque	 tais	 transformações	definiram	uma	 importante	
agenda	de	estudos	que	cobre,	principalmente,	processos	de	mudanças	sociais	ocorridas	
após	o	surgimento	do	sistema	capitalista	que	foi	impulsionado	pela	Revolução	Industrial.	
Assim,	as	cidades	industriais	são	uma	consequência	desse	intenso	processo	de	urbanização	
que	 marca	 o	 século	 XIX	 em	 termos	 de	 infraestrutura	 do	 espaço	 social,	 mas	 também	
mudanças	de	comportamento	e	interação	entre	pessoas	nesse	novo	contexto	o	que	nos	
leva	ao	estudo	aprofundado	das	diferenças,	dos	conflitos,	das	novas	formas	de	sociabilidade	
nesse	ambiente	e	muitas	outras	dimensões	da	vida	social	agora	no	meio	urbano.	
7
FILME TEMPOS MODERNOS – CHARLIE CHAPLIN
DICA
Modern Times (Tempos Modernos) é um filme do cineasta Charlie Chaplin, no qual seu 
famoso personagem "O Vagabundo" tenta sobreviver em meio ao mundo moderno 
e industrializado. Lançado em 5 de fevereiro de 1936 (Nova Iorque), com produção, 
roteiro, direção e música (Smile) composta por Charlie Chaplin.
Fonte: https://bit.ly/2ErrXxM. Acesso em: 3 ago. 2022.
Assim,	um	dos	principais	objetos	de	 interesse	de	 investigação	científica	foram	
as	 “cidades”	 e	 o	 “urbano”,	 isto	porque	efeitos	 como	aglomerações,	moradias,	 jornadas	
intensas	 de	 trabalho,	 precarização	 da	 mão	 de	 obra	 eram	 notáveis	 nas	 formas	 de	
organização	social	da	vida	urbana.	
 
As	mudanças	profundas	oriundas	desses	acontecimentos	modificaram	a	vida	em	
sociedade	não	só	em	aspectos	relacionados	ao	espaço,	ao	ambiente	das	cidades,	mas	
também	naquilo	que	se	refere	ao	modo	de	habitar	e	os	próprios	indivíduos.	
Cientistas	 sociais	acompanharam	os	primeiros	efeitos	dessas	mudanças	nas	
relações	 sociais	 e	 nas	 estruturas	 do	 ambiente.	 A	 partir	 de	 então	 a	 questão	 urbana	
tornou-se	uma	preocupação	por	parte	de	uma	rede	de	pesquisadores	interessados	nas	
mudanças	advindas	desse	processo	de	inchaço	nas	grandes	cidades	e,	do	mesmo	modo,	
como	 isso	 impactava	na	vida	 rural.	Muitos	 cientistas	 sociais	 foram	contra	os	processos	
intensos	de	urbanização	defendendo	que	a	vida	rural	com	hábitos	e	população	mais	
homogêneas	era	uma	forma	de	vida	cujos	laços	sociais	eram	mais	intensos	e	detentor	de	
maior	qualidade.	Naquele	momento,	a	vida	rural	passou	a	ser	modificada	com	eventos	
como	a	migração	e	o	êxodo	cada	vez	mais	presentes	e	intensificados.	
https://bit.ly/2ErrXxM
8
Em	 1903,	 o	 sociólogo	 alemão	 George	 Simmel	 publicou	 um	 interessante	 ensaio	
intitulado	 “A	metrópole	e	a	vida	mental”,	 e	 trouxe	para	o	debate	científico	no	campo	
das	ciências	sociais	essas	preocupações	em	torno	das	mudanças	no	binômio	rural	e	
urbano.	Simmel	apresentou	um	impressionante	olhar	sobre	os	estilos	de	vida	urbanos	e	
a	questão	da	personalidade	nesse	contexto.	Sua	contribuição	observa	a	organização	
social	e	as	práticas	culturais	que	caracterizavam	as	áreas	urbanas	como	consequência	da	
grande	aglomeração	de	pessoas.	Em	sua	 rica	descrição,	 somos	 instigados	a	perceber	 as	
características	 físicas	 da	 cidade	 em	 correlação	 com	 as	 características	 sociais	 de	 seus	
habitantes.	
Simmel,	 que	 era	 filho	 de	 industrial,	 observava	 as	 transformações	 a	 partir	 da	
cidade	de	Berlim,	onde	nasceu.	Percebia	a	mudança	de	sua	cidade	natal	a	partir	de	uma	
moderna	 aglomeração	 urbana,	 caracterizada	 pelo	 enorme	 fluxo	 de	 pessoas,	 presença	
intensa	de	comércios,	práticas	de	prostituição,	assim	como	uso	de	bondes	e	elevada	
circulação	de	dinheiro.	Para	Simmel,	Berlim	era	um	modelo	da	cidade	moderna,	mais	
até	 do	 que	 Londres,	 por	 ter	 experimentado	 um	 processo	 tardio	 de	 industrialização.	
A	 partir	 da	 observação	 sistemática,	 isto	 é,	 uma	 observação	 regular	 da	metrópole,	 o	
sociólogo	alemão	encontrou	o	cenário	de	seu	diagnóstico	a	respeito	da	modernidade.	
Naquele	momento	Simmel	estava	diante	de	um	“campo	empírico”	de	experiências	de	
proximidade	e	a	partir	disso	foi	possível	elaborar	suas	reflexões	com	base	nas	tensões	
modernas	entre	a	experiência	do	indivíduo	e	da	sociedade	ou,	dito	de	outro	modo,	“a	
base	 psicológica	 do	 tipo	metropolitano	 de	 individualidade	 consiste	 na	 intensificação	 dos	
estímulos	 nervosos,	 que	 resulta	 na	 alternação	 brusca	 e	 ininterrupta	 entre	 estímulos	
exteriores	e	interiores”	(SIMMEL,	1979,	p.	14).	
A	descrição	minuciosa	de	Simmel	forneceu	bases	teóricas	e	analíticas	essenciais	
para	o	desenvolvimento	de	uma	sociologia	urbana,	posteriormente,	também	de	uma	
Antropologia	 Urbana.	 Além	 de	 observar	 a	 sociabilidade	 ali	 contida,	 Simmel	 aprofundou	
sua	 análise	 das	 emoções	 e	 os	 sentimentos	 que	 estavam	presentes	 naquela	 intensa	
mudança	 na	vida	 citadina.	 Era	 assim	 que	 seu	 texto	 se	 tornava	 um	 clássico	 para	 os	
estudos	de	Antropologia	Urbana,	nos	fazendo	mergulhar	em	uma	análise	contundente	
das	emoções	e	as	subjetividades	no	interior	de	uma	grande	metrópole.	
Abordaremos o estudo da migração e do êxodo rural no Brasil na 
próxima Unidade deste livro, quando aprenderemos Antropologia Rural.
ESTUDOS FUTUROS
9
Sua	 narrativa	 coloca	 em	 evidência	 aspectos	 como	 “a	 intensificação	 da	 vida	
nervosa”,	seu	fundamento	psicológico	e	as	consequências	de	uma	vida	agitada,	com	
alta	 concentração	 de	 indivíduos	 e	 que	 produz	menos	 consciência	 das	 diferenças.	 O	
raciocínio	 sociológico	 de	 Simmel	 atua	 em	 distinções	 importantes	 para	 compreender	
a	 dinâmica	 do	 fenômeno	 urbano,	 quando	 ele	 problematiza	 diferentes	 dicotomias	
(individuo/sociedade,	 cidade/campo,	 intelectual/sentimental,	 cultura	 subjetiva/cultura	
objetiva).	 Uma	 das	 principais	 contribuições	 está	 na	maneira	 de	 observar	 as	 emoções	
oriundas	do	urbano,	da	cidade,	da	intensa	relação	de	indivíduos	que	passam	a	naturalizar	
um	 ritmo	de	vida	 acelerado,	 um	código	 temporal	medido	 em	 relógios	para	marcar	 o	
tempo	 do	 trabalho,	 a	 experiência	 coletiva	 de	 deslocamento	 em	 transportes	 coletivos,	
quando	passa	a	ser	dominante	os	“egoísmos	econômicos”	e,	portanto,	a	presença	maiscomum	do	sentimento	de	indiferença.	
O	dinheiro,	também	um	objeto	de	sua	análise,	é	um	elemento	importante	para	
entender	a	vida	urbana,	isto	porque,	por	meio	desse	novo	sistema	econômico,	o	dinheiro	
valida	a	relação	de	 interdependência	que	se	constitui	essencial	no	mundo	da	metrópole	
urbana,	pois	o	indivíduo	que	agora	passa	fazer	parte	dessa	dinâmica	urbana	está	imerso	
em	um	tipo	de	economia	monetária	que	lhe	confere	um	conjunto	de	práticas	essenciais	
ao	seu	cotidiano:	“comparações,	cálculos,	determinações	em	numéricas	e	reduções	de	
valores	qualitativos	e	valores	quantitativos”	(SIMMEL,	2013,	p.	315).	O	dinheiro	será	um	
meio	de	acesso	à	bens,	mas	também	uma	forma	de	medir	valor	para	objetos,	pessoas	e	
relações,	além	de	abrir	um	campo	vasto	para	as	formas	de	consumo.	
A	cidade	produz	efeitos	na	vida	urbana,	na	sociabilidade	e	mesmo	na	psicologia	
humana.	A	“atitude	blasé”,	por	exemplo,	é	uma	consequência	da	vida	urbana	e	produto	
de	 um	 excesso	 de	 estímulos	 nervosos,	 “é	 o	 embotamento	 em	 relação	 a	 distinção	
das	 coisas”,	 aponta	Simmel	 (2013,	 p.	 317).	Assim,	 um	 indivíduo	que	 seria	visto	 como	
antissocial	pois	não	se	 relaciona	com	os	outros,	na	verdade	estabelece	uma	 relação	
de	 indiferença	com	a	multidão,	ele	caminha	no	meio	dela,	mas	não	 interage	com	ela.	O	
indivíduo	urbano	na	metrópole	faz	questão	do	anonimato,	é	indiferente,	não	manifesta	
suas	 reações.	Vejamos	um	exemplo	disso.	Um	dos	acontecimentos	mais	comuns	no	
cotidiano	de	uma	metrópole	urbana	é	estarmos	nos	deslocando	de	casa	para	o	trabalho	
ou	de	casa	para	a	escola	e	somos	surpreendidos	por	um	acidente	de	carro	no	meio	de	
nosso	percurso	habitual.	Um	indivíduo	de	“atitude	blasé”	não	vai	parar	ou	 interromper	seu	
percurso	para	observar,	pelo	contrário,	ele	verá	o	acidente,	mas	vai	seguir	adiante	sem	
estabelecer	uma	intencionalidade	sobre	aquele	evento.	
Em	 outras	 ocasiões,	 podemos	 ter	 como	 exemplo,	 aquele	 indivíduo	 que	
caminha	 livremente	 pela	 cidade	 para	 “flanar”,	 isto	 é,	 sem	 pretensão	 de	 estabelecer	
uma	intencionalidade	de	encontro	com	outros	indivíduos,	mas	apenas	estar	por	estar	
caminhando	pela	 rua.	Estas	seriam	análises	feitas	por	Simmel	 (2013)	sobre	o	urbano	
e	 como	 ele	 produz	 novos	 acontecimentos	 na	 vida	 social,	 o	 autor	 nos	 apresenta	 as	
experiências	e	percepções	da	singularidade	nesse	novo	 lugar.	O	 indivíduo	citadino	é	
então	apresentado	pelo	autor	como	aquele	que	cultiva	o	anonimato	e	o	 individualismo,	
às	vezes	são	considerados	como	“frios	e	sem	ânimo”	ou	como	indivíduos	que	nutrem	
10
uma	 “atitude	 de	 reserva”	 no	 meio	 social.	 Nas	 descrições	 do	 contexto	 de	 surgimento	
do	 fenômeno	 urbano,	 a	vida	 na	 cidade	 é	 definida	 por	 uma	 alta	 diferenciação	 social,	
e	 Simmel	 (2013)	 destaca	 um	 conjunto	 de	 práticas	 de	 sociabilidade,	 assim	 como	 de	
atitudes	psicológicas	(“leve	aversão”,	“repulsa	mútua”,	“indiferenças”	e	“aversões”)	que	serão	
próprias	desse	meio	urbano.	
Menos	interessado	em	emitir	um	juízo	de	valor	sobre	essas	mudanças,	Simmel	
(2013)	nos	estimula	a	pensar	os	efeitos	sociais	dessas	transformações	no	meio	urbano,	
considerando	 que	 a	 presença	 intensa	 de	 um	 quantitativo	 elevado	 de	 indivíduos	 no	
mesmo	espaço	gera	novas	 formas	de	 interação	que	 terão	 efeitos	 em	escala	 individual	 e	
coletiva.	Isto	deve	ser	mais	bem	compreendido	como	um	efeito	da	forma	de	relação	social	
experimentada	na	cidade	moderna.	Não	é	 ausência	do	 “social”	 ou	do	 “coletivo”,	mas	
uma	nova	morfologia	do	social e	de	uma	presença	“quantitativa”	do	coletivo.	Para	Simmel	
(2013),	um	dos	sentidos	adquiridos	pela	vida	na	metrópole	é	o	conjunto	de	transtornos	e	
adversidades	 para	 acomodar	 seus	 acontecimentos,	múltiplos,	 descontínuos,	 acelerados	
e	 inesperados,	 sempre	 orientando	 o	 indivíduo	 a	 ter	 a	 razão	 como	 precedência	 para	
organizar	sua	vida	na	metrópole.	
A	 seguir,	 conheceremos	detalhes	desses	processos	 a	 partir	 do	 estudo	de	 outras	
categorias	analíticas	importantes	para	o	campo	da	Antropologia	Urbana	na	forma	como	
se	desenvolveu	no	Brasil.	
3 AS CIDADES 
Caro	acadêmico,	a	reflexão	que	propomos	aqui	permitirá	a	você	o	entendimento	
da	 complexidade	 das	 mudanças	 da	 cidade	 moderna,	 principalmente	 nas	 grandes	
metrópoles,	 ao	 observarmos	 como	 esse	 evento	 influenciou	 decisivamente	 para	 a	
consolidação	de	pesquisas	 e	 escolas	 de	 investigação	dessa	 área	 de	 conhecimento.	A	
segunda	metade	do	século	XIX	marca	profundamente	o	 interesse	de	diversos	estudiosos	
pertencentes	a	áreas	diferentes	na	busca	pelo	entendimento	do	que	estava	acontecendo	
no	contexto	de	grande	efervescência	por	onde	surgiam	as	grandes	metrópoles	urbanas	
e	é	aqui	que	a	cidade	assume	relevante	 interesse,	tratada	enquanto	uma	categoria	de	
análise	científica	e	um	objeto	de	investigação	desse	fenômeno	urbano.	
Na antropologia, usamos o termo morfologia social para descrever 
de que maneira uma sociedade está estruturada. O estudo dessas 
estruturas permitiria ao antropólogo entender como funcionava 
e de que maneira estariam interligadas as diferentes partes que 
integram uma sociedade.
NOTA
11
Em	seu	famoso	ensaio	“A	cidade:	sugestões	para	a	investigação	do	comporta-
mento	humano	no	meio	urbano”,	publicado	originalmente	em	março	de	1916,	Robert	Ezra	
Park	definirá	cidade	como	um	“estado	de	espírito,	um	corpo	de	costumes	e	tradições	
e	dos	sentimentos	e	atitudes	organizados,	inerentes	a	esses	costumes	e	transmitidos	
por	essa	tradição”.	Em	outras	palavras	a	cidade	é	para	este	autor	um	laboratório	para	
entender	os	processos	sociais,	Park	(1979,	p.	26)	ainda	diz	“a	cidade	não	é	meramente	
um	mecanismo	físico	e	uma	construção	artificial.	Está	envolvida	nos	processos	vitais	das	
pessoas	que	a	compõem;	é	um	produto	da	natureza,	 e	particularmente	da	natureza	
humana”.	
Ao	mesmo	tempo	que	alguns	estudiosos	precipitam	uma	definição	de	cidade	
como	 uma	 unidade	 geográfica	 e	 ecológica	 de	 um	 tipo	 social	 produto	 da	 ação	 humana,	
ela	 também	 é	 percebida	 como	 o	 lugar	 das	 transações	 políticas	 e	 econômicas	 e	 de	
construção	dos	novos	modos	de	vida.	Desse	modo,	Park	insiste	em	nos	aproximar	de	
uma	definição	de	cidade	que	procura	considerar	nuances	presentes	nesse	meio	social.	Ele	
observa	as	mudanças	de	densidade	populacional,	assim	como	o	espalhamento	das	vias	
de	circulação	para	automóveis,	a	construção	das	rodovias,	a	expansão	das	profissões,	e	a	
intensidade	do	fluxo	urbano	que	caracterizam	o	perfil	das	cidades.	
A	 partir	 desse	 ponto	 de	 vista	 podemos	 perceber	 alguns	 fatores	 que	 são	
considerados	primários	na	abordagem	da	cidade,	aquilo	que	motivou	um	intenso	grupo	
de	pesquisadores	em	uma	investigação	científica	sobre	tais	transformações.	
Hoje	 podemos	 facilmente	 entender	 as	 rotinas	 de	 circulação,	 navegação	 e	
movimento	 do	 trânsito	 na	 cidade	 urbana,	 nas	 grandes	 metrópoles,	 porém	 naquele	
momento	 isso	 não	 era	 tão	 simples.	 Fatores	 como	 transporte	 e	 comunicação,	 por	
exemplo,	 eram	 importantes	dimensões	da	vida	social,	 pois	 interferiam	na	circulação,	
a	mobilidade	e	o	acesso	da	casa	ao	trabalho	na	vida	urbana,	à	época	serviços	como	
as	 linhas	de	bonde	eram	mais	popularizadas,	serviam	para	deslocar	os	trabalhadores	
em	 seus	 destinos	 e	 objetos	 como	 o	 telefone,	 os	 jornais	 impressos	 e	 a	 publicidade	
organizavam	a	comunicação	e	a	propagação	de	informações.	Tudo	isso	fazia	parte	de	
um	conjunto	muito	recente	de	objetos,	formas	de	viver	na	metrópole	ou	de	organizar	
o	tempo	que	não	faziam	parte	da	rotina	ou	dos	modos	de	viver	encontrados	na	vida	
rural.	Só	para	que	você,	acadêmico,	tenha	uma	ideia	mais	clara	do	que	significam	essas	
transformações,	tente	exercitar	o	pensamento	comparativo,	as	diferentes	maneiras	de	
se	comunicar	que	existiam	antes	e	que	temos	agora.	
Se	 antes	 da	 revolução	 industrial	 o	 uso	 de	 animais	 para	 transporte	 era	mais	
comum,	 com	 a	 chegada	 da	 indústria	 automobilística	 vamos	 aprimorando	 o	 uso	 de	
transportesintroduzindo	 o	 bonde,	 o	 ônibus,	 o	 carro	 particular,	 o	 carro	 de	 aluguel,	
o	táxi,	o	metrô,	o	trem,	dentre	outros.	Na	comunicação	ainda	é	mais	 interessante	se	
considerados	a	presença	dos	smartphones	que	tudo	podem	fazer	a	um	toque	das	mãos,	
mas	 antes	 a	 comunicação	 era	 por	 cartas,	 correspondências,	 anúncios	 públicos	 em	
jornais	impressos,	panfletos	ou	recados.	
12
A	 Revolução	 Industrial	 foi	 um	 acontecimento	 histórico	 que	 revolucionou	 as	
formas	de	viver	em	sociedade,	transformando	aspectos	físicos,	espaciais	e	coletivos	
como	também	aspectos	da	vida	mental,	da	subjetividade,	das	emoções	e	moralidades	
entre	 os	 indivíduos.	 De	 acordo	 com	o	 antropólogo	 brasileiro	Gilberto	Velho,	 no	Brasil,	 até	
mais	ou	menos	os	anos	1970	os	eixos	de	pesquisa	dominantes	na	antropologia	eram	a	
etnologia,	as	relações	interétnicas	e	os	estudos	camponeses	ou	estudos	tradicionais,	
todos	eles	estavam	dentro	dos	chamados	“estudos	de	comunidade”.	Conforme	veremos	
adiante	foi	mais	precisamente	neste	período	que	os	estudos	urbanos	ganharam	outro	
enfoque,	assim	a	cidade	passou	a	ser	um	objeto	de	 interesse	científico	e	um	campo	
fértil	de	estudos	para	antropólogos	brasileiros	 interessados	em	estudar	as	“redes”	e	os	
“sistemas	de	relações”	que	se	referem	às	interações	sociais	(VELHO,	2003,	p.	11-12).	
Diferente	das	etnografias	clássicas	entre	os	Trobriand	ou	os	Nuer,	na	antropologia	
urbana	a	descrição	das	práticas	culturais	se	torna	um	desafio	ao	antropólogo	porque	
nas	 cidades	 a	 cultura	 é	 organizada	 de	 formas	muito	 diferentes	 e	 concentram	 uma	
riqueza	 de	 conhecimento	 sobre	 pessoas,	 espaços	 e	modos	 de	 habitar	 centrais	 para	
o	 entendimento	 do	 meio	 urbano.	 Não	 por	 acaso	 Gilberto	 Velho	 (1987)	 escreve,	 em	
“Observando	o	familiar”,	a	respeito	da	dificuldade	em	estabelecer	métodos	e	técnicas	
de	pesquisa	que	captem	a	 riqueza	dessa	diversidade	pois	estamos	tão	 imersos	na	vida	
citadina,	 que	 é	muito	 provável	 que	 jamais	 pensemos	 sobre	 “o	 que	 sempre	vemos	 e	
encontramos	pode	ser	familiar,	mas	não	é	necessariamente	conhecido”.	
No	Brasil,	 após	 os	 anos	 1970	 a	 cidade	 passará	 a	 ser	 considerada	 um	objeto	
para	a	investigação	antropológica	que	se	orienta	pelo	estudo	das	relações	e	interações	
com	outros	atores	sociais.	De	acordo	com	o	antropólogo	brasileiro	Guilherme	Magnani	
embora	 a	 cidade	 fosse	 lugar	 de	 importantes	 etnografias	 antes	 desse	 período,	 seu	 foco	
estava	no	“estudo	de	culturas	indígenas	e	seus	contatos	com	a	civilização;	o	estudo	das	
culturas	caboclas;	e	o	estudo	da	aculturação	de	certos	grupos	étnicos	e	raciais,	como	
negros,	japoneses,	alemães	etc.”	(MAGNANI,	1996,	p.	8).	
As	cidades	se	tornariam	um	grande	desafio	científico,	pois	agora	tinha-se	um	
laboratório	 de	 estudos	 e	 problemáticas	 que	 poderiam	 ser	 investigadas	 a	 partir	 de	 uma	
perspectiva	antropológica.	Este	novo	espaço	social	trouxe	 junto	com	suas	modificações	
espaciais	as	mudanças	internas	na	vida	dos	próprios	indivíduos.	
É	 importante	 também	 termos	 clareza	 de	 que	 a	 cidade	 é	 uma	 categoria	
polissêmica,	 isto	 é,	 varia	 de	 um	 lugar	 para	 outro	 mesmo	 que	 possam	 ter	 aqueles	
elementos	comuns	a	cada	uma	delas,	sempre	encontraremos	singularidades	a	respeito	
de	cada	uma	delas.	
Nesse	sentido,	a	cidade	é	parte	de	uma	reflexão	antropológica	sobre	o	urbano	
e	 compreende	 um	 conjunto	 de	 informações	 de	 sequências	 da	vida	 urbana	 que	 são	
coletadas	pelo	 antropólogo	e	que	 representam	apenas	uma	 ínfima	parte	desse	 todo	
social	do	mundo	urbano.	Não	é	por	acaso	que	a	antropologia	urbana	brasileira	crescerá	
com	bastante	 fôlego	 em	pesquisas	 empíricas,	 pois	 há	 um	universo	 de	 conhecimento	
13
de	 narrativas,	 experiências,	 práticas,	 arranjos	 de	 organização	 social	 e	 de	 gestão	
administrativa	 que	 varia	 de	 uma	 cidade	 para	 outra.	 O	 conjunto	 dessas	 informações	
possibilita,	do	ponto	de	vista	antropológico,	um	conhecimento	vasto	e	diversificado	a	
respeito	dos	diferentes	modos	de	vida	no	meio	urbano.	Qual	seria,	então,	a	contribuição	
específica	da	antropologia	nesse	entendimento	da	cidade	e	o	meio	urbano?	Podemos	
definir	 dois	 critérios	 iniciais,	 a	 saber,	 o	 primeiro	 responde	 ao	 tipo	 de	 trabalho	 de	
investigação	científica	que	se	ocupa	das	relações	em	escala	microssociais.	
O	segundo,	está	mais	associado	ao	modo	de	fazer	pesquisa	etnográfica	em	que	
o	antropólogo	baseia	suas	atividades	de	pesquisa	em	uma	coleta	de	dados	de	primeira	
mão,	 isto	é,	 ele	está	em	campo	e	 faz	 suas	próprias	perguntas,	 observa	e	 interage	face	
a	face	com	a	população	e	o	 local	de	sua	observação.	Essa	prática	científica	oferece	
uma	percepção	mais	 apurada	 sobre	o	 contexto	pesquisado,	 pois	baseia-se	em	uma	
relação	direta	com	os	interlocutores	da	pesquisa.	Desse	modo,	a	cidade	aparece	como	
um	elemento	chave	para	a	compreensão	de	uma	realidade	cada	vez	mais	complexa	e	
heterogênea,	em	termos	de	indivíduos,	práticas	culturais	e	questões	sociais.	Conforme	já	
vimos	com	Simmel	(1979)	e	Wirth	(1979)	isso	pode	aparecer	na	descrição	de	aspectos	de	
personalidade	e	hábitos	culturais,	como	também	revela	nuances	da	vida	social.	
NOTA
Quando nos referimos ao termo microssocial, estamos falando dos 
processos por meio dos quais as pessoas constroem suas relações de 
interação, em perspectiva de escala, nos referimos às interações face 
a face entre pessoas de uma mesma família, grupo juvenil, vizinhança 
e assim por diante para estudar a integração do indivíduo e sociedade. 
São relações mais próximas, rotineiras, entre poucos parceiros. Para 
entender melhor, notem que usamos o termo macrossocial quando 
queremos designar outras relações, aquelas que dizem respeito ao 
Estado, sistema político ou modelo econômico, estas são relações 
estruturais, que estuda a estrutura da sociedade buscando entender 
o seu modo de funcionamento, quais os mecanismos e as partes que 
compõem uma sociedade e como se articulam.
A	 cidade	 não	 somente	 é,	 em	graus	 sempre	 crescentes,	 a	moradia	 e	
o	 local	de	trabalho	do	homem	moderno,	como	é	o	centro	 iniciador	
e	 controlador	 da	 vida	 econômica,	 política	 e	 cultural	 que	 atraiu	 as	
localidades	 mais	 remotas	 do	 mundo	 para	 dentro	 de	 sua	 órbita	 e	
interligou	as	diversas	áreas,	os	diversos	povos	e	as	diversas	atividades	
em	um	universo”	(WIRTH,	1979,	p.	91).
Para	 termos	 uma	 noção	 mais	 concreta	 dessas	 múltiplas	 percepções	 que	 a	
cidade	pode	revelar	da	vida	social,	consideremos	a	coexistência	de	práticas	individuais	
inseridas	 em	um	espaço	 social	 e	 culturalmente	diferente	daquele	 encontrado	na	vida	
rural.	Se,	por	um	lado,	aqueles	indivíduos	que	migram	da	zona	rural	para	o	meio	urbano	
14
veem	a	 cidade	 como	uma	 fonte	 de	 oportunidades,	 liberdade	 e	 futuro	 da	modernidade,	
noutros	termos,	“a	cidade	é	encarada	como	um	espaço	de	liberdade	e	possibilidades,	na	
medida	em	que	o	emprego	regular	é	visualizado	como	uma	segurança	e	independência,	
inexistentes	no	campo”	(OLIVEN,	2007,	p.	36).	
No	 Brasil,	 o	 fenômeno	 do	 êxodo	 rural	marcou	 significativamente	 o	 contexto	
e	a	organização	social	do	país,	traduzindo	um	longo	processo	entre	os	anos	de	1960	
e	 1980	em	que	 indivíduos	e	 famílias	 inteiras	 abandonaram	suas	 residências	fixas	na	
vida	 rural	com	destino	às	grandes	metrópoles	em	busca	de	melhores	oportunidades	
de	 sobreviver	 –	 principalmente	 aquelas	 populações	mais	 empobrecidas	 do	 interior	 do	
Brasil,	que	sofrendo	com	a	seca,	como	foi	o	caso	da	região	nordeste,	ou	com	a	escassez	
de	oportunidades,	como	é	o	caso	da	região	norte,	buscavam	nas	cidades	em	grande	
desenvolvimento	um	destino	para	modificar	sua	vida	e	de	sua	família.	Nesse	período,	em	
torno	de	27	milhões	de	brasileiros	saíram	da	zona	rural	para	a	zona	urbana.	
O	crescimento	da	indústria	e	das	próprias	cidades	eram	vistas	como	oportunidades	
de	trabalho	para	esses	trabalhadores	que	agora	estavam	despossuídos	de	oportunidades	
de	subsistência.	Sem	esquecermosque	também	nesse	período	o	 intenso	processo	de	
mecanização	das	atividades	produtivos	substituíram	a	mão	de	obra	humana	por	máquinas	
(ALVES;	SOUZA;	MARRA,	2011).	
Essas	 são	mudanças	 significativas	 da	 realidade	 brasileira	 e	 os	 antropólogos	 que	
antes	se	mostravam	preocupados	se	teriam	ou	não	o	que	pesquisar	após	os	 intensos	
processos	de	urbanização	da	vida	social,	passaram	a	perceber	que	agora	deveriam	lançar	
seu	 olhar	 sobre	 os	 acontecimentos	 do	 cotidiano	vivido	 nas	 grandes	 cidades,	 procurando	
entender	 como	 esses	 indivíduos	 que	 passam	 a	 habitar	 a	 cidade	 interpretam,	 agem,	
escolhem,	modificam	ou	guardam	traços	pessoais	de	sua	vida	rural	no	espaço	urbano.	
Nesse	sentido,	a	antropologia	urbana	dava	seus	primeiros	e	principais	passos	na	direção	de	
uma	renovação	da	própria	disciplina	que	agora	permitia	um	desafio	de	compreender	a	
realidade	urbana	assim	como	estavam	acostumados	a	fazer	em	relação	às	sociedades	
“simples”,	seu	clássico	objeto	de	estudo.	
Há	também	novidades	nesse	novo	fazer	antropológico	na	cidade,	em	que	pese	
o	ajuste	das	lentes	de	observação	e	pesquisa	sobre	os	acontecimentos	no	universo	de	
indivíduos	que	 compartilham	seu	 local	 de	vivência,	 fala	 o	mesmo	 idioma	e	 compartilha	
um	universo	de	práticas	culturais	comuns.	Assim,	os	antropólogos	urbanos	passaram	a	
aplicar	os	métodos	de	pesquisa	próprios	da	antropologia,	 a	etnografia	e	a	observação	
participante	(MALINOWSKI,	1978),	para	estudar	aspectos	da	vida	social	no	contexto	urbano.	
Assim,	 definiam	 duas	 importantes	 linhas	 de	 pesquisa:	 aquela	 que	 procurava	 colocar	
ênfase	nos	 indivíduos	e	suas	práticas	sociais	e	outra	que	dava	ênfase	nos	estudos	do	
território	onde	estavam	situados,	entendendo	a	cidade	e	o	urbano	como	aquele	espaço	
social	constitutivo	da	ação	desses	indivíduos.	
15
Caro	acadêmico,	você	já	pode	se	familiarizar	um	pouco	com	as	principais	re-
ferências	e	aspectos	das	mudanças	com	a	 introdução	da	vida	urbana,	olhamos	para	
os	fenômenos	sociais	mais	amplos	e	nos	aproximamos	de	um	conjunto	de	categorias	
conceituais	 importantes	para	entendermos	essas	mudanças	e	nos	aproximar	de	um	
exercício	reflexivo	em	que	de	forma	autônoma	você	possa	refletir	sobre	essas	transfor-
mações	usando	esse	mapa	conceitual.	Agora,	no	próximo,	vamos	fazer	um	mergulho	
nesse	sujeito	social,	aquele	indivíduo	que	chega	no	meio	urbano	e	como	ele	é	afetado	
por	esse	novo	lugar.
4 OS SUJEITOS 
Robert	Ezra	Park	 (1979,	p.	28),	proeminente	 representante	dos	estudos	urbanos	
desenvolvidos	 na	 renomada	 Escola	 de	 Chicago,	 afirmava	 em	 1916	 que	 “o	 homem	
civilizado	é	um	objeto	de	investigação	igualmente	interessante,	e	ao	mesmo	tempo	sua	
vida	é	mais	aberta	à	observação	e	ao	estudo”.	Nesse	sentido,	o	indivíduo	urbano	passou	
a	 ser	 visto	 como	 um	 sujeito	 dotado	 de	 diversidade	 cultural,	 e	 justamente	 por	 isso,	
renovava	o	interesse	e	a	atualidade	da	Antropologia	e	do	fazer	antropológico	que	em	
muito	poderia	contribuir	para	entender	os	problemas	urbanos	postos	com	a	chegada	
em	massa	de	indivíduos	às	grandes	cidades.	
Os	clássicos	estudos	de	Simmel	e	Wirth,	aqui	já	mencionados,	nutriam	pesquisas	
com	reflexões	a	respeito	desse	processo	de	individualização	nas	cidades,	considerando	a	
questão	do	individualismo	urbano	uma	importante	porta	de	entrada	para	compreender	o	
modo	de	vida	urbano.	
Se	tomarmos	o	exemplo	da	cidade	de	Chicago,	na	década	de	1930,	facilmente	
entenderemos	quais	as	motivações	de	estudos	nesse	segmento.	Ora,	nesse	período,	
Chicago	era	a	segunda	aglomeração	urbana	dos	Estados	Unidos	e	a	quinta	do	mundo	
com	uma	população	estimada	em	três	milhões	de	habitantes,	vindos	de	todas	as	partes	
do	 país	 e	 do	mundo.	 Problemas	 sociais	 como	 segregação,	 delinquência,	 criminalidade,	
desemprego,	formação	de	guetos,	logo	se	tornariam	temas	pungentes	de	investigação.	
O	que	caracteriza	o	fazer	etnográfico	no	contexto	da	cidade	é	o	duplo	movimento	
de	mergulhar	no	particular	para	depois	emergir	e	estabelecer	comparações	com	outras	
experiências	e	estilos	de	vida	–	semelhantes,	diferentes,	complementares,	conflitantes	–	
no	âmbito	das	instituições	urbanas,	marcadas	por	processos	que	transcendem	os	níveis	
local	e	nacional	(MAGNANI,	1996,	p.	3).	
	 Agora	falávamos	de	cidade	como	o	mundo	social	do	indivíduo	urbano,	
este	 não	 era	mais	 considerado	 um	mero	 estrangeiro	 individualista,	 e	 as	 etnografias	
passaram	 a	 mostrar	 a	 diversidade	 de	 sujeitos	 sociais	 que	 estavam	 reunidos	 em	
torno	 de	 uma	 mesma	 localidade.	 Os	 estudos	 antropológicos	 demonstrariam	 que	 a	
cidade	passaria	a	constituir	seu	próprio	modo	de	vida	urbano,	no	qual	há	uma	vasta	
heterogeneidade	de	sujeitos	como	o	migrante,	o	estrangeiro,	o	malandro,	o	criminoso,	
16
o	desviante,	o	 sofisticado,	o	burocrático,	 todos	tipos	sociais	de	um	 lugar	próprio	aos	
projetos	de	interação	do	mundo	urbano.	O	grau	de	sociabilidade	é	muito	variável	e	vai	
sendo	moldado	com	o	passar	do	tempo	e	o	habitar	das	cidades	urbanas,	se	no	início	do	
processo	de	 intensa	urbanização	os	 indivíduos	eram	percebidos	como	um	tanto	mais	
impessoais	em	relação	uns	aos	outros,	com	efeito,	o	passar	do	tempo	mostra	novas	
formas	de	estabelecer	sociabilidade	e	integração	afetiva	nesse	mundo	urbano.	
As	redes	de	parentesco	e	amizade	ganham	novos	contornos	sociais	disputando	
a	 intensa	 impessoalidade	 comum	 em	 lugares	 como	 aeroportos,	 estações	 de	 metrô	
ou	 rodovias,	 exemplos	 de	 uma	 intensa	 e	 concentrada	multidão.	 Nesse	momento	 já	
encontramos	espaços	de	convivência	para	a	sociabilidade	como	casas	de	show,	casa	
de	terreiro,	igrejas,	centros	comunitários,	clubes	de	lazer	que	se	organizam	e	ancoram	
as	 relações	 sociais	 de	 afinidade	 e	 pertencimento	 com	uma	 familiaridade	 já	 configurada	
do	espaço	urbano,	da	cidade	vivida.	Muitos	 jovens	passaram	a	compartilhar	espaços	
comuns	para	viverem	suas	práticas	de	lazer	e	afetividade.	
As	famílias	de	classe	média	acostumaram-se	com	a	 ida	frequente	aos	clubes	
de	lazer	particulares,	os	praticantes	de	religiões	de	matriz	africana	consolidavam	seus	
terreiros	e	casas	de	santo	como	espaços	de	sociabilidade	e	práticas	de	 rituais,	 jovens	de	
diferentes	sexualidade	passaram	a	frequentar	e	construir	espaços	para	práticas	de	uma	
sexualidade	livre	em	clubes	noturnos,	velhos	senhores	frequentemente	passaram	a	se	
encontrar	na	praça	do	bairro	para	jogar	dominó	e	cartas,	assim	como	foi	possível	notar	
a	formação	de	bairros	de	acordo	com	o	pertencimento	étnico,	a	exemplo	do	bairro	da	
Liberdade	em	São	Paulo.	
“A sociabilidade é a forma pela qual os indivíduos constituem uma unidade 
no intuito de satisfazer seus interesses, onde forma e conteúdo são na 
experiência concreta processos indissociáveis” (SIMMEL, 2006, p. 65).
NOTA
17
Que tal conhecer um pouco mais das questões de gênero, sexualidade e antropologia? 
Espia essa dica de Podcast: 
Gênero, Sexualidade, Antropologia, Quadrinhos | HQ Sem Roteiro Podcast: 
Monique Malcher estudou Jornalismo na Universidade da Amazônia 
(UNAMA) e se formou com um TCC sobre Superman. No entanto, muito 
do que ela lia nos quadrinhos de super-heróis não a tocavam em sua 
realidade, não por serem obas de ficção, mas por não dialogarem 
com quem ela era. Até que Fun Home, HQ da estadunidense Alison 
Bechdel, apareceu em suas mãos e sua vida mudou. Monique hoje faz 
mestrado em Antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) com 
um estudo sobre quadrinhos, gênero e sexualidade, focado principalmente 
nas graphic novels Fun Home e Azul é a Cor Mais Quente, da francesa Julie 
Maroh. No HQ Sem Roteiro Podcast de hoje, conversamos sobre etnografia, 
performance de gênero, heteronormatividade e muito mais. Taca o play!
Fonte: https://apple.co/3cLyc1D. Acesso em: 20 jul. 2022.
INTERESSANTE
O	que	se	percebe	com	a	 intensificação	da	urbanização	é	a	presença	de	novas	
estratégias	 de	 organização	 dos	 laços	 familiares	 e	 afetivos	 na	 cidade.	 Assim,	 surge	
também	 a	 necessidade	 dos	 citadinos	 de	 estabeleceruma	 relação	 com	 o	 espaço,	 a	
cidade,	o	urbano	e	suas	atividades	de	simbolização,	rituais	ou	festivas.	Para	os	sujeitos	
sociais	a	cidade	pode	ser	familiar,	mesmo	mantendo	uma	relação	descontinuada	entre	
o	conhecido	e	não	conhecido,	entre	o	familiar	e	o	distante.	Dessa	maneira,	a	tensão	
entre	 mundos	 que	 pareciam	 distantes	 e	 incompatíveis	 passará	 a	 determinar	 novas	
possibilidades	de	conexão,	relações	e	pertencimentos	que	determinam	à	nossa	maneira	
de	estar	na	cidade.	
Identidade	e	alteridade	passam	a	fazer	parte	de	um	binômio	característico	da	
antropologia	urbana,	onde	se	percebe	por	quais	condições	e	possibilidades	é	possível	
vivenciar	 a	 vida	 citadina	 com	 proximidade	 e	 criação	 de	 vínculos.	 A	 construção	 da	
identidade	e	a	criação	de	espaços	e	guetos	que	definem	um	grupo	social	também	é	
uma	forma	de	dar	sentido	e	apropriação	ao	espaço	da	cidade	onde	esses	sujeitos	vivem.	
As	 chamadas	 culturas	 urbanas	 revelam	 na	 verdade	 um	 conjunto	 robusto	 de	 diferenças	
entre	grupos	sociais	que	fazem	parte	desse	meio	urbano.	Eles	podem	aparecer	como	
estratégias	 de	 inclusão	 e	 participação	 ou	 como	 agrupamentos	 que	 se	 conectam	 e	
praticam	exclusão	por	meio	de	“bloqueios	culturais”.	Nesse	sentido,	cultura	seria	definida	
como	 todo	 o	modo	 de	 vida,	 seus	 hábitos,	 suas	 instituições,	 seus	 idiomas	 e	 formas	 de	
linguagem,	bem	como	uso	de	símbolos	e	códigos	escritos	e	morais.	Na	antropologia	
urbana,	a	partir	da	observação	dessas	mudanças	e	formação	das	metrópoles	urbanas,	era	
possível	descrever	e	conhecer	uma	riqueza	de	práticas,	grupos	e	comunidades	culturais	
ali	presentes.	
18
A	essa	altura	cabe	considerar	que	aspectos	foram	sendo	transformados	entre	
o	 contexto	 de	 surgimento	 das	 cidades	 industriais	 e	 as	 cidades	 urbanas	 da	maneira	
como	habitamos	hoje	em	dia.	No	 início,	as	pesquisas	colocavam	uma	ênfase	a	 respeito	
da	questão	macrossociológica	procurando	entender	 as	 instituições,	 a	 estrutura	 e	 os	
componentes	que	fazer	o	urbano	e	a	cidade,	deixando	de	lado	o	interesse	pelos	sujeitos	
em	sua	dimensão	microssociológica.	
A	maioria	das	descrições	davam	ênfase	ao	caráter	estrutural	que	modificava	
e	 introduzia	outros	modos	de	vida	no	mundo	urbano,	mas	a	antropologia	urbana	no	
Brasil	passou	a	dar	visibilidade	a	um	conjunto	de	vozes	de	moradores	da	cidade	que	são	
diferentes.	Assim,	o	enfoque	será	para	uma	análise	em	microescala	da	questão	urbana.	
Essa	 mudança	 de	 perspectiva	 fará	 com	 que	 a	 antropologia	 urbana	 revise	
questões	 epistemológicas	 a	 partir	 da	 diferença	 entre	 uma	 antropologia da cidade,	
aquela	 que	 se	 afina	 com	 à	 sociologia	 urbana	 e	 que	 pensa	 a	 cidade	 a	 partir	 de	 sua	
totalidade,	 e	 a	 antropologia na cidade	 que	 tentará	 mostrar	 as	 dinâmicas	 da	 vida	
urbana	e	seu	cotidiano	a	partir	das	relações	ali	contidas,	olhando	para	os	atores	sociais	
mais	do	que	para	a	estrutura	da	cidade.	
É	assim	que	há	uma	mudança	de	escalas	e	uma	consolidação	de	uma	agenda	de	
pesquisas	em	antropologia	urbana	no	Brasil	que	dará	revelo	às	múltiplas	manifestações	
culturais,	 a	 diversidades	de	grupos	e	 comunidades	 sociais	 no	meio	urbano,	 práticas	de	
resistências	e	aos	conflitos	urbanos.	
19
Neste tópico, você aprendeu:
•	 O	contexto	de	surgimento	dos	estudos	urbanos	com	o	advento	da	Revolução	Industrial	e	
do	Sistema	Capitalista	foi	modificando	o	campo	de	estudos	da	antropologia	clássica	
para	as	novas	formas	de	vida	no	meio	urbano.	
•	 Os	 principais	 conceitos	 da	 antropologia	 como	 sociedades	 simples	 e	 complexas,	
etnocentrismo,	 relativismo	 cultural,	 alteridade,	 assim	 como	 a	 importância	 do	método	
etnográfico	e	o	uso	da	etnografia	a	partir	das	contribuições	de	Bronislaw	Malinowski	e	a	
técnica	da	observação	participante.	
•	 A	definição	de	categorias	centrais	do	campo	da	antropologia	urbana	como	cidade	
e	urbano.	Além	disso,	 estudamos	as	mudanças	ocorridas	na	 formação	das	cidades	
e	do	modo	de	vida	urbano	interferindo	sobre	estratégias	de	organização	dos	laços	
familiares	e	afetivos	na	cidade	e,	como	apontado	por	George	Simmel,	os	impactos	da	
metrópole	sobre	a	vida	mental.	
•	 Algumas	das	principais	 influências	teóricas	do	campo	de	formação	da	Antropologia	
Urbana	americana	como	Robert	E.	Park	e	Louis	Wirth,	assim	como	as	contribuições	de	
George	Simmel	e	no	Brasil	a	importância	dos	estudos	de	Gilberto	Velho	e	Guilherme	
Magnani.	
•	 As	contribuições	da	Escola	de	Chicago	e	da	Escola	de	Manchester	na	construção	e	
consolidação	de	pesquisa	sobre	o	fenômeno	urbano	no	Brasil.	Estudamos	também	
a	 importância	 dos	 estudos	 de	 interacionismo	 simbólico,	 pragmatismo	 e	 as	 análises	
situacionais	e	de	redes	sociais,	respectivamente.
RESUMO DO TÓPICO 1
20
1	 Com	base	em	nossos	estudos,	há	uma	contribuição	específica	da	antropologia	para	o	
entendimento	da	cidade	e	o	meio	urbano.	Sobre	ela,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 A	antropologia	observa	e	interage	face	a	face	com	a	população	e	o	local	de	sua	
observação.	 Essa	 prática	 científica	 oferece	 uma	 percepção	 mais	 apurada	 do	
contexto	pesquisado,	pois	se	baseia	em	uma	relação	direta	com	os	interlocutores	
da	pesquisa.
b)	 (			)	 A	 antropologia	 propõe	 uma	 investigação	 etnográfica	 baseada	 em	 análise	 de	
dados	quantitativos.
c)	 (			)	 A	 antropologia	 inaugura	 o	método	 de	 pesquisa	 chamado	 grupo	 focal	 e	 suas	
primeiras	pesquisas	foram	realizadas	com	sociedades	primitivas.
d)	 (			)	 A	antropologia	trabalha	com	pesquisa	operacional,	conta	com	o	apoio	e	a	decisão	
de	um	único	entrevistado	para	definir	seu	campo	de	pesquisa.
2	 Em	 1903,	 o	 sociólogo	 alemão	 George	 Simmel	 publicou	 um	 interessante	 ensaio	
intitulado	“A	metrópole	e	a	vida	mental”,	e	trouxe	para	o	debate	científico	no	campo	das	
ciências	sociais	as	preocupações	em	torno	das	mudanças	do	modo	de	vida	entre	
mundos	rural	e	urbano.	Com	base	nas	definições	dos	enfoques	dessa	abordagem	de	
Simmel,	analise	as	sentenças	a	seguir:
I-	 Uma	das	principais	contribuições	está	na	maneira	de	observar	as	emoções	oriundas	da	
cidade	urbana	definida	pela	 intensa	 relação	de	 indivíduos	que	passam	a	naturalizar	
um	ritmo	de	vida	acelerado,	adotam	um	código	temporal	medido	em	relógios	para	
marcar	 o	 tempo	 do	 trabalho	 e	 afrouxa	 as	 relações	 sociais	 de	 amizade,	 família	 e	
vizinhança.	
II-	 A	 vida	 citadina	 é	 uma	 grande	 possibilidade	 de	 estreitamento	 dos	 laços	 sociais,	
segundo	 Simmel,	 os	 indivíduos	 tendem	 a	 exercer	 mais	 livremente	 os	 afetos	 e	
passam	a	maior	parte	de	seu	tempo	flanando	em	parques	e	caminhadas	para	estar	
por	estar	com	quem	pessoas	que	querem	se	relacionar.	
III-	 A	experiência	coletiva	de	deslocamento	e	o	inchaço	das	cidades	modernas,	favorecem	
o	excesso	de	individualismo	e	isso	passa	a	ser	dominante	na	formação	psíquica	e	
social	do	indivíduo,	quando	os	“egoísmos	econômicos”	emergem	e	o	sentimento	de	
indiferença	se	manifesta	em	atitude	blasé.
Assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	 (			)	 As	sentenças	I	e	II	estão	corretas.
b)	 (			)	 Somente	a	sentença	II	está	correta.
c)	 (			)	 As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
d)	 (			)	 Somente	a	sentença	III	está	correta.
AUTOATIVIDADE
21
3	 “O	 urbanismo	 como	modo	 de	 vida”	 do	 sociólogo	 estadunidense	 Louis	Wirth	 (1979)	 é	
considerado	 um	 importante	 estudo	 para	 a	 abordagem	 do	 urbano	 na	 antropologia	
brasileira.	 O	 autor	 é	 considerado	 um	 dos	mais	 notáveis	 estudiosos	 do	 fenômeno	
urbano	nos	 Estados	Unidos	 e	 foi	muito	 influenciado	 pela	 sociologia	 de	Simmel.	A	
partir	das	contribuições	de	Wirth,	classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	
falsas:
Fonte: WIRTH. L. O urbanismo como modo de vida. In: VELHO, O. (org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro, 
Zahar Editores, 1979. p. 89-112.
(			)	A	entidade	tem	como	objetivo	a	inserção	da	Engenharia	de	Produção	na	comunidade	
científica	e	produtiva	no	sentido	de	promover	o	desenvolvimento	social. 
(			)	A	ABEPRO	Jovem	é	responsável	pela	congregação	detodos	os	profissionais	inativos	
de	Engenharia	de	Produção	e	busca	articular	com	empresas	e	instituições	de	ensino.
(			)	A	ABEPRO	tem	como	missão	assegurar	à	sociedade	a	busca	permanente	de	uma	
prática	correta	e	responsável	dos	profissionais	de	Engenharia	de	Produção.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (			)	 V	–	F	–	F.
b)	 (			)	 V	–	F	–	V.
c)	 (			)	 F	–	V	–	F.
d)	 (			)	 F	–	F	–	V.
4	 A	antropologia	é	uma	ciência	social	que	pode	ser	definida	pelo	estudo	da	diversidade	das	
formas	de	vida.	Uma	das	grandes	áreas	de	concentração	é	a	Antropologia	Urbana	
que	surge	de	um	contexto	social	de	extrema	mudança.	A	partir	disso,	disserte	sobre	o	
fenômeno	que	deu	origem	ao	subcampo	da	antropologia	urbana.
5	 Existem	muitas	 estratégias	 de	 pesquisa	 possíveis	 de	 serem	adotadas	nas	 atividades	
de	 investigação	científica	da	 antropologia.	A	 etnografia	é	uma	delas.	Nesta	proposta,	
Bronislaw	Malinowski	é	considerado	um	dos	principais	autores	da	antropologia	e	é	
também	lembrado	pelo	seu	método	de	pesquisa.	Neste	contexto,	disserte	sobre	os	
princípios	que	fundamentam	as	 relações	de	pesquisa	em	antropologia,	citando	os	
principais	conceitos	antropológicos.
22
23
ENTRE ESCALAS E ESCOLAS DE 
ETNOGRAFIA URBANA
UNIDADE 1 TÓPICO 2 —
1 INTRODUÇÃO 
O	termo	“antropologia	urbana”	designa	uma	subárea	da	antropologia	que,	no	
Brasil,	tem	seus	primeiros	estudos	na	década	de	1940	com	os	chamados	“estudos	de	
comunidade”.	Tais	 estudos	 foram	 fortemente	 influenciados	 pela	 tradição	 de	 estudos	 da	
renomada	 “Escola	de	Chicago”,	 nos	Estados	Unidos,	 cuja	principal	 característica	era	o	
interesse	por	uma	investigação	antropológica	sobre	as	cidades	e	as	mudanças	a	partir	
da	 urbanização.	 Naquele	 contexto	 fatores	 relacionados	 às	 transformações	 sociais,	
econômicas	e	culturais	que	marcaram	o	final	da	Segunda	Guerra	Mundial,	sobretudo,	
após	 os	 anos	 1960,	 contribuíram	 para	 um	 inovador	 ponto	 de	 reflexão	 acerca	 das	
condições	de	vida	no	contexto	da	modernidade.	
Conforme	 vimos	 até	 aqui	 a	 ideia	 de	 uma	 antropologia	 urbana	 veio	 de	 uma	
preocupação	 com	 aspectos	 do	 dia	 a	 dia	 nas	 cidades	 industriais,	 principalmente	
relacionadas	com	fenômeno	urbano	em	amplo	desenvolvimento	que	acompanha	eventos	
históricos	 importantes	 como	 o	 enorme	 contingente	 populacional	 e	 a	 intensa	 migração	
de	europeus	na	passagem	do	século	XIX	para	o	século	XX.	A	partir	desse	crescimento	
uma	série	de	conflitos	e	mudanças	ocorrem	na	cidade	e	tais	manifestações	passam	a	ser	
chamadas	 de	 “patologia	 social”,	 exemplo	 delas	 são	 a	 delinquência,	 os	 conflitos	 entre	
grupos	 étnicos,	 assim	 como	 problemas	 de	 planejamento	 urbano	 como	 a	 circulação,	
mobilidade	 e	 as	 precárias	 habitações	 (VELHO,	 1979,	 p.	 7-8).	 Daí	 o	 renovado	 interesse	
por	pesquisas	empíricas	que	pudessem	nutrir	informações	e	diagnósticos	acerca	do	que	se	
consolidou	como	“fenômeno	urbano”.	
Nesse	contexto,	a	diversidade	cultural,	 formas	de	vida,	 religiões,	consumo,	arte,	
migração,	festas,	assim	como	a	“favela”	passam	a	ser	objetos	de	interesse	pelos	quais	
a	antropologia	pode	se	realizar.	Nota-se,	é	claro,	que	tais	mudanças	acompanham	uma	
influência	 por	 parte	 do	desenvolvimento	da	Antropologia	Urbana	que	 se	 faz	 a	 partir	 da	
Escola	de	Chicago	nos	Estados	Unidos	e	da	Escola	de	Manchester	na	 Inglaterra,	ambas	
foram	recepcionadas	no	Brasil	por	duas	 importantes	correntes	teóricas	capitaneadas	
pelos	antropólogos	Gilberto	Velho	(1987;	2003)	e	Guilherme	Magnani	(1996;	2003).	É	sobre	
essas	escolas	e	as	suas	contribuições	para	antropologia	urbana	brasileira	que	falaremos	
nos	próximos	subtópicos.	
24
Que tal conhecer um pouco mais dois importantes antropólogos 
brasileiros no campo da antropologia urbana? Olha, acadêmico, 
aqui você encontra uma entrevista com o antropólogo Gilberto 
Velho realizada em 13 de agosto de 2009 para o projeto Memória 
das ciências sociais no Brasil. Confira o seguinte endereço: https://
bit.ly/3otqICO.
E não para por aí! Acadêmico, conheça um pouco mais do perfil e 
da formação do antropólogo Guilherme Magnani nessa entrevista 
concedida em 9 de outubro de 2017, ao projeto Memória das 
Ciências Sociais no Brasil. Acesse: https://bit.ly/3cJdMpR.
DICA
2 ESCOLA DE CHICAGO 
A	 tradicional	 Escola	 de	 Chicago	 dominou	 os	 estudos	 de	 sociologia	 urbana	 logo	
das	primeiras	décadas	do	século	XX,	mais	precisamente	nos	anos	de	1920.	Surgiu	a	partir	
da	 iniciativa	 de	 um	 conjunto	 de	 professores	 e	 pesquisadores	 que	 estavam	 sediados	 na	
Universidade	de	Chicago,	onde	surgiu	também	o	primeiro	Departamento	de	Sociologia	
estabelecido,	 assim	 como	 o	 primeiro	 jornal	 sociológico,	 o	American	 Journal	 of	 Sociology,	
que	passou	a	ser	publicado	a	partir	de	 1895.	A	grande	doação	do	empresário	norte-
americano	John	Rockerfeller,	investidor	da	indústria	do	petróleo,	impulsionou	o	projeto	de	
formação	e	consolidação	de	um	proeminente	conjunto	de	pesquisadores	 reunidos	em	
torno	das	pesquisas	sobre	Chicago.
Figura 2 – Escola de Chicago
Fonte: https://bit.ly/3zaPBbu. Acesso em: 20 jul. 2022.
25
A	fundação	dessa	escola	está	 intimamente	 ligada	ao	processo	de	desenvol-
vimento	das	grandes	metrópoles	relacionadas	com	o	desenvolvimento	 industrial.	Até	
1830,	Chicago	tinha	cerca	de	350	habitantes	reunidos	em	torno	de	uma	pequena	comu-
nidade,	meio	século	depois	a	cidade	de	Chicago	expandiu-se	muito	rapidamente	che-
gando	a	ter	três	milhões	de	habitantes	–	e,	como	consequência	desse	intenso	processo	
de	urbanização	e	modernização,	vieram	também	problemas	sociais	como	o	aumento	da	
pobreza	e	do	desemprego,	bem	como	acentuada	criminalidade	e	delinquência	 juvenil,	
presença	de	imigração,	formação	de	guetos	sociais,	verticalização	e	gentrificação	urba-
nas,	segregação	e	violências	urbanas.	Todos	esses	problemas	foram	considerados	pelos	
estudiosos	da	Escola	de	Chicago	“patologias	sociais”	e	se	tornariam	objeto	de	interesse	
e	investigação	por	parte	de	seus	pesquisadores.	
Importantes	autores	que	estiverem	 reunidos	em	torno	da	Escola	de	Chicago	
construíram	 um	 programa	 e	 agenda	 de	 estudos	 do	 fenômeno	 urbano.	 A	 primeira	
geração	de	sociólogos	que	integravam	a	Escola	de	Chicago	era	formada	pelo	próprio	
Robert	Ezra	Park	(1864-1944),	além	de	nomes	como	Ernest	Watson	Burgess	(1886-1966),	
Roderick	McKenzie	 (1885-1940)	e	William	Thomas	 (1863-1947)	 e,	 posteriormente,	 Louis	
Wirth	 (1897-1952).	 Muitos	 conceitos,	 teorias,	 estudos	 e	métodos	 de	 pesquisa	 utilizados	
para	compreender	e	explicar	as	transformações	do	urbano	hoje	são	influenciados	pela	
produção	dessa	escola.	
William	Isaac	Thomas	(1863-1947)	realizou	um	trabalho	investigação	qualitativa	
que	privilegiava	“a	visão	dos	participantes	na	definição	das	situações	sociais”	a	partir	dos	
“polacos”,	em	1908	realizou	sua	pesquisa	sobre	migrantes	da	Europa	Oriental	nos	Estados	
Unidos.	Thomas	destacou-se	por	introduzir	uma	pesquisa	baseada	no	uso	de	documentos	
pessoais	como	diários,	cartas,	autobiografias,	dossiês	psiquiátricos,	bem	como	aqueles	
produzidos	por	outros	profissionais	como	assistentes	sociais	e	cientistas	sociais.	Um	dos	
seus	principais	conceitos	foi	elaborado	junto	com	Florian	Znaniecki	entre	1918	e	1920,	
quando	 afirmaram	 a	 partir	 de	 sua	 investigação	 que	 os	 processos	 de	 formação	 do	
pensamento	dos	indivíduos	são	determinados	pela	interação	entre	o	seu	comportamento	e	
a	sua	situação	social.	A	“desorganização	social”	sugeria,	assim,	que	a	vizinhança,	isto	é,	
as	relações	ali	contidas,	poderiam	atuar	na	probabilidade	de	um	indivíduo	cometer	um	crime.	
Robert	Ezra	Park	(1864-1944),	entrou	para	Escola	de	Chicago	em	1911,	trazendo	
sua	experiência	como	 jornalista	de	 investigação	e	a	 forte	 influência	das	publicações	
do	 sociólogo	 alemão	 Georg	 Simmel,	 formulou	 um	 programa	 de	 investigações	 que	
combinava	uma	análise	dos	grupos	de	minorias	sociais	e	a	sua	relação	com	o	fenômeno	
urbano.	 Sua	 principal	 característica	 era	 arealização	 de	 estudos	 por	meio	 de	 pesquisas	
qualitativas	combinando	ainda	conceitos	ecológicos	para	o	estudo	das	cidades	e	do	
urbano,	assim	a	sociedade	era	entendida	como	um	organismo	social.	
26
Para	Park	(1979),	a	cidade	era	um	grande	laboratório	social	a	ser	estudado,	a	partir	
dele	poderíamos	conhecer	o	homem	urbano	e	o	seu	“habitat	natural”.	O	estudo	qualitativo	
da	cidade	captaria	assim	as	relações	sociais	entre	os	cidadãos	ali	reunidos	bem	como	o	meio	
social	onde	vivem	e	sua	constante	transformação.	Foi	um	dos	primeiros	a	formar	seus	
alunos	 para	 aplicação	 de	 pesquisas	 com	métodos	 empregados	 pela	 antropologia,	 pois	
em	seu	entendimento	esse	método	possibilitava	a	investigação	dos	costumes,	crenças,	
valores,	práticas	sociais	e	culturais	da	vida	social	no	meio	urbano.	
Ernest	Watson	Burgess	(1886-1966)	foi	um	dos	pesquisadores	recrutados	por	
Park	 para	 a	 formação	 de	 uma	 equipe	 de	 pesquisadores	 empíricos	 em	Chicago.	 Juntos	
publicaram	o	 importante	 livro	 Introdução à Ciência da Sociologia,	em	1921,	abordando	
temas	 como	 natureza	 humana,	 história	 da	 sociologia,	 interação	 social,	 conflitos,	
assimilação,	dentre	outros.	Sua	contribuição	vai	ser	decisiva	para	contestar	o	argumento	
eugênico	que	definia	os	problemas	sociais	da	vida	urbana	como	traços	de	uma	herança	
genética.	Assim,	Burgess	vai	afirmar	que	é	a	“desorganização	social”	que	vai	produzir	
patologias	sociais	como	causas	de	doenças,	crimes	e	mazelas	sociais	do	meio	urbano.	
Sua	pesquisa	sobre	criminalidade	criou	uma	forma	de	medição	de	sucesso	e	fracasso	
com	 base	 na	 observação	 das	 práticas	 sociais	 de	 presidiários	 em	 liberdade	 condicional.	
Desse	modo,	Burgess	vai	demonstrar	que	um	presidiário	em	liberdade	provisória	sem	
habilidades	 profissionais	 teria	 uma	menor	 pontuação	 para	 contribuir	 com	o	 sucesso	 de	
ressocialização,	diferente	de	um	indivíduo	dotado	de	habilidades,	estudo	e	condições	
de	vida	que	o	afastem	da	possibilidade	de	reincidir	na	criminalidade.	
Roderick	 McKenzie	 (1885-1940),	 Park	 e	 Burgess	 elaboraram	 o	 conceito	 de	
ecologia	humana	formulado	a	partir	do	estudo	do	comportamento	humano	e	a	posição	
dos	indivíduos	no	meio	urbano.	Assim,	nessa	abordagem	o	habitat	do	homem	urbano,	
considerando	tanto	o	espaço	físico	onde	ele	mora	quanto	as	relações	que	ele	constrói	e	
mantém,	é	um	dos	elementos	que	que	determinará	ou	influenciar	o	seu	modo	de	viver	
e	o	seu	estilo	de	vida.	Tal	perspectiva	foi	muito	utilizada	para	estudos	da	criminalidade	
e	 bairros	 considerados	 “perigosos”,	 apontando	 para	 o	 entendimento	 de	 que	 os	
comportamentos	 considerados	 desviantes	 são	 produtos	 do	meio	 social	 no	 qual	 um	
indivíduo	ou	grupo	social	está	inserido.	
Considerado	um	dos	mais	destacados	sociólogos	da	Escola	de	Chicago,	Louis	
Wirth	(1897-1952)	procurou	desenvolver	uma	teoria	sobre	o	urbanismo	como	modo	de	
vida,	 entendendo	 que	 o	 urbano	 era	 uma	 forma	 ecológica	 particular	 que	 deveria	 ser	
estudada	 não	 só	 em	 sua	 dimensão	 econômica	 e	 geográfica,	mas	 fundamentalmente	
como	um	espaço	social	por	onde	irradiam	ideias	e	práticas	sociais.	
A	 cidade	 era	 pensada	 como	 um	 espaço	 por	 onde	 se	 exerce	 influência	 nos	
indivíduos	que	nela	habitam,	isto	porque	ela	agrega	diferentes	elementos	da	vida	social	
do	sujeito	moderno	como	a	moradia,	o	local	de	trabalho,	a	vida	econômica,	a	vida	política	
e	cultural	agregando	 inclusive	 indivíduos	em	sua	diversidade	de	atividades,	mas	também	
de	acordo	com	o	seu	pertencimento	de	gênero,	sexualidade,	raça	e	etnia.	Para	Wirth,	
quanto	maior	a	cidade	maior	será	a	 “diferenciação	social”	expressa	no	afrouxamento	
27
dos	 vínculos	 sociais,	 em	 uma	maior	 competitividade	 social,	 acentuado	 controle	 dos	
indivíduos	 e	 mais	 propensões	 às	 distorções	 da	 personalidade	 (anonimato,	 hiper	
individualismo,	 superficialidade,	 baixa	 afetividade,	menor	 participação	 social,	 ruptura	 de	
laços	comunitários).	
	 A	 relação	 de	 proximidade	 entre	 pesquisadores	 do	 campo	 da	 sociologia	 e	 da	
antropologia	se	faz	por	diferentes	razões,	uma	delas	está	associada	ao	grande	trabalho	
de	campo	e	estudos	empíricos	que	os	“etnógrafos	de	Chicago”,	como	também	ficaram	
conhecidos	 durante	 muito	 tempo,	 desenvolveram	 a	 partir	 desta	 consolidada	 escola	
de	 estudos.	 Sua	 tradição	 é	 fortemente	 influenciada	 pelo	 pragmatismo,	 articulando	 a	
observação	direta	da	realidade	à	análise	dos	processos	sociais	urbanos.	Tais	circunstâncias	
permitiram	aos	sociólogos	de	Chicago	inovar	em	teorias,	formulação	de	conceitos	além	de	
desenvolver	e	renovar	métodos	e	metodologias	de	análise	a	partir	do	urbano.	
 
O	 principal	 tema	 produzido	 em	Chicago	 era	 a	 questão	 urbana,	 assim	 como	 o	
surgimento	das	cidades,	as	mudanças	das	paisagens	das	cidades	e	as	transformações	
do	modo	de	vida	no	mundo	urbano.	Essa	escola	estava	comprometida	com	o	trabalho	
empírico,	a	pesquisa	de	campo	e	a	coleta	de	dados	em	primeira	mão.	Cientes	do	impacto	
das	transformações	pelas	quais	vivenciavam	no	cotidiano	da	própria	cidade	que	habitavam,	
esses	pesquisadores	investiram	em	um	projeto	de	pesquisa	empírica	que	deslocava	os	pés	
para	fora	dos	gabinetes	de	pesquisa	para	que	seus	pesquisadores	fossem	eles	próprios	
em	busca	das	singularidades,	mudanças	e	problemas	sociais	que	o	fenômeno	urbano	
evidenciava.	Nesse	 sentido,	 era	 considerável	 a	 experimentação	 realizada	 em	termos	de	
métodos	de	pesquisa	quando	serviram-se	fartamente	da	observação	participante	e	do	
método	de	estudo	de	caso	para	cobrir	um	grupo	heterogêneo	de	pesquisas	em	torno	da	
cidade	de	Chicago.	Era	aqui	que	sociólogos	e	antropólogos	se	encontravam	influenciados	
mutuamente.
Entretanto,	 é	 importante	 destacar	 que	 a	 Escola	 de	 Chicago	 foi	 pioneira	 na	
experimentação	e	combinação	de	métodos,	se	por	um	lado	não	tinha	pudor	em	aplicar	
métodos	da	antropologia	para	pensar	o	urbano,	por	outro	não	deixou	de	surpreender	
ao	 empreender	 as	 pesquisas	 estatísticas	 combinadas	 com	 pesquisas	 sociais	 baseadas	
em	estudo	de	comunidade,	quando	passou	a	 realizar	mapeamentos	quantitativos	de	
bairros	em	desenvolvimento,	grupos	sociais	de	imigrantes	e	registros	de	atividades	até	
então	consideradas	desviantes	naquele	contexto.	Assim	como	podemos	hoje	 identificar	
uma	 forte	 tradição	 de	 estudos	 etnográficos	 em	 Chicago,	 podemos	 reconhecer	 seu	
pioneirismo	no	trabalho	de	combinação	entre	pesquisas	quantitativas	e	qualitativas.	
Outro	importante	autor,	Everett	C.	Hughes,	destaca-se	como	um	dos	principais	
membros	 da	 Escola	 de	 Chicago	 e	 pioneiro	 nos	 estudos	 de	 ocupações	 e	 profissões	
na	década	de	 1940.	Hughes	escreveu	 inúmeros	artigos,	hoje	considerados	clássicos,	
investigando	as	consequências	subjetivas	do	trabalho	para	o	 indivíduo	e	demonstrando	
as	estratégias	utilizadas	para	buscar	status,	prestígio	e	ganhos	nos	locais	de	trabalho	
(HUGHES,	1958).	Hughes	foi	um	dos	primeiros	a	tratar	a	“carreira”	como	uma	categoria	
conceitual,	 informado	pela	perspectiva	 interacionista.	No	Brasil,	Gilberto	Velho	será	um	
dos	antropólogos	influenciados	pelo	trabalho	de	Hughes.
28
Figura 3 – Gilberto Velho
Fonte: https://bit.ly/3cGc9ZY. Acesso em: 20 jul. 2022.
Para	 Hughes	 (1937,	 p.	 404),	 a	 carreira	 deveria	 ser	 compreendida	 como	 uma	
“sequência	de	papéis,	 status	e	 cargos	 realizados	pelo	 indivíduo”.	Tal	 concepção	 incorpora	
duas	perspectivas	de	análise	de	uma	sociologia	das	profissões:	objetiva	e	subjetiva.	A	
primeira	é	aquela	que	corresponde	ao	estudo	do	status	e	dos	cargos	já	estabelecidos	
em	uma	determinada	sociedade	e	a	outra	coloca	em	evidenciar	a	própria	percepção	
dos	 indivíduos	sobre	a	sua	própria	vida,	 isto	é,	 “uma	perspectiva	dinâmica	pela	qual	a	
pessoa	concebe	sua	vida	como	um	conjunto	e	 interpreta	o	significado	de	suas	diversas	
características,	das	ações	e	das	coisas	que	lhe	ocorrem”	(HUGHES,	1937,	p.	409-410).	
Resumindo	 uma	 das	 principais	 características	 da	 Escola	 de	 Chicago	 era	 o	
interesse

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