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Asma É uma das doenças que tem grande prevalência na população. Definição: - A asma é uma doença heterogênea, complexa, possui diferentes fenótipos e endótipos, possui várias características diferentes em cada paciente. - A asma possui um padrão inflamatório crônico das vias aéreas e essa limitação do fluxo de ar é variável ao longo do tempo, não é algo fixo. A sua intensidade também varia (momentos de sintomas mais brandos e outros mais fortes). - Existe uma correlação forte com fatores que podem desencadear o processo de intensificação de piora e com fatores que atuam como moduladores. - Hiperresponsividade das vias aéreas. - A inflamação vai ser responsável pelos sintomas, que são episódios recorrentes de sibilos, dispneia, aperto no peito e tosse – mais comum de noite e de manhã. - Gera limitação generalizada e variável ao fluxo aéreo intrapulmonar. Epidemiologia: - A prevalência é variável na população (de 1 a 20%). - Não existe uma predisposição maior entre gênero masculino ou feminino. - Inicia-se mais comumente na 1ª década de vida. - É mais comum na população negra do que na branca e parda. - Interação entre genética (pesquisar histórico familiar do paciente, se os pais ou irmão possuem histórico de asma), exposição ambiental e outros fatores específicos (como gravidez, mudança de local, desnutrição) que levam ao desenvolvimento e manutenção dos sintomas. - Pessoas de todas as idades em todos os países são acometidas. Giovanna Lopes - É comum o aparecimento em crianças de 3 a 6 anos. Depois dos 60 anos é um aparecimento comum também. - Está relacionada às condições socioeconômicas dos países – aumento da frequência nos países mais desenvolvidos. - A prevalência de asma está aumentando em todos os locais, especialmente entre as crianças. - Acarreta custos com a saúde, perda de produtividade e redução da qualidade de vida. - Doença crônica comum, potencialmente grave e que pode ser controlada – não curada! - Quando está bem controlada, os pacientes conseguem: o Evitar sintomas incômodos durante o dia e a noite; o Necessitar de pouca ou nenhuma medicação; o Ter uma vida fisicamente ativa e produtiva; o Ter função pulmonar normal ou quase normal; o Evitar crises graves (também chamadas de exacerbações ou ataques) - No Brasil, a prevalência é de 10% da população (é um dos países com maior prevalência de asma). - Estudos populacionais sequenciais mostraram que crianças e adolescentes de grandes cidades brasileiras apresentam até 25% de sintomas de asma como sibilância, dispneia e tosse recorrentes. - A incidência não é conhecida, mas estudos locais indicam até 10% de pacientes diagnosticados com asma na população geral no Brasil. - Nos últimos 10 anos, o número de internações por asma diminuiu de forma significativa, mas ainda é uma das 5 causas mais frequentes de internação: 200 mil/ano e custo em torno R$100 milhões/ano (2012 a 2014) - Entretanto a mortalidade por asma continua alta, com média de 2500 mortes/ano (2008-2012), com taxa crescente na região Norte e decrescente em outras. - Estes dados indicam que o tratamento da asma ainda não está implementado em muitas cidades, apesar de haver distribuição gratuita de medicação de controle e alívio. De certa forma, a distribuição gratuita melhorou a qualidade de vida e a mortalidade dos pacientes. Fisiopatologia: - A asma leva ao broncoespasmo (redução abrupta do calibre das vias aéreas). - O broncoespasmo já é uma consequência e manifestação final de um grande processo inflamatório que está acontecendo (seria a “ponta de um iceberg”). - A redução do calibre das vias aéreas é o principal fator responsável pelo quadro clínico da doença. Ela se dá por: o Contração do músculo liso da parede dos brônquios; o Edema da mucosa brônquica; o Hipersecreção mucoide e exsudato inflamatório -> alterações estruturais das vias aéreas (“remodelamento” – tentativas de correção) = em casos onde o processo inflamatório não é resolvido; - O paciente tem predisposição genética, entra em contato com alérgeno, instala-se a inflamação e ocorre: o Redução do calibre das vias aéreas – responsável pela clínica (‘’chiadeira’’) o Contração do músculo liso da parede brônquica o Edema da mucosa brônquica o Hipersecreção mucoide e exsudato inflamatório o Remodelamento – quando instala-se a inflamação crônica, o processo de espessamento da parede que antes era reversível vai se tornando permanente (pessoa que teve asma e não fez tratamento). • Tosse com catarro já é asma • Sensação de aperto no peito • Asma não trata com antibiótico - Evolução dinâmica: • Inflamação aguda (edema; secreção) -> inflamação crônica de via aérea (recrutamento celular; dano epitelial; modificações estruturais) -> remodelamento de via aérea (proliferação celular; aumento da matriz extracelular). Remodelamento: - Fibrose subepitelial (perde a capacidade de voltar para o calibre anterior – quadro clínico semelhante ao DPOC); - Hipertrofia e hiperplasia do músculo liso dos brônquios; - Proliferação vascular na parede brônquica; - Hipersecreção mucoide. Processo Inflamatório na Asma: Mediadores Inflamatórios na Asma: - Os leucotrienos são formados a partir do recrutamento de mastócitos e eosinófilos. Como eles estimulam a liberação de outros mediadores inflamatórios, os antileucotrienos entram no tratamento para a asma. - A histamina é o mesmo mediador inflamatório liberado em uma reação anafilática, por exemplo. - O óxido nítrico tem papel de monitoramento e diagnóstico de fenótipo, pois ele consegue determinar o grau de inflamação de via aérea. Sintomas mais comuns: - Sibilância; - Dispneia; - Aperto no peito (dor torácica em constrição); - Tosse; - Piora noturna ou início da manhã; - Variação de sintomas ao longo do tempo; - Variação de intensidade de sintomas; - Identificação de sintomas desencadeados por gatilhos. Fatores desencadeantes de crises (“gatilhos”): - Atopia (hipersensibilidade ao ambiente, de origem genética – é uma reação alérgica exacerbada) - alérgenos domésticos, como pelo de gato/cachorro, principalmente alérgenos contidos na saliva do gato, que se lambe e fica no pelo. Eles ocasionam CRISES e não a própria asma; ácaros, poeiras, resto de inseto, mofo (mais comum na nossa região); - Exercício físico; - Infecções de vias aéreas superiores; - Rinites; - Sinusites; - Gotejamento pós-nasal; - Alterações climáticas; - DRGE; - Estresse emocional; - Fumo; - Contato constante com fumaça; - Obesidade (a gordura infiltra a parte muscular e atrapalha a respiração); - Drogas (AINEs – principalmente o AAS, betabloqueadores, IECAs); - Risco ocupacional. Fenótipos e Endótipos: Fenótipos: Características e manifestações observáveis do indivíduo. o Asma eosinofílica (alérgica); o Asma não eosinofílica (não alérgica); o Asma de início tardio; o Asma com obstrução ao fluxo de ar fixa (é a asma remodelada); o Asma associada a obesidade; o Asma variante tussígena; Endótipos: Mecanismo molecular ou fisiopatológico subjacente ao fenótipo. o Inflamação tipo 2 (mediada pelo linfócito T helper 2 - T2) alta: - Asma de início precoce, mais grave, associada a atopia/IgE e a eosinofilia nas vias aéreas e sistêmicas. o Inflamação tipo 2 (mediada pelo linfócito T helper 2 - T2) baixa: - Asma de início tardio, ausência de eosinofilia nas vias aéreas e sistêmicas e responsividade diminuída (resposta difícil ao medicamento) aos corticoides. Diagnóstico: - História clínica característica; - História familiar positiva: o Investigar com espirometria ou PFE com prova broncodilatadora. - Objetivos: o Confirmar a obstrução ao fluxo aéreo e/ou variação significativa de fluxos (>12% e 200 ml) ou sua reversibilidade após uso de broncodilatador; o Obstrução presente (oscilações>20% no PEF) e melhora posterior com uso de broncodilatador. - Testes de Broncoprovocação (feito quando a espirometria não comprova obstrução ou hiper-reatividade brônquica, mas o paciente tem clínica sugestiva de asma): o Metacolina ou Histamina (são indutores de broncoespasmo inaláveis. Após isso, a cada 15 minutos, vão se fazendo novas manobras de espirometria); o Induzido por exercício físico (esteira); o Poucos locais fazem; o Há risco de PCR e anafilaxia (tem que ser feito em locais equipados com carrinho de parada, material de IOT, etc.). - Fração exalada do Óxido Nítrico (FeNO): o Alterado em pacientes com asma caracterizada por inflamação tipo 2. o Realizado em hospitais universitários e ambientes de pesquisas; o Não serve para diagnóstico, mas ajuda na caracterização do endótipo. - Testes alérgicos. o Não serve para diagnóstico, só consegue identificar se há algum gatilho induzindo uma alergia, mas não garante que esse processo inflamatório está acontecendo em via aérea inferior (para ser asma). Passos para a confirmação: Seria o caso de um paciente ter sintomas muito característicos de asma, mas a espirometria deu negativa Tratamento: - Educação do paciente sobre a doença e seus gatilhos; - Redução da exposição a fatores desencadeantes; - Tratamento farmacológico (crise e manutenção); - A escolha da melhor opção de tratamento deve levar em conta: o Eficácia; o Efetividade; o Segurança; o Disponibilidade e custo que o paciente consiga arcar. - Sempre que possível, individualizar, compartilhando o processo de decisão: o Preferências individuais; o Características individuais ou fenótipos; o Questões práticas, como técnicas de inalação, aderência ao tratamento e custeio. - Paciente de etapa 1 = o paciente usa a medicação quando precisar (“por demanda”), quando tem sintomas. Também pode-se usar um corticoide inalatório e usar, separadamente, um broncodilatador de curta ação - SABA (SOS – de resgate), pois os pacientes sempre pegam medicação para 6 meses (no serviço público), e o paciente de etapa 1 só usa 2 vezes ao mês, por exemplo, então fazer separado evita o excesso e o desperdício de medicamento. - Paciente de etapa 2 = precisa usar o remédio todo dia (CI em baixa dose) + algo para usar no resgaste (SABA). - Preferência para se manter como dose de resgaste em todas as etapas o CI e o LABA em doses baixas (mas não é vetado o uso do SABA como SOS em pacientes que já estão em uso de CI na manutenção – todo dia). Não pode ficar somente aliviando as crises com o broncodilatador (pois o que está por trás do broncoespasmo é justamente o processo inflamatório, então é necessário tratar a inflamação também – uso de CI). - O paciente sempre tem que ter prescrito o tratamento diário + algo para aliviar as crises em caso de exacerbação. Manejo da asma: - O tratamento é avaliado e divido em etapas. - O paciente escolhe em qual etapa ele se adequa melhor. Ele fica nessa etapa por um tempo, depois é reavaliado e vê se o paciente ficou estável (se não ficou = desce uma etapa / se ficou = sobe uma etapa). - Todos os asmáticos = controle ambiental + rever controle da asma e risco futuro regularmente (sempre avaliar em cada consulta) ETAPA 1: - “Por demanda” = para resgaste = crises ETAPA 2: ETAPA 3: ETAPA 4: ETAPA 5: Nível de Controle: - Envolve 2 domínios: o Limitações clínicas atuais: - Sintomas diurnos; - Despertares noturnos; - Necessidade de uso de medicação de alívio (resgaste); - Limitações de atividades diárias. o Redução de riscos futuros: - Exacerbações; - Perda acelerada de função pulmonar; - Efeitos adversos do tratamento. Avaliação do nível de controle quando o paciente retorna - Asma controlada = desce uma etapa do tratamento - Asma parcialmente controlada ou não controlada = sobe uma etapa (antes de subir a etapa, verificar se o paciente está aderindo ao tratamento, se ainda há algum gatilho que não foi adequadamente manejado, se há alguma comorbidade que possa estar interferindo, se o paciente está usando o dispositivo adequadamente...) Mais usado na prática (correção: Escore > 15) Fatores que influenciam o controle: - Adesão ao tratamento; - Tabagismo; - Exposição ambiental e ocupacional; - Uso de outras drogas; - Comorbidades (rinite, sinusite, DRGE...); - Uso incorreto do dispositivo. Fatores de risco para exacerbações: - Pacientes que usam muita medicação de alívio (> 1 bombinha por mês), geralmente são os pacientes com maior potencial de exacerbação e de morte durante a exacerbação. Doses de corticoides inalatórios: Orientações para o automanejo nas crises: Manejo da crise de asma na Atenção Primária: - Paciente grave = deve ser transferido para hospital o mais rápido possível - Ausculta silenciosa = o broncoespasmo está tão grave que não dá mais para ouvir o murmúrio veicular Manejo da crise de asma na Emergência:
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