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1 FAMÍLIA E HOMOSSEXUALIDADE NOS DIAS ATUAIS A reação dos pais frente à revelação da homossexualidade dos filhos, a homoconjugalidade e a homoparentalidade. INTRODUÇÃO (OSMAR) O movimento “contracultura”, ocorrido na década de 1960, foi de extrema importância para impulsionar a luta de alguns grupos sociais marginalizados da sociedade pelos seus direitos civis. Dentre estes grupos, destacam-se o dos homossexuais – “pessoas que praticam relações sexuais e mantém outras relações afetivas com pessoas do mesmo sexo” (GRANATO, 2004, p. 192). Inicialmente, a luta dos homossexuais estava pautada basicamente na busca pelo reconhecimento social enquanto indivíduos pertencentes à sociedade e portadores de direitos, tendo em vista que até o final da década de 1970, a homossexualidade era vista como doença. Posteriormente, com a expansão dos movimentos de defesa de causas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais e travestis) – inicialmente denominados de Movimentos Gays –, ocorridas nos anos de 1980 e 1990, as pautas de reivindicação deste grupo foram aumentando. No Brasil, em específico, dentre essas principais pautas, destacam: o reconhecimento de unidades familiares formadas por pares homoafetivos, através da legalização do casamento entre esses pares; a mudança do conceito de família descrito no Código Civil Brasileiro, que apregoa que a unidade familiar é aquela 2 constituída por casais heterossexuais, com ou sem filhos; e o direito à adoção de crianças por homossexuais, para composição de famílias monoparentais ou homoafetiva. Até o final da década de 1980, famílias formadas por casais de homossexuais eram raras e, quando ocorriam, ‘optavam’ pelo anonimato. O conceito de família, culturalmente desenvolvido pela sociedade burguesa capitalista dos séculos XVIII e XIX, tinha como modelo único de família a família nuclear – formada por um casal heterossexual e seus filhos (NEVES, 2008). Ressalta-se que foi apenas no ano de 1980 que a homossexualidade deixou de ser considerada patologia e retirada do Manual de Diagnósticos Estatísticos (DSM III). Embora no Brasil ainda se considere legalmente como família apenas as de representações nucleares, muitos estudiosos de diversas áreas do conhecimento como a psicologia, a sociologia, a antropologia, a filosofia, dentre outras, já consideram a multiplicidade de relações interpessoais e familiares existentes na sociedade, como as famílias nucleares, as monoparentais, as reconstituídas, as homoparentais, dentre outras. Rodrigues e Carmo (2013, p. 13) ressaltam que “apesar de todas as mudanças que ocorreram na configuração da família, essa instituição continua mantendo o papel de organizadora da sociedade ocidental contemporânea”. No Brasil, em 5 de maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 4.277 e a ADPF 132, reconheceu a união entre pessoas do mesmo sexo como uma entidade familiar. Contudo, embora se tenha observado alguns avanços, no que diz respeito à implementação de políticas públicas que visam garantir alguns direitos constitucionais aos homossexuais, ainda há muito a se fazer para garantir a integralidade desses direitos a essa parcela da população, principalmente no que tange às questões familiares que, dentre 3 todas, ainda é a mais polêmica. A união homoafetiva e a adoção de crianças por homossexuais (casados ou solteiros), por exemplo, ultimamente têm ganhado a atenção da mídia e ocupado o centro dos debates realizados por instituições representativas da sociedade – governamentais e não governamentais – e diversas áreas do conhecimento, dividindo opiniões. De um lado, os conservadores, fundamentados basicamente em pressupostos religiosos, negam a homoafetividade e a homoparentalidade enquanto algo natural – para muitos grupos religiosos, a homossexualidade é vista como pecado; e, em alguns casos ainda, como doença. De outro lado um, grupo mais liberal não vê problema no reconhecimento deste tipo de relação ou no processo de adoção de crianças por parte dessas pessoas. De outro lado ainda, há aqueles que não veem problemas no relacionamento em si, mas, não aprovam o reconhecimento legal deste tipo de união ou a adoção de crianças por essas pessoas. E ainda, há aquele que aprovam o casamento, mas não aprovam a adoção. Por mais que os homossexuais tenham saído dos “guetos” os quais foram confinados até o final da década de 1980, ainda observa-se muito preconceito em relação a este grupo social, principalmente no que tange às questões da constituição familiar por parte dessas pessoas e a aceitação de sua condição por parte da própria família. Portanto, a necessidade de se discutir e promover estudos que possibilitem a desconstrução de (pré) conceitos arraigados na sociedade, através de um processo de construção sócio-histórica, torna-se extremamente importante e necessário. 4 OBJETIVOS Tendo em vista estas questões, o presente artigo tem por objetivo principal realizar um estudo sobre as principais questões relacionadas à díade “família e homossexualidade” na contemporaneidade. Dentre as questões de interesse específico que serão aqui abordadas, destacam-se: (1) o conceito de família para os homossexuais; (2) a questão de se assumir homossexual em uma família nuclear/tradicional; (3) a questão do casamento homoafetivo nas instâncias jurídicas [civil] e religiosas e a conjugalidade homoafetiva; e (4) a questão da adoção de crianças por casais homossexuais e a homoparentalidade. No intuito de se alcançar os objetivos propostos para este estudo – de caráter quantitativo e qualitativo –, inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica em bancos de dados eletrônicos (Scielo, Pepsi e Capes); e, em seguida, foram realizadas três atividades de campo, sendo: uma entrevista semiestruturada com um responsável pela análise de processos de adoção de crianças da Vara da Infância do Fórum de Uberlândia (ATIVIDADE PRÁTICA A); uma entrevista com a psicóloga da Organização Não-Governamental “Pontes de amor” (ATIVIDADE PRÁTICA B); e uma entrevista com um casal homoafetivo homoparental (ATIVIDADE PRATICA C). Antes da realização das 5 entrevistas, foram esclarecidos aos participantes os objetivos do presente trabalho e solicitado aos mesmos que assinassem, após leitura, um “Termo de Consentimento Livre Esclarecido” (ANEXO I). REFERENCIAL TEÓRICO 1 Sexo, orientação e gênero: questões essenciais Quando se fala em homoafetividade e homoparentalidade é importante esclarecer as questões de sexo, orientação e gênero; numa sociedade majoritariamente normativa, tais discussões não são recorrentes e acessíveis a todos os espaços. Por identidade de gênero se entende que é a forma como o indivíduo se sente, como ele se identifica, podendo se sentir homem cis ou mulher trans, bem como nenhum deles (nesse caso, uma pessoa não binária); quando há correspondência entre a genitália (sexo feminino ou masculino) e a identidade de gênero, isso de acordo com padrões normativos, o indivíduo é dito cis, quando não há essa correspondência, o indivíduo é trans. A orientação sexual, dissocia-se completamente da identidade de gênero e do sexo, a orientação sexual, se relaciona ao sentir, ao afeto, à atração sexual, assim, um indivíduo pode ser bissexual, heterossexual, homossexual, etc. (www.dicionariodegeneros.com.br/#home). 6 2 O conceito de família na visão dos homossexuais Os conceitos de família são tão diversos quanto às mudanças estruturais desta instituição social ao longo da história. Segundo Neves (2008, p. 34), atualmente, “a família não comporta uma definição unívoca, predominantemente centrada em parâmetros excludentes”. Ainda de acordo com a autora, “a família é uma unidade dinâmica, um grupo social, um espaço de convivência fundamental para o desenvolvimento dos seus membros; contudo, possui características próprias, que são historicamente questionadas e redefinidas” (Neves, 2008, p. 34). Segundo Nadaud (2002 apud Zambrano, 2006, p. 125) “colocara família como uma entidade única e constante no tempo pode ser mais um prejulgamento, baseado na nossa experiência pessoal, do que uma realidade”. De acordo com Zinker (2001 apud Rodrigues & Carmo, 2013, p. 13), “família é uma unidade social, cultural e econômica, um sistema de indivíduos comprometidos a permanecerem juntos por um extenso período de tempo, mantendo uma continuidade no seu relacionamento”. Para Sarti (2004, apud Soliva, 2014, p. 123) “a família deve ser entendida não apenas como um grupo de sujeitos ligados por laços de consanguinidade, mas, também por laços de afetos, de interesses partilhados em comum ou mesmo interesses jurídicos”. Ainda de acordo com Sarti (2004 apud Soliva, 2014, p. 126) “a família, como o mundo social, não é uma soma de indivíduos, mas sim um universo de relações” animadas por trajetórias e projetos individuais interligados. Lévi-Strauss (1976) também apontou que a família não é uma entidade em si nem, tampouco, uma entidade fixa, ela é, antes, o lugar onde se desenvolvem as normas de 7 filiação e de parentesco, construindo sistemas elementares cuja finalidade é ligar os indivíduos entre eles e à sociedade. São os vínculos entre os indivíduos que criam a família e são as variações possíveis desses vínculos intrafamiliares que caracterizam as formas possíveis de família. No Brasil, recentemente, uma iniciativa da agência de publicidade NBS com o Grande Dicionário Houaiss, em parceria como a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CEDS RJ) e o apoio da Associação Brasileira de Famílias Homoafetivas, realizaram uma campanha – denominada “Todas as famílias” –, com a participação popular, na busca de uma redefinição do conceito de família. A ação foi uma forma de pressão contra o texto principal do Estatuto da Família, aprovado pela comissão especial da Câmara dos Deputados, no ano de 2015, que define família como a “união entre homem e mulher por meio de casamento ou união estável, ou a comunidade formada por qualquer um dos pais junto com os filhos” (XXXX). A campanha resultou na mudança efetiva da definição de família no Dicionário Houaiss, que passou a definir esta instituição como: "Núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantém entre si relação solidária" (XXXX). Mas, e os homossexuais, como eles definem família? No estudo realizado por Rodrigues e Carmo (2006), com uma amostra de quatro homossexuais, dois dos entrevistados definiram a família como sendo “a base de um indivíduo”, sendo que um deles completa sua definição como as palavras “amor”, “afeto”, “carinho” e “educação”. Os outros dois entrevistados conceituaram família conforme a perspectiva de quem a constitui. Para um deles, a família é formada por um grupo de pessoas por meio de laços sanguíneos e afetivos. Já, para o outro, a família é a junção da http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/09/comissao-aprova-definir-familia-como-uniao-entre-homem-e-mulher.html http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/09/comissao-aprova-definir-familia-como-uniao-entre-homem-e-mulher.html 8 família nuclear, da família extensa e da rede de apoio social. Os relatos dos entrevistados definem que a família não pode ser limitada a laços sanguíneos, abrange qualquer ligação baseada na confiança, suporte mútuo e desejo comum de compor uma família (RODRIGUES E CARMO, 2006, p. 18). Esses dados, segundo os autores, corroboram com o conceito de rede informal de parentesco proposto por McGoldrick (2012), no qual família vai além da estrutura biológica e abrange qualquer pessoa que seja um apoio importante (Rodrigues & Carmo, 2006, p. 18). 3 “Meu filho é gay”: a reação dos pais frente a revelação da homossexualidade dos filhos O preconceito e a discriminação contra pessoas cuja orientação sexual ou identidade de gênero fogem aos padrões heteronormativos estabelecidos socioculturalmente ao longo da história e cultivados pela sociedade contemporânea, são ainda vistos a olhos vivos. É comum vermos noticiar na mídia matérias sobre violência contra pessoas LGBT. Segundo pesquisa realizada pela Secretaria de Direitos Humanos, no Brasil, em 2012, foram registradas pelo poder público 3.084 denúncias de 9.982 violações relacionadas à população LGBT, envolvendo 4.851 vítimas e 4.784 suspeitos. Em relação a 2011 houve um aumento de 166,09% de denúncias e 46,6% de violações, quando foram notificadas 1.159 denúncias de 6.809 violações de direitos humanos contra LGBTs, envolvendo 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos. Ainda, de acordo com a mesma pesquisa, 20,69% dos agressores são vizinhos das vítimas; em segundo lugar, estão os familiares, responsáveis por 17,72% das agressões; destas, 6,04% são cometidas por irmãos da vítima, 3,93% pelos pais e 9 3,24% pelas mães. Em 2011 a maior parte dos suspeitos das violações foram familiares (38,2%) e vizinhos (35,8%), seguidos por companheiros, com 11,6% e amigos (8,4%). Em relação ao tipo de violência sofrida, pode‐se verificar que violências psicológicas foram as mais reportadas, com 83,2% do total, seguidas de discriminação, com 74,01%; e violências físicas, com 32,68%. Também há significativo percentual de negligências (5,7%), violências sexuais (4,18%) e violências institucionais (2,39%). Esses dados nos permite refletir que, embora a homossexualidade tenha ganhado visibilidade nas três últimas décadas, ocupando o centro dos debates em instâncias importantes representativas da sociedade, a violência e a violação de direitos humanos desta parcela da população ainda é um fato, cujos índices se mostram alarmantes. Contudo, embora toda e qualquer forma de violência seja condenável, por consistir em uma violação ao espaço, ao ser, ou ao direito do outro, a violência intrafamiliar talvez seja a mais preocupante. Os arquivos do Grupo Gay da Bahia trazem inúmeros registros de filhos e filhas que sofreram inúmeras agressões físicas por parte dos pais, quando esses descobriram sua homossexualidade (Motta, 2003, apud Palma & Levandowski, 2008, p. 773). De acordo com Soliva e Silva Jr. (2014, p. 131), “as agressões, as ameaças e outros tantos tipos de violência comunicam a intolerância, a frustração e os medos que esses familiares comumente exteriorizam quando se deparam com a existência de um filho homossexual”. Ainda de acordo com Soliva e Silva Jr. (2014, p. 131), “esses medos se relacionam intimamente com o rompimento dos projetos que esses familiares têm para os destinos sociais de seus filhos”. 10 Planos como netos, casamento, continuação da família são abruptamente corrompidos e ameaçados. O que resta é tão somente a percepção de que precisam fazer algo para resgatar tais projetos. Esse processo desencadeia fortes conflitos que fazem dos ambientes familiares espaços marcados por medos, receios e incertezas para esses jovens. (Soliva & Silva JR., 2014, p. 131). Desse modo, fica evidente que as famílias de origem, na maior parte das vezes, operam a partir de uma crença de que todos os filhos serão heterossexuais e crescerão seguindo estilos de vida e vivências desse tipo (Sanders, 1994 apud Palma & Levandowski, 2008, p. 773). Esse fato faz com que muitas das vezes, alguns homossexuais optem por não revelarem aos seus respectivos familiares sua orientação sexual. Em sua pesquisa, realizada com seis homossexuais, Rodrigues e Carmo (2014) observaram diferentes tipos de reações familiares diante da revelação da homossexualidade de seus entes. Três dos entrevistados (50%) declaram ter tido problemas com a família, no que tange a não aceitação de sua orientação sexual, no momento da revelação. Outros dois declararam que a não aceitação partiu apenas por parte de um dos membros da família. E um dos entrevistados declara que optou por não contar deixando que as coisas “fluíssem naturalmente”. Nesse último caso, de acordo com os dados da pesquisa, não houve mudanças significativas nas relações familiares. Embora este estudo não traga especificidadessobre o tipo de violência praticado contra esses indivíduos, a própria “não aceitação” da orientação sexual do filho por parte da família (ou por um de seus membros) pode ser considerada uma forma de violência, pois implica no desrespeito à subjetividade 11 do outro que, nesse contexto, é visto como um objeto, destituído de desejos, e que cuja posse pertence aos pais. Observa-se nesse espaço uma relação e poder em que o mais frágil – no caso o filho que, geralmente, no momento da revelação, ainda, se encontra dependente dos pais – e submetido aos desejos do mais forte – no caso, dos pais, seus financiadores. Palma e Levandowski (2008, p. 773) destacam que: A grande maioria das mães que têm filhas homossexuais parece esperar uma mudança nessa orientação sexual. Com isso, acaba predominando a intolerância e o inconformismo, constituindo-se a família, para a grande maioria de lésbicas, a principal preocupação, seja como fonte de repressão, seja como cobradora de compromissos sociais heterossexuais. Ainda de acordo com essas autoras, a não aceitação da orientação homossexual dos filhos por parte da família e da sociedade, os leva ao isolamento pessoal opressivo, à solidão e a autorrecriminação. (Palma & Levandowski, 2008). Goldfried e Goldfried (2001, citados por Palma e Levandowski, 2008) falam sobre a necessidade de apoio e aceitação por parte da família para uma melhor qualidade de vida de gays e lésbicas. Segundo esses autores, à medida que os homossexuais sentem que continuam sendo amados e protegidos pela família, os problemas sociais oriundos de sua orientação sexual tornam-se menores e mais fáceis de serem enfrentados. Segundo McGoldrick (2003), citados por Rodrigues e Carmo (2008, p. 16) “o processo de aceitação no qual a família passa, inclui, para os pais, se perceberem como sendo pais 12 de um filho homossexual, envolve questões de autorreconhecimento, auto-identificação autorrevelação, e integração de uma identidade modificada”. 4 A união homoafetiva nas instâncias jurídicas e instituições religiosas Na década de 1980, com o surgimento do HIV/AIDS, principalmente entre homossexuais – o que levou a doença a ser denominada inicialmente como o “câncer gay” – os movimentos gays passaram a reivindicar veementemente o direito ao casamento civil entre pares homoafetivos. Nesse cenário, muitos homossexuais ao perder seus parceiros, perdiam também a possibilidade de acesso aos bens adquiridos em conjunto e aos direitos previdenciários, sendo a regulamentação do casamento homossexual um caminho possível para assegurar esses direitos (Butler, 2003; Miskolci, 2007; Uziel et al. 2006; Andrade & Ferrari, 2009). Nesse sentido, conforme ressaltam Alexandre e Escardua (2014, [s/p]), “pode-se dizer que a epidemia do HIV/AIDS juntamente com a discussão do direito patrimonial para os casais homossexuais, constituiu um dos fatores políticos que mais favoreceram a emergência do debate sobre a regulamentação da conjugalidade homossexual na esfera pública”. 13 As discussões acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo passam a ganhar visibilidade, provocando uma reação conservadora na sociedade, visto que esta pauta, conforme destacam Áran e Correa (2004) – citados por Alexandre e Escardua (2014, in press) – “rompe com a desejada invisibilidade do referido grupo”, além e evocar temores em torno de uma mudança social que possam abalar a estrutura de valores e instituições tradicionais como a família e o casamento – conforme ressalta Miskolci, (2007 apud Alexandre & Scardua, in press). No Brasil, nas últimas duas décadas, travou-se um caloroso debate em relação à regulamentação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, tanto por parte do Poder Legislativo, quanto por parte do Poder Judiciário. Dentre os entraves presentes nessa discussão, sublinha-se a dificuldade de conceber o casamento homossexual com base nos mesmos critérios do casamento tradicional e as implicações dele decorrentes (Alexandre & Scardua, in press). Neste país, em 1995, foi apresentado a Câmara dos Deputados, pela então deputada Marta Suplicy, o projeto de lei Parceria Civil Registrada - PCR, que visava disciplinar a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Contudo, conforme ressaltam Jeolás e Lopes (2008 apud Alexandre & Scardua, 2014) “esse projeto possuía algumas limitações, pois ao passo que visava estender aos casais homossexuais alguns direitos civis outorgados apenas para cônjuges heterossexuais como a herança e os benefícios previdenciários, não equiparava essa união a uma entidade familiar”. Além disso, a pesquisa de Jeolás e Lopes (2008), que teve por objetivo analisar as falas dos deputados contrários à aprovação da PCR, revelou fortes resistências por parte dos parlamentares, que condenavam esse tipo de união com base em argumentos religiosos 14 e morais, associando-a ao pecado e a imoralidade. Segundo Danièle Hervieu-Léger (2003, apud Zambrano, 2006): A condenação generalizada da homossexualidade que persiste nas sociedades contemporâneas, ainda muito influenciadas pela lei religiosa, é a principal resistência à visibilidade das famílias homoafetivas, percebidas como atentatórias ao caráter “sagrado” adquirido pela “família” nas sociedades modernas. Essa “sacralidade”, que toma como apoio a ordem natural das relações entre os sexos, torna “impensável” qualquer outra configuração de família que não seja a composta por pai-homem, mãe-mulher e filhos. A autora alerta, entretanto, que esse impositivo “divino” não está presente apenas nas religiões, encontra-se, também, em outras áreas do saber. A influência religiosa se expressa nos três campos mencionados. Essa associação entre pecado e homossexualidade é o que torna impensável para muitas religiões, ainda hoje, o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo; embora, recentemente, fora noticiado na imprensa alguns casamentos homoafetivos em igrejas que se intitulam como novas vertentes da igreja católica e do protestantismo. No Brasil, o reconhecimento do casamento homoafetivo como entidade familiar, em analogia à união estável já praticada para casais heterossexuais, tornou-se possível em maio de 2011, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento conjunto da Ação 15 direta de Inconstitucionalidade (ADI) n.º 4.277, proposta pela Procuradoria Geral da República (PGR), e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n.º 132, apresentada pelo governador do estado do Rio de Janeiro. Até então, de acordo como o art. 1.723 do Código Civil, era reconhecida como entidade familiar apenas as famílias cuja constituição era formada pela união estável entre casais heterossexuais. Na ocasião, da aprovação das emendas supracitadas (ADI 4.277 e ADPF 132), o Ministro Ayres Brito, relator do processo, solicitou a exclusão de qualquer significado que impedisse a inclusão de casais homoafetivos nos termos do referido artigo. Esse reconhecimento legal da união homoafetiva conferiu aos casais homoafetivos todos os direitos constitucionais assegurados aos casais heterossexuais, como pensões, herança fiscal, imposto de renda, segurança social, benefícios de saúde, imigração, propriedade conjunta, visitação em hospitais e prisões, além do direito à fertilização in vitro e à barriga de aluguel. Em maio de 2013 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou a Resolução n.º 137 que tornou obrigatória a realização de cerimônias de casamentos homoafetivos por todos os cartórios brasileiros, além de também obrigar estas instituições a converterem a união estável em casamento conforme interesse dos envolvidos. Atualmente, apenas 23 países em todo o mundo reconhecem legalmente a união entre casais homoafetivos. O primeiro país a reconhecer esse tipo de união foi a Holanda, no ano 2000. Na sequência vieram: a Bélgica, cuja aprovação foi em 2003; a Espanha e o Canadá, em 2005; a África do Sul, em 2006; a Noruega e a Suécia, em 2009; Portugal, Argentina e Islândia, em 2010; aDinamarca, em 2012; o Brasil e a França, em 2013; a Inglaterra e Luxemburgo, em 2014; a Finlândia, a Irlanda e os Estados Unidos, em 2015; e, mais https://pt.wikipedia.org/wiki/Argui%C3%A7%C3%A3o_de_Descumprimento_de_Preceito_Fundamental https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_do_Rio_de_Janeiro https://pt.wikipedia.org/wiki/Fertiliza%C3%A7%C3%A3o_in_vitro https://pt.wikipedia.org/wiki/Maternidade_de_substitui%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Maternidade_de_substitui%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Conselho_Nacional_de_Justi%C3%A7a 16 recentemente, a Itália que, em fevereiro de 2016 também aprovou a união entre pessoas do mesmo sexo. 5 Famílias homoafetivas e homoparentalidade Segundos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013), em 2013, ano em que foram aprovadas a ADI n.º 4.287 e a ADPF n.º 132, foram realizados, no Brasil, 3,7 mil matrimônios entre pessoas do mesmo sexo, sendo 52% entre mulheres e 48% entre homens. Em 2014, segundo dados do mesmo instituto, foram registrados no Brasil 4.854 casamentos entre cônjuges do mesmo sexo, um aumento de 31,2% de aumento em relação ao ano anterior. Desses, 50,3% uniões formalizadas entre mulheres e 49,7%, entre homens (IBGE, 2014). A legalização do casamento homoafetivo possibilitou que gays e lésbicas assumissem publicamente tanto sua orientação afetivo-sexual quando suas parcerias amorosas. Hoje as famílias homoafetivas são um fato, elas existem. Essa redefinição dos padrões de conjugalidade e parentalidade, rompem-se os limites convencionais, até então restrita ao âmbito heterocentrista (Mello, 2005 apud Rodrigues & Carmo, 2013, p.13 ). Segundo Rodrigues e Carmo (2013), dentre os principais problemas enfrentados pelos casais homoafetivos destacam-se a falta de aceitação da família e da sociedade. Ainda, de acordo com estas pesquisadoras, “tais dificuldades tem como consequência um elevado risco de o casal desenvolver problemas de fronteiras relacionais um com o outro” (Rodrigues & Carmo, 2013, p.13). 17 Em relação às diferenças entre casais homoafetivos masculinos e femininos e os casais heterossexuais, segundo Heilborn (1992, citado por Palma & Levandowski, 2008): O casal de mulheres seria marcado por um intenso companheirismo, com forte ênfase no apoio psicológico mútuo, e que a sexualidade não encontra entre as lésbicas a mesma importância que tem entre os gays, pois a escolha das parceiras, mesmo eventuais, não se efetiva em função da atração sexual, e sim, do amor. Por isso, essas relações também teriam uma duração maior em comparação à dos relacionamentos homossexuais masculinos. Marvin e Miller (2002) afirmam que os casais de lésbicas são vistos como semelhantes aos casais heterossexuais, e, se comparados aos homossexuais masculinos, apresentam de forma mais intensa a homogamia social presente nos casais igualitários. Segundo, Palma e Levandowski (2008): Lésbicas não perseguem o prazer sexual como finalidade única da relação com companheira, seus objetivos são níveis profundos de comunicação, ternura, carinho e delicadeza. Então, a amizade é que se torna sexualizada, pois a relação nasce de um sentimento profundo que tem por base o amor. 18 Outra questão que é enfrentada com bastante dificuldade pelos homossexuais, casados ou não, é o direito a serem pais e mães, ou seja, de exercerem a denominada homoparentalidade. 6 Homoconjugalidade Masculina: “Homens como outros quaisquer” A homoconjugalidade, assim como diversas novas formas de organização familiar, é um campo recorrente nas ciências humanas, exigindo uma visão ampla e multidisciplinar para se reconhecer além do fato, o fenômeno. As ciências sociais, a psicologia e a biologia fornecem materiais passiveis de uma reflexão critica acerca do tema e abrem espaço para futuras pesquisas, que possam contribuir para uma transformação positiva no mundo. Por meio da análise de uma tese sobre relacionamentos homoafetivos masculinos e a construção da subjetividade destes enquanto sujeitos, realizado por Lopes (2010) em Brasília e Buenos Aires com um embasamento antropológico através da pesquisa de campo, e utilizando a analise do discurso dos nativos para tornar possível uma reflexão acerca desse tema, somos apresentados a diversas informações sobre este grupo. O que se mostra durante a leitura do trabalho também foi evidenciado pelo grupo durante as atividades praticas realizadas: os casais homoafetivos masculinos são compostos por homens como outros quaisquer; são pessoas como outras quaisquer; são famílias como outras quaisquer. E importante ressaltar, a fala “homens como outros quaisquer” apareceu de forma “espontânea” no discurso de vários casais entrevistados (Lopes, 2010, p. 16). Cada casal possui uma organização peculiar, um arranjo exclusivo e com funções delimitadas quando necessário. Cada indivíduo é possuidor de uma subjetividade, uma 19 história e um plano de vida. Tanto como casal, quanto como sujeitos e indivíduos, os entrevistados se mostraram diversos e, ao mesmo tempo comuns, por exemplo: buscam crescimento como indivíduos e como casais, possuem um plano de vida e se organizam juntos para realizá-los, incluindo a tomada de decisões que são realizadas em conjunto considerando o casal (Lopes, 2010, p. 146); se relacionam de forma monogâmica ou aceitam a poligamia, criando regras e limites próprios, mas em todos os casos apontam a necessidade de uma “fidelidade” que transcende o sexo e se pauta em uma honestidade com o outro (Lopes, 2010, p. 23). Os casais homossexuais estão inseridos em um contexto específico, em um local histórico, cultural e social/financeiro distinto que influenciam e se entrelaçam em toda sua vida, desde a “saída do armário” (metáfora utilizada para representar a aceitação em algum nível publico da sua homossexualidade) que não é vivenciada de forma comum a todos (Lopes, 2010, p. 192); e um macrocontexto que se encontra em uma época de emergência de um “pós-patriarcado” (Therborn , 2006, citado por Lopes, 2010, p. 138). Um aspecto que se destaca diz sobre a “performance de gênero” que permeia todo o trabalho de Lopes (2010), e pode ser definido como o comportamento estipulado pela sociedade, correspondente ao sexo biológico masculino ou feminino, e esperado de ser reproduzido pelos membros inseridos no contexto histórico-social. A performance de gênero então seria um “ideal de masculinidade” ou “ideal de feminilidade” que serve de modelo e deve ser alcançado pelos nativos. Os entrevistados possuíam uma performance de gênero masculina, que era exaltada por eles durante as conversas estabelecidas. Para complementar a reflexão deve-se considerar que a performance de gênero varia de acordo 20 com o ambiente especifico e imediato que o sujeito se encontra, se diferenciando do macrocontexto (Lopes, 2010, p. 90). A discussão a respeito da performance de gênero e da homoconjugalidade é ampliada por Lopes (2010) ao descrever uma pirâmide hierárquica de praticas sexuais (Rubim, 1989 citado por Lopes, 2010, p. 26): Tais “lugares” neste sistema hierárquico se baseiam em análises das práticas sexuais, tendo no topo da pirâmide erótica as práticas dos heterossexuais reprodutores casados e monogâmicos, seguidos pelos heterossexuais monogâmicos não casados em parceria estável e, posteriormente, os demais heterossexuais. Na base desta pirâmide estão os grupos/classes sexuais mais desvalorizados pela sociedade, os transexuais, travestis, fetichistas, sadomasoquistas, michês, atores pornô, prostitutas etc.; um pouco acima estão os homossexuais promíscuos (visto negativamente, especialmente depois da epidemia de AIDS); e logo acima, os casais homossexuais estáveis, já no limite da respeitabilidade, quase no considerado “bom sexo”. Lopes (2010) elaborou uma problemática sobre as classificações, exigências e modelos pré-estabelecidos pela sociedade a seus membros, bem como a necessidade de aceitação a esses modelos, os “pânicosmorais” e sanções aplicadas a todos nesse sistema (Miskolci, 2007, citado por Lopes, 2010, p. 26). Além da demonstração da força do momento histórico e toda sua trajetória, da sociedade e da cultura na formação do sujeito, é descrito também o reducionismo na sexualidade do sujeito em rótulos. Consequentemente a essa 21 classificação, esse modo de ver o mundo em uma visão binária onde esta postulado “a forma correta” e “a forma errada” é questionado (Butler, 2003a, citado por Lopes, 2010, p. 206). O que está sendo discutido não é mais a diferença na homoconjugalidade, e sim todas as formas de conjugalidade e a inconsistência em incorporar a homoconjugalidade “a forma correta” e excluir todas as outras formas de expressão sexual e de relacionamento com a alteridade, colocando-as sob o rótulo de “forma errada”. O preconceito a homossexualidade deve ser analisado considerando também a problemática da “higienização social” e todas as coações que a sociedade exerce sobre o individuo, além da já mencionada pirâmide hierárquica das práticas sexuais. Nos casos apresentados durante o trabalho poucos relataram sofrer preconceito devido ao fato de não se comportarem de forma “afeminada” ou ligados a estereótipos homossexuais (Lopes, 2010, p. 205). O que chama atenção e merece reflexões críticas e trabalhos posteriores é então o “medo” da sociedade na desconstrução de ideais, sejam eles masculinos ou femininos. Além do “temor” em uma exposição da realidade homossexual, as exposições publicas de afeto, que são reprimidas ou proibidas e pautadas em um discurso de respeito a alteridade (Lopes, 2010, p. 206). Nesse momento a autoclassificação dos casais como “homens como outros quaisquer” assume aqui um caráter peculiar: expressa um desejo igualitário a maioria, e se torna excludente aos “divergentes” que não se comportam como deveriam se comportar pela visão da sociedade; se torna uma resposta defensiva evitando a resolução (ou o inicio de uma problematização) de um conflito e justificando um determinado comportamento. Essa resposta defensiva reflete também o preconceito e violência resultante da pressão social (Lopes, 2010, pag. 207). 22 7 Adoção e homoafetividade: a parentalidade de cara nova Quando uma criança nasce, ela logo se torna um filho(a)? E quando nasce um filho, necessariamente temos um “pai” ou uma “mãe”? Seriam a filiação, a paternidade e a maternidade processos biológicos, naturais e instintivos? A partir desta breve reflexão, é possível conceber a adoção na espécie humana como um processo generalizado, que não está necessariamente ligado à orientação sexual, por exemplo. Embora seja como filho que “nasçamos”, todos somos adotados a partir de um processo que poderia ser denominado de “adoção simbólica”. É a partir dessa adoção que há uma identificação com o papel de filho(a), pai e mãe e, consequentemente, um exercício destes papéis no dia-a-dia de suas existências (Laia, 2008,p. 31). A partir desta perspectiva da adoção simbólica, o que diferenciaria a adoção por parte de casais homoafetivos em relação a casais heteroafetivos? Uma criança que aguarda pelo processo de adoção precisa de uma família que seja capaz de atender não apenas às suas necessidades básicas de sobrevivência, mas um “lar” que seja capaz de prover afetos, acolhimento e proporcionar o melhor desenvolvimento que esta criança poderia ter. Desta forma, se casais homoafetivos se identificam com o papel da maternidade ou paternidade, o que os impediriam de adotar uma criança e prover a ela um lar? Segundo a literatura, existem quatro formas de acesso principais à homoparentalidade: quando o homossexual, por ocasião de uma relação heterossexual anterior, tornou-se pai ou mãe de uma criança, fruto desta relação; pela adoção; por métodos de reprodução assistida; e pela co-parentalidade. Neste último caso, os cuidados cotidianos são exercidos de forma 23 conjunta e igualitária pelos parceiros, podendo aparecer entrelaçada com as formas de acesso citadas anteriormente. (Zambrano, 2006). Contudo, embora a adoção por homossexuais já seja uma realidade em muitos países do mundo, esse fato ainda provoca muitas divergências de opiniões. Pessoas contrárias a esse processo geralmente baseiam-se em dois principais argumentos para manter sua posição contrária: o comprometimento psicossocial que possa ocorrer em crianças filhas de casais homoafetivos, como o preconceito e a discriminação social; e a possibilidade de a sexualidade dos pais influenciar a sexualidade dos filhos. Extensas revisões de literatura colecionam resultados de estudos que evidenciam que o envolvimento emocional de mães lésbicas com seus filhos, no geral, não diferenciam das famílias heterossexuais. Desse modo, não seria a orientação sexual da mãe ou mesmo a estrutura familiar em si o aspecto determinante para avaliar a capacidade parental ou o desenvolvimento psicossocial dos filhos, mas, sobretudo, a qualidade das relações entre eles, bem como a disposição dessas mães para gerirem os conflitos que possam ocorrer frente à evolução dos arranjos familiares. (Lira, Morais & Boris, 2015, p. 76). Weber (2007 apud Araújo, Oliveira e Castanha, 2007) aponta que o que majoritariamente deve ser levado em consideração em um processo de adoção é a situação de abandono em que muitas crianças se encontram. Não é preciso estabelecer critérios 24 tradicionais de como deve ser constituída uma “família ideal” – que em muitos casos remete à constituição familiar heteronormativa –, mas é necessário ampliar espaços de debate no que tange a adoção, a família e a orientação sexual de seus membros. Além disso, questiona-se se uma criança que fora adotada por um par homoafetivo não teria seu desenvolvimento comprometido, tornando-a um indivíduo confuso em relação a sua própria identidade sexual e, posteriormente, levando o adotado a declarar-se como homossexual. Todavia, destaca-se o quão equivocado é a crença de que a falta de referência comportamental de ambos os sexos possa vir a intervir na identificação sexual da criança. Não é possível afirmar com tamanha certeza de que uma criança adotada por casais homoafetivos será confusa em relação à sua identificação sexual. Silva (2008, p.17) aponta que a convivência da criança com dois pais ou duas mães não tem o poder de determinar a identidade sexual do filho. Porém os estudos ainda são contraditórios, segundo Lira, Morais e Boris (2015). Esses autores destacam o estudo realizado por Tasker Golombok (1997) que, ao realizarem um estudo comparativo entre jovens adultos filhos de mães lésbicas e mães solteiras heterossexuais, não encontraram diferenças significativas entre esses grupos quanto a autodeminação com gays ou lésbicas. Entretanto, em um estudo realizado por Gartrell et al. (2011) – também citado por Lira, Morais e Boris (2015) – com adolescentes de 17 anos, filhas de mães lésbicas, 20% destas se autodeclararam bissexuais. Contudo, conforme ressaltam Lira, Morais e Boris (2015, p 77-78): O que a literatura não explica é se essas adolescentes são mais propensas a vivenciares relações do mesmo sexo influenciadas pela 25 orientação sexual das mães, ou pela possibilidade que os filhos de casais do mesmo sexo podem demonstrar noções mais expressivas sobre comportamentos sexuais e de gênero e discutir temáticas acerca da sexualidade, dada a sua própria experiência no seio da família. Dias (n.d.) também aborda um fator que causa certa apreensão, sobretudo nos casais homoafetivos que desejam candidatar-se a adoção: a possibilidade de o filho ser repudiado pelo meio social que será incluído posteriormente. Há um receio de que a criança seja alvo de escárnio, discriminação e até mesmo violência, o que poderia causar perturbações psicológicas e dificuldades de inserção social. De fato, estamos inseridos em uma sociedade onde ainda existe o preconceito e o presente estudo não tem o objetivo de apontar formas de se erradica-lo por completo.Caberia a esses pais ou essas mães adotivos acompanhar as demandas de seu filho e recorrer às diversas ferramentas que estão a seu favor, tanto no âmbito psicossocial quanto no âmbito jurídico. Reivindicar seus direitos enquanto cidadão possibilita uma maior conscientização da população geral dessa nova configuração familiar que surge, contribuindo para que a luta pela visibilidade LGBT se faça cada vez mais presente, mobilizando toda sociedade em direção ao respeito. 8 Mídia e homoparentalidade As novas formações de família trazem inúmeras possibilidades no que se refere a maneira como é constituída. A mídia possui um papel fundamental nessas discussões. Na 26 presente discussão detemo-nos a problematizar a forma como as telenovelas e a mídia de uma maneira geral vêm representando uma nova constituição de família, em específico a família homoparental. A necessidade e a escolha desta discussão nasce a partir de questões relacionadas à família, a serem abordadas em grupos de discussões propostos na disciplina "dinâmica da família". A falta de discussões críticas a respeito da maneira que essa nova constituição de família vem sendo representada elucidaram a vontade de abordar tais questões. Apesar de existir uma tentativa em diferentes meios de comunicação, principalmente as telenovelas brasileiras, de mostrar a pluralidade e as modernas maneiras em que as famílias vem sendo constituídas, é necessário uma discussão a maneira como estas famílias estão sendo representadas na mídia. As novas configurações familiares no que diz respeito a contemporaneidade não vinculam se somente ao modelo tradicional de família, denominada família nuclear, que possui como características um pai, uma mãe e dois filhos. O aumento dos divórcios, as novas tecnologias ao que se referem a reprodução, a adoção, vem a algum tempo aumentando as possibilidades de novas maneiras de se constituir famílias, possibilitando a casais homossexuais constituírem suas famílias. Pensando sobre tais questões, procuramos na literatura e nas discussões em grupo (GD) evidências que elucidassem a maneira que a mídia vem representando essas novas constituições de família e como os participantes vêem tal representação. Ao questionarmos aos participantes da discussão se já haviam assistido alguma novela ou série que tivesse representado uma família homossexual, a grande maioria disse que sim. Quando perguntamos a visão sobre a maneira como elas compreendem estas 27 representações, emergiram questões de críticas, mas também de reconhecimento por ser um primeiro passo para a discussão desse novo modo de ser família. Críticas surgiram principalmente ao modo como as telenovelas representam os casais. Sobre casais femininos, uma das críticas é a fetichização exacerbada, apresentando sempre mulheres bonitas, com corpos esculturais, seguindo um modelo padrão de beleza e o envolvimento de um terceiro (do sexo masculino) nessa relação. Foi citada uma novela por um dos participantes (Amor à vida) na qual foi feito um grande "espetáculo" para um último capítulo. No qual o casal do sexo masculino iria dar um "beijo gay". Ela conta da expectativa criada por sua parte para ver este capítulo. Outro participante pergunta aos demais: "Mas quem não criou, gente? Eu mesmo esperei muito!”. Percebe se também como por vezes as novelas se utilizam dessas representações para atingir um público alvo e ganhar audiência, não se preocupando com a importância das discussões políticas e sociais que permeiam tais questões. A literatura também traz críticas a tais representações, as cenas/imagens atreladas à família homoparental como algo exótico, uma ideia de algo muito distante da sociedade, impossível no mundo real. A forma estereotipada como os casais são tratados, podem reforçar atitudes preconceituosas. A ciência também pode ser citada como uma das grandes influências para o reconhecimento da família consanguínea (DNA) como correta, verdadeira, única possibilidade possível. Colocando os laços biológicos como características legítimas de uma família. 28 Percebe se que a representação histórica de constituição de família ainda possui grande influência social. Mesmo nas relações de homoparentalidade e de distintas maneiras de ser família, os papéis (pai e mãe) são fortemente arraigados a ser família. Considerando todas as questões mencionadas, verificou-se que a mídia possui uma grande influência principalmente a TV aberta, podendo ser considerada formadora de opinião em especial nas camadas populares. É necessário atentar se a condição de como a representação da homoparentalidade é veiculada, e ainda certificar-se se os discursos e seus significados políticos e humanos estão sendo respeitados. Ressaltamos a importância da visibilidade propiciada por estes veículos que se representadas de uma maneira respeitosa podem ser o início de um processo de mostrar a sociedade que são práticas tão legítimas quanto à heteroparentalidade. 29 DISCUSSÃO A discussão deste estudo será norteada a partir das três atividades práticas desenvolvidas pelo grupo, conforme proposta metodológica delineada durante o processo de delineamento do estudo. Tais atividades consistiram na realização de três entrevistas semiestruturadas, sendo: a primeira com uma psicóloga da Vara da Infância do Fórum da Comarca de Uberlândia; a segunda com uma psicóloga da ONG Pontes de Amor*, responsável pela certificação de casais adotantes na cidade de Uberlândia; e a terceira, como um casal homoafetivo homoparental. ATIVIDADES PRATICAS A) Entrevista com a psicóloga do Fórum No dia 13 de maio de 2016 ocorreu a primeira entrevista com a psicóloga Jamile, no Fórum Abelardo Penna, em Uberlândia-MG. Ela relatou que nos anos de sua prática deparou somente com um caso de adoção homoparental. Eram dois homens, jovens, um de 24 anos e outro de 29, em um relacionamento estável e que tinham interesse em adotar 30 uma menina de outra cidade. Segundo Jamile, esta adoção ocorreu de maneira rápida e os tramites demoraram apenas 9 meses. De acordo com Souza (2006, citado por Santos, Scorsolini-Comin & Santos, 2013), mesmo com o aparecimento de novos arranjos familiares, o casamento monogâmico e heterossexual ainda vigora como norma no imaginário coletivo. Este pensamento excludente que privilegia um modelo único de família produz preconceitos, conflitos e discursos estigmatizantes (Perroni e Costa, 2008, citado por Santos et al., 2013). Muitos desses discursos são reproduzidos em juízes quando irão fundamentar suas decisões em relação à adoção por um casal homoafetivo, como foi relatado pela psicóloga. Como não existe uma lei específica a situações de adoções homoafetivas, estes casos são tratados pela lei nacional de adoção. A partir deste fato, Jamile afirma que muitos casos de adoção homoparental ficam à mercê da perspectiva de família que o juiz possui. A psicóloga também relata que decisões favoráveis de um juiz e a maneira como ele fundamenta sua sentença, pode ser utilizado por outro juiz para justificar sua deliberação. O processo de habilitação dos adotantes para a adoção exige a intervenção multidisciplinar do psicólogo e do assistente social, estes profissionais constituem a equipe técnica que colaborarão com a decisão do juiz e a preparação da família para o acolhimento da criança. (Rosa, Melo, Boris & Santos, 2016). No seu exercício profissional, Jamile declara que casos de adoções homoparentais serão avaliados por ela como qualquer outra situação de adoção, esta afirma ter uma postura progressista em relação às novas configurações familiares. Para a psicóloga, o que importa em um processo de adoção é se os novos pais serão capazes de oferecer a criança um ambiente de amor e cuidado. Os estudos apontam que não é possível comprovar 31 alguma desvantagem na criação de crianças por casais homoafetivos. Admite-se que o vinculo estabelecido entre adotantes e adotados e que determinará a qualidade da relação.Fatores como a inserção da criança em um ambiente harmonioso e da disponibilidade dos pais em oferecem os cuidados necessários ao filho serão predominantes. (Silva, Mesquita, & Carvalho, 2010; Teixeira Filho, 2010; Uziel, Cunha, & Torres, 2007, citado por Rosa et al. , 2016) É avaliado também se ambos os pais estão propensos a adotar a criança, talvez só um parceiro desta relação tenha inclinação a este processo e o outro só quer agradar seu companheiro. B) Entrevista com a psicóloga da ONG Pontes de Amor Durante uma das supervisões de orientação para construção de nosso grupo de discussão, a professora Anamaria nos informou brevemente sobre o trabalho da Pontes de Amor. Segundo o próprio website oficial da Pontes de Amor (http://www.pontesdeamor.org.br/#!quemsomos/c1a9w, recuperado em 23 de maio de 2016), esta trata-se de uma organização filantrópica sem fins lucrativos, filiada à Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD), fundada em 2012 que atua em Uberlândia e região junto a Órgãos e Conselhos de Direito da Criança e do Adolescente e à Vara da Infância e da Juventude. Visa garantir os direitos de crianças e adolescentes institucionalizados e atua sobre os casos de devolução de crianças pelas famílias adotivas e crises familiares no pós-adoção. Foi feito o contato com telefone e marcou-se uma entrevista com psicóloga da ONG, Any Rosa, que se disponibilizou a esclarecer as eventuais dúvidas do grupo. As alunas 32 Carolina Antônia Goulart de Paula e Tatiane Bezerra Oliveira se dirigiram até o local para a realização da entrevista. A psicóloga Any permitiu que a entrevista fosse gravada em áudio e, posteriormente, excluída uma vez feita a transcrição da mesma (Anexo II). A psicóloga foi categórica ao afirmar que não há diferença no processo de adoção por casais homoafetivos e que desconhece casos cuja adoção foi dificultada ou mesmo não permitida devido a orientação sexual do casal. Houve o relato de um caso cujo homem solteiro queria adotar, porém não se auto-declarava homossexual, o que gerou certa desconfiança entre os profissionais envolvidos no processo de adoção. A psicóloga afirma que tal situação não foi gerada pela orientação sexual deste homem, mas pelo fato de ele esconder tal informação. Any afirma que tentar esconder algum dado não favorece quem está neste processo pela enorme responsabilidade de se destinar uma criança institucionalizada a um lar. Diferentemente do que se esperava, a psicóloga afirma que, quando um casal homoafetivo opta pela adoção de uma criança, os dois podem dar início ao procedimento, juntos. Isso contraria a literatura que, na maioria das vezes, detem o mesmo posicionamento de Castro (2008, p. 23) que afirma que quando um casal homoafetivo decide pela adoção, apenas uma pessoa do casal formalizará o pedido de paternidade ou maternidade da criança. Também se perguntou sobre o trabalho da ONG e sua influência no processo de adoção. A Pontes de Amor oferece um curso de postulantes, com duração de aproximadamente cinco encontros, e que é um pré-requisito obrigatório para que o casal obtenha a habilitação para adotar. Neste curso, são trabalhadas questões como: a motivação para a adoção, o tempo na fila de espera, aspectos gerais e jurídicos, desenvolvimento 33 infantil, a criança real e a criança ideal, a origem da criança e os estados de convivência. Após a conclusa de todos os encontros, é emitido um certificado à este casal ou pessoa que se dispõe para a adoção. A psicóloga esclarece que também são ofertadas palestras abertas para além destes cursos que tratam de temas referentes aos vínculos da família, mas a participação nestes eventos é facultativa. A psicóloga relata que em todos estes cursos - que são ministrados de quatro em quatro meses - há vários casais homoafetivos. Quando questionada sobre a preferência de adoção apenas por um dos cônjuges, a profissional diz que isto fica critério do casal, entretanto a única forma dos dois terem condição judicial sobre a criança é que a adoção seja feita no nome dos dois. Ela reforça que a lei brasileira permite que solteiros ou casados, heterossexuais ou homossexuais adotem, não fazendo nenhuma distinção pela orientação sexual. Any conta mais especificamente sobre um caso e pede para assistente social Olívia trazer mais detalhes sobre o mesmo, já que esta acompanhou de forma mais próxima o processo. Foi informado à Olívia sobre os objetivos do trabalho e a gravação de um áudio, junto a uma posterior transcrição (Anexo III). A assistente social nos relata alguns casos que presenciou durante sua carreira e se compromete a entrar contato com o casal de mulheres citado para tentar mediar uma entrevista entre o casal e o grupo. No dia posterior a entrevista, Olívia envia mensagem para o grupo com a autorização do casal para entramos em contato. Essa entrevista foi acompanhada pelos integrantes do grupo Tatiane e Osmar Rosa. C) Entrevista com família homoparental 34 A terceira entrevista proposta, com o intuito de se atingir os objetivos propostos para este trabalho, foi realizada com um casal de mulheres, mães de uma criança de 4 anos de idade, que fora adotada pelas mesmas aos 2 anos e 4 meses. Joana e Carla relataram que estão justas há seis anos e que oficializaram a união estável 1 ano após o início do relacionamento. Segundo Carla, o motivo inicial da busca pelo reconhecimento legal do relacionamento entre as duas se deu devido à urgência de Joana em possuir um plano de saúde, pois, sendo ela diabética, poderia precisar a qualquer tempo. Esse fato demonstra o quão importante foi o reconhecimento da união estável entre casais homoafetivos, à partir do julgamento da ADI n.º 4.227 e da ADPF n.º132 que conferiu a estes casais condições igualitárias de direitos civis em relação aos casais heterossexuais. Ao serem questionada se possuíam intenção de transformar a união estável em casamento, Joana disse só não tê-lo feito ainda porque Carla havia sido casada anteriormente (relação heteroafetiva) e estava aguardando o processo de divórcio que tramita no judiciário. Nesse sentido cabe destacar a grande incidência de lésbicas que tiveram algum tipo de relacionamento heterossexual prévio à opção pela prática sexual homoerótica (PALMA; LEVANDOWSKI, 2008, p. 773). Segundo Fairchid e Hayward (1996), citados por Palma e Levandowski (2008, p. 773), isso ocorre em função de essas mulheres não assumirem seus verdadeiros desejos sexuais, percebidos desde a infância*, muitas vezes a partir das diferenças entre elas e suas amigas e colegas. Quando questionadas sobre qual o conceito de família para elas, Carla refere-se à família como “o porto seguro, o lugar onde se tem amparo (...)”. Para Joana, a família é a “é base, o início e o fim... quem te ampara no início e fica com você até o fim”. Ideia da 35 família como base e local onde se encontra amparo, também aparece nos resultados da pesquisa realizada por Rodrigues e Carmo (2013), que ao perguntarem aos quatro entrevistados que constituíam a amostra como os mesmos conceituavam família, dois deles reapoderam também ser “a base” – ao que um dos entrevistados acrescenta: “(...) é amor, é afeto, é carinho, é educação. Os demais participantes da pesquisa de Rodrigues e Carmo conceituaram família conforme a perspectiva de sua constituição. Em relação às famílias de origem e a aceitação diante da revelação da homossexualidade, Carla disse que a família (no caso a mãe), “aceitou numa boa”. Já Joana disse ter tido resistência por parte da família. Para a mesma, o fato de a família ser evangélica foi um fator complicador do processo de aceitação. Joana ressalta que a mãe associava a sua homossexualidade à “carência”, pelo fato de a mesma nunca ter apresentado um par amoroso para a família e não ter demonstrado interesse por ninguém até o final da adolescência. Passado algum tempo após a revelação de sua sexualidade, a mãe de Joana sofre um acidente vascular cerebral(AVC), ao passo que os irmãos (5) a culpabilizam pelo estado de saúde da mãe. Em uma pesquisa realizada por Palma e Levandowsk (2008, p. 776), com seis mulheres lésbicas, as reações familiares diante da revelação da homossexualidade da filha foram diversas, a saber: apoio; nervosismo; choque; susto; agressividade; e culpa. As autoras ressaltam que “a grande maioria das resposta apontou para reações negativas por parte dos familiares diante da descoberta da orientação sexual das participantes. Em relação à reação de aceitação imediata da mãe de Carla, segundo Rodrigues e Carmo (2008), quando o homossexual opta por não cortar à família sua orientação sexual, deixando que o processo flua de forma natural, a incidência de conflitos e questionamentos 36 por parte dos familiares é menor. Contudo, ressalta-se que quando Carla apresentou Joana à mãe, esta, dentro de um contexto de naturalidade, foi mostrar o álbum de casamento da filha para sua companheira. Poder-se-ia pensar sobre isso que, embora há uma aceitação externada de aceitação da orientação sexual da filha, a mãe de Carla ainda nega, mesmo inconscientemente, esta condição. Conforme ressaltam Palma e Levandowski (2008, p. 773) “a grande maioria das mães que têm filhas homossexuais parece esperar uma mudança nessa orientação sexual”. Conforme ressalta Cancissu (2007), citado por Rodrigues e Carmo (2008, p. 16), “deve-se lembrar que, apesar de muitos indivíduos assumirem a homossexualidade na fase da adolescência ou na fase adulta, admitir-se homossexual é um processo contínuo tanto para ele, quanto para a família da qual faz parte”. Para McGoldrick (2003), citados pelos mesmos autores, “esse processo pode ser conceituado como uma progressão que permite movimentos para frente e para trás, influenciado por fatores ambientais, culturais e emocionais”. Joana relatou que morou com seus pais até os 48 anos de idade e que logo no início do seu relacionamento com Carla, esta também foi morar com eles; pois, pelo fato de seus pais possuírem idade avançada necessitavam da presença constante da filha que, no início do relacionamento entre ambas, passou a dormir constantemente na casa da companheira. Nesse interim, Joana e Carla relatam que resolveram dar entrada em um processo de adoção de uma criança. Joana ressalta que já almejar a maternidade antes mesmo de se relacionar com Carla e que, inclusive, já havia dado entrado em outro processo de adoção e havia sido habilitada; e ainda que, em 2005, saiu uma criança para a mesma, contudo 37 salienta que não pode assumi-la, tendo em vista que o estado de saúde de sua mãe havia se agravado. Ao serem questionadas se já pesaram em ter filhos biológicos, Carla disse que sempre teve o desejo de ser mãe, que quando adolescente pensava em ter seis filho, porém, não foi possível a realização deste sonho devido a problemas de saúde (endometriose). É comum vermos na literatura relatos de mulheres que ao serem entrevistadas expressam um desejo de maternidade, por vezes, anterior à sua auto-aceitação enquanto lésbicas. Destas, muitas mantêm esse desejo mesmo depois de se assumirem homossexuais. E a grande maioria dela, procuram recursos para tornar seu sonho uma realidade, seja através da inseminação artificial, seja através da adoção individual, ou da adoção partilhada (entre casais homoafetivos). (Lira, Morais & Boris, 2015; Rodrigues & Carmo, 2013; Palma & Levandowski, 2008) Após nove meses da entrada do processo, Joana recebeu uma ligação da assistente social do Juizado da Vara da Infância – instância jurídica responsável pelos processos de adoção – em que fora-lhe comunicada a existência de uma criança, que já havia sido adotada anteriormente, por um casal heteroafetivo, e fora devolvida à custódia do Estado. A devolução da criança se deu devido ao adoecimento do primeiro “pai” adotivo que sofreu um AVC e, sem saber como reagir, a esposa tomou decisão de devolver a criança. Após reestabelecimento do quadro clínico do envolvido, houve tentativa de rever a guarda da criança pelo casal, contudo o pedido foi negado pela justiça. Pela Lei de Adoção brasileira, após a efetivação da adoção, durante um período de seis meses, há o denominado “período de adaptação” que pressupõe-se necessário á reorganização da 38 convivência entre os envolvido – adotante(s) e adotado. Nesse período é possível que o adotante desista do processo e devolva a criança à tutela do Estado. Ao saber da criança, que aqui chamaremos de Aline, Joana disse que imediatamente, antes mesmo de saber qualquer informação sobre a mesma já deu seu parecer positivo à assistente social. Joana relata ainda que de imediato quis conhecer Aline, porém como se tratava de um período anterior às férias forenses de final de ano, não foi possível devido à burocracia que o processo requeria para realização da primeira visita. Joana relata que viveu um processo de extrema ansiedade até o mês de janeiro quando foi possível conhecer Aline. Carla relata que desde o momento que deu entrada no processo, trocou seu perfil nas redes sociais por “grávida”. É comum casais adotantes viverem com ansiedade o processo de adoção, principalmente quando recebem a notícia do surgimento da possibilidade de efetivação desse intento. Segundo Schettini, Amazonas e Dias (2006, p. 289), Os adotantes vivem a fase de espera com uma tensão carregada de expectativas, preocupações e esperanças. A maneira como esses sentimentos serão vividos e enfrentados será relevante para a construção de atitudes flexíveis e acolhedoras, ou defensivas e de evitação, em relação à escolha efetuada. De acordo com Joana, após quarenta e dois dias de vistas ininterruptas – exceto aos sábados e domingos quando estas eram proibidas – finalmente fora-lhes dada a guarda provisória de Aline e esta passou a morar com as mesmas. Ressalta-se que neste período, 39 Joana ainda morava com seus pais, juntamente com Carla. Joana diz que não houve problema para os pais reconhecerem Aline como sua neta e que, o processo só foi possível porque os mesmos também foram consultados, durante as visitas realizadas por assistentes sociais da Vara da Infância durante o processo, e concordaram em recebê-la em sua casa. Joana e Carla, durante a entrevista, comentaram que quando devolvida ao abrigo pelos primeiros pais adotantes, Aline chorou por doze dias consecutivos chamando pelo nome da primeira adotante que, ao entregá-la de volta à instituição, o fez quando esta estava dormindo. Segundo Joana, o fato de Aline ter sido devolvida fez com que vinte casais consultados anteriormente a elas não quisessem a adotá-la. De acordo com as entrevistadas, o processo de adoção de Aline não demorou como comumente ocorre nos tribunais brasileiros – embora a Lei Brasileira de Adoção preveja que crianças abandonadas fiquem o mínimo possível de tempo institucionalizadas em abrigos – tendo em vista o nível de sofrimento gerado na criança após o segundo processo de rejeição, o que levou o juiz responsável pelo caso a apressar o processo. Segundo Cardim (2009) a devolução de crianças por pais adotivos, se configura no “extremo da paternidade irresponsável, pois os danos causados a um menor nessa condição são imensuráveis” (Cardim, 2009, p. 11). Ao serem questionadas sobre a divisão de tarefas cotidianas e do exercício da parentalidade, Joana disse que atualmente não está trabalhando (por opção), pois, devido aos cuidados requeridos pela filha não vê a possibilidade de trabalhar no momento. É ela a responsável por levar e buscar Aline na escola além de cuidar dos afazeres do lar. Carla disse estar trabalhando, mas que todo tempo que lhe sobre dedica-se aos cuidados com a filha. 40 Pesquisas apontam que os casais de lésbicas apresentam altos índices de cooperação na divisão de tarefas, nos processos educativos e participação em atividades com os filhos e na remuneração financeira. (Gartell et al. 2003; Meletti & Scorsolline-Comin, 215 apud Lira, Morais& Boris, 2015, p. 76). Atualmente Joana e Carla estão no final de um processo para a segunda adoção, neste caso, uma adoção tardia, de uma criança do sexo feminino de 6 anos e 10 meses de idade. Ao serem questionadas se já sofreram algum tipo de violência (física e/ou psicológica) no cotidiano, Carla diz não se lembrar de nenhum episódio específico e Joana cita um fato ocorrido quando ela e sua companheira ainda moravam com seus pais. Segundo ela, em ocasiões de festas de família era comum seus parentes enviarem convites separados para o casal, o que a irritava imensamente. Para Joana esta consiste em uma forma de violência, pois o não reconhecimento ou a negação de seu relacionamento com sua companheira é a negação de sua própria condição. Poder-se-ia pensar sobre este aspecto no que o sociólogo francês Pierre de Bordieu definiu como violência simbólica. Segundo este sociólogo, a violência simbólica se expressa na imposição "legítima" e dissimulada da interiorização da cultura dominante por meio de um poder simbólico. Para Bordieu, a violência simbólica se funda na fabricação contínua de crenças no processo de socialização, que induzem o indivíduo a se posicionar no espaço social seguindo critérios e padrões do discurso dominante. Devido a esse conhecimento do discurso dominante, a violência simbólica é manifestação desse conhecimento através do reconhecimento da legitimidade desse discurso dominante. https://pt.wikipedia.org/wiki/Socializa%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Indiv%C3%ADduo 41 CONCLUSÃO Em relação ao conceito de família, pôde-se observar que os homossexuais, em sua grande maioria, definem esse grupo social como “a base” dos indivíduos que a integram. Conforme observado, a palavra “base” aparece tanto nas definições das entrevistadas neste estudo, como em 50% das definições dadas pelos entrevistados da pesquisa de Rodrigues e Carmo (2013). Nesse sentido, pode-se compreender a palavra base como a estrutura que dá sustentação tanto em termos materiais, como em termos psíquicos aos sujeitos que esta estrutura integra. Quanto à questão de se assumir homossexual perante à família e à sociedade, observa-se que os homossexuais ainda enfrentam muitos problemas diante desta questão. Conforme demonstrado através dos dados da Secretaria de Desenvolvimento Humanos, os crimes contra a comunidade LGBT cresceram 166% entre os anos de 2011 e 2012. E, embora, tenha-se mostrado uma redução de 46,39% do que poderíamos denominar de “homofobia parental”, a literatura tem demonstrado que a grande maioria dos homossexuais ainda são vítimas de violência física e, principalmente psicológica, originadas no seio familiar. Pode-se inferir que esse tipo de violência cometida pelos próprios familiares das vítimas – no caso, homossexuais –, deve-se à herança intrageracional herdada da família tradicional burguesa que, teve sua ascensão entre os séculos XVIII e XIX, e deu origem à família nuclear do século XX, cujos princípios ainda encontram-se arraigados na sociedade em pleno século XXI. Dentre estes princípios 42 destacam-se as influências religiosas, que vêem a homossexualidade como pecado, conforme já mencionado; e as influências do saber médico – cultuado desde a Modernidade – que coloca a homossexualidade no campo das doenças mentais. Embora, a medicina e outras epistemologias e uma grande parcela da sociedade não classifiquem ou considerem mais a homossexualidade como uma patologia (ou transtorno), muitas pessoas insistem em ver esse processo como uma doença, um desvio de caráter ou, um “atentado” contra a moral. ELABORAÇÕES PESSOAIS Carolina Goulart A experiência proporcionada por todo este trabalho foi de envolvimento com a causa, conhecimento sobre as várias questões abordadas, principalmente, os desafios de ser uma família homoafetiva. O senso-comum, muito reproduzido sobre as questões de adoção por casais homoafetivos, mostrou através de pesquisas, da própria experiência em sala e nas práticas, não ter embasamento comprovado, portanto reafirma-se a legitimidade na adoção de pais que assumam as funções de papéis independente da orientação sexual. Além disto, houve os desafios de trabalhar em grupo em prol de uma conscientização sustentada por teoria científica e uma proposta de criar um grupo de discussão em que a criatividade, a arte, o cuidado e a dedicação sustentaram um novo modelo de apresentação. Tudo isto trouxe muita insegurança e ansiedade que foi divido entre todo o grupo. Portanto ser uma família homoafetivas traz o significado de ser comum e não mais algo distante e desconhecido, pois a desconstrução resignifica o que é vínculo e família. 43 Marcelo Hayeck Famílias, relacionamentos, pais, filhos, sexualidades, sexos, gêneros, orientações, preconceitos, casamentos, leis, representações sociais, funções, expectativas... diversidades. Cada parte deste trabalho me afetou de forma profunda, e espero que tenha afetado todos os envolvidos (incluo aqui todas as pessoas que entraram em contato conosco durante sua realização). Tanto como uma pessoa em formação, quanto um estudante de psicologia, todos os aspectos abordados aqui me moveram, instigaram e me fizeram refletir. Refletir sobre a homossexualidade em suas mais diversas formas e também sobre a heterossexualidade em suas também diversas manifestações me ajudou a compreender um pouco mais da amplitude e não binarismo do mundo. Pensar sobre os diversos significados presentes em um determinado grupo, seja ele heterossexual ou homossexual, abre caminho para reflexões e uma (des)contrução de conceitos que em algum momento eu pensei serem certos. O envolvimento dos integrantes do grupo com o tema, e nossa relação estabelecida foi produtiva, cada um a sua maneira e dentro das possibilidades. Com cada contribuição individual sendo valorosa ao trabalho e mostrando um pouco mais das historias de vida de cada um, o que estabeleceu um dialogo entre turmas diferentes e pessoas que hora se encontravam ao redor de um tema em comum (que afetava a todos, sem exceção, das mais diversas formas). A proposta de uma apresentação em formato de Grupos de Discussão (GD’s) foi surpreendente, e apesar dos meus temores iniciais de uma não participação das pessoas, ocorreu o exato contrário: uma participação de todos. Devido a isso reconheço e questiono 44 o problema do tempo, tanto do grupo por não ter se antecipado e se organizado melhor quando da própria estrutura do GD’s que procura abordar um subtema por participante do grupo em um curto período de tempo. Acho que um trabalho realizado aos poucos mas com profundidade, pode ser melhor que um grande trabalho impossibilitado pelo limite de tempo. Devemos considerar a amplitude do tema e também a possibilidade de envolvimento de todos e prolongamento das discussões. Me surpreendi com a disposição das pessoas que assistiram a apresentação do trabalho em sala, com a compreensão dos mesmos acerca dos temas levados por nós e do envolvimento no geral. “Nem tudo são flores”, claro, ainda observo apreensão das pessoas quando expostas a um grupo e a situações diferentes, mas a psicologia dos grupos possui suas peculiaridades. Durante o casamento foi observado uma relutância da sala em se manifestar em um casamento simbólico, um casamento destinado a celebração de um trabalho, de vitórias de um grupo social. Um ponto incrível e digno de menção disso tudo é que quando aconteceu o primeiro “mergulho”, quando a primeira pessoa se propôs (e se expos) a realizar a atividade, varias emergiram. A psicologia das massas explica. Me assustei (da forma mais positiva possível) com a imersão de pessoas que se identificam abertamente como religiosas e que demonstraram gratidão e carinho para com o trabalho. Ao ver o conteúdo do trabalho e relaciona-lo com o meu contexto atual (nunca esquecendo minha perspectiva de futura atuação profissional), vejo a importância das lutas sociais. As lutas LGBT, feministas, dos negros, dospobres e de todas as minorias (que no fim das contas, não são “minorias”) devem existir, e por mais que estejam longe de um fim, já possuem percorridas uma trajetória imensa (e intensa) de conquistas importantes. A desnaturalização do que foi posto como natural por simples convenção e desconhecimento; 45 a revisão de modelos e uma consonância das funções a realidade a qual vivemos; e um olhar solidário para a alteridade se mostram necessários. E também necessário a mim se mostrou a necessidade de reconhecer as transformações que já ocorreram. Percebo, ao olhar para o trabalho a necessidade de uma reformulação e um pensamento critico a respeito das imposições da sociedade sobre o sujeito, e a falta de um respeito incondicional ao sujeito e sua individualidade, seja ela qual for. O excesso de rótulos, que ao mesmo tempo criam um vinculo de identificação para o sujeito também tem caráter excludente e discriminativo; a obsessão por encaixar seres humanos (observando a sua infinita multiplicidade) em modelos pré-existentes ao sujeito e que são postulados como unicamente corretos, sagrados e advindos de uma força abstrata ao mundo físico não se sustentam na atualidade. A parte mais tocante do trabalho foi justamente perceber que existe uma demanda, um “grito” contra o conformismo, a negligência e a discriminação, e que este não parte de vozes isoladas, mas de um coro organizado, bem estruturado, embasado cientificamente e extremamente critico. Estão ocorrendo transformações no modo de vida das pessoas, e por diversos motivos ouve um abalo nas estruturas que foram colocadas como solidificadas na sociedade. As coisas estão mudando. Em um ultima analise observo diversos produtos resultantes deste trabalho, e dentre eles o otimismo e a percepção da mudança que retroalimentam cada vez mais meu amor pela psicologia. Maria Carolina Defino minha experiência pessoal com o trabalho como satisfatória! 46 O diferente modo de partilhar as vivências e experiências do trabalho no grupo de discussão possibilitou novas visões e diferentes possibilidades. Além da possibilidade de poder compreender na prática (com os profissionais da área) todas as questões elucidadas em nossas pesquisas. Como futuro profissional da psicologia, pude compreender a dimensão do tema abordado. A importância da discussão, pois são questões contemporâneas que interferem no modo como a sociedade e os novos modelos de famílias vêm se constituindo. Mário Sérgio Pessoalmente gostei muito do trabalho em todos os aspectos, no aspecto do grupo, do conteúdo, do desenvolvimento e da apresentação, todos se esforçaram muito e acho que o resultado foi muito satisfatório, há muito tempo que eu queria fazer um trabalho que fosse realmente em grupo, no qual todos se envolvessem e participassem, no qual eu teria orgulho após o fim, esse trabalho fez eu sentir muito isso. O conteúdo me fez refletir sobre o que eu conheço me fazendo refletir que conhecendo pessoas LGBT não me faz mais, ou menos ignorante que os outros, pois me julgava como já conhecedor de tudo por ter amigos GAYS, mas percebi por meio de tudo que estudamos e mostramos que sempre sabemos bem menos do que pensamos, o preconceito está enraizado na nossa sociedade e é muito difícil perceber, seja pela simples nomenclatura que damos ou pelo extremo da violência (percebi muito isso na hora da encenação do casamento, mas sei que não era por mal), mas temos que cortar todos os preconceitos pequenos para que o preconceito realmente diminua esse assunto e de extrema importância 47 no nosso dia-a-dia, pois a Homoafetividade sempre existiu e sempre ira existir e pelo o trabalho soube compreender mais sobre essas pessoas que são muitas vezes marginalizadas por simplesmente quererem ter uma vida normal, no qual podem amar sem medo. Osmar Rosa A realização do presente trabalho foi de fundamental importância em vários aspectos. Em primeiro lugar, o presente estudo possibilitou a compreensão das origens históricas do preconceito e da discriminação contra homossexuais. Em segundo, porque a compreensão dessas origens nos possibilita pensar o quanto ainda temos arraigados, em nossa cultura, concepções que são obtidas de forma hereditária através da denominada transmissão transgeracional – transmissão esta que os indivíduos não metabolizam os conteúdos perpassados através das gerações, aceitando-os como verdades e reproduzindo comportamentos que limita nossa compreensão sobre as diversas possibilidades de ser “ser”, de ser “humano”. Ressalta-se também, que a comunhão entre teoria e prática foi de fundamental importância para a compreensão de conceitos que ao passarem do campo do abstrato para o campo do concreto, do real, possibilitaram uma maior compreensão de suas amplitudes. Em temos sociais, discussões sobre temas polêmicos como união homoafetiva, adoção por homossexuais e homoparentalidade, são sempre importantes, pois, desmistificam concepções baseadas no senso comum possibilitando pessoas que, ainda, não aceitam essas questões como fato, repensarem seus conceitos e pré-conceitos. Vale ressaltar também o conhecimento é a principal arma para combater o preconceito, a intolerância e a discriminação. 48 Tatiane Oliveira Para mim, Tatiane, o trabalho feito sobre família e homoafetividade não representou apenas um compromisso firmado para aprovação na disciplina de Dinâmica da Família. Confesso que, em um primeiro momento, adotei essa visão limitada sobre tal, mas à medida que este projeto foi ganhando forma, ele também ganhou uma ressignificação de minha parte. Foi uma oportunidade de trabalhar com pessoas que até então não conhecia - visto que sou de outra turma - e também de melhorar elaborar algumas dificuldades pessoais que trago. Tenho extrema dificuldade de falar em público, principalmente se o que eu tenho que expressar está vinculado a algum conteúdo acadêmico. Com a preparação para o grupo de discussão, consegui enxergar para além dessa dificuldade e me propus a mergulhar nessa experiência, mesmo que isso fosse tão aversivo. Participei da dinâmica, me coloquei a falar com os colegas, estudei para guiar a discussão. Nessa parte fico orgulhosa de mim mesma. Também me contento pela chance cedida pela professora Anamaria de fazer e apresentar um trabalho que fuja dos padrões convencionais, levando-me a refletir sobre as pluralidades de opções que uma situação pode oferecer. O trabalho também me auxiliou a desconstruir e reconstruir concepções que eu tinha acerca do tema. E, de modo geral, consigo definir o que sinto em apenas uma expressão: gratidão. Thais Ribeiro Participar do grupo de discussão foi uma experiência muito enriquecedora. Eu, já imersa no meio LGBT, me percebi ignorante em relação a vários aspectos, fatos, direitos perante a lei. O estudo dos textos e posteriormente a discussão em turma, com a inclusão 49 dos colegas, todos podendo falar, expor os seus pontos de vista de maneira crítica, tudo isso acrescentou muito, saímos do tradicional campo da teoria e avançamos para a prática, para a realidade manifestada nos discursos. O grupo de discussão foi um ótimo formato de trabalhar, inédito para mim e para vários, nos permitiu incluir, a experiência não foi só nossa, foi inclusiva, participativa, abraçou a turma, fez as pessoas se sentirem a vontade nessa inclusão e assim, a vontade, puderam se manifestar, se mostrar, pensar em conjunto. A experiência com as práticas foi valiosa, eu que tenho sede de espaços extra-Universidade, por haver um diálogo mais pautado na realidade, num contexto nosso, com todas as suas dores e delícias, trouxe para perto, a entrevista nos situa, o relato é tão próximo que transfere emoções e desperta uma empatia muito grande. Inicialmente eu estava não-situada no grupo, durante o processo fazer é que fui me incluindo, quando encontrei o site "Dicionário de gêneros", com toda a proposta, com todas as entrevistas e projeto de inclusão, eu enxerguei o desenho
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