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Fichamento 04 - Do texto “Solidão e relações afetivas na era técnica” , Sá, Mattar e Rodrigues Aluna: Thaís Barbosa Ribeiro. Matrícula 11411PSI057 O referido artigo discorre sobre a visão negativa da solidão na pós-modernidade, a solidão como algo que deve ser extinto, afastado, que não deve ser experienciado, a aversão, o medo do homem pós-moderno em relação à solidão, nesse caso uma solidão essencialmente física, considerando-se que a solidão foi simplificada a ponto de considerar que ela é algo físico, o não ter o outro ao redor, o outro como corpo. Essa repulsa pela solidão conduz os indivíduos a atitudes de desespero, sobretudo nas relações amorosas, em que, há um apego ao outro como um salvador da solidão existencial inerente a cada um de nós, um solidão que é natural, constituinte do ser e irremediável (visto que não é uma patologia). Amedrontadas pelo fantasma da solidão, desprezando a noção de que há uma espécie de solidão que nos pertence enquanto seres humanos, as pessoas criam em suas cabeças a visão romantizada de um relacionamento amoroso, pintam-no como “a meta de felicidade”, ou, vão em direção oposta a isso e agem com medo de se envolver com o outro, medo da rejeição, medo de compromisso, uma postura de insegurança. Nos consultórios psicológicos essas questões são recorrentes, assim como outras relacionadas a, por exemplo: queixas sobre a forma como se dão as relações atualmente, sensação de vazio ao não ter um par para si, etc.. Heidegger concebe o homem como um ente que se realiza a experiência do sentido de si mesmo através da sua relação com o mundo (Dasein), através da experiência o homem se realiza e também realiza a experiência, o mundo, de maneira simultânea e indissociável, assim, o ser do homem é subjetivo, nunca passível qualquer objetivação. O ente está no mundo em relação com outros entes, ou seja, é relacional, ainda que esteja experienciando a solidão é “ser-com”. Heidegger (2002) parte da definição usual de técnica, que é a de ser um meio para um fim e uma atividade do homem, determinação instrumental e antropológica. O homem moderno, temeroso da própria solidão utiliza o outro como uma técnica, para aplacar a tão crucificada solidão, o outro não é mantido perto por afeto, mas é um instrumento contra a insegurança, para isso se lança mão do apego e do controle desse outro, ou a dinâmica se dá de uma outra forma, pelo recusar um comprometimento com o outro, o outro é um “ ‘fundo de reserva’ disponível ao uso”, isso remete à determinação instrumental da técnica, pois ocorre um desvelamento de si e do outro como um meio para um fim. Esse vazio da solidão, em Heidegger e a ideia do ser-com, que não significa somente estar em constante relação com os outros entes do mundo, o próprio acontecimento de sermos implica o acontecimento do outro, já que somos co-originariamente com o mundo, e por consequência co-originariamente com os outros entes, assim, a solidão existencial não implica em um preenchimento desesperado desse vazio, mas se constitui em um afastamento que que possibilita o encontro do ser consigo, é possível que exista esse afastamento sem padecer de angústia, uma vez que a condição de existência com o outro é consolidada, a solidão é uma experiência de escuta própria, da maneira mais singular. Um encontro na clínica psicoterápica pode possibilitar ao indivíduo desesperado tal escuta, uma reflexão que o leve a desvincular-se dessa forma de se relacionar, de enxergar a solidão, a favor de que ele crie, reconfigure a sua relação com este estado.