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Febre reumática 1 Febre reumática Introdução A febre reumática (FR) e a cardiopatia reumática crônica (CRC) são complicações não supurativas da faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A e decorrem de resposta imune tardia a esta infecção em populações geneticamente predispostas. Componente genético + infecção pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Mau tto promove FR (deve ser atb 10 dias). Pode acometer articulações, coração e SNC. EPIDEMIO: Essa é uma doença que está frequentemente associada à pobreza e às más condições de vida. Houve redução da incidência da FR nas últimas décadas nos países desenvolvidos, com consequente redução na prevalência da CRC. FR permanece como um grande problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento. Cardite reumática – 300.000 novos/ano. Brasil (MS, 2004) - subdiagnosticado. Amigdalites - 10 milhões/ano. FR - 30.000/ano. Cardiotiopatia reumática – 1-7/1.000. (EUA –CR 0,1-0,4/1000) O risco de desenvolvimento de FR varia de país para país e deve ser levado em consideração: Fatores de risco Maior prevalência entre 5-15 anos. Cardiopatia reumática: entre 25-45 anos. Acomete igualmente os sexos - cardite: F:M=2:1. Fatores ambientais relacionados à pobreza → aglomeração familiar, favelas, acesso precário a cuidados de saúde. Susceptibilidade genética (3-6% da população) → HLA classe II, alelo DR7 Febre reumática 2 Agente etiológico Estreptococo β-hemolítico do grupo A Lancefield (Steptococcus Pyogenes). Proteína M é o principal antígeno relacionado a patogenia da doença (presente na parede celular do estrepto e no miocárdio = reação cruzada). Mimetismo molecular entre EGA e hospedeiro - resposta imune cruzada EGA se adere e invade o epitélio da faringe, onde será atacado pelo sistema imune e onde seus antígenos serão processados e apresentando às células B e T. Pela similaridade de antígenos com nossas proteínas, haverá formação de células B e T cross-reactive, que, via anticorpos e inflamação, causarão danos aos tecidos próprios (cardite, coreia - SNC, artrite - articulações, nódulos subcutâneos e eritema marginado - pele). Patogênese da cardite Anticorpos fazem reação cruzada com endotélio valvas, aumentando a expressão de VCAM1 e levando à infiltração de células T (CD4). Com isso, há resposta inflamatória TH1 e produção de TNF e INF-gama, causando lesão valvar. Com as lesões valvares, são formados nódulos de Aschoff ou lesões granulomatosas. Febre reumática 3 Os danos valvares serão reconstruídos e remodelados, a fim de conter o dano, porém pode ocorrer mau remodelamento, com possibilidade de regurgitação ou estenose mitral. Manifestações clínicas Cardite reumática 40-70% - 1° surto. Precoce. DIVIDIDA EM: Endocardite → 100%; mitral > aórtica > tricúspide > pulmonar Miocardite → mais rara Pericardite → mais rara CATEGORIAS → subclínica, leve, moderada, grave DURAÇÃO → até 6 sem EVOLUÇÃO → cura, estacionária ou progressão Febre reumática 4 Artrite da FR A deposição de imunocomplexos (formados pelos anticorpos de reação cruzada) se depositam em articulações e promovem inflamação = artrite. Artrite típica da FR Frequência → 53 a 64% INÍCIO → 2-3 semanas após infecção orofaringe CARACTERÍSTICAS → poliartrite aguda, migratória, assimétrica grandes articulações (joelhos, tornozelos, cotovelos e punhos), dor importante. DURAÇÃO → 2-5 dias em cada articulação (total = 1-3 semanas) EVOLUÇÃO → ótima resposta a AINH, sem sequelas Artrite atípica da FR Frequência → 36 a 47% CARACTERÍSTICAS (43/92-47%): Auditiva Local (pequenas articulações, coluna cervical e coxo- femural) (74%) Monoartrite (3%). DURAÇÃO → 3 sem (61%). Má resposta ao AAS (42%). Coreia Inflamação dos núcleos da base - depoisção de Ac. Anticorpos contra carboidrato N-acetil beta-D-glicosamina reagem contra receptores dopaminérgicos e lisogangliosídeos, localizados na superfície de células neuronais, promovendo maior produção de dopamina nos núcleos da base e inflamação = coreia. Febre reumática 5 Coréia de Sydenham Frequência → 4-45% (sexo feminino) Forte associação com cardite (endocardite). INÍCIO → até 6 meses após infecção orofaringe CARACTERÍSTICAS → movimentos involuntários, incoordenados, cessam com o sono, associados a hipotonia , labilidade emocional, alteração da escrita, tiques, disartria, disfagia, alteração da marcha DURAÇÃO → semanas até 6 meses (média 3 meses) , mas pode durar até 2 anos EX. LAB. → PFA (provas de fase aguda) normais, Anti-estreptolisina O (ASLO) normal Nódulos subcutâneos e eritema marginatum da FR Reação cruzada de anticorpos carboidrato-específico do grupo A com a queratina e formação de nódulos subcutâneos, com lesões granumolatosas semelhantes aos corpos de Aschoff. Frequência → 2-10% TARDIO → 1-2 sem após outras manifestações CARACTERÍSTICAS → duros, indolores, número variável, 0,5-2cm, proeminências ósseas (superfícies extensoras de articulações, proeminências ósseas em região occipital ecoluan DURAÇÃO → alguns dias até 1 mês Febre reumática 6 EVOLUÇÃO → fugazes, associados a cardite Eritema marginaod da FR Frequência → 1-3% CARACTERÍSTICAS → máculas róseas evanescente com bordas serpiginosas e centro claro, indolores, não pruriginosas, em tronco e raiz de membros. EVOLUÇÃO → fugaz, recidivante e associa-se com cardite Exames complementares Hemograma → anemia, leucocitose Provas de fase aguda → 1 a 3m; ↑VHS, ↑PCR, ↑α-1 glicoproteína ácida e ↑α2 e γ-globulina na EFP RX TÓRAX → seguimento da área cardíaca ECG → ↑ intervalo PR ECO → comprometimento valvular, função miocárdica, pericardite - mostra alterações específicas EVIDÊNCIA DE ESTREPTOCOCCIA NA FR: Como há alteração com as semanas, repetir anticorpos anti-estreptocócicos em 2 semanas se vir +-. Febre reumática 7 Diagnóstico DDX Critérios de Jones 1992 Evidência de estreptococcia → cultura de orofaringe ou aumento de anticorpos anti-estreptococos. Exclusão de outras causas. Critérios de Jones 2015 Considera o risco → BR tem risco moderado/alto. Evidência de estreptococcia → cultura de orofaringe ou aumento de anticorpos anti-estreptococos. Febre reumática 8 DX 1° SURTO → 2 critérios maiores ou 1 maior + 2 menores DX RECIDIVA → 2 critérios maiores ou 1 maior + 2 menores ou 3 critérios menores obs.: coreia não necessita de evidência de infecção pelo EGA Tto Profilaxia da FR Importância: Endêmica → 1 a 3% Risco de recorrência no primeiro ano → 50% Risco de recorrência após 5 anos → 10% Profilaxia primária A fim de não desenvolver a primeira crise. Profilaxia secundária Já houve o 1° surto, profilixia para evitar novos. Alteram-se os intervalos. Febre reumática 9 Quando fazer: Tto artrite Artrite → 1-4 semanas AAS → 100mg/Kg/dia, 6/6 horas Naproxeno → 10 a 20 mg/Kg/dia, 12/12 horas Tto coreia Coréia → 1-3 meses Haloperidol → 1 a 2mg/dia, 2x/dia, máximo 4-5mg/dia Ácido valpróico → 20 a 40mg/Kg/dia, 3 a 4x/dia Carbamazepina → 7-20mg/kg/dia VO Coréia - Prednisona por 1 mês: 1mg/Kg/dia → 3x/dia por 1 semana 1mg/Kg/dia → 1x/dia por 1 semana Redução em 2 semanas Tto cardite Prednisona 1-2mg/kg/dia (máx 80 mg por dia) por 2-3 semanas. Redução gradual → 20-25% da dose por semana por 12 semanas em casos graves e moderados e 4-8 semanas em cardite leve. Pulsoterapia com metilprednisolona 30mg/kg/dia em ciclos semanais em casos graves refratários ao tto. Cirurgia cardíaca → em casos de cardite refratária ao tto inicial, lesão de mitral grave de rupturas de cordas tendíneas ou perfuração de cúspides