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SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL E SUAS CAUSAS SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL Etiologia Mnemônico PALM-COEIN (estruturais/não estruturais): • Pólipo • Adenomiose • Leiomioma • Malignidade • Coagulopatia • Ovulatória • Endometrial • Iatrogênica • Não classificada (lesões locais ou disfunções sistêmicas) Causas na infância Causas no menacme Causas na perimenopausa Causas na pós-menopausa • Atrofia de endométrio (60-80%) • TRH (15-25%) • Pólipo endometrial (2-12%) • Hiperplasia endometrial (5-10%) • CA de endométrio (10%) Diagnóstico • História clara do sangramento • Exame físico geral, abdominal e pélvico • Beta-HCG • Hemograma completo • USG para avaliar alterações estruturais Avaliação secundária • Histerossonografia • Histeroscopia • Biópsia de endométrio • Investigação de coagulopatia • Provas de função tireoidiana • Dosagem de prolactina Tratamento • Causas estruturais o Pólipos: polipectomia histeroscópica o Miomas ▪ Farmacológico ▪ Cirúrgico se refratário ▪ Embolização de artérias uterinas ▪ Histerectomia na impossibilidade de miomectomia e sem desejo de preservar fertilidade o Adenomiose ▪ Histerectomia o Malignidade → individual • Causas não estruturais o Tratamento hormonal ▪ Combinados ▪ Progestágeno oral cíclico ou contínuo → sangramentos inesperados (atrofia endometrial) ▪ Progestagênio injetável ▪ DIU o Tratamento não hormonal ▪ Anti-inflamatórios • Ácido mefemânico ▪ Anti-fibrinolíticos • ácido tranexâmico o CI: insuficiência renal ou tromboembo- lismo ▪ Análogos do GnRH Tratamento agudo A escolha do tratamento depende da estabilidade hemodinâmica, nível de hemoglobina, da suspeita da etiologia do sangramento, de comorbidades apresentadas pela paciente, do desejo reprodutivo. • Medicamentoso o Estrogênio conjugado 25mg 4/4h EV o Estradiol isolado VO o ACO o Progestagênios isolados (medroxi- progesterona, noretisterona, megestrol) o Ácido tranexâmico 10mg/kg 8/8h EV o AINES • Cirúrgico o Ablação endometrial o Embolização da artéria uterina o Histerectomia o Balão de tamponamento LEIOMIOMA UTERINO • Tumor benigno, extremamente raro malignizar • 20-30% das mulheres em idade fértil • > 40% das mulheres > 40 anos • Sintomático em apenas 50% dos casos • Raro antes do menacme • Geralmente regride após a menopausa São tumores hormônio-dependentes → estradiol e progesterona promovem seu crescimento no menacme. Fatores de risco • Idade entre 35-50 anos • Raça negra (dx mais jovem e tumores maiores e mais numerosos) • Antecedente familiar • Obesidade (aumento de 20% a cada 10kg de ganho) Fatores de proteção • Paridade • Uso de anticoncepcional oral combinado • Tabagismo Clínica – depende da localização • Assintomático (50%) • Sangramento genital aumentado • Dor pélvica crônica ou aguda (torção, infarto, degeneração) • Aumento do volume abdominal → constipação, obstrução intestinal, dor na defecação • Infertilidade Classificação • Subseroso → sintomas somente se muito volumosos • Intramural → podem cursar com aumento da intensidade e/ou duração do fluxo menstrual • Submucoso → sangram mais e maior associação com infertilidade (altera endométrio) Tipos de degeneração • Hialina • Gordurosa • Hemorrágica • Cística • Necrobiose asséptica/ rubra/vermelha • Calcificação Diagnóstico • Exame pélvico completo + exame de imagem → USG transvaginal, RM (suspeita de malignidade), histeroscopia • Definitivo = anatomopatológico • Diagnóstico diferencial com leiomiossarcoma, adenomioma, pólipo endometrial, endometriose, CA de endométrio, sarcoma de útero e até gravidez. USG • Nódulos hipoecogênicos e podem apresentar calcificações ou tênues reforços acústicos se degeneração cística • Contornos dependem da existência de pseudocapsula • Vascularização predominantemente periférica (compostos de musculatura lisa) Histeroscopia É um exame que consiste na introdução de uma ótica fina pelo canal cervical, para avaliação da cavidade uterina, possibilitando a visão direta dos miomas submucosos, assim como de outras lesões ali localizadas. Deve ser realizada, de preferência, na primeira fase do ciclo menstrual, tendo elevada acurácia, com sensibilidade de 88% a 100% e especificidade próxima a 100%. Classificação FIGO • Submucosos o G0 = totalmente intracavitário o G1 = < 50% intramural o G2 = ≥ 50% intramural • Intramurais o G3 = totalmente intramural, mas atinge o miométrio o G4 = intramural • Subseroso o G5 = ≥ 50% intramural o G6 = < 50% intramural o G7 = subseroso pediculado • Nenhuma relação com o miométrio o G8 = cervical ou parasitário Tratamento clínico • Assintomáticas = acompanhamento clínico e ultrassonográfico • Tratamento não hormonal o Antiinflamatórios não hormonais = inibem prostaciclinas, reduzindo sangramento o Antifibrinolíticos = ácido tranexâmico • Tratamento hormonal o Anticoncepcional oral combinado o Progestágeno isolado o LNG-IUS (mirena) o Agonistas do GnRH = reduz esteroides sexuais e podem causar amenorreia e reduzir o volume dos nódulos e do útero em até 50% → hipoestrogenismo, alteração do humor, redução da densidade mineral óssea (“castração química”) ▪ Pode usar 2-3 meses antes da miomectomia Tratamento cirúrgico • Conservador = se desejo de gestação = miomectomia o Via histerocópica → submucoso, com fatiamento do mioma e enucleação o Via laparoscópica → intramural/subseroso de 7 a 10cm únicos ou acompanhados de até quatro a seis nódulos menores o Via laparotômica → nódulos muito grande e/ou numerosos • Conservador = embolização de artérias uterinas se falha de tto prévio, recidiva, paciente sem condição de cirurgia. o CI = infecção genitourinária ativa, suspeita ou confirmação de malignidade, Artropatia grave, alergia ao contraste iodado, doenças autoimunes ativas, nódulos pediculados, DRC, coagulopatias/ uso de anticoagulantes e gravidez. o Há risco de amenorreia e também de falência ovariana prematura, assim como de histerectomia, diante de complicações do procedimento • Definitivo = se prole definida = histerectomia com salpingectomia bilateral SOP Hoje a SOP é olhada como uma doença metabólica, com todas as suas implicações. O foco deixou de ser exclusivamente o sistema reprodutor, mas sim o organismo como todo. Tem prevalência de 6 a 16%. Doença caracterizada por: • Hiperandrogenismo • Anovulação crônica Fisiopatologia • Hiperandrogenismo (origem ovariana, adrenal e/ou periférica) o Produção hepática de SHBG reduzida → aumento de androgênios e estrogênios livres circulantes o Atresia folicular → ↓↓↓ FSH • Produção periférica de estrona o ↓ Dopamina hipotalâmica ▪ ↑↑pulsatilidade do GnRH → ↑LH → hiperestímulo das células da TECA ▪ Aumento da secreção hipofisária de prolactina → ↑↑Secreção adrenal de SDHEA • Aumento da resistência insulínica o Produção hepática de SHBG reduzida o Hiperestímulo das células da TECA • Microscistos produtores de inibina o ↓↓FSH = levando ao aumento na relação LH/FSH Quadro clínico • Resistência insulínica → acantose nigricans • Hiperandrogenismo clínico ou bioquímico o Clínico ▪ Acne ▪ Alopécia ▪ Hirsutismo = Indice de Ferriman ≥ 8 ▪ Clitoromegalia ▪ Oleosidade da pele e couro cabeludo o Laboratorial ▪ Testosterona total (VR = 15- 80ng/dL em mulheres) ▪ SHBG (VR = 18-114 nmol/L) • Anovulação o Irregularidade menstrual ▪ Oligomenorreia = intervalo > 36d e < 90d ▪ Amenorreia = intervalo > 90d o SUA não estrutural – Ovulatória o Infertilidade Alterações da SOP• ↑ Androgênios • ↑ Estrogênio • ↑ Prolactina • ↑ LH e ↓FSH • ↓ SHBG • ↓ Progesterona Diagnóstico Critérios de Rotterdam 2 dos 3 critérios: • Ovários policísticos ao USG o ≥ 12 folículos de 2 a 9mm ou o ≥ 10cm3 ovário • Anovulação ou oligomenorreia • Hiperandrogenismo Essa definição não se aplica em mulheres em uso de anticoncepcionais orais. Mulheres que estejam menstruando regularmente deverão ser submetidas à avaliação US na fase folicular precoce (3-5º dia do ciclo). Mulheres com oligo/amenorreia poderão ser submetidas à US ao acaso ou do 3º-5º do fluxo menstrual após sangramento induzido por progestogênios. Diagnósticos diferenciais • Tumor ovariano produtor de androgênio → dosagem de testosterona total > 200) • Tumor de suprarrenal produtor de androgênio → dosagem de S-DHEA > 700 • Gravidez → beta-HCG • Falência ovariana precoce → solicitar FSH • Hiperplasia adrenal congênita → 17-OH- progesterona elevado por deficiência de 21- hidroxilase • Distúrbio tireoidiano → TSH • Síndrome de Cushing → teste ACTH Avaliação de síndrome metabólica 3 dos 5 critérios fazem o diagnóstico • CA > 88 cm • Triglicérides ≥ 150* • HDL < 50 • PA ≥ 130/ 85* • Glicemia jejum ≥ 100 *Também é considerado um critério se o indivíduo estiver fazendo uso de medicações para tratamento dessas alterações. Tratamento Objetivos: • Controle da irregularidade menstrual • Tratar hirsutismo • Desejo de gestação • Manejo da resistência insulínica Mudança do estilo de vida = 1ª linha • Dieta • Exercício físico • Perda de peso (5-10% = volta a ciclar em 80%) Desejo de gestação • Citrato de clomifeno (indutor da ovulação) 50- 150mg/dia por 5 dias a partir do 3º ou 5º dia do ciclo menstrual. Limitado a 6 ciclos. o Se necessário: + metformina • Pode usar inibidor da aromatase = Letrozol o Dose inicial é de 2,5 mg/ dia por 5 dias, podendo aumentar até 7,5 mg dia. • Gonadotrofinas 37,5 a 50,0 UI/dia. Até 6 ciclos. Irregularidade menstrual, sem desejo de gestar • ACO ou progesterona o Progestágeno inibe LH → reduz conversão de testosterona na forma ativa o Estrogênio aumenta SHBG → reduz androgênios circulantes o Os derivados progestínicos com menor atividade androgênica (gestodeno, desogestrel) ou maior atividade anti- androgênica (ciproterona, drospirenona) têm um perfil metabólico e biológico mais favorável o Recomenda-se ACO com baixa dosagem de etinilestradiol (20 ou 30 mg). o O progestogênio oral isolado ou o sistema intrauterino contendo levonogestrel (SIU- LNG) também podem ser utilizados. Hirsutismo • Acetato de ciproterona • Depilação a laser • Contraceptivos orais • Espironolactona = aumento do clearance dos androgênios (inibição da síntese de aldosterona), inibição da atividade da 5a-redutase e da síntese de androgênios ovarianos e adrenais, elevação da SHBG e pelo bloqueio receptores androgênicos específicos da pele. o Dose inicial de 100mg/dia, podendo evoluir para 200-300mg/dia. Resistência insulínica • Mudança de estilo de vida • Pode associar com metformina (age na supressão da gliconeogênese hepática e na recaptação periférica da glicose) o A dose recomendada é de 850 mg a 2.500mg/ dia (dividida em duas a três vezes), sendo habitualmente iniciada em doses menores, que podem ser aumentadas de acordo com acompanhamento clínico • A cirurgia bariátrica também pode trazer benefícios em mulheres com SOP e IMC superior a 35 Kg/m², melhorando irregularidade menstrual e hirsutismo, entre outras manifestações da SOP. Outras causas de hirsutismo Ovariana SOP Tumores Adrenais Hiperplasia adrenal congênita Tumores Cushing Hipofisária Hiperprolactinemia Acromegalia Periférica Idiopático ADENOMIOSE Invasão benigna do endométrio no miométrio > 2,5mm de profundidade. Quadro clínico • 40-50 anos de idade • Sangramento uterino anormal • Dismenorreia • Dor pélvica crônica • Aumento uterino difuso ao exame físico • Infertilidade Algumas mulheres podem apresentar miomas, pólipos e endometriose concomitantes. Classificação • Superficial (40%) • Intermediário (40-80%) • Profundo (80%) Fatores de risco Exposição estrogênica • 40-50 anos • Menarca precoce (< 10 anos) • Ciclos menstruais curtos • Uso prévio de contraceptivo hormonal e tamoxifeno • IMC elevado • Multiparidade (>2) • História de abortamento • Cirurgia uterina prévia Diagnóstico • USG transvaginal → recomendado pré-menstrual (adenomiose mais proeminente) o Aumento do volume uterino sem nódulos miomatosos, formato globoso o Assimetria entre as paredes uterinas o Heterogeneidade difusa ou focal o Cistos anecoicos no miométio e estrias radiadas partindo do endométrio o Aspecto de “queixo suíço” • RM o Espessura da zona juncional > 12mm o Focos de alta densidade na zona juncional • Histerossalpingografia o Sinal de Dionisi = irregularidade da superfície miometrial • Definitivo = histopatológico Adenomiose = forma difusa Adenomioma = configuração focal da doença (pólipo) Tratamento • Clínico o ACO = bloqueia esteroides ovarianos o Progestágenos = decidualização endometrial e atrofia o Análogos GnRH = hipoestrogenismo acentuado o SIU-LNG = decidualização do endométrio e redução do fluxo o Inibidores da aromatase (danazol) • Cirúrgico o Histerectomia = bem indicada nas mulheres com prole concluída, geralmente após os 40 anos de idade, com sintomas intensos de sangramento uterino anormal e dismenorreia, que não responderam a outra terapêutica o Cirurgia conservadora ENDOMETRIOSE Implantação endometrial fora da cavidade uterina. Doença crônica, benigna, estrogênio-dependente e de natureza multifatorial. Teorias da fisiopatologia • Teoria da menstruação retrógrada • Teoria da metaplasia celômica • Teoria de alterações genéticas/epigenéticas Fatores de risco • HF de 1º grau • Nuliparidade • Primípara tardia • Menarca precoce • Malformação (útero bicorno/didelfo) • Estenose cervical • Ciclos curtos e fluxo aumentado • Excesso de álcool e café • IMC reduzido Locais mais comuns • 1º >>>> ovário • Ligamento uterossacro • Fundo de saco posterior • Folheto posterior do ligamento largo • Fundo de saco anterior • Extragenital: intestino Infiltrativa se > 5mm Quadro clínico • Dismenorreia (62,2%) • Dor pélvica crônica/acíclica • Dispareunia (+ de profundidade) • Alterações urinárias • Alterações intestinais cíclicas (constipação, distensão abdominal, disquezia, dor anal) Ao exame: • Massa anexial palpável • Nódulo vaginal doloroso • Útero com menor mobilidade • Dissociação entre gravidade e intensidade das lesões Diagnóstico • Clínica • USG pélvico e transvaginal – com preparo intestinal • RM – Ruim para implante pequeno e para lesão superficial • Definitivo = videolaparoscopia (visualização + histopatológico) = padrão-ouro, mas não precisa ser solicitado para diagnóstico. • CA 125 – casos moderados e graves → usado para controle do tratamento e analisar recidiva Lesões típicas • Negras – inativas (regressão) • Vermelhas – ativas (início?) • Brancas: aderências/cicatriz Lesões atípicas Vesículas, lesões vermelhas em chama de vela; defeitos peritoneais (janela peritoneal) e finas aderências no hilo ovariano ou fundo de saco posterior. Tratamento O tratamento deve ser direcionado para as queixas da paciente, assim como para a localização e extensão da doença. • Clínico = alívio dos sintomas álgicos e melhora da qualidade de vida o Progestágenos = bloqueio ovulatório e inibição do crescimento endometrial com consequente atrofia das lesões▪ Acetato de noretindrona 2,5 a 10mg/dia contínuo (derivado da testosterona) ▪ Dienogeste 2mg ▪ Gestrinona 2,5 a 5mg/dia (efeitos colaterais antrogênicos) ▪ DIU ▪ Acetato metroxiprogesterona 150mg a cada 3 meses o ACO = decidualização e atrofia do tecido endometrial ectópico o Danazol 100-200mg/dia = inibe LH e esteroidogênese, bloqueando a ovulação e cria um ambiente hipoestrogênico o Agonistas GnRH = inibe LH e FSH (castração química) ▪ Acetato de gosserrelina 3,6 ou 10,8mg SC a cada 28 ou 90 dias ▪ Acetato de leuprolida 3,75 ou 11,25mg IM a cada 29 ou 90 dias ▪ Pamoato de triptorrelina 3,75 IM a cada 28 dias o Inibidores da aromatose = off-label ▪ Letrozol 2,5mg/dia ▪ Anastrozol 1mg/dia • Cirúrgico com remoção dos focos via laparoscopia ou laparotomia o Tratamento clínico ineficaz ou contraindicado por algum motivo o Endometrioma ovariano > 4cm3 o Lesão em ureter, íleo, apêndice ou retossigmoide (com sinais de suboclusão) o Sintomas incapacitantes o Reprodução assistida sem gestação Tratamento infertilidade • Se já realizou cirurgia e teve recidiva ´= FIV • Endometrioma ovariano grande = cirurgia • Idade avançada, muito tempo de infertilidade, reserva ovariana escassa e outros fatores de infertilidade = FIV Endometrioma • Deve-se retirar a capsula durante a cirurgia para evitar recidiva, mas pode levar o parênquima ovariano e diminuir a reserva • A ooforectomia pode ser discutida com a paciente em casos de recorrência, endometriomas unilaterais muito grandes ou na suspeita de malignidade