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COMUNICAÇÃO TIAGO PELLIZZARO SUMÁRIO Esta é uma obra coletiva organizada por iniciativa e direção do CENTRO SU- PERIOR DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA – Faculdades Ftec que, na for- ma do art. 5º, VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua marca e detém os direitos de exploração comercial e todos os demais previstos em contrato. É proibida a reprodução parcial ou integral sem autorização expressa e escrita. CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS REITOR Claudino José Meneguzzi Júnior PRÓ-REITORA ACADÊMICA Débora Frizzo PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Altair Ruzzarin DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (EAD) Lígia Futterleib Desenvolvido pela equipe de Criações para o ensino a distância (CREAD) Coordenadora e Designer Instrucional Sabrina Maciel Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem Igor Zattera, Jaqueline Boeira, Júlia Oliveira, Leonardo Ribeiro Revisora Luana dos Reis INTRODUÇÃO 3 POR QUE ESTUDAR COMUNICAÇÃO? 4 PRINCIPAIS ASPECTOS DA COMUNICAÇÃO E FUNÇÕES DE LINGUAGEM 8 O PROCESSO E OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 10 RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO E A PRÁTICA DO FEEDBACK 11 FUNÇÕES DE LINGUAGEM 14 A CONSTRUÇÃO DO TEXTO E GÊNEROS TEXTUAIS 16 PASSOS PARA ESCREVER UM BOM TEXTO 17 QUALIDADES DE UM BOM TEXTO 19 TIPOS DE TEXTO 20 SUBJETIVIDADE E OBJETIVIDADE TEXTUAIS 22 GÊNEROS TEXTUAIS 23 OS NÍVEIS DE LEITURA E A INTERPRETAÇÃO 40 A NATUREZA DOS TEXTOS 42 NÍVEIS DE LEITURA 43 ASPECTOS DA ORALIDADE: LINGUAGEM E APRESENTAÇÃO 53 A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS 56 CONSIDERAÇÕES FINAIS 58 3COMUNICAÇÃO APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO Para que um objetivo seja atingido, há dois componentes indispensáveis: o emprego de um método e a dedicação de quem o estabeleceu. Rando Kim Olá! Seja bem-vindo(a) à disciplina Comunicação na modalidade EAD. Sabia que, a cada ano, o ensino a distância é a porta de entrada para aproximadamente 20% dos estudantes na educação superior no Brasil? Isso mesmo. Um em cada cinco calouros estreia sua vida univer- sitária através do EAD. Com o passar do tempo, graças ao avanço das Tecnologias de Informa- ção e Comunicação (TIC), a significância desse modelo de ensino tem gradativamente alcan- çado patamares maiores. Ressalta-se, entretanto, que duas características são fundamentais para o êxito do aluno no EAD: planejamento e disciplina. Planejar, grosso modo, significa pensar antes de fazer. Outra forma de conceber “planejamento” é, conforme Michel de Cer- teau (2001), uma tentativa de conquistar o tempo, projetando o futuro. Talvez, na atualidade, o tempo se constitua no recurso mais precioso e também no mais difícil a ser administrado, pois uma apostila serve para estruturar conteúdos, apresentando-os de forma planejada. Sua elaboração tem por objetivo não a dispersão do estudo, senão o foco, a concentração, o dire- cionamento para os aspectos mais relevantes que um determinado campo do conhecimento possui. Por isso, leia-a, acompanhe atentamente a abordagem que ela traça! “Apos”, radical da palavra apostila, remete àquilo que vem depois, assim como os apóstolos vieram depois de seu Mestre e o seguiram. Faça o mesmo! Siga a apostila, reitera-se, não deixe de prestigiá-la, explore tudo o que ela propõe. Assim, você dará mostras de ser efetivamente disciplinado(a) e ávido(a) pela busca do crescimento pessoal. Para facilitar a sua aprendizagem, a exposição das bases tecnológicas da disciplina, ou seja, dos tópicos inerentes à Comunicação, será dividida em quatro partes: na primeira, você verá o conceito de comunicação, como funciona o processo da comunicação e as funções de linguagem utilizadas quando nos expressamos; na segunda, destacaremos a construção do texto, os cuidados para que seja dotado de coesão e coerência, bem como os tipos de texto existentes; na terceira, analisaremos diversos gêneros textuais, entre eles a crônica, o artigo de opinião, o resumo e a resenha crítica; na quarta, a ênfase será destinada à oralidade, orien- tando o emprego de estratégias para apresentações de trabalhos, palestras e outros atos de fala oficiais. Antes de passarmos à explanação do previsto pelo Plano de Ensino de Comunicação, vale mencionar as sábias palavras do professor coreano Rando Kim (2013), autor do livro “Não é fácil ser jovem”. Segundo ele, para que um objetivo seja atingido, há dois componentes in- dispensáveis: o emprego de um método e a dedicação de quem o estabeleceu. Conforme nosso Plano de Ensino, as competências que almejamos desenvolver ao final da disciplina são: • compreender os diferentes gêneros textuais identificando conteúdos implícitos e explí- citos; • analisar gêneros textuais orais e escritos quanto à tipologia textual, ambiente discursi- vo, temática, formalidade e informalidade; 4COMUNICAÇÃO APRESENTAÇÃO • produzir textos de diferentes gêneros textuais orais e escritos, condizentes ao ambiente acadêmico e empresarial. Para que sejam potencializadas satisfatoriamente, além do seu empenho individual, a Metodologia do Fazer do UNIFTEC se revela de suma importância. Ela tem por base a tríade Contextualização-Teorização-Aplicação. Contextualizar, em síntese, significa situar um as- sunto no tempo e no espaço. Isso pressupõe que seja observado de modo muito mais abran- gente, pois não se pode negligenciar o fato de conter uma trajetória histórica e de ser influen- ciado por uma cultura. Contextualizar, portanto, requisita que se estenda o olhar para além da mensagem veiculada oral ou textualmente. De acordo com essa metodologia, devem ser consideradas, igualmente, as condições de produção de um texto, a formação de seu autor e, sobretudo, a visão do leitor acerca do que lhe é transmitido. A teorização, por seu lado, serve para aperfeiçoar a prática, uma vez que se dedica a refletir sobre ela, identificando acertos e erros dela decorrentes, intentando apontar caminhos que levem a sua evolução. Por fim, a aplicação estimula a capacidade transformadora dos seres humanos. Ela os retira da inércia, ela os realiza. Você percebeu que estamos diante de um desafio? Temos metas a alcançar. Para isso, contamos com um método. Espera-se que, em você, não falte vontade para fazer acontecer. POR QUE ESTUDAR COMUNICAÇÃO? É possível conhecer sem que haja comunicação? Fica mais fácil nos esmerarmos para concretizar um objetivo quando reconhecemos as vantagens proporcionadas pela conquista dele decorrente. Podemos iniciar, adotando a pers- pectiva histórica. Como a contextualização é um dos pilares do processo de ensino-aprendi- zagem do UNIFTEC, não há caminho mais natural que o da observação dos fatos para desvelar a evolução humana desde os seus primórdios até os desafios contemporâneos que a integram. Então, é possível, através da formulação de uma única pergunta, darmos um enorme salto para perceber a supervalorização que o conhecimento foi adquirindo com o decorrer do tem- po. A pergunta é esta: qual a parte do corpo humano que até hoje mais evoluiu? Não é preciso muito esforço para chegar à resposta correta. Usando o cérebro, ela já virá pronta: o cérebro. E como se deu essa ampliação cerebral? Por qual fator foi motivada? O antropólogo norte-a- mericano Clifford Geertz analisa essa ocorrência: (...) à medida que a cultura, num passo infinitesimal, acumulou-se e se desenvolveu, foi concedida uma vantagem seletiva àqueles indivíduos da população mais capazes de levar vantagem – o caçador mais capaz, o colhedor mais persistente, o melhor fer- ramenteiro, o líder de mais recursos – até que o que havia sido o australopiteco pro- to-humano de cérebro pequeno, tornou-se o homo sapiens, de cérebro grande, total- mente humano (GEERTZ, 1989, p. 35). Não se pode, portanto, dissociar o que historicamente o ser humano desenvolveu da- quilo que é a sua cultura, ou melhor, daquilo que são as suas culturas, assim, no plural, como bem destaca Raymond Williams (2000), ao apoiar-se em concepção de Herder. Cabe reter,a partir da postulação de Geertz, que, por um processo absolutamente natural, homens e mu- 5COMUNICAÇÃO APRESENTAÇÃO lheres foram se aperfeiçoando e se especializando com base no autoconhecimento de suas aptidões, o que desencadeou o surgimento de diferentes habilidades. Importava, desde então, que se diferenciassem, tornando-se os indivíduos mais capazes naquilo ao qual se dedicavam. No mundo, extremamente racional e científico que marca nossos dias, podemos, sem pestanejar, afirmar que não há parte do corpo mais importante que o cérebro. À medida que esses talentos vieram a aflorar e se multiplicar socialmente, o cérebro humano foi sofrendo uma contínua expansão. No mundo, extremamente racional e científico que marca nossos dias, podemos, sem pestanejar, afirmar que não há parte do corpo mais im- portante que o cérebro. Isso tem a ver com o célebre axioma de Descartes, “cogito, ergo sum”, anunciado no século XVII quando escreveu “O discurso do método”. Pensar é existir. Não se trata unicamente de pressuposto existencialista que orienta uma tradição filosófica, senão o propósito de imputar ao pensamento o título de maior realização que qualquer indivíduo po- deria promover. “Penso, logo existo” vem na esteira do que alguns anos antes o filósofo inglês Francis Bacon insinuou com a Nova Atlântida. A Casa de Salomão (podendo ser este nome considera- do como arquétipo da sabedoria), situada na ilha de Bensalém, funciona como uma verdadei- ra usina do conhecimento, onde ocorrem experiências vanguardistas. (...) de coagulação, endurecimento, refrigeração, conservação dos corpos e produção de novos metais artificiais, além da fabricação de compostos químicos para curar en- fermidades e do aproveitamento de substâncias com o fito de adubar a terra com maior eficiência (PELLIZZARO, 2009, p. 44). Dessa forma, “saber é poder”, famoso adágio baconiano, “indica que o caminho utópico da perfeição tem a excelência científica como requisito indispensável” (PELLIZZARO, 2009, p. 47). Até aqui, vimos que o conhecimento gera um diferencial, pois seu desenvolvimento faz conviver mais aptos e menos aptos num contexto assinalado pela competição e necessida- de de sobrevivência. Por outro lado, a busca do conhecimento estimula o alcance utópico da perfeição, que pode ser traduzida por meio da excelência técnica, aliada à solução de todos os problemas que afetam a humanidade. Exagero? Provavelmente, porém, todos os progressos e involuções a que assistimos passam forçosamente pelo (des)conhecimento humano e pela Lei do uso e desuso proposta por Lamarck. Podemos hipertrofiar, bem como atrofiar nossos órgãos e nossos saberes. Faça um teste! É extremamente simples: pare de ler, pare de se atu- alizar, e você verá o resultado. Agora, preste muita atenção nesta pergunta: é possível conhecer sem que haja comu- nicação? Se o conhecimento evoluiu, e com ele foram inventadas vacinas e medicações para prevenir e debelar doenças que causavam alta mortalidade, surgiram equipamentos não in- vasivos que diagnosticam tumores e outros que propiciam maior precisão cirúrgica, e multi- plicaram-se os softwares que auxiliam gestores a tomar decisões com base no que apontam dezenas de indicadores, não terá sido em função da comunicação ter evoluído substancial- mente ao longo do tempo e ainda mais nas últimas décadas? 6COMUNICAÇÃO APRESENTAÇÃO O que se lamenta é muitas vezes verificar o uso da comunicação e do conhecimento não em favor de toda a humanidade, criando laços de fraternidade e solidariedade entre os povos e as pessoas, mas o seu emprego por parte de um grupo com a finalidade de escravizar e ex- plorar iguais. “Homo homini lupus”, lembrava Hobbes, no século XVIII. Se há um lobo com o qual o homem deve se preocupar, esse lobo é o próprio “homo sapiens”, um ser que caminha, come e pode raciocinar como ele. Se usarmos, contudo, a comunicação para o bem, o conhecimento será manipulado com bons propósitos. Comunicar para o bem representa, entre outras propriedades, eliminar preconceitos, acolher o outro e adotar um pacifista (e não um ditador) como referência de ca- ráter. Você mesmo(a) pode ampliar a lista de virtudes atrelada à comunicação ao bem. Por outro lado, no mundo competitivo em que vivemos (e que apesar disso esperamos que seja regido pela ética e pela lealdade), a comunicação pode se constituir no diferencial entre dois candidatos que lutam pela mesma vaga, seja num concurso ou numa entrevista, ou entre dois profissionais que disputam o mesmo cliente. Imagine o caso de dois engenhei- ros civis que procuram convencer uma construtora quanto à qualidade do seu projeto. Quem será por ela contratado? Aquele que oferecer o menor preço? Ou aquele que demonstrar maior comprometimento com o resultado que ela deseja obter, maior capacidade de diálogo e, con- sequentemente, maior habilidade de negociação? Tire as suas conclusões. O velho guerreiro já anunciava: “quem não se comunica se trumbica”. E olha que para apresentar seu Cassino tomava dois comprimidos de Imosec minutos antes do programa co- meçar e ainda por cima usava três cuecas com medo de sofrer uma cólica intestinal ao vivo. Ele sabia o que estava dizendo. A comunicação é a porta para a aquisição do conhecimento e, por tabela, abre portas na vida de quem se comunica com eficiência. Fonte: memoriaglobo 7COMUNICAÇÃO APRESENTAÇÃO Para conhecer outras histórias do velho guerreiro e relembrar a evolução do rádio e da televisão no Brasil, leia o livro Chacrinha: a biografia, de Eduardo Nassife. Se você domina outro idioma, ficará ainda mais evidente a pertinência dessa ideia. Se você quer liderar uma equipe de trabalho, lembre-se de que a comunicação é a ferramenta elementar para que consiga infundir autoridade junto aos seus comandados. A comunicação é a base de toda gestão. Como se não bastasse, já que os maiores erros cometidos pelas empre- sas são decorrentes de falhas de comunicação, como atesta um dos entrevistados da tese de Doutorado de Valeria Deluca Soares (2007), estudá-la desvela-se ainda mais essencial. Por fim, conforme Alvarenga Netto (1996), até 1991, investia-se mundialmente mais em Tecnologia de Produção. Depois dessa data, passaram a reinar os investimentos em Tec- nologia da Informação e Comunicação. Não é por acaso que vivenciamos a Sociedade ou a Era da Informação e do Conhecimento. A informação e o conhecimento tornaram-se necessidade básica a quem deseja pavimentar uma carreira. Mais do que nunca, “saber é poder”. Será pre- ciso expor mais algum argumento? 8 PRINCIPAIS ASPECTOS DA COMUNICAÇÃO E FUNÇÕES DE LINGUAGEM A comunicação objetiva promover a redução de equívocos por parte dos indivíduos. 9COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Já encontramos razões suficientes para que aprofundemos nosso olhar sobre a Comuni- cação e seus fenômenos. Nesta unidade, abordaremos primeiramente o conceito e o processo de comunicação, a fim de alargarmos a visão sobre essa área tão instigante e valorizada em nossos dias. Luiz Carlos Martino (2001) explica que “comunicação” tem sua origem etimoló- gica em comunnicatio, palavra do latim que pode ser traduzida como “uma atividade realizada conjuntamente”. Se você preferir, também podemos decompor o vocábulo da seguinte forma: comum+ação. Não lhe parece que a expressão que mais se aproxima dessa decomposição é “ação em comum”? Trata-se, portanto, de uma ação ou atividade em conjunto, em comum. Comum diz respeito àquilo que é público, e assim não pertence à esfera do privado. Comum lembra “comunhão”, algo que não é de domínio exclusivo de uma pessoa, mas sim de todos. Ambas as concepções de “comunicação” apontam para a existência de uma vocação social envolvendo a palavra. Vamos entender melhor o significado de “social”. Já perguntamos em aula o antônimo de “social”, e sabe qual foi a resposta uníssona? “Antissocial”. Tudo bem, mas você concordaria que “individual”é sinônimo de “antissocial”? Sim, porque, do ponto de vista gnoseológico, social é tudo aquilo que transcende a figura de um indivíduo. Não fi- cou claro? Imagine que nós dois, você, leitor(a), e eu, professor Tiago Pellizzaro, joguemos uma partida de canastra, de damas, de gamão, de tênis, de xadrez, bom, não importa o jogo. Importa que ele é um evento social. Não ficou satisfeito(a) com a explicação? Então, pense no seguinte... Você é casado(a)? Pois o casamento é uma sociedade. Digamos que você seja um(a) empresário(a) individual e quer encerrar a sua empresa para, em seguida, iniciar um novo negócio, desta vez contando com a minha participação. Se eu aceitar, seremos sócios. Ficou claro agora? Assim é a comunicação. Uma ação de caráter eminentemente social. Gary Kreps (1995) dividiu-a em quatro níveis, sendo que três destacam a interação humana: in- terpessoal, entre grupos pequenos e entre multigrupos. Pense numa empresa de médio porte, que funciona numa sede e não tem filiais: a comunicação corporativa pode envolver somente dois funcionários, ou todos os funcionários de um setor, ou, ainda, todos os seus funcioná- rios. É oportuna a observação do pesquisador. “Ninguém é uma ilha”, preconiza uma frase famosíssima. Até mesmo quando lemos um livro ou uma apostila praticamos a comunicação interpessoal, pois o autor da obra está se comunicando virtualmente conosco. Surpreenden- te, entretanto, é a categoria “comunicação intrapessoal” proposta por Kreps. Ela permite ao indivíduo o processamento da informação. Em outras palavras, confere-lhe a prerrogativa de exercitar a autocomunicação, tal como a dinâmica do silêncio oportuniza. A dinâmica do silêncio suscita a “prática de conscientização individual”. Com a comu- nicação cada vez mais passível de ruídos, ou, por outra, com a exigência de que se conquiste uma comunicação eficiente, porém, mais e mais ágil, o que amplia as probabilidades de ocor- rência de erros, ganham importância as habilidades ligadas à concentração, à análise acurada de procedimentos adotados (ou a serem adotados) e à arquitetura de planejamentos. Ao en- contro dessas necessidades, o silêncio opera como indutor da autocomunicação e da valoriza- ção da criticidade que, no processo comunicacional, são irrenunciáveis. Nessa dinâmica, com o auxílio de uma música de relaxamento, orienta-se o estudante a “descansar a mente” por uns dez minutos, livrando-se provisoriamente das preocupações instantâneas. Após tomarmos ciência acerca do conceito de Comunicação, é apropriado questionar: por que nos comunicamos? Com qual finalidade fazemos uso da comunicação? Certamente, muitas respostas caberiam a essa indagação, porém, sob um ângulo mais assertivo, concor- 10COMUNICAÇÃO SUMÁRIO da-se com o ponto de vista de Gary Kreps (1995), que afirma que a comunicação objetiva pro- move a redução de equívocos por parte dos indivíduos. Apesar da polêmica criada em torno da frase “quem tem boca vai a Roma”, ela leva ao pensamento de que as dúvidas devem ser desfeitas através da interação humana. Não há porque sentir receio de pedir ajuda ou algum esclarecimento com o outro. Afinal, quando eliminamos as incertezas que nos cegam, conse- guimos tomar as decisões necessárias para dar prosseguimento a um plano ou uma intenção. O PROCESSO E OS ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO Quando falamos em “processo da comunicação”, é importante assimilar, de primeiro, o caráter em curso da comunicação. Ela é dinâmica, está em movimento, em contínua circula- ção e, nos tempos atuais, até “viralizando”, ou seja, multiplicando rapidamente os seus efei- tos. Historicamente, nota-se que a Tecnologia de Informação e Comunicação foi abreviando drasticamente o intervalo de tempo entre o envio da mensagem por parte do remetente e a sua chegada ao destinatário. A sincronia outrora assegurada apenas pelo telefone foi também viabilizada pelos chats e pelo whatsapp, duas ferramentas cada vez mais presentes na vida das pessoas. O processo da comunicação depende de determinados elementos para sua ocorrência. Na década de 40 do século anterior, o norte-americano Harold Laswell, ao construir um mo- delo que explicasse o funcionamento do fluxo comunicacional, desenvolveu o seguinte e eco- nômico esquema: quem (emissor) / diz o quê (mensagem) / a quem (receptor) / com que ca- nal (meio) / e com que efeito (efeitos de audiência). Juntamente com Paul Lazarfeld, lançou a “teoria dos efeitos limitados”, que procurava analisar os efeitos ocasionados pelos meios de comunicação de massa junto à audiência. Tal teoria concebia o receptor como ser passi- vo, que acolhia a mensagem transmitida pela mídia sem contrariá-la. Somente mais tarde o sociólogo francês Edgar Morin trouxe uma nova perspectiva para as teorias da Comunicação, sustentando que, entre emissor e receptor, dá-se uma negociação de sentidos. Posteriormente, os estudos de recepção inverteram o paradigma postulado por Laswell e Lazarfeld. Em vez de concentrar no emissor o estudo dos efeitos da comunicação, o foco re- cai na investigação sobre o que os receptores fazem com as notícias dos jornais e com os pro- gramas radiofônicos e televisivos. Seriam realmente passivos e extremamente afetados pelo que a mídia propala? Tal questão se mantém atual. Ainda são necessárias inúmeras pesquisas para que esse fenômeno seja mais bem compreendido. Apesar disso, a contribuição de Laswell e Lazarfeld converteu-se num legado: emissor, mensagem, receptor e canal são elementos da comunica- ção. A representação do modelo por eles criado é reproduzida abaixo. A partir de então, os quatro elementos passaram a configurar o que de mais elementar constituía o processo de comunicação. Ou seja: para que haja comunicação, deve estar pres- suposta a existência de um emissor, que transmite uma mensagem, que, por sua vez, é en- dereçada, por meio de um canal, a um receptor. Porém, tal modelo deixava de considerar al- EMISSOR → MENSAGEM → CANAL → RECEPTOR 11COMUNICAÇÃO SUMÁRIO guns aspectos importantes. Toda comunicação enquanto ato possibilita uma intercalação de papéis, de modo que o receptor possa em certos momentos atuar como emissor, e vice-versa. O fluxo, portanto, deixa de ser unilateral para dar lugar a uma nova formatação com caracte- rística dialógica, marcada pela dinamicidade do contato. A comunicação, assim, suscita múltiplos revezamentos de fala, não havendo necessa- riamente um papel fixo para quem dela participa. Mais um ponto chave: os quatro elementos descritos não são suficientes, como obser- vou Roman Jakobson, para compreender de maneira mais aprofundada o processo da comu- nicação. É preciso levar em conta o CONTEXTO e o CÓDIGO utilizados na comunicação. Como já foi mencionado, o primeiro item diz respeito ao tempo e ao espaço em que sucede o ato comunicacional; já o segundo corresponde à língua (ou idioma) empregada para gerar enten- dimento entre emissor e receptor. Assim, a representação mais completa dos elementos de comunicação pode ser observada através do esquema abaixo. Ao examinar o esquema, você logo percebe que a Comunicação é mais complexa do que o raciocínio inicial de que para haver um ato comunicativo bastavam um meio, um emissor, uma mensagem e um receptor. Por que é importante que essa constatação não seja ignorada? Vamos a um exemplo: consideremos que o emissor esteja falando em alemão e o receptor não seja proficiente nessa língua. Pergunta-se: haverá, neste caso, comunicação? Ela será devi- damente efetivada? É claro que não. Da mesma forma, se os contextos de emissor e receptor forem diferentes, a transmissão da mensagem também poderá ser prejudicada. Vamos a mais um exemplo: “learning to swim is a piece of cake”, poderá dizer um norte-americano. Tradu- zindo: aprender a nadar é um pedaço de bolo. Não temos nenhuma expressão correspondente em português. O que será que ele quis dizer? Que aprender a nadar é algo muito fácil.Somente quem comunga do contexto dele ficará familiarizado com o uso dessa expressão. Essas hipo- téticas, porém, possíveis situações ensejam que nos debrucemos sobre o ruído na comunica- ção e a prática do feedback. Se você deseja conhecer mais algumas expressões idiomáticas desconhecidas do inglês, não deixe de acessar http://www.letsgoidiomas.com.br/algumas-expressoes-populares- -do-ingles-que-nos-desconhecemos. RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO E A PRÁTICA DO FEEDBACK Por se tratar de uma experiência humana, falar em comunicação perfeita, completa ou excelente soa como utopia. O ser humano é perfectível, e nesse caso, pode adotar práticas para tornar sua comunicação mais eficiente. As imperfeições, no entanto, fazem parte do proces- so comunicacional, e isso deve ser compreendido a fim de que seja sempre vislumbrada uma solução para as falhas detectadas. A deficiência que impede o estabelecimento de uma comu- nicação clara e inteligível chamamos de “ruído”. Existe até uma classificação para que possa CANAL EMISSOR ↔ MENSAGEM ↔ RECEPTOR CÓDIGO CONTEXTO 12COMUNICAÇÃO SUMÁRIO ser melhor identificado. Assim, os tipos de ruído na comunicação são: físico, fisiológico, psi- cológico e semântico. O ruído físico talvez seja o mais fácil de distinguir. Imagine uma transmissão de um jogo de futebol pelo rádio, e o repórter dentro do campo cheio de vontade de entrevistar os joga- dores na entrada do gramado, pouco antes do início do confronto. Aí, ele se posiciona estra- tegicamente para ouvir alguma palavra do craque do time da casa no exato momento em que, junto com seus companheiros, aparece para a torcida com uma criança no colo. O microfone do repórter está quase colado à boca do entrevistado. De repente, irrompe um foguetório por aproximadamente meio minuto. O repórter não consegue entender nada do que diz o jogador, e este tampouco consegue se concentrar por causa do barulho quase ensurdecedor do espo- car de foguetes. É o ruído físico que atrapalha a comunicação entre ambos. Ou então pense no professor e nos alunos que procuram se comunicar naturalmente durante a aula, porém, ruí- dos externos acabam comprometendo tal iniciativa. Em http://oglobo.globo.com/rio/bairros/ruidos-provocados-por-avioes-prejudicam- -aulas-em-campus-da-uff-13641216, você lerá uma notícia que dá conta exatamente desse problema em sala de aula. O ruído fisiológico, ao contrário, é provocado por qualquer sensação que possa causar desconforto ao emissor ou ao receptor, como por exemplo, dores de cabeça, dores no corpo, ânsia de vômito, febre, gripe, entre outros. Você já trabalhou gripado(a)? Temos maior difi- culdade para nos expressarmos ou retermos as ideias que nos são repassadas quando estamos doentes, não é verdade? O ruído fisiológico deriva dessa condição de saúde. Já o ruído psicológico geralmente advém da falta de concentração na mensagem por parte do receptor. Sabe aquele dia que você foi para a aula e, enquanto o professor explicava a matéria, o seu pensamento estava completamente voltado para a briga que teve momentos antes com o(a) namorado(a) ou com o(a) chefe? Ou então que você estava tão entusiasmado(a) com a compra de um celular ou de um notebook que ficou fazendo planos para a sua aquisição enquanto o conteúdo de uma disciplina era explanado em sala de aula? Eis alguns exemplos de ruído psicológico. Por fim, dos ruídos na comunicação, o semântico é provavelmente o mais cometido. Semântica é uma área da Linguística dedicada ao significado das palavras. Muitas vezes in- corremos em distorções quando não ouvimos corretamente o que o emissor disse, ou quando não interpretamos adequadamente um texto, por exemplo. Para que você compreenda mais claramente como esse ruído é configurado, atente para o que a Figura ilustra. 13COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Se o funcionário que estava atravessando o corredor não confundisse “deste pedido” com “despedido”, o referido boato jamais teria se espalhado pela empresa. Há, também, momentos em que o emissor não consegue organizar seus pensamentos de maneira coerente, deixando- -os vagos, inconclusos e indefinidos. Uma das formas mais clássicas de caracterização do ru- ído semântico é o uso e abuso de jargões ou termos técnicos. Suponhamos que uma paciente, após realizar o exame físico, pergunte ao médico: o que tenho, doutor? E ouve como resposta: “hiperemia, discreto exsudato fibrinopurulento e líquido peritoneal em pequena quantidade”. Isso é resposta que se preze? Ele está, na verdade, informando ter diagnosticado um quadro de apendicite aguda não complicada, ou seja, uma inflamação do apêndice intestinal. Outro ruído de natureza semântica, porém, menos comum, é resultante da falta de domí- nio de uma língua. O falante chega a se expor ao ridículo, porque mal dá para decifrar seu dis- curso. Divirta-se um pouco. Assista ao vídeo de Joel Santana, treinador da África do Sul, em 2010, em https://www.youtube.com/watch?v=BoxA9ghHkOM. Os arcaísmos, que são termos em desuso, também desencadeiam o ruído semântico. Se alguém disser “Fernando foi levado para o nosocômio mais próximo”, o receptor poderá in- dagar: para onde Fernando foi levado? Para o manicômio? Seria muito melhor, a fim de tornar compreensível o enunciado, simplesmente comunicar que foi levado para o hospital. E que tal os cães hidrófobos que foram flagrados na frente da farmácia. Cães hidrófobos, como assim? Eles têm medo de tomar aquele banho? Nada disso. O que eles têm é raiva, uma doença infecciosa. Vale mencionar os parônimos e homônimos, ou seja, palavras parecidas ou de mesma grafia, respectivamente, mas com significados diferentes. O jovem chegou atrasado ao traba- lho. “O que houve?”, perguntou-lhe o chefe. “O tráfico estava intenso”, respondeu o rapaz. E agora? Não queria dizer “tráfego”? Enfim, como se pode constatar, o ruído é responsável pelo surgimento de distorções e ambiguidades. O ruído conduz à dúvida. Dessa forma, uma questão se impõe: como podemos contornar esse problema ao nos comunicarmos? Em primeiro lugar, deve-se reconhecer que, se quisermos apreender qualquer conteúdo da maneira mais fidedigna possível, necessitamos aprimorar nosso processo de escuta. Para isso, é vital que desenvolvamos a capacidade de prestar o máximo da nossa atenção para aquilo que nos é comunicado. Atenção constitui uma palavra-chave para a aquisição do conhecimento, bem como para a decifração de mensagens não deturpadas. Outro procedimento em prol da comunicação sem “ruídos” é o feedback. Há que se ques- tionar constantemente o interlocutor a fim de perscrutar como ele compreendeu o que lhe foi transmitido. Caso o receptor tenha ficado em dúvida quanto às instruções ou informações que lhe foram partilhadas, não deve hesitar em pedir ao emissor: pode repetir, por favor? Não es- queça: o diálogo é indispensável para que a comunicação ocorra a contento. Um exercício a ser adotado para melhorar nossa comunicação é a chamada “empatia”, que nada mais é do que a capacidade de saber se colocar no lugar do outro, procurando entender suas preocupações, sentimentos e necessidades. Também é válido aprender com os erros que praticamos. Muitas vezes eles acontecem porque somos desleixados e evitamos registrar as in- formações por escrito. Quando escrevemos, formalizamos a mensagem e permitimos que seja consultada pelos receptores quantas vezes eles quiserem. 14COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Confira um bom exemplo de ruído na comunicação em virtude da falta de emissão de um comunicado oficial que pudesse ser lido e mais bem assimilado por todas as pessoas que deveriam cumprir as instruções anunciadas pelo Coronel Burt. O vídeo, disponível em https:// www.youtube.com/watch?v=CIT6bKbime0, apresenta a simulação de um “telefone sem fio”, brincadeira que serve para testar o grau de compreensão e memorização de uma ordem verbalizada. Ao final, nota-se uma discrepância entre a mensagem original e a captadapelos receptores à medida que é passada adiante. FUNÇÕES DE LINGUAGEM Cláudia Capello e Mary Murashima (2015) lembram que a linguagem “permite a comu- nicação entre os seres e a autorreferenciação”. Ela “é conatural ao homem e a única que nos diferencia como indivíduos”. O processo da comunicação, portanto, é dependente do empre- go de uma linguagem. A comunicação através da linguagem pode ser realizada de diversas maneiras, sendo estas, entre outras: • gestos; • expressões faciais; • expressões corporais; • sons; • símbolos; • fala; • escrita. Por que aplicamos esse arsenal de meios de expressão no dia a dia? Porque determinadas finalidades são almejadas quando nos comunicamos, como bem detectou Roman Jakobson. Ao fazê-lo, buscamos: exteriorizar nossas impressões, revelando as emoções e pensamen- tos que estavam guardados em nosso íntimo; dotar nosso texto de valor artístico; convencer ou persuadir nosso receptor; municiá-lo com informações; iniciar, manter ou terminar um contato; elaborar definições e conceitos para qualquer fenômeno ou objeto que nos cerca. As funções de linguagem são oriundas desses objetivos humanos. Cada elemento da comunicação tem a sua função de linguagem correspondente. Para melhor absorver as características das diferentes funções, observe o Quadro 1. Funções de linguagem Elemento em que está centrada Função Principais características Objetivo Emissor Emotiva ou expressiva Texto em primeira pessoa ou com exclamações Emocionar Mensagem Poética Elaboração textual ao estilo das poesias, com valorização da sonoridade, rimas, paralelismos Criar, construir Receptor Apelativa ou conativa Uso do imperativo afirmativo ou negativo Persuadir, convencer Contexto Referencial Texto com informações Informar Canal Fática Perguntas Iniciar, manter ou encerrar contato Código Metalinguística Conceitos e definições sobre palavras ou expressões Conceituar 15COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Cada função de linguagem tem características próprias e uma finalidade. Vale frisar que, diante de qualquer mensagem, mais de uma função de linguagem pode ser identificada, porém, uma delas é dominante. Para que você consiga distinguir cada uma delas, vamos recordar alguns comerciais e programas de televisão. Em https://www.youtube.com/wat- ch?v=WyVHfEZEoYs, há um exemplo do uso da função emotiva ou expressiva. O personagem narra de forma cantada em primeira pessoa uma atividade que faz parte de sua rotina. Em https://www.youtube.com/watch?v=mZOKGQZxH2k, a função poética norteia a mensagem contida no comercial do leite Parmalat. Em https://www.youtube.com/watch?v=kBxbgYZLPYI, percebe-se o emprego da função apelativa ou conativa, pois as frases “não compre carro amanhã. Espere só mais um dia” contêm verbos no imperativo e tentam incutir uma ordem ou conselho na mente do espectador. Em https://www.youtube.com/watch?v=9QlpyCodT2c, a função referencial é utilizada para salientar as informações que caracterizam o Chokito: leite condensado caramelizado, coberto com o delicioso chocolate Nestlé e flocos crocantes. Em https://www.youtube.com/watch?v=uVfA9O1UG1A, temos a função fática presente no contato telefônico que se estabelece entre Chapolin e o homem que liga para a casa do Dr. Zurita. Em https://www.youtube.com/watch?v=BpVZ13FH9pM, um grupo de estudantes criou uma versão do comercial do desodorante Avanço. O slo- gan “com avanço, elas avançam” é um conceito que tenta induzir os homens a se perfumarem com Avanço na expectativa de atraírem a atenção femi- nina, clássico caso de adoção da função metalinguística. 16 A CONSTRUÇÃO DO TEXTO E GÊNEROS TEXTUAIS O texto é uma atividade artesanal. Durante sua confecção, o escritor batalha para escolher a linguagem que lhe parece mais apropriada para se comunicar formalmente. 17COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Etimologicamente, “texto” é um termo originário do latim (textu) que significa “teci- do”. A ideia de texto remete, portanto, à elaboração de um entrelaçamento lógico de palavras, frases, parágrafos e seções. Comentávamos na Unidade 1 a respeito da vocação social da comunicação. Com o texto, não é diferente. Qual texto é escrito para não ser lido por outras pessoas que, obviamente, não o criaram? Um diário? Talvez, mas e os outros gêneros textuais, como o e-mail, a crônica, o artigo e os documentos comerciais e oficiais. São escritos apenas para o autor lê-los? Produzir um texto não é uma tarefa simples, ainda mais quando não se trata de um há- bito. Apesar disso, se começarmos a adotar algumas medidas estratégicas, poderemos aper- feiçoar nossa técnica e, até mesmo, despertar o interesse por essa prática, adquirindo desen- voltura. Vamos continuar conversando sobre isso? PASSOS PARA ESCREVER UM BOM TEXTO A fim de que nos conscientizemos quanto aos reflexos da escrita qualificada em nossa vida, voltemos nossa mente para a seguinte interrogação: por que é importante escrever bem, e não de qualquer forma? Porque, se nos apropriarmos da habilidade da escrita, poderemos transformar uma história comum em uma grande história. Porque abreviaremos o caminho para obter o reconhecimento. Porque viraremos protagonistas em vez de seguirmos sendo “marionetes” passivas. Porque saberemos exercer melhor a cidadania, defendendo nossos direitos, denunciando e lutando contra as injustiças com mais autoridade. Então, o que é necessário para que se escreva um bom texto? A qualidade de um texto de- pende do grau de conhecimento que a pessoa tem acerca do assunto que vai dissertar. Quanto maior a chance de aprofundá-lo, mais consistente o texto poderá ficar. É sempre importante explorar os diversos ângulos que a questão abordada textualmente contém. Isso permite enri- quecer o resultado da produção textual. De qualquer modo, alguns passos podem ser adotados a fim de começar bem a realização dessa tarefa. O primeiro deles é o “planejamento”. Na vida, fa- zemos planejamento financeiro, planejamento familiar, planejamento empresarial, entre ou- tros. Vale o mesmo raciocínio para o texto. Para que iniciemos com êxito nosso planejamento para a produção textual, a primeira pergunta é: “sobre o que vou escrever?”. Assim, parte-se de imediato para a escolha do assun- to. Pode-se escrever sobre qualquer tema? Em princípio, sim, mas existe uma forma de largar em vantagem nessa escolha. Como? Optando por um com o qual se tenha certa familiaridade, seja em função das experiências pessoais, seja em virtude das leituras realizadas, seja por conta dos filmes vistos, seja por obra de outros mecanismos de aprendizagem. Você ganhará tempo ao se decidir por discorrer sobre uma matéria da qual tenha um domínio minimamente razoável. Quase sempre é necessário pesquisar informações para reforçar nosso conhecimento em relação ao assunto escolhido. Ótimo. Isso vai ajudar a projetar um olhar mais sistêmico para a exposição textual. Mas tome cuidado para não cometer plágio! No momento em que você apro- veita uma ideia que não é sua, nunca deixe de citar as fontes, tanto no corpo do texto quanto ao final dele. Do contrário, estará cometendo crime por não ser detentor dos direitos autorais do conteúdo copiado e por tentar se fazer passar como sendo o seu autor. 18COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Um exercício eficaz para evitar plágio é o seguinte: leia um texto, de preferência um ar- tigo de opinião. Depois faça um resumo sobre ele. Sempre que você mencionar alguma ideia que seja do autor do artigo, cite o nome dele. Você estará escrevendo com as suas palavras e garantindo a originalidade de sua produção textual, em vez de ficar copiando trechos. A cereja do bolo é a inclusão de uma análise crítica pessoal. Você concorda com o posicionamento do autor? Por quê? Em quais pontos você entende que a argumentação dele é inconsistente? Todo texto visa a pelo menos um destinatário. Lembre-se de que elaborar um texto cor- responde a um ato essencialmente social,as pessoas escrevem para se comunicar com outros indivíduos. Neste caso, a segunda pergunta é: “a quem o texto se destina?” ou “para quem vou escrever?”. A partir do momento que reconheço o público que receberá a mensagem, mi- nha próxima missão é adequar a linguagem. Se vou contar uma história para crianças, prova- velmente vou começar o texto com “era uma vez...” e usar uma linguagem bem acessível, de fácil compreensão. Se vou escrever para gestores, posso abusar dos jargões da área, ou seja, dos termos técnicos. Não sabemos se nosso texto repercutirá amplamente. A sua difusão depende muito dos canais que o divulgam. É certo, entretanto, que, se desejamos que ele possa ser acessado e entendido pelo maior número de pessoas, devemos dotá-lo de um linguajar bastante sim- ples para a decifração do leitor. Esse é um dos maiores segredos do grande sucesso de Paulo Coelho. Um texto nada complexo, do ponto de vista da linguagem que o constitui, favorece a tradução para os mais diversos idiomas. Claro, é preciso impressionar, tocar o coração e alma dos leitores para que a cotação de uma obra se eleve. Bom, pode não ser esse o seu objetivo quando for escrever, mas saiba que quem escreve não o faz a esmo. Há sempre uma intenção do autor presente no texto: solicitar, responder, reclamar, aceitar, sugerir, elogiar, explicar, mobilizar, alertar, contar uma histó- ria, etc. Por isso, a terceira pergunta que não pode ser desprezada é: “qual o objetivo do meu texto?”. Em outras palavras, “O que me move a escrevê-lo?”. Depois que você definiu bem a resposta para a questão anterior, vem a última: “como pretendo construir o texto?”. Escrever um e-mail é diferente de preparar um ofício. Um arti- go de opinião não tem o mesmo formato de um comunicado. E aí, “qual texto vou escrever?”. Será um requerimento? Ou uma declaração? Ou um aviso? Ou de qualquer outra natureza? Enfim, as quatro perguntas auxiliam na montagem da produção escrita. Acrescente a elas outros dois ingredientes: preparação e paciência. Quanto mais você praticar, mais apren- derá com os erros cometidos e se aproximar da perfeição, já que somos perfectíveis. Quanto à paciência, trata-se de uma virtude da qual a humanidade carece profundamente, por isso os debates sobre sua importância estão sempre em voga. A dinâmica do silêncio proposta na Unidade 1 pode ser útil para fazer com que a paciência vire um de seus trunfos, caros alunos! Um texto, para ser bom, não tem prazo para ser formulado. Ele exige, no entanto, muita pa- ciência, afinal não são poucas às vezes em que nos vimos obrigados a reescrever frases e até mesmo o texto inteiro. Seja paciente e treine a sua paciência. Por ora, vamos continuar inves- tindo na preparação para escrever bons textos, que é algo mais palpável! 19COMUNICAÇÃO SUMÁRIO QUALIDADES DE UM BOM TEXTO Voltando a falar na produção de textos, a fim de que nossa mensagem seja bem assimi- lada, é preciso seguir alguns critérios se nosso intuito é garantir a qualidade da comunicação. A eficiência do texto estará mais bem assegurada quando este é claro, objetivo e sucinto. Ser claro significa ser capaz de evitar mal-entendidos ou dúvidas sobre o conteúdo escrito. Ser objetivo que dizer ir direto ao ponto, sem rodeios e delongas. Ser sucinto restringe-se apenas àquilo que se quer transmitir em termos de informação. Quanto mais econômica, e, portanto, menos complexa a mensagem, mais fácil será para o receptor entendê-la. Para garantir a clareza do texto, é necessário, em primeiro lugar, construir frases cur- tas. Para isso, devemos usar a fórmula básica de elaboração frasal: SUJEITO+VERBO+COM- PLEMENTO. O sujeito é descoberto perguntando-se ao verbo quem praticou a ação, que está indicada pelo próprio verbo. O complemento são as informações posteriores ao verbo, que ajudam a esclarecer o que se passou com o sujeito. Então, em vez de escrever “Estudando es- panhol, Jéssica ficou a tarde inteira”, dá-se preferência à seguinte descrição: “Jéssica ficou estudando espanhol a tarde inteira”. Como podemos perceber, quando organizada na sequ- ência SUJEITO+VERBO+COMPLEMENTO, a estrutura da frase fica compreensível. Em segundo lugar, é imprescindível evitar rebuscamento. Por causa disso, o emissor pode ser taxado de pedante ou simplesmente não ser compreendido. Confira alguns exemplos: • em vez de “passamento”, prefira “morte ou falecimento”; • em vez de “lograr êxito”, prefira “conseguir seu objetivo”; • em vez de “educandário”, prefira “colégio ou escola”; • em vez de “morgue”, prefira “necrotério”. Em terceiro lugar, deve-se continuamente buscar a precisão vocabular. Um erro muito cometido é dizer que, diante de um processo, o juiz “emitiu parecer”. O juiz, na verdade, “de- cide” ou “sentencia”. A geada não cai, ela se forma. Os municípios estão fisicamente separa- dos por limites, os Estados por divisas e os países por fronteiras. Em quarto lugar, não esqueça de articular logicamente as ideias. Se alguém em con- dições físicas normais sair do UNIFTEC, de Caxias do Sul, e for caminhando até o shopping Iguatemi, no outro lado da RS-122, não poderá demorar mais do que meia hora para chegar a seu destino, a menos que seja interrompido por alguma conversa ou por algum acidente no meio do percurso. Se uma pessoa diz ter visto a cena de um crime e de ser capaz de identificar o assassino, caso seja arrolada como testemunha, não poderá no julgamento reconhecer o criminoso pelas costas. Tal atitude permite inferir que o suspeito não é inexoravelmente (sem sombra de dúvidas) o culpado. 20COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Em quinto lugar, para que o texto tenha qualidade, o cuidado com a harmonia é indis- pensável. A melhor forma existente para desarmonizar o texto é o emprego da redundância ou de pleonasmos. Confira no exemplo: “Ele colocou ontem a pasta no mesmo lugar em que estava colocada na semana passada” (mesmo verbo utilizado duas vezes na mesma frase). Para garantir a harmonia da frase, podemos deixá-la assim: “Ele guardou ontem a pasta no mesmo lugar em que estava colocada na semana passada”. Quanto aos pleonasmos, nota-se um vício de linguagem em frases como “tive uma surpresa inesperada”, “vou adiar para de- pois o encontro”, “o texto tem lacunas não preenchidas”, “ela subiu para cima e depois des- ceu para baixo”. Um texto claro, objetivo, sucinto, escrito sem rebuscamentos, mas com frases curtas, precisão vocabular, harmonia e ideias logicamente articuladas é muito bem-vindo! TIPOS DE TEXTO Antes de nos ocuparmos com as especificidades de alguns gêneros textuais, é primor- dial sabermos reconhecer suas principais tipologias. Neste caso, cinco ações são as mais co- mumente praticadas quando escrevemos. Vamos estudá-las mais detalhadamente. A primeira é a descrição. Descrever é o ato de caracterizar, ou seja, elaboramos um texto descritivo quando informamos as características de uma pessoa, um animal, um objeto, um sentimento, etc. Exemplos: Esta sala é espaçosa, bem iluminada, tem 50 cadeiras azuis e seis ventiladores dispostos em três fileiras; ela tem 20 anos, cabelos compridos e castanhos, um metro e sessenta e cinco centímetros, gosta de ler e escrever poemas; explicar a paixão não é tarefa fácil, mas podemos dizer que se trata de um sentimento no qual uma pessoa fica sem palavras quando se depara com outra, a comunicação sai engasgada, entrecortada e muitas vezes desconexa por ser a criatura apaixonada movida por uma emoção especial, uma afetivi- dade que brota em seu coração e que precisa ser revelada e resolvida, porém, há um mistério que a cala, que a encarcera, que a domina. A segunda é a narração. Narrar diz respeito a contar uma história. A narração nada mais é do que a capacidade humana de narrar ações, e essa propriedade, portanto, está presente no texto narrativo. Neste tipo textual marcado pelo registro de fatos, é fundamental a existência de personagens, pois são as pessoasque realizam as ações narradas. Além disso, é necessário um enredo, que corresponde à trama da história, isto é, como os fatos se desenvolvem, apre- sentando uma introdução, havendo um conflito e, ao final, uma solução para ele, não importa se feliz ou trágica. Exemplo: João saiu de casa às cinco da manhã. Era um sábado. Ele sabia que corria perigo. Foi se envolver com a secretária do chefe, e o chefe era bandido. Não deu outra. Na esquina anterior à entrada da empresa o pegaram. Três chutes no estômago e dois nas cos- tas. O mais triste é que ninguém que atravessava a rua se ofereceu para acudi-lo. A terceira é a argumentação, que corresponde ao ato de defender uma ideia. Para isso, nos valemos de argumentos que justifiquem nosso ponto de vista. Estamos falando do texto dissertativo-argumentativo. Para escrevê-lo, precisamos escolher um tema que conhecemos bem e começar a nos posicionar contra ou favoravelmente, ou ainda apontando os seus prós e contras. Por exemplo: A realização da Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro. Tanto podemos 21COMUNICAÇÃO SUMÁRIO entender que favorece o turismo e a imagem do país no exterior, como podemos pensar que os investimentos na vila olímpica não são fiscalizados e que poderiam ser, em vez disso, em- pregados diretamente em saúde, segurança e educação. Menos comum que as três anteriores, a quarta é a injunção. Para transmitirmos instru- ções aos leitores é que escrevemos um texto injuntivo. Imagine uma receita de bolo: quebre um ovo e coloque-o na panela. Bata até ficar cremoso. Adicione cem gramas de farinha. Mis- ture bem. Depois, leve ao fogo por cinco minutos. Está bem, você “sacou” que em matéria de culinária sou zero à esquerda! Mas não é isso que importa, tá! Repare nos verbos no impera- tivo afirmativo. Eles servem para externar ordens para que o leitor as obedeça, passo a passo. Um manual de instruções ou de rotinas também tem por base o texto injuntivo. Acesse o manual de rotinas do Departamento de Contabilidade e Finanças da UFRGS em https://www.yumpu.com/pt/document/view/12986603/manual-de-rotinas-departamen- to-de-contabilidade-e-financas-ufrgs e veja como os funcionários que lá trabalham podem executar uma série de procedimentos devidamente orientados pelas explicações contidas no documento. A quinta – e menos comum que as quatro anteriores – é a predição. Predizer é o mesmo que dizer antes, ou seja, antecipar, lançar uma previsão. Ao que se sabe, o único livro verda- deiramente preditivo é a Bíblia. Afinal, adivinhar o futuro é uma missão que, excetuando-se aqueles que receberam a inspiração divina, só o João Alves conseguiu. Ninguém ganhará na loteria mais vezes do que ele, escreve aí! Sobre nossa eterna incerteza e imensa fragilidade em relação ao que o futuro nos reser- va, é recomendável a leitura do conto A cartomante, de Machado de Assis. É hora de voltar a falar sério. Como a previsão do tempo é anunciada? Através do texto preditivo: amanhã choverá na metade Sul do Rio Grande do Sul. O afastamento da frente fria em direção à Patagônia provocará instabilidade nos próximos dias na região. Nesta quinta- -feira, a mínima ficará em torno dos dez graus em Rio Grande. Também ficou claro que nada entendo de meteorologia, não é? Bom, mas isso era previsível! Reparou nos verbos no futuro do presente do indicativo? Eles sinalizam para a tentativa de antecipação de um evento, neste caso ligado às condições meteorológicas. Como vimos, descrever, narrar e argumentar são as principais ações relacionadas à produção de textos. É importante ressaltar que, para contar uma história, posso utilizar des- crições. Além disso, para argumentar, posso me valer do aprendizado gerado por uma his- tória que vivenciei e que decido relatá-la, ou, também, de descrições. Exemplos: A boate Kiss estava funcionando sem alvará. Portanto, o poder público tem responsabilidade pela tragédia (estabeleço o raciocínio a partir de um fato); não haviam saídas de emergência, o isolamen- to acústico era constituído de material inflamável e de grande toxicidade. Logo, não pode- ria estar funcionando um local com essas características (estabeleço o raciocínio a partir das descrições). Raramente um texto é exclusivamente descritivo, narrativo ou argumentativo, senão predominantemente descritivo, narrativo ou argumentativo. Guarde isso! 22COMUNICAÇÃO SUMÁRIO SUBJETIVIDADE E OBJETIVIDADE TEXTUAIS Cabe destacar que a subjetividade e a objetividade podem estar sobrepostas nos referi- dos textos. De que forma? Primeiro vamos diferenciá-las. Pergunta-se: você toma café sem açúcar? Ah, não! E com adoçante? Também não? Com uma colher de açúcar? Duas? Três? Mais que três? Certo. Eu, por exemplo, não tomo café. Lembra a Revista Placar? Um jogador – acho que era do Bahia – entrevistado no final dos anos 80 respondeu que não usava xampu. Vai ver que tomava banho com sabão Maraschyn, palpitava um amigo meu. Cada um toma banho e café a sua maneira, não é verdade? Isso é, portanto, subjetivo. A subjetividade garante respei- to às preferências individuais. Daqui a uns dias, quando fizer as provas dos graus A e B, você provavelmente dará uma olhadela na minha mala, cuja cor é preta. Poderá achar bonita ou feia. Isso é subjetivo. Mas você se deu conta que “bonito” e “feio” são adjetivos? As opiniões e as impressões pessoais conferem subjetividade ao texto. Logo, os adjetivos e a fala em pri- meira pessoa são traços subjetivos. Como fazer para reconhecer a objetividade num texto? Bem, opostamente ao que é sub- jetivo, a mensagem objetiva ancora (ou, ao menos, procura ancorar) valores que sejam uni- versalmente aceitos. Como assim? Se o Rio Grande do Sul possui 282 mil quilômetros qua- drados de extensão, quantos quilômetros quadrados ele possui? 282 mil. Há alguém nesse planeta que pode contestar tal informação? Deixe para lá as guerras do passado! Se eu disser que o dístico “ordem e progresso” integra a bandeira do Brasil, ou que Aracaju é a Capital de Sergipe, há alguém nesse planeta que pode contestar tais informações? Responda! A objetividade não ressalta os sentimentos individuais. Ao contrário, faz ou quer fazer prevalecer a todos aquilo que veicula. A informação é o principal instrumento da objetividade. Vamos supor que houve 40 mil pessoas presentes no Beira-Rio no Grenal 410. Todas retornaram para suas casas após o jogo, sendo que nenhuma delas morreu. Essa é uma informação oficial, objetiva, e não adianta eu di- zer que morreram duas se não tenho provas. Claro, toda informação é passível de ser retificada, mas enquanto não é desmentida, permanecerá válida, e todos nós devemos acreditar nela. Você entendeu a diferença entre a subjetividade e a objetividade? Espero que sim! Ana- lisaremos um último questionamento: a escrita deve ser em primeira ou terceira pessoa? Eis um paradigma a ser desmistificado. Cientificamente, escreve-se de modo impessoal, isto é, em terceira pessoa, para marcar certo distanciamento de nosso objeto de estudo. Em “O prin- cípio esperança”, o filósofo alemão Ernst Bloch disserta sobre a “obscuridade do instante vi-A subjetividade garante respeito às preferências individuais. 23COMUNICAÇÃO SUMÁRIO vido”. Faça a seguinte experiência: pegue qualquer objeto, como uma garrafa, um celular ou uma carteira, por exemplo. Coloque-o a cinco centímetros de distância de seus olhos. Como você o enxerga? Com muita dificuldade, não é mesmo? Isso mostra que, enquanto sujeitos, devemos guardar certa distância dos objetos para observá-los melhor. Essa experiência é bastante profícua para que se compreenda o paradigma científico. Porém, uma etnografia, ou seja, o relato de uma vivência antropológica, é um texto científico escrito em primeira pessoa. Não há nada de mais nisso. Todo pesquisador observa o(s) objeto(s) de algum lugar, e se ele vale de sua subjetividade para tecer as observações científicas, e em qualquer área do conhe- cimentoé assim. A sua história, a sua cultura, as suas relações sociais, a sua formação, tudo isso interfere em seu ponto de vista, que é único, e não universal. Consequentemente, indifere se o texto for produzido em primeira ou terceira pessoa, devido a sua raridade, o texto cien- tífico em primeira pessoa é vítima de muita resistência no meio acadêmico. Evidentemente, quanto mais as suas impressões pessoais e a sua participação como observador virarem ob- jeto de pesquisa, maiores as chances do texto em primeira pessoa ser acolhido pela banca. Do contrário, para se incomodar menos, escolha escrever em terceira pessoa, mas saiba que você tem o direito de decidir. GÊNEROS TEXTUAIS Retomando o plano de ensino de Comunicação, nosso objetivo é “produzir textos de di- ferentes gêneros textuais orais e escritos, condizentes com o ambiente acadêmico e empresa- rial”. O critério “condizentes com o ambiente acadêmico e empresarial” é providencial para que foquemos em alguns dos muitos gêneros textuais existentes. Selecionamos, neste caso, seis gêneros, sendo três mais ligados ao mundo acadêmico e outros três ao contexto empre- sarial. A crônica, o artigo de opinião e a resenha crítica se enquadram no primeiro grupo, en- quanto o e-mail, a carta comercial e o memorando, no segundo. É interessante pensar, como ponto de partida para a abordagem desse tópico, que não se produz um texto sem respeitar um determinado formato. Na carta comercial, por exemplo, é obrigatório que o remetente a assine. Por outro lado, no e-mail não há essa exigência. A crô- nica é um texto primordialmente narrativo, enquanto o teor do artigo de opinião e da resenha crítica é dissertativo-argumentativo. Os gêneros textuais nascem por obra de suas especifi- cidades. Se elas não existissem, os textos não seriam categorizados. O e-mail, para citar mais um exemplo, é um gênero novo. Ele surgiu devido à possibilidade do envio de correspondên- cias eletrônicas pela Internet, algo que o ser humano inventou há poucas décadas. As primei- ras crônicas, em compensação, são milenares. Vamos conhecer os aspectos que caracterizam cada gênero textual? O ARTIGO DE OPINIÃO Não foi por acaso que escolhemos o artigo de opinião para abrir essa exposição sobre os gêneros textuais. Talvez seja o gênero com o qual você tenha mais familiaridade, consideran- do-se sua trajetória como estudante. Nos ensinos fundamental e médio, certamente solicita- ram que você escrevesse redações para testar seus conhecimentos gerais e, principalmente, se sabia defender uma ideia de forma convincente. Do contrário, não faria sentido as univer- sidades lançarem mão das redações nos vestibulares para averiguar a competência dos can- 24COMUNICAÇÃO SUMÁRIO didatos. E não se trata de iniciativa particular das universidades, não! O que dizer do ENEM, que é para muitas Instituições de Ensino Superior a grande referência para definir quem in- gressará nas faculdades? E do ENADE, que é o exame que avalia a qualidade de ensino dessas instituições? Esses exemplos não foram suficientes? Qual a sua atitude caso seja um profis- sional capaz de reunir uma série de predicados e acredita ter direito a um aumento salarial ou a uma promoção? Por vergonha e incapacidade de argumentar, não conversará com o chefe, preferindo ficar resmungando a vida toda? Como você se valorizará? Somos desafiados a argumentar não apenas no meio acadêmico, mas no dia a dia. Um artigo de opinião tem estrutura semelhante à de uma redação em vestibular, com introdução, desenvolvimento e conclusão. Bom, isso você já está careca de tanto saber! Vamos analisar um exemplo de artigo de opinião com base numa redação. A UFRGS definiu como tema de redação do vestibular de 1995 “Dificuldades de comunicação e estratégias para superá-las”. Leia na íntegra o seguinte texto do Prof. Paulo Simões: UMA CONVERSA COMPLICADA... MAS NÃO MUITO O jovem de classe média e razoável escolarização comunica-se com bastante naturalidade na linguagem coloquial. No entanto, há situações em que as palavras parecem sumir do seu dicionário mental. A propósito, lembro um fato que ocorreu quando eu tinha quinze anos e morria de amores por uma colega de turma. Flertávamos na sala de aula e no recreio. Chegou, então, o dia do Baile da Pri- mavera, uma festa tradicional da escola onde estudávamos. Era preciso formalizar o namoro. A ideia de vê-la dançar agarradinha com os colegas me martirizava. Mas... o que dizer? Convidá-la para ir ao baile comigo era impraticável: eu não tinha automóvel nem idade para dirigir. Levá-la de ônibus com vestido de festa era muito desajeitado. Perguntar-lhe simplesmente se queria ser minha namo- rada parecia tão sem graça. Isso para não falar na timidez e no medo insuperável de ouvir um não. A situação parecia complicada. Em momentos assim, o melhor era pedir ajuda. Afinal, os amigos existem para as ocasiões di- fíceis. Eu era muito estudioso e prestativo. Na hora das provas, muitas amigas da minha princesa me pediam ajuda. Seria muito fácil para qualquer uma delas avaliar a minha cotação e as minhas chan- ces. Recado vai, recado vem, fiquei feliz: o terreno era favorável. Mas, se por um lado desaparecia o medo de um insucesso, por outro lado o problema da comunicação ficava o mesmo. O que dizer? O que propor? Resolvi apelar para o humor. No final do recreio, passei por ela e perguntei: “-Luciana, boneca dança?”. Ela sorriu e não precisou responder. O sorriso dizia tudo. Ali estava uma boneca que dançaria comigo. E dançou. Todo o baile. Aprendi que não é tão difícil encontrar as palavras adequadas, como supunham alguns poetas. Basta um pouquinho de bom humor. Ah, sim, e de coragem também. Agora vamos examinar cada parte do texto. A introdução é esta: O jovem de classe média e razoável escolarização comunica-se com bastante naturalidade na lin- guagem coloquial. No entanto, há situações em que as palavras parecem sumir do seu dicionário mental. 25COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Você percebe que o autor está fazendo uma afirmação? Sim, ele está defendendo que a linguagem coloquial é usada naturalmente pelo jovem de classe média que completou ou está cursando o ensino médio. Existem situações, contudo, em que essa naturalidade se esvai, pois faltam as palavras corretas para enfrentá-las da melhor forma possível. Essa afirmação é o que chamamos de tese. A tese é uma proposição, ou seja, uma ideia proposta pelo autor. De agora em diante, ele sempre deverá sustentar esse ponto de vista para não cair em contradi- ção. Ele precisará de argumentos que reforcem a tese. Esses argumentos devem aparecer no desenvolvimento do texto: A propósito, lembro um fato que ocorreu quando eu tinha quinze anos e morria de amores por uma colega de turma. Flertávamos na sala de aula e no recreio. Chegou, então, o dia do Baile da Pri- mavera, uma festa tradicional da escola onde estudávamos. Era preciso formalizar o namoro. A ideia de vê-la dançar agarradinha com os colegas me martirizava. Mas... o que dizer? Convidá-la para ir ao baile comigo era impraticável: eu não tinha automóvel nem idade para dirigir. Levá-la de ônibus com vestido de festa era muito desajeitado. Perguntar-lhe simplesmente se queria ser minha namo- rada parecia tão sem graça. Isso para não falar na timidez e no medo insuperável de ouvir um não. A situação parecia complicada. Em momentos assim, o melhor era pedir ajuda. Afinal, os amigos existem para as ocasiões difíceis. Eu era muito estudioso e prestativo. Na hora das provas, muitas amigas da minha princesa me pediam ajuda. Seria muito fácil para qualquer uma delas avaliar a minha cotação e as minhas chances. Recado vai, recado vem, fiquei feliz: o terreno era favorável. Mas, se por um lado desapare- cia o medo de um insucesso, por outro lado o problema da comunicação ficava o mesmo. O que dizer? O que propor? Resolvi apelar para o humor. No final do recreio, passei por ela e perguntei: “-Luciana,boneca dança?”. Ela sorriu e não precisou responder. O sorriso dizia tudo. Ali estava uma boneca que dançaria comigo. E dançou. Todo o baile. Muito bem, o autor utilizou o argumento pelo exemplo. Contou uma história pessoal. Queria namorar uma colega da turma, por quem era apaixonado. E aí? Como conquistá-la? Dá pra se comunicar com naturalidade numa situação dessas? A tese que ele apresentou, portan- to, é pertinente. De repente, surgiu uma oportunidade: o Baile da Primavera. Estava consta- tada uma dificuldade de comunicação. O baile ensejava o uso de estratégias para superá-la. O rapaz consultou as colegas mais próximas da moça e depois apelou para o humor. Essas foram as suas estratégias bem-sucedidas. Não há número fixo ou pré-determinado de parágrafos em que a opinião do articulista é exposta no desenvolvimento. Quanto mais argumentos forem utilizados, mais parágrafos serão necessários. Conclusão: Aprendi que não é tão difícil encontrar as palavras adequadas, como supunham alguns poetas. Basta um pouquinho de bom humor. Ah, sim, e de coragem também. Na conclusão, sintetiza-se o que foi argumentado, trazendo a reflexão sobre as ideias anteriormente descritas. 26COMUNICAÇÃO SUMÁRIO A CRÔNICA “Khrónos” em grego quer dizer tempo. A palavra “crônica”, portanto, é a descrição de fatos em um determinado tempo. Pode haver ou não personagens no relato. A narração geral- mente se volta para o cotidiano das pessoas, muitas vezes apontando aspectos corriqueiros, repetitivos, mas que precisam ser observados através de uma ótica inauguradora, ou seja, diferente do óbvio. Para isso, pode-se fazer uso da ironia, do humor. Ela tanto pode valorizar o caráter narrativo, como o opinativo. Seu objetivo é muitas vezes colocar em evidência uma realidade social, cultural ou política. Neste texto, predominam comumente as impressões do cronista sobre experiências que vivenciou. Leia na íntegra a crônica a seguir, de autoria de Martha Medeiros: O MULHERÃO Peça para um homem descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar do tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas,bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira,1,80m,siliconada,sorriso colgate. Mulherões, dentro deste conceito, não existem muitas: Vera Fischer, Leticia Spiller, Malu Mader, Adriane Galisteu, Lumas e Brunas. Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma a cada esquina. Mulherão é aquela que pega dois ônibus por dia para ir ao trabalho e mais dois para voltar, e quando chega em casa encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome. Mulherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir matricula na escola e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão de 100 reais. Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda à sexta, e uma família todos os dias da semana. Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento. Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista. Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva os filhos para a natação, busca os filhos na natação, leva os filhos para a cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz. Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite. Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa pra fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão. Mulherão é quem cria filhos sozinha, quem dá expe- diente de oito horas e enfrenta menopausa, TPM, menstruação. Mulherão é quem arruma os armá- rios, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios. Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio pra azia. LUMAS, BRUNAS, CARLAS, LUANAS E SHEILAS: Mulheres nota dez no quesito lindas de morrer, mas MULHERÃO É QUEM MATA UM LEÃO POR DIA. 27COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Como foi mencionado, na crônica “O mulherão”, a narração “se volta para o cotidiano das pessoas, muitas vezes apontando aspectos corriqueiros, repetitivos, mas que precisam ser observados através de uma ótica inauguradora, ou seja, diferente do óbvio”. O que signi- fica “mulherão” na visão de um homem? Invariavelmente, a mulher que se destaca por seus atributos físicos, por ser dona de uma beleza escultural. E o que significa “mulherão” na visão de uma mulher? Opa, isso é inédito. O que será? Pois a crônica é um excelente gênero textual para suscitar a reflexão sobre esse tema. Lendo o texto de Martha Medeiros, conclui-se que todas elas são mulherões. Elas podem até não ser modelos, mas se maquiam, trabalham, cui- dam dos filhos sozinhas em muitos casos, enfrentam menopausa, TPM, menstruação, enfim, matam um leão por dia. A crônica foi importante para Martha Medeiros fazer uma justa defe- sa pela valorização das mulheres. Leia a crônica “As dores da vitória”, de autoria do Prof. Dr. Tiago Pellizzaro, em http:// www.apesc.net.br/historia_doresdavitoria.html. Neste texto, diferentemente do conteúdo de “O mulherão”, a narração ficará mais evidente. A RESENHA CRÍTICA Para escrever uma resenha com boa qualidade, existem aspectos que não podem ser es- quecidos: • o título da resenha; • o nome de quem escreveu a resenha; • a referência bibliográfica da obra; • alguns dados biográficos do autor da obra resenhada; • o resumo, ou síntese do conteúdo da obra; • a avaliação crítica de quem escreve a resenha. Todo texto possui um título. Com a resenha, não é diferente. Escolha, portanto, um tí- tulo para sua resenha. Abaixo do título, deve vir o nome do autor da resenha. Pode-se iniciar o texto: 1. com a indicação da referência bibliográfica da obra e em seguida um primeiro comentá- rio sobre o livro; 2. com uma breve apresentação da biografia de quem escreveu o livro; 3. com uma introdução do tema antes de começar a falar do livro. 28COMUNICAÇÃO SUMÁRIO No desenvolvimento, você deve sintetizar os conteúdos do livro, selecionando somente os aspectos mais importantes para serem comentados na resenha. Uma forma de fazer isso é destinar para cada capítulo do livro um parágrafo, isso se forem poucos os capítulos. Exem- plo: No capítulo 2, o autor comenta... No capítulo 3, o enfoque é ... No capítulo 4, há uma ... No capítulo final, é feita ... Caso sejam muitos os capítulos da obra, os parágrafos da resenha podem se referir às partes em que o livro foi dividido. Exemplo: Na primeira parte, o autor trata ... Na segunda parte, o assunto ... Na parte final, ocorre ... Se não houver poucos capítulos ou partes dividindo a obra, estabeleça você mesmo um critério para separar os conteúdos, observando quando há mudanças na abordagem e defi- nindo, dessa forma, como será o desenvolvimento do texto em três ou quatro parágrafos. Por se tratar de um texto crítico, opine sobre a abordagem do autor, ressalte os deta- lhes que, na sua visão, são positivos na obra, e tente identificar defeitos que ela possa conter. Analise a linguagem, o tamanho do texto, o modo como o autor tenta envolver o leitor, o que há de novidade no que é descrito, quais polêmicas ou esclarecimentos são alimentados, quais reflexões o livro suscita, etc. Na conclusão, reforce os pontos comentados anteriormente ou faça um alerta sobre o que a obra queria apresentar. Um parágrafo é suficiente. A resenha não é um resumo, mas também não é de elaboração extensa. Um tamanho razoável parasua composição seria entre uma página e meia e três páginas. A seguir, temos três exemplos extremamente úteis sobre a construção de resenhas: o primeiro, pelos comen- tários referentes a um romance; o segundo, por avaliar uma biografia; o terceiro, por inter- pretar a importância de um texto científico. 29COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Atwood se perde em panfleto feminista Atwood se perde em panfleto feminista Marilene Felinto Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famo- sa por sua literatura de tom feminista. No Brasil, é mais co- nhecida pelo romance “A mulher Comestível” (Ed. Globo). Já publicou 25 livros entre poesia, prosa e não-ficção. “A Noiva Ladra” é seu oitavo romance. O livro começa com uma página inteira de agradecimen- tos, procedimento normal em teses acadêmicas, mas não em romances. Lembra também aqueles discursos que autores de cinema fazem depois de receber o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre guerra, que consultou para construir o “pano de fundo” de seu texto, até a uma parente, Lenore Atwood, de quem tomou emprestada a (original? significati- va?) expressão “meleca cerebral”. Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, co- meçam as quase 500 páginas que poderiam, sem qualquer problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor bocejante. É a história de três amigas, Tony, Roz e Cha- ris, cinquentonas que vivem infernizadas pela presença (em “flashback”) de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupu- losa “femme fatale” que vive roubando os homens das outras. Vilã meio inverossímel - ao contrário das demais perso- nagens, construídas com certa solidez -, a antogonista Zenia não se sustenta, sua maldade não convence, sua história não emociona. A narrativa desmorona, portanto, a partir desse defeito central. Zenia funcionaria como superego das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas não conseguiram, reflexo de seus questionamentos internos - eis a leitura mais profunda que se pode fazer desse romance nada surpreen- dente e muito óbvio no seu propósito. Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma personagem mulher “fora-da-lei”, porque “há poucas personagens mulheres fora-da-lei”. As interven- ções do discurso feminista são claras, panfletárias, disfar- çadas de ironia e humor capengas. A personagem Tony, por exemplo, tem nome de homem (é apelido para Antônia) e é professora de história, especialista em guerras e obcecada por elas, assunto de homens: “Historiadores homens acham que ela está invadindo o território deles, e deveria deixar as lan- ças, flechas, catapultas, fuzis, aviões e bombas em paz”. Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam apenas ingênuas: “Há só uma coi- sa que eu gostaria que você lembrasse. Sabe essa química que afeta as mulheres quando estão com TPM? Bem, os homens têm essa química o tempo todo”. Ou então, a mensagem ra- biscada na parede do banheiro: “Herstory Not History”, tro- cadilho que indicaria o machismo explícito na palavra “His- tória”, porque em inglês a palavra pode ser desmembrada em duas outras, “his” (dele) e story (estória). A sugestão contida no trocadilho é a de que se altere o “his” para “her” (dela). As histórias individuais de cada personagem são o cos- tumeiro amontoado de fatos cotidianos, almoços, jantares, trabalho, casamento e muita “reflexão feminina” sobre a in- fância, o amor, etc. Tudo isso narrado da forma mais acha- tada possível, sem maiores sobressaltos, a não ser talvez na descrição do interesse da personagem Tony pelas guerras. Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fun- do histórico, sem pé nem cabeça, no meio do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora - em tom cerimonioso na página de agradecimentos - se orgulha de ter realizado. 30COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Estadista de mitra Na melhor bibliografia de João Paulo II até agora, o jornalista Tad Szulc dá ênfase à atu- ação política do papa. Ivan Ângelo Como será visto na História esse contraditório papa João Paulo II, o único não-italiano nos últimos 456 anos? Um conservador ou um progressista? Bom ou mau pastor do imenso rebanho católico? Sobre um ponto não há dúvida: é um hábil articulador da política inter- nacional. Não resolveu as questões pastorais mais angustiantes da Igreja Católica em nosso tempo - a perda de fiéis, a progressiva falta de sacerdotes, a forma de pôr em prática a op- ção da igreja pelos pobres -; tornou mais dramáticos os conflitos teológicos com os padres e os fiéis por suas posições inflexíveis sobre o sacerdócio da mulher, o planejamento familiar, o aborto, o sexo seguro, a doutrina social, especialmente a Teologia da Libertação, mas por outro lado, foi uma das figuras-chave na desarticulação do socialismo no Leste Europeu, nos anos 80, a partir da sua atuação na crise da Polônia. É uma voz poderosa contra o racismo, a intolerância, o consumismo e todas as formas autodestrutivas da cultura moderna. Isso fará dele um grande papa? O livro do jornalista polonês Tad Szulc João Paulo II - Bibliografia (tradução de Anto- nio Nogueira Machado, Jamari França e Silvia de Souza Costa; Francisco Alves; 472 páginas; 34 reais) toca em todos esses aspectos com profissionalismo e competência. O autor, um ex- -correspondente internacional e redator do The New York Times, viajou com o papa, comeu com ele no Vaticano, entrevistou mais de uma centena de pessoas, levou dois anos para es- crever esse catatau em uma máquina manual portátil, datilografando com dois dedos. O livro, bastante atual, acompanha a carreira (não propriamente a vida) do personagem até o fim de janeiro de 1995, ano em que foi publicado. É um livro de correspondente internacional, com o viés da política internacional. Szulc não é literariamente refinado como seus colegas Gay Talese ou Tom Wolfe, usa com frequência aqueles ganchos e frases de efeito que adornam o estilo jornalístico, porém, persegue seu objetivo como um míssil e atinge o alvo. Em meio à política, pode-se vislumbrar o homem Karol Wojtyla, teimoso, autoritário, absolutista de discurso democrático, alguém que acha que tem uma missão e não quer divi- di-la, que é contra o “moderno” na moral, que prefere perder a transigir, mas é gentil, calo- roso, fraterno, alegre, franco ... Szulc, entretanto, só faz o esboço, não pinta o retrato. Temos, que aceitar a sua opinião: “É difícil não gostar dele”. Opus Dei - O livro começa descrevendo a personalidade de João Paulo II, faz um bom resumo da História da Polônia e sua opção pelo Ocidente e pela Igreja Católica Romana (em vez da Ortodoxa Grega, que dominava os vizinhos do Leste), fala da relação mística de Wojtyla com o sofrimento, descreve sua brilhante carreira intelectual e religiosa, volta à sua infância, aos seus tempos de goleiro no time do ginásio “um mau goleiro”, dirá mais tarde um amigo), localiza aí sua simpatia pelos judeus, conta que ele decidiu ser padre em meio ao sofrimen- to pela morte do pai, destaca a complacência de Pio XII com o nazismo, a ajuda à Opus Dei (a quem depois João Paulo II daria todo o apoio), demora-se demais nos meandros da política 31COMUNICAÇÃO SUMÁRIO do bispo e cardeal Wojtyla, cresce jornalisticamente no capítulo sobre a eleição desse primei- ro papa polonês, mostra como ele reorganizou a Igreja, discute suas posições conservadoras sobre a Teologia da Libertação e as comunidades eclesiais de base, CEBs, na América latina, descreve sua decisiva atuação na política do Leste Europeu, a derrocada do comunismo, e ter- mina com sua luta atual contra o demônio pós-comunista. Agora, o demônio, o perigo mortal para a humanidade, é o capitalismo selvagem e o “imperialismo contraceptivo” dos EUA e da ONU. Szulc, o escritor-míssil, não se desvia do seu alvo nem quando vê um assunto saboroso como a Cúria do Vaticano, que diz estar cheia de puxa-sacos e fofoqueiroscom computado- res, nos quais contabilizam trocas de favores, agrados, faltas e rumores. O sutil jornalista Gay Talese não perderia um prato desses. Entretanto, Szulc está sempre atento às ações políticas do papa. Nota que, João Pau- lo II elevou a Opus Dei à prelatura pessoal enquanto expurgou a Companhia de Jesus por seu apoio à Teologia da Libertação; ajudou a Opus Dei a se estabelecer na Polônia, beatificou ra- pidamente seu criador, monsenhor Escrivã. Como um militar brasileiro dos anos 60, cassou o direito de ensinar dos padres Küng, Pohier e Curran, silenciou os teólogos Schillebeeckx (belga), Boff (brasileiro), Häring (alemão) e Gutiérrez (peruano), reduziu o espaço pastoral de dom Arns (brasileiro). Em contrapartida, apoiou decididamente o sindicato clandestino polonês, a Solidariedade. Fez dobradinha com o general dirigente polonês Jaruzelski contra Brejnev, abrindo o primeiro país socialista, que abriu o resto. O próprio Gorbachev reconhe- ce: “Tudo o que aconteceu no Leste Europeu nesses últimos anos teria sido impossível sem a presença deste papa”. Talvez seja assim também com relação ao que acontece com as religiões cristãs no nosso continente. Tad Szulc, com cautela, alerta para a penetração, na América Latina, dos evangé- licos e pentecostais, que o próprio Vaticano chama de “seitas arrebatadoras”. A participação comunitária e o autogoverno religioso que existia nas CEBs motivavam mais a população. Talvez seja. Acrescentando-se a isso o lado litúrgico dos evangélicos que satisfaz o desejo dos fiéis de serem atores no drama místico, não tanto espectadores, tem-se uma tese. O perfil desenhado por Szulc é o de um político profundamente religioso. Um homem que reza sete horas por dia, com os olhos firmemente fechados, devoto de Nossa Senhora de Fátima e do mártir polonês São Estanislau e que acredita no martírio e na dor pessoais para alcançar a graça. Um gramático contra a gramática Gilberto Scarton Língua e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino (L&PM, 1995, 112 páginas) do gramático Celso Pedro Luft traz um conjunto de idéias que subverte a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veemente, o ensino da gra- mática em sala de aula. Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla - uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramatica- 32COMUNICAÇÃO SUMÁRIO lista, inutilidade do ensino da teoria gramatical, o esquecimento a que se relega a prática lin- guística, a postura prescritiva, purista e alienada - tão comum nas “aulas de português”. O velho pesquisador, apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística e professor de longa experiência, leva o leitor a discernir com rigor gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicio- nal e linguística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramáticos, dos linguistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do ir- relevante. Essa fundamentação linguística de que lança mão - traduzida de forma simples com fim de difundir assunto tão especializado para o público em geral - sustenta a tese do Mestre, e o leitor facilmente se convence de que aprender uma língua não é tão complicado como faz ver o ensino gramaticalista tradicional. É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser huma- no; um processo espontâneo, automático, natural, inevitável, como crescer. Consciente desse poder intrínseco, dessa propensão inata pela linguagem, liberto de preconceitos e do arti- ficialismo do ensino definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno poderá ter a palavra, para desenvolver seu espírito crítico e para falar por si. Embora Língua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto pareça ser para o grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos teóricos ao longo da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente fundamentação que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores - vítimas do ensino tradicional - e os professores de português - teóricos, gramatiqueiros, puristas - têm ao se depararem com uma obra de um autor de gramáticas que escreve contra a gramática na sala de aula. O E-MAIL O e-mail é provavelmente a produção textual mais comum para a grande maioria das pessoas que vive em países cujo acesso à Internet é ágil e bem disseminado. O Brasil não foge a essa regra. Na vida pessoal e profissional, torna-se constante o envio e recebimento de e-mails. Mas será que esse recurso pode ser usado da mesma maneira para as duas situações? Claudia Capello e Mary Murashima (2015) esclarecem que “o endereço de e-mail de trabalho é para o trabalho. Mensagens de corrente, piadas, transações comerciais particulares, slides com mensagens poéticas – tudo isso é para o e-mail pessoal!”. Além desses cuidados, conforme as autoras, o uso corporativo do e-mail também deve seguir algumas diretrizes: • seja objetivo na transmissão da mensagem, pois seu destinatário poderá ter dezenas de e-mails para ler todos os dias; • comece escrevendo sobre o assunto mais importante; • utilize um tom minimamente formal para se comunicar com os colegas de trabalho. À medida que for crescendo a hierarquia do profissional destinatário aumente a formali- dade no texto; 33COMUNICAÇÃO SUMÁRIO • nunca deixe de informar o assunto, o e-mail já estará antecipando seu objetivo junto ao leitor; • use a palavra urgente somente em casos de real necessidade; • letras maiúsculas denotam agressividade, evite-as ao máximo; • jamais se deve abusar dos emoticons, seja comedido em seu aproveitamento; • somente envie mensagem com cópia às pessoas que têm relação com o assunto trata- do. Deixe de atualizá-las à medida que forem perdendo o envolvimento com a questão abordada; • caso você tenha muitos itens a comentar no e-mail, distribua-os em tópicos, pois essa medida é benéfica ao leitor; • mantenha um teor amistoso e respeitoso, já que a mensagem fica registrada. Vejamos um exemplo que observa essas instruções: O texto do gestor fictício ficou sucinto e, por isso, mais claro ao destinatário. Assim, a estrutura do e-mail contém, pela ordem: • assunto; • saudação inicial; • mensagem; • fechamento; • dados do remetente. Assunto: Marketing na XV Festa Junina do Colégio Atlas Bom dia, Carlos! Nossa empresa vai participar da XV Festa Junina do Colégio Atlas. A direção da escola nos autorizou a afixar banners no ginásio em que ocorrerá o evento, neste sábado, dia 25 de junho, das 9h às 18h. Solicito que faça uma visita ainda nesta semana ao colégio e verifique as instalações do ginásio para que possamos organizar nossos preparativos. Assim que retornares com as novidades agendaremos uma reunião. Atenciosamente, João Paulo Farias Diretor de Marketing Imprecolor LTDA Fone: (54) 3215-3619 34COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Carta comercial Carta comercial é um meio de que as empresas se utilizam para se comunicar por escrito. As cartas comerciais tratam especialmente de negócios. Porém, uma gama bastante variada de outros assuntos pode ser abordada por correspondências com o formato de carta comer- cial. Assim, existem cartas de cumprimentos, pêsames, emprego, apresentação, recomenda- ção, informações, propaganda, carta-convite, etc. Toda carta deve levar em conta as formas de tratamento, que são empregadas de acordo com as funções desempenhadas pelos destinatários. Vejamos as principais: 1. Vossa Excelência (V. Exª ou V. Exa) No vocativo: Excelentíssimo Senhor. É empregada para as seguintes autoridades, segundo as normas da Secretaria-Geral da Presidência da República: Também se utiliza a forma Meritíssimo Juiz (M. Juiz) para Juízes deDireito. Poder Função Executivo - Presidente da República; - Vice-Presidente da República; - Ministros de Estado (de todos os Ministérios, Chefe da Casa Civil, Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Chefe da Secretaria- Geral da Presidência, Advogado-Geral da União, Chefe da Corregedoria-Geral da União); - Secretários-Executivos dos Ministérios; - Oficiais-Generais das Forças Armadas; - Embaixadores; - Governadores e Vice-Governadores; - Secretários de Estado dos Governos Estaduais; - Prefeitos Municipais. Legislativo - Senadores; - Deputados Federais; - Deputados Estaduais; - Ministros e Conselheiros dos Tribunais de Contas; - Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais. Judiciário - Juízes e Promotores de Justiça; - Ministros, Auditores e membros de qualquer tribunal. 35COMUNICAÇÃO SUMÁRIO 2. Tratamentos religiosos a. Vossa Santidade (V. S.) e Sua Santidade (S. S.) No vocativo: Santo Padre Aplica-se exclusivamente ao Papa. b. Vossa Eminência (V. Emª ou V. Ema.) No vocativo: Eminentíssimo Senhor Cardeal (Arcebispo ou Bispo) Aplica-se apenas aos cardeais, arcebispos e bispos. c. Vossa Reverendíssima (V. Revmª ou V. Revma.) No vocativo: Reverendíssimo Senhor Monsenhor (Cônego, Padre). Reservado para sacerdotes em geral. 3. Vossa Magnificência (V. Magª ou V. Maga.) No vocativo: Magnífico Reitor. Modernamente, usa-se também a forma Vossa Excelência, inclusive para o Vice-Reitor. 4. Vossa Majestade (V. M.) No vocativo: Majestade Para reis e imperadores. 5. Vossa Alteza (V. A.) No vocativo: Sereníssimo Príncipe (Arquiduque, Duque) Para príncipes, arquiduques e duques. 6. Vossa Senhoria (V. Sª ou V. Sa.) No vocativo: Ilustríssimo Senhor É a forma de tratamento utilizada para se referir a qualquer pessoa, mesmo que não se trate de autoridade. 36COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Vejamos agora as partes da carta comercial: 1. Timbre: contém os elementos de identificação e localização da empresa. É incluído no rodapé da página, com nome e logomarca da empresa, com endereço, telefone, e-mail e outros dados geralmente aparecendo no rodapé da página. 2. Local e data: em correspondência externa, o mais comum é a descrição desses dados com o nome do mês por extenso. Exemplo: Fortaleza, 5 de maio de 2011. 3. Endereçamento: compõe-se dos dados do destinatário. De modo geral, são usados dois modelos de endereçamento no texto: completo e abreviado. 4. Epígrafe: serve para sintetizar o assunto da carta. Localiza-se entre o endereçamento e o vocativo. Exemplo: Prorrogação de débito. 5. Vocativo: É a saudação inicial dirigida ao destinatário. Antecede imediatamente o texto. Deve-se optar pela indicação direta do destinatário, chamando o recebedor da carta pelo próprio nome. Não sendo isso possível, invoca-se o cargo ou função do destinatário. Exemplos: Senhor(a) Ge- rente, Senhor(a) Diretor(a), Senhor(a) Presidente, Senhor(a) Chefe. Em caso de maior intimi- dade e cordialidade, usar o adjetivo Caro. Exemplos: Caro, Josué! Caro, coordenador! 6. Texto: é o coração da correspondência. O normal é iniciar o texto já tratando do assunto. Vejamos formas adequadas e inadequadas de começar o texto: Dependendo da extensão do assunto, pode ficar resumido a apenas um parágrafo. Se houver mais de um assunto, é interessante estruturá-los em tópicos para facilitar a leitura. Para conclusão do texto, é possível escrever um parágrafo de agradecimento ou para reforçar providências, mas quando for o caso. Quando não for, o encerramento deve ser sucinto. Veja- mos formas adequadas e inadequadas de encerramento do texto a carta comercial. Completo Abreviado Metalúrgica Serrana Rua Presidente Vargas, 2030 Flores da Cunha – RS CEP 96.900-220 Metalúrgica Serrana Flores da Cunha – RS Adequado Inadequado Solicitamos que Tem a presente finalidade de solicitar que Informamos que Queremos informar por meio desta que Comunicamos que Viemos comunicar que Estamos enviando É por este meio que lhe fazemos chegar às mãos Recebemos Acusamos o recebimento de Pedimos desculpas Estamos fazendo chegar ao prezado amigo nosso pedido de desculpas Adequado Inadequado Atenciosamente, Sendo o que tínhamos para o momento... Cordialmente, Nada mais tendo para acrescentar... Com apreço, Formulamos votos de elevada estima e distinta consideração. Saudações. Com estima e apreço, subscrevemo-nos. Antecipamos agradecimentos. Com os nossos sinceros votos de consideração e respeito, firmamo-nos... Aguardamos para breve sua resposta. Colhemos o ensejo para reafirmar nossos protestos de estima e apreço. Agradecemos suas providências. Temos certeza da compreensão de Vossa Senhoria. Podem contar com a nossa colaboração. 37COMUNICAÇÃO SUMÁRIO 7. Assinatura: todo documento, para ser válido, precisa ser assinado. A assinatura deve ser acompanhada do nome legível (digitado) e do cargo ou função de quem assina. Não se traça linha sobre a qual deveria ser aposta a assinatura. Evita-se antepor título ao nome do signatário, como por exemplo, Doutor e Coronel. Se duas pessoas assinam o docu- mento, em posição horizontal, cabe a posição esquerda ao superior. No caso das assi- naturas dispostas verticalmente, assina antes a pessoa de cargo superior. 8. Anexos: se houver, deve-se fazer a referência no corpo do texto. Exemplo: Os dados po- dem ser conferidos no relatório em anexo. Seguem exemplos de carta comercial: LOJAS BRASIL São Miguel do Norte, 4 de outubro de 2012. Atacadista FX Rua Tomé, 1212 Novo Hamburgo (RS) Demora nas entregas Senhor Gerente: Como bem sabe V. Sa., a rapidez é uma característica do nosso tempo. Nos negócios também. Infelizmente não é o que está acontecendo com as suas remessas de mercadorias. Precisamos encurtar o tempo entre o fechamento dos pedidos e a entrega dos produtos. Conhecendo suas ligações com a Trans-Mérito, sugerimos que discuta o assunto com essa transportadora, em busca de solução rápida do problema. Contamos com sua compreensão e providências. Atenciosamente, Denílson F. Oliveira Gerente-Geral LOJA BRASIL LTDA – Rua Cataventos, 12 – São Miguel do Norte (PE) CEP 80.020-100 – Fone (81) 3212-1234 – lbrasil@zen.com.br MODELOS SIMPLIFICADOS (SOMENTE COM TEXTOS) Carta de congratulações Prezados senhores: Foi sem surpresa que recebemos a notícia de que essa empresa obteve 38COMUNICAÇÃO SUMÁRIO MEMORANDO Como vimos, a carta comercial é um documento que possibilita a prática da comunica- ção externa, envolvendo empresas e pessoas. Já o memorando é útil para a oficialização da comunicação interna, ou seja, entre funcionários que atuam na mesma organização. São ele- mentos do memorando, pela ordem em que aparecem: • timbre da empresa; • numeração por ano; • destinatário; • remetente; • data; • assunto; • mensagem; • fechamento; e • assinatura. Vamos conferir um exemplo da produção de um memorando: a distinção “Destaque Comercial” do ano. A garra da sua equipe de vendas resultou merecidamente premiada. A leal concorrência estimula o crescimento de todos. Recebam nosso abraço de cumprimentos. Cordialmente, ................................... Carta de pêsames Caros amigos: Foi com imensa tristeza que recebemos a notícia do falecimento do Gerente de Vendas dessa empresa. Sentiremos muito sua falta. Manifestamos nossa solidariedade, extensiva à família. Com muito pesar, ......................................... 39COMUNICAÇÃO SUMÁRIO CASAS ELKA Memorando nº 34/2016 Para: Departamento de Marketing De: Departamento de Relações Públicas DATA: 12/03/2016 Assunto: Estágio A partir de 28 de março de 2016, o Sr. Eriberto Costa, novo assistente da Gerência de Relações Públicas, fará estágio no Departamento de Marketing durante duas semanas. Gostaríamos de contar com uma assistência pessoal para o Sr. Eriberto poder ter o máximo de aproveitamento e conhecimento de nossos produtos e clientes. Atenciosamente, TÚLIO CAMBERRA Gerentede Relações Públicas 40 OS NÍVEIS DE LEITURA E A INTERPRETAÇÃO A leitura é a ferramenta mais poderosa para que possamos melhorar a qualidade de nosso texto. 41COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Na Unidade 2, destacamos providências necessárias para a construção de um bom texto e apresentamos os principais gêneros textuais produzidos nos contextos acadêmico e em- presarial. É forçoso reconhecer, no entanto, que a leitura nos dará embasamento para conse- guirmos aprofundar a discussão num artigo de opinião, ela garantirá que nossa crônica seja narrada com riqueza de detalhes e reflexões mais densas, ela permitirá que escrevamos cartas comerciais, memorandos e e-mails seguindo fielmente a Norma Culta da Língua Portuguesa, de modo a não mais cometermos erros ortográficos, de concordância, de pontuação, entre outros. Na história humana, a leitura evoluiu e as formas de ler também mudaram. Até o século III, era praticada oralmente. Para você ter uma ideia, o apóstolo Paulo, autor de 14 livros bí- blicos, ditava as suas cartas aos povos que ia visitando. A dependência da audição era enorme para que se tentasse memorizar o conteúdo das obras. Além disso, poucas pessoas sabiam ler. Assim, havia grande necessidade que as palavras escritas fossem socializadas, o que era feito verbalmente. Também é importante lembrar que a imprensa não havia sido inventada naque- la época, dificultando sobremaneira a reprodução de exemplares. Santo Ambrósio foi o primeiro a experimentar a leitura silenciosa, essa que fazemos percorrendo as linhas de um livro com os nossos olhos. Com o advento da imprensa, os títulos e exemplares proliferaram. Da leitura intensiva, a única até então disponível às sociedades, um novo modo de ler foi sendo aos poucos desenvolvido: trata-se da leitura extensiva. Qual a diferença entre elas? A leitura intensiva consiste na contemplação de um mesmo texto duas, três, quatro, cinco, n vezes. A leitura extensiva, ao contrário, é a que nos leva à aquisição de saberes sobre as mais diversas áreas do conhecimento: geopolítica, gastronomia, Tecnolo- gias da Informação e Comunicação, antropologia, estética, medicina, farmacologia, Gestão de Projetos, etc. Deu uma salada boa, aqui, não é? A propósito, a qual devemos nos dedicar mais: à intensiva ou à extensiva, hein? Resposta óbvia: as duas. No caso da leitura intensiva, especialmente quando nos deparamos com textos técnicos, quase sempre repletos de jargões e de teorizações, a leitura é única. Se você lê um livro apenas uma vez, mais lacunas essa prá- tica deixará. Ao realizar a segunda leitura, ela será mais atenta às peculiaridades antes mal assimiladas. Não se espante se uma criança quiser assistir a um filme ou pedir a você para ler para ela a mesma história pela sétima vez. Ela está em processo de construção de sentido em relação ao enredo do filme ou do livro. Muitas vezes, temos que nos portar como crianças diante de um texto, relendo certos trechos quantas vezes forem necessárias para finalmente podermos decifrá-lo sem distorções. Já a leitura extensiva dispensa muitos comentários. Por que será que, no ENADE, nos concursos públicos e até mesmo nas seleções de vagas os “co- nhecimentos gerais” são testados? Porque as empresas preferem profissionais versáteis e que demostrem maior capacidade de adaptação às mudanças. Quanto mais aberta for a nossa mente a novos conhecimentos, mais competentes e completos seremos a fim de desempe- nhar nossas atividades. Então, só há uma sugestão a acolher: leia. Leia sem preconceito. Cla- ro, separe o joio do trigo. Diga não ao racismo, diga não ao estupro, diga não à violência contra a mulher, diga não ao que merece que se diga não. Leia aquilo que lhe interessa, que lhe faz bem, que lhe traga pensamentos positivos, que transforme sua vida para melhor. Nuno Cobra Ribeiro (2001) alerta que nosso cérebro é burro. São as emoções que o programam. Posso abrir a janela da minha casa e, ao ver o sol, logo depois de acordar, dizer “que dia maravi- lhoso, vou aproveitá-lo bastante!” ou então “que droga, detesto o calor, vou suar muito!”. O cérebro acreditará na forma como concebemos e observamos a vida. 42COMUNICAÇÃO SUMÁRIO A partir de agora será barbada a mudança pessoal, e inclusive a do mundo! Não é o que se está afirmando. A mudança sofre reveses, exige perseverança, demanda muito trabalho e de- dicação, mas guarde isto: nossa vida mudará somente depois de acreditarmos na possibilida- de da mudança. Então, leia o que lhe faz bem: romances, contos, crônicas, novelas, notícias, artigos científicos, textos religiosos, textos técnicos, biografias, livros de autoajuda. Leia por desejo, e não por obrigação. Reserve um tempo do seu dia ou da sua semana para esse encon- tro com você mesmo(a), pois, conforme Paul Ricoeur (1991), é o conhecimento de si próprio que se adquire quando se entra em contato com os textos. Por isso, leia e descubra-se! A NATUREZA DOS TEXTOS Antes de adentrarmos nos níveis de leitura, é importante termos em mente que todo texto provoca o estabelecimento de um pacto de leitura. Esse pacto diz respeito à expectati- va que alimentaremos em relação ao seu conteúdo. Um exemplo deixará claro esse raciocí- nio: supondo que no material que estamos lendo surja o seguinte fragmento: “por volta das onze da noite, um homem que aparentava ter uns 30 anos foi baleado na rua Santos Dumont, em Lajeado. Ele foi socorrido por populares e levado ao Hospital Bruno Born. Devido à agi- lidade do atendimento prestado, em princípio, não corre risco de morte. A cirurgia realizada na perna em que foi atingido sucedeu sem anormalidades. O responsável pelos disparos está foragido”. Agora, tudo dependerá do gênero desse texto. Se for uma notícia localizada num jornal, o que se espera dele? Ora, que todas as informações nele veiculadas sejam verdadeiras: que o homem baleado tenha idade aproximada de 30 anos, e não de 15 ou de 70; que ele tenha sobrevivido à tentativa de homicídio; que o paradeiro do atirador seja desconhecido. E se esse fragmento pertencesse a um conto ou romance, tomaríamos como verdadeiras tais afirma- ções? Não, porque toda obra ficcional não tem qualquer compromisso com a verdade. Não significa que seja mentirosa, nem que esteja refletindo à realidade. O que ela faz é simples- mente criar uma realidade, revestindo a trama de aparência real. Sabe aquela frase “a arte imita a vida e a vida imita a arte?”. Lembra o personagem Naziazeno, de Os ratos, de Dyonélio Machado (1996)? Estava perplexo porque precisava pagar o leiteiro. Se não saldasse a dívida nas próximas 24 horas, como se alimentaria? Naziazeno só existe no mundo da ficção, porém, ao criá-lo, Dyonélio Machado representou o drama enfrentado por um considerável núme- ro de pessoas. O oposto disso pode ser detectado quando flagramos crianças fantasiadas de Super-Homem ou Mulher-Maravilha. É como se elas tivessem adquirido poderes sobrena- turais, capazes até mesmo de salvar a humanidade das mais agourentas situações! A ficção é um “como se’”, já indicava Wolfgang Iser (1996). E o “como se” revela-se diametralmente antagônico ao que “é”. O seu mundo de possibilidades é infinito. A única certeza que carre- gamos é de que não escaparemos à morte. O homem é um ser mortal. Mas, no romance, “As intermitências da morte”, José Saramago ensaia como seria a vida humana sem a vigência da morte, e como ficariam as funerárias, as seguradoras e as relações familiares em que a heran- ça é extremamente disputada, entre outras especulações. O pacto de leitura norteia nosso modo de encarar um texto, que, por natureza, pode ser literário ou não-literário. O literário admite o “como se”, aceita ambiguidades, incentiva a polifonia através dos discursos proferidos por múltiplos personagens, concede maior liber- dade criativa, objetiva a fruição estética, mas também a tomada de consciência dos leitores para a realidade criada ficcionalmente.Por outro lado, o não-literário enfoca o que “é”, per- 43COMUNICAÇÃO SUMÁRIO segue a objetividade, e é mais rigoroso quanto às normas. Se neste momento você tem dificul- dade para recordar o significado de ambiguidade, pense no personagem Bentinho, protago- nista da obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Ele se casou com Capitu. Com ela, teve um filho, o Ezequiel. Bentinho olhava para Ezequiel e comentava: “é a cara do Escobar!”. Mas o melhor amigo de Bentinho seria capaz de aprontar uma dessas? Dois sentimentos resultam desse mistério: ou Capitu de fato cometeu adultério, o que em nenhum momento é apontado no romance machadiano, ou Bentinho não era capaz de vencer a paranoia que o acometera. A ambiguidade nada mais é que a persistência da dúvida diante das possibilidades lançadas à interpretação. Se você quiser conhecer outros exemplos de ambiguidade, não deixe de assistir ao vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Cbh4pfJwI3w. Leia, portanto, ciente de que as ambiguidades devem ser desfeitas e que as informações contidas num texto, dependendo de seu gênero, assumem ou não um compromisso com a verdade. NÍVEIS DE LEITURA Todo texto apresenta algum grau de dificuldade para o leitor decodificá-lo. Há con- teúdos bastante explícitos, com ideias claramente expostas, e outros que exigem um maior esforço interpretativo, no qual saber “ler nas entrelinhas” torna-se uma tarefa fundamen- tal. Assim, é importante observar, conforme Teixeira (2007) a presença de quatro níveis de leitura. O primeiro deles é a intelecção, que remete à correta tradução das palavras e frases. Quando lemos, às vezes esbarramos em termos incomuns, desconhecidos. Para que não haja distorções no sentido da frase em que eles aparecem, é importante procurar no dicionário a sua definição, bem como identificar seus sinônimos. Não basta, porém, fazer essa decifração literal das palavras e frases se o leitor não as compreende. Isso atende pelo nome de analfabetismo funcional, algo do qual muito se tem ouvido falar atualmente. Leitura é construção de sentido, é apropriação do texto por parte do leitor. Por isso, outros níveis devem ser satisfeitos para que a leitura ocorra de forma con- creta. Um teste para averiguar se a compreensão foi atingida é desafiar a própria memória. Sou capaz de reproduzir com as minhas palavras as informações lidas sem deturpar o texto original? É a pergunta que o leitor deve fazer a si mesmo. Caso a resposta seja positiva, para- béns! O texto que você elaborou constitui uma paráfrase. “Para” é um radical grego que indica “proximidade”. Parafraseada, portanto, é a citação próxima da original, que não a repete com as mesmas palavras, ou seja, literalmente, mas que também não a desvirtua. Você pode avançar pelo menos mais um nível, interpretando o texto. Vamos a um exem- plo. Considere esta frase: “em princípio, os bávaros não foram aceitos pela comunidade”. Podemos fazer algumas inferências em relação a ela. “Em princípio” quer indicar que depois houve mudança; “não foram aceitos” é uma forma de amenizar “foram rejeitados”; os báva- ros estão em destaque na frase, pois caso se dissesse “a comunidade não aceitou os bávaros”, o destaque iria para aquela que não aceitou esse povo. Quem seria? A comunidade. Por último, a extrapolação corresponde a ir além das ideias do texto, dialogando com outros textos e contextos, ou à falta de delimitação do campo da interpretação, o que prejudi- 44COMUNICAÇÃO SUMÁRIO ca a análise da mensagem. No primeiro caso, configura-se a extrapolação positiva, e, no segundo, a negativa. Pode- mos, no primeiro exemplo, lançar mão da intertextualidade para enriquecer nossa leitura. Os autores mais perspicazes se valem de textos-fonte para comprovarem sua erudição. Assim, quanto mais leituras fizerem parte da bagagem cul- tural do leitor, mais conexões ele poderá instituir em rela- ção a outros textos e contextos. Quer um exemplo encontrado nesta apostila! Não sei se você teve a oportunidade de ler Fogo morto, a obra-pri- ma de José Lins do Rego (1998). Um dos personagens é Luís César de Holanda Chacon, o Coronel Lula, herdeiro do En- genho Santa Fé num momento em que o ciclo da cana de açúcar atravessa uma fase aterradora. Trata-se de um ho- mem arrogante, autoritário, que desfila com a sua famí- lia numa carruagem para se exibir aos outros membros da comunidade quando vai à missa. Quase todas as perguntas que ele fazia aos seus subordinados terminavam com a in- terjeição “hein”. Sua prepotência ficava à mostra em virtu- de dessa excentricidade manifestada através da linguagem. José Lins do Rego teve a sensibilidade de captar que certos usos da língua servem para acentuar a subjugação, a explo- ração, a humilhação. Quando essa interjeição é empregada parece mesmo denotar a prepotência humana. Se usamos na apostila, a interjeição foi apenas com o intuito de ensejar esse comentário, verificar se realmente você está lendo com atenção cada tópico apresentado e re- ferendar a explicação sobre a intertextualidade, certo? Até porque tivemos a humildade de reconhecer na Unidade 1 nossa completa inaptidão quanto à gastronomia e à mete- orologia. Qualquer outra concepção significará uma extra- polação negativa, aquela que, como mencionado, prejudica a análise da mensagem e que muitos coloquialmente cha- mariam de “viajar na maionese”. Feito esse importante esclarecimento, vamos con- tinuar praticando nossas habilidades ao procurarmos do- minar os diferentes níveis de leitura. Saiba que a criação de inferências e extrapolações não se restringe a textos. Imagens também podem ser interpretadas. Essa, que você certamente conhece, é até hoje a mais valorizada pintura já produzida por artistas brasileiros e com a qual Tarsila do Amaral presenteou seu marido, o escritor modernista Oswald de Andrade. Vamos contemplar um pouco Abaporu: Fonte: www.tarsiladoamaral.com.br 45COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Como podemos aprender a avaliar nossa aptidão interpretativa sobre a pintura? Vamos analisar três afirmações: I. pode-se inferir que o cenário retratado na obra remete perfeitamente ao caos vivencia- do nas grandes cidades nos dias de hoje; II. o tamanho do pé e da mão comparado ao da cabeça permite depreender que o indivíduo está muito mais preparado para o trabalho intelectual do que para o braçal; III. a origem indígena do nome da pintura ajuda a entender por que o indivíduo está repre- sentado sem usar trajes. Qual(is) está(ão) correta(s)? a. Apenas a III b. Apenas a I e a II c. Apenas a I e III d. Apenas a II e III e. A I, a II e a III. Passemos a avaliá-las. Parece não haver nenhuma relação entre o cenário pacato retra- tado na obra e o caos vivenciado nas grandes cidades nos dias de hoje. Trata-se de uma ex- trapolação negativa. O tamanho do pé e da mão comparado ao da cabeça permite depreender que o indivíduo está muito mais preparado para o trabalho braçal do que para o intelectual. Houve uma inversão na segunda afirmação, porém, a interpretação corrigida agora é válida, assim como a origem indígena do nome da pintura ajuda, sim, a entender por que o indivíduo está representado sem usar trajes. Sendo verdadeira somente a terceira afirmação, a letra A é a resposta correta para a questão a que nos propusemos resolver. Para exercitarmos mais uma vez os níveis de leitura e nossa capacidade interpretati- va, vamos examinar, intercalando texto e perguntas, esta crônica do Prof. Dr. Tiago Pellizza- ro, vencedor dessa categoria do 48º Concurso Anual Literário de Caxias do Sul. A FORÇA DA MÚSICA? 1. O que o título está indicando? Já temos a primeira pergunta. O que podemos, desde logo, projetar em relação ao resto do texto, já que o título traz uma interrogação, e não uma afirmação? Provavelmente, ele co- locará em dúvida a existência da “força da música”, refletindo sobre essa questão. Será que a força da música é algocomprovável? Caso sim, quais os seus reflexos? Vamos adiante: “O que você vai ser quando crescer?”, perguntam familiares, amigos e conhecidos. A fase em que curtir o melhor da vida é o único projeto pueril passa depressa. Quem não se deparou com essa interrogação durante a infância? Acuada, indefesa e imatura, a criança tem de encontrar uma res- posta visionária. Uma sucessão de erros e de frustrações decorre dessa exigência, muitas vezes lan- çada em hora imprópria. 46COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Eterna covardia. Quem se atreve a desmascarar o futuro, ainda mais com tão poucos anos completados? E quem disse que o caminho das escolhas não tem curvas? 2. Interprete esses dois parágrafos. O que eles querem dizer? Que as crianças muito precocemente são indagadas sobre os seus planos pessoais e pro- fissionais. Se já é difícil para um adolescente, e até mesmo para um adulto, fazer escolhas ligadas a sua profissionalização, não será ainda mais complicado para uma criança tomar de- cisões acertadas sobre esse assunto? Além disso, com tantas profissões surgindo, com tantas novidades invadindo o mercado, como escolher sem jamais precisar repensar as alternativas, e sem considerar as perspectivas que vão se modificando ao longo do tempo? Segue o texto: Sempre acreditei na “força da música”. Aliás, n’A república, Platão já a reconhecia. A música leva à dança, unindo pessoas. A não ser que algum infortúnio aconteça, como o cavalheiro pisar no pé da dama, os dois escorregarem e caírem, por exemplo. Poderá ser divertido ou desastroso, depen- dendo do astral do casal. Isso faz ver que a música anima, servindo até mesmo para curar doenças, embora também possa deprimir. A música tem um poder de comunicação fantástico. Salvo exceções, melodia e letra são memo- rizadas rapidamente, e a mensagem que contém é transmitida com eficiência. Para meu desencanto - ou, quem sabe, para meu consolo -, não segui o meu sonho. 3. A força da música é tratada somente de forma positiva nos dois parágrafos anteriores? Não. Ela tanto pode animar como deprimir, pode despertar sentimentos positivos ou negativos. Isso vai depender do estado mental e espiritual das pessoas, que interfere na for- ma como encaram as composições musicais. Aliás, ao trabalhar a dualidade do tema (a força da música), o autor está perseguindo uma coerência analítica. O título, relembrando, não era uma afirmação, e sim uma interrogação. Ao optar pela pergunta, seu objetivo é desenvolver um olhar crítico, que contemple mais de um ângulo sobre o assunto abordado. 4. Na frase “para meu desencanto – ou, quem sabe, para meu consolo –, não segui o meu sonho”, de qual sonho o autor fala? Ele se sente frustrado por isso? Sonho tem a ver com a busca da realização pessoal e profissional, tópico frasal do primeiro pa- rágrafo do texto. Agora, o autor atou a sequência com o início da explanação. Novamente, a dualida- de é ativada. Desencanto e consolo são sentimentos que denotam bipolaridade. De um lado, tem-se a tristeza, a desilusão; de outro, a resignação, a conformidade com a trajetória individual. Somente o avançar do texto provará se ele se sente frustrado por não seguir seu sonho, mas uma pista já foi dada: a abertura para a ideia de consolo, de aceitação dos rumos que sua vida tomou. Vamos pros- seguir? Quando isso sucede, resta tentar projetar as aspirações pessoais no(s) outro(s). É como no es- porte. Ayrton Senna representava uma nação. Muitos gostariam de estar pilotando o seu carro, mas, por se tratar de uma oportunidade incomum, deveriam resignar-se, torcendo por ele. A sua vitória, em compensação, era democratizada, compartilhada com todos os fãs. Na música, o meu caso não foi diferente. Identifiquei-me com uma banda que, antes de eu nas- cer, vivia o estrelato. Eram os mágicos anos 70 da disco music. Waterloo, Mamma Mia, SOS, Knowing 47COMUNICAÇÃO SUMÁRIO me, knowing you, Dancing Queen e outros hits embalaram multidões por todo o mundo. Um sucesso que Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad protagonizaram como poucos. Duas décadas depois, ou seja, no fervor da vida pré-adulta e no limiar da encaminhada tra- jetória profissional é que os descobri. O ABBA impressionava pela harmonia vocal, pelo exímio uso dos sintetizadores que transformaram a música eletrônica e, principalmente, pelo comportamento exemplar de seus integrantes, um tanto raro quando a fama é alcançada. De um modo geral, pode ser que a mídia distorça certas informações em relação aos artistas, mas nem sempre isso corresponde à verdade. E a verdade é que ABBA nunca combinou com violência, drogas e baixarias. Eles doaram os direitos autorais de Chiquitita para a UNICEF. Apesar de bregas, como do alto de sua preconceituosa visão etnocêntrica supõe a crítica, compunham e cantavam de uma forma pura, romântica, autêntica. 5. Segundo o texto, quando a fama é alcançada, os artistas se comportam de modo exem- plar? É um tanto raro o comportamento exemplar por parte dos artistas após alcançarem a fama. Assim pensa o autor. Por isso, identificou-se com uma banda sueca que lhe parecia ser- vir de modelo, de referência nesse quesito. 6. A qual crítica o autor se refere? À crítica musical, naturalmente, e não à crítica do concurso literário, não se pode fazer essa confusão. Vale salientar que os Estados Unidos e a Inglaterra ocupavam a posição central da indústria fonográfica no cenário internacional. A visão etnocêntrica – ou sociocêntrica, se você preferir – corresponde à visão dominante, hegemônica, que preconceituosamente se percebe como representante de natureza superior. A banda, devido à origem sueca, advinha de uma posição periférica, dotada de menor expressividade no contexto mundial da músi- ca. Daí a razão para ser tachada de brega pela crítica norte-americana e inglesa. O autor faz a defesa do quarteto, pois suas composições eram puras, românticas e autênticas. Ao pender para o lado da banda, cabe-lhe, para manter a coerência argumentativa, contestar a crítica, denunciando o preconceito que ela nutria. Vamos em frente? Por tudo isso, entendo que era possível a um jovem adotá-los como referência. Mesmo assim, há situações que para um fã são inexplicáveis. Se o público os amava, se por várias semanas con- seguiam permanecer no topo das paradas, como podiam terminar? Se em Thank you for the music admitiam a “força da música” que aqui retrato, como tencionaram parar? Afinal, não é válida a má- xima de que o sucesso gera sucesso? A questão é que o sucesso tem uma face positiva, por si só explícita. Os números comprovam- -na. Quantos discos vendidos, quantos presentes nos shows, qual o faturamento obtido, ora, tudo isso é mensurável. Existe, entretanto, o outro lado, obscuro, impenetrável, privado, e que dependendo da negatividade contida pode suplantar os bons fluidos. Como se relacionavam? Qual era o seu tempe- ramento? Seriam egocêntricos demais? Não há como saber, a não ser superficialmente. É assunto reservado, e deve ser respeitado o direito do quarteto ao silêncio. Em 1982, o clipe de Under Attack, o último gravado pela banda sueca, encerrava com uma ima- gem aterradora. Enquanto cantavam o refrão, eram filmados de costas pela câmera. Na medida em que caminhavam, afastavam-se cada vez mais, até desaparecerem. Era a despedida. Estava selado o 48COMUNICAÇÃO SUMÁRIO fim de um repertório cativante, que muitos como eu queriam ver continuando ad eternum. Sem es- conder a revolta, sigo minha história, sem dar as costas a ninguém e sem me retirar. 7. O autor está conformado com o fim da banda? Não, pois como fã, não esconde a sua revolta com esse término. Havia fortes indicativos de que a banda poderia alcançar a longevidade em função de seu estrondoso sucesso. Mas, para reforçar a dualidade que caracteriza o texto, o autor pondera que o sucesso nem sempre gera sucesso, uma vez que pode conhecer o fim em decorrência de fatorescomo a falta da boa convivência entre os integrantes dela. Basta rememorar que era composta por dois casais que entraram em litígio. 8. Na frase “sem dar as costas a ninguém e sem me retirar”, é possível perceber alguma ironia? Por quê? Sem dúvida, porque mesmo extremamente distante do sucesso que a banda granjeou, o autor deu continuidade a sua trajetória ao redescobrir outras aptidões. Daí o seu consolo por não seguir o próprio sonho. Assim, completamos o exercício interpretativo sobre a crônica. Para concluirmos a Uni- dade 3, queremos propor de duas questões modelo ENADE que exigirão a mesma destreza. Será uma experiência útil tanto para as provas da disciplina quanto para uma melhor perfor- mance no exame nacional da educação superior de que você participará. Vamos à primeira: Papa diz que crise dos refugiados é “ponta do iceberg” de um sistema injusto. A crise dos refugiados na Europa é apenas “a ponta do iceberg” de um sistema socioe- conômico “mau e injusto”, afirmou o papa Francisco em uma entrevista de rádio transmitida nesta segunda-feira. “Vemos estes refugiados, estas pobres pessoas que fogem da guerra e da fome, mas é apenas a ponta do iceberg. Por baixo está a causa, um sistema socioeconô- mico mau e injusto” disse o papa na entrevista concedida em 8 de setembro à rádio católica portuguesa Renascença. “Ali onde se origina a fome é necessário criar fontes de trabalho e de investimento. Ali onde está a causa da guerra é preciso trabalhar para a paz”, afirmou o pon- tífice, que recordou ser filho de imigrantes italianos que se mudaram à Argentina. Francisco reconheceu, no entanto, que os movimentos migratórios provocam proble- mas de segurança para os países europeus e que existe o “risco de infiltração”. “Hoje as con- dições de segurança territorial não são as mesmas que antes. Temos uma guerrilha terrorista extremamente cruel a 400 km da Sicília”, disse, em referência à situação na Líbia, onde atu- am vários grupos armados, entre eles o Estado Islâmico (EI). No dia 6 de setembro, o papa solicitou a todas as comunidades católicas da Europa que recebam uma família de refugiados e disse que começaria pelas duas paróquias do Vaticano. “Duas famílias já foram designadas”, revelou Francisco à rádio Renascença, sem informar a origem, ao mesmo tempo que celebrou as “numerosas reações” a sua proposta. O papa também confirmou a intenção de visitar Portugal em 2017, por ocasião do cen- tenário das aparições no santuário de Fátima. Também recordou que o santuário de Nossa Senhora de Aparecida, no Brasil, celebrará o tricentenário em 2017. 49COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/09/papa-diz-que-cri- se-dos-refugiados-e-ponta-do-iceberg-de-um-sistema-injusto-4847286.html A partir desse texto, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. De acordo com o Papa Francisco, a crise dos refugiados na Europa aponta, conforme menciona o primeiro parágrafo, apenas para uma pequena parte de um problema complexo que envolve um equivocado sistema de governo. PORQUE O movimentos migratórios, mencionados no segundo parágrafo, podem colocar em ris- co a segurança dos países europeus, já que terroristas podem se infiltrar junto aos refugiados. É correto afirmar que: a. as asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b. a asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. c. as asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. d. a asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. as asserções I e II são proposições falsas. Como vamos agir para acertar a resposta da questão? Primeiro, lendo o texto atenta- mente e depois o seu enunciado. São feitas duas afirmações. Será que a primeira é verdadeira? Cabe investigar: “de acordo com o Papa Francisco, a crise dos refugiados na Europa aponta, conforme menciona o primeiro parágrafo, apenas para uma pequena parte de um problema complexo que envolve um equivocado sistema de governo”. O que consta no primeiro parágrafo? “A crise dos refugiados na Europa é apenas “a pon- ta do iceberg” de um sistema socioeconômico “mau e injusto”, afirmou o papa Francisco em uma entrevista de rádio transmitida nesta segunda-feira. “Vemos estes refugiados, estas po- bres pessoas que fogem da guerra e da fome, mas é apenas a ponta do iceberg. Por baixo está a causa, um sistema socioeconômico mau e injusto”. Sim, é verdadeira a primeira afirmação. A ponta do iceberg indica uma pequena parte do problema. Qual problema? A crise dos refugia- dos na Europa. E a segunda afirmação, será verdadeira também? Vamos a ela: “os movimen- tos migratórios, mencionados no segundo parágrafo, podem colocar em risco a segurança dos países europeus, já que terroristas podem se infiltrar junto aos refugiados. Certo, e o que o texto diz? Confira aí: “Francisco reconheceu, no entanto, que os movimentos migratórios provocam problemas de segurança para os países europeus e que existe o “risco de infiltra- ção”. “Hoje as condições de segurança territorial não são as mesmas que antes. Temos uma guerrilha terrorista extremamente cruel a 400 km da Sicília”, disse, em referência à situa- ção na Líbia, onde atuam vários grupos armados, entre eles o Estado Islâmico (EI)”. Então, é igualmente verdadeira a segunda afirmação. Sim, porque os movimentos migratórios podem colocar em risco a segurança dos países europeus, por causa da possível infiltração de terro- ristas junto aos refugiados. Depois de verificar se a primeira e a segunda afirmações são ver- 50COMUNICAÇÃO SUMÁRIO dadeiras ou falsas, parte-se para análise da relação entre elas. A segunda deve ser a causa da primeira. Então, vamos lá. Qual é a causa da crise dos refugiados na Europa, na visão do papa Francisco? Um sistema socioeconômico mau e injusto. É o que a segunda afirmação apresen- ta? Não. Ela fala em infiltração de terroristas entre refugiados, mas essa, segundo o papa, não é a causa da crise dos refugiados na Europa. Portanto, as asserções I e II são proposições ver- dadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. A alternativa C é a correta. Por fim, vamos ler o texto a seguir, denominado “Poema em linha reta”, de Fernando Pessoa, e depois responder a mais uma questão modelo ENADE: Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, (...) Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, (...) Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida… Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? 51COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. “Poema em linha reta” – texto marcado pela função emotiva da linguagem –, mostra o ponto de vista do eu lírico em relação à determinada postura sua e daqueles que o rodeiam. Considerando o contexto do poema apresentado, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas. O poeta faz um desabafo e resolve assumir plena e corajosamente a sua verdade de de- feitos, fracassos imperfeições, fragilidades – o que nada mais é do que a verdade da miséria humana. PORQUE A sociedade está caracterizada pela hipocrisia de pessoas “irreais”, que parecem ser insuscetíveis aos erros, que vivem de aparências ilusórias e superficiais, e, ao usarem suas máscaras, regem uma busca incansável por uma obscura perfeição. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e. As asserções I e II são proposições falsas. Faremos o mesmo procedimento para encontrar a resposta certa. O que diz a primeira afirmação? Que “o poeta faz um desabafo e resolve assumir plena e corajosamente a sua ver- dade de defeitos, fracassos imperfeições, fragilidades – o que nada mais é do que a verdade da miséria humana”. Ela é verdadeira? Vamos consultar alguns versos: 52COMUNICAÇÃO SUMÁRIO E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, (...) Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, (...) Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,(...) Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, (...) Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. De fato, o eu-poético assume suas fragilidades e desabafa: Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida… (...) Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? É verdadeira a primeira afirmação. Agora, passemos à segunda afirmação: “A sociedade está caracterizada pela hipocrisia de pessoas “irreais”, que parecem ser insuscetíveis aos er- ros, que vivem de aparências ilusórias e superficiais, e, ao usarem suas máscaras, regem uma busca incansável por uma obscura perfeição”. Será verdadeira, também? Não custa repetir o excerto há pouco selecionado: Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida… (...) Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Está claro o apontamento de que pessoas se enxergam como se fossem infalíveis, não assumindo suas falhas. São semideuses, que vivem de aparências ilusórias. A segunda afir- mação, portanto, é pertinente e válida. E a relação entre elas, como fica? A segunda ocasiona a primeira? Sim, o desabafo do poeta é motivado pela hipocrisia humana. Se os homens não fossem semideuses hipócritas, o poeta não iria desabafar acerca dessa postura falaciosa, des- marcarando-a. Assim, as asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. Desse modo, a alternativa A está correta. 53 ASPECTOS DA ORALIDADE: LINGUAGEM E APRESENTAÇÃO O medo de falar em público é considerado um dos que mais afeta as pessoas em geral. Se, no entanto, você se precaver, não haverá razão para esse medo assombrá-lo(la). 54COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Chegamos à última Unidade de nossa apostila. Anteriormente, o enfoque incidiu na leitura e na produção de textos, mas sabemos que, no cotidiano, predominantemente, fazemos uso da lingua- gem oral. Somo um povo que tem essa tradição comunicativa. Por isso, nesta Unidade procuraremos voltar os olhos para o modo como nos comunicamos verbalmente, especialmente em situações que demandam deixar uma impressão positiva diante dos espectadores que acompanham nossa exposi- ção. Pense nas apresentações em aula, nas bancas de Trabalho de Conclusão de Curso, nas vezes em que você deve explicar um plano de trabalho para os demais colaboradores da empresa ou realizar um treinamento com eles. Ou então, quando você faz uma palestra para um grupo da comunidade. Claudia Capello e Mary Murashima (2015) prestam uma grande contribuição para que arrase- mos em nossa fala. Antes de trazer os seus apontamentos, convém mencionar que o principal segredo para uma apresentação bem-sucedida é a preparação. Quanto mais nos dedicarmos para enfrentar esse momento especial, maior será a chance de alcançarmos o sucesso nessa empreitada. A primeira dica das autoras é “listar, previamente, os pontos a serem abordados no discurso”. Sobre o que você vai falar? Organize-os logicamente e “distribua o tempo adequado a cada ponto”. Há aqueles que merecem maior aprofundamento, recebendo prioridade, e outros que podem ser abordados de forma mais objetiva e sintética. Faça, portanto, essa análise antecipadamente para não se perder na hora da apresentação. Além disso, não deixe de “falar diante do espelho ou assistir a um vídeo seu”. Em geral, o tex- to que escrevemos é uma produção planejada. Já, na fala, é comum ocorrerem falhas devido à falta de planejamento acerca do que vamos dizer. Quem disse, porém, que a fala não pode ser planejada? Claro que pode. Basta que você ensaie seu discurso. Gravar um vídeo é um mecanismo para que você analise seu desempenho e, de quebra, retome os conteúdos que deseja explanar. O espelho também funciona para que você observe sua expressão facial e seus gestos. Mas o mais importante é o fato de estar repetindo a mensagem que será transmitida ao público, tornando-se mais familiar e elaborada a sua mente, e, com isso, tende a aumentar a segurança pessoal na “hora H”. Às vezes, o mais difícil para o orador é o cumprimento do tempo destinado a sua apresenta- ção. Por isso, o ensaio é fundamental. Se tivermos cinco, dez ou quinze minutos, devemos ser efi- cientes nesse exíguo período. Por esse motivo, valorize cada minuto da sua explanação. Não fique se justificando, afirmando que você teria muito mais a dizer. O tempo é um bem extremamente pre- cioso para todos, e a plateia guardará pouquíssimas das informações repassadas. Focalize no que de mais essencial você tem a compartilhar com quem prestigia a sua fala. Ah! Não se preocupe se alguém sair da sala ou do auditório em que você está se apresentando. Isso não significa que o seu desempenho corre abaixo do satisfatório. Pode ser que a pessoa tenha outro compromisso naquele instante, ou que precise atender a um telefonema urgente, ou que ne- cessite se ausentar por pouco tempo. Vamos a mais dicas interessantes? “Falar pausadamente”. Não importa o tempo que lhe for destinado. Você não é um(a) narrador(a) de futebol. Acentue as palavras que merecem destaque, re- pita-as, se for o caso, e pronuncie-as corretamente, evitando “comer” letras. Assista aos vídeos disponíveis em https://www.youtube.com/watch?v=ShtBAwmU-bA e ht- tps://www.youtube.com/watch?v=Bp8B6p6ymLY. Eles são úteis para que você aprenda a falar pau- sadamente e a explorar o seu aparelho fonador, de modo a melhorar tanto a articulação quanto a dicção. 55COMUNICAÇÃO SUMÁRIO Outro detalhe importante: não se esqueça de que você nunca fala às paredes. Assim, “fa- zer contato visual com o público” é imprescindível. Para isso, não fixe o olhar em uma ou duas pessoas se houver três, dez, vinte ou mais no local em que está se apresentando. Reveze a aten- ção a elas, observando pequenos grupos. Isso demonstra que você as respeita, que é seu objetivo conquistar a adesãodelas em relação àquilo que está defendendo ou explicando. Quando você se prepara bem, a consequência imediata é o domínio (ou a sensação de do- mínio) do assunto exposto. As pessoas gostam de ouvir quem sabe falar. Isso implica expres- sar-se com propriedade, com argumentos convincentes, com exemplificações bastante ilus- trativas, e, sobretudo, com coragem. Se você se contradiz, não demonstrando convicção em seu discurso, ou fazendo transparecer a insegurança, como quererá que acreditem em sua mensa- gem? É preciso, primeiramente, acreditar no que se diz. Estude. Pesquise. Forme seu ponto de vista. Desenvolva a espontaneidade do seu pensamento. Concentre-se nas ideias que quer emi- tir, e não nas palavras. Não se alongue. Não seja vago(a). Dê o recado, comentando somente aquilo que faz sentido e que venha a facilitar a compreensão do público. Neste caso, se for preciso contar uma história, não se faça de rogado(a). Relate-a com prazer, mas se ela for desimportante, não perca tempo e parta para outra estratégia que lhe proporcione a eficiência comunicativa. Quer uma sugestão? Convide a plateia “à reflexão conjunta”. Quando a fala é muito extensa, sem provocar a intera- ção das pessoas, há uma tendência para que se dispersem. Se, opostamente a isso, você lançar uma pergunta, estará estimulando o raciocínio e, consequentemente, a participação delas. No mundo democrático em que vivemos, é óbvio que cada um tem o direito de se posi- cionar livremente sobre qualquer tema, e isso muitas vezes pode gerar um embate de ideias. Ninguém é obrigado a concordar com aquilo que pensamos. É necessário, entretanto, respei- tar as diferenças, acolher as opiniões divergentes e cultivar a simpatia “com possíveis opo- sitores”. Para que um debate seja frutífero, caso haja essa oportunidade durante ou após a apresentação, devemos aceitar críticas e ponderações. Isso, porém, não significa que tenha- mos que abrir mão de nossa forma de ver o mundo, mas sim de aprender a dialogar com o(a) outro(a). Todo bom orador procura, antes de mais nada, conhecer o público que o ouvirá. Quando são poucas as pessoas presentes à palestra, não custa solicitar que cada uma delas se apresen- te brevemente. Assim, será possível detectar se vale a pena investir no uso de jargões duran- te a fala, se a abordagem dispensa ou não o bê-a-bá daquele conteúdo, tudo para adequar a linguagem à bagagem sociocultural dos espectadores. E se você tiver que falar para crianças? Adapte-se à circunstância. Use um vocabulário compatível com o conhecimento delas. Fale com a maior naturalidade possível. Faça modulações com sua voz, pois se o discur- so nesse quesito ficar bastante linear, poderá ou provocar o sono (caso o volume seja muito baixo), ou o espanto (caso o volume seja excessivo) da plateia. Eleja, portanto, as palavras a serem enfatizadas. Cuide de sua voz. Assim como todo o corpo, ela também requer descanso. Para que você se conscientize sobre isso, experimente observá-la em dois momentos: ao acordar num dia em que o sono foi de quatro, cinco horas; e em outro dia, logo depois de ter dormido oito ho- 56COMUNICAÇÃO SUMÁRIO ras. Você notará a diferença. Quando estamos mais descansados, menos esforços precisamos despender para nos comunicarmos. Hidrate-se durante a apresentação, especialmente se ela ultrapassar vinte minutos de fala. Evite ao máximo se comunicar com a garganta ressequida. Lembre-se: a água é a maior parceira da voz saudável. Mantenha uma postura ereta. Se você tem espaço para caminhar enquanto faz a expla- nação, não fique parado. Aproxime-se da plateia, afinal é para ela que está endereçando sua comunicação. A busca por uma intimidade respeitosa com o público faz parte de seu desafio. Por fim, invista na sua aparência. Pouquíssimos dos que vão ouvi-lo(la) sabem ou sabe- rão que pessoa você é. Claro, o ideal é que nossa essência como seres humanos fosse prioriza- da. Ocorre, no entanto, que em função desse distanciamento, seremos julgados não pelo que somos, mas pelas nossas aparências. Então, procure deixar uma boa impressão inicial. Não seja desleixado(a). Cuide de seu visual. Para obter mais informações sobre como falar em público, confira o vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TCOJeWkjeRs A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS Como as gerações mais novas são muito dependentes da memória visual, e as imagens servem para complementar as palavras, esclarecendo-as com eficácia na grande maioria dos casos, a utilização de recursos audiovisuais mostra-se de enorme valia para enriquecer apre- sentações. Por isso, vamos nos ater a esse tópico a partir de agora. Programas para exibição de slides (sendo o PowerPoint ainda o preferido dos brasileiros) permitem que se organize todo o conteúdo que se pretende abordar numa exposição. Como vamos preencher esses slides? Bem, a resposta para essa questão aponta para a existência de diferentes perfis de apresenta- dores. O mais raso e banal deles é o que denominaremos aqui de “leitor de slides”. Sim, ima- gine a pessoa que, incumbida de apresentar um trabalho oralmente, recorta fartos trechos encontrados em livros. Depois, põe-se à frente da plateia sem olhá-la e fica lendo as páginas projetadas sem comentá-las. É o típico exemplo de quem apela para a Lei do menor esforço e faz de tudo para disfarçar a falta de segurança que o envolve. Certamente, não é esse o perfil que caracteriza o(a) bom(boa) apresentador(a). Qual seria a melhor atitude, então, na hora de montar os slides? Dividir logicamente as partes que compõem a apresentação e selecionar os tópicos mais importantes a ela relaciona- dos. Apenas os tópicos virão descritos nos slides, e caberá ao apresentador explicá-los. Dessa forma, como os slides não estarão poluídos com uma quantidade excessiva de texto (usar no máximo oito linhas por slide é uma boa providência), será possível ampliar o tamanho da fonte (para no mínimo 24, em se tratando do texto em si. Para títulos, são aceitos tamanhos entre 36 e 48), o que facilitará a sua leitura por parte do público. Caso você queira chamar a atenção para algum fragmento em específico e até lê-lo, tudo bem, pois não estará abusando dessa prática. 57COMUNICAÇÃO SUMÁRIO O fundamental é que os slides reforcem ou complementem a fala ao invés de substituí- -la. Sem os slides, o apresentador poderá se perder, esquecendo-se de ressaltar os aspectos mais relevantes de seu pronunciamento, ou se alongar demais, deixando de cumprir o tempo estabelecido para sua comunicação. Outra vantagem que os slides oferecem é a possibilidade de acompanhamento por parte do público dos itens explanados pelo apresentador. Vale insistir: as imagens e os sons têm um poder de comunicação fantástico. Não preencha slides apenas com textos. Acrescente imagens, vídeos e áudios para dinamizar a apresentação. Caso você tenha optado por incluir áudios e vídeos, descarte materiais que tenham mais de dez minutos de duração. Você correrá o risco de não prender a atenção do público. Se, inversamente, o tempo for inferior a dois minutos, será mais fácil justificar o seu aproveitamento, sendo pos- sível agregar um bom número de áudios e vídeos à apresentação. O cuidado com o layout (ou leiaute, para você que gosta mais da forma aportuguesada) dos slides também é ponto pacífico. Lembre-se de que deve haver contraste entre o fundo e as letras. É aconselhável o uso do fundo claro e das letras em tons escuros. Animações e efeitos devem ser evitados, pois podem despertar mais atenção que o próprio discurso do orador, para o qual a concentração do público deve ser destinada. Outros recursos que favorecem a apresentação são os gráficos, tabelas e quadros. O públi- co, desde já, agradece se você puder criá-los. Além de facilitar a visualização, possibilitam com- parações e análises de cenários mais acuradas. Cada gráfico deve ocupar pelo menos metade da página. Já as tabelase quadros devem possuir poucas linhas e colunas. Aliás, você sabe qual é a diferença entre uma tabela e um quadro? Ambos possuem células, ou seja, são estruturados em forma de planilhas, mas podem conter majoritariamente números ou palavras. Se houver predominância de números será uma tabela, do contrário, um quadro. Não abuse da quantidade de slides caso seu tempo de fala seja curto. Gasta-se, em mé- dia, um minuto e meio por slide. Supondo que você disponha de 20 minutos para se expres- sar, 12 a 15 slides (alguns poderão ressaltar apenas imagens) serão suficientes para atingir o objetivo. Numerar os slides será útil para localizá-los caso algum espectador faça perguntas sobre um deles após a explanação. Na capa, coloque o título do trabalho, o nome do(s) autor(es), a situação/evento e a data. O logotipo da instituição representada poderá aparecer, bem como uma imagem que seja sig- nificativa em relação ao assunto da apresentação. Em seguida, exponha os objetivos a ela re- ferentes. Contextualize a sua abordagem, ou seja, trace um panorama em relação ao tema escolhido, e depois estabeleça um recorte, direcionando a fala apenas para aquilo que diz res- peito ao seu enfoque. Problematize, isto é, traga em forma de perguntas as inquietações que nortearam essa exposição. Aponte causas, consequências e soluções para elas. Não se esqueça de mencionar as referências consultadas para a construção da apresentação. Por fim, no últi- mo slide, agradeça pela oportunidade recebida e deixe seu e-mail para quem quiser entrar em contato com você, a fim de encaminhar dúvidas ou trocar informações. Seguindo essas sugestões, sua apresentação não deixará a desejar. Pelo contrário, pode- rá abrir muitas outras portas e você se tornará especialista na área. 58COMUNICAÇÃO SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES FINAIS Não tenha medo de evoluir, não tenha medo de aprender e ensinar, não tenha medo de se comunicar. A comunicação é a chave para a compreensão humana e para a construção de bons rela- cionamentos. Trata-se de uma ciência complexa, que se renova à medida que Tecnologias de Informação e Comunicação são inventadas e passam a fazer parte do cotidiano de inúmeras pessoas. A interação, por obra disso, sofre modificações em seu processo. O virtual torna-se mais presente em nossas vidas, concorrendo fortemente com o contato face to face. Novos fe- nômenos sucedem com a alteração do comportamento dos indivíduos que começam a domi- nar recursos que eliminam distâncias e (re)aproximam pessoas, mesmo que por intermédio de um computador, celular ou tablet, para citar os dispositivos eletrônicos mais famosos. Nunca a comunicação esteve tão em evidência em nossa história. São as Tecnologias de Informação e Comunicação que mais recebem investimentos entre todos os setores da pro- dução. Você poderá questionar: para onde vamos? Na verdade, ainda há muito por descobrir. O ser humano não encontrou o seu limite. O Google, por exemplo, está desenvolvendo um tradutor auricular. Digamos que você viaje para a Turquia, para assistir a um show do Tarkan. Aí, você não entende uma palavra em turco, mas terá que se comunicar com o taxista, com a balconista da lanchonete, com a recepcionista do hotel. O que o interlocutor disser será tra- duzido pelo aparelho acoplado em seu ouvido. Claro, se você souber inglês nada disso será ne- cessário. Mas já imaginou conseguir se comunicar em turco ou com um turco sem saber uma palavra desse idioma? Estamos caminhando para isso. É somente um exemplo. Na produção, a tecnologia já substituiu a mão de obra huma- na em diversas atividades braçais. Uma máquina consegue trabalhar num canavial com mais destreza que cem homens. Você já viu, entretanto, um robô cortando o cabelo de uma mulher, fazendo maquiagem, pintando pés e unhas? O trabalho braçal especializado não foi substitu- ído. No mundo capitalista, a luta pela sobrevivência enaltece os mais aptos. Neste caso, não se pode ignorar a força da tecnologia. Será que o tradutor auricular do Google eliminará os postos de trabalho dos professores de turco no Brasil? É extremamente difícil responder. Mas é possível pensar que, além de atuarem como professores de turco, venham a trabalhar igual- mente para o Google. Isso faz ver que para quem não menospreza o potencial da tecnologia novas oportunidades podem aparecer. Assim, o mais importante de tudo é acreditar em si mesmo e ampliar suas habilidades. A comunicação está a serviço da sua evolução, pois todo conhecimento transmitido e adquirido é comunicado. Sem comunicação não há conhecimento. Portanto, não tenha medo de evo- luir, não tenha medo de aprender e ensinar, não tenha medo de se comunicar. Ao contrário, tenha medo de não evoluir, tenha medo de não aprender e não ensinar, e tenha medo de não se comunicar. A menos que você queira emburrar e ficar isolado(a). Tu és responsável pelo que cativas, já advertia Saint-Exupéry (2000). Se quiseres que a negatividade o(a) conduza, o problema é somente seu. Se quiseres, no entanto, derrotá-la, estamos juntos nessa. 59COMUNICAÇÃO REFERÊNCIAS SUMÁRIO ALVARENGA NETTO, R.C.D. Gestão do Conhecimento em Organizações: proposta de mapeamento conceitual integrativo. São Paulo: Atlas, 1996. CAPELLO, Cláudia; MURASHIMA, M. Apostila do Curso de Comunicação Empresarial. Rio de janeiro: [s. l.], 2015. CERTEAU, Michel de. A cultura no plural. São Paulo: Papirus, 2001. GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. ISER, Wolfgang. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo: Editora 34, 1996. KIM, Rando. Não é fácil ser jovem: como descobrir o seu potencial, lidar com as incertezas e ir em busca dos seus sonhos. Rio de Janeiro: Sextante, 2013. KREPS, Gary. La comunicación en las organizaciones. 2.ed. Wilmington Delaware, USA: Addison-Wesley Iberoamericana, 1995. MACHADO, Dyonélio. Os ratos. São Paulo: Ática, 1996. MARTINO, Luiz C. De qual comunicação estamos falando: In: HOHLFELDT,Antonio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga (Orgs.). Teorias da Comunicação: Conceito, escolas e tendências. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 11-25. MEDEIROS, Martha. O mulherão. Disponível em http://pensador.uol.com.br/frase/NTIwMDk1/. Acesso em 12 mai 2015. PELLIZZARO, Tiago. A força da música?. In: Contos, crônicas e poesias: antologia 2014. Caxias do Sul: Biblioteca Pública Municipal Dr. Demétrio Niderauer, 2014, p. 119-123. 60COMUNICAÇÃO REFERÊNCIAS SUMÁRIO ___________. A literatura como espaço de construções utópicas: uma leitura de Quadrondo e de obras do cânone ficcional. Santa Cruz do Sul, UNISC, 2009. Dissertação (Mestrado em Le- tras), Programa de Pós-Graduação em Letras, UNISC, 2009. PUCRS. Guia de produção textual: como elaborar uma resenha. Disponível em http://pucrs.br/gpt/resenha.php. Acesso em 23 out. 2014. REGO, José Lins do. Fogo morto. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1998. RIBEIRO, Nuno Cobra. A semente da vitória. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2001. RICOEUR, Paul. O Si-mesmo como um Outro. Trad.: Lucy Moreira César. Campinas: Papirus, 1991. SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 2000. SOARES, Valéria Deluca. A agenda setting e a comunicação nas organizações: um encontro possível. 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