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UNIVERSIDADE CEUMA – CAMPUS RENASCENÇA CURSO: DIREITO ANTROPOLOGIA JUÍDICA TEMA: VIOLÊNCIA CONTRA MULHER NO MUNDO E NO BRASIL 1. INTRODUÇÃO A violência contra a mulher é todo ato de violência de gênero que resulte ou possa resultar em dano físico, psicológico, sexual, moral e patrimonial. Estando em muitas das vezes esse tipo de violência relacionado às características sociodemográficas das vítimas. A violência contra a mulher é definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) na assembleia, de 1993, “Como todo ato de violência de gênero que resulte ou possa resultar em dano físico, sexual, psicológico ou sofrimento para a mulher, quer ocorra em público ou na vida privada”. Sendo considerada uma violação aos direitos humanos, sobretudo após a criação de marco legal, como a Convenção Interamericana de Belém do Pará editada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1994 e ratificada pelo Estado brasileiro em 1995, para prevenir, erradicar e punir este tipo de violência. No Brasil o grande marco para coibir a prática da violência contra a mulher foi à sanção da Lei 11.340 ou Lei Maria da Penha, no ano de 2006, que define os tipos de violência e impõe punições aos seus praticantes e mais recentemente no ano de 2015 foi sancionada a lei 13.104 ou lei do Feminicídio, classificando como crime hediondo o assassinato de uma mulher. Ao decorrer do texto irá ser abordado os tipos de violência conta mulher, os apoios oferecidos a elas, a lei maria da penha, a jornada dupla, a discriminação destas no mercado de trabalho, estatísticas e demais fatores relacionados ao tema. 2. TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 2.1 Violência Psicológica Agressão silenciosa e muito comum, definida por uma conduta que resulte em dano emocional como coação, humilhações, xingamentos. É quando a mulher já foi ameaçada, humilhada em público ou não. Quando ela é obrigada a se isolar de seus amigos ou parentes. É vigiada constantemente, insultada, chantageada, é controlada para não poder sair. Nesse tipo de violência a mulher também sofre algum tipo de conduta que lhe traga dano emocional, prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação de mulher. A mulher se sente diminuída, podendo também trazer prejuízo ou perturbação a sua saúde psicológica e por fim, pode ter sua liberdade de crença religiosa e decisões tiradas de si. 2.2 Violência Física É entendida como qualquer tipo de conduta que venha ofender a integridade ou a saúde corporal da mulher, é caracterizada por tapas, empurrões, chutes, perfurações, etc. Esse é o tipo mais comum de violência e também mais conhecido, é quando a mulher sofre algum dano a sua integridade física. É obrigada a tomar medicamentos desnecessários ou inadequados, álcool, drogas ou outras substancias inclusive alimentos. Quando é tirada de casa a força, arrancada a roupa. A ocorrência de violência física em muitas vezes é acompanhada da presença de violência psicológica. Durante agressões que caracterizaram a violência física se tem ocorrência de humilhações, desqualificações que afetam o estado emocional da vítima (SILVA et al., 2007). A mulher é abandonada em lugares desconhecidos, sofre danos a integridade corporal decorrentes de negligencia, quando tentam atirar objetos para machuca-la. É a falta de cuidados por parte dele para evitar uma situação de perigo ou doenças. Quando por culpa do agressor, companheiro ou familiar, deixa a mulher sem se alimentar, sem higiene. É o ato de sacudir ou apertar o braço da mulher com força. São os ferimentos causados por queimaduras ou armas de fogo e ainda a tortura. 2.3 Violência Sexual A vítima é obrigada a presenciar, manter ou participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força. São as investidas sexuais indesejadas ou assédio sexual, quando é obrigada a fazer posições, fantasias ou atos sexuais que lhe causam desconforto ou repulsa, ou quando é impedida de usar métodos contraceptivos ou de adotar outras medidas de proteção contra doenças sexualmente transmitidas (Ex. camisinha), sofre exigência de sexo como pagamento de favores ou suborno ou ainda quando é coagida a fazer sexo ou aborto forçado. Existe uma sobreposição entre as formas de violências física e sexual, pode ser explicada pelo uso da força física por parte do agressor para manter relações sexuais com a vítima. 2.4 Violência Patrimonial Resulta da conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de bens materiais, objetos e documentos pessoais ou do trabalho, bens, valores e direitos ou recursos econômicos. É quando companheiro e/ou membro da família tenta controlar, guardar ou tirar o seu dinheiro (ou algo de valor) contra a sua vontade, ou esconder seus documentos pessoais sem seu consentimento, quebrando ou causando danos a um objeto pessoal seu que você goste, de propósito. Como por exemplo celular ou outros. Apropria-se indevidamente de seu cartão da conta ou crédito, ou ainda algo que o companheiro subtraiu levando algum pertence sem seu consentimento. 2.5 Violência Moral Consiste em conduta que caracterize injuria ou difamação e calúnia. É a violência sofrida quando a mulher algum dano contra a sua reputação moral. Quando sofre críticas mentirosas e xingamentos, inclusive pela internet ou ainda teve fotos intimas compartilhadas. Quando sua vida de casal é exposta a outros. Quando sofre humilhação, desvalorização ou deboche em público. Ou ainda quando lhe é atribuído algo que não tenha cometido, comprometendo sua reputação e/ou dignidade. Todas essas formas de agressão são complexas, perversas, não ocorrem isoladas umas das outras e têm graves consequências para a mulher. Qualquer uma delas constitui ato de violação dos direitos humanos e deve ser denunciada. 3. ESTATÍSTICAS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 3.1 No Mundo: Ao longo da vida, uma em cada três mulheres é submetida à violência física ou sexual por parte de seu parceiro ou por parte de um não parceiro. Cerca de 736 milhões no mundo todo. Equivalente a população da América do Norte com o Brasil. Violência precoce: uma em cada quatro mulheres jovens (de 15 aos 24 anos) alegam que já sofreram violência durante um relacionamento. Desproporcional para mulheres que vivem em condições de classe média, classe média baixa e baixa; cerca de 37% das que vivem nos países mais pobres sofrem violência física ou sexual. 3.2 No Brasil: Brasil tem mais de 31 mil denúncias de violência doméstica ou familiar contra as mulheres até julho de 2022. É um dos países ponderastes com relação à violência para com as mulheres. Estando no ranking (5º lugar) em 2015 de países que mais matam mulheres no mundo. Cerca de 70% das mulheres que sofrem violência nunca passaram pela rede de proteção. Cerca de 18% delas convivem com o agressor. 4. DISCRIMINAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO No passado, o papel da mulher na sociedade era limitado, pois não tinha acesso à educação ou mesmo vários dos direitos que se encontram atualmente. O papel da mulher abrangia tão somente o âmbito doméstico, qual seja cuidar do lar, dos filhos e o mais cruel de todos, ser subjugada as vontades de seu marido. Desse modo, com o tempo, e depois de variadas lutas pela conquista de sua liberdade, trabalhar fora do ambiente doméstico, poder votar, divorciar-se, usar calças compridas, aprender a ler e escrever, entre outros direitos, hoje vistos, com naturalidade, foram conquistas que envolveram a coragem de mulheres que revolucionaram os costumes e lutaram pela igualdade, contra o preconceito, a violência e a discriminação. A mulher fez da sua arma a coragem, que abriu e consolidou caminhos para as gerações atuais. Ressalta-se, contudo, que o processo de inserção da mulher no mercado de trabalho, adveio de visíveis e acentuadas transformações em relação aos papéise às funções atribuídas na sociedade em geral, o que pode ter decorrido de alguns fatores como: o controle da natalidade, a busca de uma identidade feminina com o trabalho, o acesso à educação, e a própria subsistência. Mas, conforme verificado, marcada pela discriminação. Em ato continuo, as mulheres têm conquistado cada vez mais espaço e lugar na sociedade, bem como também no mercado de trabalho. Dessa forma, em relação aos homens, elas conseguem com mais facilidade administrar os conflitos, buscar o desenvolvimento da equipe, procurando sempre compartilhar mais seus conhecimentos e experiências, são mais propensas a receber opiniões e achar soluções de um modo diferente. No entanto, mesmo diante de todas as qualidades que abrangem a vida feminina, é conhecido que em todo o país, a renda média dos homens é bem superior ao das mulheres. Sobre esse pensamento, o salário masculino supera ao feminino mesmo que tenham o mesmo vínculo de trabalho, laborem o mesmo número de horas e possuam a mesma escolaridade. Os patamares de rendimento feminino são sempre inferiores, sejam as mulheres empregadas, trabalhadoras domésticas, autônomas ou empregadoras. Em geral, conclui-se que as mulheres possuem salários mais baixos, pouco ou nenhuma presença nos cargos de chefia e estão mais sujeitas a demissão. Dessa forma, garantir trabalho, salário igual e digno para as mulheres é uma reivindicação fundamental. O direito ao trabalho remunerado é fator primordial pois é uma questão de respeito e dignidade humana. Apesar de todo avanço feminino no mercado de trabalho, ainda permanecem algumas angústias e questionamentos do tipo: por que ainda acontece essa discriminação de gênero no mercado de trabalho, se a população brasileira tem mais mulheres do que homens? Uma das respostas seria a cultura machista, preconceituosa e discriminatória que ainda assombra a vivencia feminina. A mulher ainda é vulnerável, ainda precisa ser protegida e amparada, a luta não parou, pois ser mulher é luta diária. De acordo com as pesquisadoras Solange Sanches, Vera Lucia Mattar Gebrim autora de "O Trabalho da mulher e as negociações coletivas" (estudo publicado pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo) o fenômeno da discriminação ainda acontece, devido a três fatores: 1- Dificuldades de inserção no mercado de trabalho: a mulher tem mais dificuldade do que o homem para arrumar emprego. Quando são demitidas, costumam ficar longos períodos sem ter uma colocação. 2- Vulnerabilidade na inserção: as dificuldades que elas encontram para entrar no mercado de trabalho refletem na qualidade do emprego obtido, muitas vezes sem carteira assinada. 3- Desigualdade na remuneração: os rendimentos da mulher no mercado de trabalho sempre são menores que os do homem. A solução para estes fatores negativos referente à inclusão da mulher no mercado de trabalho, segundo as pesquisadoras, Solange Sanches e Vera Lucia Mattar Gebrim, é de que um dos espaços mais importantes para a conquista de garantias ao trabalho da mulher, sem discriminação de gênero, é a negociação coletiva de trabalho. "É preciso aumentar a negociação de garantias relativas à equidade de gênero". 4.1 Cinco Discriminações sofridas por mulheres no mercado de trabalho Sexismo A pessoa discriminada é colocada em posição inferior. O que se observa com mais frequência na sociedade é a associação do sexismo a posição que o machismo determina para as mulheres. Etarismo Pesquisa Global Learner, realizada pela Pearson em parceria com a Morning Consultancy, ouviu 6 mil mulheres em diversos países, incluindo o Brasil, e 65% das entrevistadas afirmaram que a discriminação por idade as afeta no trabalho. Quando jovens, não são consideradas qualificadas o bastante, e depois dos 50, são desvalorizadas. Uma das maneiras de fugir desses estereótipos é promover treinamentos que sejam capazes de prepará- las para assumirem cargos de liderança durante diferentes fases da vida. Maternidade O IBGE mostrou que, em 2021, apenas 54,6% das mães de 25 a 49 anos com crianças de até 3 anos estavam empregadas. A situação é ainda pior no caso das mães negras: só 49,7% delas tinham emprego. E, mesmo quem tinha um cargo, sofria com a falta de acolhimento nas organizações, o que, muitas vezes, é o principal motivo que as leva ao empreendedorismo. Medidas como licença parental, flexibilidade de horários, espaços para lactantes e creches, felizmente, têm sido mais frequentes. Assédio Em pesquisa do Instituto Patrícia Galvão, 76% das entrevistadas já tinham sofrido algum tipo de assédio, violência ou constrangimento no trabalho. As consequências vão da queda no rendimento até depressão. Numa economia cada vez mais digital, as situações de assédio se repetem nas redes corporativas e já chegaram no home office. Violência doméstica O Instituto Maria da Penha avalia que mulheres em situação de violência doméstica faltam ao trabalho em média 18 dias por ano, um prejuízo de aproximadamente R$ 1 bilhão ao País— sem falar nos imensos danos emocionais e afetivos enfrentados por elas. Magazine Luiza e Uber são exemplos de investimentos em prevenção e acolhimento, o que inclui até transferência de sede. 5. A DUPLA JORNADA DE TRABALHO DA MULHER Ao falar sobre a jornada dupla de trabalho da mulher, é inicialmente importante descrever como foi o processo de inserção do gênero feminino no mercado de trabalho. os processos de industrialização no século XX, propiciaram a entrada da mão de obra feminina nas indústrias, mas em uma parcela bem inferior ao que se tem hoje. De acordo com a Fundação Carlos Chagas (2007), apenas 18% exerciam algum tipo de função na década de 70, o que atualmente tem sido relativamente diferente, mesmo com muitas dificuldades, o ingresso das mulheres ao mercado de trabalho cresceu, o que se dá também pelos níveis de escolarização. Deste modo, fica um questionamento pertinente: como as mulheres conciliam seus trabalhos com os afazeres domésticos que é estruturalmente ligado ao gênero, visto que o trabalho doméstico durante muito tempo lhes foi atribuído e que ainda hoje tem reflexos na sociedade? Por mais que existem vários exemplos de mulheres em cargos de altas patentes, os atributos criados estruturalmente pela sociedade em relação a mulher e os ambientes que permeia, como família, trabalho e educação, ainda criam barreiras que consequentemente fazem com que as mulheres ainda tomem responsabilidades para si que poderiam ser compartilhadas, ou porque são, na maioria das vezes a principal fonte de renda familiar. A dupla jornada de trabalho das mulheres, não apenas desencadeia problemas físicos, como também emocionais, é um impasse da busca constantes por espaços não apenas fora do lar, mas dentro dele, pois muitas mulheres que estão inseridas no mercado de trabalho são mães e precisam de certo modo, ter tempo para conseguir acompanhar os dois processos, tanto o de desenvolvimento dos filhos, como manter um lar dentro das questões que englobam qualquer tipo de conforto que tais indivíduos devem ter, assim como estar com um bom currículo mediante as situações solicitas, visto que para estar inserido em ambiente de trabalho é necessário se manter atualizado. Portanto, com estas afirmações, cabe mais um questionamento: quando chega o momento de descanso? É algo muito difícil pois há uma necessidade de estar consonância com mais de um ambiente e buscando o melhor a todo tempo para se manter de pé, o que por consequência ocasiona o está que sendo chamado por este tópico de "jornada dupla de trabalho", que nada mais é do que essa divisão pessoal de mulher X carreira. O que pode ser observado na afirmação de Perez (2001, p.52): Responsáveis pela maioria das horas trabalhadas em todo o mundo, as mulheres, generosamente, cuidam das crianças, dos idosos, dos enfermos, desdobrando-seem múltiplos papéis. Esquecidas de si mesmas, acabam por postergar um debate que se faz urgente: a divisão desigual das responsabilidades da família, a injustiça de sozinha, ter de dar conta de um trabalho de que todos usufruem. Assim, cabe dizer que há uma sobrecarga mediante a responsabilidade, pois recai sobre as mulheres algo que poderia ser compartilhado, sobretudo no ambiente familiar. São diversos papéis atribuídos para espaços de convívio. Como falado anteriormente, por mais que haja um avanço no campo de trabalho relacionado às mulheres, houve também consequências que se entrelaçam aos ambientes ocupados pela mulher, o fardo de possuir mais de responsabilidade caminham entre os antigos e os novos valores , o que pode ser exemplificado nas questões de incentivo ou mesmo desejo de ter uma profissão e ao mesmo tempo ter disponibilidade para conciliar a vida fora dela, a qual se direciona nesse ambiente familiar que "requer" muito atenção, ou melhor dizendo, a mulher toma isso para si e aumenta sua responsabilidade. Por fim, a preocupação de como a mulher exercerá o papel de ser livre e autônoma não deve ser direcionado apenas a ela, mas precisa ser uma revisão do meio social a qual está integra, uma responsabilidade coletiva. 6. TIPOS DE APOIO INSTITUCIONAL QUE A MULHER RECEBE Diante do tópico apresentado a cima venho a apresentar sobre o tema referente à Violência contra as Mulheres, mostrar os serviços que as mulheres recebem de determinadas instituições fornecendo apoio a elas um suporte necessário é exclusivo. Destaco aqui alguns serviços especializados para o atendimento à mulher: - Centros Especializados de Atendimento à Mulher - Casas-Abrigo - Casas de Acolhimento Provisório - Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) - Núcleos ou Postos de Atendimento à Mulher nas Delegacias Comuns - Defensorias Públicas e Defensorias da Mulher (Especializadas) - Juizados Especializados de Violência Domésticas e Familiar contra a Mulher - Promotorias e Promotorias Especializadas - Casa da Mulher Brasileira - Serviços de Saúde Geral e Serviços de Saúde voltados para o atendimento dos casos de violência sexual e doméstica. 7. DIREITOS CONQUISTADOS AO LONGO DA HISTÓRIA 7.1 Mulheres Conquistam O Direito Ao Acesso Às Faculdades Se a possibilidade de ingressar em espaços de educação fundamental já foi tardio para as mulheres, o acesso às faculdades demorou ainda mais. Somente em 1879 é que as portas das universidades foram abertas à presença feminina. Mas isso não impediu que o machismo estrutural da sociedade ainda oprimisse as mulheres que queriam estudar de realizarem seus objetivos, o preconceito ainda foi um mal muito presente na vida das jovens estudantes daquela época. 7.2 Direito Ao Voto Feminino No Brasil Em 1932, o sufrágio feminino foi garantido pelo primeiro Código Eleitoral brasileiro: uma vitória da luta das mulheres que, desde a Constituinte de 1891, pleiteavam o direito ao voto. Essa conquista só foi possível após a organização de movimentos feministas no início do século XX, que atuaram intensa e exaustivamente no movimento sufragista, influenciados, sobretudo, pela luta das mulheres nos EUA e na Europa por direitos políticos. 7.3 Lei Do Divórcio É Aprovada Até o dia 26 de dezembro de 1977, as mulheres permaneciam legalmente presas aos casamentos, mesmo que fossem infelizes em seu dia a dia. Somente a partir da Lei nº 6.515/1977 é que o divórcio se tornou uma opção legal no Brasil. Porém, é importante ressaltar que anos após a validação da lei, as mulheres divorciadas permaneciam vistas com maus olhos pela sociedade. Esta pressão social fez muitas mulheres optarem por casamentos infelizes e abusivos em vez de pedirem o divórcio. 7.4 A Constituição Brasileira Passa A Reconhecer As Mulheres Como Iguais Aos Homens Foi apenas na Constituição de 1988 que as mulheres passaram a ser vistas pela legislação brasileira como iguais aos homens. Somente após as pressões da pauta feminista, aliada com outros movimentos populares que ganharam as avenidas na luta pela democracia, é que conseguiram vencer uma realidade opressora e foram incluídas legalmente como cidadãs com os mesmos direitos e deveres dos homens – pelo menos na Constituição. 8. CARACTERIZANDO A LEI MARIA DA PENHA A Lei Maria da Penha tem por objetivo a penalização, mais rigorosa, da violência ocorrida no ambiente doméstico praticada contra a mulher. A seguir, serão destacadas as causas e consequências que está problemática vem provocando em suas vítimas. Os pontos, com maior relevância, serão apresentados conjuntamente com os avanços trazidos pela nova Lei. Observa-se que a violência doméstica contra a mulher ocorre diariamente, tornando-se um problema social que precisa ser combatido de forma mais rígida para que seja sanado o quanto antes, pois causa danos irreparáveis em muitas mulheres pelo mundo todo, gerando diversos problemas de saúde, dentre eles, o mais grave, é aquele que afeta o psicológico dessas mulheres, causando danos, muitas vezes irreparáveis, que podem durar para o resto da vida. O dispositivo legal em estudo deixa bem claro, em seu artigo 1º, a razão de sua existência, pois além de inibir, cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, conforme determina o parágrafo 8º do artigo 226 da Constituição Federal. Durante muito tempo militantes dos movimentos femininos lutaram para que punições mais severas fossem aplicadas àqueles que agredissem suas esposas e companheiras, no intuito de alcançar penas realmente eficientes que combatessem a violência doméstica no ambiente familiar. No entanto, como este tipo de agressão não era aceita como um crime, medidas mais eficazes para o seu combate demoraram a serem concretizadas, contribuindo para o aumento dos casos e da impunidade para com os agressores. A lei 11.340/06, chamada Lei Maria da Penha, representa uma ousada proposta de mudança cultural e jurídica a ser implantada no ordenamento jurídico brasileiro, na busca da erradicação da violência praticada contra as mulheres. O notável dispositivo legal não tipifica a violência de gênero, mas sim, àquela praticada pelo homem contra a mulher no âmbito doméstico ou familiar e que exponha uma condição de superioridade do agressor e vulnerabilidade da vítima. 8.1 Algumas inovações trazidas pela Lei 11.340/06 A lei 11.340/06 mesmo não sendo perfeita, apresenta-se como um marco histórico no combate à violência doméstica no Brasil. Traz em seu bojo uma estrutura adequada e específica para bem atender a complexidade do fenômeno violência doméstica, trazendo mecanismos de prevenção, assistência às vítimas, políticas públicas e punição mais rigorosa aos agressores. É uma lei que tem cunho educacional e de promoção de políticas públicas e assistenciais, tanto para a vítima quanto para o agressor. Sua intenção não é unicamente punitiva, mas de proporcionar meios de proteção e assistencialismo às vítimas de forma mais eficiente a salvaguardar os direitos humanos dessas mulheres. Em seu Título I, denominado Disposições Preliminares, a referida lei estabelece suas fundamentações, ou seja, os direitos fundamentais da mulher, além de anunciar as condições para o exercício desses direitos, o comprometimento do Poder Público para desenvolver políticas garantidoras do referido direito e as condições para tanto, reconhece ainda, de plano, a hipossuficiência da mulher. Vejamos o que disciplina o Art. 1º a Lei 11.340/06: Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição federal, da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e erradicar a Violência contra a mulher e de outrostratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Verifica-se que no aspecto objetivo, a lei direciona-se especialmente a combater os atos de violência ocorridos no âmbito doméstico, familiar ou intrafamiliar, ao passo que no contexto subjetivo, a preocupação da lei é a proteção da mulher contra os atos de violência praticados por homens ou mulheres com os quais ela tenha ou haja tido uma relação marital ou de afetividade, ou ainda por qualquer pessoa com as quais conviva no âmbito doméstico e familiar. Sérgio Ricardo de Sousa (2008, p.129) em seus comentários à Lei Maria da Penha afirma que “a questão da hipossuficiência quando vista em distintos cenários de um mesmo caso, precisa ser analisado com redobrada cautela, haja vista que na relação vítima-suposto(a) agressor(a), aquela presume-se a parte hipossuficiente e merecedora de ações positivas para equilibrá-la em relação ao seu(a) suposto(a) agressor(a). Contudo, quando a questão deixa a esfera privada e chega a posterior, decorrente da persecução penal (extrajudicial ou judicial) há uma inversão, pois, a relação passa a ser entre o(a) suposto(a) agressor(a) de um lado, e o Estado, do outro (suposto(a) agressor(a) x Estado)”. Para uma melhor análise, podemos dizer que a Lei 11.340/06, prevê: Para a mulher agredida – atendimento em programas assistenciais do Governo Federal, Estadual e Municipal; manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho; proteção policial ou garantia de ser abrigada em local seguro; assistência judiciária gratuita. Para o agressor – detenção de três meses a três anos; encaminhamento a programa de recuperação e reeducação; possibilidade de ter a prisão preventiva decretada a qualquer momento; possibilidade de ser afastado do lar, impossibilidade de substituir a condenação por cestas básicas ou multas. c) Para a estrutura – Criação dos Juizados de Violência Doméstica contra a Mulher; criação de Delegacias de Atendimento à mulher; integração entre Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e as áreas de segurança e assistência. É importante ressaltar a ideologia inovadora presente no artigo 5º da Lei Maria da Penha, ao ampliar o conceito de família e reconhecer como tal as uniões homoafetivas. Nesse cenário a lei admite uma situação que já está presente na sociedade e que vem sendo bastante reproduzida nos meios de difusão cultural. Deste modo o legislador, ao reconhecer a família advinda da união homoafetiva, considerou a realidade social existente e sua evolução, não ficando alheio às relações que envolvem pessoas de diferentes gêneros, das quais também podem derivar a violência doméstica e familiar. Outra modificação importante trazida pela Lei encontra-se no artigo 7º, o qual estabelece e exemplifica as formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, quais sejam: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Apresenta em seu capítulo II, que engloba os artigos 10, 11 e 12, as providências legais cabíveis a serem tomadas pela autoridade policial nos casos de violência doméstica contra a mulher. Essas providências, são de grande importância para o combate à violência doméstica, vez que proporcionam às vítimas maior proteção, fato não observado antes da vigência da referida Lei, pois tudo se resumia a lavratura de BO – Boletins de Ocorrência ou TCO – Termos Circunstanciados de Ocorrência, deixando as vítimas sem qualquer procedimento satisfatório de amparo e proteção. Outra importante inovação observada é que a Lei em comento retira dos Juizados Especiais Criminais a competência para julgar os crimes de violência doméstica contra a mulher, vedando assim, a aplicação das penas culminadas aos crimes de menor potencial ofensivo, ou seja, não há mais como cumprir pena pagando cestas básicas. Ressalte-se que a Lei 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais, não previa nenhuma medida de proteção à vítima, posto que foram criados os Juizados Especiais Criminais com o intuito de desafogar a justiça brasileira e com competência para processar e julgar os crimes considerados de menor potencial ofensivo, com pena não superior a 2 anos. Sendo que, nos casos de violência doméstica as penas aplicadas aos agressores, tais como multas, prestação desserviços à comunidade e doação de cestas básicas, representava para as vítimas um ato de impunidade. Daí a importância da elaboração da Lei Maria da Penha, pois possibilitou a criação de um juizado especializado em violência doméstica. 9. CONCLUSÃO Podemos concluir que a mulher deve possuir o direito de não sofrer agressões no espaço público ou privado, a ser respeitada em suas especificidades e a ter garantia de acesso aos serviços da rede de enfrentamento à violência contra a mulher, quando passar por situação em que sofreu algum tipo de agressão, seja ela física, moral, psicológica ou verbal. É dever do Estado e uma demanda da sociedade enfrentar todas as formas de violência contra as mulheres. Coibir, punir e erradicar todas as formas de violência devem ser preceitos fundamentais de um país que preze por uma sociedade justa e igualitária entre mulheres e homens. REFERÊNCIAS PEREZ, Lícia. Os desafios para o século XXI. In: GALEAZZI, I.M.S. (Org) Mulher e Trabalho. Publicação Especial do Convênio da Pesquisa e Desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA) v. 1, 2001. p. 51-53. FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS. Mulheres, trabalho e família. Disponível em: www.fcc.org.br. Acesso em: 08 de nov. de 2022. Brasil. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado, 2022. DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020. Lei nº.11.340, de 7 de ago. de 2006. Lei Maria da Penha. Cria Mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Disponível em: http: //<www.presidencia.gov.br> Acesso em: 09 nov. 2022. SENADO. LEG.BR: SERVIÇO ESPECIALIZADO DE ATENDIMENTO À MULHER. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/acoes-contra- violencia/servicos-especializados-de-atendimento-a-mulher. Acesso em 09 de out. 2022. DUFLOTH, S. C.; OLIVEIRA, M. F.; RODRIGUES, M.A.; SOUSA, R.R. Construção da Cidadania Feminina: Contribuições do ̈ Pacto Nacional Pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher¨. Revista Internacional Interdisciplinar Interthesi, v. 12, p. 271-291, 2015. MAPA DA VIOLÊNCIA 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil. Brasília, 2015. MARTINS, J.R. A Violência contra a mulher e a Lei Maria da Penha. Revista Direitos Culturais, v. 3, p. 131-142, 2008. OEA. Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher: convenção de Belém do Pará, Brasil. São Paulo: Comitê Latino Americano e do Caribe para Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) / IPÊ, 1996. https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/acoes-contra-violencia/servicos-especializados-de-atendimento-a-mulher https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/acoes-contra-violencia/servicos-especializados-de-atendimento-a-mulher OLIVEIRA, A.C.G.A.; COSTA. M.J.S.; SOUSA, E. S.S. Feminicídio e Violência de Gênero: Aspectos Sócio Jurídicos. Revista Tem@, v.16, p. 21-43, 2015. ORGANIZATION UNITED NATIONS, ONU. Declaration on the Elimination of Violence against Women. The General Assembly, 1993. SILVA, L.L.; COELHO, E.B.S.; CAPONI, S.N.C. Violência Silenciosa: Violência Psicológica como Condição da Violência Física Doméstica. 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