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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA - ARTIGO PRONTO

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA
FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA
FERNANDA RIGHETTO FERNANDES DOS SANTOS
FLÁVIO CÉSAR DE MELLO
LETÍCIA STABENOW
OLIVANIA NUNES DA CRUZ
PAMELA ZIBE MANOSSO
EVOLUÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO EUROPEU SEGUNDO FOUCAULT E SUA RELAÇÃO COM O SISTEMA PENITENCIÁRIO DO BRASIL ATUAL
CURITIBA
2015
FERNANDA RIGHETTO FERNANDES DOS SANTOS
FLÁVIO CÉSAR DE MELLO
LETÍCIA STABENOW
OLIVANIA NUNES DA CRUZ
PAMELA ZIBE MANOSSO
EVOLUÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO EUROPEU SEGUNDO FOUCAULT E SUA RELAÇÃO COM O SISTEMA PENITENCIÁRIO DO BRASIL ATUAL
Artigo científico apresentado como requisito para obtenção de nota para o primeiro semestre da disciplina de Ciência Política do curso de Direito, do Centro Universitário Curitiba. 
CURITIBA
2015
RESUMO
Esse artigo tem por objetivo abordar a evolução do sistema penitenciário na Europa e compará-lo ao sistema penitenciário brasileiro atual, com ênfase em duas perspectivas: ideal e real, tendo como base teórica para a análise o conjunto de proposições teóricas de Foucault, em sua obra Vigiar e Punir (2014). Também se discorrerá nesse artigo acerca de como a disciplina influencia a reintegração dos indivíduos, que uma vez corrompidos e apõs o cumprimento da pena, retornam a sociedade. Ainda, quanto a perspectiva primeira, que versará sobre o ideal da lei acerca da ressocialização das penas, ressaltam-se as garantias constitucionais no tocante a dignidade humana: vida, liberdade, saúde, entre outros. Porém, ao passo que esse princípio fundamental da Constituição Cidadã de 88 é violado devido ao precário funcionamento do sistema prisional brasileiro, e dado que as prisões funcionam não como espaços de disciplina e reorientação do individuo, mas sim, como verdadeiras universidades do crime, tem-se, obrigatoriamente uma segunda perspectiva da lei e de análise, consequentemente, do artigo: a do aspecto real. Dessa forma, com esses elementos, busca-se observar, com esse recorte reduzido, que o descompasso entre o real e o ideal do sistema penitenciário brasileiro que relaciona-se com a Lei Fundamental é causado, provavelmente, pela falta de investimentos e das garantias a dignidade humana disposta na Lei à parcela mais desfavorecida da população, motivo da realimentação do ciclo do crime e da falha, portanto, do sistema penitenciário brasileiro. 
Palavras-chave: Constituição Federal; Sistema penitenciário; Foucault; Disciplina; Ressocialização. 
ABSTRACT
On this article we will talk about the evolution of prison system in accordance with Foucault, in Europe, relating it to the current Brazillian prison system: ideal and real. We are also going to see how discipline influences on the reinstatement of the corrupted individuals back to collecivity, having the constitutional guarantees referring to the right of dignity implying life, freedom, health, among other subjects, notifying that legislation is ideal. However these fundamental laws are not fulfilled, generating a vicious circle of criminality in Brazil. So, we will see how this cycle is fed by the lack of investment to the fraction of population with a low financial condition.
Key-words: 
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
1.INTRODUÇÃO
2.DESENVOLVIMENTO
2.1 EVOLUÇÃO DO SISTEMA PENITENCIARIO SEGUNDO FOULCAUT 
2.1.1 Suplícios como vingança direta do rei para com o criminoso
2.1.2 Privação de direitos ou suspenção deles: diminuição das punições físicas substituindo pela punição á alma.
2.1.3 Punição como papel social com finalidade de transformação do comportamento.
2.1.4 Disciplina e vigilância. 
2.1.5 Panóptico e suas funções.
2.1.6 Delinquência e Prisão. 
2.1.7 Conclusão com base na exposição foulcautiana.
2.2. BRASIL
2.2.1 Princípios constitucionais sobre a dignidade humana: sistema prisional brasileiro ideal.
2.2.2 Método prisional no Brasil real.
2.2.3 Atualidade socioeconômica e sociocultural e a questão do furto famélico
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
1.INTRODUÇÃO
No século XVII o modelo de punição de que o governo se valia eram os suplícios, que representavam a força e a vingança pessoal do soberano em relação aos crimes cometidos. As condições socioculturais da época remetiam a uma espécie de espetáculo em relação à tortura dos condenados. 
A partir do século XIX, segundo Foucault (2014, p.14), “a execução pública é vista então como uma fornalha em que se acende a violência”. A agressão ao corpo deixou de ser uma cena, e se extinguindo, vai sendo substituída pela privação de liberdade com o intuito de “humanização” e diminuição de custos. Sai o corpo, entra o comportamento. Logo, tal comportamento não deve ser mais julgado a partir de uma única visão, e sim por olhares interdisciplinares; “juízes anexos” tomarão parte na causa. 
A punição passa a ser da alma: transformação corretiva através da disciplina. A individualização do condenado em todos os aspectos ganha força para a mudança no comportamento individual, visando à reintegração moral e social. Essa disciplina é manipulada pela politica, através das diversas ferramentas do poder de vigiar, tais como: escolas, hospitais, exércitos e prisões. Os critérios estabelecidos para a conduta humana dentro do âmbito penal são aproveitados para a manipulação da sociedade. As práticas penais são colocadas como anatomia politica. 
Sobre o aspecto brasileiro da aplicação das práticas penais, a realidade desses métodos diverge do ideal disposto na Constituição Federal de 1988. A pobreza extrema que encontramos por diversas partes do país, por exemplo, impede uma parcela grandiosa da população de ter as condições necessárias para compreender a atuação das leis e as restrições que estas possuem sobre elas. Tais condições, entre tantas outras, levam milhares de pessoas, como será visto adiante, a serem enclausuradas em locais estruturados de forma incongruente com a lei. Como se verá, o ideal situado na lei fundamental brasileira não é seguido da forma minimamente razoável.
2. EVOLUÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO SEGUNDO FOUCAULT
2.1 SUPLÍCIOS COMO VINGANÇA DIRETA DO REI PARA COM O CRIMINOSO 
Na Idade Média, por meio das punições corporais, o soberano utilizava de cada contraventor como bode expiatório para as ofensas que esses cometeram ao ir contra a lei e consequentemente, a vontade soberana. As punições viriam, portanto, como ferramenta de vingança direta do poder estatal contra o indivíduo criminoso. Nesse aspecto o julgamento era oculto (2014, p.38 e 39) e feito 
“o mais diligente e o mais secretamente que se pudesse fazer [...]. A forma secreta e escrita do processo confere com o principio de que em matéria criminal o estabelecimento da verdade era para o soberano e seus juízes um direito absoluto e um poder exclusivo. [...] O rei queria mostrar com isso que a ‘força soberana’ de que se origina o direito de punir não pode em caso algum pertencer à ‘multidão’”. 
Porém a execução da pena (punição física) era necessariamente pública, com cunho espetacular: teria a função de amedrontar o povo tornando-o submisso, induzindo-o a concordar com as decisões tomadas através medo. Simultaneamente, impediria a existência de novos delitos nocivos à manutenção do poder (2014, p.45), “o sofrimento regulado da tortura é ao mesmo tempo uma medida para punir e um ato de instrução”.
Esses suplícios, porquanto, tratavam-se da tortura de pessoas em decorrência de suas práticas reprováveis, em aspectos individualizados, tendo como base o que o soberano afirmava ser incorreto, e de certa forma era a coroação do poder do soberano usando sua força quando contrariado com finalidade de vingança (2014, p.50): “É um cerimonial para reconstruir a soberania lesada por um instante”. A aplicação dessas penas, segundou Foucault, estaria diretamente ligada às provas que incriminariam o indivíduo e justificariama execução do suplício em menor ou maior severidade de acordo com a quantia de provas levantadas sobre o caso. Assim, as penas corporais deviriam ter equivalência entre a natureza do crime e o sofrimento durante a tortura. 
“O suplicio repousa na arte quantitativa do sofrimento. Mas não é só: esta produção é regulada. O suplicio faz correlacionar o tipo de ferimento físico, a qualidade, a intensidade, o tempo dos sofrimentos com a gravidade do crime, a pessoa do criminoso, o nível social de suas vitimas. Há um código jurídico da dor; a pena é supliciante, não se abate sobre o corpo ao acaso ou em bloco; ela é calculada de acordo com regras detalhadas”. (FOUCAULT, 2014, p.37):
O triunfo da justiça era então marcado pelo cálculo da dor. O justo perante a sociedade era o sofrimento do culpado e o ressarcimento com o soberano:
“E pelo lado da justiça que o impõe, o suplicio deve ser ostentado por todos, um pouco como seu triunfo. O próprio excesso das violências cometidas é uma das peças de sua gloria: o fato de o culpado gemer ou gritar com os golpes não constitui algo de acessório e vergonhoso, mas é o próprio cerimonial da justiça que se manifesta em sua força. Por isso sem duvida é que os suplícios se prolongam ainda depois da morte. Cadáveres queimados, cinzas jogadas ao vento, corpos arrastados na grade, expostos à beira das estradas. A justiça persegue o corpo além de qualquer sofrimento possível. (FOUCAULT, 2014, p.37):
Dessa forma, é visto como meio de obter a justiça e a verdade. Além disso, é também um ritual politico: cerimônia de demonstração de poder. A visão para com o soberano é, portanto, de poder a ser respeitado, pois só ele detém as rédeas da justiça (2014, p.39): “Diante da justiça do soberano, todas as vozes devem-se calar”.
2.1.2 PRIVAÇÃO DE DIREITOS OU SUSPENSÃO DESSES: DIMINUIÇÃO DAS PUNIÇÕES FÍSICAS SENDO SUBSTITUÍDAS PELA PUNIÇÃO À ALMA
Com o passar dos anos, a ambiguidade de perspectivas e a mudança gradativa de fatores socioeconômicos na sociedade europeia, a população já não aprovava com a veemência de outrora o procedimento utilizado pelo aparelho estatal para a execução das penas. O condenado seria visto agora pela sociedade como uma vítima que caiu nas mãos do carrasco cruel, responsável pelo sofrimento injusto do “herói” que conseguiu atingir o poder do Estado, assim representando as insatisfações populares com elementos expressivos da época. Houve, portanto, uma transição da aplicação ampla dos suplícios nos condenados para uma postura diferenciada (“humanização”), através da privação de direitos ou suspensão desses 
”Dentre tantas modificações, atenho-me a uma: o desaparecimento dos suplícios. Hoje existe a tendência a desconsidera-lo; talvez, em seu tempo, tal desaparecimento tenha sido visto com muita superficialidade ou com exagerada ênfase como ‘humanização’ que autorizava a não analisá-lo. [...] Punições menos diretamente físicas, uma certa discrição na arte de fazer sofrer, um arranjo de sofrimentos mais sutis, mais velados e despojados de ostentação, merecerá tudo isso acaso um tratamento à parte, sendo apenas o efeito sem duvida de novos arranjos com maior profundidade? No entanto, um fato é certo: em algumas dezenas de anos, desapareceu o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto, dado como espetáculo. Desapareceu o corpo como forma principal da repressão penal”. (FOUCAULT, 2014, p.13):
A partir do quadro mencionado, os infratores passavam a ser punidos de forma mais “incorporal”, pois agora o interesse maior seria modificar o seu comportamento, não mais exibi-lo à sociedade como um troféu da justiça (2014, p.89): “o direito de punir deslocou-se da vingança do soberano à defesa da sociedade”. Foucault chama isso em seu livro de punição à “alma” do réu, na qual a análise deixaria de residir somente no crime praticado, mas também nos processos internos que levariam tal pessoa a atuar criminosamente. Essa modificação agiu diretamente na atuação dos magistrados da época, os quais deixaram de ter o julgamento unificado em sua pessoa pelo fato de não serem suficientes para definir as causas e o fins que deveriam tomar os infratores. A partir desse momento, “juízes anexos” tomarão parte do processo de julgamento penal:
“Por efeitos dessa nova retenção, um exército inteiro de técnicos veio substituir o carrasco, anatomista imediato do sofrimento: os guardas, os médicos, os capelães, os psiquiatras, os psicólogos, os educadores; por sua simples presença ao lado do condenado, eles cantam à justiça o louvor de que ela precisa: eles lhe garantem que o corpo e a dor não são os objetos últimos de sua ação punitiva. [...] [E o juiz] não julga mais sozinho. Ao longo do processo penal, e da execução da pena, prolifera toda uma série de instâncias anexas”.(FOUCAULT, 2014, p. 16)
E com essa nova postura, o caráter das condenações perde a intenção de ser definitivo, mas apenas provisório: ideia de que esse tipo de decisão levará a uma reinserção do criminoso em sociedade, doutrinando-o para agir de maneira a respeitar as leis e aos dispositivos estatais.
Ocorre que, mesmo a visão sobre as práticas punitivas do corpo tendo mudado no decorrer dos anos, este ainda resta como um objeto que agora é afetado de maneira diferente, mas não menos importante: o corpo passa a ser objeto político de poder e dominação, operado a partir de uma tecnologia política na qual o poder em questão se exerce mais do que se possui, significando que muitas vezes o modo como o dominado reage às ações dos dominantes poderá reconduzir os efeitos dessa relação.
2.1.3 PUNIÇÃO COMO PAPEL SOCIAL COM FINALIDADE DE TRANSFORMAÇÃO DO COMPORTAMENTO
Para o autor (2014, p.107): “No antigo sistema, o corpo dos condenados se tornava coisa do rei, sobre a qual o soberano imprimia sua marca e deixava cair os efeitos de seu poder. Agora, ele será antes um bem social, objeto de uma apropriação coletiva e útil”.
Observando-se, agora, no tocante aos centros de punição, a “heroicização” do criminoso levou o Estado, como citado acima, a mudar a abordagem do marginal, o que inclui o seu isolamento da sociedade, pois nesse momento o interesse primordial passa a ser a transformação dele em um ser benéfico à agremiação social na qual ele se encontra. O interesse governamental passa a ser, inclusive, nos efeitos positivos aos quais a carceragem bem estruturada e regulamentada trará simultaneamente à correção de seu comportamento.
Temos agora os olhos voltados para a transformação interna do detento, que irá resultar em um comportamento benéfico para si e para a sociedade. O ar de punição penal toma portanto uma terceira postura, segundo a qual o ato de vigiar e punir se torna ainda mais individualizante, em que se sabe exatamente dos passos de um criminoso em detenção, e que se impedirá veementemente a volta deste ao mundo do crime, pois (2014, p.229)
“Não somente a pena deve ser individual, mas também individualizante. [...] Em primeiro lugar, a prisão deve ser concebida de maneira a que ela mesma apague as consequências nefastas que atrai ao reunir num mesmo local condenados muito diversos [...] (FOUCAULT, 2014, p. 25).
A repreensão adota a sua característica fundamental nesse momento: os menores gastos e os maiores resultados possíveis, conforme o emprego mais frequente do autor para a palavra “economia” no que tange às penas aplicadas, e esta economia se dá através da disciplina.
2.1.4 DISCIPLINA E VIGILÂNCIA
Até agora abordamos três linhas de punição: o suplicio do corpo, a mudança da “alma” e a transformação do comportamento. Mesmo a partir do século XVII, passava a se formar a ideia do soldado disciplinado segundo as vontades e necessidades do sujeito de poder que o estava condicionando, vindo este sistema a aflorar nos séculos seguintes. Essa mudança começou a se mostrar bastante comum tanto na área militar quanto nas áreas religiosa, escolar e hospitalar a partir do momento em que se percebeu as vantagens de unir a utilidade deum corpo à sua obediência, (2014, p.167): “O poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de apropriar e de retirar, tem como função maior ‘adestrar’; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor”. Então a ideia de modificar o comportamento de um detento para que este não cometa mais crimes e não influencie a sociedade com seu mau exemplo foi especificada para a prática da manipulação, através da aplicação do poder, do comportamento dos corpos afim de que estes ajam obedientemente e utilmente. Trata-se da disciplina dos corpos dóceis: um corpo que pode ser submetido, utilizado, transformado e aperfeiçoado. Tais procedimentos são exemplificado por Foucault ao mostrar que, no campo militar “os recrutas são habituados a (2014, p.133, Ordenação de 20 de março de 1764 apud Foucault)
manter a cabeça ereta e alta; a se manter direito sem curvar as costas, a fazer avançar o ventre, a salientar o peito, a encolher o dorso; e a fim que se habituem, essa posição lhes será dada apoiando-os contra um muro, de maneira que os calcanhares, a batata da perna, os ombros e a cintura encostem nele, assim como as costas das mãos, virando os braços para fora, sem afastá-los do corpo... ser-lhes-á igualmente ensinado a nunca fixar os olhos na terra, mas a olhar com ousadia aqueles de quem eles passam... a ficar imóveis esperando o comando, sem mexer a cabeça, as mãos nem os pés... Enfim a marchar com passos firmes, com o joelho e a perna esticados, a ponta baixa e para fora [...]”. 
 
A partir disso ocorre a manipulação da sociedade para fins políticos: a anatomia do detalhe (2014, p.135) 
“implica numa coerção ininterrupta, constante, que vela sobre os processos da atividade mais que sobre seu resultado e se exerce de acordo com uma codificação que esquadrinha ao máximo o tempo, o espaço e os movimentos. Esses métodos que permitem o controle minucioso da operação dos corpos, que realizam a sujeição constante de suas forças, lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos chamar as ‘disciplinas’”.
Também nesse campo, percebeu-se a necessidade de aplicar a técnica disciplinar a partir da minuciosidade de detalhes nas práticas, pois assim se poderia chegar a um objetivo maior: estruturar a máquina do poder, não deixando escapar quaisquer detalhes do processo disciplinar. A tal processo soma-se a necessidade de organizar um sistema no qual seja possível a atuação individual e funcional assim como a vigilância de todos os envolvidos. Para que se possa facilitar o controle sobre um maior número de pessoas, se vê necessária uma hierarquização desses elementos com base em diversos fatores, e esse método torna viável não somente um comando mais efetivo sobre os corpos, mas também se evita conflitos e discordâncias prejudiciais ao sistema. Através da organização sistemática e detalhada dos corpos em uma área predefinida e obedecendo a horários e ordens dados, é mais fácil observar (vigiar) cada indivíduo com o foco e atenção mais detalhados possíveis. Trata-se de ligar o singular ao múltiplo, fazendo com que cada indivíduo envolvido seja tratado com uma célula constituinte em um conjunto mais complexo
“Em resumo, pode-se dizer que a disciplina produz, a partir dos corpos que controla, quatro tipos de individualidade, ou antes uma individualidade dotada de quatro características: é celular [...], é orgânica [...], é genética [...], é combinatória [...]. [...] A tática, arte de construir, com os corpos localizados, atividades codificadas e as aptidões formadas, aparelhos em que o produto das diferentes forças se encontram majorado por sua combinação calculada é sem dúvida a forma mais elevada da prática disciplinar” (FOUCAULT, (2014, p.164):
Pode-se estabelecer uma relação direta entre poder, tempo e repetição exaustiva. O tempo mostra-se muito útil na função de ordenar as ações humanas, e esse tempo, utilizado constantemente, se mostrando funcional e eficiente é espelho da atuação do poder sobre os homens. Além disso, é importante que seja construído um esquema que permita e exija a repetição constante das atividades hierarquicamente distribuídas entre os homens. Como já foi citado, o individuo coagido segundo suas aptidões é colocado no sistema de acordo com o melhor efeito que possa gerar nele (2014, p.167): “A disciplina ‘fabrica’ indivíduos; ela é a técnica especifica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de seu exercício”.
Além disso, (2014, p.238, LUCAS, ch. In: Gazette des tribunaux, 06/04/1837 apud Foucault) “o importante é apenas reformar o mau. Uma vez operada essa reforma, o criminoso deve voltar à sociedade”, para assim, quando o individuo transformar-se, exercer a disciplina que lhe foi coercitivamente ensinada, sendo novamente útil à coletividade. 
2.1.5 PANÓPTICO E SUAS FUNÇÕES 
Em certa altura de seu volume sobre o nascimento das prisões, Foucault levanta o sistema panóptico 
“O Panóptico de Bentham é a figura arquitetural dessa composição. O principio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo ás janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado ou um escolar”. (FOUCAULT, 2014, p.194):
	Sendo assim, o modelo Panóptico seria um modelo em que a sociedade inteira teria o poder de vigiar e participar da “prática punitiva”. O poder é exercido automaticamente partindo do pressuposto de que se está sendo vigiado o dia inteiro, todos os dias, mesmo não o sabendo. É um item de transmissão de disciplina, sem necessidade de se recorrer à força, atribuindo maiores efeitos com menores esforços. Ademais, esse sistema de vigilância se aplica não somente no âmbito prisional, mas sobre todos os estabelecimentos da sociedade. É acessível a qualquer um vigiar e ser vigiado.
 “É polivalente em suas aplicações: serve para emendar os prisioneiros, mas também para curar os doentes, instruir os escolares, guardar os loucos, fiscalizar os operários, fazer trabalhar os mendigos e ociosos. É um tipo de implantação dos corpos no espaço, de distribuição dos indivíduos em relação mútua, de organização hierárquica, de disposição dos centros e dos canais de poder, de definição de seus instrumentos e de modos de intervenção, que se podem utilizar nos hospitais, nas oficinas, nas escolas, nas prisões. Cada vez que se trata de uma multiplicidade de indivíduos e que se deve impo uma tarefa ou um comportamento, o esquema panóptico poderá ser utilizado.” (FOUCAULT, 2014, p.199).
	Esse jogo de manipulação ganha força quando se permite ao panóptico ser usado em todo o âmbito social. A disciplina sai do foro interno das prisões sorrateiramente, sai da aplicação somente aos presos para o foro externo, penetrando na sociedade como forma de poder invisível, visando o controle dessas. Essa vigilância, segundo Foucault, permite o melhor funcionamento da sociedade, permitindo as instituições assumirem tarefas como medir, controlar e corrigir anomalias, tornando as forças sociais maiores (FOUCAULT, 2014, p.201): “O esquema panóptico, sem se desfazer nem perder nenhuma de suas propriedades, é destinado a se difundir no corpo social; tem por vocação tornar-se aí uma função generalizada”.
2.1.6 PRISÃO E DELINQUÊNCIA
A prisão vira a escola da disciplina. Há agora a distinção dos criminosos por meio de novos processos de individualização: entender as razões do crime cometido no interior da pessoa analisada. Essa distinção se dá entre infrator e delinquente a medida de sua culpa. O infrator é visto como objeto de saber possível, apenas um ato faltoso. Já o delinquente é visto como aquele que tem a pré-disposição natural ao crime e deve serestudado, pois sua vida tem certa afinidade crime-criminoso a qual devemos analisar 
 “O delinquente se distingue do infrator pelo fato de não ser tanto seu ato quanto sua vida o que mais o caracteriza [...] se distingue também do infrator pelo fato de não somente ser o autor de seu ato, mas também de estar amarrado a seu delito por um feixe e fios complexos (instintos, pulsões, tendências, temperamento)”. (FOUCAULT, 2014, p.245 e 246).
E os delinquentes, segundo a perspectiva da criminologia, são dividos em três tipos, segundo Foucault: perversos, indiferentes e incapazes; seus modos de tratamento são segundo suas necessidades, visto que não se aceita mais o mesmo tipo de tratamento para infratores e delinquentes, pois a idéia de transformação da pessoa conforme o tipo de crime que esta cometeu não aceita mais a padronização de tratamento entre criminosos natos e infratores casuais.
Como Foucault expõe, há quem diga que as prisões podem ser um grande produtor de delinquentes, resultado dos olhos negligentes da justiça atuante por meio de juízes, mas somente na medida em que coloca delinquentes e infratores sob o mesmo tratamento, tornando, assim, a proposta de transformação do homem ineficaz, (2014, p.249): “A delinquência é a vingança da prisão contra a justiça”.
 
2.7 CONCLUSÃO COM BASE NA EXPOSIÇÃO FOULCAUTIANA.
Com a rica exposição dos fatos e argumentos colocados por Foucault sobre a elaboração de métodos efetivos no trato de infratores e delinquentes, pode-se concluir a partir de seu raciocínio: com a nítida necessidade de regulamentação (registro de particularidades, origem cultural, econômica e social de uma pessoa delituosa), o aperfeiçoamento da vigilância individualizante não teve outro caminho senão a disseminação de seus procedimentos por toda a sociedade. Em suma, notou-se como o controle sobre esse grupo de pessoas pode também ser útil a cidadãos aos quais não se aplique nenhum tipo de contravenção penal. Deste modo, o Panóptico de Bentham, glorificado por Foucault como uma ferramenta “maravilhosa” de controle, entra neste contexto como um modelo comum a todo meio social imaginável, um instrumento de disciplina muito bem estruturado, no qual o poder existe e facilmente se aplica
“O que agora é imposto à justiça penal como seu ponto de aplicação, seu objeto ‘útil’, não será ,mais o corpo do culpado levantado contra o corpo do rei; mas o individuo disciplinar. O ponto extremo da justiça penal no Antigo Regime era o retalhamento infinito do corpo do regicida, cuja destruição total faz bilhar o crime em sua verdade. O ponto ideal da penalidade hoje seria a disciplina infinita: um interrogatório sem termo, um inquérito que se prolongasse sem limites numa observação minuciosa e cada vez mais analítica, um julgamento que seja ao mesmo tempo a constituição de um processo nunca encerra, o amolecimento calculado de um pena ligada a curiosidade implacável de um exame, um procedimento que seja ao mesmo tempo a medida permanente de um desvio em relação a uma norma inacessível e o movimento assintótico que obriga a encontrá-la no infinito. O suplício completa logicamente um processo comandado pela Inquisição. A ‘observação’ prolonga naturalmente uma justiça invalida pelo métodos disciplinares e pelos processos de exame. Acaso devemos nos admirar que a prisão celular, com suas cronologias marcadas, seu trabalho obrigatório, suas instancias de vigilância e de anotações, com seus mestres de normalidade, que retomam e multiplicam as funções do juiz, se tenha tornado o instrumento moderno da penalidade? Devemos ainda nos admirar que a prisão se pareça com as fabricas, com as escolas, com os quarteis, com os hospitais, e todos se pareçam com as prisões? (FOUCAULT, 2014, p.218 e 219”
Vale ressaltar, também, que o autor revela um critério legal claramente falho no tocante à aplicação geral e comum da lei penal, porque no momento em que um indivíduo mais abastado na sociedade comete infrações à lei, o desfecho de tal situação não confere com o esperado. É, em virtude disso, obrigatório abordar o claro desnível social amparado em uma estratificação que se formou no decorrer de séculos e que nesses momentos mais atuais se mostra determinante no trato de criminosos de origens diversas. O fato é: quem vai contra a lei deve sofrer sanções. A realidade diverge: quem vai contra lei acaba sendo em realidade dividido inicialmente segundo a sua posição social e condição financeira. Em resumo, a lei penal não pode em nenhuma instância ser considerada como igual a todos. A isonomia (todos sendo iguais perante a lei) não se aplica na prática 
“que nessas condições seria hipocrisia ou ingenuidade acreditar que a lei é feita para todo mundo em nome de todo mundo; que é mais prudente reconhecer que ela é feita parra alguns e se aplica a outros; que em princípio ela obriga a todos os cidadãos, mas dirige principalmente às classes mais numerosas e menos esclarecidas”.(FOUCAULT, 2014, p. 270),
2.2 BRASlL
	No Brasil, há um impasse quanto ao objetivo e ao ideal do sistema penitenciário no geral. No tocante ao objetivo sistema penitenciário ideal, as penas devem reeducar o sujeito de modo a reinseri-lo na sociedade. No entanto, quanto a realidade da aplicação dessas penas, por fatores diversos como: opressão social, pobreza, exclusão econômica, intelectual, a marginalização do sujeito causada pelo seu lugar de origem, preconceitos étnico-sociais, entre outros padrões de diferenciação morais e políticos estabelecidos pela sociedade, provocam o distanciamento do ideal da disciplina e da reinserção do sujeito orientado novamente a sociedade, após o cumprimento da pena. Esse tópico será apresentado abaixo em duas seções a seguir. 
2.2.1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS SOBRE A DIGNIDADE HUMANA: SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO IDEAL.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 idealiza princípios constitucionais para o cidadão no artigo 5º que dizem respeito a dignidade humana. Dentre eles, pode-se citar aqueles contidos nos incisos XLVI, XLVII e XLVIII[footnoteRef:1]. Estes incisos remetem à individualização da pena com a privação ou restrição da liberdade, a prestação social alternativa e a suspensão e interdição de direitos. Do mesmo modo, esses princípios também restringem penas de morte e penas de caráter perpétuo; veta trabalhos forçados ou cruéis e estabelece que as penas devem ser cumpridas em estabelecimentos distintos, de acordo com o sexo. [1: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:[...] XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; [...]
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos; 
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;] 
É possível, a partir da injunção do texto da lei, comparar esse sistema de disciplina do sistema penal brasileiro ao sistema penal retratado por Foucault, em Vigiar e Punir (2014), o qual também é essencialmente disciplinar. Quanto ao ideal do sistema prisional, nos dois sistemas mencionados, o objetivo da disciplina é, portanto, de reinserir o indivíduo na sociedade, reeducá-lo, reorientá-lo, indicar-lhe os rumos corretos a serem seguidos após sua disciplinarização (adestramento do corpo). Após cumprir a penapara com o Estado, a transformação do indivíduo exposta por Foucault estaria feita, uma vez que o ex-detento já estaria “apto” a viver em sociedade e assim concebe também o sistema penal brasileiro, a grosso resumo. 
2.2.2. MÉTODO PRISIONAL NO BRASIL: REAL.
A explanação anterior incide diretamente sobre a ideia foucaultiana de transformação do comportamento humano, no entanto, tal idealização não coaduna com os aspectos observados na realidade brasileira, uma vez que, constatada a alta reincidência dos presidiários, pois estes voltam a cometer os mesmos atos de cunho criminoso em virtude do sistema penitenciário não cumprir seu papel social de reeducar o sujeito de modo a recolocá-lo, disciplinado, em sociedade. .
Além disso, os presídios brasileiros apresentam um problema estrutural e organizacional que concerne a falta de humanidade nesses locais, haja vista o acúmulo de detentos em selas, superpopulação carcerária, falta de proteção a individualidade, violação da privacidade, falta de higiene, doenças em geral[footnoteRef:2]. Para ilustrar a contradição entre o ideal da lei e a realidade penitenciária do país, vale lembrar que a Lei de Execução Penal dispõe, no artigo 88, sobre a exigência legal das celas de serem individuais, com área mínima de seis metros quadrados, enquanto que, no artigo 85, da mesma Lei, está prevista a obrigatoriedade de ser compatível o espaço físico do presídio e sua capacidade de lotação. Eis os fatos reais sobre a situação no país, de acordo com Reis e Velasco (2014): [2: Sobre o assunto, versou primorosamente Drauzio Varella, em Estação Carandiru.. ] 
“O Brasil tem hoje um déficit de 200 mil vagas no sistema penitenciário. Um levantamento feito pelo G1 com os governos dos 26 estados e do Distrito Federal mostra que a população carcerária atual é de 563.723 presos. Só há, no entanto, 363.520 vagas nas unidades prisionais do país.”(VELASCO, Thiago. REIS, Clara. 2014). 
Dessa maneira nunca seria possível o bom gerenciamento de um contingente tão grande aprisionado em locais impróprios. Segundo a Constituição Cidadã de 1988 é garantida a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Com a liberdade já restringida, o Estado, por direito, deveria oferecer aos presos condições iguais entre si, para que, através de métodos bem aplicados de disciplina diários, estes possam retornar recuperados à sociedade de maneira que não somente deixem de cometer atos delituosos, mas também sejam úteis ao aparelho estatal, reinseridos no mercado de trabalho e dessa forma saindo da vida criminal de uma vez por todas.
Porém, a discriminação com os ex-presidiários cuja ficha criminal esteja manchada no âmbito social não favorece a reintegração, gerando um ciclo de reincidência ao crime. Na realidade, o ex-detento não recebe a mínima orientação necessária para se portar com a retidão esperada de alguém que tenha passado por um processo corretivo. E, ao se encontrar sob a dominação de uma instituição carcerária, não encontra sequer condições dignas para manter uma saúde razoável, uma segurança que preserve a sua vida, alimentos diários e nutritivos o suficiente para que esta mantenha uma condição o mínimo sustentável. 
2.2.3. ATUALIDADE SOCIOECONOMICA E SOCIOCULTURAL E A QUESTÃO DO FURTO FAMÉLICO.
Falando sobre as diferenças sociais presentes na história do Brasil, há de se convir que a grande maioria dos infratores que acabam por aumentar a população de detentos nos presídios é de origem pobre. De acordo com Camargo (2006): 
”Como no resto do mundo é formada por jovens, pobres, homens com baixo nível de escolaridade. Pesquisas feitas sobre o sistema prisional indicam que mais da metade dos presos tem menos de trinta anos, 95% são pobres, 95% são do sexo masculino e 2/3 não completaram o primeiro grau, sendo 10,4% analfabetos”. (CAMARGO, Virginia, 2014. Realidade do Sistema Penal do Brasil. 2006)
Foucault ressalta essa característica para analisá-los segundo a sua ignorância das normas passíveis de punição em caso da sua violação. A começar pela falta de instrução do Estado para as classes mais baixas, como levantado anteriormente. Podem ser citadas também as más condições com que essa parcela pobre da população vive cotidianamente, não sendo as instituições de disciplina eficazes sobre elas. 
A falta de alimentos, um fato presente na vida do pobre cidadão brasileiro, muitas vezes pode levá-lo a tomar medidas extremas que vão contra a própria lei afim de assegurar a sua sobrevivência. O furto famélico, em Arruda (2014) é um exemplo básico: 
“O furto famélico ocorre quando alguém furta para saciar uma necessidade urgente e relevante. É a pessoa que furta para comer pois, se não furtasse, morreria de fome. Mas o furto famélico não existe apenas para saciar a fome. Alguém que furta um remédio essencial para sua saúde, um cobertor em uma noite de frio, ou roupas mínimas para se vestir, também pode estar cometendo furto famélico. O furto famélico não é crime porque a pessoa age em estado de necessidade: para proteger um bem jurídico mais valioso – sua vida ou a vida de alguém – a pessoa agride um bem jurídico menos valioso – a propriedade de uma outra pessoa“. (ARRUDA. Sande N. 2014) 
Em virtude da extrema pobreza de uma fração numerosa da população, um dos mais frequentes meios para que se possa fugir da fome, como citado, será por meio do furto. Logo, mostra-se errôneo afirmar que o motivo pelo qual a maioria dos detentos no Brasil atual é de origem pobre se sustenta a partir do argumento de que tais pessoas possuem uma tendência natural a irem contra a lei. 
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos fatores apresentados neste artigo, pode-se concluir que, analisando os métodos apresentados por Foucault em seu livro sobre o nascimento das prisões, os efeitos sociais demonstrados pelo autor se mostraram benéficos à medida que a sociedade se desenvolveu e modificou os seus costumes. A enumeração de táticas disciplinares foucaultianas é um exemplo dos diferentes modos como se poderá fazer com que muitas pessoas sejam controladas pelo Estado. 
É um problema o fato de o ideal Constitucional brasileiro ser muito bem estruturado, porém mal executado. Há diferentes falhas constatáveis no sistema carcerário atual: superpopulação, higiene precária, falta de investimentos para a enorme demanda e falta de fiscalização no meio penitenciário. A partir daí pode-se concluir que é necessária uma aplicação das leis, pois elas estão instituídas para serem cumpridas, e não somente para existirem sendo negligenciadas. O pouco interesse, também, nos campos policial e fiscal da sociedade brasileira é um grande fator para que várias facções criminosas possuam seus centros de comando dentro dos presídios. Esse processo leva, consequentemente, à corrupção da polícia que já não se vê mais motivada a compor o sistema penal de forma efetiva e benéfica. Penitenciárias tão desumanas que levam homens e mulheres infratores a se tornarem mais corrompidos do que eram quando entraram não podem, em nenhuma instância, corresponder a maneiras corretas de se disciplinar uma fração desviada da população e torná-la útil ao conjunto social após a expiação de seu comportamento delituoso.
A proposta de ressocialização individual do sistema prisional brasileiro, em vista do que foi apresentado, só poderá atingir os seus objetivos utopicamente se o quadro atual continuar existindo. A prisão não reeduca, não reorienta, não guia o meliante entre o povo que age corretamente e na retidão das leis. De uma estalagem animalesca e omissa só poderão sair criminosos ainda mais ardilosos. Portanto, o que temos por escrito é faltoso na execução.
Além disso, é importante ressaltar que, sendo esse artigo fruto de um trabalho de primeiro período do curso de Direito, a análise resultante do tema da realidade do sistema penitenciário brasileiro é superficial e carece de aprofundamento, porém, é necessário o enriquecimento do leque teórico a respeito do campo do Direito Penal, cuja área ainda nãoestamos maduros teoricamente para desenvolver. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARRUDA, Sande Nascimento de. Sistema carcerário brasileiro. Revista Visão Jurídica. Disponível em: <http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/59/artigo213019-2.asp>. Acesso: 26 mar.2015.
BRASIL. Constituição (1988). Art. 5º incisos XLVI, XLVII, XLVIII. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 06 abr 2015, às 19h30min.
VARELLA, Drauzio. Estação Carandiru. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
CAMARGO, Virgínia. Realidade do sistema prisional brasileiro. Âmbito jurídico. Disponível em:<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1299>. Acesso em: 23 mar.2015. 
FOLHA DE SÃO PAULO; UOL. Furto famélico. Disponível em: <http://direito.folha.uol.com.br/blog/furto-famlico>. Acesso: 26 mar.2015
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 42. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
REIS, Thiago; VELASCO,Clara. Brasil tem hoje deficit de 200 mil vagas no sistema prisional. G1. Disponível em: < http://g1.globo.com/brasil/noticia/2014/01/brasil-tem-hoje-deficit-de-200-mil-vagas-no-sistema-prisional.html>. Acesso em: 2 abr.2014.

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