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Introdução Alterações na pele do recém- nascido Congênitas ou adquiridas no período perinatal- Transitórias ou permanentes- Dificuldades no exame da pele Pele avermelhada- Presença de icterícia- Exame da pele Inspeção, palpação e ausculta- Deve ser parte da rotina do exame físico- Características das dermatopatias neonatais Maioria benigna e transitória- Algumas sinalizam infecções sistêmicas ou doenças genéticas- Importância do reconhecimento correto Tratamento precoce em casos de alta mortalidade- Evitar exames desnecessários e ansiedade para os familiares em casos transitórios - Prevalência de Dermatopatias no Período Neonatal Variação na prevalência 57 a 99,4% de alterações cutâneas- Depende da metodologia, características climáticas e geográficas- Estudo com 1.000 RN 99% apresentavam alterações cutâneas- Hiperplasia sebácea, mancha salmão, hipertricose, bolha de sucção e cistos palatinos - Estudo brasileiro com 2.530 neonatos 95,8% apresentavam dermatopatia- Lanugo, hiperplasia sebácea, melanocitose dérmica, descamação fisiológica, eritema tóxico neonatal e mancha salmão - Outro estudo brasileiro com 350 RN 94,8% apresentavam dermatopatias- 84,6% com 2 ou mais- Hiperplasia sebácea, lanugo, mancha salmão, verniz caseoso e miliária cristalina - Importância do reconhecimento Variação na frequência em diferentes estudos- Relevante para pediatras e neonatologistas- Dermatopatias com pápulas, vesículas e pústulas Importância do reconhecimento Condições variam entre transitórias/benignas e ameaças à vida (ex: herpes neonatal)- Diferenciar características clínicas é crucial- Dermatopatias transitórias e características evolutivas Eritema tóxico neonatal (30-50%) Início: 1-4 dias- Duração: poucos dias- Melanose pustulosa transitória neonatal (rara) Início: nascimento- Duração: dias (pústulas); semanas (máculas pigmentadas)- Hiperplasia sebácea (50%) Início: nascimento- Duração: primeiro mês- Cistos de mília (40%) Início: primeiras semanas- Dermatopatias Neonatais Página 1 de Medicina 2 Início: primeiras semanas- Duração: poucas semanas- Miliária (3-5%) Início: 5-8 dias- Duração: poucos dias- Bolhas de sucção (rara) Início: nascimento- Duração: poucos dias- Erupções transitórias benignas Eritema tóxico neonatal Autolimitado, benigno e assintomático- Incidência: 20-60% dos recém-nascidos a termo- Início: 2º ou 3º dia de vida- Lesões: vesículas, pápulas e pústulas com halo eritematoso - Evolução: involução espontânea em 7 dias- Orientação: assegurar a mãe sobre a benignidade da alteração cutânea - Melanose pustulosa transitória neonatal Dermatose benigna e autolimitada- Incidência: menos de 1-4% dos recém-nascidos- Mais comum em fototipos V e VI- Lesões: vesicopústulas e manchas hipercrômicas- Evolução: melhora espontânea, sem lesões residuais- Tratamento: não requer tratamento- Hiperplasia sebácea Lesões papulares amareladas no dorso nasal e região malar - Frequente: 50% dos recém-nascidos de termo- Causa: hormônios maternos androgênicos- Evolução: desaparecem no 1º mês de vida- Página 2 de Medicina 2 Cistos de mília Cistos de inclusão epidérmica- Frequência: 50% dos recém-nascidos- Lesões: pápulas peroladas e endurecidas- Localização: região frontal, mento e região genital- Tratamento: não necessário- Miliária Causa: sudorese e obstrução das glândulas sudoríparas- Mais frequente em climas quentes, estados febris e uso excessivo de agasalhos - Miliária cristalina: vesículas superficiais sem eritema- Miliária rubra: pápulas avermelhadas e inflamatórias- Tratamento: evitar aquecimento excessivo, usar roupas adequadas e manter local fresco - Bolhas de sucção Bolhas solitárias ou erosões no dorso dos dedos ou mãos- Causa: sucção vigorosa pelo recém-nascido intrauterino- Evolução: desaparecem em poucos dias- Orientação: higiene local adequada- Dermatopatias vesicopustulares causadas por agentes infecciosos Herpes neonatal Grave se não diagnosticada e tratada precocemente- Transmissão: intraútero, parto, pós-natal- Lesões: vesículas, pápulas eritematosas, pústulas, crostas hemáticas - Complicações: acometimento sistêmico, múltiplos órgãos, sistema nervoso central - Tratamento: aciclovir- Página 3 de Medicina 2 Tratamento: aciclovir Vírus varicela zóster Síndrome da varicela fetal1. Acometimento: musculoesquelético, sistema nervoso central, pele - Lesões: cicatrizes estreladas e angulares em dermátomo- Varicela neonatal2. Lesões: máculas avermelhadas, pápulas, vesículas, hemorrágicas e necróticas - Complicações: pneumonite, hepatite, encefalite- Tratamento: aciclovir- Herpes zóster3. Lesões: vesiculares sobre base eritematosa, no trajeto de um nervo - Tratamento: aciclovir- Pustulose cefálica neonatal Lesões: pápulas eritematosas e pústulas na face e couro cabeludo, eventualmente tronco e membros superiores - Causa: reação à Malassezia furfur- Evolução: desaparecem espontaneamente em semanas sem cicatriz - Tratamento: derivados imidazólicos tópicos em casos disseminados - Candidíase Neonatal Infecção fúngica causada por leveduras Candida sp.- Origem: coloniza pele, trato gastrintestinal e áreas intertriginosas dos neonatos; transmissão vertical materna- Fatores de risco: prematuridade, procedimentos invasivos (cateterismo umbilical, acessos venosos)- Espécies envolvidas: Candida albicans (principal), Candida parapsilosis, Candida tropicalis, Candida glabrata- Candidíase cutânea congênita (CCC) Início: alguns dias após o nascimento- Lesões: erupção maculopapular extensa, eritema, pústulas, abscessos, exulceração, descamação- Tratamento: sistêmico imediato para evitar disseminação e possíveis complicações fatais em prematuros- Página 4 de Medicina 2 Tratamento: sistêmico imediato para evitar disseminação e possíveis complicações fatais em prematuros- Dermatite fúngica invasiva (prematuros de muito baixo peso ao nascer) Ocorre nas primeiras 2 semanas após o nascimento- Lesões: máculas, pápulas, vesículas ou pústulas em áreas intertriginosas; erosões extensas e crostas no abdome e/ou dorso; semelhantes a queimaduras com eritema, vesículas e bolhas; acometimento generalizado cutâneo comum - Rara; adquirida intraútero ou durante o parto- Fatores de risco: presença de corpo estranho uterino ou cervical, histórico de candidíase vaginal, ruptura de membranas - Ocorrência: mais comum em prematuros < 27 semanas e/ou muito baixo peso- Manifestações clínicas Início da erupção cutânea: 36 a 72 horas após exposição ao fungo- Lesões: máculas eritematosas, pápulas e pústulas sobre base eritematosa ou eritema difuso com descamação fina - Outras áreas afetadas: cavidade oral, cordão umbilical, palmas, plantas, unhas- Apresentações variáveis: RN prematuro (pústulas, lesões vesiculares, manchas eritematosas semelhantes a queimaduras); RN a termo (forma benigna, descamação, resolução em 1-2 semanas); RN de muito baixo peso ao nascer (risco aumentado de doença invasiva sistêmica) - Diagnóstico Pesquisa de fungos nas lesões cutâneas: micológico direto e cultura para fungos (pouco invasivo) - Hemoculturas: identificação de candidemia- Avaliações adicionais: se candidemia detectada, verificar extensão da infecção- Suspeitada clinicamente, confirmada por raspado ou swab das pústulas ou descamação periférica - Pseudo-hifas e esporos de leveduras visualizados com solução de hidróxido de potássio- Culturas: raspados/swabs de pele (2 ou mais locais), mucosas, placenta, cordão umbilical- Diagnóstico diferencial Dermatoses transitórias benignas do RN- Impetigo neonatal- Escabiose- Infecção pelo vírus herpes simples- Tratamento Doença mucocutânea não invasiva: nistatina tópica- Terapia sistêmica necessária (casos refratários ou risco de infecção sistêmica em neonatos a termo): fluconazol oral 12 mg/kg, 1 vez/dia, por 7 a 14 dias - Tratamento sistêmico para RN prematuro (risco de doença sistêmica e/ou complicações): endovenoso; anfotericina B desoxicolato 1 mg/kg/dia, anfotericinaB lipossomal 5 mg/kg/dia ou fluconazol 12 mg/kg/dia por ≥ 14 dias para reduzir mortalidade relacionada à infecção por Candida - Dermatopatias Vasculares Mancha Salmão Lesão plana, rósea, com limites imprecisos- Desaparece à vitropressão e intensifica com choro e sucção- Localiza-se na região occipital, frontal, glabela e/ou pálpebras superiores- Ocorre em 50 a 70% dos RN brancos- Desaparece até o 3º ano de vida devido à maturação do sistema autonômico- Página 5 de Medicina 2 Desaparece até o 3º ano de vida devido à maturação do sistema autonômico Malformação Capilar (Mancha Vinho do Porto) Dermatose permanente causada por capilar malformado- Mancha vinhosa intensa, homogênea, não afetada pelo choro ou sucção- Geralmente unilateral no rosto, mas pode ocorrer em qualquer região do corpo- Pode estar associada a anormalidades extracutâneas e síndromes, como Sturge-Weber (angiomas em leptomeninges e anomalias oculares) e Klippel-Trenaunay (anomalia vascular de baixo fluxo, malformação linfática, hipertrofia de partes moles e ossos) - Nos casos de malformação capilar extensa e associação com síndromes, é necessário acompanhamento clínico cuidadoso e abordagem multidisciplinar. - Hemangioma da Infância Tumor vascular benigno mais comum na infância- 50% dos casos não estão presentes ao nascimento- Fase de crescimento rápido até os 4 a 6 meses de vida e regressão lenta até os 9 anos- Avaliação precoce pelo dermatopediatra é necessária em casos com potencial de complicações - Nevos Melanocíticos Congênitos (NMC) Erros morfogênicos embrionários com acúmulo localizado de melanócitos- Diagnóstico clínico: mancha com coloração variável ou placa infiltrada espessada e pilosa - Acompanha o crescimento da criança- Classificados conforme o tamanho- Risco de melanoma maligno maior em nevos de tamanho grande e gigante- Acompanhamento Nevos de tamanho grande e gigante: avaliação clínica e dermatoscopia a cada 6 meses, biópsia de lesões suspeitas, acompanhamento multidisciplinar (psicologia, pediatria, dermatopediatria e cirurgião plástico) - Nevos de tamanho pequeno e médio: acompanhamento pelo pediatra, atenção para alterações na coloração, crescimento e sintomas locais (prurido e sangramento) - Página 6 de Medicina 2 Melanose cutânea e melanocitose neurológica Múltiplos NMC chamam-se melanose cutânea- Ressonância magnética do sistema nervoso central indicada para pacientes com NMC gigante na região posterior do tronco e RN com melanose cutânea - Alteração no sistema nervoso central caracteriza a melanose neurocutânea- Mancha café- com-leite Lesão plana, bem delimitada, coloração bege a castanho-clara e formato arredondado ou oval - Investigação necessária se houver mais de 6 lesões com mais de 5 mm de diâmetro no lactente (critério para diagnóstico de neurofibromatose) - Aumentam de número ao longo da vida- Melanocitose dérmica (mancha mongólica) Frequente na população da América Latina- Coloração marrom-azulada ou arroxeada, tamanho variável, localizada na região lombossacral ou outras partes do corpo - Desaparecem com o passar dos anos- Ocorre por defeito na migração dos melanócitos da crista neural no desenvolvimento embrionário - Não necessitam de tratamento, pois são autoinvolutivas- Nevo sebáceo Ocorre em 0,3% dos neonatos- Placa amarelada localizada no couro cabeludo, cabeça ou pescoço, sem cabelos- Lesão benigna com evolução estável até a adolescência, quando aumenta de tamanho devido ao estímulo hormonal das glândulas sebáceas - Página 7 de Medicina 2 devido ao estímulo hormonal das glândulas sebáceas Idealmente, deve ser removido antes do início da adolescência- Aplasia cútis congênita Ausência localizada e bem demarcada de pele e tecidos subcutâneos, podendo ser recoberta por crosta - Localizada no couro cabeludo, pode ser isolada ou associada a defeitos na calota craniana, síndrome de Adams-Olivier e trissomia do 13 - Lesões pequenas requerem acompanhamento clínico; lesões extensas e com halo de cabelos espessos necessitam de investigação e tratamento cirúrgico - Considerações finais A maioria das alterações cutâneas em RN saudáveis é benigna e/ou transitória, e o exame clínico permite o diagnóstico e a orientação dos pais - Pele do RN prematuro ainda em maturação, maior sensibilidade a lesões traumáticas, exigindo maior cuidado- Condições graves devem ser diagnosticadas e tratadas rapidamente; na dúvida, pediatra deve solicitar avaliação de um dermatopediatra - REFERÊNCIA: ZANATTA, Daniella Arake; CARRÉRA, Matilde Campos; CARVALHO, Vânia Oliveira. DERMATOPATIAS NEONATAIS. Em: SBP. TRATADO DE PEDIATRIA. MANOLE. 2022. V1. S15. C2. Página 8 de Medicina 2
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