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94 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III Unidade III 7 MODELOS DE APRENDIZAGEM MOTORA Movimentar‑se é a ação de mover um ou mais segmentos anatômicos. Efetuar um movimento é próprio da motricidade humana, isto é, relaciona‑se aos ajustes de funções nervosas que direcionam estímulos às realizações musculares que comportam atos voluntários ou instintivos do corpo humano. As mais diferentes tarefas motoras parecem oferecer desafios constantes para que se possa obter o êxito motor desejado. No transcorrer de nossa vida, desde a manifestação de movimentos involuntários que consentem nossa sobrevivência, por exemplo, a ação espontânea do sugar, descobrem‑se problemas motores que exigem soluções diversas. A resolução de dificuldades motoras requer contínuo processamento de informação, ou seja, parte‑se de uma cadeia coordenada de atos, que envolve conexão complexa de mecanismos sensoriais, centrais e motores. A partir de julgamentos contextuais, organizam‑se, executam‑se, avaliam‑se e modificam‑se atos motores sucessivamente, até que se esteja satisfeito com o movimento que se idealizou ou que se espera realizar. A prática e a vivência de ações motoras, necessárias ao nosso cotidiano, levam à obtenção de habilidades motoras que produzem transformações intrínsecas, relativamente permanentes em nosso comportamento motor. Chamamos essas mudanças obtidas de aprendizagem motora. Ao se estudar as teorias de aprendizagem motora e os modelos que buscam explicar suas características, oferecem‑se alicerces desse extraordinário campo de investigação do comportamento motor humano. Assim, pode‑se compreender quais são os principais dados e fatores de influência pelos quais indivíduos adquirem habilidades e as exercem diante dos mais distintos domínios dos movimentos humanos. 7.1 Termos‑chave em aprendizagem motora É importante fazer algumas considerações sobre os termos principais que são usados em aprendizagem motora, assim podemos uniformizar e padronizar a compreensão da matéria, constituindo parâmetros apropriados para a designação acadêmica. 7.1.1 Habilidade motora e capacidade Toda ação proposital, com finalidade exclusiva a ser obtida e desempenhada de modo harmonioso, conciso e com eficácia motora, fisiológica e social é denominada habilidade motora. Habilidades podem ser adquiridas por meio de aprendizagem própria, por exemplo, as habilidades motoras básicas: andar, correr, saltar, equilibrar‑se, segurar, agarrar etc. Essas competências são 95 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR experimentadas de maneira natural e ininterrupta e fazem parte do cotidiano do ser humano na procura de seu desenvolvimento primordial. Outro modo para a obtenção de capacidades motoras pode ser concretizado por meio de educação, práticas e adaptações diversas. Aptidões esportivas, como lançar uma bola de basquete com perfeição em direção à cesta, práticas artísticas, como tocar um instrumento musical, competências profissionais, como conduzir um caminhão ou uma angioplastia (intervenção cirúrgica com o intuito de corrigir alterações em vasos sanguíneos) são ensinadas, instruídas, exercitadas e adaptadas até se atingir precisão efetiva dos efeitos aguardados. Uma definição de habilidade motora, de Wade e Whiting (1986), expressa que “por meio do processo de aprendizagem, as ações tornam‑se organizadas e coordenadas de modo a alcançarem objetivos predeterminados com o máximo de certeza e, frequentemente, com o mínimo de dispêndio de tempo e/ou energia”. Agora, imaginemos um maratonista que percorre 42.195 m em uma competição. É extraordinário que cada passada desse indivíduo esteja totalmente sob seu comando, envolvendo experiência e exatidão para obter desempenho competente. Já capacidade é o potencial genético que cada indivíduo possui. Como destaca Magill (2000), ela é um traço ou uma qualidade geral relacionada ao seu desempenho numa disparidade de habilidades ou tarefas motoras. De modo óbvio, o triunfo alcançado em qualquer tarefa motora dependerá, além da proficiência, do nível de competência motora que é exigido para sua realização. Segundo Schmidt e Wrisberg (2010), as potencialidades congênitas para desempenho motor dos indivíduos incluem o seu aparelhamento genético básico. Nem sempre a multiplicidade de capacidades motoras e físicas de uma pessoa fará dela mais apta para o aprendizado motor, porém poderá auxiliá‑la a ultrapassar desafios motrizes, partindo‑se do princípio de que saiba desfrutar dessas vocações nas ocasiões nas quais forem exigidas. É importante enfatizar que a aprendizagem de uma habilidade e a respectiva performance dependerá da conjunção de vários fatores, que envolvem aspectos intrínsecos e extrínsecos inerentes ao ser humano. Ressalta‑se que as vocações do indivíduo, aliadas a experiências, prática, oportunidades, motivações e à própria necessidade em adquirir uma habilidade contribuirão bastante para o seu desempenho com excelência. 7.1.2 Desempenho motor e medidas de avaliação Aprendizagem motora se relaciona intensamente com o julgamento visual de movimento alcançado e dos resultados obtidos em sua concretização. Avaliar a aprendizagem motora remete à verificação do progresso da execução do gesto motor e em como está sendo consolidado. O fisioterapeuta desejará avaliar se seu paciente apresenta melhorias após determinado programa de reabilitação. Professores de educação física pretenderão comparar os avanços conquistados e necessários para executar movimentos próprios de uma habilidade motora e de específica modalidade esportiva após o cumprimento das suas práticas estipuladas. O médico‑cirurgião deverá analisar se o aluno residente que o acompanha em operações estará apto para exercer essa função com precisão e 96 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III de modo eficaz. Em todas essas situações, esses profissionais têm por obrigação estabelecer medidas de avaliação para dar continuidade aos seus objetivos. A medida de avaliação que mais se aproxima da caracterização da aprendizagem, após a prática e experiência na efetivação de movimentos, chama‑se de desempenho ou, muito rotineiramente, de performance. A definição de desempenho é a constatação de determinado procedimento motor. Como execução, Magill (2000) chama a performance de comportamento motor observável, ou seja, nada mais é do que visualizar a execução de uma habilidade ou tarefa motora; por exemplo, alguém destaca “olha, aquela criança está andando de bicicleta”. Por sua vez, Marteniuk (1976) define o desempenho como grau de destreza, quando afirma que performance é o nível em que um indivíduo executa uma habilidade. Assim, é comum se ouvir de narradores de eventos esportivos que determinado atleta, ao concluir uma jogada, efetuou‑a com “elevada” habilidade. Figura 49 – Contorcionistas e equilibrismo em atividades circenses Portanto, o desempenho pode convir para se avaliar a aprendizagem, por meio de medidas verificadas pelo processo de execução ou pelos resultados alcançados. A primeira categoria que indica registros ou efeitos do desempenho pode ser exemplificada por dados obtidos por medidas de tempo, distâncias etc. Por conseguinte, velocidade alcançada por um corredor em uma determinada distância, ângulo de flexão ou extensão de um membro corporal e pontos obtidos no lançamento de dardos em um alvo são alguns exemplos desse tipo de medida de resultados. Calcular o número de acertos ou erros ao arremessar uma bola na cesta do basquete, ao chutar uma bola de futebol por cima de uma barreira para atingir um ponto específico entre as traves ou quantificar quantas vezes houve competência nessa tarefa são características palpáveis para inferir desempenho. Há outros exemplos que podem indicar a medida de resultados, como: estimar o maior oumenor tempo ao nadar certa extensão na piscina, ou avaliar a altura ou distância de um salto. Essa categoria mede basicamente os efeitos da realização de uma habilidade motora. 97 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR De outro modo, o desempenho pode ser calculado pela categoria do processo efetivado. Um exemplo fácil de perceber é aquele que determina qual é o músculo que reage primeiro ao contrapor um estímulo visual, como na saída das corridas de automóveis, ou então dos estímulos auditivos, como nas corridas de curta distância e nas partidas para provas de natação. Também se avalia o padrão de aceleração dos membros corporais ao exercer uma ação motora, a coordenação motora de movimentos da ginástica e dos saltos ornamentais pelo desempenho do processo realizado. Essa categoria sugere como os sistemas envolvidos na execução do movimento (sistema nervoso central e sistema muscular) estão atuando, bem como os membros e articulações estão agindo. Critérios de avaliação por posicionamento simétrico de segmentos corporais se enquadram nessa categoria, permitindo informar aos executantes de uma ação motora qual padrão deve ser alcançado nos ajustes corporais relativos ao movimento a ser realizado; esse aspecto é muito usado nas aulas de ginástica quando o instrutor informa que “você deve unir mais suas pernas ao fazer o salto carpado”. Figura 50 – Avaliando e corrigindo a execução do toque das baquetas para execução em pratos e tambores de uma bateria Apesar de oferecer parâmetros bem relevantes para que se possa inferir a aprendizagem, é vital ressaltar que o desempenho nem sempre mede com certeza absoluta sua consistência. Um exemplo que permite dizer que a performance não necessariamente mede a aprendizagem está no fato corriqueiro de alguém executar um movimento pela primeira vez e realizá‑lo de maneira muito precisa e depois não conseguir repeti‑lo com o mesmo efeito. Tal qual um iniciante ao lançar uma bola de boliche pela primeira vez e acertar todos os pinos, fazendo um strike. Esse desempenho poderia dar a impressão de que esse indivíduo aprendeu a jogar boliche, e de que essa habilidade já lhe pertence, o que depois se verificaria como equivocado, em razão de o mesmo sujeito não acertar sequer outra jogada, com a mesma eficiência, nessa mesma oportunidade. 98 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III Figura 51 7.1.3 Fatores de influência sobre o desempenho motor A performance pode sofrer variações, de tempos em tempos, por causa de vários fatores que interferem na realização da habilidade ou tarefa motora. O primeiro deles pode ser a condição física. Um atleta de ginástica artística poderá apresentar desempenho alterado caso modifique seu padrão de massa muscular ou ganhe peso acima do preconizado para a execução apropriada das complexas tarefas motoras dessa modalidade. Outros aspectos relevantes podem ser o crescimento e a maturação. Adolescentes possuem crescimento dístero‑proximal (membros crescem mais rapidamente que o núcleo central do corpo) e, portanto, no início dessa etapa do ciclo vital, quando os órgãos sensoriais ainda não se acostumaram com as novas medidas anatômicas, atividades motoras que eram corriqueiras são executadas desordenadamente ou com mais erros, até que se readaptem aos novos alcances corporais. A falta de motivação ou estados emocionais irregulares também exercem influência sobre a performance. Pessoas que apresentam desinteresse ou que estão concentradas em outras preocupações, em geral, não desempenharão habilidades motoras como esperado. Inversamente, indivíduos muito ansiosos tendem a exibir maior número de erros ao precisar executar ações preestabelecidas. Fadiga e lesões afetam o desempenho de modo substancial, pois limitam movimentos, impedem suas realizações ou provocam ajustamentos que, na maioria das vezes, modificam o nível e a efetivação da tarefa motora. 99 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Figura 52 – Fadiga Observação A fadiga é uma condição de esgotamento quase total de energia específica para o desempenho de determinada atividade. Além disso, a ingestão de drogas é aspecto preponderante para modificar o desempenho motor. Lembre‑se de que o álcool interfere no tempo de reação, reduzindo a velocidade de execução de um movimento, por isso nunca se deve beber nada alcoólico quando for dirigir. Outras drogas podem acelerar a realização de um movimento, favorecendo ou prejudicando a coordenação motora, bem como estabilizar ou bloquear o ato motor. Adicionalmente, pode‑se constatar que o desempenho se altera em relação à condição de prática e de dificuldade da tarefa. Um iniciante de handebol aprende a lançar a bola ao gol, mas, depois que colocarem defensores ou mesmo diante da presença de um goleiro, já se propiciarão mudanças na maneira como esse praticante tentará desempenhar a habilidade, buscando soluções diferentes para alcançar a mesma meta. Assim, verifica‑se que a performance é variante e pode apresentar resultados diferentes em condições e situações próprias quando a habilidade for executada. 7.1.4 O conceito de equivalência motora Sujeitos habilidosos conseguem encontrar soluções diversas para alcançarem as mesmas metas ao praticarem uma mesma habilidade motora, porém usando movimentos diferentes (HEBB, 1949). Manoel Connolly (1995) refletem sobre esse conceito como o de utilização de meios alternativos no comportamento motor. Tomando‑se como base um indivíduo que irá abrir uma porta com uma maçaneta em L, à primeira vista fica fácil imaginar que se fará uso de uma das mãos para realizar o movimento de abaixar a maçaneta para destrancar a porta e assim abri‑la. Contudo, se ambas as mãos estiverem ocupadas por sacolas, esse mesmo indivíduo poderá usar o cotovelo para realizar a mesma ação e alcançar o mesmo objetivo desejado. 100 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III No esporte, lembramos que em um jogo de voleibol os jogadores sacam a bola para iniciar o jogo, podendo executar o gesto motor com a batida da mão na bola por baixo, por cima, lateralmente (como no estilo coreano) ou até com o famoso saque jornada nas estrelas, muito usado pelo jogador Bernard da seleção brasileira nos anos 1980. Jogadores de futebol passam a bola aos companheiros usando a parte interna, a parte externa, o dorso do pé e, ainda, podem ter aptidão para que se atinja esse mesmo objetivo usando o calcanhar. Um médico pode suturar cortes, após uma intervenção cirúrgica, realizando movimentos entrelaçados, alinhados ou em viés, sempre respeitando a necessidade ou o local da cirurgia. A equivalência motora é, então, uma característica própria de indivíduos hábeis, que conseguem, por meio de diversas ações motoras, atingir com precisão os mesmos resultados, independentemente das variações do ambiente. Figura 53 – Homem carregando frutas por meio de uma haste (usando o ombro) A foto a seguir destaca um indivíduo que carrega duas sacolas empregando as duas mãos. Desse modo, usa artifícios motores humanos que possibilitam comprovar a equivalência motora. Figura 54 101 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Vejamos um excelente meio para transportar mercadorias: Figura 55 – Carriola de mão facilita o carregamento de pesos e volumes 7.1.5 Considerações sobre a prática A prática é a execução real do conjunto de movimentos que determinam uma habilidade motora, reproduzindo‑a continuadamente. Não se pode perceber a prática como a simples repetição dos mesmos movimentos, pois, ao realizar‑se uma habilidade motora, exigem‑se esforços de cognição, organização, execução, avaliação e modificação das açõesa cada tentativa. Exemplo de aplicação Para obter mais clareza, faça o seguinte teste: escreva sua assinatura por cinco vezes seguidas, uma abaixo da outra, continuamente, sem interrupções. Feito o teste, pode‑se notar que há diferenças de maior ou menor amplitude nos resultados. Isso comprova que foi efetivado um processo similar de consumação da habilidade, buscando a reprodução idêntica dos movimentos que envolvem a habilidade. Em verdade, foram aplicados recursos diferenciados para se decidir sobre como se resolveria esse problema motor em cada tentativa, incorrendo, desse modo, em pequenas alterações nas assinaturas. Portanto, na maioria das vezes, existe um conjunto de soluções motoras apropriadas para se efetivar a prática de uma habilidade. Pode‑se definir que a prática é uma “repetição sem repetição”, pois, de outro modo, seria uma realização estereotipada e mecanizada de um conjunto de movimentos (BERNSTEIN, 1967). 102 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III 7.2 Definições de aprendizagem motora Aprendizagem motora é um processo que provoca alterações intrínsecas, relativamente consistentes, no comportamento motor de uma pessoa. Toda vez que se enfrenta um desafio motor, emprega‑se determinado recurso motor para buscar o efeito desejado. Nessas circunstâncias se criam condições para a assimilação de novas ações habilidosas. Essa apropriação se estabelece com maior rapidez e desenvoltura, frequentemente em virtude do grau educacional do indivíduo, da prática deliberada, da sua experiência prévia e de sua maturação. Por ser um processo oculto, que pertence a cada indivíduo, indicar se houve aprendizagem é uma tarefa complexa. Como já descrito neste livro‑texto, a melhor maneira de se inferir a aprendizagem é pelo comportamento observável, isto é, pela performance. Os processos de aprendizagem são discutidos há várias décadas, e diversas teorias foram propostas para se compreender o processo que fixa as disposições que levam um indivíduo a adquirir uma habilidade motora. A seguir vamos estudar algumas delas. Lembrete Comportamento motor observável: toda ação verificada e certificada por um observante. Exemplo: o professor de Educação Física avalia o comportamento motor do aprendiz na prática da habilidade motora. 7.2.1 Teoria do Processamento de Informações Marteniuk (1976) propôs um modelo de processamento de informações para a efetivação das intenções motoras. Esse autor indica a existência de uma estrutura interna de órgãos que formaliza suas atuações para que se transformem em atos motores os estímulos recebidos do ambiente e, simultaneamente, refine‑se o movimento até que esteja de acordo com as vontades do sujeito da ação, ou se atinja o objetivo primordial da tarefa. Na figura a seguir, pode‑se notar que o ambiente, de modo contínuo, provê informações que são capturadas e convertidas em estímulos nervosos pelos órgãos dos sentidos. Os elementos exteroceptivos, advindos de atenção visual, da visão periférica ou focal, de recepção auditiva e de sensações táteis, recebidas através de receptores cutâneos, que avaliam sensações de temperatura, toque e pressão, aliam‑se às informações proprioceptivas, ou seja, aquelas que provêm de órgãos internos, tais como: fusos musculares – que avisam sobre o estiramento dos músculos; órgãos tendinosos de Golgi – informam sobre a tensão muscular e controlam sobretudo as respostas de estiramento dos tendões; aparelho vestibular – responsável pelo acerto na posição de equilíbrio corporal, explicitamente da disposição da cabeça; receptores articulares – que ajustam o movimento à amplitude articular máxima. Essa conjunção de percepções, ou de atos aferentes, é interpretada e conduzida ao mecanismo decisório (sistema nervoso central), que elegerá a melhor resposta para se definir o desafio motor. 103 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Assim, o sistema nervoso central (SNC), notadamente o córtex motor, em especial por meio dos núcleos da base, vai planejar os movimentos voluntários e executar os disparos de sinais nervosos apropriados para a realização de movimentos após o refinamento das informações neurais enviadas pelo cerebelo, o qual organizou o arranjo sensório‑motor. Essas conduções nervosas serão transferidas por meio do tronco encefálico e da medula espinhal ao sistema periférico e aos neurônios inferiores. Essa determinação efetuada pelo SNC seguirá pelos mecanismos efetores, mais precisamente através dos neurônios motores, cuja atuação seletiva associará os comandos recebidos, reorganizando as estruturas perceptivas internas para que os músculos operem de modo apropriado. Todo esse sistema de informações recebe ininterruptamente dados internos e externos que retroalimentam o sistema para aperfeiçoar o movimento. Esse mecanismo de realimentação de informações para correção do movimento é chamado de feedback. Orgãos dos sentidos Mecanismos perceptivos Mecanismo efetor Mecanismo decisório Sistema muscular Fe ed ba ck e xt rín se co Fe ed ba ck e xt rín se co Figura 56 − Modelo de processamento de informações O circuito de feedback destaca frequente checagem do movimento realizado com aquele que foi imaginado pelo executor ou o necessário para se completar a ação de maneira satisfatória. Essa classificação pode ser intrínseca ou interna, acionada primeiramente entre a configuração do sistema muscular e a do sistema efetor, ou ainda, caso não se atinja a performance adequada, pelo sistema muscular em relação ao mecanismo perceptivo, com retorno mais extenso da informação para adaptação mais abarcante, reprocessada pelo mecanismo decisório para se conseguir uma resposta mais refinada e apropriada. Além disso, podem‑se obter mais subsídios do ambiente, utilizando‑se o feedback extrínseco (externo), por meio de novo acionamento dos órgãos sensoriais, e assim simultaneamente associá‑lo ao feedback intrínseco para atingir o desempenho desejado. Observação Processamento é a ocorrência encadeada de determinada ação. 104 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III 7.2.2 Teoria dos Sistemas Dinâmicos Os preceitos iniciais acerca da configuração de sistemas dinâmicos surgiram com os trabalhos de Johannes Kepler sobre a mecânica dos corpos celestes e foi aprofundada pelo matemático Henry Poincaré (1892), que deu fundamentação matemática aos princípios de deslocamento dos corpos celestes com base na própria periodicidade do movimento e sua estabilização diante de outros corpos (HASSELBLAT; KATOK, 1997). Contudo, foi Peter N. Kugler (KUGLER; KELSO; TURVEY, 1982) que apresentou sua tese de doutorado em Física direcionando a aplicação desses princípios de dinamismo e alterações sujeitas à interatividade de sistemas e aos fenômenos de constante transformação aos seres humanos. Sua tese era fundada nos princípios de que os seres humanos se constituíam como organismos vivos compostos de vários aparelhos sistêmicos e, assim, interdependentes dos mesmos acontecimentos. Turvey, Fitch e Tuller (1982) sugeriram, então, a aplicação do conceito de sistemas dinâmicos com base na contínua mudança motriz humana e na autoadaptação do indivíduo, ao longo de seu desenvolvimento, em todas as etapas de seu ciclo vital. Essa visão usou as ilustrações de Bernstein (1967) e Kelso (1997) acerca da concepção de coordenação e controle motor explicada pelo grau de liberdade articular. Além disso, essa proposta foi associada à Teoria de Percepção Direta, de Gibson, que destacava a compreensão interpessoal das informações, obtidas exclusivamente pelo campo visual. Gibson (1986) esclareceu que a percepção visual existe sem interferência de análises de interpretação mental intrínseca, isto é, de estímulos interiores que pudessem dar significados provindos da consciência. As mudançasmotoras ocorrem no modo operacional, no estrutural e na configuração como são realizadas durante a existência humana. Os sistemas interagem tanto de fora para dentro do organismo, quanto inversamente, possibilitando que o indivíduo construa soluções eficazes sempre que sentir ser necessário. Observação Interação é a capacidade de se efetuar intercâmbio de informações, isto é, trocar dados e conhecimentos. A Teoria dos Sistemas Dinâmicos define o desenvolvimento motor e, por conseguinte, a aprendizagem como processos não lineares, auto‑organizados, que mudam continuamente pelos estímulos recebidos do ambiente, pelas propostas constitutivas das tarefas a que são submetidos os indivíduos que as desempenham e pelas próprias restrições funcionais e estruturais desses indivíduos (NEWELL, 1986). Portanto, não existem estados integralmente fixos no desenvolvimento e, consequentemente, na aprendizagem motora. Há um processo de adaptação constante, e a aprendizagem, assim como o comportamento motor, altera‑se e ajusta‑se conforme as influências recebidas do meio, pelas adaptações internas e pelos desafios motores a serem superados. Novas organizações sistêmicas são interconectadas diligentemente e se alteram com novas aprendizagens motoras e, inversamente, novas aquisições modificam as circunstâncias orgânicas que possam levar a um possível grau momentâneo de estabilização motora do indivíduo. Desse modo, a aprendizagem motora é resultado da cooperação entre os níveis sistêmicos individuais e coletivos que afetam o movimento. 105 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Na perspectiva dos sistemas dinâmicos, a aprendizagem acontece quando recursos e restrições interagem concomitantemente. As variáveis dicotômicas que apresentam essa interação são: ambiente temporal, ambiente físico, expectativa social, influência ecológica e atitudes econômicas. O ambiente temporal se refere ao tempo de planejamento, ao momento de execução e disponibilidade para realizar a habilidade motora. Um indivíduo pode efetuar um movimento com grande velocidade em detrimento da precisão. Também se verifica que tarefas motoras humanas são afetadas quando se exige desempenho em tempos bem determinados: metas intermediárias a serem atingidas em tempos mais restritos, associadas à meta principal proposta para um prazo mais longo, parecem resultar em atingir a automação do movimento em menor período de tempo, assim como se alcança melhor nível de desempenho motor (LOCKE; LATHAM, 1990). O espaço físico está relacionado com a possibilidade de exercício dos graus de liberdade, em especial no início da aprendizagem, quando existe maior dificuldade no aparelhamento dos movimentos. Pela razão de não haver confiança suficiente por parte do aprendiz, na construção inicial dos elementos que compõem a habilidade, o recinto deve oferecer segurança para que o iniciante se sinta mais à vontade. De modo contrário, quando o indivíduo possui a automação da habilidade, o espaço físico é usado na configuração de melhores condições para a realização da tarefa. Imagine um praticante de Le Parkour, atividade que exige grande concentração, força e agilidade. O aprendiz, ao enfrentar suas primeiras lições, considerará os saltos sobre obstáculos como exercícios de elevação total do corpo, e precisará de espaço suficiente e que lhe permita executar as transposições com cautela, tendo a certeza de que não errará o movimento. O praticante perito, por sua vez, utilizará de pequenos gestos manipulativos no mesmo espaço físico, com absoluto controle corporal no ambiente físico e usufruindo todos os elementos disponíveis no espaço para melhorar seu desempenho. O mesmo acontece na aprendizagem da natação, em que a pessoa inexperiente tende a movimentar os braços com amplitude bem reduzida, com movimentos muito próximos do torso, igualmente ao nado executado pelos cães. Quem é experiente nada de modo muito mais eficaz e seguro, aproveitando‑se da amplitude dos membros superiores para efetivar maior interação com o meio líquido, obtendo eficácia mecânica. Figura 57 – Praticante de Le Parkour: concentração e gestos precisos 106 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III Observa‑se que as resultantes motoras apresentam efeitos diversos conforme o meio social em que se vive. O indivíduo se comporta de acordo com a influência de sua educação e cultura, sobretudo pela expectativa criada em torno de seus resultados e sucesso (VON HOFSTEN, 2007). A Teoria de Sistemas Dinâmicos descreve que a movimentação corporal é afetada pelas influências recebidas das perspectivas sociais. Em uma academia um aluno poderá se motivar pela presença e pelo incentivo de outros colegas e aprender a executar movimentos que, até então, nunca tinha imaginado que conseguiria realizar. De modo oposto, o indivíduo pode não conseguir aprender uma habilidade, pois sofre muita pressão emocional ou mesmo se inibe e, então, não tem estímulo para executá‑la. O pretexto social pode alterar as ações motoras regulares que uma pessoa está acostumada a realizar, podendo aprimorá‑las ou impedi‑las. Produzir movimentos e desempenhar habilidades específicas depende das condições pelas quais se exigem suas realizações, em razão da interação dos indivíduos com seus pares, o meio orgânico ou o inorgânico em que vivem. Pode‑se verificar que se aprende a remar com facilidade desde muito jovem nas regiões próximas a rios ou mares. Indivíduos que habitam áreas amazônicas ou da costa litorânea brasileira, seja por necessidade na busca de alimentos, seja para usar o meio de transporte, deslocam‑se por meio de pequenas embarcações e canoas que demandam o aprendizado dessa habilidade. Em grandes regiões metropolitanas, aprende‑se a atravessar uma via pública, com passagem de automóveis, com o auxílio de análises visual‑motoras e levando em conta a relação espaço‑tempo, adaptada à movimentação dos veículos. Essas adaptações são constantes e se modificarão toda vez que houver qualquer mudança nesses ecossistemas. A figura a seguir retrata uma criança no Tajiquistão que aprendeu a remar em barcos improvisados para atravessar o rio. Figura 58 107 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Figura 59 – Criança aprendendo a usar ferramentas da computação. O mundo atual já permite e exige a aprendizagem dessas habilidades Estudo realizado por Brandine Brill (1986) também afirma que o desenvolvimento motor está intimamente ligado aos estímulos oferecidos para aprendizagem acerca do ambiente em que se vive. Essa pesquisadora francesa verificou que crianças de Bambara, situada na região oeste da África, apresentavam melhor nível de desenvolvimento motor que crianças europeias da mesma faixa etária. Verificou‑se que as mães dessas crianças estimulavam invariavelmente seus filhos, desde os primeiros meses de idade, por meio de massagens e alongamentos, penduravam‑nas e balançavam‑nas por um ou dois braços, agitavam e colocavam‑nas de cabeça para baixo puxando‑as pelas pernas, movimentavam suas pernas e seguravam‑nas pelas axilas e as levantavam. Essas práticas corporais, basicamente, permitiam que os bebês de Bambara permanecessem mais tempo em posicionamento vertical que os bebês europeus; desse modo, essas perturbações da disposição anatômica provocavam melhores estímulos cinemáticos e cinéticos, que agem no aparelho anatômico vestibular. Os bebês eram conduzidos a realizar mais aprendizagens coordenativas com base no conhecimento espaçotemporal. As atitudes relacionadas ao movimento são essencialmente parcimoniosas. Cada indivíduo trilha seus próprios caminhos para a execução da ação pretendida, as escolhas são particulares e o organismo intercede para que sejam atingidos os objetivos desejados da melhor maneira possível (CONNOLLY,1986). A construção e a organização dos graus de liberdade para a efetivação de uma ação vão ao encontro da intenção do indivíduo. Cada qual obterá de seu sistema motor para aprender um novo movimento, obterá informações correspondentes às intenções, buscando as melhores respostas e tentando construir seu programa motor para satisfazer seus próprios anseios. Analisando‑se a jogadora brasileira de basquete Hortência, ao arremessar a bola em direção à cesta, nota‑se que ela usava um processo particular de movimentos e que não condizia com as indicações biomecânicas mais precisas para essa habilidade; ela cumpria com 108 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III total independência e exatidão os requisitos da tarefa e obtinha alto nível de desempenho, sempre com grande eficiência mecânica e o mínimo dispêndio de energia. Portanto, no conjunto de preceitos que fundamentam a Teoria dos Sistemas Dinâmicos, a aprendizagem ocorre sempre a partir do momento em que as dimensões corporais buscam atender às demandas de intenções relativas às restrições ambientais e em razão dos desafios impostos por tarefas a serem cumpridas. Essa característica envolve ainda a procura do movimento mais adaptado a cada indivíduo, que é influenciada pela cultura que o abrange (VON HOFSTEN, 2007). Ambiente Tarefa Indivíduo A interação entre os estímulos próprios do indivíduo, das dificuldades das tarefas e dos desafios do ambiente provocam dinamicamente aquisição de aprendizagem Figura 60 – Aspectos primordiais de influência que possibilitam a aprendizagem Enfim, a Teoria dos Sistemas Dinâmicos traça uma ordem na qual se determina que a aprendizagem seja parte integrante do desenvolvimento do indivíduo. Logo, o organismo é precursor da própria ação que exerce sobre o ambiente; a origem do desenvolvimento motor seria a intenção (CONNOLLY; BRUNNER, 1974). A estrutura de movimento corporal se modificaria por conta do desenvolvimento e encontraria a melhor condição de resposta para executar a ação motriz sempre que fosse exigido, isto é, adquiriria condições para solucionar problemas e os respectivos controles, e ela cumpriria tais necessidades. A aprendizagem motora é uma condição ativa do organismo e se relaciona intimamente com as classes estruturais do indivíduo e aquilo que deseja realizar. A seguir vamos estudar modelos de aprendizagem motora que delineiam relações com o tempo da prática, mostrando as fases que se sucedem para ocorrer o aprendizado, os erros iniciais do aprendiz e o alcance da perícia motora. Observação Sistemas dinâmicos: teoria fundamentada no conjunto vivo de interação entre o indivíduo, o ambiente e a tarefa. 109 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR 7.3 A aprendizagem motora: modelos propostos A figura a seguir sugere um plano de como ocorre a aprendizagem segundo a persistência de execução da habilidade motora. Toma‑se por base o conceito de que a aquisição advém de continuum de tempo de prática a partir do início do objetivo de implementação repetitiva da tarefa (MAGILL, 2000). Tarefa Aprendizagem Figura 61 – Continuum de tempo para aquisição de uma habilidade motora, a partir da iniciação da prática. O padrão de referência para delinear as fases de aprendizagem motora foi apresentado por Paul Fitts e Michael Posner em 1967 (FITTS; POSNER, 1967), que se tornou o modelo clássico para descrever como acontece a aquisição de uma habilidade motora. Segundo esses pesquisadores, para se adquirir desenvoltura motriz específica, o indivíduo passa por três fases ou estágios específicos, os quais distinguem a efetivação do aprendizado: fases cognitiva, associativa e autônoma. Magill (2000) mostrou como essas fases se sucedem em relação ao tempo de prática na figura a seguir. Estágio cognitivo Tempo e constância de prática Estágio associativo Estágio autônomo Figura 62 – As fases da aprendizagem de Fitts e Posner, apresentados em relação ao tempo de prática (continuum) Outros modelos serão também apresentados, como o de Gentile (1972, 2000), composto de etapas de aprendizagem, expressas na Figura 6, sob o ponto de vista de metas a serem alcançadas pelo aprendiz. Por fim, o modelo de aprendizagem proposto por Newell (1985), que toma por base a aprendizagem por meio do desenvolvimento do movimento coordenado. Apresentação da habilidade Habilidade motora fechada Habilidade motora aberta Fixação do padrão de movimento Variação de movimentos Efeito da prática Captação da ideia do movimento Figura 63 – Esquema do modelo de aprendizagem de Gentile 110 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III 7.3.1 O modelo de Fitts e Posner 7.3.1.1 Fase cognitiva de aprendizagem – Erros de iniciação O primeiro estágio da aprendizagem é chamado de fase cognitiva. Essa etapa indica que o aprendiz centraliza suas atenções para compreender os problemas de natureza cognitiva. Os principiantes tendem a vivenciar uma experiência totalmente nova e desse modo não possuem confiança para a efetivação da habilidade, produzindo desempenho muito aquém do inicialmente imaginado por eles próprios (SINGER, 1982). Em geral, os iniciantes direcionam sua atenção para responder como o movimento será realizado, até onde devem movimentar os segmentos corporais participantes da ação, qual a maneira correta de manipular objetos que serão usados para executar a habilidade, qual é o objetivo da ação motora e como processar as informações recebidas instantaneamente do ambiente (MAGILL, 2000). Nessa primeira etapa de aprendizagem, é comum o aparecimento sucessivo de grande número de erros. Ademais, as falhas são grosseiras, e a execução é caótica, desordenada, a sequência de movimentos é descoordenada, e o ritmo, inadequado. O comportamento é muito impreciso e variável, com carência de uniformidade e gasto energético excessivo. Usualmente, a realização dos movimentos é lenta, deficiente, não há um plano motor que permita que a habilidade se configure, e o desempenho é precário. O aprendiz não consegue selecionar os componentes mais relevantes para efetuar a tarefa motora, em especial por não se desvincular dos vários estímulos externos que afetam sua atenção. Além de não conseguir isolar os vários estímulos que recebe do ambiente, tampouco entender quais componentes da habilidade são os mais importantes para sua realização, nessa fase inicial é comum o aprendiz perceber que a habilidade não está sendo executada de modo correto, porém não consegue compreender bem o que deve ser mudado. O aprendiz intui que existem erros de performance. Tani (1989) afirma que os erros de performance são a característica mais acentuada do principiante ao vivenciar uma nova experiência motriz. Adicionalmente, esse autor descreve que o erro não deve ser considerado como incapacidade do iniciante, mas apenas em relação ao objetivo da tarefa. Do mesmo modo, Tani (1989) complementa que na aprendizagem motora a meta é alcançar respostas corretas, e o erro faz parte do processo de aquisição da habilidade, somente tornando‑se um problema quando não for identificado e quando não se souber corrigi‑lo. É importante que haja liberdade para errar. Devem‑se usar os desacertos como fatores de contribuição para dirigir o processo de prática e de ajuste dos elementos que compõem a habilidade, além de se reforçar os aspectos positivos e acertos das tentativas passadas (durante a efetivação da prática). Observação Cognição: capacidade mental de captar, interpretar, analisar e tomar decisões a partir de estímulos ambientais. 111 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR 7.3.1.2 Fase associativa − Conexão com a prática Ressalta‑se que a prática é essencial no processo de aquisição de habilidades motorase se verifica que a partir da repetição do movimento o indivíduo começa a reunir informação para confrontar, a cada tentativa, o resultado esperado com o alcançado. Nesse momento, há uma maior integração de elementos que compõem a habilidade, e o praticante já consegue agregar esses componentes motrizes na construção de desempenho mais satisfatório. Desse modo, começa‑se a obter atos corporais visíveis e mais expressivos que mais se aproximam daquilo que foi construído na sua representação mental da tarefa. Fitts e Posner (1967) designaram essa etapa intermediária do processo de aprendizagem como fase associativa. Gradativamente, o indivíduo consegue perceber seus erros e corrigi‑los de modo sistemático. A prática permite a verificação constante dos movimentos, e há o refinamento da tarefa por meio da estandardização espaçotemporal do plano motor a ser usado. Inicia‑se um processo de memorização de como solucionar o problema motor, e a tarefa começa a ser realizada com maior destreza motora. Rocha e Scholl‑Franco (2006) explicam que a experiência repetitiva provoca memorização de modelos de programas motores que permitem prosseguir com o aprimoramento motor. A retenção dessa informação decorre de estruturação sináptica neural, em especial do núcleo profundo no cerebelo e do córtex motor (KITAZAWA; KIMURA; YIN, 1998). A melhora de desempenho se dá pela tentativa de imitação continuada do gesto motor, que vai gerar atuação em uma rede neural específica para a formulação cada vez mais apurada do movimento. Adicionalmente, há intensificação superior na consistência do processamento de informações dos mecanismos efetores, instigando maior excitabilidade corpórea dos segmentos corporais envolvidos na ação motriz. Assim, nessa fase, o praticante obtém maior sensibilidade cinética do movimento e melhor percepção da musculatura envolvida para atingir a melhor resposta motora. O desempenho vai se tornando satisfatório, porém não totalmente seguro. A variabilidade de performance vai diminuindo (MAGILL, 2000). 7.3.1.3 Fase autônoma − Independência de estímulos externos O último estágio da aprendizagem é chamado de autônomo. Essa fase é marcada essencialmente pela capacidade do indivíduo em se desvincular dos estímulos externos, e a habilidade motora se torna usual. A efetivação dos movimentos está totalmente integrada ao processamento de informações sensoriais. A pessoa executa a tarefa de modo seguro, com controle e dispêndio exato de energia, apresentando comportamento motor plástico e consistente. Segundo Fitts e Posner (1967), observa‑se que a variabilidade de desempenho é quase nula. As execuções motoras apresentadas por indivíduos que atingem essa fase praticamente não incorrem em erros. Desse modo, essas pessoas já são consideradas experientes e conseguem fazer adequações de maneira muito instantânea na ocorrência de fatos que demandem alterações no cumprimento da tarefa motora. Pode‑se afirmar que há ajuste de tempo bastante preciso e antecipação excelente; o produto motor é visível, e o desempenho é autêntico. 112 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III É importante destacar que nem todos os praticantes atingem competência autônoma, mesmo após algum período de prática de uma habilidade motora. A qualidade das instruções recebidas, o tipo da prática, o tempo que se gastou nela, bem como a assistência correta de informações para a conformidade dos movimentos são vitais para atingir essa fase de rendimento. Um fator relevante a ser situado no contexto de autonomia é que a plasticidade na realização de uma capacidade motora deve ser descrita como prodigiosa, porque se deve aceitar a referência a uma habilidade como mecanizada somente na acepção figurativa. O ser humano nunca consegue reproduzir movimentos mecânicos, mas sim autônomos, isto é, com tal disposição orgânica e sistêmica, o que lhe permite exibir virtuosidade em sua realização. Mesmo ao se praticar ininterruptamente uma habilidade, não se reproduz os mesmos movimentos, mas se executam processos motores, que derivam de esquemas formados na memória associativa (ROCHA; SCHOLL‑FRANCO, 2006; SCHMIDT, 1975). As respostas apresentadas são decorrência do aperfeiçoamento das ações motrizes, as quais, apesar de muito semelhantes quando se atinge esse estágio eminente, devem ser avaliadas em relação aos objetivos da tarefa e jamais serem consideradas execuções invariantes (NEWELL; SLIFKTIN, 1998); pois o indivíduo sempre receberá do meio novos estímulos, que interatuarão sobre suas intenções (PIAGET, 1987). Além disso, Manoel e Connolly (1995) afirmam que as variações na execução motora podem surgir como variabilidade de erro, oriundas de ruídos neurais ou modificações biodinâmicas vitais, que são independentes de controle do indivíduo. Ainda, que ocorre permanente variação de desempenho por variabilidade funcional e que, embora esteja sob o comando do indivíduo, parece se relacionar a uma “desordem organizadora”, isto é, a distúrbios que levam o organismo, invariavelmente, a procurar alternativas para solucionar problemas motores, progredindo para estados superiores de complexidade (MANOEL; CONNOLLY, 1995). 7.4 Fases de aprendizagem propostas por Gentile Essa autora destacou o processo de aprendizagem motora segundo as metas observadas pelo aprendiz. Desse modo, foram descritas duas fases de aprendizagem. 7.4.1 Primeira fase – Captação da ideia do movimento A primeira etapa da aprendizagem versa sobre a captação da ideia de execução, ou seja, o iniciante precisa compreender o que deve ser feito para se atingir o objetivo da ação motriz. Nesse estágio da aprendizagem, Gentile (1972, 2000) menciona que a pessoa procura definir quais são as principais características do movimento e as significações de coordenação motora necessárias para sua realização. Nessa primeira etapa acontece um direcionamento específico para determinar como se sucederá a continuidade do desenvolvimento da aprendizagem. O principiante, além de estabelecer o padrão básico de movimento, deverá perceber as condições reguladoras de como os movimentos deverão ser produzidos e quais aspectos podem afetar a sua realização (MAGILL, 2000). A prática da atividade envolve grande variabilidade no desempenho. Existem condições reguladoras do movimento que são essenciais para sua realização, por exemplo, a distância da rede de voleibol e a posição em que se encontra o executante e a altura em que ela está fixada. 113 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Por sua vez, a cor da bola ou o tipo da rede não comprometem a efetivação da ação, sendo condições designadas como não reguladoras de desempenho. 7.4.2 Segunda fase – Aperfeiçoamento da habilidade A partir da segunda fase, o aprendiz necessita aprofundar sua compreensão acerca das particularidades da tarefa, sobretudo quanto à necessidade de tomadas de decisão imprevistas para efetivar um movimento com eficiência. Os praticantes descrevem que inicialmente devem ajustar a execução da tarefa às exigências circunstanciais para sua concretização: se ela exige deslocamento, se demanda mudanças de refinamento de manipulação, se haverá obstáculos ou impedimento para sua consolidação. Quando se corre uma prova de velocidade, em pista de atletismo, sabemos que os adversários não vão dificultar seu desempenho, por exemplo, colocando‑se diante de seu caminho, isto é, o ambiente não sofre variações para que possa afetar a execução da habilidade. Do mesmo modo, a apresentação de uma coreografia de dança exige que se destaque estritamente aquilo que foi treinado e associado com o ritmo da música escolhida. Já um goleiro de handebol promove dificuldades para o atacante na cobrança do tiro de 7 metros (penalidade máxima), pois pode se deslocar continuamente em qualquer direção, exigindo que o jogador tome uma decisão somenteno último instante para lançar a bola e tentar marcar o gol (ponto). Exemplo análogo ocorre com um lutador de boxe, que precisa, sucessivamente, tomar decisões a partir das ações de seu adversário, o que é difícil prever. As tarefas classificadas como fechadas (realizadas em ambientes que não se alteram) requerem a fixação do padrão de movimentos. As tarefas motoras abertas, que demandam assumir constantes variações nos movimentos para que os objetivos da tarefa motora sejam atingidos, exigem a diversificação na execução, a fim de se obter desempenho compatível com sua realização (SCHMIDT; WRISBERG, 2010). Higgins e Spaeth (1972) fizeram um estudo que comprova a adaptação dos indivíduos ao se confrontarem com atividades que conduzem à construção de padrão de movimento mais estáveis ou mais diversificados em relação às variações propostas pelo ambiente durante o processo de aprendizagem. Esses pesquisadores verificaram que o padrão de movimento tende a se estabilizar e se tornar consistente, tomando‑se por base o lançamento de dardos em um alvo imóvel, ou que se movimente de modo oscilatório, porém com velocidade constante. Quando se provocaram mudanças contínuas de velocidade pendular do alvo para cada lançamento, encontraram‑se diferentes padrões de movimento na tentativa de se alcançar êxito nessa tarefa. 7.4.3 Modelo coordenativo de aprendizagem motora de Newell O desenvolvimento do movimento, segundo Newell (1985), apresenta dois estágios na construção da aprendizagem motora: coordenação e controle. A coordenação está fundamentada no fato de que o aprendiz busca inicialmente construir e adquirir os padrões básicos de movimentos para a realização da habilidade movimento. A segunda etapa envolve o controle das ações para que se realize a tarefa motora em qualquer ambiente na qual seja exigida. 114 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III 7.4.3.1 Estágio de coordenação Essa fase de aprendizagem se relaciona com o intuito do aprendiz de associar a capacidade de movimentação corporal às necessidades de execução da tarefa. Há descobertas de distintos graus de liberdade, e o indivíduo vai acomodando informações relevantes para o arranjo apropriado dos segmentos corporais conforme os padrões de movimentos. Comumente, as pessoas parecem restringir alguns graus de liberdade ao iniciarem as primeiras tentativas de execução e depois vão ampliando os aspectos de coordenação, para depois ascender ao aprimoramento da habilidade. Fisioterapeutas, frequentemente na reabilitação de hemiplegias (paralisia parcial ou total de metade do corpo), efetuam a limitação da coordenação de movimentos para que o indivíduo possa reconstruir a sequência de ativação motora que permitirá a ele aperfeiçoar os movimentos e encontrar maior abrangência motora. Os sujeitos participantes dessas ações vão variando os músculos usados, alterando as necessidades a serem atingidas e nas demandas de atenção. Um instrutor de atletismo, ao propor a realização do salto com vara, pode dividir os componentes dessa tarefa. Primeiro ensinando como efetuar a empunhadura da vara, depois seu embocamento, em seguida como efetivar a corrida carregando esse implemento. Então, poderá mostrar como coordenar essa ação de modo integrado. Esse procedimento, a princípio, limitará os graus de liberdade musculoarticular para depois permitir ao sujeito encontrar a própria coordenação mais adaptada a esses movimentos. Remar apoiando‑se sobre uma prancha exige uma combinação bastante apurada de vários graus de liberdade envolvidos na ação motora, que abrange o tamanho dos segmentos corporais, as dinâmicas biomecânicas (torção de articulações, extensão e flexão dos braços, semiflexão dos joelhos, postura ereta das costas etc.) coordenação visual e espaçotemporal, noção de direção do corpo, aplicação de forças corretas etc. Figura 64 – Remando sobre uma prancha de surfe. Combinação de vários graus de liberdade concomitantemente 7.4.3.2 Estágio de controle Após o estágio de conquista da coordenação dos padrões de movimentos, o controle dos movimentos acontecerá por meio do acréscimo de informações características das situações nas quais as habilidades deverão ser concretizadas. A adição desses aspectos é conhecido por parametrização do padrão de movimentos (MAGILL, 2000). 115 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Comandos motores específicos para diferentes combinações de deslocamentos segmentares, de força aplicada, da velocidade de movimento e precisão a ser atingida serão, a cada tentativa de prática, realizados conforme a disposição contextual da tarefa. A taxa de aperfeiçoamento do indivíduo será proporcional ao continuum de prática relativa às situações em que se executa a habilidade. O avanço no desempenho pode ser medido pela lei de potência da prática, como descrita matematicamente na equação sugerida por Snoddy em 1926: logβ + nlog x = log C Log ou log = função logarítmica C = representa a medida de desempenho β e n são constantes x = número de tentativas Percebe‑se que não há limitação no processo de adaptação do controle das habilidades para a realização motora, mesmo que as pessoas envolvidas já estejam acostumadas ao cumprimento de uma tarefa e não estejam mais em processo de aprendizagem. Pode‑se verificar que a medida de desempenho de uma habilidade depende do número de tentativas de prática alcançadas pelo executante. No entanto, chama‑se a atenção para o fato de que indivíduos que atingiram a especialização motora em qualquer habilidade apresentam, mesmo com muitas tentativas de prática, mínimos incrementos de desempenho. Essa afirmação se identifica pelas determinações de Fleischman (1982) para indicar os potenciais e as limitações de cada indivíduo em relação às suas capacidades perceptivo‑motoras e de proficiência física. As inclinações perceptivo‑motoras são relacionadas a tempo de reação, destreza, velocidade de movimentos articulares, precisão motriz, controle muscular e coordenação entre múltiplos membros. Já as competências físicas são as força estática, explosiva e dinâmica, a flexibilidade dinâmica, o equilíbrio geral do corpo e a manutenção de estados de desempenho. Uma vez próximo de se atingir a plenitude dessas capacidades, mais complexo fica alcançar melhorias substanciais no refinamento da habilidade. Recente experimento efetuado por Stafford et al. (2012) mostra a comparação do que foi aprendido entre humanos e ratos na aquisição de tarefa de manipulação com elementos de análise espacial, temporal e cinemáticos, com possibilidade de incrementos de dificuldade e verificação de introdução de novos elementos de resolução de problemas para alcançar a solução motora. O gráfico a seguir demonstra o seguimento da lei de potência da prática e indica o aperfeiçoamento de habilidade de manipulação em humanos. 116 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III 10 9 8 7 6 5 0 2 4 6 8 10 Interação Di st ân ci a da pe sq ui sa ir re le va nt e Figura 65 – Interval search distance = intervalo de distância de investigação em segundos x Interation = número de tentativas 8 ESTRUTURAÇÃO DA PRÁTICA 8.1 Classificações das habilidades motoras A categorização das habilidades permite que se possa organizar sua disposição instrucional, sua prática e as condições de oferecimento de informações (feedback) que auxiliem na motivação, correção, reforço de execução e correção dos movimentos. 8.1.1 Categorização quanto à precisão dos movimentos A precisão dos resultados e o tamanho da musculatura envolvida para executar uma habilidade indicam a classe das habilidades globais ou finas. Habilidades globais (grosseiras) possuem determinadas demandas de exatidão, não tão rigorosas quanto às de categoria fina, e, para sua execução, há participação de uma grandemusculatura envolvida no gesto motor, por exemplo, lançar uma bola de basquete, chutar uma bola, correr, saltar, remar e pedalar. Por sua vez, habilidades finas possuem elevado nível de exigência quanto à precisão motora. Ao mesmo tempo, essas tarefas apresentam participação de pequeno grupo muscular, como nas obturações realizadas por um dentista, serviços de um relojoeiro ou ourives, localização de uma peça de xadrez na posição exata na qual se pretende efetuar lance pensado, e o preparo e disparo de um projétil com uma pistola em alvo com acurácia. 8.1.2 Habilidades classificadas quanto à organização do movimento A coordenação do movimento pressupõe a classificação das tarefas motoras em três grupos distintos: discretas, seriais ou seriadas, e contínuas. As discretas são identificadas por arranjos iniciais e finais bem‑definidos. Citemos alguns exemplos: ligar e desligar um computador, fazer uma incisão com bisturi em espaço marcado, efetuar o arremesso de lance livre no basquete, sacar a bola de tênis, arremessar ou rebater uma bola de beisebol ou golpear uma bola de golfe. Em geral são realizadas com ações de modo muito breve, com duração específica e são muito corriqueiras nas ocupações que envolvam objetos para serem cumpridas. 117 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Habilidades identificadas quanto à sua organização, chamadas de serial ou seriadas, são compostas de um conjunto de habilidades motoras discretas em sequências. A corrida de 110 m sobre obstáculos se caracteriza por ser uma tarefa motora serial, pois é constituída pela corrida associada aos saltos sobre as barreiras. Outros exemplos são as atividades de ginástica rítmica, artística e acrobática. Dirigir um automóvel também é uma tarefa seriada, pois o indivíduo combina várias ações de natureza discreta para conseguir o resultado desejado, como pisar e soltar a embreagem, acelerar ou frear o veículo e controlar a direção. Por fim, temos as habilidades contínuas, que são de natureza repetitiva, e não são os movimentos que definem seu início e fim. Pedalar, nadar, correr, andar e remar são exemplos clássicos. Nota‑se que em competições as atividades repetitivas partem de uma linha arbitrária para seu começo e têm fim fixado por distâncias previamente estabelecidas. Maratonas, provas de corridas, ciclismo, remo e de natação são tarefas motoras contínuas. Bater um prego ou fixar um parafuso em algum lugar também são exemplos delas. 8.1.3 Tarefas motoras classificadas quanto à previsibilidade de ambiente/tomada de decisão O ambiente executável pode oferecer alterações para realização das tarefas, e o indivíduo deverá diversificar suas ações de acordo com os objetivos a serem alcançados. Define‑se tarefa aberta a partir do momento em que o indivíduo deva tomar uma decisão motora instantânea em razão das demandas em questão. O espaço de realização da atividade é instável e com baixíssimo grau de previsibilidade. Uma luta de judô se caracteriza por ser uma combinação de habilidades abertas porque estipula uma combinação de ações que resultará em aplicação dos golpes, defesas, esquivas e contra‑ataques, sem que se possam preestabelecer, previamente, todas as ações a serem realizadas, mesmo porque não se pode prognosticar tudo o que seu adversário poderá perpetrar. A decisão sobre o que deverá ser empreendido é tomada instantaneamente a cada momento da luta. Uma cortada de vôlei exige tomada de decisão imediata, pois, apesar de se programar o movimento da batida na bola, o atacante decide somente no último instante sobre a posição final da mão, efetuando um golpe paralelo, em diagonal, ou mesmo explorando o bloqueio. Jogos de oposição caracterizam habitualmente tarefas motoras abertas pela diversidade de oportunidades possíveis. No judô a luta se caracteriza por ser uma tarefa motora aberta, pois não se sabe com exatidão qual será a habilidade usada pelo oponente; devem‑se tomar decisões instantâneas. 118 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III Figura 66 – No caratê a luta se caracteriza por ser uma tarefa motora aberta, pois não se sabe com exatidão qual será a habilidade usada pelo oponente Habilidades repetitivas e que não exigem variações no padrão de movimento são classificadas como fechadas. O ambiente é previsível e não oferecerá oposições ou mudanças que exijam a transformação das ações previamente definidas para a realização da habilidade. Assim, o espaço de realização é estável e sem alterações repentinas. Atividades motoras cotidianas como cortar legumes, tomar água, apanhar um talher sobre a mesa, andar em um ambiente vazio são exemplos de tarefas motoras fechadas. Outras tarefas afins são: realizar uma coreografia no balé, disputar uma prova de remo, correr uma prova de 1.500 m, atirar uma flecha em alvo estável, fazer o lance livre no basquete e sacar a bola no tênis de mesa. Figura 67 – Tiro com arco e flecha é uma tarefa motora fechada: alvo fixo e previsível 8.1.4 Classificação quanto ao sistema de ação motora A ação executável determina deslocamentos corporais específicos quando da realização de tarefas motoras. Desse modo, a primeira classificação refere‑se ao uso de objetos e sua afinidade característica com o indivíduo. Tomemos como exemplo um rebatedor de beisebol, o arremessador no basquete ou mesmo um jogador de tênis. Todos necessitam manejar elementos exclusivos e típicos para a execução da tarefa. 119 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Essa designação é chamada de manipulação porque a atividade só é assim determinada em razão de os objetos usados garantirem a execução e distinguirem a ação motora. Outros exemplos de manipulação são: pedalar uma bicicleta, pois o indivíduo somente consegue fazê‑la quando movimenta os pedais; dirigir um automóvel, porque se manuseiam as marchas, os pedais e o volante; ainda temos outros, como: comer, escrever, pintar, carregar uma bolsa, ou jogar futebol, pois se maneja a bola com os pés. Figura 68 – Exemplo de manipulação: rebatimento da bola de beisebol Temos ainda a classificação chamada de locomoção, que se caracteriza quando o sujeito da ação projeta seu corpo no espaço por meio de atos motores causados por segmentos articulares, que, por sua vez, movimentam o próprio corpo. Exemplos de locomoção: andar, correr, saltar, escalar e nadar. Quando se dirige um automóvel ou se galopa, quem está fazendo a locomoção é o veículo ou o cavalo, respectivamente, e, nesse caso, o protagonista da ação motora que dá movimento ao carro ou faz o animal se deslocar está realizando ações de manipulação. Figura 69 – Exemplo de locomoção: escalada = projeção do corpo com membros superiores e inferiores Por último, destacamos o sistema de ação motora que está presente em todas as tarefas humanas: a estabilização. Em todas as habilidades e tarefas é indispensável haver equilíbrio estático ou dinâmico de determinados grupamentos musculares para auxiliar a execução de atos de manipulação ou locomoção. 120 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III Ao andar, mantemos nossa coluna vertebral ereta e a cabeça bem estável; ao escrever ficamos com a cintura escapular e os braços bem firmes para podermos segurar a caneta com os dedos e movimentar os punhos de modo adequado. A estabilização, entretanto, pode muitas vezes ser o sistema principal a ser notado. Na pirueta do balé, mesmo com a bailarina realizando giros diligentes, o fator principal do exercício é a manutenção do equilíbrio corporal dinâmico. Quando nos sentamos também realizamos uma estabilização corpórea estática. Figura 70 – Exemplo de estabilização como ação motora principal: pirueta com a cabeça na dança de break 8.2 Organização da aprendizagem e planejamentoda prática É importante que sejam definidos instrumentos para permitir a ocorrência da aquisição e da retenção da habilidade. Dispor e oferecer instruções para que um indivíduo aprenda uma aptidão motora depende essencialmente das metas a serem atingidas e do tipo de destreza a ser ensinada. Para tal, haverá o planejamento da prática, e será primordial proporcionar dados para aprimoramento dos movimentos a fim de atingir a aptidão motora. Lembrete Prática: realização efetiva de um processo de tentativas de repetição. Exemplo: os estudantes praticam os lançamentos do basquete. 8.2.1 Instruções iniciais da habilidade Modelagem ou demonstração é um dos instrumentos mais usados para apresentação inicial de uma habilidade motora e de seus componentes para seus iniciantes. É uma representação da habilidade e ocorre do seguinte modo: a recepção deve ser efetuada de modo visual e apreender a concentração do iniciante. 121 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR A percepção visual é capaz de captar informações, e então o aprendiz poderá transformar a informação em código cognitivo, formalizando a coordenação necessária para processar o movimento. Professores, especialistas, vídeos, esquemas e fotos são os meios pelos quais a demonstração pode ser realizada. A demonstração associada à verbalização dos movimentos parece ser a maneira mais apropriada para se transmitir satisfatoriamente uma habilidade motora ao público‑alvo e obter um nível de aprendizagem com desempenho suficiente (HAGUENAUER et al., 2005; HODGES; FRANKS, 2002; MIRANDA, FERRO; TEIXEIRA, 2009) Saiba mais MIRANDA, M. L. FERRO, C. F.; TEIXEIRA, L. A. Efeito do uso da instrução verbal e demonstração por vídeo na aprendizagem de uma habilidade motora do judô. 2009. 164 p. Monografia (Especialização em Aprendizagem Motora) – Departamento de Biodinâmica do Movimento do Corpo Humano da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. Pode‑se apenas verbalizar os movimentos que constituem a habilidade, e o principiante deverá interpretar as unidades linguísticas usadas decodificando as informações e organizando‑as de modo apropriado. No contexto da verbalização, é essencial que se use corretamente o tom de voz, a formalização da linguagem de acordo com o público que a recebe e a maneira como se expressam as palavras (entusiasmo, determinação e contundência). A informação cinestésica também é um meio para se oferecer instrução a um aprendiz. O instrutor deve ser específico e indicar a região, a articulação ou o segmento que deve ser movido e orientar seu posicionamento a ele. Na iniciação da ginástica artística, é frequente se verificar que os professores ficam atentos às realizações e disposições articulares. Como exemplo, ao se começar a prática do mergulho à frente com rolamento (cambalhota), o instrutor, ao ter crianças iniciantes, situa a flexão de suas cabeças, tocando no queixo delas e direcionando o dedo para a região do esterno. Desse modo dará informação cinestésica relevante para que haja a colocação correta da cabeça em relação ao movimento, e assim favorecer a conclusão da tarefa, evitando riscos em sua realização. Saiba mais TANI, G. et al. O estudo da demonstração em aprendizagem motora: estado da arte, desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano [on‑line], v. 13, n. 5, p. 392‑403, 2011. 8.2.2 Planejamento da prática O desenvolvimento das execuções reais dos movimentos que constituem uma habilidade motora em relação ao ambiente e à tarefa é chamado de prática. 122 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III O efeito da prática pode ser conduzido para que o aprendiz obtenha uma abrangência mais global das atividades que envolvem a tarefa. Assim, a prática é efetuada pelo todo, isto é, de modo que o principiante possa experimentar orientação mais universal da combinação de movimentos em busca dos objetivos da atividade e o emprego global da coordenação motora. Então, irá descobrir os detalhes mais relevantes que instituem a tarefa motora apenas após um período determinado da prática. Jogos coletivos são tarefas que têm mostrado resultados mais consistentes de aprendizagem quando praticados pelo todo, e somente depois incluem elementos particulares para serem treinados separadamente. Contrariamente, pode‑se preparar a prática destacada das partes que configuram uma tarefa motora. Tarefas com muitos elementos independentes, em geral, são ensinadas separadamente, para que primeiro esses componentes sejam praticados com ênfase e depois se possa juntá‑los em uma unidade principal. A associação das execuções independentes de elementos de uma coreografia de dança é exemplo de configuração da prática de partes isoladas que se agregam no fim para composição integral da tarefa motora. Deve‑se notar que o preparo da prática leva em consideração a natureza da tarefa para analisar sua complexidade, a qual consiste em fixar o número de elementos que a compõe. Essa avaliação pode ajudar a determinar se a prática do todo é mais indicada ou se a prática das partes é mais recomendada. Tarefas motoras complexas são aquelas que possuem um maior número de componentes para sua realização. Trocar as marchas de um automóvel ao dirigir é uma atividade de alta complexidade, pois envolve muitos elementos. O mesmo ocorre ao sacar uma bola de tênis de campo. Vejamos os dados: aprender sobre a empunhadura da raquete, sua manipulação, colocação dos pés na posição apropriada, lançar verticalmente a bola ao alto, movimentar o tronco à frente e golpear a bola em direção à quadra do adversário com a raquete. Não se pode confundir um exercício difícil de ser efetivado por possuir alta complexidade, pois uma tarefa de baixa complexidade pode ser extremamente difícil de ser executada. Alguns exemplos de tarefas de baixa complexidade são: lançar um dardo, rebater uma bola no beisebol, pegar um copo para beber água e efetuar uma tacada no golfe. A natureza da atividade também determina sua organização, que é explicada pela integração dos componentes que a caracterizam. Se os elementos que a compõem são muito independentes, a tarefa é de baixa organização. No entanto, se os itens possuem vinculação, não são concretizados sem que o precedente tenha ocorrido ou o próximo somente é possível após a efetivação do anterior. Então, a tarefa é de alto nível de coordenação. O rebatimento de uma bola de beisebol possui alta organização, assim como se deslocar e lançar uma bola de basquete em direção à cesta, nadar uma modalidade específica como o nado crawl e o salto em altura. Por sua vez, o arranjo de uma coreografia de dança, em geral, é composto de partes relativamente independentes, bem como a cortada no voleibol. Os estudos científicos têm mostrado que tarefas motoras de alta complexidade e baixa organização são mais bem‑exercitadas e apresentam melhores resultados quando praticados por partes (MAGILL, 2000). Assim, a cortada do voleibol pode ser segmentada e treinada isoladamente, por exemplo, preparação e deslocamento; em seguida somente o salto em direção vertical junto à rede, deslocamento do braço em direção à bola e as diferentes cortadas com a flexão do punho. Depois disso se unem todas as partes e se realizam todas sequencialmente. 123 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Tarefas de baixa complexidade e alta organização, como o rebatimento no beisebol, exibem melhores resultados de aprendizagem a partir da prática do todo. Após a prática estar mais segura, verifica‑se que os detalhes que podem ser aperfeiçoados para melhorar o desempenho (SCHMIDT; WRISBERG, 2010). Em atividades coletivas de oposição, deve‑se atentar para a prática do todo coligada à prática da tática, pois osjogos implicam obter resultados de performance levando‑se em consideração as regras e a participação do grupo na busca de objetivos comuns, tomando‑se por base o alto grau de incertezas (tarefas abertas). Devem‑se propor práticas que contemplem a necessidade de resolução de problemas. Na prática das partes, pode‑se adicionalmente segmentar os componentes mais grosseiros e depois impor os mais refinados. Tarefas que abarquem movimentos mais globais e que necessitem de finalização com primor para seu desempenho, como a bandeja do basquete, podem ter sua aprendizagem realizada inicialmente pelas partes que envolvem o deslocamento e a condução da bola e somente depois se preocupar com a precisão manual e a flexão do punho para acertar o lançamento e passagem da bola pela cesta. A prática deve ser avaliada quanto à sua prescrição constante ou variada. A variabilidade da prática deve ser analisada em virtude da classificação da tarefa quanto à tomada de decisão. Caso a tarefa motora se categorize como fechada, então a prática constante da habilidade parece ser a mais indicada. Cogita‑se examinar as condições não reguladoras da realização da atividade e verificar se sua alternância ou modificação pode afetar o desempenho. Ao se comprovar sua eficácia, então, o profissional deve provocar essas adaptações, porém a tarefa seguirá a prática constante sem sofrer variações dos seus elementos de configuração. Como exemplo, temos o saque do voleibol, que, por ser uma habilidade fechada, não tem quaisquer interferências reguladoras. Assim, sua prática deve se restringir às condições de sua concretização e depois investigar outras ações não reguladoras. Ingerências como barulho da torcida, número de saques e importância em acertar os golpes para atingir resultado favorável em uma partida devem ser analisadas, e ainda é preciso verificar como as respostas anteriores do adversário afetam o desempenho da tarefa e a partir de então providenciar intervenções para que o jogador possa se apropriar dessas demandas. Tarefas motoras abertas, em contrapartida, exigem variabilidade da prática, a fim de proporcionar as mais diversas condições de formalização de esquemas motores, e isso é feito para o aprendiz criar acervo mais abrangente de soluções motoras que venham ao encontro das situações mais incertas e que possam enfrentar na realização da tarefa motora. Práticas em blocos, em série e aleatórias, podem ser organizadas para que se consigam variações de prática necessárias para o aprendiz ampliar sua competência para solução de problemas motores. Veja os exemplos de práticas variadas na aprendizagem do passe da bola por meio de chute rasteiro com o pé, para o aprendizado no futebol, na tabela a seguir. 124 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III Tabela 1 – Descrição de prática variada do passe com a bola por meio de chute rasteiro com o pé no futebol Passe de bola de futebol por meio de chute rasteiro Dias 1 2 3 4 5 6 Tempo I I E E D D Prática em blocos 10 min I I E E D D 10 min I I E E D D 10 min I I I I I I Prática em série 10 min E E E E E E 10 min D D D D D D 10 min Prática aleatória 10 min E D I D E I 10 min D D E I I E 10 min E I E D D I I = parte interna do pé E= parte externa do pé D = dorso do pé 8.2.3 O princípio da interferência contextual para a prática variada A prática constante parece atender primeiramente os objetivos de retenção da habilidade, fazendo que se construa primeiramente maior coerência motora e depois ocorra sua especialização pela permanência dos seus movimentos. Por sua vez, a prática variada permite ao aprendiz adquirir versatilidade e, desse modo, possuir mais desenvoltura motora. Segundo Davies (2000), Maturana e Varela (1995), o sistema de arquivamento motor possui grande adaptabilidade diante das mudanças internas e externas. Desse modo, conforme propõe Schmidt (1975), as pessoas aprendem a construir regras abstratas por meio da prática variada. Essa condição permite ao indivíduo delinear fluxogramas de soluções motoras que o auxiliarão a tomar decisões ante os desafios aos quais estiverem sujeitos. Destarte, instigando a constituição de maior repertório motor, pois o sujeito deve sempre reelaborar novos planos de ação. Além disso, Batting (1979) sugere que, dependendo da tarefa, a introdução de interposições circunstanciais durante o processo de aprendizagem pode servir de estímulo para a interação das conexões sinápticas, seja de forma positiva, seja negativa, com o intuito de gerar diferentes respostas motoras. Esse conceito foi chamado de interferência contextual. Assim, o indivíduo poderá variar parâmetros cinestésicos e cinemáticos ao realizar uma mesma tarefa motora e atingir diferentes formações cognitivas, e estas estabelecem condições de maior abrangência motriz em relação à mesma classe de movimentos (TANI, 2000). Para visualizar esse conceito, apresentam‑se no quadro a seguir mudanças contextuais na aprendizagem do passe de bola com os pés. 125 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO MOTOR Quadro 1 – Planejamento de interferências circunstanciais no passe de bola com os pés Alcance da bola Objetivo da tarefa Objeto (bola) Piso Calçados Restrição (pernas) – Próximo – Mediano – Afastado – Rasteiro – À meia altura – Pelo alto – Acertar alvos – Tamanho – Em ação – Parado – Oficial – Leve – Pesado – Grama – Terra – Cimento – Madeira – Areia – Saibro – Borracha – Tênis – Chuteira – Descalço – Sandália – Elásticos (bands) – Perna de apoio fixa/solta – Parado/ correndo – Caneleira com peso adicional 8.3 Estabelecimento de metas para aprendizagem motora O estabelecimento de metas para obter aprendizagem motora vem sendo investigado há muito tempo. Desde a organização da educação, da vontade de efetuar‑se a melhor técnica desportiva e do trabalho profissional e, até mesmo na estruturação familiar, aproveita‑se da necessidade de se obter resultados, bem como de desejos intrínsecos dos interessados para se colocarem alvos de proficiência. Atingir determinadas ações motoras, com eficácia, por meio de metas ou desafios implica almejar redução de tempo de aprendizagem e obterem‑se seus efeitos mais objetivos e, além disso, adjetivar a excelência motriz. No constante ao aprendizado de habilidades motoras, trabalhos de pesquisa como o de Locke e Latham (1990) já expunham que a definição de objetivos de aprendizagem era sistematicamente investigada. Vários estudiosos propunham que a relação estímulo‑resposta era a chave para o aprendizado. Na aquisição de habilidades motoras, a exposição de metas é uma importante ferramenta para estimular o aprendiz a obter uma nova habilidade motora. As metas em geral são reforços positivos que entusiasmam iniciantes a alcançar satisfação própria e autoestima. Repetição de habilidade Estabelecimento de metas Reforço positivo Comportamento Aprendizagem Figura 71 – Condicionamento operacional respondente de Skinner – obtenção de aprendizagem por motivação positiva No estudo de teorias de aprendizagem, o maior precursor de reforços positivos na aprendizagem foi B. F. Skinner (1938), que preconizou que incentivos apropriados e metas condicionantes produziriam efeitos aguardados e, ainda mais, superação de resultados. O autor definiu essa realização motora como condicionamento respondente, porém sua proposta ressaltava que devessem ser adicionadas ao 126 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 0/ 01 /1 7 Unidade III resultado as consequências de sua execução, o que ele chamou de condicionamento operante. Ele destacou que a maioria dos comportamentos humanos se processa com caráter produtivo, a fim de satisfazer às necessidades relativas à sobrevivência fisiológica (fazer uma refeição), ou de utilização cotidiana contínua para atividades profissionais
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