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Desnutrição Energético-Proteica

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SCA II – Desnutrição Energético-Proteica 
A desnutrição pode ser definida como uma condição clínica decorrente de uma deficiência ou excesso, relativo 
ou absoluto, de um ou mais nutrientes essenciais. Também pode ser definida como um estado carencial de 
macronutrientes e micronutrientes, levando a desaceleração, interrupção ou involução do crescimento e de-
senvolvimento. A prevalência se dá principalmente em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Re-
presenta 15% das causas de óbito em crianças abaixo de 4 anos nos países em desenvolvimento. Acomete 
20% das crianças menores que 5 anos em todo o mundo (lactentes e pré-escolares). Pode ser classificada pela 
etiologia, quadro clínico, características morfológicas, antropométricas e outras (laboratoriais, aliadas a doen-
ças, etc.). 
A desnutrição pode ser específica onde há o déficit de um nutriente determinado, como o raquitismo, por 
exemplo. Mas pode ser também global onde engloba a carência generalizada de nutrientes. Também pode ser 
dividida em primária (não há doença associada) quando há deficiência na digestão ou ingestão alimentar, 
quantitativa ou qualitativa. Ou pode ser secundária (doença associada) onde o aproveitamento dos alimentos 
fornecidos é inadequado, vômitos, síndromes de má absorção intestinal e infecções. 
Classificação 
A desnutrição pode ser classificada de modo antropométrico pela classificação de Gomez, onde é indicado 
até os dois primeiros anos de vida: 
O resultado pode ser classificado em: 
Observação: edema é considerado desnutrição de grau III. 
Para crianças de 2 a 10 anos, pode-se utilizar a classificação de Waterlow: 
A classificação é feita por: 
 
 
Eutrófico: P/I > 90% de p50 
Desnutrição Grau I: P/I 76-90% de p50 
Desnutrição Grau II: P/I 60-75% de p50 
Desnutrição Grau III: P/I < 60% de p50 
 
Eutrófico: E/I > 95% e P/E > 90% 
Desnutrido Agudo: E/I > 95% e P/E < 90% 
Desnutrido Crônico: E/I < 95% e P/E <90% 
Desnutrido Pregresso: E/I < 95% e P/E > 90% 
 
𝑃
𝐼
 =
𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑂𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑑𝑜 × 100
𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝐼𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑒 𝑆𝑒𝑥𝑜 (𝑝50)
 
𝐸
𝐼
 =
𝐸𝑠𝑡𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑂𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑑𝑎 × 100
𝐸𝑠𝑡𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝐼𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑒 𝑆𝑒𝑥𝑜 (𝑝50)
 
𝑃
𝐸
 =
𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑂𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑑𝑜 × 100
𝑃𝑒𝑠𝑜 𝐸𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝐸𝑠𝑡𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑂𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎𝑑𝑎
 
Segundo a OMS em 2006: 
Desnutrição P/E E/I Edema 
Moderada DP – 3 ≤ -2 DP – 3 ≤ -2 Não 
Grave DP < -3 DP < -3 Sim 
 
Outra classificação é por DPE leve, onde há falência do crescimento (Peso e Estatura) ou DPE grave, em 
caso de Kwashiorkor e Marasmo. 
Os fatores associados a desnutrição são: baixo nível socioeconômico, desajustamento familiar, saneamento 
básico inadequado, baixo peso de nascimento, fraco vínculo mãe-filho, abandono ao aleitamento materno, 
baixa escolaridade. Já a fisiopatologia é indeterminada, uma vez que a desnutrição depende da necessidade 
individual de nutrientes, composição corporal e história pregressa. 
No exame laboratorial, deve-se pedir os seguintes exames: hemograma, ferritina, glicose, sódio, potássio, 
cloro, pH, bicarbonato, proteína total, transferrina, pré-albumina, creatinina, PCR e fezes. 
Tipos de Desnutrição 
A desnutrição pode ser do tipo Marasmo (deficiência de macros e micronutrientes não edematosa com defi-
nhamento grave), Kwashiorkor (edematosa com baixa ingestão de proteínas) ou Kwashiorkor Marasmático 
(déficit de micro, macronutrientes e baixa ingestão de proteínas). 
O tipo Kwashiorkor acomete crianças acima de 2 anos e apresenta acentuada limitação na ingestão de prote-
ínas, retardo do crescimento, edema depressível, “face de lua”, hepatomegalia, ascite e alterações mentais e 
do humor. Pode apresentar lesões no cabelo, despigmentações, lesões de pele: dermatoses descamativas, ano-
rexia, diarreia, deficiência de micronutrientes. Um sinal comum é o sinal da bandeira. 
Já o Marasmo acomete crianças maiores de 12 meses e possui restrição crônica e severa de energia e proteína, 
perda de gordura e massa muscular, hipotrofia severa, face simiesca e deficiência de micronutrientes. A pele 
apresenta turgor, tornando-se enrugada e frouxa. Pode apresentar diarreia, infecções respiratórias, parasitoses, 
tuberculose e irritação. 
Tratamento 
O tratamento depende se está em forma leve ou grave. Na última, é possível ser diferenciada em fases pri-
meira (estabilização), segunda (reabilitação) e terceira (acompanhamento). 
Na forma leve, deve-se incluir o aleitamento materno, alimentos hipercalóricos e baratos, higienização dos 
alimentos, aumentar o número de refeições diárias, acompanhamento familiar com equipe multidisciplinar. 
Na fase grave, em primeira fase (1 a 7 dias) é a de estabilização, deve-se tratar ou prevenir a desidratação, 
hipoglicemia e hiponatremia. Depois, deve-se corrigir o desequilíbrio eletrolítico, tratar infecções, corrigir 
micronutrientes, alimentação oral e/ou parental e estimulação do desenvolvimento emocional e sensorial. A 
segunda fase é a de reabilitação e possui duração de até quatro semanas, onde deve-se iniciar suplementação 
de ferro (em fase anterior o ferro pode prejudicar os mecanismos de defesa proteica do hospedeiro e exacerbar 
o dano oxidante, precipitando infecções) e cuidar para a síndrome da realimentação que se manifesta por 
desenvolvimento de hipofosfatemia grave, causando fraqueza, rabdomiólise, disfunção de neutrófilos, insufi-
ciência cardiorrespiratória, arritmias, convulsões, alteração no nível de consciência e morte. Em caso de níveis 
baixos de fosfato, deve ser administrar fosfato durante a realimentação. Já na terceira fase é o acompanha-
mento, deve-se prevenir os efeitos psicossociais permanentes da fome com a estimulação psicomotora, iden-
tificar as causas da desnutrição em todos os casos e envolver a família e comunidade.

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