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Desnutrição Energético- Proteica na Infância Disciplina: Dietoterapia Infantil Profa. Patricia Schwengber • Segundo a OMS é o conjunto das condições patológicas decorrentes de deficiência simultânea de PTN e calorias, que ocorre mais frequentemente em lactentes e crianças pequenas e que geralmente se associa à infecções. DEFINIÇÃO DA DESNUTRIÇÃO PROETICO-CALÓRICA (DPC) • Baixo peso ao nascer. • Práticas alimentares incorretas, com o início precoce de alimentação complementar e uso incorreto de fórmulas lácteas. • Dietas com baixa densidade energética e número de refeições inadequado. • Maior necessidade de nutrientes por unidade de peso. • Infecções que podem causar anorexia, reduzindo a ingestão de alimentos. FATORES ASSOCIADOS À DPC NA INFÂNCIA • Inadequada disponibilidade de alimentos, desigualdade social, indisponibilidade de terra cultivável distribuição intra familiar de alimentos, condições inadequadas de moradia • Conhecimento precário das mães e escolaridade materna. • Fraco vínculo mãe-filho FATORES ASSOCIADOS À DPC NA INFÂNCIA • Ocorre quando a quantidade de proteínas e/ou calorias é inadequada para atender às necessidades nutricionais de um indivíduo. • Ocorrem manifestações clínicas, antropométricas, e metabólicas, em razão da intensidade e duração da deficiência alimentar, dos fatores patológicos e fase de desenvolvimento biológico. Consumo alimentar Gasto Calórico e Nutricional ETIOLOGIA DA DPC NA INFÂNCIA • Primária: – Provém da ingestão alimentar inadequada (déficit de alimentos). – Relação com o nível socioeconômico. ETIOLOGIA DA DPC NA INFÂNCIA • Secundária: – Resulta de doenças que levam a uma baixa ingestão de alimentos, absorção ou uso inadequado dos nutrientes. – Desenvolvimento poderá ser: • Lento: doença crônica; • Rápido: doença aguda; – Causas: • da ingestão calórica e protéica; • das necessidades nutricionais. ETIOLOGIA DA DPC NA INFÂNCIA Etiologia da DPC Sócio-econômicos (pobreza, ignorância, práticas alimentares inadequadas, etc) Ambientais (condições insalubres de vida, guerras, inundações, etc) Biológicos (doenças, vômitos, diarreia, hipercatabolismo, etc) ETIOLOGIA DA DPC NA INFÂNCIA Na infância a desnutrição ocorre frequentemente em decorrência: ● Da interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo ● Da alimentação complementar inadequada nos primeiros 2 anos de vida ● À contaminação ambiental e privação alimentar ao longo da vida. ETIOLOGIA DA DPC NA INFÂNCIA É comum a ocorrência de episódios infecciosos repetidos, como infecções respiratórias, diarreias, os quais desempenham um papel importante no agravamento nutricional da criança e na perpetuação da desnutrição, que por sua vez a resistência às infecções e acentua sua duração e gravidade. Além disso, as infecções o aporte de nutrientes pela do apetite, pelo de perdas intestinais e catabolismo metabólico e da TMB, particularmente em processos febris. ETIOLOGIA DA DPC NA INFÂNCIA ✓ DPC é associada à morte em 56% das crianças menores de 5 anos. ✓ Taxa de letalidade hospitalar no Brasil com DPC grave é de 20%. ✓ No Brasil, houve da DPC em < 5 anos. ✓ Déficit Estatura / Idade (E/I): • 7% na população geral EPIDEMIOLOGIA DA DPC NA INFÂNCIA NO BRASIL • DPC pode ocorrer em 19% a 80% dos pacientes hospitalizados por diversos estados mórbidos. • DPC ↑ significativamente o tempo de internação hospitalar. IBRANUTRI, 2001 DESNUTRIÇÃO HOSPITALAR Manual de Tratamento da Desnutrição Grave em Meio Hospitalar: http://iris.paho.org/xmlui/bitstream/handle/123456789/4274/AtendimentoDesnutricaoGrave.pdf?sequence=1 Causas da DPC em pacientes hospitalizados 1. Redução da ingestão oral: – anorexia, náuseas, disfagia, dor, obstrução gastrointestinal, dentição deficiente, idade avançada, isolamento social, terapia medicamentosa excessiva, depressão, etc. 2. Aumentada perda de nutrientes: – má-absorção, diarreia, sangramento, interação fármaco x nutriente, drenagem de fístula, enteropatia perdedora de nutrientes, etc. 3. Aumentadas as necessidades nutricionais: – febre, infecção, doenças com fator injúria alto (neoplasias, cirurgia, traumatismo, queimaduras, sepse), medicamentos que alteram o metabolismo. Pode ser realizado por medidas antropométricas, exames laboratoriais, aspectos clínicos e alimentares. Obs.: CUIDADO COM A EXISTÊNCIA DE EDEMA! O edema é causado pela hipoalbuminemia: passagem do fluído intravascular para o sistema intersticial. Durante a internação o MS recomenda registro diário de peso. Caso apresente desidratação ou edema, o peso a ser considerado será aquele referente ao dia que tais situações estiverem resolvidas. DIAGNÓSTICO DA DPC NA INFÂNCIA DIAGNÓSTICO DA DPC NA INFÂNCIA Escore Z P/I E/I IMC/I P/E OMS < -2 Déficit de peso Déficit linear (stunted) Emaciação (wasted) Emaciação (wasted) < -3 Déficit de peso grave Déficit linear Grave (severe stunted) Emaciação Grave (severe wasted) Emaciação Grave (severe wasted) MS/ SISVAN ≥ -2 e < -1 Peso adequado Estatura adequada Adequado Adequado ≥ -3 e < -2 Peso baixo Baixa estatura Baixo IMC Baixo peso < -3 Peso muito baixo Muito baixa estatura Muito baixo IMC Muito baixo peso WHO 2006; MS 2008 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA DPC NA INFÂNCIA MARASMO Magreza visível Face senil e pregas frouxas Retardo no crescimento Letargia e fraqueza generalizada MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA DPC NA INFÂNCIA KWASHIORKOR Esteatose hepática e Hepatomegalia Retardo no crescimento Saída fácil de fios de cabelo Fraqueza ❖ Formas leves e moderadas: Alterações de crescimento (visíveis pela desaceleração da curva de crescimento), redução do tecido adiposo, anemia em estágios leves, ressecamento de pele e cabelos, alterações psicomotoras e apetite ainda preservado. ❖ Forma Grave: Doenças frequentes e alterações orgânicas. ❖ A DEP grave desenvolve-se gradualmente ao longo de semanas ou meses. FISIOPATOLOGIA DA DPC ❖ Classificação da DPC GRAVE: – KWASHIORKOR: deficiência predominantemente protéica. – MARASMO: deficiência energético-protéica. ❖ Essas formas de desnutrição são consideradas mais graves, devido à presença de importantes alterações clínicas e bioquímicas. ❖ O Kwashiorkor é mais difícil de tratar e apresenta maior morbidade que o marasmo. FISIOPATOLOGIA DA DPC ❖ KWASHIORKOR Desnutrição AGUDA – déficit protéico, estresse, trauma, infecções. Ocorrem alterações hormonais e excesso de radicais livres. Há maior estresse oxidativo, com dano celular devido à oxidação e da síntese de glutationa. TIPOS DE DESNUTRIÇÃO GRAVE Cabelos descorados por deficiência de AA sulfurados (metionina) e má formação de melanina, devido à deficiência de fenilalanina e tirosina. ❖MARASMO Desnutrição adaptada – CRÔNICA – adaptação ao jejum prolongado, mobilizando as reservas corporais. TIPOS DE DESNUTRIÇÃO GRAVE ❖ KWASHIORKOR – MARASMÁRTICO Situações em que o Kwashiorkor associa-se ao Marasmo resultando em um quadro misto denominado Kawashiorkor-marasmático. TIPOS DE DESNUTRIÇÃO GRAVE ❖ Alterações orgânicas no Marasmo e Kwashiorkor ❖ Alterações orgânicas no Marasmo e Kwashiorkor Características Marasmo Kwashiorokor Reserva muscular Reduzido, atrofia Muito reduzido, hipotonia Tecido adiposo Reduzido ou ausente Redução menos extrema Crescimento Atraso Atraso Edema Ausente Presente (face de lua cheia) Dermatose Raras Presente Pele Seca, fina, enrugada, sem elasticidade Mosaico , escamas, despigmentada Cabelo Poucas alterações, ressecado Fino, despigmentado (em bandeira), avermelhado, facilmente arrancados Função hepática Normal Hepatomegalia por esteatose Desenv. Psicomotor Retardo Retardo Apetite Bom, mas pode ocorrer anorexia Anorexia Comportamento Irritabilidade, aspecto senil e hipoativo Apatia, tristeza, hipoatividade, não sorri Anemia Presente Presente Albumina sérica Normal Muito reduzida Intercorrências Infecções intestinais (diarreia) e respiratóriase sinais de carência de micronutrientes Temperatura Baixa - Acioly • Marasmo é uma condição adaptativa à inanição. Durante o jejum, a glicose é obtida pelo glicogênio, que são esgotados entre 18 a 24h. Nesse momento, a glicose é sintetizada a partir da PTN muscular. O AA mais utilizado é Alanina, que perde seu nitrogênio e torna-se piruvato. • A medida que o jejum se prolonga, a gliconeogênese hepática diminui a produção de glicose de 90 para 50%, com o restante sendo suprido pelo rim. • Embora o cérebro e os músculos sejam incapazes de liberar glicose livre, liberam piruvato e lactato para a gliconeogênese pelo ciclo de Cori. • Em seguida, a gordura passa a ser utilizada como fonte de energia pela beta oxidação, que formam as cetonas. • A medida que as cetonas aumentam, o cérebro e o SNC a consomem como fonte de energia, minimizando as perdas de músculo para a produção de glicose, o que também reduz a formação de amônia e de formação de ureia pelo fígado • Assim, o sistema imune é mantido normal. Todavia, quando estoques de gordura se exaurem, a PTN é utilizada e a morte é a consequência final. ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DA DPC • Em certos casos, como trauma e sepse, o indivíduo não é capaz de se adaptar ao jejum ou à inanição. Se um indivíduo que estiver fazendo jejum desenvolver uma infecção, os mediadores inflamatórios (Interleucina-1 e TNF) estimulam insulina e impedem o desenvolvimento da cetose. Sem cetonas, o cérebro e outros tecidos continuam a depender de glicose, limitando a capacidade de se adaptar à inanição. • A massa muscular é gasta continuamente para fornecer glicose. • Uma pessoa em jejum com infecção desenvolve rapidamente um balanço nitrogenado negativo, além de uma baixa imunidade importante. • A desnutrição não adaptada é perigosa! Não apenas a perda da PTN que passa a ser ininterrupta, que é incompatível com a vida pelo comprometimento do músculo cardíaco e sistema respiratório, mas pelo comprometimento do sistema imune. ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DA DPC • Kwashiorkor é comum em crianças que possuem uma necessidade aumentada de proteínas e consomem quase que exclusivamente carboidratos. • Neste caso não há adaptação ao jejum, porque a ingestão de HCO estimula a insulina. • A insulina é um hormônio de armazenamento que impede que os estoques de gordura sejam empregados como combustível, inibindo a formação de cetonas e, consequentemente impede a adpatação ao jejum ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS DA DPC DPC - Marasmo DPC – Kwashiorkor CUIDADO NUTRICIONAL NA DPC Esquema de Tratamento Desnutrição Grave ✓ Anamnese ✓ História pregressa e atual ✓ Observar sinais físicos: edema, palidez, icterícia, temperatura, sede, olhos encovados, pele. ✓ Distensão abdominal ✓ Nível de consciência ✓ Nível de atividade física ✓ Panículo adiposo e massa muscular ✓ Frequência respiratória ✓ Aparência das fezes ✓ Exames complementares: ▪ Hemoglobina ▪ Glicose ▪ Proteínas séricas: albumina ▪ Urina e parasitológico Obs.: Para crianças com DPC não é preconizada a realização de exames de rotina, uma vez que a DPC pode dificultar a interpretação dos mesmos. Os exames devem ser solicitados sob condições específicas, a fim de esclarecer suspeitas no exame clínico. ATENDIMENTO NUTRICIONAL ▪ Desnutrição leve e moderada ✓ O atendimento ocorrerá em nível ambulatorial. ▪ Desnutrição grave hospitalar ✓ Na desnutrição grave haverá a necessidade de atendimento hospitalar. ✓ O tratamento nutricional consistirá de 3 fases: ▪ Fase I (inicial/ estabilização): Tratar problemas letais (hipoglicemia, hipotermia, desidratação, choque séptico). 1. Tratar/prevenir Hipoglicemia 2. Tratar/prevenir hipotermia; 3. Corrigir distúrbios hidroeletrolíticos; 4. Tratar a desidratação; 5. Tratar infecção; ATENDIMENTO NUTRICIONAL ▪ Fase II (reabilitação): 1. Corrigir deficiências de micronutrientes (sem ferro → suplementar apenas na 2ª semana de tratamento, pois agrava as infecções). 2. Reiniciar a alimentação cautelosamente ✓ Deve ser oferecido pequenos volumes em intervalos frequentes (2/2 horas). A partir do 3º dia poderá ser de 3/3 horas *oferta hídrica total incluindo a dieta, soro e medicações. Diante da presença de edema, utiliza-se quantidade hídrica inferior, porém se houver vômitos e doenças diarreicas, repõem-se as perdas hídricas, aumentando a quantidade ofertada. ATENDIMENTO NUTRICIONAL Características da dieta inicial Volume 120 a 140ml/ kg/ dia* Energia 80 a 100 kcal/ kg/ dia Proteína 1 a 2 g / kg/ dia Osmolaridade Baixa (280 mmol/L) Carboidrato Baixo teor de lactose (13g/ L) Via de administração NE + VO com estímulo SNG se a aceitação for < que 80 kcal/ kg/ dia ou se a criança estiver muito fraca ▪ Obs.: ✓ Se a criança recebe < 80 kcal/kg/dia continuará em catabolismo e > 100 kcal/kg/dia representa uma oferta muito alta. ✓ A SNG deverá ser mantida até que a criança aceite por VO ¾ do total da dieta de 24h ou que aceite o volume total da preparação em 2 refeições consecutivas. ✓ Após a retirada da sonda, o volume da refeição deve ser rigorosamente monitorado nas primeiras 24 horas ATENDIMENTO NUTRICIONAL ✓ Fase de reabilitação ou de crescimento rápido. Esta fase exige consumo maior de energia do que na fase de estabilização. O retorno do apetite, que usualmente ocorre ao fim de 1 semana é o indicador de que a criança está pronta para entrar nesta fase. O ganho de peso esperado é de 10g/dia. Características da dieta de reabilitação Volume Até 200 ml / kg/ dia Energia 150 a 200 kcal/ kg/ dia Proteína 4 a 5 g / kg/ dia Via de administração VO BRASIL, 2005 ▪ Tratamento da deficiência de micronutrientes ATENDIMENTO NUTRICIONAL Micronutriente Dose Observações Ácido fólico 5 mg no 1° dia e 1mg/dia No mínimo 2 semanas. Ferro 3 a 4 mg/kg/dia A partir da 2ª semana de tratamento, após a criança começar a ganhar peso. Sem infecções. Zinco 1 a 2 mg/kg/dia Sulfato de Zinco a 10% - 1mg de Zinco por gota Riboflavina, Ácido Ascórbico, Piridoxina, Tiamina, K, E, D. - Complementação de vitaminas e minerais ▪ Monitoramento ✓ Peso diário ✓ Ocorrência de vômitos ✓ Volume, frequência, consistência e característica das evacuações ✓ Ingestão alimentar • Avaliação do ganho de peso na desnutrição grave: • Bom: > 10g/kg/dia • Moderado: 5 a 10 g/Kg/dia • Insuficiente: < 5g/kg/dia ATENDIMENTO NUTRICIONAL ▪ Fase III (acompanhamento) ✓ Preparar para a alta e acompanhamento pós alta. ✓ Uma criança que tem 85% - 90% do Peso/ Estatura (P/E) pode ser considerada recuperada. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2000. ATENDIMENTO NUTRICIONAL DA DEP LEVE OU MODERADA ❑ Maior fracionamento e menor volume da dieta. ❑ Recuperação do peso na desnutrição leve ou moderada: • Escore Z entre –2 e Z0 • Taxa de ganho: 5,5g/Kg/dia. ❑ ENERGIA: Peso atual – acréscimo de 20 a 30% do VET ou calcular o VET com o peso ideal no percentil 50. ❑ PROTEÍNAS: 3 a 4 g/kg/dia (não ultrapassar 5 g/kg/dia) ❑ CARBOIDRATOS e LIPÍDEOS: Aumentar a oferta destes nutrientes a fim de aumentar a densidade energética, sem provocar a sobrecarga osmolar. REFERÊNCIAS • ACCIOLY, E. et al. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 2ª ed. - Rio de Janeiro: RJ, Cultura Médica: Guanabara Koogan, 2012. • VITOLO, M.R. Nutrição - Da Gestação ao Envelhecimento. 2ª Edição, Ed. Rubio, 2014. • MAHAN, L.K., ESCOTT-STUMP, S. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13ª Edição, São Paulo: Elsevier, 2013. • MONTE CMG. Desnutrição: um desafio secular à nutrição infantil. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2000. • BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de atendimento da criança com desnutrição grave em nível hospitalar. Brasília, DF. 2005. • LACERDA et al. Práticas de Nutrição Pediátrica. São Paulo: Atheneu, 2002.
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