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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM 
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUÍSTICA APLICADA 
 
 
 
 
ANA PRISCILA GRINER 
 
 
 
 
 
A LINGUAGEM DO BLOG ESCOLAR EM UM TRABALHO COM 
MULTILETRAMENTOS: COMPARTILHANDO SENTIDOS 
 
 
 
 
 
NATAL-RN 
2013
ANA PRISCILA GRINER 
 
 
 
 
 
 
 
A LINGUAGEM DO BLOG ESCOLAR EM UM TRABALHO COM 
MULTILETRAMENTOS: COMPARTILHANDO SENTIDOS 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos 
da Linguagem do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como exigência para 
a obtenção do título de Mestre em Letras, área de concentração: 
Linguística Aplicada. 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Renata Archanjo 
 
 
 
 
NATAL-RN 
2013
FOLHA DE APROVAÇÃO 
A linguagem do blog escolar em um trabalho com multiletramentos: compartilhando sentidos 
 
Por Ana Priscila Griner 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como exigência para a obtenção do título de 
Mestre em Estudos da Linguagem, na área de concentração de Linguística Aplicada, e avaliada 
pela seguinte banca examinadora em 23 de agosto de 2013. 
 
 
__________________________________________________ 
Dra. Renata Archanjo – Orientadora 
UFRN 
 
 
__________________________________________________ 
Dr. Orlando Vian Jr. 
UFRN 
 
 
__________________________________________________ 
Dr. Júlio César Araújo 
UFC 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Arbel, Advá, Almog e Hanoch, 
boa parte das minhas inspirações. 
AGRADECIMENTOS 
Aos alunos da Casa Escola, à Almog e aos estagiários: Juliana Karla, Bruno, Denyse e 
Stéphanie 
– pela colaboração e intenso envolvimento; 
À equipe pedagógica da Casa Escola, em especial à coordenação, Claudiana, Cristina, Eleide, 
Jorge, Juliana e Ramona 
 – por terem compreendido a importância do trabalho e coberto as minhas ausências; 
A todos da secretaria da escola, em especial a Ana Lúcia 
 – por cuidar e não me deixar descuidar; 
À Renata Archanjo 
 – por sua participação ativa e acolhedora nas orientações, desde a largada até a reta final; 
Aos professores do PPGEL 
 – por me fazerem enxergar a porta aberta ao mundo do conhecimento; 
À equipe da base da Educomunicação 
 – pelos momentos de debate, construção e realização; 
À banca examinadora da qualificação 
 – pelas aprendizagens que refinaram a dissertação e que trouxeram luz para prosseguir; 
À Magda Diniz, amiga da graduação, da pós-graduação e da vida 
 – pelos momentos intensos de companheirismo; 
Aos colegas da pós-graduação 
– por se disponibilizaram na hora do aperto; 
Ao Aluizio, Ione, Edite, Silvana e Dora 
 – por poder contar sempre com a amizade; 
Aos amigos Vera, Gugu e à turma de Pium 
– por não deixarem faltar a tapioca, o café, o cuscuz e o pão de queijo; 
À Mogui, Nochi, Belula e Dushi 
 – por formarem uma grande equipe e saberem desatar os nós; 
À Maria Gorete 
 – pelo modo especial de cuidar; 
Aos meus irmãos, Patricia e Manu 
 – por serem amigos e companheiros; 
Ao Ron e Esther Kalin, meus pais 
 – por estarem sempre monitorando. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Outros animais até conseguem sobreviver na água ou se adaptar a ela, 
como focas, pinguins, sapos e salamandras, que levam uma existência 
anfíbia. Mas os peixes não: peixe é ser na água. Com seres humanos é 
a mesma coisa: não existimos fora da linguagem, não conseguimos nem 
imaginar o que é não ter linguagem – nosso acesso à realidade é 
mediado por ela de forma tão absoluta que podemos dizer que para nós 
a realidade não existe, o que existe é a tradução que dela nos faz a 
linguagem, implantada em nós de forma tão intrínseca e essencial 
quanto nossas células e nosso código genético. Ser humano é ser 
linguagem. 
Marcos Bagno 
(ANTUNES,2003) 
 
RESUMO 
Esta pesquisa, inserida no campo da Linguística Aplicada, tem por objetivo analisar a 
linguagem de um blog escolar, desenvolvido com a participação de alunos, resultante de um 
trabalho ancorado na concepção dos multiletramentos, com foco na construção de sentidos. A 
pesquisa se desenvolve a partir da confecção e manutenção de um blog, o Ieceblog, com alunos 
do Ensino Fundamental II, desde 2008, em uma escola da rede privada de Natal. Justifica-se a 
investigação das manifestações de linguagem produzidas neste blog mediante a demanda das 
concepções interativas de leitura e escrita no meio digital. Dada a constatação de que as novas 
tecnologias são uma realidade dentro das escolas que se abrem para as práticas dos 
multiletramentos, pressupõe-se que texto, imagem, vídeo, áudio, signos não-gráficos e 
hipertexto potencializam a interação produzida, em que alunos se tornam autores reais. Nessa 
perspectiva, destacam-se as vozes pertencentes aos enunciados que se formam através das 
postagens e dos comentários escolhidos para análise e reflexão sobre o espaço do blog como 
locus de produção de sentidos, inserido no ambiente escolar e no mundo, assim como para a 
identificação dos recursos de linguagem usados para potencializar os sentidos que emergem. A 
partir da visão de dialogismo conceitualizada pelo Círculo de Bakhtin, a pesquisa de cunho 
qualitativo-interpretativista se aprofunda na experiência do blog escolar com foco na linguagem 
digitalizada em sintonia com a visão de letramento digital. Assim, adotamos o método de 
análise dialógica do discurso (ADD) ancorado nos estudos de Bakhtin e do Círculo. A partir 
das postagens do blog, elege-se o corpus, que faça despontar as diferentes manifestações de 
linguagem nas seguintes categorias: (i) no humor reforçado pelo deboche, (ii) na busca pela 
adequação à esfera escolar, (iii) nos valores sociais conflitantes e concordantes, na 
cumplicidade entre sentido verbal e imagético e, por fim, (iv) nas práticas sociais que se 
realizam a partir e por meio do gênero discursivo. O estudo aponta para a tensão existente entre 
as vozes atuantes em várias direções, revelando a unidade falseada das postagens, que, sob o 
olhar analítico, faz surgir múltiplos significados de maneira responsiva. A análise do diálogo 
que entremeia a interação no meio digital torna mais visível que os eventos dos 
multiletramentos mediados pela linguagem estão para além da estrutura da língua e faz repensar 
as práticas escolares. 
 
Palavras-chave: linguagem, multiletramentos, blog escolar. 
ABSTRACT 
This research, part of Applied Linguistics field, aims to analyze the language of a school blog, 
developed with the participation of students, as a work based on the conception of 
multiliteracies, focusing on the construction of different meanings. The research is carried on 
from the building and maintenance of a school blog, the Ieceblog, with students of Ensino 
Fundamental II, since 2008, in a private school in Natal-RN. The investigation of the language 
produced on a school blog is justified due to the interactive conceptions of writing and reading 
on the virtual environment. Given the fact that new technologies are a reality in the schools 
opened to the practices of multiliteracies, it is assumed that text, image, video, audio, non-
graphic signs and hypertext intensifies the produced interaction, in which the students become 
real authors. In this perspective, some voices belonging to the statements that are formed 
through the posts and comments chosen to the analyses and reflection on the blog space as locus 
of productions of senses inserted in the school and the world environment, as well as for the 
identification of the language resources used to intensify the senses that emerge from it. From 
the view of dialogism conceptualized by Bakhtin Circle, the qualitativeinterpretive-research 
deepens the experience of a school blog focusing on digital language in line with the vision of 
digital literacy. From the blog posts, a corpus that promote the exposure of different 
manifestations of language in the design of digital multiliteracies is elected. Thereby, the 
method used was the dialogical analysis of speech based on Bakhtin’s studies and the Circle. 
The corpus was taken from the blog’s posts in order to point up the different language 
manifestations in the following categories: (i) mood reinforced by the mockery, (ii) search for 
compliance with school sphere, (iii) conflicting social values and consistent complicity between 
sense and verbal imagery, and finally (iv) social practices that take place from and through the 
discursive genre. The study points to the tension between the active voices in several directions, 
revealing the distorted unit of posts which, under the analytical observation raises multiple 
meanings in a responsive manner. The analysis of the dialogue interaction in which intersperses 
the digital one becomes more apparent that the multiliteracies events that are mediated by 
language in addition to structure of the language and makes us rethink the students. 
Keywords: language, multiliteracies, school blog 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1: Parâmetros para identificação do gênero no meio virtual. 53 
Tabela 2: Seções do Ieceblog por número de postagens. 70 
Tabela 3: Visualizações de páginas no Ieceblog. 81 
Tabela 4: Visualizações em diferentes países. 81 
Tabela 5: Comentários não moderados do CONCURSO DA VEZ (3). 112 
LISTA DE FRAGMENTOS 
Fragmento 1: Ieceblog Notícias 83 
Fragmento 2: Tirinhas (28) 90 
Fragmento 3: BIZARRAS! (13) 95 
Fragmento 4: Vídeo da hora (15) 99 
Fragmento 5: Concurso da Vez! (3) 106 
Fragmento 6: O que é música boa e música ruim? 118 
 
LISTA DE ABREVIAÇÕES 
GR Grupo de Responsabilidade 
GRA Grupo de Responsabilidade de Apresentação 
GRJP Grupo de Responsabilidade de Jogos e Parque 
GRM Grupo de Responsabilidade de Música 
PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais 
PPP Projeto Político Pedagógico 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
Introdução ................................................................................................................. 14 
Preâmbulo: linguagem digital e novas demandas de ensino ................................... 14 
As buscas ................................................................................................................... 18 
Outras visões complementares ................................................................................. 18 
Um blog indisciplinar ................................................................................................ 23 
O passo a passo.......................................................................................................... 23 
Capítulo 1: Fundamentação Teórica ........................................................................ 26 
1.1 Em tempos pós-modernos ........................................................................... 26 
1.2 Linguagem e interação ................................................................................ 33 
1.3 Linguagem e alteridade – o campo dialógico do discurso .......................... 34 
1.4 Na (ir)relevante compreensão do gênero do discurso ................................ 37 
1.5 Do letramento aoS multiletramentos .......................................................... 43 
1.6 O blog em sua fluidez .................................................................................. 50 
Capítulo 2: Metodologia de pesquisa ....................................................................... 61 
2.1 Um modo único de contar o que se quer narrar ........................................ 65 
2.2 Do encontro à análise .................................................................................. 68 
2.3 Os critérios para a escolha .......................................................................... 70 
2.4 Uma visita ao contexto ................................................................................ 72 
2.5 Historicizando o Ieceblog ............................................................................ 74 
2.5.1 Um modo de ensinar e de aprender ............................................................ 77 
2.5.2 O Ieceblog em suas seções ........................................................................... 79 
2.6 Um ponto de vista, o foco no corpus ............................................................ 81 
Capítulo 3: A análise ................................................................................................. 83 
3.1 Ieceblog Notícias: exposição versus adequação .......................................... 83 
3.2 Tirinha: a voz e a vez do profano................................................................ 90 
3.3 Bizarras: a imagem indissociável da linguagem ......................................... 95 
3.4 Vídeo da hora: o foco no consumo .............................................................. 99 
3.5 Concurso da vez: expor ou não expor? ..................................................... 106 
3.6 Desabafo da galera: argumento é poder ................................................... 118 
Considerações Finais ............................................................................................... 132 
Referências .............................................................................................................. 143 
 
14 
INTRODUÇÃO 
PREÂMBULO: LINGUAGEM DIGITAL E NOVAS DEMANDAS DE ENSINO 
Com o advento da presença do computador nos lares, em sua versão micro e, ainda, 
com a atual mobilidade dos tablets, inseparáveis de seus usuários, surgem as mais variadas 
formas de manifestação verbal. Por meio da informação digitalizada1, o que se diz se acultura 
ao ambiente virtual2, onde qualquer indivíduo pode ser autor com direito a publicação. Nessa 
realidade de intensas mudanças, aparece o blog3. Criado inicialmente com o intuito restrito de 
armazenar conteúdos, logo passa a ser utilizado como um diário digital, entrando para a história 
da evolução da escrita e das mídias. 
Os blogs surgiram na última década do século XX e incontáveis são aqueles que se 
inscrevem na cibercultura4. Alguns blogs se estabelecem e se tornam de interesse público, 
outros são abandonados antes mesmo de se tornarem conhecidos. De fácil manipulação, eles 
oferecem possibilidades e articulações entre a linguagem verbal e não-verbal inusitadas, antes 
não alcançáveis pelo usuário comum. Os blogs se tornaram cada vez mais populares e se 
desdobraram em outras versões, tais como radioblog, fotolog, trumble etc. Assim, despontam 
pela sua versatilidade e se expandem para as mais diversas esferas sociais, alojando-se, de 
alguma forma, na instituição de ensino. 
Na vertente pedagógica, o blog passa a ser explorado, principalmente, no ensino da 
língua inglesa e da literatura (ROJO, 2012). De caráter efêmero e bem pontual, o blog de cunho 
educativo cumpre o seu papel na escola, na maioria dos casos, em função da disciplina que o 
toma como recurso de ensino. Nessa ambientação educacional, esta dissertação pretende 
estudar um blog escolar diferenciado por suas características, que não se prendem a uma 
 
1 Digital vem da palavra dígitos. Trata-se de um sistema baseado uma sequência de números 0 e 1 que 
são decodificados em palavras ou imagens (LÉVY, 2010) 
2 Para Lévy (2010) virtual é a materialização da informação digitalizada. “É virtual toda entidade 
‘desterritorializada’, capaz de gerar diversas manifestações concretas em diferentes momentos e locais 
determinados, sem, contudo, estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular. Para usar um exemplo 
fora da esfera técnica, uma palavra é uma entidadevirtual. O vocábulo ‘árvore’ está sempre sendo pronunciado 
em um local ou outro, em determinado dia ou certa hora... ainda que não possamos fixá-lo em nenhuma 
coordenada espaço temporal, o virtual é real” (LÉVY, 2010; p. 49) 
3 Segundo Marchusci (2010), os blogs ou weblogs são definidos como diários pessoais expostos em rede com 
agendas, anotações diárias ou não, em geral, muito praticados pelos adolescentes podendo ser exercido de forma 
participativa. 
4 Conforme explicita Lévy (2010, p.132) a cibercultura é a expressão da aspiração de construção de um 
laço social, que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações institucionais, nem sobre as 
relações de poder, mas sobre a reunião de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, 
sobre a aprendizagem cooperativa, sobre os processos abertos de colaboração. 
15 
disciplina em específico. Trata-se de uma proposta interdisciplinar de multiletramentos, dada 
a extensão de leitura e de escrita possível no ciberespaço. 
O blog a ser pesquisado é denominado de Ieceblog5, se realiza com alunos do 5º ao 9º 
ano do Ensino Fundamental, em uma escola da rede privada de Natal, e foi criado no ano de 
2008, persistindo até o período de elaboração desta dissertação. Nesse sentido, o blog não foi 
delimitado por tempo, o que faz dele um material que desperta interesse, visto que a maioria 
dos blogs existentes na esfera escolar se finalizam em função de um assunto específico a ser 
estudado. O material que nele se veicula se adapta às diversas modalidades de linguagem e aos 
desdobramentos de interação em rede. Por meio dele, o aluno cria, significa, indaga, reflete, 
escreve e lê exposto ao mundo. 
Em consideração ao modo que se pretende focar a linguagem, esta pesquisa se insere 
na área da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006) que, pela sua abrangência, aproxima-
se de diferentes campos de conhecimento e, principalmente, como ponto de apoio 
metodológico flexível para uma pesquisa centrada na significação das vozes sociais como 
sistema aberto aos valores discursivos. Tais manifestações, a serem observadas e analisadas, 
ocorrem em consonância com o surgimento das novas linguagens digitais e serão analisadas a 
partir dos estudos bakhtinianos, os quais compreendem a língua como prática social. 
Em direção às visões que incidem sobre os comportamentos da contemporaneidade, 
surge um maior interesse de se compreender como a intervenção tecnológica digital influencia 
a linguagem dentro das práticas cotidianas, inclusive as escolares. A Internet, por sua vez, não 
deve ser vista como uma ameaça para a língua, visto que amplia as possibilidades de seus usos 
e, portanto, pode e deve ser objeto de ensino e reflexão na escola. 
Entretanto, ultrapassar os obstáculos em relação à presença da linguagem digital no 
meio escolar não parece ser tarefa simples, além de demandar saberes tecnológicos que se 
renovam a cada momento. Cabe à escola superar os mitos, criados sobre a língua, que se 
estabeleceram ao longo da História, os quais engessam docentes e influenciam, inclusive, a 
percepção dos pais sobre esse assunto. Uma nova postura de enfrentamento requer reconhecer 
a língua em sua heterogeneidade como produto de interação. As atuais manifestações de 
linguagem precisam vigorar em um ambiente acolhedor de escrita e leitura, no qual a rigidez 
centrada em norma e forma se transforme em realizações comunicativas de acordo com os 
gêneros dos discursos gerados para o novo contexto, mesmo que não se possa defini-los ou 
caracterizá-los com convicção. A partir dessa preocupação, trazer novos sentidos provenientes 
 
5 É possível acessar o Ieceblog em http//ieceblog.blogspot.com.br/ 
16 
da interação no meio digital pode justificar a pesquisa sobre a linguagem produzida no 
Ieceblog, materializada em postagens que se criam dentro da esfera escolar, como pode ser 
visualizado a partir do exemplo a da imagem 1: 
 
Imagem 1 
 
Disponível em: <http://www.ieceblog.blogspot.com.br/>. Acesso em 07/09/2013. 
O que se pode observar de início, por meio de um trabalho sujeito a maiores variáveis, 
é que o blog escolar promove um espaço de leitura e escrita peculiar, tendo em vista que suscita 
outras posturas, tais como: usar os recursos digitais de forma atualizada; obter trocas frequentes 
de saberes entre discente e docente; ler, analisar e replicar em situações de velocidade; procurar 
e considerar o que circula nas mídias; refletir sobre linguagem e sobre o que se adequa para 
postagem; estimar o que pode interessar ao outro; usar o texto e o hipertexto numa nova 
concepção de autoria; e reconhecer o entrelaçamento das vozes sociais, ressignificá-las e 
17 
esperar por outras que poderão surgir numa perspectiva de continuidade do discurso aberto ao 
público em rede. 
Sendo assim, pressupõe-se que os atos de ler, escrever e criar conectado com o mundo 
suscitam outras questões de cunho ético e estético a serem pensadas no ato da produção. Sob 
um olhar mais cauteloso sobre o que é novo, Zanotto (2005) lembra que a inovação sobre a 
linguagem no meio digital é parcial e é atribuída aos membros mais experientes da comunidade 
discursiva. São forças que atendem às novas necessidades de interação social pela linguagem 
por meio de recursos existentes, principalmente os tecnológicos, os quais promovem mudanças 
em alta velocidade. Portanto, fazer emergir novos significados acerca de um blog escolar vem 
favorecer outros olhares que se debruçam sobre a questão da linguagem digital e do ensino da 
língua. 
Em se tratando de construção de sentido, cabe compreender que, para Bakhtin (2010), 
o sentido tem uma conotação de atividade que só pode ocorrer a partir do encontro entre dois 
sujeitos. Assim, o conceito de sentido perpassa pela alteridade, num moto-perpétuo, quando o 
encontro entre os sujeitos na arena do discurso recomeça a todo momento. Desse modo, “na 
vida real do discurso falado, toda compreensão concreta é ativa, ela liga o que deve ser 
compreendido ao seu próprio círculo, expressivo e objetal e será indissoluvelmente fundido a 
uma resposta, a uma objeção motivada – a uma aquisciência” (opcit. p. 90). 
Centrado nessa concepção, o sentido nesta pesquisa se constrói a partir de uma série de 
interações complexas, de concordâncias e discordâncias, principalmente na busca por 
diferentes posicionamentos sociais, como um de ato de embate, procurando distinguir o 
“círculo subjetivo” (opcit. p. 91) dos sujeitos, expresso a partir das vozes que se manifestam. 
Assim, a construção de sentidos propõe enriquecer a compreensão do discurso formado nos 
diferentes enunciados que foram postados no Ieceblog, tendo a interpretação ancorada na 
dialogicidade, na responsividade e na alteridade. Esses são elementos fundamentais para a 
realização deste farto exercício, em que o método teórico-analítico do Círculo é o dialógico, o 
que justifica a adoção de uma Análise Dialógica do Discurso, também denominada de ADD. 
Diante do objeto em estudo, condicionado à linguagem que se manifesta em um blog 
escolar, devem-se levantar as questões que darão subsídio a esta pesquisa, quais sejam: (i) De 
que modo o blog escolar, concebido na visão dos multiletramentos, pode favorecer a construção 
de sentidos voltado à produção de leitura e escrita? (ii) De que forma se manifestam as vozes 
que promovem a ocorrência dos variados sentidos disponíveis no Ieceblog? (iii) Quais 
fenômenos linguísticos que potencializam a produção de sentidos podem ser identificados no 
Ieceblog? 
18 
Em busca de respostas, a pesquisa qualitativa interpretativista incidirá sobre as 
postagens selecionadas para compor o corpus da análise. Vista a perspectiva bakhtiniana que 
se estende ao olhar científico de caráter indutivo, a partir das postagens selecionadas, serão 
destacadas as manifestações linguísticas que constituirãoas categorias de análise na medida 
em que estas forem identificadas como formas de interação entre os sujeitos da pesquisa e como 
expressão de seus posicionamentos. Em decorrência de esta pesquisa acontecer dentro do 
ambiente escolar em sua configuração particular, fora de sala de aula e não direcionada a uma 
disciplina curricular, mas com bases na linha de projeto que se insere nos estudos dos 
letramentos, este trabalho terá como suporte os estudos dos multiletramentos no uso da língua 
nas práticas sociais que acontecem no ciberespaço. 
AS BUSCAS 
Nesse percurso, o objetivo da investigação é a análise da linguagem de um blog escolar, 
o Ieceblog, desenvolvido participativamente com alunos do Ensino Fundamental II de uma 
escola da rede privada em Natal, resultante de um trabalho ancorado na perspectiva dos 
multiletramentos, com foco na construção de sentidos. 
Assim, considera-se importante encontrar as vozes sociais inclusas nos enunciados que 
dialogam na formação da identidade de um blog escolar. Além disso, cabe descrever como as 
práticas de letramentos auxiliam e favorecem o trabalho com leitura e escrita no meio digital 
na esfera escolar. 
OUTRAS VISÕES COMPLEMENTARES 
Em virtude do caráter inacabado ou de acabamento relativo do discurso científico, vale, 
nesse momento, recorrer aos estudos que se situam no campo da Linguística Aplicada e se 
aproximam do objeto de pesquisa – a linguagem do blog. Para isso, foi preciso fazer o 
levantamento de alguns trabalhos mais recentes, buscando mostrar um recorte do estado da arte 
de pesquisas que contribuem para o estudo da temática, além de atualizar e ampliar visões que 
não se encerram e dialogam com o que se quer relatar. 
Coracini (2005) traz à pauta o tema da transmutação de um gênero para outro mais 
atual, expondo que os diários de papel caracterizam-se pela narrativa do cotidiano de quem 
descreve para si mesmo, no qual o tom é da confidencialidade e que se destinam à leitura 
19 
pública e irrestrita. A autora analisa ainda que, no espaço em que o blog se materializa, o 
virtual, a identidade é construída através da interpretação, pois, para ela, o sem lugar se valida 
pela repetição e pelo que é seguido. Nessa visão, o blog se idealiza como o não lugar, isto é, 
como um espaço que não pertence a ninguém, onde predomina o anonimato e onde a memória 
do passado não tem lugar, não faz história, e o que prevalece, assim mesmo, é a relação entre 
as pessoas. 
Na busca pelos significados, esta pesquisa se alinha à ideia de identidade construída por 
meio do diálogo, trazida pela autora. Para aprofundar a concepção da validade discursiva a 
partir do que é seguido no meio virtual, os estudos desta investigação se propõem a 
contextualizar e falar sobre a esfera discursiva em que o blog acontece e a estender a 
compreensão de enunciado ao conceito de responsividade. Dessa forma, esta pesquisa visa 
entender melhor como ocorrem as relações dialógicas por meio do discurso, o que será 
ressaltado como elemento primordial para identificação das vozes emergentes nas postagens 
que serão analisadas. 
Dantas (2006) realiza a análise dos processos de intersubjetividade virtual na relação 
entre produtores e leitores de blogs por meio dos links de comentários. O autor procura 
descrever como ocorrem as práticas de letramento digital no mundo dos blogs e os seus 
impactos nas questões referentes à leitura. Nesta visão, o blog é definido como lugar virtual 
apropriado para a manifestação típica da escrita interativa que ocorre no ciberespaço através 
do hipertexto. Dantas (2006) reconhece que os participantes se adequam às regras de conduta 
e uso da linguagem apropriada para o blog e que a relação que se constrói entre os membros 
constitui uma forma de realidade intersubjetiva no ciberespaço, seja através do consenso ou da 
polêmica. Nesse sentido, os textos polêmicos atraem os leitores e promovem reflexão acerca 
das próprias ações e vivências dos comentadores e da comunidade blogueira em si. Na 
formação do hipertexto, o blog é visto como evento de letramento no domínio discursivo 
midiático. Para se constituir dentro do blog, o leitor precisa ler e deixar algo por escrito, e, nesta 
conduta, o blogueiro se torna um mediador de leituras. Em suas observações, Dantas (2006) 
sustenta que o blog não deve ser mais visto como gênero e sim como um suporte. Na tentativa 
de definir o que seja o suporte, o autor defende que o suporte é uma superfície física ou virtual 
em formato específico que mostra o texto, o que vem apontar para o abandono pontual de seu 
trabalho da abordagem bakhtiniana, aquela que olha o texto como produto sócio-histórico e 
cultural. Desse modo, Dantas (2006) posiciona o blog em situação exteriorizada, sem o 
enquadre cognitivo contextualizado das práticas discursivas que tem como materialização do 
20 
texto o gênero dentro de um todo sócio-histórico cultural e não como um conjunto de textos 
dentro de um aporte. 
Caiado (2007), num estudo sobre a escrita no contexto do ciberespaço, aborda as novas 
práticas discursivas, no enfoque das "transgressões" realizadas pelos sujeitos, as quais ocorrem 
tanto no contexto escolar como fora deste. Tendo como base os estudos de Bakhtin sobre 
gêneros discursivos e dos gêneros emergentes, a autora entende e caracteriza o weblog como 
gênero. Nesse sentido, os blogs abrem mais uma possibilidade de articulação entre as 
linguagens oral e escrita, produzem sentido e fortalecem as trocas dialógicas entre os sujeitos. 
As questões ortográficas digitais servem de contraponto ao que é proposto pela norma. 
Nesse sentido, o estudo da autora corrobora com esta pesquisa, no compartilhamento e 
no acréscimo com preocupações pertinentes ao ensino aberto no meio virtual e suas devidas 
adequações à esfera escolar. A compreensão da autora sobre o blog como gênero discursivo 
contrapõe-se com a visão desta pesquisa, que não pretende demaracar o blog como gênero, 
necessessariamente, mas visa abrir o assunto para debate questionando a necessidade desta 
definição. 
Komesu (2010) expõe que os estudos linguísticos sobre a escrita são tomados no 
contexto das tecnologias digitais, uma vez que as produções na internet são, fundamentalmente, 
baseadas na atividade de escrita. A autora analisa a rápida atualização, a manutenção dos 
escritos em rede, a falta de espacialidade fixa e aponta para a interatividade entre escritor e 
leitor, características que diferenciam o blog, enquanto gênero discursivo, do diário pessoal. 
Na perspectiva bakhtiniana do enunciado sobre as esferas da atividade humana, a autora 
ressalta a peculiaridade do gênero no apelo explícito em busca da interação, através de 
possíveis comentários, o que sustenta a ideia sobre a importância da presença do Outro para 
constituição do sujeito, do enunciado como constituinte das práticas sociais e vice-versa. 
Para esta pesquisa, os estudos da autora vêm reforçar a compreensão do sujeito 
enunciativo permeado pela alteridade e construído por meio da alteridade. Entretanto, no que 
se refere ao gênero do discurso, a autora procura compreender o blog, trazendo um paradigma 
de identificação de gênero que não se verifica no mundo eclético dos blogs, assim restringindo 
o blog ao modelo de diário pessoal ou aberto. O blog a ser estudado amplia as visões acerca 
dos gêneros discursivos que ocorrem no próprio blog, que não se definem de maneira precisa 
e nem constante. 
Numa metalinguagem descontraída, que se aproxima mais da linguagem produzida para 
os blogs, Ribeiro (2011) discorre sobre leitura, trazendo ao texto reflexões que envolvem 
hipertexto, leitores e leitura. A autora aborda as interfaces gráficas e faz um recorte de algumas 
21 
tecnologias inventadas pelo homem até a chegada da internet como local de leitura e escrita. 
Seus estudos chamam a atenção, ainda, para os gêneros textuais que apenas são lidos e para 
outros que sãotambém escritos, a fim de mostrar que os jovens estão, sim, situados nesta última 
prática na medida em que estão adquirindo habilidades de forma tal que surpreedem os adultos, 
principalmente, os professores. 
Nesse enfoque, o trabalho de Ribeiro (2011) procura traduzir o modo de ler e escrever 
do jovem no meio virtual, contribuindo para reflexão acerca do ensino da língua, visto que é 
possível verificar, a partir dessa pesquisa, que ensinar a ler e a escrever hoje demanda a 
aquisição de diferentes habilidades outrora não requeridas. 
Xavier (2010) realimenta o debate referente à leitura virtual enquanto processo de 
coprodução de sentido de textos e hipertextos. O autor define o hipertexto como uma linguagem 
híbrida, dinâmica, flexível, que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e 
acondiciona à sua superfície formas novas e antigas de textualidade. O hipertexto tende a 
mediar as relações dos sujeitos na sociedade da informação, como uma aldeia global. A 
inovação no hipertexto está na possibilidade de transformar a deslinearização, a ausência de 
um foco dominante de leitura, em princípio básico de sua construção. 
Mesmo sabendo que toda linguagem é hibrida e que o hipertexto não foi inventado a 
partir das tecnologias, o modo de realizar leitura e escrita no meio virtual potencializa e 
evidencia a interação, fazendo emergir a multiculturalidade e formas mais difusas e abertas de 
práticas de leitura. Sendo assim, embora não seja este o seu foco, o autor traz contribuições 
para esta pesquisa, cuja busca está voltada para a construção de sentidos. 
 Braga (2010) auxilia nessa compreensão, de que ocorrem mudanças nas práticas 
sociais que afetam o letramento ainda em debate. A autora levanta a preocupação com o 
excesso de informações gerado pelas transformações e conduz o foco de observação para a 
interatividade e a multimodalidade. Tornam-se mais visíveis as vantagens dessa nova 
modalidade de leitura e escrita para o aprendizado, tendo como referência os dados obtidos em 
uma interação concreta de alunos com um material digital. O (hiper) texto não linear sem 
conexão narrativa, como no blog, de fato confere ao leitor maior poder sobre sua leitura, 
favorecendo a diversidade de sentidos. A contribuição da autora indica que a leitura e a escrita 
construídas de forma hipertextual e hipermodal podem auxiliar na aprendizagem na medida em 
que permite ao aprendiz fazer escolhas de caminhos e canais de recepção que são mais 
adequados às suas necessidades e também aos seus estilos cognitivos e modos de aprender. 
Visto que esta pesquisa discorre sobre os discursos que se formam por meio do que se 
posta e dos comentários que surgem de forma aberta ao público, entende-se que ela se 
22 
diferencia do estudo apontado por Braga (2010). Sendo assim, o discurso que se concretiza 
favorece uma visão social mais ampla do investigador que se estende aos enunciados dos 
ilocutores, que nem sempre são alunos. Por este viés, o Ieceblog não se restringe à linguagem 
enunciada pelos alunos, assim como acontece com o blog fora do âmbito escolar; ele está aberto 
à participação de qualquer ilocutor que venha a somar para a construção dos sentidos. 
Em outro estudo, Coracini (2011) oferece um novo olhar para os blogs escolares, em 
relação às condições de produção, ao seu funcionamento e a possíveis efeitos tanto na 
aprendizagem quanto na construção da identidade do sujeito-aluno. O levantamento de 
algumas características sobre o blog em si aponta para um gênero que tem um caráter público, 
permitindo a espetacularização do eu. Nesse sentido, tempo e espaço se reduzem ao 
instantâneo, e a relação entre a exposição do sujeito que posta e o ocultamento de quem 
comenta se transforma em um jogo. Ao compreender melhor os blogs escolares, Coracini 
(2011) comenta que os blogs de professores mais se assemelham a estudos dirigidos. Nestes 
casos, o blog serve como meio de transmitir as informações necessárias para o 
desenvolvimento das aulas. Para o aluno, se torna mais uma tarefa obrigatória, que não traz 
reflexão, posicionamento ou criatividade, assim como ocorre com algumas atividades no papel. 
A autora acredita que, no trabalho em sala de aula, pouca coisa mudou, pois os conteúdos se 
mantêm os mesmos, a posição de autoridade do professor permanece e pouco se constata de 
uma abertura para a autonomia do aluno, deixando a reflexão para que um trabalho focado na 
diversidade dos gêneros possa favorecer uma proposta de letramento que se assemelhe mais à 
vida real e não se detenha somente nos gêneros escolares consagrados. 
Em virtude dessa percepção, a pesquisa vem apontar para as novas visões de 
multiletramentos, trazendo a descrição de um trabalho voltado para a linha de projetos em um 
enfoque transdisciplinar que se reflete na linguagem do blog a ser analisada. 
Por fim, em sua recente tese de doutorado, Dantas (2012) analisa um blog corporativo, 
"Fatos e Dados" da Petrobrás, em um contexto de denúncias de corrupção e investigação da 
empresa no Congresso Nacional, um blog que quer, afinal, defender seu ponto de vista. Os 
estudos de Dantas (2012) visam compreender o agendamento de temas e a influência que os 
elementos discursivos acionados pela argumentação exercem em blogs, elegendo Bakhtin e 
Foucault como principais teóricos da linguagem. Nessa perspectiva, o blog é compreendido 
como manifestação discursiva falada em uma situação histórica concreta, cuja compreensão e 
atribuição de significados se realizam a partir das relações sociais estabelecidas entre sujeitos 
que se alojam em posições discursivas e ideológicas de disputa. Mesmo que essa pesquisa tenha 
se realizado em outra esfera institucional, a Petrobrás, seu foco na argumentação traz 
23 
contribuições para este estudo, o qual pretende encontrar e analisar as vozes que emergem das 
postagens. Assim, verifica-se que, também no Ieceblog, as vozes enunciadas ora se alinham 
em concordância ora entram em embate, trazendo para o cenário discursivo o argumento 
carregado de valores sociais. 
Nesse diálogo entre os autores que foram aqui expostos, a nossa pesquisa tangencia os 
estudos destacados. Por possuírem questões em comum e, por vezes, algumas contraposições 
pertinentes ao que se quer aprofundar, o conjunto dos recortes dos trabalhos apresentados 
aponta para as singularidades existentes em pontos de vista dos diferentes autores, que bem-
vindos a esta pesquisa, acrescentam subsídios ao estado da arte. 
UM BLOG INDISCIPLINAR 
A relevância desta investigação ressalta o objeto que se elege: os sentidos 
compartilhados, em diálogo, que emergem por meio da linguagem que se manifesta nas 
postagens de um blog escolar. Enquanto recurso didático, o blog se mostra como material de 
penetração ascendente no meio escolar em suas mais variadas formas. Na oportunidade de se 
estudar um blog escolar que não sucumbe às disciplinas escolares e se aproxima mais aos 
modelos sociais de blogs abertos ao mundo, analisar o objeto, a linguagem dialógica - os 
sentidos que a constituem - torna-se um convite para se compreender como um trabalho 
ancorado na perspectiva dos multiletramentos, abre caminhos que se aproximam à linguagem 
do aluno e constrói sentidos inesperados que podem surpreender. 
Nesse contexto, a comunicação verbal voltada à vida cotidiana em um blog escolar 
permite dispor da linguagem de forma mais espontânea, fazendo emergir manifestações 
dialógicas que apresentam os valores sociais constituintes de sua linguagem. Ressalva-se, a 
partir dos estudos bakhtinianos, que a linguagem, além de sua estrutura, está carregada de 
valores socioculturais construídos entre os sujeitos de forma híbrida ao longo da história. 
Portanto, cabe entender a significância do dialogismo presente na formação da linguagem e 
fazer emergir os diferentes posicionamentos sociais carregados de valores que se entremeiam 
a partir do que se posta ese comenta no Ieceblog. 
O PASSO A PASSO 
24 
Esta dissertação se apresenta dividida em três capítulos, tendo, cada um deles, 
subdivisões que se complementam em seus conteúdos, além das considerações finais que os 
arrematam. 
Como preâmbulo, a pesquisa vem apresentar o blog escolar, cuja linguagem a ser 
investigada tem um foco especial nos significados embutidos nos enunciados e problematiza 
demandas de ensino, direcionadas às novas tecnologias no ambiente escolar. Assim, ao se 
apresentar a linha de estudo no campo da Línguística Aplicada, os conceitos de linguagem na 
visão bakhtiniana vão subsidiar as questões de ensino na perspectiva dos multiletramentos. 
Diante disso, as inquietações que emergem direcionam as questões de pesquisa para os 
sentidos manifestos na linguagem do blog escolar a ser investigado, o Ieceblog. A seguir, outros 
autores, com suas diferentes visões, tendo o blog como objeto de interesse comum, somam-se 
a esta pesquisa. Em suas particularidades, o blog escolar a ser estudado se apresenta relevante 
como um blog peculiar e transgressor, considerando a esfera a qual ele pertence, a escola, um 
campo vasto para a pesquisa que ocorrerá na área da Linguística Aplicada voltada às reflexões 
que envolvem linguagem no âmbito do ensino e aprendizagem. 
Para compreender os conceitos de linguagem, multiletramentos e situar o blog como 
objeto de linguagem, o Capítulo 1, a fundamentação teórica vem, de início, posicionar a 
pesquisa em tempos pós-modernos, delineando o sujeito contemporâneo e levantando aspectos 
conflituosos pertinentes ao ensino. Logo após, voltado aos estudos bakhtinianos, a 
fundamentação teórica divide-se de modo a reforçar, primeiramente, as concepções de 
linguagem e interação e de linguagem e alteridade, duas concepções indissociáveis e que se 
complementam. Ainda sobre os conceitos de linguagem, foi reservado um lugar especial aos 
estudos sobre o gênero do discurso, trazendo a sua importância para o ensino da língua sem 
apego às categorizações fixas. Nessa oportunidade, é possível fazer um levantamento sobre as 
buscas de vários autores da Linguística Aplicada para caracterizar o blog como objeto de 
linguagem e acrescentar outras que transpareceram como resultado desta investigação. 
O Capítulo 2, referente à metodologia, traz todo um contexto orientado ao olhar 
investigativo em sua posição exotópica, expondo, detalhadamente, os procedimentos de 
análise, a delimitação do corpus, com isso direcionando a pesquisa aos resultados de análise. 
Por conseguinte, no Capítulo 3, tem-se a exposição crítica do corpus; nele são 
apresentados seis fragmentos ou postagens do blog estudado, de forma a abordar as mais 
variadas manifestações de interação. Sendo assim, torna-se viável destacar os sentidos que 
emergem em meio às mudanças de contexto, do real para o virtual e vice-versa, e significar o 
trabalho que se realiza com os alunos a partir do Ieceblog. 
25 
As considerações finais recuperam as elucubrações realizadas durante as análises e 
procuram acrescentar outras, diante do comparativo que se pode obter e das futuras 
perspectivas de trabalho com a linguagem digital no meio escolar. 
26 
Capítulo 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
As práticas atuais de interação virtual – como chats, blogs, sites, revistas acadêmicas, 
salas de aula, vídeos conferênicias, e-mails, jornalismo online, entre outros – transformam 
linguagem, comportamento e cultura, marcados pelas novas tecnologias. Em um avanço 
constante, crescem, consideravelmente, as redes6 dos centros comuns conforme os interesses e 
as afinidades pessoais. Qualquer indivíduo informatizado é capaz de interagir com outro e 
ocupar diferentes lugares ao mesmo tempo, sem que esteja fisicamente presente. 
Segundo Lévy (2010), toda reflexão sobre a evolução da cibercultura requer 
fundamentos em uma análise antecipada acerca das transformações contemporâneas 
direcionadas ao saber. Nesse sentido, torna-se evidente a necessidade de se pensar a respeito 
da velocidade do surgimento e da renovação dos saberes e, consequentemente como utilizá-
los. O autor alerta para a nova condição humana, na qual a maioria das competências adquiridas 
pelo sujeito no começo de sua trajetória profissionalizante estarão obsoletas no fim de sua 
carreira. Além disso, cabe conceber, nesse tempo, que a nova natureza do trabalho demanda 
atualizar-se constantemente, isto é, trabalhar diz respeito a aprender, ensinar e produzir 
conhecimentos que se modificam a toda hora. 
Em tempos pós-modernos, é importante compreender e significar como se apresenta 
uma multiplicidade de produtos gerados por meio das novas tecnologias. Essas manifestações 
ampliam um sem número de funções cognitivas humanas e, principalmente, alteram 
perceptivelmente condutas sociais provenientes de outros tipos de interação que se criam. 
Nesse sentido, a fundamentação requer um olhar mais detalhado sobre a contemporaneidade e 
sobre suas consequências nas formas de agir e interagir do homem. 
1.1 EM TEMPOS PÓS-MODERNOS 
Compreende-se que na modernidade, estabeleceu-se o domínio da razão, a supremacia 
da ciência, a urbanização planejada e a tecnologia controladora, na crença de que, por meio do 
progresso científico e tecnológico, o homem poderia seguir linearmente no investimento da 
territorialização do tempo e do espaço. Outrora, a chamada “fase do conforto” (LEMOS, 2010; 
p. 52) era aquela em que o homem podia idealizar a sua condição de existência através da 
 
6 “[...] rede ou web na contemporaneidade significa uma estrutura telemática ligada a conceitos como 
interatividade, simultaneidade, circulação e tactilidade” (SANTAELLA, 2010; p.137). 
27 
racionalização e do domínio da natureza humana. Nesse sentido, é possível resgatar que, a cada 
época da história da humanidade, houve uma cultura técnica em particular, correspondente à 
condição de ser do homem. 
Assim, ao longo da História, desde o período da pedra lascada até o momento atual, as 
mudanças foram marcadas pelas tecnologias. O homem se modernizou ao longo de sua história, 
passando pela retenção do fogo, pela invenção da roda, da escrita, da imprensa, fazendo 
grandes conquistas por meio das navegações, chegando à Revolução Industrial. Após marcos 
sócio-históricos progressivos, a humanidade construiu a sua forma de ser e de viver em uma 
atualidade fluida: a pós-modernidade. 
Lemos (2010) ressalta a ideia de pós-modernidade demarcada pelo fim da modernidade 
em uma concepção não histórica. Na ruptura com o espaço e com o tempo, o homem se 
encontra assolado por seus próprios inventos, fomentados pelo consumo desenfreado, em um 
momento quando não há tempo para recuperar o passado e nem para criar expectativas sólidas 
de futuro. Nesse momento vive-se um presente em constantes e radicais mudanças, sob a 
influência das novas tecnologias e seus aparatos, que vêm ao mercado a toda hora. Para o autor, 
a nova realidade social desmaterializada e simulada de um mundo conectado em rede, sofre 
uma sucessão ininterrupta de estímulos ocasionados pelo desenvolvimento das diferentes 
máquinas de informação (computadores, celulares, tablets etc) que se atualizam a todo instante. 
A corrida desenfreada se estabelece a favor daquilo que se torna obsoleto. Quem não se 
atualiza fica “desconectado”, por isso não participa desse momento. Nessa busca pela 
velocidade e por mais recursos de comunicação que se multiplicam, a mídia se torna 
instrumento de simulação do tempo e do espaço e não obedece mais à concepção genealógica, 
a de uma árvore com tronco central e com suas ramificações progressivas e temporais. A ideia 
se volta à multiplicidade do rizoma, que ramificado e sem fronteiras, embute noções de 
interatividade e de descentralização da informação. 
Para Bauman (2001), os tempos pós-modernos se tornaram líquidos, visto que, a cada 
instante, tudomuda rapidamente e nada é feito para durar. Esse fato altera assombrosamente o 
comportamento humano e sua forma de interagir. Conforme o sociólogo, torna-se difícil 
vislumbrar uma cultura indiferente à preservação e que evita a durabilidade das coisas e até 
mesmo das relações. Em sua concepção, o imediatismo e a moralidade inconsequente, próprias 
às ações humanas, evitam as responsabilidades frente aos seus efeitos sobre os outros. A partir 
da ideia do descarte, a individualidade, mesmo que em rede, inaugura o novo direcionamento 
das relações. 
28 
O avesso ao que se esperava da razão inverteu a ordem em consonância com a 
ubiquidade. Nela ninguém tem a real responsabilidade, sobrecarregando a pauta dos 
acontecimentos com temas como a violência, as desigualdades socioeconômicas e os detritos 
da ganância do mercado e do desinteresse político, os quais foram condensados ao conceito de 
poluição. Num cotidiano de transformações constantes, em que nada apareceu do nada e nem 
surgiu hoje, cabe ressaltar fatores sociais evidentes, vinculados ao comportamento mais 
individualista do humano, que vive em uma sociedade hedonista, presa à obsessão do corpo 
ideal, ao culto às celebridades, à corrida pelo consumismo, à paranoia acerca da segurança etc. 
Na sociedade que não se fixa nas promessas futuristas, cada vez mais submergidas em 
jogos de linguagem, reposicionam-se os novos valores sociais, tão reforçados pelas mídias que 
invadem os lares, nossas mentes, nosso modo de agir, de persuadir e de se relacionar. Nesse 
contexto de mudanças rápidas e (des)contínuas, constroem-se outros sentidos sociais e 
ratificam-se os antigos através de novas linguagens, quando todo mundo se torna capaz de 
produzir conhecimento e fazer notícia, oferecendo uma sensação mais democrática da 
informação, que se processa em altas velocidades por meio do uso de múltiplos recursos 
digitais agora tão fartos e alcançáveis. 
Segundo Lemos (2010), com o surgimento da digitalização, a distribuição e o 
armazenamento da informação tornam-se independentes, multimodais, e a eleição do meio para 
se apropriar de uma informação sob forma textual, imagética ou sonora se faz de modo 
dissociável à sua transmissão. Acerca desse novo domínio, as redes eletrônicas constituem uma 
forma de publicação acessível, onde o aparato tecnológico pode produzir cópias tão perfeitas 
quanto o original. Cada sujeito, cada esfera social, cada ponto em rede pode se manifestar e 
produzir conhecimentos, resultado de uma sinergia de experiências coletivas na abolição do 
espaço físico autorizado pela quebra linear do tempo e territorial de espaço geográfico. Tal 
relação entre emissor e receptor independente contrapõe os sistemas hegemônicos frente aos 
contra-hegemônicos quando o fluxo do conhecimento se compõe de extratos multiculturais que 
fluem de maneira caótica e difusa, na qual os saberes circulam em todas as direções no chamado 
vácuo espacial, mesmo quando existem forças tendentes à canalização desses saberes. 
Na percepção de que a diversidade e a complexidade das manifestações 
comunicacionais e culturais atraem os internautas, torna-se possível conceber que as culturas 
se tornam fronteiriças, fluidas e desterritorializadas. A cultura de massas, uniformizada e 
29 
direcionada a todos em sua emissão, perde espaço para a cultura das mídias7. Na pluralidade 
das mídias, voltadas à intensa propagação de mensagens e de suas fontes, foram sendo criados 
subsídios à formação de outros tipos de usuários, atuantes, os quais se posicionam de maneira 
mais criteriosa, seletiva e individualizada. A mudança de atitude, de receptor para 
receptor/emissor, prepara um terreno propício ao nascimento da cultura digital, na demanda de 
usuários que preencham dupla função e se tornem “caçadores em busca de presas 
informacionais de sua própria escolha” (SANTAELLA, 2010; p.68), embora fique o alerta que 
[...] longe de estar emergindo como um reino de algum modo inocente, o 
ciberespaço e suas experiências virtuais vêm sendo produzidos pelo 
capitalismo contemporâneo e estão necessariamente impregnados das formas 
culturais e paradigmas que são próprias do capitalismo global. O ciberespaço, 
por isso mesmo, está longe de inaugurar uma nova era emancipadora. Embora 
a internet esteja revolucionando o modo como levamos nossas vidas, trata-se 
de uma revolução que em nada modifica a identidade e natureza do montante 
cada vez mais exclusivo e minoritário daqueles que detêm as riquezas e 
continuam no poder. (SANTAELLA, 2010; p.75). 
Mesmo assim, é possível considerar que cada sujeito pode se tornar um produtor, fato 
este que trouxe reflexos significativos para os comportamentos sociais, transpondo a 
concorrência de uma sociedade piramidal para uma sociedade reticular de integração em tempo 
real, o que vem inaugurar aquilo que é chamado de terceira era midiática ou de cibercultura. 
Assim, o ambiente que surge pode ser caracterizado como aquele que acolhe múltiplos recursos 
de linguagem organizados de maneira rizomática, isto é descentralizada, que se amplia de 
forma desordenada e extensa. 
A partir de conexões múltiplas e diferenciadas em rede, a cibercultura se institui 
permitindo a formação de comunidades (fluidas), apontando para a existência social do 
ciberespaço como ambiente de compartilhamento comunitário. Na dimensão virtual de 
comunidade, é possível as pessoas formarem agrupamentos independentes de referência física, 
religiosa e cultural no ciberespaço. Criam-se outras territorialidades, simbólicas, de 
identificação, sejam elas centradas na forte ligação do pertencimento ou na frágil difusão da 
efemeridade. Desse modo, é possível perceber que as novas tecnologias podem atuar tanto nos 
vetores que direcionam à alienação como ao compartilhamento de ideias voltado à formação 
comunitária. 
 
7 Segundo Santaella (2010), os produtos de comunicação emitidos em computador, web sites e livros 
eletrônicos, cd-roms são considerados novas mídias. Por trás das novas, existe toda uma revolução cultural 
profunda, cujos efeitos estão apenas começando a se registrar. 
30 
Nessa mesma compreensão, Britto (2009) aponta para o sujeito que está em formação. 
Observa-se o sujeito de caráter descentrado, com mobilidade indentitária intensa, que se 
desloca conforme as demandas e suas conveniências, um sujeito que está presente em vários 
lugares da realidade social. Tais sujeitos apresentam-se desenraizados do ponto de vista 
geográfico e cultural e, segundo o autor, transitam sobre as fronteiras. Em vez das identidades 
rígidas usadas para se fixar ao lugar, as identificações mais flexíveis passam a ser o novo cartão 
de embarque para se transitar por diferentes realidades sociais. Nesse aspecto, o sujeito deixa 
de ser e passa a estar, pronto para se mudar, caráter este que lhe confere maior maleabilidade, 
abertura e mobilidade. 
Sobre o processo participativo do ciberespaço, local virtual de comunicação interativa 
e comunitária, Lévy (2010) aborda o conceito de inteligência coletiva, que, em meio à 
desordem (ocasionada pela interconexão em tempo real), também promove soluções práticas 
aos problemas de orientação e de aprendizagem entre os saberes em fluxo. Para o autor, quanto 
mais os processos de inteligência coletiva se ampliarem melhor será a assimilação de 
indivíduos ou grupos às alterações técnicas e menores serão os efeitos de exclusão resultantes 
da aceleração tecnossocial que exige participação ativa na cibercultura.O ciberespaço, que 
oferece a conexão entre os computadores do planeta, alarga-se para ser (ou já se tornou) a 
principal infraestrutura de gerenciamento econômico e se tornará o principal equipamento 
global de memória, seja do pensamento humano seja de comunicação. Em suma, 
[...] em algumas dezenas de anos, o ciberespaço, suas comunidades virtuais, 
suas reservas de imagens, suassimulações interativas, sua irresistível 
proliferações de textos e de signos será o mediador essencial da inteligência 
coletiva da humanidade. Com esse novo suporte de informação e de 
comunicação, emergem gêneros de conhecimento inusitados, critérios de 
avaliação inéditos para orientar o saber, novos atores na produção dos 
conhecimentos. Qualquer política de educação terá que levar isso em conta 
(LÉVY, 2010; p.170). 
Nessa visão, Freitas (2009) faz alusão à instituição social escola que, embasada nos 
princípios da racionalidade, da transmissão do saber e da verdade científica, não considera os 
aspectos culturais, o diverso, a linguagem em sua evolução, voltada aos novos acontecimentos. 
Estagnada diante das transformações sociais que ocorrem no contexto onde se insere, a escola 
continua atrelada aos velhos conceitos de ensino estático, embora utilize, vez ou outra, os 
computadores e alguns recursos, porém desconsiderando a cibercultura, seus efeitos sobre o 
modo de ser e o modo de se comunicar do homem. 
31 
A necessidade de a escola atualizar seus currículos, rever as didáticas, valorizar o saber 
e a cultura do aluno e situar as informações ressignificando-as à luz do compartilhamento pode 
parecer uma meta difícil a ser alcançada, contudo não pode ser desmerecida. As poucas 
tentativas que ocorrem no meio pedagógico não acompanham a velocidade das inovações 
tecnológicas. Somente ter acesso aos recursos tecnológicos não significa saber usá-los nem 
tampouco saber como ativá-los pedagogicamente, compreendendo que a internet não é uma 
mídia de massa, mas uma infraestrutura que favorece a coletividade. A escola e os professores 
poderão fazer bom uso de novos espaços de participação compartilhada na expectativa de 
preparar a geração digital nativa para a sua atuação cidadã no meio virtual. 
De acordo com Abreu (2009), algumas questões no ambiente escolar revelam o quanto 
o excesso de informações gera conflitos que precisam ser ouvidos e considerados para serem 
cuidados por novas visões de gestão. Sentimentos de insegurança, perplexidade, medo e 
angústia apontam para os desafios pautados pela internet que parecem decorrentes, 
principalmente, de dois fatores: 
 desorganização do conhecido e do estabelecido; 
 perplexidade, insegurança e confusão perante o inusitado. 
No primeiro caso, parece que a internet revolucionou e estremeceu as fundações 
historicamente construídas sobre o que é ensinar e aprender, principalmente no que diz respeito 
à função de professor, que detém um saber a ser passado para o aluno. Lidar com alunos que 
podem criar outras formas de aprender e que não suscitam a ajuda docente pode desarrumar e 
ameaçar o que socialmente se entende sobre a função de lecionar. Nesse sentido, avançar 
tecnologicamente significa perder um território de dominação sobre o conhecimento. A falta 
de controle sobre o processo pedagógico da maneira como se estava acostumado a ver leva a 
entender que o caráter de imprevisibilidade e de inusitado é uma competência ainda a ser 
conquistada. Concernente ao segundo fator, entende-se que sair em busca de novas estratégias 
de ensino faz o professor se sentir distante de suas práticas costumeiras. Portanto, caminhar 
pelas novas práticas pode lhe parecer divergente e perigoso, ou seja, comprometedor para o 
desenvolvimento do aluno. Desse modo, a insegurança suscita o retorno do docente às velhas 
práticas e aos modelos por ele conhecidos, como ação repressora ao que é novidade. 
No confronto com as resistências e com a real dificuldade de mudar as práticas de 
ensino, o mundo contemporâneo apresenta as múltiplas exigências que a escola não consegue 
atender. Para Rojo (2012), trata-se de a escola repensar como as novas tecnologias podem 
32 
transformar os hábitos institucionais de ensinar e aprender em vez de limitar os recursos digitais 
em prol da disciplina ou da ignorância pedagógica. Desse modo, voltar-se-ia para uma ordem 
mais maleável e compartilhada entre os agentes – aluno, professor, coordenador e gestor – em 
busca dos letramentos críticos por meio dos quais seja possível transformar o consumidor 
acrítico em analista crítico. Nesse sentido, a autora sugere uma revisão do ensino, 
principalmente na produção de leitura e escrita direcionada aos multiletramentos no uso da 
linguagem nas práticas sociais. Uma proposta aberta à pluralidade cultural e à diversidade de 
linguagens. Frente a essa assertiva, torna-se importante perguntar: O que significa lecionar 
leitura e escrita voltadas ao mundo contemporâneo? O que pode significar um trabalho de 
linguagem aberto à pluralidade cultural? 
Na intensão de abordar a complexidade do assunto, esta pesquisa tem o propósito de 
aprofundar o estudo sobre os aspectos pertinentes à linguagem que orientam os trabalhos com 
os multiletramentos, um percurso a ser galgado mesmo que a resposta encontrada seja 
contemplada de forma parcial. Mais ainda, compreender que, por trás da escolha de estudar um 
blog escolar, existe o interesse em buscar fundamentações e reflexões que apontem os 
caminhos transgressores aos comumente esperados, pois, nessa perspectiva teórica, o mundo 
da cultura e da arte (o do acontecimento) não se dissocia do mundo da vida. Por conseguinte, 
encontrar aberturas que invadam as fórmulas cristalizadas, ainda regentes no trato com o 
ensino. Em outras palavras, essa construção referencial procura trazer novos sentidos ao uso 
da linguagem que se adequem ao contexto escolar voltado às práticas sociais, frente às novas 
tecnologias e situado na contemporaneidade, pois: 
O atual uso inflacionado no Brasil – em especial no discurso pedagógico 
posterior à reforma do ensino de 1996 – da expressão gênero do discurso, 
tendo o texto de Bakhtin como referência, é o que nos motiva a discutir em 
mais detalhes essa questão. Interessa-nos, particularmente, expor à crítica 
certa cristalização do conceito em sua transposição pedagógica (FARACO, 
2009; p.122). 
Nesse sentido, o referencial eleito associa o formato do objeto à situação de produção, 
visto que vamos nos aprofundar em uma concepção de linguagem cuja conceituação está 
atrelada à sua função interacional. Com embasamento na teoria bakhtiniana, é possível afirmar 
que “a linguagem é ação e ao mesmo tempo refração da realidade”, portanto requer uma 
investigação direcionada aos conceitos de sujeito, acontecimento, história e relações de poder. 
Em vistas de traçar contornos mais precisos acerca da linguagem nas práticas sociais, sugere-
se um reposicionamento frente à concepção de linguagem diante da vida, 
33 
“[...] levando-se em conta o fato de Bakhtin ter diante do mundo e 
particularmente diante da linguagem uma postura que articula estética, ética, 
diferentes pressupostos filosóficos, não permitindo que suas reflexões sobre 
o sentido sejam sistematizadas unicamente sob uma perspectiva lingüística 
ou mesmo lingüística-literária” (BRAIT, 2001; p.71). 
 
O termo práticas sociais pode ser definido como atividade discursiva, um 
acontecimento de caráter sócio-histórico visto como discurso constituinte e constituído da vida 
social em todas as esferas da ação humana. Assim, compreende-se que linguagem circula em 
todas as esferas das práticas sociais e que lidar com os sentidos compartilhados torna-se, afinal, 
um ato de aprofundamento nas intimidades das diversas camadas constituintes dos enunciados 
emitidos. 
1.2 LINGUAGEM E INTERAÇÃO 
Em virtude de este trabalho estudar a concepção de linguagem a partir da perspectiva 
sócio-histórica e cultural (BAKHTIN, 2000 e 2010; VOLOCHÍNOV, 2006; BRAIT, 2001 e 
2009; OLIVEIRA, 2008 e 2009; FARACO, 2009; GERALDI, 1999 e 2004; ALVES 2009; 
MARCUSCHI, 2010; ARAÚJO 2007; POSSENTI, 2005; ZANOTTO, 2005), não se pode, 
aqui, tomar a língua como sistema abstrato, individual, alheio ao contexto. Isso nos levaria a 
uma abordagem estruturalista (SAUSSURE, 2000), que não consideraa mutabilidade da língua 
e seus significados, ou somente aos princípios gerativos (MORAIS, 1998), que se detêm na 
língua como conjunto de normas. Para se desprender de uma concepção que enquadra a língua 
a um sistema e se alocar na perspectiva interacionista (BAKHTIN, 2000; VOLOCHÍNOV, 
2006; e VYGOTSKY, 1999), é preciso compreender a linguagem como objeto de uso contínuo, 
vinculado às ações do sujeito, isto é, na relação dialógica. Assim, será possível ampliar esse 
conhecimento, quando a linguagem será concebida de forma bem mais abrangente associanda-
a às práticas sociais e aos valores a ela agregados. 
Faraco (2009) destaca Bakhtin8 (1929) e Voloshinov9 (1926) construindo a ideia de 
linguagem como móvel, em constante adaptação a situações de uso e constituída das ações 
 
8 Referência original encontrada em Faraco (2009, p. 159) que diz respeito à obra BAKHTIN. Problemas da 
poética de Dostoievshi (1929/1963). 
9 Referência original encontrada em Faraco (2009, p. 160) que diz respeito à obra de VOLOCHINOV V. N. O 
discurso na vida e o discurso na poesia (1926). 
34 
cotidianas dos sujeitos em interação. Portanto, ao contrário do que se poderia pensar, a 
linguagem sofre alterações e não se molda à rigidez. 
Na visão fluida de linguagem, “todos os produtos da criatividade humana nascem na e 
para a sociedade humana.” (BAKHTIN, 1997; p.2), considerando o aspecto sociológico da 
língua e fazendo entender que a linguagem é uma prática social e que, na verdade, 
[...] a língua não se transmite; ela dura e perdura sob a forma de um processo 
evolutivo contínuo. Os indivíduos não recebem a língua pronta para ser usada; 
eles penetram na corrente da comunicação verbal, ou melhor, somente quando 
mergulham nessa corrente é que sua consciência desperta e começa a operar. 
(VOLOSHINOV, 2006; p.111). 
Cabe, então, repensar a visão interacionista da linguagem numa relação intrínseca entre 
individual e social. Contudo, ao se falar em relação, não podemos reduzir o conceito de 
interação somente ao diálogo face a face, assim como assujeitar a interação, abrindo mão do 
que é singular, imprevisível e relacionado à criação. Ao considerar tais aspectos, o conceito de 
linguagem se acresce de concepções socioculturais e que, antes não tão conhecidas, não 
parecem, ainda, ganhar força a ponto de se infiltrarem nos compêndios e currículos escolares. 
Portanto, na compreensão interacionista de linguagem é preciso considerar o outro 
como parte integrante e indissociável da linguagem do sujeito, mesmo que esse outro não esteja 
presente no momento em que se inicia a interação. Segundo Antunes (2003), no ato de 
linguagem, embora o sujeito com quem se interaja não esteja presente à situação da produção 
de texto, tal sujeito existe e precisa ser levado em conta, em cada momento, pois para a autora, 
“Sem o outro do outro lado da linha, não há linguagem” (ANTUNES, 2003; p.47). 
1.3 LINGUAGEM E ALTERIDADE – O CAMPO DIALÓGICO DO DISCURSO 
Segundo Bakhtin (2006), a restrita concepção de interação voltada para uma ação entre 
locutor e receptor não é suficiente para sustentar a ideia de alteridade. Para ele, o outro está 
presente dentro do próprio processo enunciativo, quando qualquer dito ou enunciado traz em 
si o que outro, deveras, pronunciou. 
A palavra da língua é uma palavra semialheia. Ela só se torna “própria” quando o falante 
a povoa com sua intenção, com seu acento, quando a domina através do discurso, torna-a 
familiar com a sua orientação semântica e expressiva. Até o momento em que foi apropriado, 
o discurso não se encontra em uma língua neutra e impessoal (pois não é do dicionário que ele 
35 
é tomado pelo falante!), ele está nos lábios de outrem, nos contextos de outrem e a serviço das 
intenções de outrem (BAKHTIN, 2006; p. 100). 
A base para esse pensamento pode ser bem compreendida em Faraco (2009), quando o 
autor elucida que, a partir do século XVIII, o debate sobre a interação foi tema da reflexão 
filosófica em busca de soluções para os entraves existentes nas concepções solipsistas, isto é, 
na visão de que o conhecimento deve estar fundado em estados de experiência interiores e 
pessoais do Ser. Na mesma corrente em que os eventos históricos fazem questionar as velhas 
formas organizacionais, políticas, sociais e econômicas, a intelectualidade volta-se para a 
formulação das ideias constitutivas das relações e da alteridade, nas quais o sujeito não existe 
sem o outro. 
Entre os filósofos do século XX que mais contribuíram sobre a ideia, Faraco (2009) 
ressalta Martin Buber (2001), o qual se aprofundou na relação como modo humano da 
existência e, por consequência, em uma ética do inter-humano. Nesse enfoque, a alteridade 
precede e é constitutiva da identidade única do ser. Mesmo que o ser se diferencie de todos os 
outros de sua espécie como singular, toda e qualquer função psíquica só se desenvolve, bem 
ou mal, na presença do outro social. Ser reconhecido é o fundamento para a construção do Eu: 
ser visto, reconhecido, respeitado, quando isso, afinal, só ocorre na presença do outro. 
Do ponto de vista filosófico, a linguagem inaugura a articulação entre o social e o 
individual, quando a sua dinâmica responsiva é o ponto de convergência entre individual e 
social. O levantamento histórico e filosófico que estabeleceu o conceito do outro dialogante 
onipresente na Filosofia Contemporânea concebe a “outredade” (Zavala, 2009; p.157) como 
constructo básico do ser que envolve, sempre, o eu relacionado no nível intersubjetivo. 
Compreendendo a linguagem como um acontecimento, é possível perceber a 
enunciação carregada de alteridade. Essa abordagem coloca o enunciado no plano do dialógico, 
onde os sujeitos invisíveis, os que dialogam e debatem entre si, encontram-se presentes de 
forma axiológica. Para além do que está dito ou escrito, as entrelinhas podem ser caracterizadas 
como as brechas de significados que conduzem os impulsos à compreensão participativa, o 
cerne dos julgamentos de valor. 
Importante ressaltar que para efeitos de pesquisa não são os acontecimentos de 
interação que serão focados, mas, sim, o que ocorre na linguagem na relação dialógica, quando 
a linguagem se apresenta estratificada e saturada pelas axiologias sociais. No embate das 
refrações sociais manifestas pelos enunciados, as marcas sociais de valor são construídas ao 
longo do processo sócio-histórico da humanidade, delineando a ideia sequencial de interação 
ininterrupta. Sendo vista dessa maneira, a interação é entendida como comunicação-verbal. 
36 
Oliveira (2008) explicita que à medida que a alteridade é definida na dimensão 
dialógica, da interconstitutividade entre o ser e o outro, os conceitos bakhtinianos rompem com 
a dicotomia entre o mundo abstrato e o mundo da cultura e passam a enxergá-los, ambos, em 
uma relação unitária, nos espaços onde os atos ganham significados. Assim sendo, no momento 
em que o ato é realizado, no plano da signific(ação), ação e sentido adquirem 
responsabilidade/respondibilidade. 
O encadeamento entre o sentido e o fato, entre o universal e o individual, entre o real e 
o ideal, faz parte de um todo que se insere na composição de motivação responsável, isto é, a 
partir do reconhecimento da participação única do ser quando o ato responsável é uma resposta, 
pois somos “cada um com o outro na irrecusável continuidade da história.” (GERALDI, 2004; 
p.228). 
Enxergar cada resposta responsável como ela é, torna-se um modo de reencontrar 
deslocamentos imperceptíveis na construção continuada de valores, que se transformam à 
medida que o tempo ocorre. Nessa relação em cadeia é preciso conceber o enunciado como um 
elo comunicativo dos discursos carregado de atitudes responsivas dirigidas a outros enunciados 
que ocorreram em outras esferas comunicativas discursivas. 
Conforme explicita Geraldi (2004), a alteridade demarca aação do pensamento 
participativo, o qual se concretiza e se revela pela linguagem. O pensamento traz em si a 
alteridade mediada pela linguagem internalizada pelos outros. Daí, podemos pensar que o 
evento só se concretiza caso venha ocorrer de forma participativa, pois a compreensão da 
alteridade passa pelo discurso como entrelaçamento de interação dos pensamentos que 
dialogam entre si. Portanto, é possível vislumbrar que o evento é sempre novo e original no 
momento e no espaço em que ocorre, ao ponto de se pensar que, antes de ser executado e 
reconhecido, o ato nunca existiu. 
É possível retomar a ideia de que o sujeito dialógico constitui-se na linguagem em 
relações de sentido, resultante da responsividade (da tomada de posição axiológica de sentido). 
Quando um sujeito enuncia, ele emite ideias, significados de outros que perpassam pela sua 
subjetividade. A tomada (sempre) parcial de sentido pelo sujeito é ativa (como ato), não sendo 
possível repeti-lo, só ressignificá-lo. Assim, os enunciados emergem da multidão das vozes 
interiorizadas e são sempre discurso citado, embora nem sempre sejam percebidos como tal. 
Cabe entender que as vozes impregnadas de valores sociais se encontram em nossa 
memória discursiva quando os sujeitos, que se envolvem nas relações dialógicas, estão 
socialmente organizados. Isso quer dizer que os sujeitos se definem como feixes de relações 
37 
sociais múltiplos, não fixos e marcados pela heterogeneidade, “numa emaranhada rede de 
signos” (FARACO, 2009; 121). 
Em conformidade com o Círculo de Bakhtin, “a consciência adquire forma e existência 
nos signos criados por um grupo organizado no curso de relações sociais” (BAKHTIN; 
VOLOCHINOV, 2006; p.35). Dessa maneira, é possível vislumbrar a consciência individual 
abastecida de signos, derivando e refletindo deles a lógica e as leis que se impõem sobre a 
sociedade numa construção coletiva de consciências. Na perspectiva bivocal do discurso, 
nossos enunciados expressam, a um só tempo, a palavra do outro e a perspectiva com que a 
tomamos. O Círculo considera a singularidade do sujeito, sua unicidade e a impossibilidade de 
sua substituição. Assim, cada ser reage, à sua maneira, às condições objetivas. O ser humano 
é um ser de ação, uma ação sempre valorada e que, ao mesmo tempo em que o constitui, 
possibilita o seu reconhecimento como sujeito. 
As relações dialógicas coexistem e, ao mesmo tempo, tencionam-se da mesma forma 
que a responsividade: a reação ao dizer do outro através da significação se mantém na área do 
embate e do encontro entre as vozes sociais. Todo enunciado é uma unidade tensa conflituosa, 
promovida pelas forças centrípetas e centrífugas que incorrem no discurso, pois toda palavra 
demanda um contexto ou contextos que a permeiam e apontam para o seu caráter intencional, 
pois as palavras se encontram povoadas de intenções. Cabe compreender a palavra ou 
enunciado como um campo de batalha entre as forças sociais, a força centrípeta, que busca 
centralizar seus valores e se sobrepujar ao plurilinguismo, e a força centrífuga, aquela que 
desgasta as tendências monológicas, abrindo-se para o processo dialógico do verbo. 
Na percepção de que linguagem é interação no sentido de forças internas carregadas de 
valores sociais, a interação diz respeito às vozes que se encontram e se desencontram dentro 
dos enunciados. Diante disso, é possível definir que a linguagem se materializa nas relações 
sociais semioticamente e ocorrem sempre no interior das diversas esferas da atividade humana. 
Cabe agora entender que, dentro dessas esferas, ocorrem as formas relativamente estáveis dos 
enunciados que são chamadas de gêneros do discurso. 
1.4 NA (IR)RELEVANTE COMPREENSÃO DO GÊNERO DO DISCURSO 
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – (BRASIL, 1998), a 
escola é a instituição do saber legítimo, autorizada a promover o ensino da leitura e da escrita. 
O processo de aprendizagem está direcionado ao contato e ao aprofundamento dos alunos com 
38 
as mais diversas formas de produção textual, levando em consideração o significado, o 
interesse e a cultura de seus alunos. As novas teorias orientam para o conceito de gênero 
discursivo, direcionando o trabalho do professor em sala de aula às práticas de compreensão 
de textos orais e escritos, como também para a produção de textos diversos e a análise 
linguística em torno do uso da língua nas mais variadas situações. Por conseguinte, o trabalho 
com gêneros textuais diferentes dos usualmente utilizados nas escolas aborda os gêneros do 
discurso com o intuito de atrair os alunos para o trabalho com a escrita e leitura e aprimorar a 
sua competência com a linguagem. 
Atualmente, exigem-se níveis de leitura e de escrita diferentes dos que 
satisfizeram as demandas sociais até há bem pouco tempo e tudo indica que 
essa exigência tende a ser crescente. A necessidade de atender a essa demanda 
obriga à revisão substantiva dos métodos de ensino e à constituição de 
práticas que possibilitem ao aluno ampliar sua competência discursiva na 
interlocução. Nessa perspectiva, não é possível tomar como unidades básicas 
do processo de ensino as que decorrem de uma análise de estratos 
letras/fonemas, sílabas, palavras, sintagmas, frases que, descontextualizados, 
são normalmente tomados como exemplos de estudo gramatical e pouco têm 
a ver com a competência discursiva. Dentro desse marco, a unidade básica do 
ensino só pode ser o texto. Os textos10 organizam-se sempre dentro de certas 
restrições de natureza temática, composicional e estilística, que os 
caracterizam como pertencentes a este ou aquele gênero. Desse modo, a noção 
de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino. 
Nessa perspectiva, necessário contemplar nas atividades de ensino a 
diversidade de textos e gêneros, e não apenas em função de sua relevância 
social, mas também pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros 
são organizados de diferentes formas (BRASIL, 1998; p.23). 
Ao se falar em gênero discursivo, é preciso lembrar que Bakhtin (2000) estipula o 
vínculo orgânico entre a utilização da linguagem e a atividade humana. Segundo o autor, todas 
as esferas da atividade humana estão relacionadas ao uso da linguagem, a qual se organiza em 
gêneros do discurso. Esses últimos são maleáveis, multiformes e tão heterogêneos quantos são 
as práticas sociais associadas à linguagem na interação. 
Faraco (2009) explicita que, para além da forma, a concepção de gênero também se 
encontra nas transformações, na maleabilidade, na plasticidade, na imprecisão de suas 
características e fronteiras. Isto ocorre porque: 
A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade 
virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade 
comporta um repertório de gêneros de discurso que vai diferenciando-se e 
 
10 Cabe elucidar que o conceito de texto baseia-se no princípio de que “Todo texto se organiza dentro de 
determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, 
as quais geram usos sociais que os determinam” (BRASIL, 1998; p.20). 
39 
ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais 
complexa (Bakhtin, 2000; p.279). 
Mesmo assim, diante de tanta flexibilização, é necessário ressaltar que tanto os 
enunciados orais como os escritos contêm conteúdo temático, organização e estilo próprios, o 
que lhes dá identidade comum, embora, mais especificamente, estejam relacionados às 
condições singulares de produção e às suas finalidades. 
Conforme discorre Alves (2009), na visão bakhtiniana, o uso da língua acontece em 
forma de enunciados concretos particulares, que refletem as condições de cada esfera a partir 
do seu próprio interior. Considerando-se o forte vínculo existente entre dizer e atividade 
humana,

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